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A CRONOLOGIA DOS FATOS

19 de abril de 2000

14h30min – Paulinho foi internado no Hospital Pedro Sanches com suspeita de


traumatismo craniano, consciente e chamando pela mãe. Recebeu tratamento de
emergência e os ferimentos foram suturados.

15h10min – Paulinho foi encaminhado para uma clínica particular para a realização
de uma tomografia do crânio.

16h00min – Paulinho retornou ao Hospital Pedro Sanches.

17h45min – Paulinho foi encaminhado ao centro cirúrgico tendo sido submetido a


cirurgia de "craniotomia frontal esquerda com drenagem de hematoma
intracerebral e plástica de dura-máter".

20h45min – Paulinho foi encaminhado à UTI.

21h00min – Paulinho recebeu o primeiro medicamento pós operação. Ele foi sedado
com DORMONID e o medicamento foi aplicado durante toda a madrugada.

20 de abril de 2000

06h00min – O prontuário acusou que Paulinho respondia à estímulos dolorosos.

07h00min – A enfermeira acusou que Paulinho não respondia mais a estímulos


dolorosos. O médico JOSÉ LUIS BONFITTO comentou que uma artéria foi
pressionada durante a cirurgia o que levou o estado de saúde de Paulinho à piorar.

09h00min – O neurologista JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA comunicou a morte clínica


de Paulinho. Neste momento solicitamos ao médico que – ao comprovar a morte
encefálica – nos tornaríamos doadores de órgãos.

11h00min – JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA comunicou a confirmação da morte e


acionou a CNCDO MG SUL TRANSPLANTES.

13h00min – O nefrologista ÁLVARO IANHEZ chegou ao HOSPITAL PEDRO SANCHES


e assumiu Paulinho como um potencial doador de órgãos suspendendo todas as
terapias utilizadas na tentativa de salvar a sua vida. Os exames gráficos
comprobatórios exigidos por lei, não haviam sido realizados. Durante toda à tarde
do dia 20/04/2000, ÁLVARO IANHEZ administrou medicamentos visando à
conservação dos órgãos.

14h51min – ÁLVARO IANHEZ entrou em contato com a CNCDO estadual e


comunicou a morte de Paulinho informando inclusive que só restava “confirmar” a
morte com a arteriografia. A CNCDO ESTADUAL MG TRANSPLANTES acionou o
hangar do governo do estado para que uma aeronave levasse uma equipe para
retirar o fígado.
18h35min – O nefrologista ÁLVARO IANHEZ, o anestesista MARCO ALEXANDRE
PACHECO DA FONSECA e enfermeiras iniciaram o protocolo de diagnóstico de
morte encefálica. Paulinho recebeu anestesia geral e o barbitúrico THIONEMBUTAL.
18h50min – ÁLVARO IANHEZ comunicou a CNCDO ESTADUAL que a sorologia seria
realizada às 20h00min.

20h30min – ÁLVARO IANHEZ comunicou a CNCDO ESTADUAL a existência de


contraste e que PAULINHO talvez não suportar. ÁLVARO IANHEZ deixou claro que
PAULINHO não seria doador, fato que levou a plantonista do MG TRANSPLANTES a
dispensar a aeronave que estava aguardando.

20h40min – ÁLVARO IANHEZ verificou a presença de contrastes que comprovam


que PAULINHO estava vivo. Desapontado, ÁLVARO IANHEZ o devolveu à UTI e
informou ao médico JOSÉ LUIS BONFITTO que a doação não seria possível, pois
com a resistência de Paulinho, os órgãos seriam prejudicados. Ele decidiu
abandonar a possibilidade de aproveitamento dos órgãos e deixou o HOSPITAL
PEDRO SANCHES. Durante toda a madrugada, nenhuma anotação no prontuário foi
realizada. Paulinho ficou conectado aos equipamentos de manutenção à vida sem
receber qualquer tipo de tratamento, apenas aguardando o óbito.

21 de abril de 2000

08h00min – ÁLVARO IANHEZ voltou ao HOSPITAL PEDRO SANCHES e comunicou


aos médicos que poderia conseguir a retirada a tempo se PAULINHO fosse
transferido para o HOSPITAL DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA, alegando poder
fazer o exame com “mais segurança”. Os médicos avaliaram o estado de Paulinho e
perceberam que ele ainda está vivo. Resolveram então esperar mais algumas
horas.

10h00min – A enfermeira anotou no prontuário que “a pressão arterial que chegou


a ser inaudível às 10h00min e mantinha-se em 50x20, com freqüência cardíaca de
48 batimentos por minuto, foi anotada com sendo de 60x20 com 46 batimentos e
RASURADA para 120x80 e freqüência cardíaca de 96, às 12h00min (última evolução
antes da remoção)”.

13h00min – ÁLVARO IANHEZ resolveu transferi-lo. Uma UTI móvel foi utilizada para
transportar PAULINHO. Durante o trajeto, acompanhado pelo tio de Paulinho, o
respirador falhou e o procedimento começou a ser realizado manualmente por um
enfermeiro que estava na UTI.

14h30min – PAULINHO ainda estava vivo, e os médicos decidiram esperar mais


algum tempo antes de realizar o segundo diagnóstico. A sedação estava se
dissipando e PAULINHO ainda respondia à estímulos dolorosos.

17h00min – ÁLVARO IANHEZ sabia que a CNCDO ESTADUAL esperava o resultado


dos exames comprobatórios de Morte Encefálica, mas sabia também que
PAULINHO não estava morto. Se fizesse a arteriografia novamente poderia criar a
prova de que PAULINHO não poderia ser doador, como aconteceu no HOSPITAL
PEDRO SANCHES. IANHEZ sabia que a falta do exame poderia gerar
questionamentos por parte da CNCDO ESTADUAL. O nefrologista então reuniu à
equipe para debaterem a situação. Neste momento eles decidiram que não
deveriam esperar mais.

17h30min – O anestesista SÉRGIO POLI GASPAR classificou PAULINHO como


“paciente moribundo com perspectiva de óbito em 24 horas com ou sem cirurgia” e
administrou anestesia geral em PAULINHO utilizando o medicamento ETHRANE
(Anestésico Geral inalatório) devido à reação de Paulinho aos estímulos dolorosos.
Tal fato (uso de anestesia geral) foi anotado pela enfermeira assistente do
anestesista no boletim do centro cirúrgico. Sabendo que PAULINHO estava vivo, o
conjunto de documentos utilizados pelo anestesista no centro cirúrgico previa
inclusive o acompanhamento em SRPA (Serviço de Recuperação Pós Anestésico)
preenchendo o formulário ESCALA DE ALDRETE.

17h40min – 10 minutos depois, a anestesia fez efeito e a cirurgia para a retirada de


órgãos teve início. Neste momento CELSO ROBERTO FRASSON SCAFI anotou na
descrição da cirurgia como sendo o item (1) Paciente em decúbito dorsal sem M.E.
(Sem morte encefálica). CLÁUDIO ROGÉRIO CARNEIRO FERNANDES anotou em
sua descrição de cirurgia, a retirada dos rins em bloco e a perfusão dos mesmos
com a seguinte observação (EXCELENTE PERFUSÃO). A perfusão foi confirmada na
anotação de enfermagem onde a mesma relatou o uso de anestesia geral
inalatória. A enfermeira ainda apontou o uso de 2ml de anestésico Xylocaína
durante a retirada de órgãos.

19h00min – Os médicos anotaram este horário como sendo o horário do óbito.

19h00min – A CNCDO Estadual anotou em seu livro de registro a tentativa de


localizar ÁLVARO IANHEZ, assim registrado: “21/04/2000 - Plantão Noturno
19h00min às 07h00min. (...) Provável doador de múltiplos órgãos em Poços de
Caldas Apesar dos contatos telefônicos (2), não obtive resposta sobre o doador.
Sem mais ligações”.

19h30min – Encerrou-se a cirurgia.

20h30min – Consta no livro de registros da CNCDO Estadual o seguinte texto: “Dr.


Álvaro ligou às 08:30 informando que retirou os rins e as córneas que não deu p/
esperar pois o P.D. estava chocando. Dia 23 encaminhará o relatório”.

22 de abril de 2000

08h00min - Paulinho foi sepultado.


AS PROVAS DO HOMICIDIO

Tomografia – Laudos E Chapas

Aqui demonstro que as afirmações dos médicos envolvidos, de que o


estado de saúde de Paulinho era GRAVE, é completamente FALSA e tem o
propósito de justificar a sua “inevitável” morte.

A auditoria realizada pelo Ministério da Saúde sob o n° 33/00, revela o


desaparecimento de diversos documentos do prontuário. Entre estes, o importante
laudo da tomografia realizada em Paulinho.

A auditoria afirma que:

“Os prontuários são precários, com dados insuficientes e mesmo com


ausência de dados indispensáveis, como registro das avaliações médicas
(evolução médica), descrição de cirurgia, resultados de exames e outros. Há
incoerência de dados, inclusive entre os registros dos profissionais. No caso
de PAULO VERONESI PAVESI, a análise foi realizada tendo como base as
anotações da enfermagem, tal a precariedade dos registros médicos.”

“Não consta a ficha de atendimento de urgência na documentação


apresentada pela instituição”.

“Não há preenchimento da ficha médica de admissão hospitalar”.

“Não foram localizadas as radiografias e a tomografia ou mesmo os laudos


nos serviços consultados - Santa Casa, Casa de Saúde Pedro Sanches e
Central de Captação -, um atribuindo ao outro a retirada”.

“Segundo anotações da enfermagem no prontuário, o paciente retornou às


16h00minh, evoluindo com MIDRÍASE UNILATERAL ESQUERDA
(RASURADO), apresentando vômitos e atendendo a comandos verbais”.

“Não há descrição da cirurgia”.

“Não há informação escrita de quem teria feito a comunicação, obrigatória


por lei, e nada foi anotado na evolução médica pela coordenação da central.
No relatório dirigido ao Sistema Nacional de Transplantes e datado de 16 de
novembro de 2000, o Dr. Álvaro informa que o pedido foi feito pela própria
família. Segundo informação da enfermaria que o havia notificado, após
apresentação do caso pelo médico da UTI, o pai da criança recebeu as
explicações a respeito dos procedimentos para o diagnóstico de morte
encefálica”.

“foi anotada como sendo de 60x20 com 46 batimentos e RASURADA para


120x80 e freqüência cardíaca de 96, às 12:00h (última evolução antes da
remoção)”.
Percebe-se que as imagens da tomografia bem como o laudo da mesma,
desapareceram, certamente ocultando informações valiosas sobre o estado de
saúde de PAULO VERONESI PAVESI. A auditoria aponta a retirada de documentos
do prontuário.

“No caso de Paulo Veronesi Pavesi não regularizou de imediato a internação


do paciente, e não colheu a assinatura do responsável nos documentos da
internação. Houve retirada de documentos do prontuário.”

O médico neurologista JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA afirma ter acompanhado o


exame e ter avaliado as imagens da tomografia no HOSPITAL PEDRO SANCHES,
quando determinou a necessidade de uma cirurgia de urgência para retirada de
coágulo.

O médico CRISTIANO JOSÉ REHDER, responsável pela clínica de diagnóstico por


imagens, foi inquirido pela Polícia Federal de Varginha inexplicavelmente 2 anos
após da morte do garoto, em 20/03/2002. Após a realização da tomografia de
PAULINHO, um envelope lacrado foi entregue à família que em troca emitiu um
cheque no valor de R$ 320,00. Este exame foi entregue ao Neurologista JOSÉ LUIZ
GOMES DA SILVA, e foi a última vez que o exame foi visto. Neste depoimento,
REHDER apresentou um novo laudo uma vez que o verdadeiro encontra-se
desaparecido até hoje. Neste novo laudo há uma curiosidade. REHDER afirma que:

“Neste ato apresenta laudo da tomografia realizada em PAULO PAVESI,


elaborado ontem, cujo conteúdo é igual ao fornecido ao familiar do paciente,
contudo, não conseguiu obter na memória do computador o laudo original”.

O médico CRISTIANO JOSÉ REHDER não mostrou qualquer constrangimento ao


apresentar um laudo confeccionado 2 anos após a morte de PAULINHO, cujos
dados foram extraídos de sua memória, já que o sistema informatizado de registros
de exames e laudos de sua clínica, curiosamente também desapareceu. Não é difícil
entender que REHDER tenha tamanha tranqüilidade por vários motivos:

1. O resultado entregue á família estava lacrado, fato que impossibilitou que


conhecêssemos o conteúdo e a quantidade de imagens do mesmo. Desta
forma, não podemos contestar o que o médico apresenta como sendo “igual
ao original”, sendo que nem ele mesmo pode provar tal afirmação. Além
disso, é fato que os exames foram retirados do prontuário propositalmente.

2. Como se não bastasse, verificamos em seu depoimento que o livro de


registro de Raios-X apreendido no Hospital Pedro Sanches, onde consta em
suas fls. 43, sob o n°. 15217 o registro do exame, também foram
adulteradas com o “Liquid Paper” (corretivo). REHDER responde que
perguntou sobre o fato aos seus funcionários que disseram ser ali um erro
de preenchimento.

3. Mesmo com tanta informação perdida, REHDER apresenta algumas cópias de


documentos autenticadas. São elas:
i. Cópia do cheque que os familiares usarem para pagar o exame;
ii. Cópia do depósito na conta corrente da clínica; e
iii. Cópia autenticada da página 7 do livro de registro da tomografia,
onde consta a assinatura do recebedor da tomografia realizada,
acreditando que se tratava dos avós da criança.

REHDER afirma neste novo laudo, que o exame mostrou “um grande hematoma
intracraniano” o que seria uma situação grave. Porém, documentos constantes no
inquérito n°. 39/01 DPFB/VAG/MG mostram o contrário. Segundo o documento
IDENTIFICAÇÃO E DADOS DO DOADOR, Paulinho foi internado em GLASGOW 10.
Glasgow é uma escala utilizada pelos neurologistas para facilitar a identificação do
estado clínico do paciente.

Escala de Glasgow

As colunas 1, 2 e 3 são avaliadas e somadas. O índice resultado pode variar de 3 a


15 conforme a escala apresentada abaixo:
Verificando as anotações no prontuário, encontramos a classificação feita para o
estado do PAULINHO:

Outra prova está na ficha de anestesia para a cirurgia realizada com base na
tomografia. O anestesista MARCO PACHECO, avaliou PAULINHO de acordo com a
tabela da Associação Americana de Anestesiologia (Tabela ASA), que é utilizada no
BRASIL e em quase todos os países.

A tabela ASA possui a seguinte classificação:


Mais uma vez observando o prontuário abaixo, podemos observar que Paulinho foi
classificado em ASA II. Esta classificação dá a PAULINHO a condição de paciente
com “doença sistêmica leve sem limitação funcional”, muito distante da situação
grave afirmada por REHDER.

