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Brasília, 2 a 6 de junho de 1997 - Nº 74

Data (páginas internas):12 de junho de 1997.

Este Informativo, elaborado a partir de


notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo
das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá
ser aferida após a sua publicação no Diário da
Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Arrendatários: Ilegitimidade Ativa
Crime Continuado
Farra do Boi
IPTU e Alíquota Progressiva
ISS e Locação de Bens Móveis
Júri e Pronúncia
Lei 9.099/95 e Crimes Contra a Honra
Mandado de Injunção e Isonomia
Reeleição e Votação no Senado Federal
Regime Inicial de Cumprimento de pena

PLENÁRIO
Reeleição e Votação no Senado Federal - 1
O Tribunal — resolvendo questão de ordem suscitada
pelo Min. Marco Aurélio, no sentido de que compete ao
relator a apreciação de medida liminar, à vista do que dispõe
o § 1º do art. 203 do RISTF (“Quando relevante o
fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficácia
da medida, caso deferida, o Relator determinar-lhe-á a
suspensão ...”) — reconheceu a possibilidade do relator
submeter à decisão colegiada pedido cautelar. Pautou-se a
decisão no que preconiza o RISTF em seus artigos 21, III e
IV (“Art. 21 - São atribuições do Relator: ... III -Submeter
ao Plenário ... questões de ordem para o bom andamento
dos processos; IV - Submeter ao Plenário ... medidas
cautelares necessárias à proteção de direito suscetível de
grave dano e de incerta reparação ...”) e 22, parágrafo
único, b , que preceitua que o relator submeterá o feito ao
julgamento do Plenário quando, em razão da relevância da
questão jurídica, convier o seu pronunciamento. Entendeu a
maioria, com base nos citados dispositivos regimentais, que
a utilização pelo relator da faculdade que lhe outorga o
Regimento é indício de sua competência. Precedente citado:
MS 21.564-DF (DJU de 27.8.93).

Reeleição e Votação no Senado Federal - 2


Na mesma votação, a Corte, considerando inexistir, à
primeira vista, fumaça de bom direito, indeferiu medida
liminar — que objetivava suspender a votação, em segundo
turno, no Senado Federal, de projeto de emenda à CF—
requerida em mandado de segurança impetrado por
parlamentares contra ato das Mesas Diretoras do Senado
Federal e da Câmara dos Deputados, relacionados com a
votação do Projeto de Emenda Constitucional nº 4/97, que
visa introduzir o instituto da reeleição para os cargos de
presidente da República, governadores de Estado e prefeitos
municipais. Vencido o Ministro Marco Aurélio. MS 22.864 -
DF, rel. Min. Sydney Sanches, 4.6.97 .
Arrendatários: Ilegitimidade Ativa
Por tratar-se de relação jurídica baseada em direito
pessoal e não em direito real, os arrendatários de imóvel
rural não têm legitimidade ativa para a propositura de
mandado de segurança em que se impugna decreto
Presidencial que declarou a propriedade arrendada de
interesse social para fins de reforma agrária. MS 22.634-PE,
rel. Min. Octavio Gallotti, 5.6.97.

ISS e Locação de Bens Móveis


Retomando o julgamento de recurso extraordinário
interposto por empresa de locação de guindastes em que se
discute a constitucionalidade da cobrança de ISS pelo
Município de Santos-SP sobre a locação de bens móveis
(item 52 da lista de serviços constante da Lei municipal nº
3.750/71), o Min. Carlos Velloso proferiu voto-vista,
acompanhando o Min. Octavio Gallotti, relator, que negava
provimento ao recurso por entender válida a referida
cobrança. Em seguida, o julgamento foi adiado em virtude
do pedido de vista do Min. Nelson Jobim. RE 116.121-SP,
rel. Min. Octavio Gallotti, 5.6.97.

Mandado de Injunção e Isonomia


Por unanimidade, o Tribunal não conheceu de mandado
de injunção interposto pelo Sindicato dos Policiais
Rodoviários Federais no Estado do Mato Grosso do Sul -
SINPRF/MS em que se alegava, com fundamento no art. 24,
do ADCT (“A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios editarão leis que estabeleçam critérios para a
compatibilização de seus quadros de pessoal ao disposto no
art. 39 da Constituição e à reforma administrativa dela
decorrente, no prazo de dezoito meses, contados da sua
promulgação.”), omissão do Presidente da República em
regulamentar a isonomia de vencimentos entre os seus
filiados e os integrantes da polícia federal e da polícia civil
do Distrito Federal. Embora reconhecendo a legitimidade
ativa do Sindicato requerente para ajuizar mandado de
injunção tendo em conta o art. 8º, III, da CF (“Ao sindicato
cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;”), o Tribunal entendeu ser inadequada a via
eleita para pleitear a isonomia de vencimentos. Precedente
citado: MI 347-SC (RTJ 153/15). MI 506-MS, rel. Min. Néri
da Silveira, 5.6.97.

IPTU e Alíquota Progressiva


Declarada incidentalmente a inconstitucionalidade
de dispositivos da Lei 6.747, de 21.12.90, do Município de
Santo André-SP, que previam alíquotas progressivas de
IPTU variando de acordo com o valor venal do imóvel. O
Tribunal, declarando a inconstitucionalidade dos artigos 2º e
3º da referida Lei, conforme decidido no RE 194.036-SP
(acórdão pendente de publicação, v. Informativo 68),
declarou, também, a inconstitucionalidade de seu art. 4º.
Com isso, o Tribunal, vencido o Min. Carlos Velloso,
reiterou o entendimento firmado no julgamento dos RREE
153.771 - MG (acórdão pendente de publicação, v.
Informativo 54) e 204.827 - SP (DJU, 25.4.97), no sentido de
que a única progressividade admitida pela CF/88, em relação
ao IPTU, é a extrafiscal, destinada a assegurar o
cumprimento da função social da propriedade urbana, nos
termos dos arts. 156, § 1º , e 182, § 4º, II da CF. RREE
192.737-SP, 193997-SP e 194183-SP, rel. Min. Moreira
Alves, 5.6.97.

