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A LITURGIA DAS HORAS (Ou Ofício Divino)


Cristo nosso Senhor, Verbo eterno de Deus (Jo 1,1) e Sumo Sacerdote da Nova e Eterna Aliança
(Cf. Hb 5,5-10), “vindo ao mundo para comunicar a vida de Deus aos seres humanos” (IGLH 3)
e assumindo a nossa humanidade, trouxe também para este exílio terrestre aquele cântico de
louvor, que ressoa eternamente nas moradas celestes (SC 83; IGLH 16).
A partir de então, “por meio de sua Igreja, Cristo exerce a obra da redenção humana e da perfeita
glorificação de Deus” no Espírito Santo, não só, porém, na celebração da Eucaristia e dos
sacramentos, com sua presença viva e santificante, mas também na oração viva da Igreja, a
Liturgia das Horas (SC 83; IGLH 13).
Sendo, pois, verdadeiro diálogo entre Deus e os homens, Liturgia das Horas é de essência
eclesial e cristológica, e não oração pessoal, constituindo também, como a Eucaristia, fonte de
santificação dos homens e de culto a Deus (SC 33; IGLH 14). Como a liturgia da missa,
acompanha também a Liturgia das Horas o Ano Litúrgico, em todos os seus ciclos, festas e
solenidades.
Essa liturgia celeste foi anunciada pelos profetas como vitória do dia sem noite, da luz sem
trevas (Cf. Is 60,19; Zc 14,7), e é concebida como o exercício do sacerdócio de Cristo (SC 7). A
Igreja, exercendo tal sacerdócio, “sem cessar” (Cf. IGLH 15; 1Ts 5,17), oferece a Deus uma
hóstia de louvor, isto é, o fruto de lábios que confessam o seu nome (Cf. Hb 13,15).
A Liturgia das Horas é, pois, a “oração de Cristo com seu próprio Corpo ao Pai” (IGLH 15; SC
84). Por isso, é verdadeira ação litúrgica, que pertence a todo o Corpo da Igreja (SC 26). Deve
ser rezada por todo o povo de Deus, seja pelos membros da hierarquia eclesiástica, como
também pelos religiosos, seja pelos fiéis, em grupos de leigos ou em família, como ainda até
mesmo individualmente (Constituição Apostólica de Paulo VI “Laudis Canticum”, nº 8; IGLH
22; SC 26 e 100).
Entre as demais ações litúrgicas, tem a Liturgia das Horas a característica de santificar todo o
curso do dia e da noite (IGLH 11; SC 84), consagrando assim o tempo inteiramente a Deus.
Estendendo para as diversas horas do dia os louvores e ações de graças e trazendo a lembrança
salutar dos mistérios salvíficos do Filho de Deus, que se celebram na Eucaristia, a Liturgia das
Horas irradia assim a luz do Mistério Pascal, tornando-se a preparação mais adequada e
insuperável do próprio mistério eucarístico (IGLH 12).
Aos olhos da humanidade, Cristo se revelou como o grande orante do Pai, e o louvor de Deus
ressoa eternamente em seu Coração, com palavras humanas de adoração, propiciação e
intercessão (IGLH 3). Vindo para fazer a vontade do Pai (Cf. Jo 6,38; Hb 10,9), ele nos deixou
exemplos vivos de oração, que a Igreja conserva na mente e no coração de seus filhos. Assim, o
Evangelho no-lo mostra em oração: quando o Pai revela a sua missão (Lc 3,21-22); antes de
chamar os Apóstolos (Lc 6,12); antes ainda de ensinar aos discípulos como orar (Lc 11,1);
quando ressuscita Lázaro (Jo 11,41); antes de solicitar a confissão de Pedro (Lc 9,18); ao
abençoar as crianças (Mt 19,13); e tantas outras vezes, como nos lembra a Instrução Geral. E a
vida orante de Cristo continua sendo a vida orante da Igreja, na realização de seu desejo (Cf. Lc
18,1), reafirmado depois principalmente nas exortações paulinas (Cf. 1Ts 1,2; 5,17; 2 Ts 1,11;
Rm 1,10; 12,12; Ef 6,18; Fl 1,3-4; 4,6; Cl 1,3; 4,2; 1Tm 2,8; 5,5; e 2Tm 1,3).
Segundo Santo Agostinho, Cristo, como o grande orante do Pai, e como Cabeça de sua Igreja,
revela-se-nos como Aquele que ora por nós, que ora em nós e a quem devemos nós orar. Ora por
nós, como nosso Sacerdote; ora em nós, como nossa Cabeça; e a quem devemos orar, como
nosso Deus. Devemos, pois, reconhecer a nossa voz nele, e a voz dele em nós.
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OS DIVERSOS MOMENTOS DA LITURGIA DAS HORAS
Sem entrar em dados históricos, na evolução do Ofício Divino, dá-se aqui a estrutura atual da
Liturgia das Horas, em sua parte prática, para compreensão sobretudo dos fiéis leigos.
Compõem, pois, o Ofício Divino:
a) - A Introdução de todo o Ofício
b) - A Oração da Manhã e a Oração da Tarde
c) - O Ofício das Leituras
d) - A Oração das Nove, das Doze e das Quinze Horas, ou Oração Média
e) - As Completas ou Oração da Noite.
A seguir, faz-se pequena referência a cada Hora, em separado, mas, diante do oceano imenso que
é a Liturgia das Horas, pede-se a compreensão do leitor para os limites do Autor, notando-se que
não é intenção deste trabalho aprofundar convenientemente o tema tratado, mas sim ser uma
simples introdução ao estudo da Liturgia das Horas.

