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A atual conjuntura tem exigido

do pastor tomadas de decisões


que, em outras épocas,
nem eram cogitadas.

A cada dia fica mais comum, em nossas igrejas, termos de orientar casais em
conflitos, famílias vítimas de violências, outras desestruturadas economicamente, jovens
envolvidos com drogas, casamentos precoces, e pastorear, com muita frequência,
pessoas com depressão, câncer, Alzheimer e outras doenças graves.

Tudo nos leva a buscar informações sobre assuntos como


eutanásia, tratamento com células tronco, inseminação artificial,
aconselhamento de casal com filhos siameses, violência, desigualdade
social e outros tantos temas e problemas.

O pastor deste mundo pós-moderno, além de lidar com as questões já


mencionadas e outras não listadas, ainda tem de desenvolver diversas habilidades,
especialmente na área administrativa. Para poder corresponder com as necessidades do
homem moderno, segundo Donald Price, em seu livro Conflitos e Questões Polêmicas
na Igreja, a sociedade e igreja cobram do pastor atual que ele tenha mente erudita,
coração de criança e pele de rinoceronte.

Amados, sabemos que para o pastor dar conta de todas essas


exigências não é possível. Nem há tempo e nem condição emocional
para tanto. Ocorre, então, que os desafios da atualidade têm gerado
nos pastores desgastes que, por sua vez, podem ser somatizados,
trazendo consequências pessoais, familiares, financeiras, e para o
reino. Sobre isso é que desejamos oferecer uma contribuição

A síndrome de Burnout
Tenho observado que existe um crescente número de pastores que vêm
desenvolvendo problemas de saúde devido ao desgaste como cuidador ou demonstram a
síndrome de Burnout (descoberta na década de 70). É um distúrbio psíquico de caráter
depressivo, caracterizado pelo esgotamento físico e mental. Burnout é uma expressão
inglesa (“to burn out” que significa queimar por completo. O esgotamento está
relacionado com o estresse causado pelo “trabalho como cuidador”. E o ofício pastoral
nada mais é que cuidar espiritualmente, fisicamente etc.

Segundo Champlim, a palavra pastor vem do hebraico e significa cuidar dos


rebanhos. Na condição de cuidador, o pastor não está isento de sofrer situações
estressantes. O portador da síndrome de Burnout se destaca pela dedicação exagerada à
atividade que exerce, em nosso caso o pastorado. O desejo de ser sempre melhor, de ter
altos desempenhos, o desejo de valorização pessoal faz com que a vida de cuidador
(pastor) se torne uma obstinação e compulsão, levando a um desgaste emocional e físico
muito intenso.

Fisiopatologia do estresse: Em condições de estresse crônico, várias substâncias


como o cortisol e outros são lançadas na corrente sanguínea, causando desequilíbrio. A
maioria dos óbitos é causada por doenças no sistema cardiovascular e um dos fatores é o
estresse.

Alguns sintomas dessa síndrome

Sintomas psicossomáticos: enxaqueca, dores musculares ou cervicais, gastrite,


úlcera, diarreias, palpitações, hipertensão, Na mulher, suspensão do ciclo menstrual; no
homem, a impotência. E baixo libido nas mulheres e homens.

Sintomas comportamentais: violência, drogadição medicamentosa, incapacidade


de relaxar, mudanças abruptas de humor.

Comportamento de risco - Suicídio: conversas que dizem que a vida não vale à
pena ou por que Judas não foi salvo? - tais assuntos têm como alvo defender o suicídio.
Sintomas emocionais: alto nível de impaciência, distanciamento afetivo como
forma de proteção do ego, frequentes conflitos interpessoais, sentimentos de solidão,
irritabilidade, ansiedade, baixa tolerância à frustração, dificuldade de concentração
impotência, declínio no desempenho profissional (pastorado), apatia e negação.

Essa síndrome geralmente é desenvolvida em pessoas que tiveram alto grau de


esforço físico ou mental e tiveram ou não pequenos intervalos de descanso para se
recuperarem fisicamente.

O que fazer?

Como pastores, precisamos mudar um aspecto de nossa


cultura, pois se não cuidarmos de nós mesmos como teremos
condições de cuidar do próximo? "Ame o próximo como a ti mesmo." - Marcos
12: 31. Muitas vezes dizemos para igreja buscar ajuda de um
profissional e nós mesmos não agimos assim.

Os pensamentos geram os comportamentos. Por isso, é de


suma importância mudar tais fatores psíquicos e enxergar que não
precisamos ser sempre 100%. Existe uma máxima em saúde mental:
atrás de todo excesso se esconde uma doença. Em nosso caso,
pastores, muitas vezes esquecemos de que o próprio Deus teve seu
momento de descanso. Ele é o promotor dessa ideia. O descanso é
fundamental para renovar nossas energias e nos deixa abertos para
novas ações e empreendimentos. Com as energias renovadas,
ficamos mais dinâmicos. É uma violência consigo mesmo e com sua
família o pastor não buscar alternativas para descansar.

Viver sem estresse

Viver sem estresse é impossível, mas podemos minimizá-lo de


algumas formas, no caso da vida do pastor:
Tirando férias quando possível: o hábito de recarga de energias é importante para
todos os seres vivos, mas algumas vezes nós pastores achamos que não fazemos parte
desse meio. E alguns ficam vários anos sem investir em si através de alguns dias de
férias. E alguns, quando o fazem, ainda querem levar membros da igreja consigo, nas
viagens de férias. Essa atitude, por mais nobre que seja, tira a privacidade da família
pastoral e acaba, de certa forma, minimizando seu descanso.

Investindo em atividades que proporcionam prazer: muitas vezes parece quase


pecado revelar que temos umhobby, pois, para alguns, falar de algo que não seja ir à
igreja e ler a Palavra “ainda” é um tabu. Mas não podemos esquecer de que o ministro e
sua família precisam de algum tempo de lazer. Esse tempo produzirá não só o descanso
físico, mas também uma renovação mental e espiritual.

Evitando o sedentarismo. A inatividade tem sido a causa de doenças como


obesidade, diabetes mellitus, problemas cardiovasculares, entre outros. A atividade
física proporciona ao organismo uma ativação de substâncias que estimulam a
circulação sanguínea, causando bem-estar físico e mental.

Direcionando seu ministério para uma visão qualitativa.Somos


frutos de uma sociedade competidora, ávida pelo sucesso e, muitas
vezes, nós pastores, sem darmos conta, entramos, nesta correria em
busca de produção.

Não podemos nos esquecer de que a obra não é nossa e sim de Deus e, no
demais, nem sempre podemos ter como crescimento somente números. Existem outros
crescimentos além do numérico. Como queremos produzir para o reino, não devemos
viver uma vida apenas de ativismo, “sacrificando” a nós mesmos, à família e até a igreja
em buscas de resultados imediatos.

Que Deus nos ajude a aprender a cuidar bem de nosso corpo para, assim, durante
muitos anos, podermos cuidar com eficiência da obra que Ele nos confiou.
Trabalharmos, sim, mas com moderação e inteligência, para fugirmos de um estresse
que venha nos impedir de servi-lo.

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Fonte: Jornal Aleluia 372, de março/abril de 2012, pp. 8 e 9

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