PRIMEIRA TURMA
Crime Continuado
Para a caracterização do crime continuado específico
previsto no parágrafo único do art. 71, do CP (“Nos crimes
dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência
ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art.
75 deste código.”), é necessário haver a diversidade de
vítima em pelo menos um dos crimes cometidos. Com base
nesse entendimento, tratando-se, na espécie, de réu
condenado por quatro crimes de extorsão praticados contra
um mesmo casal cuja pena fora acrescida pela continuação
nos termos do parágrafo único do art. 71, do CP , a Turma
deferiu o habeas corpus para, mantida a condenação, anular
a fixação da pena imposta ao paciente a fim de que outra seja
proferida, atendidos os parâmetros do art. 71, caput, do CP.
HC 75.107-SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 3.6.97.

Regime Inicial de Cumprimento de pena


Para efeito da fixação do regime inicial da pena, sempre
que cabível em tese regime menos severo, o juiz sentenciante
deve fundamentar a decisão que impõe regime mais gravoso
ao réu. Com isso, a Turma deferiu habeas corpus em favor
de réu cuja sentença, ao condená-lo como incurso no art.
157, § 2º, I e II do CP à pena de 5 anos e 4 meses (hipótese
em que se admite o regime semi-aberto, nos termos do art.
33 § 1º, b, do CP), apenas acrescentou “devendo a pena ser
cumprida, desde o início, no regime fechado (art. 33, § 3º,
do CP)”. Habeas corpus deferido a fim de determinar que o
juiz de primeiro grau decida a respeito do regime inicial de
cumprimento da pena do paciente, motivando a decisão, caso
entenda de negar-lhe o regime semi-aberto. Precedentes
citados: HC 69.793-SP (RTJ 148/210); HC 70784-RJ (RTJ
155/832). HC 75.380-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 3.6.97.

Lei 9.099/95 e Crimes Contra a Honra


A Lei 9.099/95 não se aplica aos crimes contra a
honra uma vez que possuem rito especial, conforme o
disposto no art. 61 da referida Lei (“Consideram-se
infrações penais de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que
a lei comine pena máxima não superior a um ano,
excetuando os casos em que a lei preveja procedimento
especial.”). Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu
habeas corpus em que se pretendia ver aplicada a transação
prevista na mencionada Lei ao processo penal de réu
condenado por crime de injúria (CP, art. 140). HC 75.386-
MG, rel. Min. Moreira Alves, 3.6.97.

SEGUNDA TURMA
Farra do Boi
Concluído o julgamento do recurso extraordinário
interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina que julgou improcedente ação civil pública ajuizada
por entidades de proteção aos animais contra omissão do
Estado em reprimir a “Farra do Boi”. A Turma, por maioria,
entendeu que a referida manifestação popular, ao “submeter
os animais a crueldade”, ofende o inciso VII do § 1º do art.
225 da CF. Vencido o Min. Maurício Corrêa que entendia, de
um lado, que o Estado deve garantir a todos o pleno
exercício dos direitos culturais, bem como proteger as
manifestações das culturas populares — tal como dispõe o
art. 215 caput e respectivo § 1º da CF —, coibindo eventuais
excessos; e de outro, que se tratava de questão de fato e não
de direito, o que é incompatível com o extraordinário. RE
153.531-SC, rel. Min. Francisco Rezek, rel. p/ o acórdão
Min. Marco Aurélio (art. 38, IV, b do RISTF) 10.6.97 .
Júri e Pronúncia
Anulado o julgamento absolutório do Tribunal do Júri,
por força de apelo do Ministério Público, restabelecem-se os
efeitos da sentença de pronúncia. Com esse fundamento, a
Turma indeferiu pedido de habeas corpus. Vencidos os
Ministros Maurício Corrêa e Marco Aurélio, que —
invocando jurisprudência da Corte [HC 73.049-RJ (DJU de
8.3.96), HC 72.675-RJ (RTJ 158/925) e HC 61.177-MG
(RTJ 110/105)] — entendiam que a anulação da decisão do
Júri não implica restabelecimento automático da custódia
decorrente da pronúncia — a nova prisão deve ser
fundamentada. Precedentes citados: HC 60.622-RS (RTJ
109/76), HC 63.708-PE (RTJ 122/45) e HC 72.807-RJ (DJU
de 29.9.95). HC 75.387-RJ, rel. Min. Carlos Velloso, 3.6.97.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 4.6.97 5.6.97 25


1ª Turma 3.6.97 --------- 196
2ª Turma 3.6.97 --------- 202

CLIPPING DO DJ
6 de junho de 1997

ADIN N. 822-6
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Extensão de gratificação de risco, mediante
emenda parlamentar, a outras categorias funcionais, que não as
previstas na proposta do Governador.
Ação direta julgada procedente por preterição de iniciativa
exclusiva do Executivo, com ofensa ao princípio da separação dos
Poderes.
* noticiado no Informativo 28