INTRODUÇÃO DE TODO O OFÍCIO


O Invitatório é a introdução normal de todo o Ofício, que se inicia com a primeira oração
cotidiana, geralmente a Oração da Manhã, ou então o Ofício das Leituras.
Consta o Invitatório do versículo bíblico “Abri os meus lábios, ó Senhor, E minha boca
anunciará o vosso louvor”, seguido do salmo 94 (95) e sua antífona. O salmo 94 (95) pode ser
substituído, quando oportuno, pelos salmos 99 (100), 66 (67) e 23 (24), desde, porém, que esses
salmos não façam parte da salmodia própria do dia corrente.
A antífona do salmo 94 (95) deve repetir-se no início, após cada estrofe e no fim, sendo
facultado, na recitação individual, recitá-la somente no início e no fim do salmo. No Tríduo
Pascal, nas festas e solenidades, a antífona, fora do Invitatório, encontra-se no Próprio do Tempo
ou no Comum. Nos domingos e dias da semana, encontra-se no Saltério. Com o Invitatório, os
fiéis são chamados cada dia a cantar os louvores de Deus e a escutar a sua voz (IGLH 34).

ORAÇÃO DA MANHÃ E ORAÇÃO DA TARDE


A Oração da Manhã e a Oração da Tarde, de acordo com a tradição da Igreja, formam os dois
polos do ofício cotidiano, e como principais devem ser celebradas (Cf. IGLH 37).
Como pilares, pois, ou como gonzos de todo o Ofício Divino, a Oração da Manhã e a Oração da
Tarde são aqui colocadas em paralelo, em considerações comuns, fazendo-se somente as
observações naquilo que as distingue.
A Oração da Manhã se destina e se ordena à santificação do período matutino, como se
depreende de muitos de seus elementos constitutivos (IGLH 38). Consagram-se por ela então a
Deus os nossos primeiros movimentos, sejam da alma, da mente ou do corpo, no labor físico. Na
perspectiva cristã, o trabalho não deve ser iniciado sem que o corpo se tenha voltado para o
Senhor, na invocação “Eu vos invoco, Senhor, desde o amanhecer...” (Cf. Sl 5,3-4).
Também a Oração da Manhã se celebra como lembrança da Ressurreição do Senhor, como que
louvando a “luz verdadeira que ilumina todo homem” (Cf. Jo 1,9), “nascendo do alto” (Cf. Lc
1,78). A hora, pois, adequada à sua recitação é na chegada do novo dia , anunciando o “Sol
nascente” (Ib.).
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A Oração da Tarde se celebra quando anoitece, e o dia já declina, para agradecer a Deus o que
nele recebemos ou o que nele realizamos, para a glória do Senhor e santificação dos homens e do
mundo, também pelo trabalho cotidiano. Ela nos lembra os grandes sacrifícios vespertinos, ou
seja, aquele da Última Ceia do Senhor, na noite da Quinta-Feira Santa, quando ele instituiu os
sacrossantos mistérios da Igreja, como nos lembra também aquele momento do dia seguinte,
quando, estendendo as mãos, entregou-Se ao Pai, para a salvação de toda a humanidade.
A Oração da Manhã e a Oração da Tarde, por causa de sua ligação mais profunda com o Mistério
Pascal de Cristo, Morto e Ressuscitado, e também com o mistério da Encarnação, são
verdadeiras orações da comunidade eclesial.

Ritual próprio da Oração da Manhã e da Oração da Tarde


a) - Introdução
Elas se iniciam com o versículo “Vinde, ó Deus, em meu auxílio...”, seguido do “Glória ao
Pai...” e “Como era no princípio...”, com “Aleluia”. Este se omite no tempo da Quaresma.
Quando a Oração da Manhã é precedida do Invitatório, ou seja, quando ela é a primeira oração
do dia, suprime-se toda a introdução aqui referida (Cf. IGLH 41), rezando-se então o Invitatório:
“Abri meus lábios...”, e “E minha boca anunciará vosso louvor”. Em seguida diz-se o salmo 94
(95), acompanhado de sua antífona.
b) - Hino
Após a introdução, segue-se o hino correspondente, sempre indicado no lugar próprio, de acordo