É preciso considerar inclusive o depoimento de EDSON DONIZETTI DE MOURA,


auxiliar de enfermagem que acompanhou PAULINHO na tomografia, e que relatou à
Polícia Federal que:

“PAULO PAVESI permaneceu na UTI, e em seguida foi submetido a uma


tomografia, possivelmente no CDI da clínica MÁRIO MOURÃO, retornando
uma hora depois, ainda continuava respondendo aos comandos verbais,
permanecendo então na UTI, por mais uma hora e meia ou duas,
quando foi encaminhado para o Centro Cirúrgico”.

Percebe-se que Paulinho, diante de um suposto estade de saúde “GRAVE” onde


medidas deveriam ser tomadas com urgência, foi abandonado por mais “uma hora
e meia ou duas”. Obviamente que se PAULINHO respondia a comando verbais, ele
estava consciente, e lúcido. Pacientes em estado grave poderiam sobreviver a este
abandono?
Verificando os jornais e periódicos da cidade de Poços de Caldas, onde o fato
ocorreu, podemos entender que a ética e os bons costumes não faz parte da rotina
da família REHDER. Aliás, parece todos serem especialistas na manipulação de
documentos.

Em 21/04/2002 portanto 30 dias após o depoimento do médico CRISTIANO JOSÉ


REHDER à Polícia Federal, seu filho GUILHERME AUGUSTO CORREA REHDER foi
preso em flagrante no interior de uma agência do INSS em Poços de Caldas.

Segundo a matéria publicada em 21/04/2002 pelo JORNAL DA MANTIQUEIRA:

“a gerência executiva do INSS em Poços de Caldas acionou, na quarta-feira,


a Polícia Federal para investigar uma ação ilegal que caracterizou crime
federal dentro da agência de atendimento. A ação foi detectada por uma
servidora que circulava no local, onde um grupo de pessoas estava sendo
instruído por um intermediário que requeria benefício rural para seus
clientes.

O delegado da Polícia Federal, SEBASTIÃO PUJOL, se deslocou de Varginha


para Poços de Caldas e deu abertura a um inquérito policial, que resultou na
prisão em flagrante do intermediário GUILHERME AUGUSTO CORREA
REHDER, detentor da procuração. Em entrevista que durou cerca de 8 horas,
o delegado colheu o depoimento das pessoas envolvidas e concluiu que há
indícios de falsificação documental, uma vez que a assinatura dos
interessados no documento é posterior à data em que foi elaborado.

O processo de requerimento de aposentadoria rural depende, entre outras


provas, de entrevista com pessoas que possam testemunhar e comprovar
que o trabalhador realmente exerce a atividade rural. Além disso, o contrato
de parceria, que é realizado entre proprietário de terra e o trabalhador, é
outra peça que pode ser utilizada como prova. Porém, no caso específico
deste contrato, as testemunhas confessaram ao delegado SEBASTIÃO PUJOL
que o documento, datado de janeiro de 1991, foi por eles assinado há
apenas alguns dias.

O processo instaurado pela Polícia Federal será agora encaminhado à Justiça


Federal, em Belo Horizonte, onde haverá o julgamento da ação penal, cuja
pena poderá chegar a até 5 anos de reclusão”.
Muito importante é ressaltar a legislação vigente sobre o tema descrito até este
ponto.

A Resolução do CFM nº. 1.363/93 que regulamenta a prática de


anestesia determina que:

Art. 1º - Determinar aos médicos que praticam anestesia que:

I. Antes da realização de qualquer anestesia é indispensável


conhecer, com a devida antecedência, as condições clínicas do
paciente a ser submetido à mesma, cabendo ao anestesista
decidir da conveniência ou não da prática do ato anestésico, de
modo soberano e intransferível;

Ao mesmo tempo, a Resolução do CFM nº. 1.342/91 preceitua que


qualquer organização hospitalar ou de assistência médica, pública ou
privada, obrigatoriamente tem que funcionar com um Diretor Técnico,
habilitado para o exercício da medicina, como principal responsável pelos
atos médicos ali realizados;

E nesta direção, o art. 11º da Resolução CFM Nº. 997/80 estabelece que
o Diretor Técnico, principal responsável pelo funcionamento dos
Estabelecimentos de Saúde, terá obrigatoriamente sob sua responsabilidade
a supervisão e coordenação de todos os serviços técnicos do
estabelecimento, que a ele ficam subordinados hierarquicamente; Portanto,
ao Diretor Técnico compete à supervisão da prática médica realizada na
instituição.

A Lei de Transplantes 9.434/97 determina que:

Capítulo II - DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, ÓRGÃOS E


PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE

Art. 3° (...)

§ 1° Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos


exames referentes aos diagnósticos de morte encefálica e cópias dos
documentos de que tratam os arts. 2°, parágrafo único; 4° e seus
parágrafos; 5°; 7°; 9°, §§ 2°, 4°, 6° e 8°; e 10, quando couber, e
detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos,
serão mantidos nos arquivos das instituições referidas no art. 2° por
um período mínimo de cinco anos.

Também o decreto 2.268/97 determina:

Capítulo V - DO TRANSPLANTE OU ENXERTO - Seção III

Art. 25º Além das informações usuais e sem prejuízo do disposto no


§1º do art. 3º da Lei nº 9.434, 1997, os prontuários conterão:
1. no do doador morto, os laudos dos exames utilizados para a
comprovação de morte encefálica e para a verificação da
viabilidade da utilização, nas finalidade previstas neste Decreto,
dos tecidos, órgãos ou partes que lhe tenham sido retirados e,
assim, relacionados, bem como o original ou cópia autenticada
dos documentos utilizados para a sua identificação;

2. (...)

3. no do receptor, a prova de seu consentimento, na forma do


art. 22, cópia dos laudos dos exames previsto nos incisos
anteriores, conforme o caso e, bem assim, os realizados para o
estabelecimento da compatibilidade entre seu organismo e o
do doador.

Art. 26. Os prontuários, com os dados especificados no artigo anterior,


serão mantidos pelo prazo de cinco anos nas instituições onde foram
realizados os procedimentos que registram.

Parágrafo único. Vencido o prazo previsto neste artigo, os


prontuários poderão ser confiados à responsabilidade da
CNCDO do Estado de sede da instituição responsável pelo
procedimento a que se refiram, devendo, de qualquer modo,
permanecer disponíveis pelo prazo de 20 anos, para
eventual investigação criminal.

É certo que a dúvida deve beneficiar o acusado, mas não quando o acusado
subtrai provas do processo de investigação a fim de ocultar evidências de
crimes.

Nesta linha de raciocínio, o art. 305 do código penal brasileiro cita:

Art 305º- Destruir, suprimir ou ocultar em benefício próprio ou de


outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular
verdadeiro de que não podia dispor:

PENA - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa, se o


documento é público, e reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e
multa, se o documento é particular.

Mas percebe-se que ninguém foi responsabilizado por tais atos. Vale lembrar
que a chapa da tomografia (principal elemento do exame) consta
desaparecido até hoje, mais de 18 anos após o assassinato.
1º. Diagnostico de Morte Encefálica

Aqui demonstro que Paulinho JAMAIS poderia ter sido submetido ao


diagnostico de morte encefálica, cujos resultados foram responsáveis por
danos irreparáveis em sua condição de saúde, até porque todos os meios
terapêuticos necessários foram suspensos, em busca da “validação” da
morte, contra as determinações da própria resolução pertinente ao
assunto.

Segundo a Resolução 1.480/97 do CFM que regulamenta o protocolo para o


diagnóstico de morte encefálica:

Art. 1º. A morte encefálica será caracterizada através da realização de


exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo
variáveis, próprios para determinadas faixas etárias.

Art. 2º. Os dados clínicos e complementares observados quando da


caracterização da morte encefálica deverão ser registrados no termo
de declaração de morte encefálica anexo a esta Resolução.

(...)

Art. 6º. Os exames complementares a serem observados para


constatação de morte encefálica deverão demonstrar de forma
inequívoca:

• ausência de atividade elétrica cerebral ou,


• ausência de atividade metabólica cerebral ou,
• ausência de perfusão sangüínea cerebral.
(...)

Art. 9º. Constatada e documentada a morte encefálica, deverá o


Diretor-Clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado,
comunicar tal fato aos responsáveis legais do paciente, se houver, e à
Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos a que
estiver vinculada a unidade hospitalar onde o mesmo se encontrava
internado.

A. Causas do coma que devem ser excluídas durante o exame

a) Hipotermia
( )Sim ( ) Não

b) Uso de drogas depressoras do sistema nervoso central


( )Sim ( )Não

Se a resposta for sim a qualquer um dos itens, interrompe-se


o protocolo.
Após a cirurgia realizada no dia 19/04/2000, PAULINHO foi encaminhado
para a UTI onde passou a receber o medicamento DORMONID. O
medicamento DORMONID (MIDAZOLAM) é bastante utilizado em clínicas e
hospitais. Trata-se de um medicamento sedativo, benzodiazepínico depressor
do sistema nervoso central.

PAULINHO recebeu o total de 24mg iniciando sua aplicação às 21h30min do


dia 19/04 e terminando por volta das 05h00min da manhã do dia 20/04,
conforme trecho do documento abaixo:

Para a tomografia, PAULINHO já havia recebido 3mg de DORMONID.

Para a cirurgia de retirada de um coágulo, uma dose de 200mg do


barbitúrico THIONEMBUTAL.
De acordo com a Resolução 1.480/97, o protocolo de Diagnóstico de Morte
Encefálica deveria ser interrompido, ou sequer realizado. PAULINHO
encontrava-se massivamente sedado, sem quaisquer condições de responder
a qualquer estímulo na manhã do dia 20/04.

O DR. LUÍZ ALCÍDES MANREZA, professor da USP, diretor


do serviço de neurologia de emergência do Hospital das
Clínicas de São Paulo e membro das câmaras técnicas de
morte encefálica do CFM e do Conselho Regional de
Medicina disse em uma entrevista sobre o caso Paulinho à
Revista CartaCapital edição Nº. 188 de 08 de maio de 2002
que:

"O protocolo não estabelece um período mínimo entre a administração


de drogas como o DORMONID e a realização dos exames, portanto, se
aplicado com rigor, sim veta o diagnóstico de morte encefálica no caso
de pacientes que tenham sido medicados com elas."

MANREZA nada mais é que o relator da Resolução 1.480/97 que


regulamenta o diagnóstico. Para concluir a entrevista MANREZA ainda
afirmou:

"Não conheço nenhum protocolo de morte encefálica no mundo que


exija um período inferior a 24 horas entre a administração de drogas
depressoras do sistema nervoso central e os procedimentos para
diagnóstico de morte encefálica"

Na mesma reportagem publicada em 08/03/2002 edição nº. 188, o chefe da


UTI do Hospital de Clínicas de Niterói, Paulo César Pereira de Souza,
concorda com MANREZA.

"Eu nem pensaria em iniciar o protocolo de morte encefálica antes de


24 horas após a suspensão de aplicação de qualquer droga depressora
do sistema nervoso central, incluindo o DORMONID”.

Mesmo com todo o impedimento legal, no dia 20/04/2000 o médico


neurologista JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA, comunicou por volta das
09h00min a suspeita de morte clínica de PAULO VERONESI PAVESI.
Mediante a esta informação decidimos doar os órgãos, desde que a
“suspeita” morte fosse devidamente comprovada.

Duas horas depois o neurologista convocou a família e comunicou a


comprovação da morte encefálica clínica e em seguida acionou a Central de
Transplantes MG SUL TRANSPLANTES.

No entanto, a Auditoria do Ministério da Saúde de nº. 33/00 destacou que:


“OBSERVAÇÃO: Neste momento não havia sido realizado qualquer
exame clínico que atestasse a morte encefálica do doador. Não há, no
prontuário, qualquer anotação de comunicação médica do fato.”

Para que uma central seja aciona para fins de captação, a Resolução
1.480/97 determina que:

Resolução 1.480/97

Art. 9º. Constatada e documentada a morte encefálica, deverá o


Diretor-Clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado,
comunicar tal fato aos responsáveis legais do paciente, se houver, e à
Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos a que
estiver vinculada a unidade hospitalar onde o mesmo se encontrava
internado.

Em depoimento em 05/04/2001 à Polícia Federal JOSÉ LUIZ GOMES DA


SILVA, confirma tal informação dizendo que:

“(...) desconhece quem fez a comunicação oficial à Central; QUE até


aquele momento havia suspeita de morte clínica, mas não havia sido
realizado o exame clínico”.

No mesmo depoimento, logo em seguida, JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA


afirma que:

“(...) até que as 13h30min o declarante realizou o exame clínico do


paciente que encontra-se acostado às fls. 146, ficando constatado a
morte clínica.”

Estranhamente verifica-se que o exame clínico teve início às 13h30min, e já


possuía um resultado às 13h00min conforme a imagem do documento a
seguir:

Outras declarações de JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA constantes no inquérito


explicam o motivo:

“QUE sob o ponto de vista legal não houve morte encefálica de PAULO
no HOSPITAL PEDRO SANCHES, mas de fato, na prática o paciente já
estava morto”.

É este o motivo pelo qual o segundo exame não foi anotado e sequer
realizado.

Segundo o médico, o exame clínico constatou a morte de PAULO PAVESI. O


documento oficial exibido na imagem anterior é onde foi registrado o fato. O
exame clínico foi assinado por JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA e JOSÉ LUIS
BONFITTO.

Independentemente da anotação do horário do 1º. exame ser incompatível


com a realização do mesmo, o neurologista JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA
afirma ter executado o 2º. exame clínico às 18h00min, alguns minutos antes
do exame de arteriografia. O resultado do 2º. exame como podemos
observar na imagem anterior, sequer foi preenchido.

Embora nenhum documento do prontuário cite o nome do médico JOSÉ


OSVALDO DARCIE como participante dos diagnósticos, no dia 20/03/2002
em um depoimento dado à Polícia Federal, ele afirma ter acompanhado o 2º.
exame clínico. OSVALDO disse à Polícia Federal que:

“chegou a acompanhar o exame clínico no paciente, antes de


submetê-lo à arteriografia e pode assegurar que o paciente estava em
morte clínica eis que não respondia a estímulos neurológicos,
dolorosos, estava com as pupilas dilatadas sem responder à estímulo
algum.”

Não é difícil acreditar que Paulinho não respondesse a qualquer estímulo,


uma vez que estava excessivamente sedado. No segundo depoimento
fornecido à Polícia Federal em 21/03/2002, o Neurologista JOSÉ LUIZ GOMES
DA SILVA afirma que:

“não sabia que PAULO PAVESI fora medicado com DORMONID, sendo
apresentado ao inquirido, neste ato, a prescrição de fls. 88, do DR.
BONFITTO, a quem está afeto ao procedimento, segundo alega, mas
assegura que a prescrição contém quantidade excessiva”.

Todo médico que conhece o protocolo de diagnóstico de morte encefálica,


sabe que é fundamental verificar no prontuário se o paciente foi sedado.
Aliás, isto é o que determina a resolução e o prontuário existe para atender
estas necessidades.