ADIN N. 1503-6 - medida liminar


RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CARGOS DE DIREÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO: REGIMENTO INTERNO: ART.
11, §§ 2º, 3º E 4º. MATÉRIA AFETA À LEI COMPLEMENTAR Nº
35/79 (LOMAN).
1. Não se vislumbra inconstitucionalidade do § 2º do art. 11 do
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, que apenas estabelece procedimento para a coleta de votos
mediante cédulas datilografadas e uniformes, com os nomes dos que
podem ser votados, entendendo-se como sendo os que atendam às
condições previstas no art. 102 da LOMAN.
2. Indeferida a liminar quanto ao § 3º, por não afrontar o texto
constitucional e a Lei da Magistratura Nacional.
3. A CF/88 recepcionou a norma contida no art. 102 da Lei
Complementar nº 35/79 (LOMAN), que fixa o período de mandato
nos Tribunais, não restando dúvida acerca de sua plena validade.
4. Cautelar deferida apenas para suspender a eficácia do segundo
período do § 4º do mesmo art. 11 do Regimento Interno do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
* noticiado no Informativo 47

ADIN N. 1578-8 - medida liminar


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Relevância da fundamentação jurídica da argüição de
incompatibilidade, com o disposto nos artigos 2º, 96, II, 99, § 2º, II e
168, da Constituição Federal, de lei estadual que instituiu regime
centralizado de pagamento de salários dos servidores dos três
Poderes, aí compreendido o processamento das folhas respectivas e
aferição de sua legalidade.
* noticiado no Informativo 67

HC N. 68793-8
RELATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - "Habeas corpus". Crime de quadrilha ou bando.
Interpretação dos artigos 8º e 10 da Lei nº 8.027, de 25 de julho de
1990.
- Quando há choque entre dois dispositivos de uma mesma lei,
a antinomia não pode ser resolvida pelos critérios da hierarquia ou
da sucessividade no tempo, porque esses critérios pressupõem a
existência de duas leis diversas, uma hierarquicamente superior à
outra, ou esta posterior à primeira. Nesse caso, que é o de mais
difícil solução, o que é preciso verificar é se a antinomia entre os
dois textos da mesma hierarquia e vigentes ao mesmo tempo é uma
antinomia aparente, e, portanto, solúvel, ou se é um antinomia real,
e, conseqüentemente, insolúvel.
A antinomia aparente é aquela que permite a conciliação entre
os dispositivos antinômicos, ainda que pelo que se denomina
"interpretação corretiva", ao passo que a antinomia real é aquela
que, de forma alguma, permite essa conciliação, daí decorrendo a
necessidade de se adotar a chamada "interpretação abrogante", pela
qual ou o intérprete elimina uma das normas contraditórias
(abrogação simples) ou elimina as duas normas contrárias
(abrogação dupla).
Dessas três soluções, a que deve ser preferida - só sendo
afastável quando de forma alguma possa ser utilizada - é a
interpretação corretiva, que conserva ambas as normas
incompatíveis por meio de interpretação que se ajuste ao espírito da
lei e que corrija a incompatibilidade, eliminando-a pela introdução
de leve ou de parcial modificação no texto da lei.
No caso, a interpretação corretiva é perfeitamente aplicável.
Com efeito, atendendo-se a que o artigo 8º da Lei nº 8.072/90 se
dirige à pena e a que o artigo 10 dessa mesma Lei tem
inequivocamente como em vigor o tipo delituoso previsto no artigo
14 da Lei nº 6.368/76, a forma de afastar-se a interpretação
abrogante - que só deve ser utilizada no caso extremo de
inconciabilidade absoluta - será a da conciliação sistemática, e
diante a interpretação restritiva de ambos os dispositivos, deixando
ao primeiro a fixação da pena inclusive para a quadrilha que se
forma para a prática de crime de tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, e ao segundo a especialização do tipo do crime de
quadrilha com essa finalidade.
"Habeas corpus" indeferido.

