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PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL : TENDÊNCIAS,


PARALELOS E DIVERGÊNCIAS.
Breves críticas sobre concepções que fundamentam o mundo atual.

Leopoldina
2008

ALEXANDRE DE SOUZA XAVIER

XAVIER, Alexandre Souza. Platão, Aristóteles e Maquiavel : tendências,


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paralelos e divergências : Breves críticas sobre concepções que fundamentam o


mundo atual. 2008. 10 folhas. Trabalho apresentado ao Curso de Mestre em
Ciências Políticas e Governança, Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologia, Leopoldina, 2008.

RESUMO

Após leitura da bibliografia citada onde são abordadas discussões acerca dos
pensadores Platão, Aristóteles e Maquiavel, elaboramos a breve crítica que se
segue, tratando de pontos comuns e discordantes entre eles, atendendo à tarefa
solicitada de articular levando em consideração a perspectiva quanto ao
conhecimento, isto é, falibilismo versus certezas quanto ao conhecimento, e
mecanismos teóricos, tais como razão, uso de história ou métodos empíricos.

Palavras-chave: PENSADORES. Filosofia. Platão. Aristóteles. Maquiavel.


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SUMÁRIO

SUMÁRIO................................................................................................................... 4

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 5

2. DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 6

3. CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................9

REFERÊNCIAS..........................................................................................................10
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1 INTRODUÇÃO

A história da civilização tem sido uma aventura da razão


humana. Não há dúvida que no começo e no topo de cada época aparecem uns
tantos gênios heróicos, ora como vozes do seu tempo, herdeiros e interpretes do
seu passado, ora como pioneiros e guias do futuro. Mas quando nos defrontamos
com a tarefa de selecionar essas personagens para analisarmos, discutirmos,
amarmos e até mesmo odiarmos, surgem inúmeras dificuldades. Qual deverá ser o
teste de grandeza? Quais, no caso específico, três pensadores, devem constar em
nossa lista de análises?
Temos aqui de ser implacáveis e dogmáticos; e embora nos doa, não
podemos admitir em nossa lista nenhum tipo de gênio senão o que
exerceu duradoura influência sobre a vida da humanidade. O teste
supremo será este. Procuraremos verificar a originalidade e o escopo,
a veracidade e a profundez de cada pensador; mas o que acima de
tudo nos cumpre ter em mente é a extensão e persistência do influxo
do gênio sobre a vida e as idéias dos homens. Unicamente assim
poderemos de algum modo controlar os nossos preconceitos pessoais
e conseguir imparcialidade de escolha. (DURANT, 1967:11)

Seguindo desta forma a orientação de DURANT, escolhemos


Platão, Aristóteles e Maquiavel para nossa discussão.
Escolhemos Platão porque foi um homem de amor, amoroso da
amizade, da ilusória realidade escondida dentro das idéias e das coisas. Pode
causar estranheza de nossa parte não escolher então Sócrates; entretanto pelo que
lemos, Sócrates pareceu-nos, conforme também pensa DURANT “metade mito,
metade homem”.
Escolhemos Aristóteles por sua capacidade de observação,
cuidadosa experiência e sistemática formulação dos resultados.
Escolhemos Maquiavel por sua cativante, cruel e real forma de
encarar o poder, o principado, a tirania, destacando-se por sua principal obra, O
Príncipe, tão polêmico quanto mítico.
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2 DESENVOLVIMENTO