com o dia, tempo ou mistério celebrado. Na memória dos santos, não havendo hino próprio,
toma-se livremente do comum ou do dia da semana correspondente.
c) - Salmodia
A salmodia da manhã é constituída de um salmo matutino, seguido de um cântico do Antigo
Testamento e de outro salmo de louvor, segundo a tradição da Igreja. No princípio de cada salmo
deve-se dizer a sua antífona, e, no final, deve-se concluir com o “Glória ao Pai” e “Como era...”.
O “Glória ao Pai” é uma conclusão adequada, que confere à oração do Antigo Testamento uma
dimensão cristológica e trinitária. No final de cada salmo, repete-se também a antífona.
Nas solenidades, festas e memória dos santos, a salmodia da Oração da Manhã é a do domingo
da I semana do Saltério.
Têm antífonas próprias os domingos do Advento, Natal, como também os dias de semana de 17 a
24 de dezembro.
A salmodia da Oração da Tarde é constituída de dois salmos adequados à celebração da tarde,
seguidos de um cântico do Novo Testamento (das epístolas ou do Apocalipse). Como na Oração
da Manhã, também aqui os salmos são seguidos de suas antífonas.
d) - Leitura bíblica
Terminada a salmodia, faz-se a leitura bíblica, que muda de acordo com o dia, tempo e festa.
Deve ser ouvida como verdadeira proclamação da palavra de Deus e, na celebração com o povo,
pode ser acrescida de pequena homilia. Como na liturgia da missa, a palavra de Deus é aqui
seguida de um salmo responsorial, breve.
e) - Cântico evangélico
Após a leitura bíblica, e também a exemplo da Liturgia da Palavra, na missa, pode entoar-se
solenemente o cântico evangélico, com sua antífona. Para a Oração da Manhã, o cântico
evangélico é o de Zacarias (Lc 1,68-69), e para a Oração da Tarde o cântico é o da Santa Mãe de
Deus, o “Magnificat” (Lc 1,46-55). Aos cânticos evangélicos se dá a mesma importância e
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dignidade do Evangelho, podendo, pois, ser acompanhados com a mesma solenidade. No fim,
diz-se o “Glória ao Pai”, a exemplo do que acontece com os salmos.
f) - Preces e intercessões
Terminado o cântico evangélico, na Oração da Manhã fazem-se as invocações, exatamente para
recomendar ou consagrar o dia ao Senhor. Já na Oração da tarde, fazem-se as intercessões, com
as diversas intenções, sendo a última sempre pelos defuntos (IGLH 51, 179, 180, 186 e 187).
A Liturgia das Horas celebra, na verdade, o louvor divino, mas a tradição, tanto judaica como
cristã, não separa do louvor a oração de petição e, com freqüência, faz esta derivar daquele
(IGLH 179). Nesse sentido é que se diz também, com relação à missa, que, mesmo sendo ela
antes de tudo ação de graças e sacrifício de louvor, tem também valor súplice, contendo então as
preces comunitárias, segundo a exortação de São Paulo (Cf. 1Tm 2,1-4), bem como as
intercessões da Oração Eucarística.
Quer, pois, como invocações, na Oração da Manhã, quer como intercessões, na Oração da Tarde,
na tradição viva da Igreja são sempre chamadas preces.
g) - O Pai Nosso e a Oração Conclusiva
Após as invocações e intercessões, recita-se o Pai Nosso e reza-se a oração conclusiva. Esta se
encontra no Próprio do Tempo, ou no Próprio ou Comum dos Santos. Com a recitação do Pai
Nosso na Oração da Manhã e na Oração da Tarde, em sentido comunitário, pretende-se chegar,
durante o dia, à sua tríplice recitação, dada a recitação também na liturgia da missa (IGLH 195).
Na celebração comunitária, o sacerdote ou o diácono, caso presida, despede o povo com a
saudação “O Senhor esteja convosco”, seguida da bênção, como na missa, e com o “Ide em
paz...”