HC N. 73451-1
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: "HABEAS CORPUS". CRIME CONTRA A
SEGURANÇA NACIONAL. ARMAMENTO MILITAR
FABRICADO PARA EXPORTAÇÃO COM AUTORIZAÇÃO DA
AUTORIDADE FEDERAL COMPETENTE: EXTRAVIO QUE
NÃO CARACTERIZA CRIME CONTRA A SEGURANÇA
NACIONAL POR INEXISTÊNCIA DO ELEMENTO SUBJETIVO
CONSUBSTANCIADO NA MOTIVAÇÃO POLÍTICA. CRIME
POLÍTICO: CONFIGURA-SE SOMENTE QUANDO
PRESENTES OS PRESSUPOSTOS CRISTALIZADOS NO ART.
2º DA LEI Nº 7.170/83: A MOTIVAÇÃO POLÍTICA E A LESÃO
REAL OU POTENCIAL AOS BENS JURIDICAMENTE
TUTELADOS. FALSIDADE IDEOLÓGICA: FALTA DE
CONSISTÊNCIA; CRIME-MEIO: ABSORÇÃO PELO CRIME-
FIM NÃO POLÍTICO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL PORQUANTO NÃO TIPIFICADO O CRIME
POLÍTICO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR INÉPCIA
DA DENÚNCIA.
1.Subsume-se inconcebível a configuração de crime contra a
segurança nacional e a ordem política e social quando ausente o
elemento subjetivo que se traduz no dolo específico: motivação
política e objetivos do agente.
2. É de repelir-se, no caso concreto, a existência de crime político,
dado que não demonstrada a destinação de atentar, efetiva ou
potencialmente, contra a soberania nacional e a estrutura política
brasileira.
3. O disposto no parágrafo único do art. 12 da Lei nº 7.170/83 só
pode ser compreendido com o elastério que lhe dá o art. 1º,
complementado pelo art. 2º da mesma Lei.
4. Não se vislumbrando qualificação de crime de natureza política,
ante os fatos pelos quais os pacientes foram acusados e que se
resumem no extravio de material bélico fabricado exclusivamente
para exportação, denota-se implicitamente contrariedade ao art. 109,
IV, da Constituição Federal.
5. Ainda que admitido o crime de falsidade ideológica pelo pedido, à
autoridade competente, para exportar material bélico a país diverso
do real destinatário, seria o caso de absorção do crime-meio pelo
crime-fim, que não é de natureza política.
6. "Habeas corpus" deferido.
* noticiado no Informativo 66
HC N. 74663-2
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: "HABEAS CORPUS". EFEITO SUSPENSIVO EM
AGRAVO DE INSTRUMENTO: NÃO-CABIMENTO. PENSÃO
ALIMENTÍCIA: INADIMPLÊNCIA. PRISÃO CIVIL:
DECRETAÇÃO.
1. Não há base legal, no caso, para emprestar-se ao agravo de
instrumento efeito suspensivo, quanto ao decreto de prisão civil de
devedor de prestação alimentar. Precedente: HC n° 50.578 (RTJ 64,
págs. 351/353).
Conhece-se do "habeas corpus" mas se indefere a ordem.
2. Alimentando que deixa acumular por largo espaço de tempo a
cobrança das prestações alimentícias a que tem direito, e só ajuíza a
execução quando ultrapassa a dívida a mais de um ano, faz presumir
que a verba mensal de alimentos não se tornara tão indispensável
para a manutenção do que dela depende.
3. Tendência da jurisprudência no sentido de admitir que somente
as últimas três prestações vencidas teriam o caráter estritamente
alimentar, ficando nesta hipótese sujeito o alimentante à prisão civil
(CPC, artigo 733).
4. As prestações mais velhas anteriores a três meses estariam a
ensejar a cobrança por meio de execução, porém sem o
constrangimento da decretação da prisão civil, em face de sua feição
tipicamente indenizatória (CPC, artigo 722).
5. Se pende de julgamento perante o Tribunal a quo agravo de
instrumento em que essa tese é colocada, e nela havendo
plausibilidade jurídica de boa consistência doutrinária e
jurisprudencial, a prudência indica aguardar-se seja o agravo
primeiramente julgado, justificando-se, si et in quantum, restrinja-
se a sanção maior apenas à inexistência do pagamento das últimas
três prestações de alimentos já vencidas, até que o respectivo
Tribunal sobre esse tema se pronuncie.
6. Concessão do writ ex-officio dentro desses limites.
* noticiado no Informativo 66

HC N. 74753-1
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
E M E N T A: HABEAS CORPUS - COMPETÊNCIA - CRIME
ELEITORAL - DECISÃO CONDENATÓRIA MANTIDA POR
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL - RECURSO ESPECIAL
NÃO CONHECIDO PELO T.S.E., POR AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO - INCOMPETÊNCIA ORIGINÁRIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA APRECIAR ESTE
HABEAS CORPUS - RECONHECIMENTO DA COMPETÊNCIA
ORIGINÁRIA DO T.S.E. (CÓD. ELEITORAL, ART 22, I, "e") -
PEDIDO NÃO CONHECIDO.
- Não compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar,
originariamente, ação de habeas corpus promovida contra decisão
emanada de Tribunal Regional Eleitoral. A competência originária
para apreciar o writ constitucional inclui-se, em tal hipótese, na
esfera de atribuições do Tribunal Superior Eleitoral, a quem incumbe
processar e julgar o habeas corpus, em matéria eleitoral (nesta
incluídos os crimes eleitorais), impetrado contra atos do Tribunal
Regional Eleitoral (Cód. Eleitoral, art. 22, I, "e").
- O Tribunal Superior Eleitoral não se qualifica como órgão coator,
não se lhe podendo imputar situação de injusto constrangimento, se,
por razões de ordem estritamente técnica (ausência de
prequestionamento, p. ex.), não conhece de recurso especial
interposto contra decisão penal, de índole condenatória, proferida
por Tribunal Regional Eleitoral.
* noticiado no Informativo 67

HC N. 74816-3
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: "Habeas corpus".
- Improcede a alegação de que a representação ocorreu fora do prazo
de cinco dias previsto no artigo 498, § 1º, do Código de Processo
Penal Militar, porquanto é correto o entendimento de que esse prazo
se conta a partir do momento em que o Juiz Corregedor toma efetivo
conhecimento do ato que dá motivo à representação.
- É irrelevante, no caso, examinar-se a questão de poder, ou não, o
Corregedor que representou votar na sessão em que a representação
é apreciada, porquanto essa decisão, que foi tomada pela
unanimidade dos julgadores, se manteria ainda que não computado o
voto do referido Corregedor.
- O desarquivamento do inquérito se fez regularmente com base na
legislação processual penal militar, segundo o entendimento desta
Corte nos precedentes citados no referido parecer (HC 61301, HC
68739 e HC 72925), os quais dão pela legalidade do pedido do
Corregedor de desarquivamento do Inquérito Policial Militar. Assim,
a cassação do arquivamento pelo provimento da correição parcial do
Corregedor é compatível com a legitimação exclusiva do Ministério
Público para a ação penal pública, inexistindo ofensa ao princípio da
independência do Juiz por subordinar o órgão julgador de primeira
instância ao controle administrativo, até porque a decisão judicial
que defere o arquivamento de inquérito policial não tem caráter
jurisdicional.
- Improcedente a alegação de ofensa à súmula 524 desta Corte, pois,
como decidido nos embargos declaratórios no HC 68.739, essa
súmula só se aplica a inquérito realizado nos termos da lei
processual penal comum e não nos termos da lei processual penal
militar.
"Habeas corpus" indeferido.
* noticiado no Informativo 67

HC N. 74938-1
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS
CORPUS. INDULTO. DECRETO 1860/96, ART. 7º, III.
QUALIFICADORAS: CP, ART. 157, § 2º.
I. - Para o indeferimento do indulto previsto no inciso III do art.
7º do Decreto 1860/96 é suficiente a presença de uma das
qualificadoras do art. 157, § 2º, do Código Penal.
II. - H.C. indeferido.