Apesar da possibilidade ficcional, não nos atrevemos a discorrer


sobre os três gênios da forma como imaginamos inicialmente. Idealizamos uma
acalorada discussão entre Platão, Aristóteles e Maquiavel, tendo-nos como
mediador, entretanto a linha do tempo cronológico que separa Maquiavel dos outros
dois intimidou-nos, restando a frustração de seguirmos a conduta normal de um
trabalho científico.
Sob uma visão global, diríamos que Platão possuía vocação
matemática, ao passo que Aristóteles era um observador do concreto, com vocação
naturalista, contrastando ambos com Maquiavel, embasado em experiências
próprias ou dos vultos históricos.
Platão era movido por motivos políticos, éticos, estéticos e místicos.
Aristóteles encontrava-se recolhido unicamente na elaboração de seu sistema
filosófico, indene a motivos práticos e sentimentais, ao passo que Maquiavel possuía
objetivos diversos em suas fases da vida conturbada.
As obras de Platão chegaram todas até nós, muitos escritos de
Aristóteles se perderam e das de Maquiavel, "O Príncipe" e os "Discursos sobre a
primeira década de Tito Lívio" são as mais conhecidas.
Quanto à projeção doutrinária, destacamos o Platonismo, fecundo
dentro e fora do pensamento grego; o Aristotelismo, tal qual o Platonismo mas com
mais extensão e vigor; e o Maquiavelismo, como afirma BATH “está associado à
idéia de perfídia , a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro”, ainda que
imperfeitamente compreendido pela massa que o adjetiva .
Analisados academicamente, sabe-se segundo DE GRAZIA, que
“Aristóteles aos dezoito anos, foi para Atenas e ingressou na academia platônica,
onde ficou por vinte anos, até à morte do mestre Platão. Nesse período estudou
também os filósofos pré-platônicos, que lhe foram úteis na construção do seu grande
sistema”. Maquiavel teve uma formação acadêmica fraca, se comparada com a de
outros humanistas, principalmente por causa dos poucos recursos da família.
Segundo Platão, o UNIVERSAL não se contrapõe ao particular, mas
lhe é anterior. As idéias não entram na composição dos seres do mundo sensível,
senão de uma maneira puramente extrínseca, enquanto servem de modelos para a
formação do Universo. Para Aristóteles, o universal não se contrapõe ao particular,
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mas lhe é posterior. Pela abstração a inteligência atinge a essência das coisas, não
havendo o Mundo das Idéias.
Tratando da REALIDADE, Platão antecipa-se ao método de
Descartes e Spinoza e incorre no mesmo defeito de querer partir de uma intuição
fundamental para deduzir depois a realidade. Já Aristóteles defende um realismo
moderado, ratificado por Tomás de Aquino : não há intuição, mas abstração das
idéias, nas quais e pelas quais se conhece a coisa em si. Maquiavel acredita que a
história se repete, tornando a sua escrita útil como exemplo para que os homens,
tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros.
Quanto ao SER, Platão crê em um mundo transcendente, onde
estão as idéias nas quais se concentra toda a realidade, residindo aí as substâncias
imutáveis que são o objeto da ciência. Aristóteles nega a realidade ontológica do
mundo platônico das Idéias, existindo para ele somente as substâncias individuais
particulares e concretas. Para Maquiavel, a NATUREZA HUMANA seria
essencialmente má e os seres humanos quereriam obter os máximos ganhos a
partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso. A natureza
humana também não se alteraria ao longo da história fazendo com que seus
contemporâneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a
história dessa e de outras civilizações servisse de exemplo.
O mestre e o discípulo trilham uma lógica dedutiva, demonstrativa,
neste ponto coincidente com Maquiavel, extremamente investigador.
A CIÊNCIA de Platão desvia-se do método socrático, sendo
representante do matematicismo exagerado, querendo conseguir em todos os ramos
da ciência o mesmo grau de necessidade e de certeza nas matemáticas, tendo seu
idealismo frustrado radicalmente o desejo de chegar à verdadeira realidade.
Aristóteles por sua vez retorna ao método socrático no seu sentido ascendente,
partindo da realidade dos indivíduos substanciais, concretos, múltiplos, móveis e
contingentes do mundo físico, para construir sobre eles as ciências na ordem lógica
e também para chegar eficazmente à única realidade transcendente na ordem
ontológica que é Deus.
Com relação á ÉTICA, Platão acredita que ela não salva o direito
privado, a propriedade particular e a família, baseada em sentimentalismo, insistindo
que se torna impossível saber sem querer, ou seja, é impossível a quem deixou de
captar pela lógica da racionalidade agir contra a dinâmica que conduz ao Bem
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Supremo, agindo imoralmente quem não sabe, não entrou nos caminhos da razão.
Aristóteles marca um avanço positivo, afirmando que é possível termos certezas
teóricas e errarmos no campo da práxis, existindo neste setor complexidade muito
maior. A ética em Maquiavel se contrapõe a ética cristã herdada por ele da Idade
Média. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a
manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que
uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva
histórica.
Segundo Aristóteles e Platão, a marca da TIRANIA é a ilegalidade,
ou seja, a violação das leis e regras pré-estipuladas pela quebra da legitimidade do
poder; uma vez no comando, o tirano revoga a legislação em vigor, sobrepondo-a
com regras estabelecidas de acordo com as conveniências para a perpetuação
deste poder. Ainda segundo Aristóteles e Platão, a intimidação, o terror e o
desrespeito às liberdades civis estão entre os métodos usados para conquistar e
manter o poder. Aristóteles atribuiu a vida relativamente curta das tiranias à fraqueza
inerente dos sistemas que usam a força sem o apoio do direito. Maquiavel também
chegou à mesma conclusão sobre as tiranias e seu colapso, quando das sucessões
dos tiranos, pois a tirania é o regime que tem menor duração, e que segundo suas
palavras “ a queda das tiranias se deve às desventuras da sorte.”
O ESTADO para Platão tem por finalidade prover o bem coletivo,
com o comunismo dos bens, das mulheres e dos filhos e filósofos governando a
República. Para Aristóteles, o papel essencial é a educação dos cidadãos, onde o
comunismo como resolução total dos indivíduos e dos valores no Estado é fantástico
e irrealizável, defendendo a monarquia, aristocracia ou democracia. Maquiavel
defende a constituição de um Estado forte e aconselha o governante a preocupar-se
apenas em conservar a própria vida e o estado, pois na política o que vale é o
resultado.
Enquanto que Platão e Aristóteles imaginavam e idealizavam a
POLÌTICA e, conjeturavam sobre como ela deveria ser (ou como gostariam que
fosse), Maquiavel examinou a política com objetividade, tal qual ela é.
Ao contrário de Platão e Aristóteles, Maquiavel não tratou de valores
espirituais, tendo talvez por esta razão o seu Príncipe indexado pela Igreja Católica,
na lista das obras proibidas.
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3 CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS

Certos da inviabilidade de avançarmos mais profundamente em


temáticas tão instigantes levantadas por Platão, Aristóteles e Maquiavel, fica em nós
a inquietação salutar de que realmente nossa sociedade encontra-se impregnada
das concepções, idéias e divergências destes gênios.
Confessamos que vez por outra não compreendemos perfeitamente a intenção de
tão laboriosos heróis e que também, enquanto sujeitos, não somos obrigados a
aceitar completamente suas abordagens, principalmente no que concerne ao Ser e à
política.
Ficamos tentados em terminar este despretensioso trabalho
imaginando que um dia talvez pudesse ter sido travada a conversa abaixo :
- Platão : "... os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e
autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma
divina graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente".
- Aristóteles : Meu caro mestre, eu diria que “...um bom começo é a metade”.
- Maquiavel : Cuidado, amigos, parecei-vos perdidos no tempo! Vede bem: “..em
política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã.”
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REFERÊNCIAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São
Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.

DURANT, Will. Os grandes pensadores.7 ed. São Paulo, Companhia Editora


Nacional, 1967, pp.11.

BATH, Sérgio. Maquiavelismo: a prática política segundo Nicolau Maquiavel. São


Paulo: Editora Ática, 1992.

DE GRAZIA, Sebastian. Maquiavel no inferno. São Paulo: Companhia das Letras,


1993

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