Ignorando as cláusulas de exclusão para pacientes sedados, os médicos


prosseguiram na tentativa de comprovar a morte. Foi então que decidiram
realizar a arteriografia cerebral. A arteriografia é um exame que a partir da
injeção de contraste nas artérias, são feitas radiografias do crânio para a
verificação da progressão deste contraste. Se o contraste aparecer nas
chapas radiológicas, é sinal que o paciente ainda possui circulação de sangue
no cérebro e, portanto está vivo.

A partir deste momento, todo e qualquer procedimento é criminoso, uma vez


que estamos diante da tentativa de se comprovar a morte de uma pessoa
viva. Tal fato é comprovado com a informação fornecida pelo anestesista que
participou deste exame.

MARCO ALEXANDRE PACHECO DA FONSECA, em seu depoimento prestado


em 20/03/2002, disse à Polícia Federal que:

“o paciente estava entubado, com respiração artificial, inconsciente, e


para evitar que se mexesse, foi-lhe aplicado hipnóticos, ou seja, 4 ml
do medicamento THIONEMBUTAL e 3 ou 4 ml de EFEDRINA”

É inconcebível aceitar o fato de que médicos acreditavam na morte clínica de


um paciente que precisou ser sedado com barbitúrico (droga proibida para a
execução deste diagnóstico), justamente para que PAULINHO não se
mexesse!

Não há na história do mundo, pacientes com morte encefálica que reagissem


à estímulos dolorosos. Além disso, MARCO ALEXANDRE classificou PAULINHO
para anestesia neste procedimento como um paciente em estado físico
equivalente à ASA 5.

Relembrando a tabela ASA:


A classificação ASA V é utilizada por anestesistas para “pacientes
moribundos com perspectiva de óbito em 24 horas, com ou sem
cirurgia”, obviamente portanto: VIVO.

Ao ser questionado se conhecia o protocolo de diagnóstico de morte


encefálica, o anestesista respondeu que:

“não conhece o teor da resolução 1.480/97 do CFM que versa sobre o


diagnóstico de morte encefálica e cuidou apenas dos assuntos
referentes à anestesia”.

Podemos concluir que PAULINHO estava sob efeito da massiva sedação


realizada durante toda a madrugada, sendo submetido antes do exame ao
barbitúrico THIONEMBUTAL, que na prática jamais poderia ser utilizado.
Certamente o estado de saúde de PAULINHO teve um agravamento
substancial com tal procedimento.

Ficou constatado também que na realização deste exame, a artéria carotídea


foi bastante danificada, causando variações na pressão sanguínea de
PAULINHO.

Sobre este fato, o neurologista JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA relatou que:

“o exame foi demorado, devido à dificuldade de punção da artéria,


sendo necessário uma incisão para a introdução do cateter, o que
provocou inchaço na região cervical da criança (pescoço)”

O resultado do exame de arteriografia, não poderia ser outro senão a


constatação de que PAULINHO estava vivo. Este fato é narrado por todos os
médicos embora as chapas radiológicas também tenham desaparecido.

Segundo a auditoria do Ministério da Saúde sob o nº. 33/00 as seguintes


irregularidades foram encontradas:

“Os documentos e prontuários são insuficientemente preenchidos, com


freqüente ausência de assinatura e dados e presença de rasuras. No caso de
PAULO PAVESI, conforme se constata no atestado de óbito, não há registro
da segunda avaliação clínica, faltando clareza quanto ao diagnóstico clínico
de morte encefálica.”

“Nada consta do resultado (ou laudo) da arteriografia ou mesmo das


condutas adotadas”.

“O doador foi encaminhado para exame complementar e invasivo de


diagnóstico de morte encefálica às 18h35min (anotação de enfermagem) ou
18h30min (ficha de anestesia), contrariando o intervalo mínimo de 6 horas
entre os dois exames clínicos de morte encefálica, disposto no artigo 5o da
resolução 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina”.
“Não foram localizadas as radiografias e a tomografia ou mesmo os laudos
nos serviços consultados - Santa Casa, Casa de Saúde Pedro Sanches e
Central de Captação -, um atribuindo ao outro a retirada”.

O processo de constatação de morte encefálica de PAULINHO, que precisou


receber dose de THIONEMBUTAL para não se mexer durante o exame,
torna-se completamente inaceitável quando outro artigo da Lei de
Transplantes é desrespeitado.

Trata-se da participação do Coordenador da Central de Transplantes MG SUL


TRANSPLANTES, o nefrologista ÁLVARO IANHEZ. Antes de acionar a central
de transplantes o HOSPITAL PEDRO SANCHES deveria ter confirmado a
morte clínica e gráfica (arteriografia) do PAULINHO. Além disso, seria
necessário que o médico neurologista JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA assinasse
a “ALTA MÉDICA” para que IANHEZ pudesse assumir o controle.

IANHEZ por sua vez, coordenava a Central de Transplantes MG SUL


TRANSPLANTES, ao mesmo tempo em que era chefe da equipe de
transplantes do HOSPITAL DA SANTA CASA. Segundo a legislação vigente, é
considerado crime a participação do médico membro da equipe de
transplantes no diagnóstico de morte encefálica, uma vez que há um grande
conflito de interesses nesta possibilidade. O médico de transplante é o maior
interessado na comprovação da morte encefálica, pois precisa dos órgãos
para atender seus pacientes. Neste caso, IANHEZ atenderia a sua própria
central de transplantes.

Segundo a Lei de Transplantes 9.434/97


Capítulo IV - DA RETIRADA DE PARTES - Seção I- Da Comprovação da Morte

Art. 16. A retirada de tecidos, órgãos e partes poderá ser efetuada no


corpo
de pessoas com morte encefálica.

§1º O diagnóstico de morte encefálica será confirmado, segundo os


critérios clínicos e tecnológicos definidos em resolução do Conselho
Federal de Medicina, por dois médicos, no mínimo, um dos quais com
título de especialista em neurologia, reconhecido no País.

(...)

§3º Não podem participar do processo de verificação de morte


encefálica médicos integrantes das equipes especializadas autorizadas,
na forma deste Decreto, a proceder à retirada, transplante ou enxerto
de tecidos, órgãos e partes.

Segundo a Auditoria do Ministério da Saúde de nº. 33/00, foi apurado que:


A Equipe que atua na Santa Casa de Misericórdia em remoção e transplantes
de órgãos, partes ou tecidos está autorizada com cadastro no SNT
1.01.99.MG.01, conforme PT/SAS/MS. No 357 de 21 de julho de 1999 e está
assim constituída:

ÁLVARO IANHEZ, Nefrologista, CRM/MG 12902-S (Responsável Técnico)


CELSO R. FRASSON SCAFI, Urologista, CRM/MG 27848 (membro)
CLÁUDIO R. FERNANDEZ, Urologista, CRM/MG 21440-S (membro)
SAULO ZENUN, Urologista, CRM/MG 4980 (membro)
MIRTES RODRIGUÊS BERTOZZI, Nefrologista, CRM/MG 17720 (membro)
JOÃO A. GOES BRANDÃO, Nefrologista, CRM/MG 25137 (membro)
SÉRGIO VISONI VARGAS, Urologista, CRM/MG 12589 (membro)
EDUARDO SILVA, Urologista, CRM/MG 29769 (membro)

Pode-se verificar na relação apresentada que o Dr. ÁLVARO IANHEZ é o


responsável formal pela equipe.

É também nesta linha o Código de Ética Médica, que em seu Capítulo VI


sobre Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos, determina:

É vedado ao médico:

Art. 72 - Participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão


de suspensão dos meios artificiais de prolongamento da vida de
possível doador, quando pertencente à equipe de transplante.

ÁLVARO IANHEZ foi responsável por suspender todo e qualquer tratamento


necessário à PAULINHO para a sua recuperação, quando passou a tratá-lo
como doador. As interferências, às vezes até mesmo por telefone, foram
registradas por enfermeiras do HOSPITAL PEDRO SANCHES:

Em outro momento, a enfermeira anotou:


Também às 17h00min:

Também às 18h05min:

E por último a constatação da participação de ÁLVARO IANHEZ no


diagnóstico de Morte Encefálica de PAULINHO:

IANHEZ nega até hoje a sua participação. Os médicos que disseram


conhecer o protocolo de diagnóstico de morte encefálica, confirmaram a
presença de ÁLVARO, mas sempre o citaram como se estivesse do lado de
fora da sala onde o exame era realizado. No entanto, os médicos que
desconheciam a lei, confirmaram a presença física do médico.

Depoimento de MARCO ALEXANDRE PACHECO:

“acompanharam o exame o DR. JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA, DR.


ÁLVARO IANHEZ”.

“O DR. ÁLVARO acompanhou a arteriografia, no interior da sala de


raio x, assistindo a todos os atos”.

Depoimento de JOSÉ OSVALDO DARCIE:

“o DR. JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA gerenciou a arteriografia que


contava com o acompanhamento, além do depoente, do anestesista
MARCO ALEXANDRE PACHECO, sendo que o DR. ÁLVARO analisou as
chapas extraídas (...)”

Para infelicidade das falsas testemunhas, em certo momento, o HOSPITAL


PEDRO SANCHES foi obrigado pelo Ministério da Saúde a publicar uma nota
no Jornal explicando os fatos ocorridos naqueles dias, desculpando-se pelos
equívocos relacionados a extorsiva conta do HOSPITAL.

A nota de esclarecimento publicada pelo HOSPITAL estava longe de um


pedido de desculpas. Ao contrário, afirmou que tudo não passava de um
grande golpe. A nota foi publicada em 26 de novembro de 2000, no JORNAL
DA MANTIQUEIRA:
Não foi só o diagnóstico de Morte Encefálica que estava em desacordo com a
lei. A auditoria do Ministério da Saúde revelou que a Central de Transplantes
de Poços de Caldas nunca existiu no papel.

Auditoria do Ministério da Saúde No. 33/2000

III.6 - Quanto à CNCDO Regional para o Sul de Minas “O DR. ÁLVARO


IANHEZ apresenta-se como responsável pela Coordenação Regional de
Transplantes - MG SUL Transplantes, localizada à Rua Francisco Escobar, nº.
201, 3º andar - sala PRÓ-RIM, Poços de Caldas/MG”.

“Não apresentou à equipe documentos comprobatórios da autorização


da SES/MG para o funcionamento da central, funcionando sem
autorização formal e sem os devidos credenciamentos junto à
Coordenação Estadual de Transplantes e junto ao Sistema Nacional de
Transplantes – Nível Central - (SAS/MS), contrariando o estabelecido
na PT/SAS/MS 294/99 quanto ao cadastramento”.

“Não houve, segundo Dr. ÁLVARO, a captação do CNCDO Regional


pela Coordenação Estadual de Transplante - contrariando a
PT/SAS/MS 294/99. Segundo relatório apresentado pelo DR. ÁLVARO,
em anexo, foram realizadas pela "CNCDO" regional, captações e
transplantes, desde 1991”.

“Segundo as informações de DR. ÁLVARO IANHEZ, a CNCDO de Poços


de Caldas é responsável pela cobertura assistencial de 2,7 milhões de
habitantes, em captação e transplantes de órgãos”.

“Utiliza formulários e impressos com timbre da SES/MG. Nota-se que


os impressos utilizados, as rotinas estabelecidas e os critérios
adotados para a formalização dos processos inerentes às atividades
tiveram origem no nível local”.

“DR. ÁLVARO IANHEZ, não tem vínculo empregatício com a SES/MG, é


o responsável técnico pela equipe que realiza retirada de órgãos e
também pela equipe cirúrgica que realiza transplantes – cadastrada
junto a SAS/MS”.

“Os documentos referentes à morte encefálica são arquivados fora do


prontuário dos pacientes doadores contrariando a RES/CFM/1480/97”.

“Não foi possível identificar quem foi formalmente, o notificante do


provável doador à CNCDO Regional no caso da denúncia referente ao
doador PAULO VERONESI PAVESI, contrariando o disposto na
RES/CFM/1480/97 art. 9º ”.

“Ainda segundo Dr. ÁLVARO, a CNCDO Regional alimenta o Banco de


Dados Nacional através da Coordenação Estadual de Transplante”.
“Não apresentou cópia do termo formal de cooperação
intermunicipal/estadual apesar de fornecer partes ou tecidos para
Unidades localizadas em outros municípios/estados, conforme foi
verificado pela equipe na avaliação dos prontuários”.

“Não observou a sistemática obrigatória de comunicação e


encaminhamento dos órgãos excedentes (no caso córneas) para
Central de Minas Gerais, tendo as enviado para a entidade
PARTICULAR (Instituto Penido Burnier) em Campinas (SP), no caso de
PAULO VERONESI PAVESI”.

“O aluguel da área física onde funciona a ‘CNCDO’ é mantida pela


Santa Casa”.

“Os documentos confirmam a ilegalidade da ‘CNCDO’ de Poços de


Caldas”.

Ainda no dia 20/04/2000 às 14h51min, logo após entrar no HOSPITAL


PEDRO SANCHES e assumir o PAULINHO como sendo um doador de órgãos,
sem existir qualquer comprovação da morte encefálica da criança, o DR.
ÁLVARO IANHEZ aciona a central estadual de transplantes, a MG
TRANSPLANTES situada em BELO HORIZONTE.

A imagem acima é cópia do livro de registro de ocorrências do MG


TRANSPLANTES onde foi anotado:

Comunicado as 14:51 hrs pelo Dr. ÁLVARO IANHEZ provável doação


de m.o. Paulo Veronesi Pavesi, 10 anos, A+, TCE por queda de altura.
1o teste de apnéia OK, 2o teste - arteriografia serão realizados às
18:00 hrs. Sorologia foi colhida e ficam pronta em torno das 18:00h.
Família favorável a doação, e aguardando o fechamento do
diagnóstico p/ assinar o termo. Comunicado com o hangar do governo
(250-2929/2990 Cabo Braga) para liberação da aeronave p/
transportar equipe de retirada de fígado. Estão de sobreaviso, faltando
confirmar horário de saída e equipe após confirmação do diagnóstico,
assinatura do termo de doação e sorologia em Poços de Caldas.

ÁLVARO IANHEZ teria se comprometido em fornecer o fígado de PAULINHO


para a central estadual, mas não há qualquer comunicação para onde seriam
enviados os outros órgãos. A Central Estadual é responsável por manter as
listas estaduais e fazer a captação de órgãos para atender estas listas.

No entanto IANHEZ já sabia do destino dos órgãos. Em sua central de


transplantes ilegal, o médico controlava listas particulares de pessoas que
eram atendidas pelo seu consultório privado. No mesmo andar da clínica
particular do médico funcionava a Central de transplantes e a Associação de
Renais Crônicos de Poços de Caldas.

Na Associação dos Renais Crônicos, ÁLVARO IANHEZ gerenciava a lista de


espera de pacientes associados. Eram solicitadas doações em dinheiro para
os candidatos a um transplante renal. IANHEZ montava a lista de acordo
com as doações individuais de cada um.

