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A Problemática dos Taludes Urbanos: uma Revisão Bibliográfica

Conference Paper · September 2018

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Marianne Bueno dos Passos Brum Anays Mertz Antunes

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

A Problemática dos Taludes Urbanos: uma Revisão Bibliográfica

Marianne Bueno dos Passos Brum
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, marianne.brum@gmail.com

Anays Mertz Antunes

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, anaysmertz@gmail.com

RESUMO: Este trabalho se propôs a preencher uma lacuna na literatura geotécnica sobre a
problemática dos taludes urbanos. Realizou-se uma revisão bibliográfica atualizada do tema.
Analisaram-se as formas de investigação para esse problema, os fatores condicionantes de
movimentos de massa característicos a taludes em zona urbana, e as soluções costumeiramente
adotadas para situações do tipo. Conclui-se que os fatores críticos à estabilidade de encostas urbanas
normalmente não ocorrem de maneira isolada. Fatores condicionantes frequentes de movimentos de
massa em áreas urbanas são: alterações na vegetação e na geometria de encostas para construção de
moradias; saturação e mudança química do solo devido ao esgoto sanitário não-coletado; e a
construção sobre aterros mal compactados. É importante que haja divulgação de estabilizações bem-
sucedidas de taludes urbanos para que haja maior confiabilidade nos projetos futuros.

PALAVRAS-CHAVE: Taludes urbanos, Desastres, Revisão Bibliográfica, Geotecnia Social,

Estabilidade de Taludes

1 INTRODUÇÃO locais e regionais; análise preliminar e seleção de

Este trabalho se propõe a preencher uma lacuna
na literatura geotécnica sobre a problemática dos
taludes urbanos. Devido à urbanização
desordenada das regiões de encosta, é comum
ocorrerem acidentes geotécnicos. Assim,
milhares de pessoas são desalojadas ou
desabrigadas todos os anos em decorrência de
escorregamentos ou deslizamentos (IBGE,
2013) No entanto, há falta de publicações
técnicas no assunto, apesar da amplitude de
casos reportados e publicações jornalísticas. Há
também um grande número de publicações
tratando de questões geotécnicas de estabilidade
de taludes, porém há poucos trabalhos científicos
focados no caso específico dos taludes urbanos,
o qual apresenta certas particularidades em
contrate às encostas não-habitadas.
Principalmente, deslizamentos em taludes
urbanos podem ser induzidos ou condicionados
por ações antrópicas. Neste caso, os principais
tópicos que definem a problemática dos taludes
urbanos são: planejamento; coleta de dados
taludes críticos para subsequente avaliação;
investigação; análise de estabilidade dos taludes
críticos; proposição de medidas de recuperação,
se necessário.
Esta revisão trata especificamente da
identificação de condicionantes de risco de
instabilidade de taludes urbanos e dos métodos
de solução para este problema: seja através da
eliminação dos fatores desestabilizantes, até o
controle da magnitude do risco.
Procurou-se apresentar exemplos e discutir
casos de diversas regiões do Brasil, e de variadas
situações urbanas – desde comunidades carentes
até regiões residenciais de classe alta. Buscou-se
assim a realização de uma revisão bibliográfica
abrangente, além de atualizada.
Quanto às soluções apresentadas, o enfoque
dado foi em alternativas de engenharia, embora
seja de amplo conhecimento e tenha-se
concluído que as políticas públicas de educação
e engajamento das comunidades devam ser
amplamente utilizadas.
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2 METODOLOGIA
O presente trabalho se propôs a realizar uma
revisão atualizada do tema, através de pesquisa
bibliográfica da literatura e estudo de casos
históricos de movimento de massa. Analisou-se
as formas de investigação para esse problema, os
fatores condicionantes de movimentos de massa
característicos a taludes em zona urbana, e as
soluções costumeiramente adotadas para
situações do tipo. A revisão bibliográfica foi
feita através da pesquisa em anais de congressos,
reportagens em veículos de comunicação
variados e em publicações de outras áreas do
conhecimento, procurando o viés técnico dentro
delas.
3 REVISÃO
3.1 Fatores Condicionantes para Acidentes
Geotécnicos em Taludes Urbanos
Os condicionantes geotécnicos costumeiramente
observados como causadores de instabilidades e
movimentos de massa de encostas naturais são:
grandes declividades do talude, saturação do solo
e processos de intemperismo e erosão (BRASIL;
IPT, 2007; RIFFEL, GUASSELLI, BRESSANI,
2016). No entanto, no caso de encostas
habitadas, ainda são somados a estes processos
uma gama de fatores desestabilizantes
particulares à sua característica urbana
(VEDOVELLO; MACEDO, 2007).