INQUÉRITO N. 1188-6 - questão de ordem


RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Exceção da verdade. Competência para o processamento
e julgamento dela. Questão de ordem.
- Como bem salienta o parecer da Procuradoria-Geral da República a
jurisprudência desta Corte, reafirmada mais recentemente em
questões de ordem na Exceção da Verdade nº 541 (RTJ 49/32 e
segs.) e na Ação Penal nº 305 (RTJ 152/12 e segs.), se orienta no
sentido de que a competência originária desta Corte, em se tratando
de exceção de verdade, se adstringe ao julgamento dela quando tem
por objeto a imputação de prática de fato criminoso ao titular do foro
por prerrogativa de função, e, portanto, quando excipiente esteja a
responder por calúnia e não por difamação.
Ora, no caso, o excipiente está a responder por crime de injúria (que
não admite a exceção de verdade) e de difamação, estando correto o
referido parecer ao concluir pela incompetência desta Corte para
processar e julgar a presente exceção da verdade.
Questão que se resolve no sentido de se determinar a devolução dos
autos ao Juízo de origem que é o competente para processar e julgar
esta exceção da verdade.
* noticiado no Informativo 68

MS N. 22503-3
RELATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO
CONTRA ATO DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS, RELATIVO À TRAMITAÇÃO DE EMENDA
CONSTITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE
DIVERSAS NORMAS DO REGIMENTO INTERNO E DO ART.
60, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
PRELIMINAR: IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA QUANTO
AOS FUNDAMENTOS REGIMENTAIS, POR SE TRATAR DE
MATÉRIA INTERNA CORPORIS QUE SÓ PODE ENCONTRAR
SOLUÇÃO NO ÂMBITO DO PODER LEGISLATIVO, NÃO
SUJEITA À APRECIAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO;
CONHECIMENTO QUANTO AO FUNDAMENTO
CONSTITUCIONAL.
MÉRITO: REAPRESENTAÇÃO, NA MESMA SESSÃO
LEGISLATIVA, DE PROPOSTA DE EMENDA
CONSTITUCIONAL DO PODER EXECUTIVO, QUE MODIFICA
O SISTEMA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, ESTABELECE NORMAS
DE TRANSIÇÃO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS (PEC Nº 33-A,
DE 1995).
I - Preliminar.
1. Impugnação de ato do Presidente da Câmara dos Deputados que
submeteu a discussão e votação emenda aglutinativa, com alegação
de que, alem de ofender ao par. único do art. 43 e ao § 3º do art. 118,
estava prejudicada nos termos do inc. VI do art. 163, e que deveria
ter sido declarada prejudicada, a teor do que dispõe o n. 1 do inc. I
do art. 17, todos do Regimento Interno, lesando o direito dos
impetrantes de terem assegurados os princípios da legalidade e
moralidade durante o processo de elaboração legislativa.
A alegação, contrariada pelas informações, de impedimento do
relator - matéria de fato - e de que a emenda aglutinativa inova e
aproveita matérias prejudicada e rejeitada, para reputá-la
inadmissível de apreciação, é questão interna corporis do Poder
Legislativo, não sujeita à reapreciação pelo Poder Judiciário.
Mandado de segurança não conhecido nesta parte.
2. Entretanto, ainda que a inicial não se refira ao § 5º do art. 60 da
Constituição, ela menciona dispositivo regimental com a mesma
regra; assim interpretada, chega-se à conclusão que nela há ínsita
uma questão constitucional, esta sim, sujeita ao controle
jurisdicional. Mandado de segurança conhecido quanto à alegação
de impossibilidade de matéria constante de proposta de emenda
rejeitada ou havida por prejudicada poder ser objeto de nova
proposta na mesma sessão legislativa.
II - Mérito.
1. Não ocorre contrariedade ao § 5º do art. 60 da Constituição na
medida em que o Presidente da Câmara dos Deputados, autoridade
coatora, aplica dispositivo regimental adequado e declara
prejudicada a proposição que tiver substitutivo aprovado, e não
rejeitado, ressalvados os destaques (art. 163, V).
2. É de ver-se, pois, que tendo a Câmara dos Deputados apenas
rejeitado o substitutivo, e não o projeto que veio por mensagem do
Poder Executivo, não se cuida de aplicar a norma do art. 60, § 5º, da
Constituição. Por isso mesmo, afastada a rejeição do substitutivo,
nada impede que se prossiga na votação do projeto originário. O que
não pode ser votado na mesma sessão legislativa é a emenda
rejeitada ou havida por prejudicada, e não o substitutivo que é uma
subespécie do projeto originariamente proposto.
3. Mandado de segurança conhecido em parte, e nesta parte
indeferido.
* noticiado no Informativo 30