Ao mesmo tempo IANHEZ atendia estes pacientes em sua clínica particular


chamada NEPHROS. O paciente era obrigado a tratar-se naquela clínica caso
desejasse participar da lista de transplante.

Todos os rins doados na região ficavam com IANHEZ, uma vez que ele se
autodenominava coordenador de uma Central que estranhamente o
MINISTÈRIO DA SAÚDE não reconhecia, mas que efetuava religiosamente os
pagamentos das captações.

Para arrematar a fatura, IANHEZ era o chefe de transplantes da equipe de


transplantes da Santa Casa. Era a equipe de IANHEZ que fazia os implantes
de rins na cidade. Uma estrutura construída com o auxílio do ex-deputado
federal CARLOS EDUARDO VENTURELLI MOSCONI, aliás o primeiro
transplantista da região.

No caso Paulinho, IANHEZ faz novo contato com a CENTRAL ESTADUAL.


Às 18:50, Dr. Álvaro comunicou que o paciente está instável com sódio baixo
e entrou com droga. Sorologia prevista para às 20:00 h. Informado ao Dr.
Walter HC quadro do paciente, que falou em Poços de Caldas c/ Dr. Álvaro e
ficou de aguardar conclusão do diagnóstico p/ decidir se seria possível
aguardar a equipe do HC.

Ao término da arteriografia no dia 20/04/2000, o médico ÁLVARO IANHEZ frustrado


com o fato de PAULINHO estar legalmente vivo, faz novo contato com a CNCDO
ESTADUAL:

Às 20:30 h, Dr. ÁLVARO comunicou que a arteriografia deu contraste e terá


que ser repetido 6/12 horas, e talvez o paciente não suporte, devido a
instabilidade do quadro. Avisado ao Dr. Manoel Jacyr - HC e no hangar do
governo (Cabo Furst) dispensei a aeronave que estava de sobreaviso. Dr.
ÁLVARO ficou de fazer contato para informar sobre a doação. Edna

ÁLVARO IANHEZ informou à CNCDO estadual que “a arteriografia deu contraste e


terá que ser repetido”. No entanto, para que pudesse prosseguir na obtenção dos
órgãos de Paulinho, anotou com a mesma data e horário a conclusão de MORTE
CEREBRAL (Encefálica), decretando assim a morte do paciente.
Levando sua estratégia adiante para fraudar a fila única, ÁLVARO IANHEZ afirma
que os órgãos não foram levados para a CNCDO MG TRANSPLANTES devido ao fato
de ser aquele dia um feriado. No entanto, é possível verificar que no dia
21/04/2000 havia uma equipe de plantão, inclusive procurando pelo médico, que
não atendeu mais seu telefone celular.

Na imagem acima (livro de ocorrências do MG TRANSPLANTE de Belo Horizonte),


está anotado:

“21/04/2000 - Plantão Noturno 19:00 às 07:00 horas. (...) Provável doador


de Multiplos Órgãos em Poços de Caldas Apesar dos contatos telefônicos (2),
não obtive resposta sobre o doador. Sem mais ligações.”

Somente após a retirada de órgãos e a destinaçao dos mesmos estarem já


definidas, IANHEZ procurou a CNCDO de BH.
“Dr. Álvaro ligou às 08:30 informando que retirou os rins e as córneas que não deu
p/ esperar pois o P.D. estava chocando. Dia 23 encaminhará o relatório.”
2º. Diagnostico de Morte Encefálica

Aqui demonstro que o laudo referente ao 2º. Diagnostico de Morte


Encefálica jamais foi realizado.

No dia 20/04/2000 o médico nefrologista ÁLVARO IANHEZ chegou a comentar com


o intensivista JOSÉ LUIS BONFITTO que desistiria dos órgãos do PAULINHO. Em
depoimento à Polícia Federal no dia 05/04/2001, JOSÉ LUIS BONFITTO revelou ao
delegado CÉLIO JACINTO DOS SANTOS que:

“como houve perfusão cerebral, manteve conversa com o dr. ÁLVARO por
volta das 21:30 e esse avaliou que o paciente poderia ser descartado como
doador de órgãos, pois com o decorrer do tempo esta suscetível contrair
infecções (...)”

Porém, às 08h00min do dia 21/04/2000, o nefrologista descobre uma solução para


o caso PAULINHO. IANHEZ volta ao HOSPITAL PEDRO SANCHES e decide que
PAULINHO deveria ser transferido. Paulinho ainda estava sedado pela grande
quantidade de medicamentos administrados nos dias anteriores. A transferência de
PAULINHO poderia definitivamente causar o seu óbito, que era tão esperado por
ÁLVARO naquele momento.

No entanto, PAULINHO ainda possuía reflexos, e respondia a estímulos, fato que


levou a equipe médica a retardar a transferência. Eles acreditavam que em mais
algumas horas o óbito seria inevitável, principalmente quando todos os tratamentos
terapêuticos estavam suspensos. Apenas os órgãos recebiam atenção naquele
momento. No depoimento de BONFITTO citado anteriormente, há um trecho onde
ele comprova esta informação:

“o paciente não foi transferido no dia 20, pelo fato de não ter sido ainda
constatada a morte encefálica do mesmo através de exame; QUE o
declarante como médico intensivista responsável pelo paciente não podia
expor o mesmo a riscos durante o deslocamento até a SANTA CASA, e ainda
o Dr. ÁLVARO não assumiu a necessidade de remoção devido a
impossibilidade da realização da retirada de órgãos em função do tempo
passado.”

O certo é que Paulinho estava vivo, conforme consta no depoimento do auxiliar de


enfermagem EDSON DONIZETTI DE MOURA. À Polícia Federal o enfermeiro relatou
que:

“seguiu a medicação do dia anterior, sendo que o medicamento DOPAMINA


foi aplicado às 12:00 e o paciente recebeu todos os cuidados médicos e de
enfermagem; QUE a rasura constante na pressão arterial de fls. 92 onde foi
posto 120 em cima de 60 e 80 e em cima de 02, foi efetuada pelo depoente,
provavelmente acreditando que se deveu à mudança de pressão arterial em
virtude da aplicação de DOPAMINA”
Acima, o documento citado por EDSON, preenchido no dia 21/04/2000.
Abaixo, a rasura feita graças às alterações proporcionadas pelo uso de
DOPAMINA.
Tal informação prestada pelo auxiliar de enfermagem, de fato ocorrido às
12:00 da manhã do dia 21/04 – portanto uma hora antes da transferência da
criança para o HOSPITAL DA SANTA CASA, demonstra alteração na pressão
arterial e nos batimentos cardíacos.

O formulário abaixo é a segunda página preenchida pelos médicos quando


foram supostamente realizados os exames clínicos para a comprovação da
Morte Encefálica. Podemos observar que a AUSÊNCIA DE AUMENTO DE
FREQUÊNCIA CARDÍACA – observado por mais de 5 minutos após injeção de
1mg de atropina endovenoso, é um dos sinais analisados neste exame.

Sendo assim, é verdade afirmar que a pressão sanguínea de PAULINHO


elevou-se tão logo recebeu uma dose de DOPAMINA (cujo nome comercial é
REVIVAN). Portanto as palavras “ausente” escritas no exame clínico, foram
preenchidas criminosamente e não correspondem a real situação em que
PAULINHO se encontrava. Os médicos que participaram dos diagnósticos
clínicos tinham como único objetivo considerá-lo morto ainda que com várias
provas, estivesse vivo.

Vale ainda lembrar o depoimento do neurologista Dr. JOSÉ LUIZ GOMES DA


SILVA que afirmou:

“QUE na manhã do dia 21/04/2000, o paciente mantinha o quadro de


coma irreversível; QUE pela manhã havia preocupação com a real
possibilidade de aproveitamento dos órgãos do paciente, e
acreditavam que o mesmo não resistiria sobreviver até aquele
momento (...)”.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denunciou os médicos ÁLVARO IANHEZ,


JOSÉ LUIS BONFITTO, JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA e MARCO ALEXANDRE
PACHECO DA FONSECA, por homicídio doloso. É fato que os médicos
concorreram para o homicídio, mas não tiveram sucesso. Também é fato que
a cada tentativa, a situação de PAULINHO era agravada e que as práticas
adotadas pelos médicos o levariam a óbito mais cedo ou mais tarde. Mas não
existe qualquer indicio de que PAULINHO tenha morrido no HOSPITAL
PEDRO SANCHES pelo conjunto de provas e depoimentos apresentados até
este momento, pois uma hora antes da transferência ela ainda respondia à
medicamentos.
Ao mesmo tempo, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (se admitirmos que a
denúncia estivesse correta), deixou de denunciar o médico JOSÉ OSVALDO
DARCIE que diz ter participado do diagnóstico sem sequer conhecer a
Resolução 1.480/97 do CFM, ou por falso testemunho.

Depois de aguardar toda a manhã pelo óbito de PAULINHO que não ocorreu,
ÁLVARO IANHEZ decidiu transferi-lo para o HOSPITAL DA SANTA CASA, sob
o pretexto de realizar o exame de arteriografia com melhores “condições”,
alegando inclusive que o HOSPITAL DA SANTA CASA era o único autorizado
na região para a realização de Retirada de Órgãos e transplante. De fato o
HOSPITAL PEDRO SANCHES não poderia realizar tais procedimentos.

Em entrevista à Revista CartaCapital edição Nº. 188 de 08


de maio 2002 sobre o caso PAULINHO, a médica
coordenadora da UTI do Hospital São Luiz em São Paulo
LAIS FIESCHI FERREIRA afirmou:

"Não vejo como justificar a transferência de um paciente


vivo com o único objetivo de levá-lo para uma instituição
autorizada a realizar a remoção de seus órgãos para
transplante”

Às 13h00min PAULINHO foi colocado na UTI móvel ainda vivo e enviado para
o HOSPITAL DA SANTA CASA. Durante o percurso, o respirador mecânico
falhou e o respirador manual “ambu” foi utilizado. Segundo foi apurado no
inquérito, Paulinho foi submetido a uma segunda Arteriografia. Mas as
provas mostram o contrario.

Segundo a auditoria do Ministério da Saúde de Nº. 33/2000, em relação ao


que foi apurado no HOSPITAL DA SANTA CASA, relatou que:

“Não constam do prontuário do paciente o laudo radiológico


evidenciando a não progressão do contraste nas artérias intracerebrais
e o diagnóstico clínico de morte encefálica, estando apenas a
anotação e descrição cirúrgica de retirada de múltiplos órgãos (rins) e
uma amnese assim descrita ‘morte cerebral por trauma craniano,
autorizada (?) Doação dos órgãos pela família’ “

“A ficha de registro mostra que o menino foi internado ou matriculado


na Santa Casa as 18:13 do dia 21/04/00 quando, pela ficha de
anestesia, já estava sendo procedida a retirada de órgãos (início da
anestesia às 17:30 e da cirurgia às 17:40h). A descrição da cirurgia
informa da retirada em blocos dos rins após a ligadura da aorta
subdiafragmática e dos ureteres”.

“Não foi submetido a necropsia e muito menos solicitada a autorização


do médico legista competente para a retirada dos órgãos de paciente
em razão da existência de morte não natural”.
“A Declaração de Óbito (Nº. 066064) foi expedido pela Santa Casa de
Misericórdia de Poços de Caldas como ocorrido às 19:00h de
21/04/2000 (horário do final da cirurgia) e assinado por médico não
pertencente ao corpo clínico da instituição. O médico que assinou o
atestado foi Dr. José Luis Silva, neurocirurgião do Hospital Pedro
Sanches e que teria acompanhado o diagnóstico clínico de morte
encefálica”.

No HOSPITAL DA SANTA CASA, nenhum exame clínico foi realizado para


comprovar a morte de PAULINHO. A criança foi imediatamente encaminhada
para a radiologia para o início do exame de Arteriografia.

Durante a auditoria, o laudo desta arteriografia bem como as chapas, não


foram encontradas. Na verdade nunca existiram. A inexistência do laudo
pode ser comprovado pelas próprias palavras do radiologista que fez o
exame.

Em depoimento à Polícia Federal, o radiologista JEFERSON ANDRÉ SAHEKI


SKULSKI admite:

“QUE o exame encerrou-se em torno das 17h00min e após isso,


apresentou as chapas ao Dr. JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA e ao Dr.
ÁLVARO, passando-lhes o resultado verbal do exame; QUE encerrado
o exame foi-se embora, até que provavelmente, no final do ano 2000
foi procurado por algum funcionário da SANTA CASA, o qual solicitou a
elaboração do laudo da angiografia de PAULO PAVESI (...)”

Tal laudo que não existia na auditoria, mas passou a fazer parte do inquérito
da Polícia Federal, apresenta o resultado do exame às 13h35min quando o
próprio radiologista afirma que o exame tenha se encerrado por volta das
17h00min.

Segundo JEFERSON e os outros médicos, a existência do laudo é dispensável


uma vez que houve a comunicação verbal do fato, contrariando toda a
legislação pertinente. Ao mesmo tempo, a avaliação do neurologista é
inexistente, uma vez que a palavra do radiologista é o único resultado do
exame, e que foi passado à frente verbalmente. JEFERSON afirmou que:

“(...) suas atribuições na arteriografia restringe a constatar de há ou


não contrastação dos ramos intracranianos, já a morte encefálica será
avaliada pelo médico neurologista (...)”.

O laudo desta arteriografia realizada na SANTA CASA supostamente


comprovava a morte de PAULINHO. Porém as chapas com o resultado do
exame ficaram desaparecidas durante aproximadamente dois anos, quando
estranhamente, foram apreendidas pela Policia Federal, que já sabia
exatamente o setor, e a gaveta onde se encontravam. Nesta época, o
delegado da Policia Federal era autor de um processo por injuria, calunia e
difamação na justiça federal por eu ter afirmado que ele atuava com
conivência às práticas criminosas, incluindo a falsificação e o
desaparecimento de documentos importantes – como demonstrarei mais
adiante. Lembro ainda que tal ação foi concluída com a minha plena
absolvição. O delegado preferiu processar-me a indiciar os médicos pelos
desaparecimentos.

Os depoimentos prestados pelos envolvidos sobre o exame revelaram um


total desencontro de informações.

A Resolução 1.480/97 foi novamente ignorada e preceitos fundamentais


foram esquecidos. Segundo a resolução já citada anteriormente, nenhum
médico que faça parte da equipe de transplantes pode realizar o exame, e,
portanto sua presença invalida todo o procedimento.

Na prática, qualquer ato praticado na SANTA CASA já era inválido uma vez
que ÁLVARO IANHEZ participou efetivamente dos diagnósticos no HOSPITAL
PEDRO SANCHES quando PAULINHO estava massivamente sedado como
admitiu o neurologista. Tanto é verdade que sua morte não foi comprovada.

Quanto ainda à cláusula de exclusão é preciso salientar que o radiologista


não se preocupou com a possibilidade de PAULINHO ter recebido altas doses
de medicamentos depressores do SNC. Em seu depoimento, JEFERSON
revelou que:

“desconhece se o paciente estava medicado com droga vasoativa ou


se havia recebido algum medicamento sedativo”.