De maneira geral, a maior parte dos fatores
redutores de estabilidade têm origem e causa na
urbanização desordenada e sem obras de
infraestrutura. Regiões habitadas de maneira
irregular, sem planejamento ou controle do uso
do solo tendem a ter maior densidade
ocupacional, o que potencializa os
condicionantes de rupturas (GUSMÃO FILHO,
1995; MACEDO; MARTINS, 2015). São nas
cidades mais populosas que, em geral, há o maior
número de mortes decorrente de movimentos de
massa (MACEDO; MARTINS, 2015). Além
disso, os fatores críticos à estabilidade típicos de
encostas urbanas normalmente não ocorrem de
maneira isolada, e têm em comum a origem
antropogênica (BRASIL; IPT, 2007;
VEDOVELLO; MACEDO, 2007; RIFFEL;
GUASSELLI; BRESSANI, 2016).
Segundo a NBR 11682 (ABNT, 2009), a
identificação destes condicionantes é importante
no processo de verificação da estabilidade de
encostas, e deve inclusive incluir fatores que
possam futuramente levar à instabilização de um
talude. Deste modo, o conhecimento dos fatores
condicionantes que geram acidentes geotécnicos
é crucial. A seguir estão apresentados os fatores
críticos à estabilidade típicos de encostas
urbanas.
3.1.1 Alteração da Cobertura Vegetal do
Talude
A cobertura vegetal, por meio da ação das raízes,
acrescenta ao solo uma resistência mecânica que
auxilia na estabilidade do talude. A influência
das raízes na estabilidade do talude ocorre no
sentido de acrescentar uma parcela à resistência
ao cisalhamento do solo, da mesma forma que a
coesão o faz. (WU et al, 1979; FIORI;
CAMIGNANI, 2001 apud TABALIPA; FIORI,
2008). Adicionalmente, a cobertura vegetal
auxilia na proteção contra o efeito erosivo das
chuvas. A vegetação promove redução da vazão
do escoamento superficial, pois reduz o
coeficiente de deflúvio. Esse fenômeno também
auxilia no retardamento dos picos de vazão no
escoamento superficial, reduzindo a ação erosiva
devida à velocidade da água. A retirada da
cobertura vegetal, seja ela qual for, ainda expõe
o solo ao impacto das gotas de chuva, que podem
então produzir sulcos e ravinas no terreno nu.
(SUAREZ, 1997). Uma pesquisa do IBGE
publicada em 2015 mostrou que, dos municípios
que sofrem com deslizamento de terra, 30%
atribuíram o fato ao desmatamento de áreas
vulneráveis (IBGE, 2005 apud VEDOVELLO;
MACEDO, 2007).
A modificação do tipo de vegetação presente
também pode causar danos à encosta. Em
Salvador, por exemplo, há plantação de tipos de
vegetação não-recomendados, como bananeiras,
que despejam água de forma concentrada no solo
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pela raiz (MENDONÇA; GUERRA, 1997 apud
OLIVEIRA; MÉLO, 2005)
3.1.2 Alterações na Geometria do Talude
Bastante comum em encostas de ocupação não
planejada é a modificação na topografia para a
construção de edificações. Cortes e aterros para
a construção de moradias na encosta são
realizados com bastante frequência e sem
maiores considerações para seus efeitos na
vizinhança. O efeito acumulado de todas essas
atividades irregulares de terraplenagem tem
grande peso na alteração da estabilidade do
talude, acrescentando massa à região
instabilizadora e retirando material da região
estabilizadora.
Outras alterações significativas na geometria
da encosta envolvem escavações que podem
causar o descalçamento de blocos rochosos e
revelar superfícies críticas como fraturas ou
planos preferenciais de ruptura que
originalmente estavam em equilíbrio e sem
riscos de movimentação. (SUAREZ, 1997)
3.1.3 Escoamento Nocivo de Água
A saturação do maciço é talvez o gatilho mais
recorrente de movimentos de massa.
Normalmente, em encostas naturais, está
associada a grandes eventos de chuva. Em
taludes urbanos, no entanto, há outras
considerações que devem ser feitas, uma vez que
são várias as causas que podem saturar o solo e
levá-lo a uma situação crítica.