RE N. 140254-7 (AgRg)
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
E M E N T A: DIREITO DE PROPRIEDADE - PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL - INSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO DE
PASSAGEM DE LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA - GARANTIA DE INDENIZAÇÃO PLENA -
JAZIDAS MINERAIS EXISTENTES NO IMÓVEL AFETADO
PELA SERVIDÃO DE PASSAGEM - RESSARCIBILIDADE DOS
DIREITOS INERENTES À CONCESSÃO DE LAVRA - A
QUESTÃO CONSTITUCIONAL DA PROPRIEDADE DO SOLO
E DA PROPRIEDADE MINERAL - RECURSO IMPROVIDO.
RECURSOS MINERAIS E DOMÍNIO CONSTITUCIONAL
DA UNIÃO
- O sistema de direito constitucional positivo vigente no Brasil - fiel
à tradição republicana iniciada com a Constituição de 1934 -
instituiu verdadeira separação jurídica entre a propriedade do solo
e a propriedade mineral (que incide sobre as jazidas, em lavra ou
não, e demais recursos minerais existentes no imóvel) e atribuiu, à
União Federal, a titularidade da propriedade mineral, para o
específico efeito de exploração econômica e/ou de aproveitamento
industrial.
A propriedade mineral submete-se ao regime de dominialidade
pública. Os bens que a compõem qualificam-se como bens públicos
dominiais, achando-se constitucionalmente integrados ao
patrimônio da União Federal.
CONCESSÃO DE LAVRA - INDENIZABILIDADE
- O sistema minerário vigente no Brasil atribui, à concessão de lavra
- que constitui verdadeira res in commercio -, caráter negocial e
conteúdo de natureza econômico-financeira.
O impedimento causado pelo Poder Público na exploração
empresarial das jazidas legitimamente concedidas gera o dever
estatal de indenizar o minerador que detém, por efeito de regular
delegação presidencial, o direito de industrializar e de aproveitar o
produto resultante da extração mineral.
Objeto de indenização há de ser o título de concessão de lavra,
enquanto bem jurídico suscetível de apreciação econômica, e não a
jazida em si mesma considerada, pois esta, enquanto tal,
acha-se incorporada ao domínio patrimonial da União Federal.
A concessão de lavra, que viabiliza a exploração empresarial das
potencialidades das jazidas minerais, investe o concessionário em
posição jurídica favorável, eis que, além de conferir-lhe a
titularidade de determinadas prerrogativas legais, acha-se
essencialmente impregnada, quanto ao título que a legitima, de
valor patrimonial e de conteúdo econômico. Essa situação subjetiva
de vantagem atribui, ao concessionário da lavra, direito, ação e
pretensão à indenização, toda vez que, por ato do Poder Público, vier
o particular a ser obstado na legítima fruição de todos os benefícios
resultantes do processo de extração mineral.
* noticiado no Informativo 16

RE N. 158853-5
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Servidor público. Agente fiscal de rendas. Cômputo de
vantagens funcionais. Lei Complementar 567/88 do Estado de São
Paulo. Alegação de afronta à coisa julgada.
- Como bem acentuou o acórdão recorrido, a sentença anterior
transitada em julgado foi devidamente cumprida, e a força da coisa
julgada persiste apenas para que o que foi dado com base nela não
seja retirado, como afirma a recorrida (e não se demonstrou o
contrário) que não o foi, mas não para impedir, sob o fundamento de
retroatividade inexistente na espécie, que em enquadramentos
decorrentes de legislação posterior sejam eles balizados por critério
de cálculo diverso do determinado por decisão anterior e que é
contrário à nova lei vigente, máxime quando estão em causa,
também, vedações constitucionais (artigo 37, XIV, da Constituição
Federal de 1988, e artigo 17 de seu ADCT).
Recurso extraordinário não conhecido.
* noticiado no Informativo 54

RE N. 179541-7
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONSTITUCIONAL. USUCAPIÃO. PERÍMETRO DE
ALDEAMENTO INDÍGENA. MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE
DA UNIÃO FEDERAL. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM PARA AVALIAÇÃO DO PEDIDO.
1. Ação de reconhecimento de domínio sobre imóvel situado no
perímetro de aldeamento indígena. Manifestação de interesse da
União, perante a Justiça Estadual. Somente à Justiça Federal cabe
avaliar a realidade ou não desse interesse.
2. Incompetência da Justiça Comum para exame da pretensão.
Recurso conhecido e provido.

RE N. 191273-1
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA. LEI
MUNICIPAL. CONTROLE CONCENTRADO: TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. C.F., art. 125, § 2º.
I. - Na Rcl 383-SP, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria,
pela admissibilidade da propositura da ação direta de
inconstitucionalidade, perante o Tribunal de Justiça local, de lei
municipal frente à Constituição Estadual, mesmo no caso da
reprodução, por esta, de normas constitucionais federais de
observância obrigatória pelos Estados, com possibilidade de recurso
extraordinário, se a interpretação da norma constitucional estadual,
que reproduz a norma constitucional federal obrigatória, contrariar o
sentido e o alcance desta.
II. - Ressalva do ponto de vista do relator deste, no sentido de que,
em caso assim, não seria admissível a ação direta de
inconstitucionalidade.
III. - R.E. conhecido e provido, em parte.

RE N. 193810-2
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Recurso extraordinário. Estabilidade financeira. Lei
Complementar 43/92 do Estado de Santa Catarina.
- A estabilidade financeira, que não se confunde com o instituto da
agregação, não viola o princípio constitucional da vedação de
vinculação ou equiparação de vencimentos.
- Falta de prequestionamento da questão relativa ao artigo 17 do
ADCT da Constituição Federal (súmulas 282 e 356).
- Inexistência, no caso, de direito adquirido, porquanto é
entendimento firme desta Corte o de que não há direito adquirido a
regime jurídico.
- Não-observância, de outra parte, da súmula 339, não sendo
aplicável, no caso, o § 4º do artigo 40 da Carta Magna, porquanto
não houve tratamento diferenciado entre os em atividade e os
inativos com o benefício da estabilidade financeira.
Recurso extraordinário conhecido e provido.
* noticiado no Informativo 66

RHC N. 74860-1
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS
CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. INSTAURAÇÃO
MEDIANTE REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA.
AUTORIDADE COATORA.
I. - Inquérito policial instaurado mediante requisição da autoridade
judiciária: a esta atribui-se a coação, e não à autoridade policial que
preside o inquérito. Precedentes.
II. - Recurso provido.
* noticiado no Informativo 60