Neste caso, continuar o exame afronta diretamente a lei de transplantes. Ao


mesmo tempo, ao ser questionado se conhecia o protocolo de diagnóstico de
Morte Encefálica do CFM, respondeu:

“conhece a Resolução 1.480/97 do CFM, que trata do protocolo de


Morte Encefálica, mas leu somente o que interessava, ou seja, o que
está afeto à sua área.”

Tal Resolução ocupa duas páginas no formato A4. Na primeira estão os


artigos principais. Na segunda, o formulário padrão que deve ser preenchido.
Seria o mesmo que um delegado afirmar que só conhece a legislação penal
referente à punição de denunciantes de crimes, mas não a legislação de
quem os comete.

As contradições nos depoimentos colocam em dúvida a realização do 2º.


exame.

Segundo JEFERSON o exame foi realizado no período das 13h00min às


17h00min. Já o técnico em raio-x VALDEMAR RAMOS FERREIRA afirma que a
duração do exame foi de uma hora e meia à duas horas, tendo iniciado às
13:00.
Ambos alegam que fizeram o exame juntos e afirmaram que estava presente
o neurologista Dr. JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA. O neurologista confirma sua
presença, mas afirma que o período do exame foi das 16h00min às
19h00min. No segundo depoimento o neurologista afirmou que o exame
aconteceu no período entre 13h30min e 18h00min.

O gráfico abaixo demonstra a diferença dos horários:

Quando o delegado perguntou à JEFERSON sobre a permanência de ÁLVARO


IANHEZ durante os procedimentos de verificação de morte encefálica, o
mesmo respondeu:

“QUE o Dr. ÁLVARO possivelmente acompanhou a arteriografia, do


lado de fora da sala de raio-x e não sabe dizer se permaneceu lá o
tempo todo”.

Ao mesmo tempo JEFERSON afirma:

“QUE o exame encerrou-se em torno das 17:00 e após isso,


apresentou as chapas ao Dr. JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA e ao Dr.
ÁLVARO, passando-lhes o resultado verbal do exame;”

O técnico VALDEMAR, que auxiliou JEFERSON e portanto esteve com o


radiologista todo o tempo em que durou a arteriografia, disse:

“QUE dirigiu-se então ao C.D.I., onde se encontrava o Dr. JEFERSON e


o Dr. JOSÉ LUIZ GOMES DA SILVA no interior da sala de Raio-X” e;
“QUE não verificou a presença do Dr. ÁLVARO ou algum outro médico
anestesista na parte externa da sala de raio-x.”

O médico da equipe de transplantes da SANTA CASA, o urologista CLÁUDIO


ROGÉRIO CARNEIRO FERNANDES disse no dia 10/04/2001 ao delegado da
Polícia Federal em seu depoimento que:
“na parte da tarde do dia 21/04/2000 passou pelo centro de
diagnóstico, onde estava PAULO VERONESI PAVESI, sendo submetido
à arteriografia pelo DR. JEFERSON, e estava no local Dr. JOSÉ LUIZ e
Dr. ÁLVARO (...) ”

Os depoimentos prestados em todo o processo demonstram a evidente


tentativa de todos os médicos em esconder a participação de ÁLVARO nos
diagnósticos de Morte Encefálica, realizados em PAULINHO, e proibidos por
lei.

A médica pertencente à equipe, a nefrologista MIRTES MARIA RODRIGUES


BERTOZZI não poupou palavras e em seu depoimento no dia 09/04/2001
revelou:

“QUE normalmente a equipe médica da UTI da SANTA CASA notificava


a equipe de transplantes da existência de potencial doador e um dos
integrantes da equipe se deslocava até a SANTA CASA para verificação
e acompanhamento da Morte Encefálica do doador através de exames
neurológicos (arteriografia)”

Certamente realizar o diagnóstico de Morte Encefálica era algo comum para


esta equipe, mesmo com a proibição da lei e do código de Ética Médica. O
procedimento criminoso era tão natural, que MIRTES revela uma de suas
indignações:

“QUE certa vez recebeu notificação do HOSPITAL SAMUEL LIBÂNIO e


Pouso Alegre/MG da existência de potencial doador e lá chegando já
deparou com o diagnóstico de morte clínica e neurológica completa
(...)”.

Sem as chapas, com um laudo forjado e apenas com uma definição verbal do
radiologista, PAULINHO foi novamente considerado morto.

E novamente as evidências no prontuário, escritas pelos próprios médicos e


enfermeiras, demonstram o contrário. Ao final da suposta realização da
arteriografia, os médicos encaminharam PAULINHO para o centro cirúrgico.

Segundo os médicos urologistas da equipe de transplantes, CLÁUDIO


ROGÉRIO CARNEIROS FERNANDES e CELSO ROBERTO FRASSON SCAFI a
cirurgia para a retirada de órgãos teve início por volta das 17h30min.

O documento cujo título é boletim do centro cirúrgico demonstra que


PAULINHO foi submetido à cirurgia às 17h30min quando lhe foi administrado
uma ANESTESIA GERAL. Às 17h40min após o início do efeito da anestesia,
começaram os procedimentos para a retirada dos órgãos. A cirurgia terminou
às 19h30min e o corpo foi entregue à família.
Alguns documentos utilizados e preenchidos por médicos e enfermeiras –
FICHA DE ANESTESIA e DESCRIÇÃO DE CIRURGIA e que constam do
prontuário médico, demonstram que PAULINHO estava vivo.

Os horários acima foram reformulados durante a CPI e no segundo


depoimento à Polícia Federal quando já estavam sendo orientados por seus
advogados.

No HOSPITAL PEDRO SANCHES, antes que qualquer exame que


comprovasse a morte de PAULINHO fosse realizado, ele já era considerado
morto.

No HOSPITAL DA SANTA CASA, o médico JEFERSON ANDRÉ SAHEKI


SKULSKI, antes de fazer a arteriografia para comprovar a morte de
PAULINHO, também já tinha opinião sobre o estado de saúde dele, conforme
podemos verificar na CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS em seu depoimento em
07/07/2004.

Perguntado sobre o exame, JEFERSON respondeu:

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – (...) O senhor lembra a


que horas o senhor fez o exame do garoto?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Foi... Eu já havia


respondido essa questão, acredito que se iniciou em torno das 14h e
acabou em torno das 16h.

Em seu depoimento à Polícia Federal JEFERSON afirmou ter iniciado às


13h00min e terminado por volta das 17h00min.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Então, umas 2 horas.


Esse é um exame complicado, simples, é doloroso? Como é que ele é?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não, é um exame


complicado, de alta complexidade, mas, assim... eu realizo esse
exame... Nesse exame em questão, não houve nenhuma
intercorrência, nenhuma dificuldade técnica.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Ele foi normal.

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Foi.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Ele é um exame


doloroso?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Em pacientes vivos


sim. É... o exame para morte encefálica não é doloroso porque o
paciente já...
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Mas não é o exame
que diz se tem morte encefálica ou não?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Sim.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Então, o paciente até


ali, o exame saiu, o paciente está vivo.

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não, senhora.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Não é o exame que


detecta se tem morte encefálica ou não?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não. O diagnóstico


de morte encefálica é clínico. Eu realizei o exame para comprovar e
para justificar o diagnóstico clínico.

Aqui JEFERSON demonstra desconhecer a Resolução 1.480/97. O diagnóstico


de morte encefálica não é clínico. Segundo a resolução, em seu artigo 1º a
morte encefálica será caracterizada através da realização de exames clínicos
e complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios para
determinadas faixas etárias.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Certo. E o senhor fez


anestesia nele?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não, senhora.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – O senhor...


normalmente esse exame é feito sem anestesia?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Sem anestesia.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA – Mesmo sendo dolorido?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - O paciente que já


está em morte encefálica não vai sentir dor nenhuma.

Antes de realizar o diagnóstico de morte encefálica complementar – que é o


exame que seria realizado por JEFERSON, não se pode afirmar que um
paciente esteja morto. E não é necessário muito esforço para comprovar
isso. PAULINHO foi diagnosticado CLINICAMENTE como morto no HOSPITAL
PEDRO SANCHES. Ao realizar o exame complementar, ficou evidenciado que
PAULINHO estava vivo. Inclusive isto demonstra o perigo que é um médico
desqualificado executar tal procedimento, pois se JEFERSON conhecesse a
resolução, certamente teria conhecimento de que pessoas massivamente
sedadas apresentam diagnóstico falso de morte clínica, pois não respondem
à estímulos dolorosos. Sendo assim, se a resolução fosse aplicada, o
protocolo seria interrompido. Ao levar o diagnóstico em diante, JEFERSON foi
mais um médico a decretar a morte do PAULINHO.

JEFERSON afirma que o laudo apresentava já um resultado antes mesmo da


realização do exame:

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Certo. Só a última


pergunta: o senhor me disse aqui numa das minhas primeiras
perguntas que dura em torno de 2 horas e pouco o exame que o
senhor fez, o da arteriografia. Por que no laudo que o senhor
escreveu o senhor colocou apenas 30 minutos da realização do
exame?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não, não entendi.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - No laudo que o senhor


fez pela... digamos, o laudo 8 anos depois, eu não vou dizer aqui pela
segunda vez, ou 8 meses depois, desculpa, tem o prazo lá de mais ou
menos 30 minutos, do momento em que o senhor foi chamado para
fazer o exame e o encerramento.

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não, não estou


entendendo essa sua colocação.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - A documentação que


nós temos na CPI aqui coloca que, pelo que o senhor anotou no
laudo, esse exame teria durando 30 minutos. O senhor tem o laudo aí,
Pastor?

Após a solicitação do documento para ser exibido, JEFERSON entende o que


a deputada está perguntando:

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - A questão do


horário? Posso responder, então.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sim, eu queria


entender.

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - O horário que está


marcado na ficha é o horário que foi feita a ficha, não é o horário que
foi realizado o exame.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Aí, faz-se a ficha e o


exame não tem uma ficha quanto tempo ele durou?

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI - Não. Depois de feita


a ficha, a ficha é feita para a gente poder colocar o nome na
radiografia. Essa ficha foi tirada antes de o exame começar.
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Pastor Pedro, o senhor
pediu um aparte.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO - Posso? É o


seguinte, Dr. JEFERSON, aqui, na verdade, tem a palavra emissão. Só
que a data é 21/04 e o senhor não emitiu no dia 21/04, o senhor
emitiu 8 meses depois. Então, o que se entende é que o senhor pôs a
data daquele dia e o horário.

O SR. JEFERSON ANDRÉ SAHEKI SKULSKI – Desculpe


interrompê-lo, mas não sou eu que coloco os horários e as datas, isso
é feito pelo computador. Essa ficha é tirada pelo computador. Essa
data e esse horário se referem a quando o menino entrou no setor de
raio x, entendeu? (...)

Se o documento fosse um formulário a ser preenchido, faria sentido que


fosse emitido antes da realização do exame, ou no inicio do mesmo. Mas
trata-se de um documento que apresenta inclusive o resultado final do
exame. Após ser desmascarado pelo deputado Pastor Pedro Ribeiro,
JEFERSON atribui a culpa do “erro” ao computador.

Em qual documento afinal temos que aceitar como verdadeiros? Apenas


aqueles que os mantém longe das grades de uma prisão? O documento é
claro: EMISSÃO: 21/04/2000 – 13:35. Como ele explicaria o fato de a SANTA
CASA ter registrado sua internação somente às 18:15? Também é um erro
do computador? A verdade é que toda a defesa dos médicos no caso
PAULINHO se baseia na desqualificação dos documentos que eles mesmos
preencheram e emitiram. Como admitir tantos erros em um procedimento
tão sério?
ANESTESIA GERAL EM DOADOR CADAVER?

Aqui demonstro que todos os médicos envolvidos tinham o conhecimento


de que Paulinho estava vivo no inicio da cirurgia para a retirada de
órgãos.

Paulinho ainda estava vivo quando foi encaminhado para a mesa de cirurgia
para a retirada de órgãos. O médico SÉRGIO POLI GASPAR utilizou anestesia
geral inalatória (ETHRANE) logo após classificá-lo como "Paciente moribundo
com perspectiva de óbito dentro de 24 horas, com ou sem cirurgia".

Na imagem abaixo está o MANUAL DE ORIENTAÇÃO AO


ANESTESIOLOGISTA, criado pela SAESP (Sociedade de Anestesiologia do
Estado de São Paulo) e do CREMESP (Conselho Regional de Medicina do
Estado de São Paulo). O manual é composto por várias informações
destinadas as boas práticas na anestesia e têm o aval do Conselho Federal
de Medicina.

O Conselho Federal de Medicina criou a Resolução 1.363/93 publicada no


Diário Oficial da União em 22/03/1993, que regulamenta as condições
técnicas para prática da Anestesiologia. A resolução descreve logo em suas
primeiras palavras, o seu principal objetivo, reproduzido abaixo.

Art 1o. - Determinar aos médicos que praticam anestesia que:


Antes da realização de qualquer anestesia é indispensável conhecer,
com a devida antecedência, as condições clínicas do paciente a ser
submetido à mesma, cabendo ao anestesista decidir da conveniência
ou não da prática do ato anestésico, de modo soberano e
intransferível;

Tão importante quanto a resolução acima, é o Código de Ética Médica, cujo


artigo 142 do capítulo XIV - Disposições Gerais, determina que "o médico
está obrigado a acatar e respeitar os Acórdãos e Resoluções dos Conselhos
Federal e Regionais de Medicina."

Os dados da avaliação pré-anestésica, realizada tanto em consultório como


no hospital, permite ao anestesiologista planejar a técnica anestésica e os
cuidados a serem utilizados durante a anestesia. Assim, além da anamnese
dirigida, é importante avaliar o paciente do ponto de vista clínico, incluindo:
o exame físico classificação ASA.

Abaixo podemos observar a composição da tabela ASA:

Todo doador de órgãos deve ser classificado como ASA VI que significa
"Paciente com morte cerebral, mantido em ventilação controlada e perfusão,
para doação de órgãos”. Ao verificarmos a classificação que SÉRGIO POLI
escreveu no documento, percebemos que Paulinho foi classificado como ASA
V que significa "Paciente moribundo com perspectiva de óbito em 24 horas,
com ou sem cirurgia", Portanto VIVO!
Em 2004 foi instalada a CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS a partir do caso
PAULINHO. O anestesista foi inquirido em 06/07/2004 durante audiência em
Brasília, sobre o uso da classificação ASA V.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Fiquei preocupado


quando o ouvi iniciar esta rápida explanação dizendo que foi chamado
para aplicar assistência ventilatória naquela criança. Porque tenho
aqui em mãos Dr. Sérgio, como disse, documentos onde o
procedimento foi um tanto quanto diferente. O senhor emitiu
documentos com referência ao estado do garoto, inclusive analisou o
garoto, e na sua avaliação o garoto era um ASA-5. Muito bem, era um
ASA-5. Dr., o senhor confirma que era ASA-5, o senhor levantou o
papel mostrando, não é diferente o procedimento, no caso da sua
especialidade, para dar uma assistência ventilatória e quando o
paciente é qualificado ASA-5? Porque, pelo que sei, a assistência... O
senhor pode explicar por que é feita a assistência ventilatória? Em que
casos? Em que circunstâncias?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Por que eu tenho que fazer


assistência ventilatória?