Fugas e rompimentos de instalações
hidráulicas e sanitárias, muito comuns nos dutos
de serviços públicos, podem causar saturação de
partes do solo (NOGUEIRA, 2002; de CAMPOS
et al, 2005; OLIVEIRA; MÉLO, 2005; BRASIL;
IPT, 2007; BARBOZA et al, 2017). Suárez
(1997) cita o caso histórico de um deslizamento
de 120.000 m³ de uma encosta em Bucaramanga,
na Colômbia, induzido por infiltrações de um
tanque de fornecimento de água posicionado na
crista de um talude de areia argilosa cimentada,
que aumentaram o nível de água subterrânea em
mais de 10 metros. Mendes et al (2017)
analisaram as causas naturais e antropogênicas
da ruptura de um talude em São José dos
Campos, SP. A partir de análises numéricas de
estabilidade de talude combinadas a análise
transiente de fluxo de água, os autores
concluíram que somente a chuva acumulada nos
dias anteriores ao evento de movimento de massa
não seria suficiente para provocá-lo. A análise
indicou que, naquele caso, foi necessária a
existência de um ponto de vazamento de um
tanque de armazenamento de água para
engatilhar a ruptura.
Em regiões sem a oferta do serviço de coleta
de esgoto, ocorre o despejo de águas servidas
(esgoto pluvial e sanitário) diretamente no
maciço, causando não somente erosão e
saturação, como também alteração química do
solo. O Guia para Elaboração de Políticas
Municipais de Prevenção de Riscos de
Deslizamento, editado pelo Ministério das
Cidades, utiliza a existência de esgoto lançado na
superfície dos taludes como critério para a
classificação de uma região como área de risco
muito alto (CARVALHO; GALVÃO, 2006).
A vazão de águas residuárias é praticamente
constante, elevando o grau de saturação do solo
(NOGUEIRA, 2002; ASSUNÇÃO, 2005;
BARBOZA et al., 2017). A água servida
proveniente das moradias pode contribuir
fortemente à saturação do material e manter o
talude em condição de quase ruptura, com um
fator de segurança muito próximo à unidade.
Santos e Assunção (2005) determinaram que o
volume de água residuária descartado no solo por
assentamentos urbanos carentes de esgotamento
sanitário é bastante elevado, podendo igualar ou
mesmo exceder o volume infiltrado de chuva
quando a ocupação territorial é de densidade
média ou alta (cerca de 120 l.hab/dia). Ainda
assim, esse não é necessariamente o gatilho da
ruptura, papel normalmente reservado a eventos
pontuais e mais expressivos de chuva, mas deixa
a encosta mais suscetível a pequenos aumentos
na pluviosidade ou mudanças na geometria do
talude por escavações, que podem então ser
suficientes para iniciar um movimento
desastroso (BARBOZA et al., 2017).
3.1.4 Depósitos e Aterros Artificiais
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Em regiões urbanas, depósitos artificiais são
bastante comuns (GUSMÃO FILHO, 1995)
Compostos por uma mistura de lixo doméstico,
entulho, material vegetal e solo proveniente de
cortes para construção de residências, essa
camada heterogênea apresenta características
peculiares. Depósitos desse tipo tendem a ser
não-consolidados, bastante permeáveis, porosos
e pouco resistentes (MENDONÇA; GUERRA,
1997; CARVALHO, 1997).
Os aterros e depósitos de resíduos tendem a
reter água, podendo exercer carga excessiva
sobre o talude e causar instabilização do mesmo.
O lixo acumulado ainda pode entupir valas e
contribuir para a desestabilização de encostas
através da precarização da rede de drenagem
(NOGUEIRA, 2002; BARBOZA et al., 2017).
Os movimentos de massa em encostas de
depósitos artificiais costumam apresentar
superfícies de ruptura que ocorrem dentro dessa
camada, não atingindo, ou atingindo somente de
maneira superficial, o solo de fundação do
terreno original. (CARVALHO, 1977). É
frequente existir impermeabilidade no contato
entre o depósito e o terreno natural, devido à
vegetação original que foi soterrada e decompôs-
se. Essa interface impermeável auxilia na
geração de poropressões positivas no solo mais
superficial (CARVALHO, 1997; OLIVEIRA;
MÉLO, 2005). Silva, Pimentel e Freitas (2000)
analisaram inventários de dados de movimentos
de massa no estado do Rio de Janeiro e
demonstraram que até 1996 17% dos eventos
significativos de escorregamentos haviam sido
caracterizados como corridas de lixo.