Acórdãos publicados: 367


T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

PSSS e Alíquota de 6%
(5. Informativo 73)

ADIn 1.610-DF *

Ministro Sydney Sanches (relator)

Relatório: Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade,


proposta pelo Exmº Sr. Procurador-Geral da República contra
Resolução do Conselho de Administração do Egrégio SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, tomada em data de 14.05.1997, no
Processo STJ 01813/97, pela qual se deferiu requerimento
formulado por dois servidores da Corte, no sentido da “limitação da
alíquota de contribuição ao Plano de Seguridade Social do Servidor
a 6%, com o ressarcimento dos valores recolhidos indevidamente,
no período julho/94 a abril/97”, e, ainda, se determinou a extensão
dos efeitos de tal decisão “a todos os demais servidores do mesmo
Tribunal, nos termos do voto do Exmº Sr. Ministro Relator” (fls. 10).

Sustenta, em síntese, o autor, que a

Resolução impugnada violou o disposto no “caput” do art. 62 da

Constituição Federal, porque a Medida Provisória nº 510, de 26 de

julho de 1994, foi sucessivamente reeditada, sendo a última de nº

1.482-36, de 15 de maio último, ainda não votada pelo Congresso

Nacional. Afrontou, igualmente, o parágrafo único do mesmo

dispositivo constitucional, pois o Conselho Administrativo do

Superior Tribunal de Justiça teria usurpado a competência do

Congresso Nacional, ao “disciplinar as relações jurídicas”

decorrentes da Medida Provisória não convertida em lei.

[...]

É o Relatório.

Voto:[...]Eis o relatório e o voto do eminente Ministro LUIZ


VICENTE CERNICCHIARO, condutor da unânime decisão
normativa, em questão (fls. 11/12):

[...]Os servidores ... e ...


formularam requerimento ao
Excelentíssimo Ministro Presidente de
Superior Tribunal de Justiça, postulando
o restabelecimento da alíquota de 6%
para a contribuição ao Plano de
Seguridade Social do Servidor - PSSS -
com efeito retroativo a 1º de julho de
1994 e, conseqüentemente, o pagamento
de diferenças recolhidas a maior.
É o relatório.
A Lei nº 8.688, de 21 de julho de
1993 modificou a redação do § 2º, do art.
231, da Lei nº 8.112/90: passou a vigorar
o seguinte texto:
Art. 231.........
§ 2º - O custeio das aposentadorias e pensões é de
responsabilidade da União e de seus servidores.
Fixou as alíquotas no art. 2º,
cujo § 1º menciona que passariam a
vigorar no prazo de 90 dias, contado da
publicação da lei e seriam aplicadas até
30 de junho de 1994. Isso, por força de
disposto no art. 195, § 6º da Constituição
da República.
O art. 249, da Lei nº 8.112/90,
comanda que até a edição da lei prevista
no art. 231, § 1º, os servidores
contribuiriam na forma e nos percentuais
estabelecidos para o servidor civil da
União, conforme regulamento próprio.
O regulamento vigente à época
(Decreto nº 83.081/79, modificado pelo
Decreto nº 90.817/85) fixara a alíquota
de 6%.
A Lei nº 8.688/93, por sua vez,
fixou, tomando, como referência a
remuneração do servidor, quatro
alíquotas, variando de 9 a 12.
Ultrapassado o prazo
consignado no referido art. 2º, § 2º, in
fine, da Lei nº 8.688/93, a legislação
nada alterou.
A Medida Provisória nº 560/94
reeditou o comando para o período de 1º
de julho de 1994 até a data da publicação
da lei sobre o Plano de Seguridade Social
do servidor público civil.
Essa Medida Provisória,
registrou-se, restabeleceu o comando da
Lei nº 8.112/90. No mesmo sentido as que
lhe sucederam.
Todavia, nenhuma delas, até
hoje, foi convertida em lei. Em
conseqüência, perdem, no prazo de trinta
(30) dias, a respectiva eficácia.
Na ADIn nº 293-7-DF, Relator o
E. Ministro Celso de Mello, restou
consignado que “... não convertida em
lei, despoja-se, desde o momento de sua
edição, da aptidão para inovar o
ordenamento positivo”.
Na hipótese analisada, a
cobrança a maior, com o exaurimento dos
efeitos das Medidas Provisórias, cumpria
à Administração, mês a mês, promover a
restituição do que acabara sendo
cobrado a maior.
A postulação merece
acolhimento.
Ademais, Ministro Presidente,
sugiro a Vossa Excelência, se o voto
receber o acolhimento do E. Conselho,
expedir ordem normativa para conferir o
mesmo tratamento a todos os servidores.
[...].”

Embora com tal decisão se tenha deferido

o requerimento de apenas dois servidores do SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA, seus efeitos foram estendidos a todos os

demais (fls. 10).

Daí o caráter normativo da decisão

administrativa.
Em situações similares a Corte tem

admitido o caráter normativo de decisões dessa natureza, bem como

sua impugnabilidade, mediante Ação Direta de

Inconstitucionalidade. Assim, por exemplo, nas ADINs 577, 664,

683, 658, 666.

A inconstitucionalidade da Resolução do

Superior Tribunal de Justiça e o requerimento de medida cautelar de

suspensão de sua eficácia ficaram assim expostos na petição inicial

da Ação, proposta com base no art. 103, VI, da Constituição Federal

(fls. 2/9):

[...]

