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Said)
Samantha Borges
Sobre o Orientalismo
Após um prefácio que insere o assunto em um contexto econômico e polítco e
que localiza o leitor dentro da amplitude da importância e das preocupações sobre o
tema relacionado ao Oriente, convém compreender afinal o que é o Orientalismo. Said
oferece primeiramente uma explicação até mesmo simplista sobre o assunto: aquele que
estuda ou pesquisa sobre o Oriente é um orientalista e aquilo que ele estuda/ pesquisa é
Orientalismo. Após essa primeira colocação, o autor destaca o Orientalismo como um
estudo em que se coloca a ideia de certa oposição entre Oriente e Ocidente. E como
terceira alternativa – e a mais passível de problematização – coloca o Orientalismo
como uma espécie de forma de descrever e determinar o Oriente, de acordo com a visão
do Ocidente, justamente como maneira de o Ocidente dominar a construção da imagem
que se deve fazer do Oriente.
É essa última proposta que coloca o Orientalismo como um “empreendimento
cultural britânico e francês” (SAID, 2007, p.30) e poderia ser acrescentado como sendo
hoje, um empreendimento norte-americano. Mas, Said destaca que, mesmo com essa
ideia de que o Oriente é uma imagem – talvez não tão verídica – edificada pelo
Ocidente, é preciso compreender que o Orientalismo funciona, há muito tempo, como
um sistema de conhecimento sobre o Oriente, que é transmitido em instituições de
ensino, congressos, livros, enfim, através de veículos e locais considerados oficiais e
respeitáveis, desde o século XIX, até os dias de hoje. Logo, existe um pensamento
instituído, legitimado e sólido que envolve: uma distribuição de consciência geopolítica
e mesmo de distinção geográfica básica do mundo; a união de interesses e descrições de
toda ordem – paisagística, sociológica, etc. – que o Oriente aceita que se mantenha;
enfim, é um discurso não diretamente político, mas que está enredado com as diferentes
esferas do poder – político, econômico, social, intelectual, cultural, etc. E toda essa
gama de interesses e correlações pode ser encontrada no interior da produção cultural,
inclusive na literatura.
Said apresenta sua metodologia, através da qual define seu escopo, delimita
seu objeto de estudo (excluindo o extremo Oriente, não porque não deva ser estudado,
mas porque nesse trabalho específico faz um recorte que abrange o Oriente Médio) e
descreve suas linhas de pensamento. Porém, talvez o aspecto mais interessante não seja
a forma metódica e empenhada com que o autor se coloca para se lançar ao estudo do
Orientalismo. Talvez mais interessante seja o seu caráter questionador, que não objetiva
levantar bandeiras ou determinar pretensas verdades, mas sobretudo questionar, para
compreender, sob a luz dos mais variados pontos de vista, um Oriente que se constitui
também no momento em que se relaciona com o Ocidente, e vice-versa.