O deslizamento do morro do Bumba, em
Niterói, é um caso emblemático na análise de
taludes urbanos. O morro do Bumba era
originalmente um depósito de lixo que foi
desativado na década de 80. O material era
composto por camadas intercaladas de solo e
lixo. O lixo, ao sofrer decomposição, deu origem
a gás metano e chorume que se acumularam no
subsolo. Com o tempo, a vegetação recobriu os
detritos e a população ocupou a área construindo
suas casas. A urbanização foi permitida pela
municipalidade por meio dos investimentos em
infraestrutura que fez na região, com
pavimentação das vias, fornecimento de água e
energia elétrica.
Em abril de 2010 ocorreram fortes chuvas em
Niterói. As chuvas intensas foram o agente
deflagrador da ruptura do talude, que já não tinha
condições de grande estabilidade. O movimento
observado foi uma corrida de detritos,
envolvendo um material heterogêneo composto
por uma mistura de solo, entulho e lixo. À
medida que o material se deslocava, explosões
decorrentes da presença de gás metano
acentuaram o escorregamento e ampliaram as
proporções do desastre. O deslizamento causou
a morte de 48 pessoas. (ALVES FILHO, 2010)
3.1.5 Moradias em Áreas de Evolução Natural
da Costa
Por vezes, a construção das edificações ocorre
em encostas em processo de movimentação de
velocidade bastante lenta. É o caso de casas
construídas sobre colúvios que vêm sofrendo o
fenômeno de rastejo. Essas movimentações do
solo ocorrem naturalmente devido à condição
original do talude e provocam na edificação
deformações além das suportáveis pelos
materiais construtivos. Assim, uma casa, ou
mesmo obras de infraestrutura, podem sofrer
com trincas e rupturas tornando-as aos poucos
degradadas e até inutilizadas.
Em Santa Cruz do Sul, no estado do Rio
Grande do Sul, a estrutura de várias moradias foi
afetada pela movimentação lenta de taludes.
Pinheiro et al (2012) instrumentaram e
monitoraram as patologias de habitações de
classe alta em uma encosta na parte nordeste da
cidade. Os autores verificaram deformações
significativas, mas lentas (da ordem de 40cm em
5 anos), devido à movimentação de solo
coluvionar, e determinaram que cerca de metade
das edificações avaliadas apresentaram algum
tipo de patologia provocada pela movimentação
da encosta. Em 2003, Eisenberger realizou
estudos na mesma região e obteve resultados
semelhantes. Já Perazzolo (2003) estudou um
talude no interior do município de Canela, na
Serra gaúcha, e também identificou
movimentação por rastejo de solo coluvionar.
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3.2 Soluções
Os métodos de solução de problemas de
deslizamento em taludes urbanos podem ser
significativamente diferentes daqueles de outras
situações, de modo que, frequentemente, as
alternativas para estabilização de massas são
muito limitadas (BARROSO, 1992). Quanto
maior a densidade populacional e a
irregularidade de ocupação de uma área, menor
é a possibilidade da adoção de soluções
abrangentes, pois há questões sócio-políticas que
devem ser respeitadas - famílias já consolidadas
e integradas a uma comunidade terão grande
resistência em serem realocadas, por exemplo. A
ocupação desordenada também dificulta a
execução de obras de melhorias e contenção,
devido ao espaço limitado para mobilização de
maquinário, o que diminui ainda mais as
possibilidades de resolução dos problemas
enfrentados por comunidades em áreas de risco.
Os planos de investigação geotécnica de
taludes urbanos devem adotar metodologia
expedita e de baixo custo, já que são trabalhos de
grandes proporções e, frequentemente,
emergenciais (SOBREIRA; BARROSO, 1990
apud BARROSO, 1992). Com a investigação,
objetiva-se desenvolver um diagnóstico do
mecanismo de instabilização ocorrido ou
existente (ABNT, 2009). Para isso, é
imprescindível a obtenção de dados locais,
através de informações dos próprios moradores,
e de estudos já realizados. A execução destes
planos, no entanto, é difícil. Primeiramente,
evita-se ao máximo a realização de novas
sondagens e ensaios (BARROSO, 1992), devido
à complicação da investigação do subsolo em
comunidades densificadas e inseguras, como
são, frequentemente, as áreas urbanas de risco.