O OFÍCIO DAS LEITURAS


O Ofício das Leituras, mesmo diante da riqueza de textos bíblicos que se lêem na celebração da
missa, quer apresentar ao povo de Deus, principalmente aos clérigos, uma série mais copiosa de
textos bíblicos, a fim de que possam, no sagrado cumprimento de seus deveres ministeriais,
transmitir aos fiéis a eles confiados o alimento salutar da palavra de Deus.
O Ofício está hoje estruturado de maneira que, embora conserve a índole de louvor noturno,
quando recitado em coro, pode-se adaptar a qualquer hora do dia (Cf. SC 89c).

Ritual próprio do Ofício das Leituras


a) - Invitatório
Tudo como na Oração da Manhã, quando primeira oração do dia. Se não, o “Vinde, ó Deus, em
meu auxílio...”)
b) - Hino
Depois do rito introdutório, recita-se o hino próprio, aplicando-se a este as mesmas orientações
para o
hino da Oração da Manhã.
c) - Salmodia
A salmodia aqui é constituída de três salmos, ou partes de salmos, que se dizem com as antífonas
correspondentes.
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d) - Verso salmódico
Antes das leituras, diz-se o versículo, que faz a transição da salmodia para a escuta da Palavra de
Deus. Este versículo é indicado antes da primeira leitura.
e) - Leituras
Há no Ofício duas leituras. A primeira é bíblica, com seu responsório, e a segunda tomada das
obras dos Santos Padres, ou de escritores eclesiásticos, podendo ainda ser uma leitura referente
ao santo do dia, seguida também de um responsório. A segunda leitura, aqui referida, pode então
ser patrística, hagiográfica ou espiritual, dependendo do tempo litúrgico, da festa ou solenidade,
como ainda da memória dos santos.
Nos chamados “tempos privilegiados”, em que não se celebra nenhuma memória obrigatória
(IGLH 237 e 238), quem quiser celebrar um Santo, depois da leitura patrística com seu
responsório, acrescenta a leitura hagiográfica própria e conclui com a oração do Santo (IGLH
239).
f) - “Te Deum”
Após a segunda leitura com seu responsório, o “Te Deum” é recitado ou cantado: nos domingos
fora da Quaresma, nos dias da Oitava do Natal e da Páscoa, como também nas festas e
solenidades.
g) - Oração conclusiva
Após o “Te Deum”, quando for o caso, ou após a segunda leitura com seu responsório, reza-se
então a oração conclusiva.