Como se vê da inicial, as Medidas

Provisórias, que trataram da matéria agora “sub judice”, não

chegaram a ser votadas pelo Congresso Nacional. E foram

sucessivamente reeditadas, sem alteração no ponto que aqui

interessa, encontrando-se em vigor, a esta altura, a Medida

Provisória nº 1.482-36, de 15 de maio de 1997, já que todas as

reedições ocorreram antes de esgotados os trinta dias a que alude o

parágrafo único do art. 62 da Constituição Federal.

Essa última Medida Provisória tem,

portanto, eficácia de Lei, nos termos do “caput” do mesmo artigo,

pelo menos até trinta dias seguintes a 15 de maio de 1997, enquanto

não for convertida em Lei de conteúdo diverso ou rejeitada.

Esta Corte não admite reedição de

Medida Provisória, quando já rejeitada pelo Congresso Nacional,

como ficou assentado na ADI 293, de que foi Relator o eminente

Ministro CELSO DE MELLO (RTJ 146/707).

Sua Excelência, no ponto, deixou

consignado na ementa do acórdão:

“A rejeição parlamentar de
medida provisória - ou de seu projeto de
conversão -, além de desconstituir-lhe
“ex tunc” a eficácia jurídica, opera uma
outra relevante conseqüência de ordem
político- institucional, que consiste na
impossibilidade de o Presidente da
República renovar esse ato quase
legislativo, de natureza cautelar.”
(Anoto que foi esse o precedente do
S.T.F., referido no voto do Relator, no S.T.J., que levou à Resolução
em questão).
O Tribunal, contudo, tem admitido como
válidas e eficazes as reedições de Medidas Provisórias, ainda não
votadas pelo Congresso Nacional, quando tais reedições hajam
ocorrido dentro do prazo de trinta dias de sua vigência.

Até porque o poder de editar Medida


Provisória subsiste, enquanto não rejeitada.

Assim decidiu esta Corte, por exemplo,


na ADI 295, relatada pelo eminente Ministro PAULO BROSSARD,
quando se indeferiu a suspensão cautelar da Medida que reeditava
outra, o que ocorreu em data de 11.06.1990, não tendo sido, ainda,
lamentavelmente, publicado o acórdão, ao que informa a Secretaria,
por depender de revisão de notas taquigráficas.

Em data de 9 de dezembro de 1996, o


Tribunal, por unanimidade de votos, na ADI nº 1.533, indeferiu
medida cautelar de suspensão do art. 6º da MP nº 1.523-1, de
12.11.1996, que convalidava os atos praticados com base na Medida
Provisória nº 1.523, de 11 de outubro de 1996.

Na oportunidade, salientou o voto do


eminente Relator, Ministro OCTAVIO GALLOTTI:
“Talvez não mais do que
inadequado emprego do vocábulo
‘convalidados’, utilizado no dispositivo
questionado, proceda toda a flama da
bem lançada petição inicial, a despertar
a equivocada impressão de que ali se
estaria deparando a competência para a
disciplina das relações jurídicas
decorrentes de medida provisória cuja
eficácia se houvesse chegado a consumar,
ao passo que, em verdade, aqui se trata
de medida provisória em tempo útil
reeditada, sem que se houvesse chegado a
expirar o prazo de trinta dias de validade
da anterior, nem tivesse sido ela rejeitada
pelo Congresso Nacional.
O verdadeiro objeto da norma
impugnada é, pois, o de manter a eficácia
de medida, cuja reedição, no silêncio do
Congresso, é autorizada pela
jurisprudência do Supremo Tribunal (ADI
295, sessão de 22-6-90), ao contrário da
medida rejeitada, esta sim, insusceptível
de ser reeditada (ADI 293, RTJ 147/707)
e, assim, de vir a ter convalidados seus
efeitos por outra medida provisória.
Dessa possibilidade de reedição
de medida não votada pelo Congresso é
conseqüência natural - penso eu - a
preservação de eficácia do provimento
com força de lei, sem solução de
continuidade, até que eventualmente se
consume, sem reedição, o seu prazo de
validade ou seja ele rejeitado, desenlaces
que, no caso, não sucederam.”

Em outras oportunidades, tem a Corte


enfrentado a questão relativa às reedições de Medidas Provisórias,
admitindo-as sempre que tenham ocorrido dentro do prazo de trinta
dias previsto no parágrafo único do art. 62.

Tais decisões ocorreram em medidas


cautelares, não tendo sido, ainda, publicados os respectivos
acórdãos.

Mas a matéria é bastante conhecida do


Tribunal.

No caso, o Superior Tribunal de Justiça


partiu do pressuposto de que, não convertidas em Lei as sucessivas
Medidas Provisórias, perderam elas sua eficácia.

Sucede que a última foi baixada, na


mesma data da decisão do Superior Tribunal de Justiça (14.05.1997)
e, ainda dentro do prazo de trinta dias da Medida Provisória anterior.

Tudo conforme demonstrado na inicial.


Está, por conseguinte, satisfeito o
requisito da plausibilidade jurídica da ação (“fumus boni iuris”).

Assim, também, o do “periculum in


mora”, ou da alta conveniência da Administração, pois a interrupção
dos recolhimentos, segundo as alíquotas previstas na Medida
Provisória, e, ainda, a restituição do que havia sido recolhido, a
maior, desde julho de 1994, evidenciam a possibilidade de grave
prejuízo para os cofres já combalidos da Previdência Social, em
detrimento de todos aqueles que não foram contemplados pela
Resolução em questão.

Isto posto, defiro a medida cautelar, para


suspender, “ex tunc”, ou seja, desde 14 de maio de 1997, a
Resolução do Superior Tribunal de Justiça, da mesma data, no
Processo nº 0813/97 (fls. 10/12).
[...]
* acórdão ainda não publicado

Assessores responsáveis pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
Márcio Pereira Pinto Garcia
informativo@stf.gov.br

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