Nestes locais, também há grande dificuldade na
realização de levantamentos topográficos, e
dispõe-se de dados limitados a aerofotografias e
mapas topográficos e cartográficos
desatualizados. Isso gera grandes incertezas, já
que a ocupação humana é extremamente
dinâmica (COLLET, 1992; AMARAL, 1992;
MAIA; PIAIA, 1992). Assim, há grandes riscos
associados aos parâmetros de entrada na
avaliação da estabilidade de taludes urbanos, e,
consequentemente, na adoção de soluções para
os problemas associados a esta situação.
Deste modo, há particularidades, no caso de
taludes urbanos, nas soluções usualmente
empregadas e na metodologia de resolução. As
medidas de intervenção devem ser priorizadas
em relação ao máximo benefício que podem
trazer à comunidade - a melhor resposta não será,
necessariamente, a mais tecnicamente adequada
(MATTOS et al., 2005).
Por fim, tentativas de estabilização de taludes
urbanos lidam com alto nível de risco e, na falta
de estudos e dados compreensivos, levam à
adoção de projetos conservadores e,
consequentemente, custosos. Há incertezas
devido a futuras alterações executadas pelos
próprios moradores, que diminuem a efetividade
das medidas de intervenção e geram insegurança
ao projetista (OLIVEIRA; MÉLO, 2005).
Apesar disso, há necessidade de soluções de
baixo custo, que maximizem as áreas e a
população beneficiada, e melhorem o
aproveitamento dos recursos disponíveis. Assim,
novamente, o processo de solução dos problemas
em taludes urbanos deve abranger a comunidade
em geral também através de ações sócio-
educativas, de modo que a população atendida
seja informada da sua responsabilidade, e o risco
de interferência com as soluções executadas seja
minimizado.
A seguir, serão discutidas e exemplificadas
algumas das soluções frequentemente
empregadas de acordo com a literatura.
3.2.1 Elaboração e Utilização de Cartas
Geotécnicas de Risco
Mapas de risco de movimento de massa são
cartas que caracterizam áreas sujeitas a
escorregamentos, e são criadas através da
avaliação e hierarquização do risco de ocorrência
de acidente. A elaboração de cartas de risco é um
instrumento básico para a criação de políticas
públicas e análise da necessidade e viabilidade
de obras de engenharia (BRASIL; IPT, 2007).
Ademais, a problemática em taludes urbanos
é multidisciplinar - não se trabalham apenas com
engenheiros. Assim, a difusão do conhecimento
de engenharia, através da elaboração de cartas
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geotécnicas e de risco, é uma forma de instruir os
órgãos públicos, e mesmo a população, quanto
ao risco envolvido na ocupação de taludes
urbanos (AMARAL, 1992). No entanto, a
elaboração de mapas e cartas de risco exige
experiência, e é uma atividade fortemente
subjetiva (NOGUEIRA, 2002; ALMEIDA;
GERSCOVICH; PACHECO, 2017). Macedo
(2001, apud NOGUEIRA, 2002) demonstrou
que há disparidades nos resultados de análises de
risco. Há roteiros elaborados por órgãos
governamentais, como o IPT, para auxiliar no
processo de mapeamento (BRASIL; IPT, 2007),
contudo é importante treinar profissionais
competentes para atuar na área de taludes
urbanos e mapeamento de risco para que se
consiga identificar corretamente os sinais de
possível movimentação.
3.2.2 Revegetação
A revegetação cria uma coesão superficial no
solo, o que a torna uma medida excelente em
casos de rupturas rasas, além de ser
urbanisticamente interessante. Além disso, áreas
de reflorestamento podem servir como cinturões
de proteção à queda de blocos e controle do run-
off das chuvas (BARROSO, 1992).
3.2.3 Sistema de Drenagem
Impermeabilização do Solo
Visto que a água é um importante agente
deflagrador de movimento de encostas, a correta
destinação dessa é elemento chave no projeto de
contenção e estabilização de taludes urbanos. A
impermeabilização de solos sujeitos à infiltração
excessiva de água impede a saturação do solo.
Sistemas de drenagem devem ser bem projetados
e a sua funcionalidade garantida através de
manutenções regulares, pois obstruções podem
acontecer devido à deposição de lixo, por
exemplo.