ORAÇÃO DAS NOVE, DAS DOZE E DAS QUINZE HORAS (ORAÇÃO MÉDIA)
De acordo com a tradição cristã, os cristãos costumavam orar em diversos momentos do dia ou
do trabalho. Nos primórdios, já “perseveravam no ensinamento dos apóstolos, na comunhão, na
fração do pão e na oração” (Cf. At 2,42). Com o correr do tempo, passou-se também a santificar
as demais horas, que os Santos Padres viam insinuadas nos Atos dos Apóstolos. Aí de fato
aparecem os discípulos orando às nove horas (Cf. At 2,1-15). Pedro sobe ao terraço para orar, às
doze horas (Cf. At 10,9). Ainda juntamente com João, sobe Pedro ao templo, à hora da oração,
ou seja, às quinze horas (Cf. At 3,1).
Estas horas menores foram então conservadas na reforma litúrgica, porque também, nessas
horas, se via relacionada a memória de alguns acontecimentos ligados à Paixão do Senhor e à
pregação inicial do Evangelho (Cf. IGLH 75). Sua recitação é recomendada a todos os fiéis,
principalmente àqueles que fazem retiro espiritual. Recomenda-se sobretudo pelo menos uma
das três Horas, a fim de se conservar a tradição de orar durante o dia (IGLH 77). Caso se recite
apenas uma das Horas, esta se chamará então Hora Média.
A estrutura ritual é idêntica para todas as horas menores: versículo introdutório, hino, salmodia
(constante de três pequenos salmos, ou parte de salmos), com suas antífonas, leitura bíblica, com
seu verso breve, e oração conclusiva. Para estas horas, não há hinos próprios para a memória dos
santos.
Propõe-se para as três horas menores uma dupla salmodia: a corrente e a complementar. Quem
recita apenas uma Hora sempre recita a salmodia corrente, e quem recita mais horas, numa delas
tomará a salmodia corrente e nas outras a salmodia complementar.
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AS COMPLETAS (ORAÇÃO DA NOITE)
Segundo a Instrução Geral, a oração da noite é a última do dia, e reza-se antes do descanso
noturno, mesmo passada a meia-noite, se for o caso (IGLH 84), lembrando-nos aqui da oração de
Paulo e Silas, na
prisão (Cf. At 16,25).
Começa, como as demais horas do Ofício Divino, com o verso “Vinde, ó Deus...”, seguido do
“Glória ao Pai...” e “Como era...”, com Aleluia. Este se omite no tempo da Quaresma.
Após a introdução, propõe-se um breve exame de consciência, como louvável prática da piedade
cristã (IGLH 86). Segue-se-lhe o hino indicado. Para a Oração da Noite, são propostos apenas
três hinos: um, para o Tempo Pascal, e dois (A e B) para o restante do Ano Litúrgico. No Próprio
do Tempo, ou no Ordinário, é indicado qual dos dois hinos é apropriado para a recitação
litúrgica, fora, pois, do Tempo Pascal.
Segue-se então a salmodia, com os salmos 4 e 133 (134), para as I Vésperas dos domingos e
solenidades, e para as II Vésperas, o salmo 90 (91), com suas antífonas. Para os outros dias, o
salmo encontra-se no Saltério, mas pode-se tomar a salmodia do domingo por aqueles que
queiram rezar de cor a Oração da Noite (IGLH 88).
À salmodia segue-se a leitura bíblica, com seu responsório, depois dos quais recita-se o cântico
de Simeão, “Nunc Dimittis” (Lc 2,29-32), também acompanhado por sua antífona. O cântico
evangélico aqui referido constitui o ápice da oração noturna.
Finalmente, vêm a oração conclusiva, a bênção, mesmo em particular (“O Senhor nos
conceda...”), e uma das antífonas da Virgem Maria, com a qual se encerra a Oração da Noite.
A exemplo do que acontece na liturgia da missa, na Liturgia das Horas as solenidades do Natal e
da Páscoa são celebradas com Oitava, dando assim aos dias seguintes o mesmo caráter festivo da
celebração principal. Nos dias da Oitava, a Oração da Noite é então a do domingo, alternando os
dois formulários propostos, de I e II Vésperas.

