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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

LÍGIA C.L.S. BALBINO

RESENHA CRÍTICA DO TEXTO ​REPENSANDO A TEXTUALIDADE,​ ​ ​DE MARIA DA


GRAÇA COSTA VAL IN LÍNGUA PORTUGUESA EM DEBATE - CONHECIMENTO
E ENSINO, JOSÉ CARLOS DE AZEREDO (ORG.)

São Paulo
2018
Val, Maria da Graça Costa. (2000). Repensando a Textualidade. In: ​Língua
Portuguesa em Debate ​- conhecimento e ensino.

O texto principia sua defesa com a declaração de que “A gramática


compreende o conjunto de regras que especificam o funcionamento de uma língua”.

A autora passa então a discorrer sobre tal afirmação trazendo à tona a


necessidade de que os falantes de uma determinada língua utilizem palavras de
conhecimento comum e fazendo uso de uma estrutura comum. Portanto, afirma-se
que quando alguém sabe falar uma língua tal pessoa utiliza o padrão da língua de
maneira em que se faz claramente compreendida pela comunidade dos falantes da
mesma. Tendo dito isto, é evidente que todo falante de uma língua possui
conhecimento da gramática que a compõe, quer esse conhecimento seja implícito ou
explícito.

Na aula de português, a fim de habilitar os falantes a se comunicarem numa


variedade de situações é de fundamental necessidade o ensino da gramática.
Todavia, é primordial que se reflita no como essa capacitação se dará partindo-se da
definição do objeto de ensino. Uma vez que este fica mais claro e faz mais sentido
aos educadores, naturalmente a prática se desdobrará de modo a melhor capacitar
os falantes de uma dada língua.

O que deve ser ensinado são as regularidades da língua, gramaticais e


lexicais. Estas não existem por si mesmas, e, sim, provindas do uso comum das
pessoas que utilizam a língua nos variados âmbitos de interação social. Disso
incorre-se que a gramática também reflete as diversidades sociais e de registro da
língua. Cada falante vai variar o uso da língua conforme as comunidades com as
quais precisa se comunicar. As variações da língua fazem com que a gramática
também seja adaptável ao contexto no qual a produção linguística acontece.

Como a gramática se amolda aos objetivos semânticos e circunstanciais, o


ensino de língua descontextualizado não deveria existir. Da mesma forma, a
valorização de alguns falares ante outros deve ser evitada visto que dados contextos
exigem falares diferentes de outros para que a língua seja utilizada numa
comunicação efetiva.
Outro aspecto a ser considerado antes do ensino de língua é o de que toda
utilização da mesma se dá através de textos, nos quais as regularidades gramaticais
encontram relevância e aplicabilidade.

O uso dita as regras e orienta a forma de dizer enquanto a nomenclatura


classifica em unidades os fenômenos da língua. Embora muito do ensino de língua
se refira à nomenclatura, esse conhecimento quase nunca se faz necessário em
contextos reais do dia a dia.

A análise de textos, escritos ou falados, é o que deve ser realizado em sala


de aula. No entanto, para se analisar é interessante fazer uso de conhecimento
explícito de gramática para que o saber possa ser enriquecido e ampliado. O saber
explícito favorece o uso relevante e adequado da língua e somente por esse motivo
é significativo o ensino explícito das regularidades da língua.

O uso do português de acordo com algumas regras particulares demonstram


que o falante está habilitado a se expressar de modo a ser bem aceito pelos grupos
de mais prestígio da sociedade. No entanto, se faz importante a colocação de que
não existe um falar melhor que outro, e, sim, falares de grupos sociais mais ou
menos prestigiados.

Finalmente, o texto apresenta a aplicabilidade dos conceitos defendidos até


então na sala de aula de língua portuguesa. Dessa forma, a mesma afirma que o
professor deve ter o cuidado de trazer para a sala de aula uma gramática que seja
relevante, funcional, contextualizada; trazendo algum tipo de interesse; “libertadora”
da palavra - não se buscando apenas os erros das mesmas, previsora de mais de
uma norma e que seja da língua, das pessoas que a utilizam.

Análise crítica

Particularmente concordo com a autora quando a mesma expõe de modo


claro que o ensino da língua deve ter como base os textos escritos e falados. Fora
deles, a língua perde sua função comunicativa e portanto se torna “morta”.

Embora concorde plenamente com a autora no que tange ao ensino de língua


ter de ser relevante e contextualizado, além de toda a língua ser valorizada sempre,
independentemente de estar dentro da norma ou não; penso que para que esse
conhecimento se torne prático se faz necessária a apresentação de modelos de
ensino e abordagens a fim de que essas ideias se tornem mais imediatamente
aplicáveis a nós como leitores.

Como acontece em outros textos que se propõem a definir objetos de estudo,


infelizmente creio que faltou uma demonstração prática da aplicabilidade das ideias,
o que por um lado limita aplicação especialmente àqueles que estão inseridos num
contexto de “pressão para cobrir conteúdos”. Embora a visão destes mude após a
leitura, é preciso que todo o sistema se adapte para que uma mudança real possa
ser experimentada em níveis maiores do que o de esforços isolados dos que creem
no funcionalismo, visto que muitos dos agentes envolvidos na educação - pais e
alunos, por exemplo - ainda possuem uma visão diferente do que é saber língua
portuguesa.

Recomendação

Penso que a obra de Irandé deve ser lida por todos os que trabalham com o
ensino de línguas, especialmente pelos autores de materiais didáticos usados pelas
escolas pública e particular brasileiras, visto que o conhecimento de como o ensino
de gramática deve ocorrer necessariamente passa pela modificação dos materiais
didáticos utilizados em sala.
Muitas vezes, embora os professores procurem mudar suas práticas para
melhor capacitar os alunos a analisar textos e produzirem em português, os agentes
envolvidos na educação - como por exemplo diretores, coordenadores, gerentes,
pais, alunos - exigem que o material seja utilizado em sua completude mesmo que o
professor muitas vezes discordem da visão nomenclaturista proposta pelo mesmo e
queira aplicar mudanças em sua prática.

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