Frequentemente os próprios moradores
utilizam lonas plásticas para impermeabilizar
taludes nus. Esta solução é precária, porém tem
sido amplamente adotada tanto provisoriamente
durante eventos chuvosos, como de forma
permanente (NOGUEIRA, 2002).
3.2.4 Políticas Públicas
Algumas das medidas para redução do risco de
desastres em encostas habitadas não envolvem
nenhuma intervenção técnica na região. O foco
dessas medidas é na relação dos habitantes com
seu território.
Através de medidas sócio-educativas, a
população que ocupa taludes urbanos pode
compreender as suas responsabilidades, entender
os riscos e ficar alerta quanto a possíveis
acidentes. Além dos óbvios benefícios para a
própria comunidade, há diminuição das
incertezas relativas à problemática do talude
urbano: os moradores, cientes dos fatores
extremantes e incluídos no projeto de
estabilização ou contenção, evitam a
modificação das soluções adotadas (OLIVEIRA;
MÉLO, 2005). Assim, o projetista tem a
liberdade para ser menos conservador,
viabilizando alternativas menos custosas e mais
abrangentes.
Já através da elaboração de planos
preventivos, é possível diminuir os danos de um
acidente, ao garantir-se que a população afetada
saberá como reagir face a uma emergência. Um
sistema de monitoramento e de alerta deve ser
parte integrante deste planejamento, já que a
e evacuação e remoção de pessoas após a
ocorrência de uma ruptura de um desastre é
difícil.
Também pode-se evitar fatalidades através de
relocações de comunidades. No entanto, este
processo é difícil e deve ser evitado. Barroso
(1992), explica que há grande dificuldade na
remoção ou relocação de pessoas. Por exemplo,
no Rio de Janeiro, o Plano Diretor da cidade
proíbe a remoção de favelas, indicando, ao invés
disso, a reurbanização (criação de bairros
populares). Assim, a relocação preventiva
normalmente não é executada. Mais útil e
eficiente que as relocações é a proibição de
ocupação de áreas de risco pelo poder público,
criando áreas “congeladas” para a urbanização.
No entanto, a fiscalização é normalmente
precária, e o alto custo de moradia em grandes
centros urbanos força a população carente a
buscar estas áreas, ou mesmo voltar para locais
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onde já ocorreu um acidente. Ademais, o custo
de remoção de famílias pode ser muito maior que
o de execução de obras de engenharia. Almeida,
Gerscovich e Pacheco (2017) estudaram os
benefícios dos investimentos governamentais em
obras de estabilização na comunidade da
Rocinha, no Rio de Janeiro, e concluíram que o
custo com as obras foi de apenas 23,18% do
estimado para relocação e indenização das
famílias possivelmente afetadas.
3.2.5 Melhoria da Infraestrutura Básica
Como um dos fatores que pode levar à
instabilização de um talude é o esgoto (pluvial
ou sanitário) jogado diretamente no solo, seja
devido a vazamentos, falta de rede coletora ou
percolação no solo através de sumidouros, a
implantação do saneamento básico em
comunidades carentes pode diminuir
drasticamente o risco de instabilização de
encostas. Ademais, a construção de vias
pavimentadas em comunidades carentes facilita
o acesso aos serviços de coleta de lixo,
manutenção e fiscalização, que são essenciais
para a diminuição do risco inerente ao talude
urbano, ao evitarem, por exemplo, práticas como
os aterros de detritos, permitirem o acesso da
Defesa Civil em casos de emergência e coibirem
cortes e aterros indevidos.
3.5.6 Obras de Estabilização de Taludes
Talvez as intervenções mais visíveis na melhoria
da segurança dos taludes urbanos são as obras de
estabilização de taludes. Alguns exemplos são as
obras listadas na pesquisa de Almeida,
Gerscovich e Pacheco (2017), realizadas na
região da Rocinha (RJ): muro de concreto armado
ou ciclópico, muretas estaqueadas, revestimento do
talude com concreto projetado, cortina atirantada,
estabilização de talude com solo grampeado e
barreira de impacto para taludes rochosos.