ELEMENTOS VERBAIS DA LITURGIA DAS HORAS


Pela riquíssima Instrução Geral, “que é um verdadeiro tratado de oração”, podemos perceber que
a Liturgia das Horas é essencialmente bíblica, não só em seu conteúdo, mas também em suas
formas, dada ainda a sua conotação simbólica no que diz respeito às horas da celebração.
A Liturgia das Horas mantém, pois, a estrutura essencial de “diálogo entre Deus e seu povo”,
como também “entre Cristo e a Igreja” ((IGLH 14 e 15).
Nesse diálogo salvífico, é preciso deixar sempre a Deus a iniciativa. Orar é sobretudo escutar.
Este era o segredo do povo bíblico (“Ouve, Israel...” Cf. Dt 6,4). Por isso, a oração bíblica é
sobretudo contemplativa, e agora, com a plenitude da revelação do Novo Testamento, vive então
a Igreja o cume da riqueza cristológica e trinitária.
Na dimensão, pois, trinitária da prece cristã, o Pai é a sua fonte e seu fim; Cristo, seu mestre e
único Mediador; e o Espírito Santo, sua força orante e seu vínculo profundo de comunhão. Daí,
na Igreja e na liturgia, o adágio: “Ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo”.
A sistematização verbal da Liturgia das Horas, que se segue, revela-nos como a Igreja trabalhou
seriamente na sua composição, em longo percurso, a fim de que os princípios da renovação
litúrgica proposta pelo Concílio Vaticano II pudessem ser de fato pontos de enriquecimento
espiritual e de retorno feliz à realidade orante de todo o povo de Deus.
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P. Fernández descreve os elementos verbais da Liturgia das Horas com muita precisão e clareza,
dividindo-os em constitutivos, complementares e ambientais. Temos então, segundo ele:
a) - Constitutivos
Os textos bíblicos (salmos, cânticos e leituras) e os textos eucológicos (as preces e o Pai Nosso).
b - Complementares
As leituras (patrísticas, hagiográficas e espirituais); os textos poéticos (as antífonas, os
responsórios e os hinos); e os textos eucológicos (coletas e orações sálmicas).
c) - Ambientais
Por elementos ambientais são citados os títulos dos salmos e as sentenças bíblico-patrísticas.
Esses últimos elementos, os ambientais, juntamente com as antífonas, ajudam-nos a
compreender e a rezar melhor os salmos. Já os textos bíblicos e eucológicos, como elementos
essenciais e constitutivos, encontram-se nos diversos momentos da Liturgia das Horas, com sua
força crística de santificação.

BIBLIOGRAFIA
- Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas (IGLH)
- Bíblia de Jerusalém
- A Celebração na Igreja (Vol. 3)
- Documentos Pontifícios n° 144 - A Sagrada Liturgia - SC)
João de Araújo

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