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A Cerejeira e o Bambu

Vocês jovens não respeitam nada mesmo. Vivem brigando e implicando com
aqueles que são diferentes de vocês. Não conhecem as histórias, as suas histórias.
Muito tempo antes de podermos estar sentados assim ao redor dessa fogueira de
verão, essas terras eram dominadas por um tirano de outro reino. Nada se podia
fazer, falar, pensar, sentir. Era uma terra de “nãos”. Bem, prestem atenção dessa vez
suas crianças inquietas.
Quando o mundo era bem jovem os irmãos Bambu e Cerejeira brigavam sem
parar. Ficavam disputando quem era melhor que quem. A mãe Terra, em um dia de
falta de paciência típico de final de outono, pediu ajuda ao esposo Céu. Ele chamou
os dois jovens e disse: “Vocês são apenas meios, meus filhos. Através de vocês
ainda irá correr vida para esse lugar. Cada um ao seu tempo e jeito”. O tempo
passou.
Quando nossos ancestrais decidiram lutar por essas terras montaram
acampamento bem aqui. Eles não poderiam ficar muito perto aos rios e fontes, pois
seriam facilmente encontrados. Então usaram o Bambu para produzir canais que
conduziam a água. Temos esses canais até hoje. Os bambus escondidos nutriam todo
o acampamento. Enfim, o Bambu havia entendido a profecia. Era ele meio para a
vida daquelas pessoas. A pobre Cerejeira seguiu esperando...
Eram tempos sombrios, os caminhos eram fechados e cheios de perigos.
Havia armadilhas do tirano por todas as estradas e ninguém se atrevia a andar pelos
bosques. Todos que haviam tentado nunca mais votaram. Dizia-se que algumas
pessoas chegavam a ficar décadas perdidas antes de morrer. Passou-se muito tempo.
Os homens começavam a ficar desanimados. Então um grupo de soldados decidiu
usar o bosque como caminho. Segundo eles, pelo bosque era possível chegar ao
castelo do tirano por trás e assim tomar a fortaleza. Alguns bravos se lançaram na
empreitada. Foram bosque adentro em uma manhã.
Depois de semanas perdido, o pelotão começou a entrar em desespero. O
capitão quase louco pediu ajuda ao bosque. A Cerejeira sabia o caminho, mas não
sabia como ajudar. Ela via aqueles bravos soldados tentando libertar seu povo
condenados a morrerem sozinhos naquele lugar e isso a entristecia profundamente.
As arvores que estavam no caminho entre o pelotão e a saída do bosque eram as
mais tristes, pois se sentiam traidoras daquelas pessoas que eram suas amigas e
compatriotas. E então na madrugada tais árvores choraram.
As lágrimas de pétalas cobriram o caminho até a saída do bosque. O dia
iluminou uma estrada de pétalas rosadas em direção à parte desprotegida do castelo
do tirano. Os soldados atacaram e venceram. Nossas terras foram libertas. O Bambu
com suas características - solidez e flexibilidade - foi capaz de conduzir a água às
pessoas. Por sua vez, a Cerejeira com a sua beleza foi capaz de conduzir as pessoas
a outro elemento tão necessário quanto a água para a vida, a liberdade.

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