Muros (de gravidade ou de flexão) tendem a
ser soluções de execução mais simples por não
exigirem maquinário especializado, e assim são
competitivos economicamente. Para executá-los,
no entanto, requer-se uma reconfiguração
geométrica do terreno, com movimentação de
terra e consumo de uma grande área. Deve-se
considerar que, normalmente em taludes
urbanos, o espaço disponível para uma obra de
contenção é limitado, o que pode restringir a
escolha quanto ao tipo de obra a ser
implementado. Situações assim privilegiam
tipos de obras que não necessitam de muita
movimentação de terra ou grandes alterações na
topografia original do talude. Cortinas
atirantadas, estabilização de taludes com solo
grampeado, faceamento em concreto projetado
são soluções que se adaptam bem a esse
contexto. Qualquer que seja a solução adotada,
os projetos que envolvem obras de contenção de
solo devem atender às condições de estabilidade
previstas pela NBR 11682 (ABNT, 2009).
4 CONCLUSÃO
Os fatores críticos à estabilidade de taludes
típicos de encostas urbanas normalmente não
ocorrem de maneira isolada, e têm em comum a
origem antropogênica. A análise de taludes
urbanos deve ser feita de maneira integrada e
avaliar tanto os condicionantes naturais como os
antropogênicos. Deve-se dar especial atenção às
cidades mais populosas e aos locais de grande
adensamento populacional, pois são nestes locais
que há o maior número de vítimas de
movimentos de terra. A pressão social por
moradia e a dificuldade em prover serviços de
infraestrutura adequados são fatores críticos. No
entanto, mesmo regiões de classe alta em cidades
pequenas podem ser suscetíveis a movimentos
de massa, dependendo de condicionantes como
relevo e clima.
Dessa maneira, a análise das rupturas de
taludes urbanos é difícil, já que múltiplas causas
podem estar envolvidas. O fator antropogênico
pode ser o principal, e as questões climáticas
apenas deflagradoras, por exemplo, mas o
contrário também é possível. Como a
investigação de áreas densamente urbanizadas é
complexa e, frequentemente, insuficiente, o
estudo das causas e a previsão das possíveis
instabilidades é ainda mais dificultado. Têm-se,
no entanto, que alguns aspectos particulares dos
taludes urbanos são frequentemente fatores
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condicionantes de movimentos: alterações na
vegetação e na geometria de encostas para
construção de moradias; saturação e mudança
química do solo devido ao esgoto sanitário não-
coletado; e a construção sobre aterros mal
compactados, ocasionalmente constituídos por
lixo ou entulho.
Obras em caráter emergencial, são
frequentemente caras e paliativas. Há
dificuldade na utilização de maquinários devido
à mobilidade precária dentro de comunidades
densamente urbanizadas, de modo que “os
processos executivos das obras obriga-se a uma
espécie de trabalho artesanal…” (BARROSO,
1992). Se não há manutenção, nem a educação
da população quanto a práticas de manutenção
das encostas, as obras de contenção são apenas
temporárias, e poderá haver retrabalho.
Quanto aos riscos envolvidos na análise e
execução de obras de estabilização de taludes
urbanos, é importante a divulgação de projetos
exitosos, para que haja mais confiabilidade nos
parâmetros analisados e, consequentemente,
diminuição das incertezas. Deste modo, os
projetos podem ser mais econômicos e efetivos,
com menor número de intervenções necessárias.
O risco também pode ser diminuído através de
soluções preventivas e com medidas
educacionais da população, que muitas vezes
desconhece os efeitos das suas intervenções nas
encostas.
A problemática dos taludes urbanos, portanto,
é uma questão bastante delicada e que exige um
tratamento atencioso. Na etapa de prevenção de
desastres, é importante considerar a ocupação
das encostas tanto como fator condicionante
através das alterações antropogênicas no terreno,
quanto como agente ativo na prevenção, através
de conhecimento do seu território e atuação na
manutenção dos taludes. Na etapa da
investigação e avaliação do problema, é
recomendada, inclusive pela norma de
estabilidade de encostas (ABNT, 2009) a
realização de testes laboratoriais, quando
possível. Dentre eles, citam-se a análise
granulométrica; os ensaios de resistência ao
cisalhamento direto natural e inundado (pior
caso); e o ensaio de erodibilidade. Na etapa de
estabilização após um evento de ruptura, deve-se
considerar as condições de contorno do terreno
ao decidir-se por um tipo de solução. Por essas
razões, é importante que a comunidade científica
e profissional atuante na área comunique seus
êxitos em publicações como as que foram
consultadas para o desenvolvimento deste
trabalho.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem ao Prof. Dr. Luiz Antônio
Bressani por incentivar a realização deste
trabalho, por fomentar o interesse pelo tópico de
taludes urbanos, e pelos apontamentos dados
para a melhoria desta revisão.
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