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Sim.

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Porque ele está em morte cerebral e


está em apnéia.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Muito bem, então


ele está com morte cerebral e apnéia. Então a ventilação ou
assistência ventilatória é para que ele permaneça vivo, enquanto é
feita a cirurgia, não é isso? Para que os órgãos sejam retirados.
O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Ele está em morte cerebral, a gente
mantém ventilação mecânica para que os órgãos que vão ser
recuperados, sejam oxigenados e perfundidos, ou seja, viáveis.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Muito obrigado. E


no caso do ASA-5. O senhor pode descrever para nós quando o
anestesiologista diz que o paciente é ASA-5, em que estado ele está?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Perfeitamente. Essa classificação


ASA... esse transplante foi realizado no ano de 2000. De 2002 para cá,
existe na literatura mundial, foi acrescentado na classificação ASA,
uma nova classificação que chama ASA-6, paciente em morte cerebral,
doador de órgãos para transplante. Na classificação de 2000 e 2001
para trás, eu tenho artigos de documentos científicos dos Estados
Unidos, 11 universidades mostrando para vocês que não existiam
ainda uma uniformização, uma oficialização do ASA-6. Dado a
gravidade do paciente, que estava em morte cerebral, eu
empiricamente classifiquei esse paciente na classificação mais alta que
era para mim disponível. Eu não podia omitir uma classificação,
porque se isso aqui estivesse em banco, vocês estariam me chamando
aqui para explicar porque eu tinha deixado em branco.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Exato.

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Se eu tivesse posto ASA-6, vocês me


chamariam aqui, porque ASA-6 não existia naquela época. Então,
empiricamente eu pus na classificação mais grave que existia na
época, que era ASA-5 e muitos hospitais americanos ainda
considerava ASA-5. Agora, a classificação do paciente, se a gente vê
que se começa a preencher de cima para baixo, está claro o quadro
do paciente, o estado físico do paciente. Com a minha letra foi escrito,
com a minha mão, com a minha letra, morte cerebral, se tinha,
doador de rim para transplante geral.

Na CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS, bem como em qualquer outra CPI,


existem consultores técnicos especializados em cada assunto. O consultor
levantou-se e saiu da sala imediatamente, correndo em direção aos arquivos
pessoais numa sala do congresso. Alguns minutos se passaram, o
depoimento continuou tratando de outros assuntos, até que o consultor -
que é médico - voltou.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Me desculpe. A


senhora tem ai, doutora. The ASA physical status classification
systems, aqui está em inglês, mas aqui, não vou ser tão petulante,
bem aqui estão: “Esses trabalhos da Associação Americana de
Anestesiologistas e da Associação Canadense já definem ASA-5 e ASA-
6 desde 1992 e 1999. Dr. Sérgio Poli, mais um documento da use of
sedations anesthesia... Está traduzido também ou a gente tem que
ver? Aqui é o outro documento. Certo? Sobre o procedimento do
paciente, a seleção e tudo mais. Está dizendo que esses guias dão
uma visão geral das condições, que têm de ser vistas para sedar o
paciente. Doutor, o senhor afirmou nesta CPI que, em 2000, não
existia a classificação ASA-6. Isso é muito grave.

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não era do meu conhecimento, da


minha literatura.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Mas o senhor tem


de saber, meu amigo.

SÉRGIO POLI GASPAR não assume a classificação que fez, alegando que não
fazia parte de sua literatura a classificação ASA VI, utilizada desde 1984
conforme e-mail enviado pela American Society of Anesthesiologists, e que já
fazia parte da tabela ASA. Na próxima imagem pode-se ler o e-mail enviado
e recebido com a resposta sobre a data da criação do parâmetro ASA VI.

No documento em anexo a Dra. Karen Bieterman apresenta cópia de documentos


comprovando a inserção do parâmetro ASA VI e a aprovação deste pedido.
Documento solicitando a inserção do parâmetro ASA VI na tabela ASA:

Documento de aprovação:
Além da classificação física, outra evidência de que PAULINHO estava vivo foi
confirmada pelo próprio anestesista quando escolheu o tipo de anestesia
para a cirurgia de retirada de órgãos. SÉRGIO POLI administrou ANESTESIA
GERAL com o uso de anestésico inalatório. Se PAULINHO estivesse morto,
não haveria a necessidade de se utilizar qualquer tipo de anestesia.

Ao ser questionado pelos integrantes da CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS,


SÉRGIO POLI respondeu:

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Doutor, então o


senhor aplicou anestesia geral no morto?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: Como é que o


senhor... anestesia indicada, geral? E aqui tem o documento, aliás o
medicamento...

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: – Entre parênteses?

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: - ... entre


parênteses. Como é o nome desse medicamento?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: – Pavulon. Pavulon é o nome


comercial do Brometo de Pancurônio. E ele não é e nunca foi
anestésico na vida, ele é um adjunto à anestesia. O Pavulon não faz
uma pessoa dormir, o Pavulon não tira a dor de ninguém, ele não
deprime o sistema nervoso de ninguém. Se tiver médico no plenário,
vai confirmar isso comigo. Pavulon é um relaxante muscular de ação
periférica que a gente mantém a musculatura frouxa, a gente relaxa a
musculatura, facilitando, desta maneira, o acesso do cirurgião ao
órgão, para que ele traumatize o menos possível o órgão, para que o
órgão seja viável. Esse remédio é descrito na literatura mundial, que
eu não devo usar não, que eu tenho que usar, porque senão fica
inviável a retirada dos órgãos.

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO: – Outro


esclarecimento. Então o senhor explicou bem sobre o Pavulon, mas
por que a anestesia geral?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR – Isso é força de hábito minha. Eu


escrevi, só que é um procedimento cheio de... é o seguinte, eu devia
ter quatro mãos, para duas fazerem fichas e as outras duas cuidar do
paciente. Eu pus geral e na mesma hora pus na frente, entre
parênteses, (Pavulon).

De fato SÉRGIO POLI não é obrigado a ter quatro mãos. Para isso existem as
auxiliares que inclusive, naquele dia, eram muitas. A resolução do Conselho
Federal de Medicina sobre a tarefa da anestesia é clara ao determinar que
todo anestesista deve avaliar o paciente para poder selecionar o tipo
adequado de medicamento a ser utilizado, bem como é expressa a
responsabilidade do anestesista no ato deste procedimento.

Se a "força do hábito" faz com que ele sempre escreva "GERAL" e em


seguida o nome de um medicamento qualquer que sequer é utilizado para tal
finalidade, seria interessante rever todas as cirurgias que SÉRGIO POLI tenha
atuado de 1999 à 2000 para verificar nestes prontuários a existência deste
vício, que certamente pode ser classificado como um erro gravíssimo. Mas tal
investigação nunca foi de interesse das autoridades.

Apesar da resistência em admitir o uso de anestesia geral, o documento


Escala de Aldrete no entanto foi preenchido pela enfermeira, sob supervisão
e responsabilidade do anestesista que faziam juntos o procedimento
anestésico no centro cirúrgico. O relato da enfermeira não deixa dúvidas:
Cliente submeteu-se a cirurgia sob Anestesia Geral, anestesia inalatória Etrane 10ml (...)

SÉRGIO POLI não assume a utilização da Anestesia Geral, alegando distração


ou força do hábito. Ainda afirma o médico que seriam necessárias quatro
mãos para que seu trabalho fosse efetuado com a atenção merecida.

Quando observamos o documento ESCALA DE ALDRETE percebemos a ajuda


de duas mãos da enfermeira que anotou todos os procedimentos que POLI
não poderia anotar por estar com as duas mãos ocupadas.

Estranhamente quando conseguiu as quatro mãos que seriam necessárias, o


anestesista disse que duas não lhe pertenciam.

A falta de atenção ou de duas mãos, ainda permitiu - mesmo sob a "força do


hábito" o preenchimento da Escala de Aldrete. Este documento é preenchido
em todas as cirurgias em que o paciente será acompanhado pelo anestesista
na SRPA - Sala de Recuperação Pós Anestésica. Tal recuperação é definida
como o período compreendido entre a interrupção da administração de
anestésicos e o retorno das condições basais do paciente avaliado pela
monitorização das funções vitais, complementada ou não por exames
subsidiários, incluindo, naturalmente, o diagnóstico e tratamento de
complicações. A ALTA da SRPA, da responsabilidade do anestesiologista,
deve ser baseada em Índices de Avaliação que permitam o retorno seguro do
paciente ao seu leito de origem.

No caso de um doador de órgãos com morte encefálica diagnosticada, tal


documento seria completamente inútil e desnecessário, uma vez que não há
recuperação pós anestésica de cadáveres.

O anestesista afirma que o que está escrito é um problema de quem


escreveu e não dele, esquecendo-se completamente de que a
responsabilidade pelo ato anestésico é de soberania do anestesista, mesmo
que enfermeiras atuem no procedimento.

Se SÉRGIO POLI GASPAR não utilizou anestesia geral como ele mesmo
escreveu, ou como a enfermeira detalhou inclusive citando o nome do
medicamento utilizado ETHRANE, precisamos achar o motivo que uma 3ª.
pessoa tivesse solicitado o medicamento durante e a cirurgia.

A bula do medicamento não deixa dúvidas. O ETHRANE é indicado na


indução de anestesia geral em adultos e crianças. O produto pode ser usado
em anestesias gerais, em obstetrícia. Pode ser utilizado como analgésico em
partos vaginais. Frequentemente se empregam outros medicamentos para
indução ou suplementação anestésica. Durante a CPI, SERGIO POLI
respondeu:

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA: Certo. A pergunta que


faço é a seguinte. Dr. Sérgio, o senhor afirma ter aplicado o relaxante
muscular. O senhor afirma que aplicou o Pavulon. Os depoimentos
que tiveram na CPI e os documentos, inclusive de poder no processo
investigatório e da CPI, afirmam o inverso, que o senhor teria aplicado
uma anestesia geral. O senhor nega essa afirmação.

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Nego ter aplicado anestesia geral.


A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA: Quem o senhor acha,
que estaria lhe prejudicando, afirmando isso e por quê?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não acredito que tenha ninguém


querendo me prejudicar. Eu não fiz anestesia geral em ninguém, o
que eu fiz foi especificado.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA: Tem depoimentos na


CPI, inclusive anexados ao processo, que as pessoas que foram
ouvidas afirmar terem visto o senhor aplicar anestesia geral. Por que o
senhor acha que estariam lhe prejudicando?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não sei, eu não tenho acesso a


esses documentos.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA: O senhor não tem idéia


disso? Sr. Presidente, mais na frente eu retomo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Sr. Sérgio, o


senhor conhece a Resolução nº 1.363 do Conselho Federal de
Medicina?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não, de cabeça, assim, não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Mas, o senhor


conhece alguma parte? O que o senhor conhece?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não, eu, de cabeça, não sei. Nunca
decorei. Eu tenho livros disso, mas eu nunca decorei, não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Quando o


senhor vai iniciar algum procedimento, ou então o senhor não sabe
ainda o que vai fazer, tem que recorrer à resolução, ir lá olhar e ler
antes de fazer? Porque é uma norma. É uma resolução do Conselho
Federal de Medicina.

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Seja claro. Seja claro o que o senhor
quer que eu responda.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Eu estou


perguntando se o senhor conhece a Resolução nº 1.363 do
Conselho...

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não, eu não conheço.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): O senhor acha


que como um médico anestesista o senhor não deveria conhecer?
O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Não, por quê?

O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Porque eu não conheço o código.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Esta resolução


foi feita para quê?
O SR. SÉRGIO POLI GASPAR: Não sei.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Para


açougueiro, para mecânico ou para médico? É do Conselho Federal de
Medicina a resolução!

Indignado com as respostas do anestesista, o DEPUTADO RUBINELLI pediu a


palavra:

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Deputado


Rubinelli.

O SR. DEPUTADO RUBINELLI: Sr. Presidente, eu gostaria de


perguntar se essa resolução é do Conselho Regional de Medicina.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Federal.

O SR. DEPUTADO RUBINELLI: Federal. Eu quero dizer, Sr.


Presidente, aos Deputados presentes e ao depoente também, que eu
acho que a CPI tem a obrigação de informar ao Conselho Regional de
Medicina de que o depoente não vê necessidade, e colocou isso na
sua fala, de conhecer as resoluções do Conselho. Acho que é
importante o Conselho saber disso. Até para o Conselho, Sr.
Presidente, alertar o depoente de que isso é imperativo, é necessário
que ele conheça. E eu quero dizer, Sr. Presidente, Srs. Deputados,
que em que pese o grande conhecimento do depoente com relação às
doutrinas americanas, com relação à Medicina, que as leis brasileiras,
as resoluções dos respectivos órgãos de classe, tanto na área médica
quanto em outras áreas, devem ser seguidas em nosso País. E eu
quero, Sr. Presidente, deixar registrado que a CPI faça essa
recomendação para o Conselho Regional de Medicina que ela também
inquira o depoente a respeito disso. Que sejam mandadas as notas
taquigráficas para o Conselho no sentido de que o Conselho saiba que
o depoente hoje aqui disse que não acha necessário conhecer as
resoluções. Foi isso que nos passou aqui. Se eu estiver enganado, Sr.
Presidente...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): A solicitação


está sendo acatada e a secretaria da Comissão vai estar enviando ao
Conselho.
O SR. DEPUTADO RUBINELLI: E, Sr. Presidente, quero finalizar
dizendo também que eu gostaria que a CPI solicitasse a cópia do
processo que o depoente moveu contra o pai do garoto. Gostaria de
ter conhecimento desse processo aonde o depoente me parece que já
teria obtido algum êxito. Muito embora essa história toda esteja
extremamente confusa, o depoente parece que processou o pai do
garoto por injúria, calúnia e difamação e pediu uma indenização por
danos morais. Me parece que já obteve êxito. Gostaria que a CPI
também tivesse acesso a esses documentos para verificarmos tudo o
que foi argüido nesse processo, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga): Nós


agradecemos a presença do Dr. Sérgio Gaspar, as informações
prestadas aqui. Com certeza, foram informações relevantes para o
trabalho desta Comissão e dizer que, se for necessário e assim a
Comissão entender, estaremos solicitando a presença de V.Sa. aqui
em outra oportunidade. Muito obrigado.

A mentira pode enganar muitos, mas não engana a todos. SÉRGIO POLI
GASPAR, participou da retirada de órgãos de Paulinho, administrando
anestesia geral com o uso do medicamento ETHRANE, e classificou-o como
um "paciente moribundo com perspectiva de óbito em 24 horas com ou sem
cirurgia", portanto VIVO.

SÉRGIO POLI GASPAR sequer foi indiciado ou denunciado apesar de


existirem provas contundentes. O médico foi além. Entrou com ações cíveis e
criminais contra mim na cidade de Poços de Caldas, alegando injúria, calúnia
e difamação. Na época sem emprego, sem advogado e perseguido pelas
ameaças da polícia local, não pude me defender no fórum de Poços de
Caldas.

A maquiavélica operação para que os médicos da equipe de transplantes da


SANTA CASA ficassem impunes, está repleta de ironias. Uma delas é que a
denúncia do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL acusa os médicos do HOSPITAL
PEDRO SANCHES de terem assassinado PAULINHO durante a realização do
1º diagnóstico de morte encefálica. Além das provas aqui apresentadas, a
certeza de que o crime foi cometido no HOSPITAL DA SANTA CASA é tão
clara que houve a proibição imposta a este hospital na época dos fatos, de
justamente realizar diagnósticos de morte encefálica.

Outra interessante ironia é que outros 8 doadores levaram alguns médicos


da SANTA CASA ao banco dos réus, também por homicídio devido à forma
como foram realizados os diagnósticos. Destes 8 pacientes, nenhum foi
atendido no HOSPITAL PEDRO SANCHES, o que nos permite concluir que
foram assassinados na SANTA CASA. Só PAULINHO foi assassinado no
PEDRO SANCHES. Coincidentemente, alguns médicos que não foram
denunciados no caso PAULINHO, também participaram em alguns dos 8
casos, e mesmo assim não foram denunciados.
Eu afirmo há mais de 10 anos que o homicídio de PAULINHO está evidente
se observarmos que os principais exames desapareceram ou sequer foram
realizados, os procedimentos que foram realizados contrariavam a lei de
transplantes proporcionando risco de morte ao PAULINHO, diagnósticos de
morte encefálica foram realizados por pessoas que desconheciam a
resolução 1.480/97, o neurologista JOSÉ LUIS GOMES DA SILVA deu
permissão à ALVARO IANHEZ para que o mesmo tratasse PAULINHO como
um doador e não como um paciente em coma, os órgãos foram retirados
quando o PAULINHO ainda estava vivo sob anestesia geral dentre vários
outros absurdos. Ao ser questionado na época do indiciamento sobre a
possibilidade destes médicos terem praticado homicídio CÉLIO JACINTO DOS
SANTOS respondeu que não possuía elementos suficientes para chegar a
esta conclusão.

Estranhamente em seu depoimento à CPI dois anos após encerrar o


inquérito do caso PAULINHO, o mesmo delegado relatou o que levou em
consideração para indicar alguns médicos em outros casos ocorridos no
mesmo hospital:

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Para começar, o Dr. Félix, que
era o médico responsável pelo paciente, ele assinou o documento de
morte encefálica do paciente sem conhecer a legislação. Não conhece
quais são os critérios previstos na Resolução nº 1.480 para
diagnosticar a morte encefálica. E ele participou efetivamente do
atendimento e assinou o protocolo de morte encefálica. O horário da
morte que ele apontou no prontuário indicava que os órgãos foram
captados, de acordo com as anotações dele, com o paciente em vida.
Demonstrou desconhecer os procedimentos e os atos normativos
atinentes, e vários outros fatores, como o atendimento, porque o
paciente nessa circunstância não foi recolhido, não deu entrada na
UTI. Ele permitiu que outros médicos desenvolvessem procedimentos
temerários, um dos quais foi também indiciado, o Dr. João Alberto
Góes Brandão...

CÉLIO JACINTO jamais admitirá que errou na conclusão do caso PAULINHO.


Embora as irregularidades citadas em seu depoimento sobre outros casos,
sejam idênticas as do caso PAULINHO, se admitisse seu erro, CÉLIO estaria
contrariando alguns de seus interesses ocultos que o levaram a me
processar. Ao mesmo tempo, é possível que na CPI CÉLIO tenha falado com
mais tranqüilidade, longe das ameaças e da influencia política de MOSCONI
ou mais próximo dos favores oferecidos pelo ex-deputado.

Na CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS EM 03/08/2004, o delegado CÉLIO


JACINTO DOS SANTOS, da Polícia Federal demonstra a falta de interesse
nesta informação respondendo com ironia a uma pergunta da Deputada
Perpétua Almeida, conforme podemos verificar abaixo:

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - O senhor lembra, neste


caso do Paulinho, quem foram os indiciados?
O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Foi o Dr. ÁLVARO IANHEZ...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Qual era a função dele


no...

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Ele era o chefe da equipe


de transplantes. O outro integrante da equipe, Dr. CELSO ROBERTO
FRASSON SCAFI; o outro integrante também, o CLÁUDIO ROGÉRIO
CARNEIRO FERNANDES; e um médico oftalmologista, o Dr. ODILON
TREFIGLIO NETO, sendo que, em relação à área de córneas, a
bagunça era maior ainda, porque existia até mesmo uma escala de
clínicas para captar córneas, sendo que no sul de Minas não tinha
nenhum médico autorizado pelo Sistema Nacional de Transplantes.
Por essa razão, o Dr. ODILON TREFIGLIO NETO, que fez o implante
da córnea, ele foi indiciado também no nosso inquérito.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - O anestesista foi


indiciado também?

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Não. O anestesista do


procedimento de transplante ou do atendimento? Porque o anestesista
do atendimento...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - É o SÉRGIO GASPAR.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Ele é o médico do Hospital


Pedro Sanches que participou do atendimento do menino nas cirurgias
lá no hospital.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Ele não foi indiciado


por que, então?

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Porque, na minha


convicção, que está narrada no relatório que deve estar juntado aos
autos, eu preciso de subsídios contundentes nesse sentido. O
indiciamento relacionado a esses médicos mencionados, eu encontrei
os subsídios. Existia a prova cabal para isso.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Qual era a prova cabal


nesse caso?

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Se a senhora manusear o


relatório, lá está bem descrito quais são os elementos de prova. Como
o caso aconteceu em 2001, fica difícil...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Como o caso do...


O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - A apuração aconteceu em
2001. Eu não tenho condições de precisar para a senhora, mas, se a
senhora verificar no relatório, lá está bem descrita a responsabilização
dos médicos e o que motivou o seu indiciamento.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Mas, Doutor, o


anestesista não participa de todo o processo?

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Mas o indiciamento que eu


executei foi por captação ilegal de órgãos, não por homicídio, e a
denúncia foi por homicídio.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Mas o senhor acha,


então, que, se a denúncia for por captação ilegal de órgãos, ele
deveria ser indiciado?

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - O SÉRGIO GASPAR


POLI?

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sim.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Não.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Mas o senhor está me


dizendo que ele não foi indiciado, porque a denúncia não foi por
captação ilegal de órgãos.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Nós não podemos indiciar a


pessoa por presunções. Nós temos que individualizar a conduta, até
que ponto a conduta dele se sub some ao tipo penal. No caso, os
médicos assistentes responsáveis pelos pacientes são responsáveis
criminalmente, civilmente, moralmente, filosoficamente. Ele, no meu
entendimento, praticou apenas um ato assessório que não era o ato
que definia a situação do procedimento. E a senhora verifique no
relatório... a senhora pode verificar também que eu apontei as
irregularidades cometidas por todos os médicos. Estão
pormenorizados todos os procedimentos dos médicos. Cabe à Justiça
julgar se houve ou não o crime. Não cabe a mim julgar. Eu apenas
busco elementos de prova. Busco dados prováveis. Eu não busco a
certeza no inquérito policial. O inquérito policial não tem a vocação de
sentenciar. O inquérito policial, ele busca indícios. Ele busca um juízo
de probabilidade, uma predominância do juízo, da ocorrência do
delito, um juízo positivo. Se houver dúvida, não se indicia. A polícia,
ela tem critérios estabelecidos na Constituição, no Código de Processo,
e, acima de tudo, ela é bem preparada para essa finalidade.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Agora, eu fiquei muito


preocupada com esta forma da apuração como o senhor mesmo
colocou. Ele não foi indiciado porque o inquérito estava a partir desta
denúncia. Se a denúncia fosse Y...

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Por favor, se a senhora


puder repetir a pergunta, no que eu puder esclarecer... A senhora
talvez esteja confundindo um pouco...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - A pergunta que eu fiz


foi a seguinte: por que o anestesista não foi indiciado? Porque para
mim é estranho você estar num processo de apuração como este...
O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Ele foi ouvido no inquérito
policial. Se a Justiça, a Procuradoria da República achar que ele tem
alguma responsabilidade criminal... Ele foi ouvido, todos os dados
referentes ao procedimento dele estavam juntados no inquérito, não
cabe a mim julgá-lo. A senhora quer que eu o julgue? Esta questão...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Não, eu estou tentando


pegar o eixo do processo como um todo. Se ele era parte do processo,
se ele tinha uma responsabilidade, até porque ele era o anestesista,
sem ele ninguém faria absolutamente nada, sem ele nem um bisturi
seria utilizado ali, e outros médicos de certa forma foram indiciados,
ele não. Isso, eu precisava entender isso.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - No inquérito, foram ouvidas


43 pessoas. Destas 43, cerca de 50% são médicos. Não é pelo fato de
ter participado do procedimento, de ter sido ouvido no inquérito que
ele tem que ser indiciado. Nós ouvimos 43 pessoas, viajamos cerca de
3.500 quilômetros...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Não estou dizendo que,


pelo simples fato de ele ter sido ouvido, ele teria que ser indiciado.
Pelo contrário, não estou afirmando isso. Estou dizendo que, pelo fato
de ele ter sido partícipe no processo todo e que a posição dele era de
grande importância, porque, sem o trabalho dele, nenhum bisturi seria
utilizado, portanto, ele foi parte da cirurgia...

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Qual a cirurgia? Eu não me


recordo exatamente...

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Estou me referindo à


questão do Paulinho.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - De transplante ou de


diagnóstico de morte encefálica?

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Do transplante.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Ele participou do


transplante?
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sim, ele foi o médico
que fez a anestesia.

O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Pelo raciocínio da senhora,


tínhamos que indiciar também o enfermeiro, tínhamos que indiciar o
funcionário da pré-sala, da ante-sala, o telefonista. Nós temos que
delimitar a conduta, individualizar a conduta.

O delegado CÉLIO JACINTO DOS SANTOS não conseguiu explicar o


fato de SÉRGIO POLI não fazer parte da denúncia, ou dos
indiciamentos. Aliás, CÉLIO não sabia sequer em qual cirurgia ou em
que momento atuou o anestesista. A ironia e o raciocínio do delegado
afronta a inteligência de qualquer pessoa. Esqueceu o delegado que
apesar de ouvir 43 pessoas e viajar por cerca de 3.500 km, recebeu
em sua caixa de e-mail com todo o conforto que goza alguém que
seja avesso ao trabalho, detalhes sobre a prática deste anestesista e
os detalhes já mastigados e praticamente engolidos.

Percebe-se a completa falta de interesse do Delegado da Polícia


Federal que mesmo sabendo que seria questionado sobre o caso
Paulinho, não perdeu tempo em relembrar os fatos, relendo o
inquérito. São posturas como a deste delegado que movem cidadãos
como o advogado MAURO ANTONIO ALDROVANDI, à procurar
esclarecer na justiça casos de fraudes no preenchimento de vagas
para delegado da Polícia Federal. ALDROVANDI relata em uma ação
judicial que:

"Salta aos olhos que a nomeação de candidatos, que não


lograram aprovação e classificação em concurso público, fere
de morte o princípio da legalidade, à qual Administração está
vinculada. Referido princípio esta insculpido em norma
constitucional e infraconstitucional, conforme amplamente
demonstrado na exordial. Também ficou demonstrado a
imoralidade da regularização de beneficiários que, a despeito
de estarem litigando judicialmente apenas sobre algum motivo
de nulidade de eventual exame que reprovou (psicotécnico,
físico, médico etc...), foram ‘equivocadamente’ nomeados no
cargo, porque não lograram aprovação dentro do número de
vagas oferecidas".

Dentre estes que não lograram aprovação conforme a lei, está CÉLIO
JACINTO DO SANTOS. A ação popular sob o número
2004.71.13.00042-3 a exemplo do caso Paulinho, ao que tudo indica,
afundou nas margens da corrupção. As evidências que CÉLIO
JACINTO DOS SANTOS não conseguiu enxergar, não constam apenas
na Ficha de Anestesia, que é apenas um documento de um conjunto
preenchido a propósito deste procedimento.
SEM MORTE ENCEFALICA?

Aqui demonstro que todos os médicos envolvidos tinham o conhecimento


de que Paulinho estava SEM MORTE ENCEFALICA no inicio da cirurgia
para a retirada de órgãos.

Após a anestesia geral teve início o procedimento cirúrgico para a retirada


dos órgãos de PAULINHO, que ainda estava vivo. O médico CELSO ROBERTO
FRASSON SCAFI confirma isto anotando no relatório de descrição da cirurgia
que PAULINHO estava sem M.E. conforme pode ser verificado na imagem do
documento abaixo:

A frase escrita na primeira linha é:

“PACIENTE EM DECUBITO DORSAL HORIZONTAL SEM MORTE ENCEFÁLICA”

Segundo a entrevista publicada pela Revista CartaCapital em


8 de maio de 2002, o delegado da Polícia Federal CÉLIO
JACINTO DOS SANTOS afirmou que o médico CELSO
ROBERTO FRASSON SCAFI tentou explicar a anotação.
SCAFI disse que escreveu "COM" e que aquilo parece um
"SEM" porque sua letra seria "muito feia".

A Polícia Federal, no entanto, curiosamente preferiu acreditar na resposta


dada por SCAFI e sequer solicitou uma perícia grafológica para esclarecer o
assunto. Porém, a revista CartaCapital ao observar o documento, decidiu
consultar o perito Sebastião Edison Cinelli, que comparou a descrição com
outras anotações feitas por SCAFI no mesmo documento e garantiu que ali
está escrito "SEM", e não "COM", ME.
A prova desprezada pela Polícia Federal desvenda uma triste realidade. Se os
órgãos de PAULINHO foram removidos "SEM M.E.", podemos afirmar que
estamos diante de um homicídio. Estas informações aliadas à outras contidas
no mesmo prontuário, como por exemplo o uso de anestesia geral para a
remoção de órgãos, também comprovada por suas próprias anotações, bem
como o desaparecimento das arteriografias e tomografias, compõem um
conjunto probatório imbatível e completamente ignorado pelas autoridades
brasileiras.

Na imagem acima, destaco uma das comparações feita por Cinelli utilizando
o mesmo documento. Podemos observar o uso da letra “S” na 1ª. linha:
“SEM M.E.” e também na 5ª. Linha onde está escrito “SUPRA RENAL”.

Ao depor na CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS em 06/07/2004, SCAFI mudou a


versão.

SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO – (...) Outra coisa,


PAULO VERONESI PAVESI, o garoto que chegou para ser
transplantado, o senhor afirmou, satisfazia o quadro de alguém com
morte encefálica para ser operado. Esse processo vem-se arrastando
há algum tempo, inclusive o senhor já foi ouvido, mais de uma vez,
pela Polícia Federal, pelo Ministério Público. O senhor já tem
respostas. Mas eu queria, nesta hora, nesta CPI, ouvi-lo dizer como é
que se explica, quando o senhor emitiu um documento — vou citar
este daqui, porque há mais de um: "Descrição do ato cirúrgico. PAULO
VERONESI PAVESI. Categoria: SUS." O primeiro item que o senhor
coloca é: "Paciente (...)" — eu não entendo o que vem antes — "(...)
sem ME". Quando lemos ... inclusive o senhor colocou "ME" com letra
maiúscula. Significa que ressalta o significado do "ME". Tem sido
decodificado, entendido por todos, até pela imprensa, e creio que o
senhor mesmo já admitiu, em várias oportunidades, que "ME" é
"morte encefálica". Só que, antes do "ME", "morte encefálica", está
"sem morte encefálica". Doutor, havia dúvida no quadro? O senhor
enganou-se quando escreveu? Ou a criança estava viva?

O SR. CELSO ROBERTO FRASSON SCAFI – Não. Reforçando o que


eu disse anteriormente, em nenhuma vez — e essa também não foi
diferente — eu entrei em qualquer retirada de órgão onde houvesse
qualquer dúvida quanto ao diagnóstico. Repetindo para o senhor, essa
também não foi diferente. A gente tinha toda a documentação, como
citei, escrita, assinada e carimbada pelo neurologista, está certo? com
as radiografias realizadas, está certo?, como manda o protocolo, está
certo?. Aí, onde na verdade se lê ou pelo menos a impressão aqui
existe a palavra "sem", na verdade, a intenção é escrever "em morte
encefálica". Provavelmente pelo próprio escrever ali, isso possa ter
dado essa impressão, principalmente depois que esse instrumento foi
"xerocado" várias vezes. Mas reafirmo que, primeiro, não escrevi a
palavra "sem". Eu não tinha nenhum desejo em escrever a palavra
"sem". Os documentos afirmavam que a criança já tinha morte
encefálica, senão não seria realizada a retirada de órgãos. E inclusive,
eu só gostaria de ressaltar para o senhor, até tentando tomar um
"pouquinho" mais de zelo, que eu tento completar a descrição com o
rodapé. Se o senhor me permitisse aí, não sei se fica legível no xerox,
onde coloco que "a retirada, após o diagnóstico de morte encefálica,
segundo Conselho Federal de Medicina e autorização prévia da
família" ou o sentido um pouco ... Se o senhor me permitir, posso ler?

O SR. DEPUTADO PASTOR PEDRO RIBEIRO – Pois não.

O SR. CELSO ROBERTO FRASSON SCAFI – Aqui, onde eu escrevo


aqui embaixo. "Após diagnóstico, segundo o Conselho Federal de
Medicina, de morte encefálica, mais autorização prévia da família,
realizada a retirada de múltiplos órgãos". Está certo?

SCAFI se refere a uma anotação feita por ele, no final do documento e da a


esta a anotação o peso da verdade. No mesmo documento, SCAFI é capaz
de afirmar que parte (que o incrimina) não tem qualquer valor. Já a parte
que o salva, é a que deve ser considerada. Mas vale a pena verificarmos em
que condições e em que momento tais anotações foram realizadas.
O urologista CELSO ROBERTO FRASSON SCAFI, inventor da máquina
copiadora que insere letras em documentos, afirma que tão evidente estava
a morte encefálica que fez questão de inserir no mesmo documento, no
rodapé da página, um texto onde demonstra toda a atenção destinada ao
assunto. A preocupação de SCAFI em anotar tal texto cujas letras estão em
sentido diferente ao restante do documento, certamente colaborou para que
a máquina de xérox errasse. Se SCAFI tivesse certeza da comprovação da
Morte Encefálica, ele não precisaria escrever no rodapé da página algo que
deveria estar escrito no 1º item do documento. SCAFI poderia iniciar a
cirurgia descrevendo:

1) Paciente em DDH com M.E. segundo resolução...

SCAFI escreveu no rodapé que a morte foi constatada conforme


resolução do conselho de medicina, porque só havia sobrado aquele
espaço no documento, depois que PAULINHO teve os órgãos
retirados.

Por que um médico anotaria que um paciente estaria SEM MORTE


ENCEFALICA no inicio de uma cirurgia para a retirada de órgãos, sabendo
que isto poderia prejudicá-lo?

A resposta é bastante simples. Primeiro que a pratica era habitual, tanto que
outros casos vieram a tona durante as investigações levando outros
profissionais a responderem pelo homicídio de outros doadores. Segundo e
principal, é a questão da validade dos órgãos. A validade de cada órgãos
doado tem como base o momento da parada cardíaca. Esta informação é de
vital importância para o aproveitamento dos órgãos. Ao anotar que Paulinho
estava SEM MORTE ENCEFELICA, a equipe esta ciente que a validade
passaria a contar a partir daquele momento.
Venda das córneas de Paulinho

Aqui demonstro as córneas foram encaminhadas ilegalmente para outro


estado e implantadas mediante a pagamento, em uma instituição que não
tinha autorização para a realização de transplantes e que estranhamente
foi absolvida.

A auditoria de No. 33/00, concluiu que as córneas de PAULINHO foram


indevidamente encaminhadas para o INSTITUTO PENIDO BURNIER em
Campinas. Cita a auditoria que:

III.6 - Quanto à CNCDO Regional para o Sul de Minas Não observou a


sistemática obrigatória de comunicação encaminhamento dos órgãos
excedentes (no caso córneas) para Central de Minas Gerais, tendo as
enviado para a entidade PARTICULAR (Instituto Penido Burnier) em
Campinas (SP), no caso de PAULO VERONESI PAVESI.

O envio de órgãos para clínicas particulares, configura um golpe contra as finanças


públicas de saúde e em geral, o estado uma vez que TODA RETIRADA de órgãos é
custeada pelo SUS e devem atender à fila única de transplantes. Atualmente o SUS
gasta mais de 500 milhões de reais por ano, sendo que parte deste dinheiro é para
manter as equipes de captação de órgãos. Contrariando esta determinação,
provocando um desfalque nos cofres públicos, as córneas de PAULINHO foram
enviadas para um Hospital Particular que sequer possuía em 2000, o necessário
credenciamento para a retirada e implante de órgãos.

Ao mesmo tempo, a imprensa tem divulgado que esta Instituição já realiza


transplantes há mais de 10 anos.

Determina o decreto 2.268/97 que:

Capítulo II - DA AUTORIZAÇÃO - Seção I


Da s Condições Gerais e Comuns

Art. 8º A retirada de tecidos, órgãos e partes e o seu transplante ou


enxerto só poderão ser realizados por equipes especializadas e em
estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, prévia e
expressamente autorizados pelo Ministério da Saúde.

§1º O pedido de autorização poderá ser formulado para uma ou mais


atividades de que trata este Regulamento, podendo restringir-se a
tecidos, órgãos ou partes especificados.

§2º a autorização será concedida, distintamente, para


estabelecimentos de saúde, equipes especializadas de retirada e de
transplante ou enxerto.

§3º Os membros de uma equipe especializada poderão integrar a de


outra, desde que nominalmente identificados na relação de ambas,
assim como atuar em qualquer estabelecimento de saúde autorizado
para os fins deste Decreto.

§4º Os estabelecimentos de saúde e as equipes especializadas


firmarão compromisso, no pedido de autorização, de que se sujeitam
à fiscalização e ao controle do Poder Público, facilitando o acesso de
seus agentes credenciados a instalações, equipamentos e prontuários,
observada, quanto a estes a necessária habilitação, em face do
caráter sigiloso destes documentos, conforme for estabelecido pelo
Conselho Federal de Medicina.

§5º A autorização terá validade pelo prazo de dois anos, renovável por
períodos iguais e sucessivos, verificada a observância dos requisitos
estabelecidos nas Seções seguintes.

§6º A renovação deverá ser requerida sessenta dias antes do término


de sua vigência, prorrogando-se automaticamente a autorização
anterior até a manifestação definitiva do Ministério da Saúde.

§7º Os pedidos formulados depois do prazo fixado no parágrafo


precedente sujeitam-se à manifestação ali prevista, ficando sem
eficácia a autorização a partir da data de expiração de sua vigência e
até a decisão sobre o pedido de renovação.

§8º Salvo motivo de força maior, devidamente justificado, a decisão


de que trata os §§ 6º e 7º será tomada no prazo de até sessenta dias,
a contar do pedido de renovação, sob pena de responsabilidade
administrativa.

Seção II - Dos Estabelecimentos de Saúde

Art. 9º Os estabelecimentos de saúde deverão contar com serviços e


instalações adequados à execução de retirada, transplante ou enxerto
de tecidos, órgãos ou partes, atendidas, no mínimo, as seguintes
exigências, comprovadas no requerimento de autorização:

I. atos constitutivos, com indicação da representação da instituição,


em juízo ou fora dele;

II. ato de designação e posse da diretoria;

III. equipes especializadas de retirada, transplante ou enxerto, com


vínculo sob qualquer modalidade contratual ou funcional, autorizadas
na forma da Seção III deste Capítulo;

IV. disponibilidade de pessoal qualificado e em número suficiente para


desempenho de outras atividades indispensáveis à realização de
exames e análises laboratoriais necessários aos procedimentos de
transplantes;
V. instrumental e equipamento indispensáveis ao desenvolvimento da
atividade a que se proponha.

§1º A transferência da propriedade, a modificação da razão social e a


alteração das equipes especializadas por outros profissionais,
igualmente autorizados, na forma da Seção seguinte, quando
comunicadas no decêndio posterior à sua ocorrência, não prejudicam
a validade da autorização concedida.

§2º O estabelecimento de saúde, autorizado na forma deste artigo, só


poderá realizar transplante, se, em caráter permanente, observar o
disposto no §1º do artigo seguinte.

Duas crianças se beneficiaram com as córneas de PAULINHO. GUILHERME


BONIN BRITO, morador da cidade de Campinas, 7 anos e GEORGE LOUIZ
SAMPAIO SEGOVÓIA, morador da cidade de Cuiabá, 5 anos.

A Polícia Federal de Varginha e o Ministério Público Federal de Belo


Horizonte, que investigaram o caso, dizem que não foi possível comprovar o
tráfico de órgãos. Para a família, o simples fato de deslocar córneas do
estado de Minas Gerais onde em 2000 havia 800 pessoas aguardando por
um transplante deste tecido, já configura o tráfico. Se considerarmos os
depoimentos das mães dessas crianças, a dúvida deixa de existir, pois elas
pagaram para obter as córneas. Em depoimento prestado à Polícia Federal
na cidade de CUIABÁ/MT em 24/04/2001, a Sra. CARMELITA SAMPAIO, mãe
do garoto GEORGE LOUIZ SAMPAIO SEGOVÓIA relata:

“QUE afirma que pagou em cheque pré-datado a quantia de R$


500,00 para uma fundação, cujo o nome não se recorda; QUE afirma
que os funcionários da Fundação Nacional de Saúde de Cuiabá/MT
fizeram uma cota para custear as despesas com o transplante, vez
que não tinha condições de arcar com as referidas despesas;”

É evidente que uma família que conta com a ajuda de profissionais da saúde
de sua cidade, para acumularem fundos para o pagamento de uma cirurgia,
não podem DOAR R$ 500,00 para uma instituição qualquer. É fato que se
esta mãe não doasse o dinheiro, seu filho não seria atendido, e portanto, a
emissão de cheque pré-datado demonstra o desespero e constrangimento
que a família foi submetida.

Também é estranho outro relato feita pela mãe do garoto:

“QUE perguntou para determinado funcionário do Hospital quem teria


doado a córnea; QUE disseram que a mesma havia sido doada pela
família de um menino que havia se acidentado em São Paulo. Acidente
automobilístico.”

Em todo o Brasil, ouvimos médicos pregando que a família do doador não


deve ter contato com a família do receptor, pois podem existir conflitos
emocionais e psicológicos. A verdade é que a família de PAULINHO doou o
que tinha de mais valioso em suas vidas no momento em que não tinham
nenhum interesse exceto a propagação do amor e da vida, para que garotos
como GEORGE e GUILHERME pudessem voltar a enxergar sem que isso lhe
custassem qualquer centavo. E o que vimos, é novamente um grupo de
médicos arrecadando dinheiro em abastadas instituições “filantrópicas”, onde
sequer pagam impostos, vendendo córneas sob o pretexto da troca do órgão
por uma doação monetária.

Já a Sra. SIRLENE BONIN, mãe do garoto GUILHERME relatou em


11/06/2001 à Polícia Federal de Campinas que:

“QUE quem acompanha o tratamento de seu filho GUILHERME até


hoje é o Dr. MANOEL ABREU, porém quem fez a cirurgia de
transplante foi o Dr. GUSTAVO BARBOSA ABREU; QUE a declarante
não sabe dizer em qual Central de captação e distribuição de Órgãos o
seu filho esteve cadastrado, sendo que tudo foi feito no próprio
INSTITUTO PENIDO BURNIER;”

Sobre a forma como foi avisada da existência da córnea, respondeu que:

“a declarante recebeu uma ligação telefônica do INSTITUTO PENIDO


BURNIER onde foi informada que deveria internar seu filho no dia
seguinte, pois que haviam conseguido uma córnea que seria ótima
para GUILHERME, sendo que o contato telefônico foi feito pela
secretária do Dr. MANOEL ABREU.”

Sobre como obteve a córnea responde:

“ninguém exigiu qualquer vantagem financeira para a declarante,


porém o INSTITUTO PENIDO BURNIER pediu para a declarante uma
doação para a FUNDAÇÃO INSTITUTO PENIDO BURNIER, para ajudar
no custo da anestesia, sendo que a declarante espontaneamente deu
uma contribuição de R$ 600,00”.

Coincidentemente, o lavrador SEBASTIÃO RAIMUNDO COUTINHO da cidade


de POUSO ALEGRE, narrou na CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS em
03/08/2004, a doação que fez também para uma INSTITUIÇÃO quando sua
esposa recebeu um Rim em POÇOS DE CALDAS. E narrou também que o
médico ÁLVARO IANHEZ conseguia rins com facilidade, fora da fila de
espera.

O SR. SEBASTIÃO RAIMUNDO COUTINHO - A minha esposa fazia


hemodiálise em Pouso Alegre, há um ano atrás já que ela fazia
hemodiálise. Aí me falaram que em Poços de Caldas estava saindo os
transplantes, aí eu fui para lá, eu com ela. Ela consultou com o Dr.
Álvaro pela UNIMED. Eu falei: “Doutor, tem jeito de o senhor
conseguir o rim para Jussânia?” Ela já tinha todos os exames prontos,
ele olhou os exames e falou: “Eu consigo. O sangue dela é A+, esse aí
é fácil de conseguir”. Aí depois ele falou para mim: “Tem que fazer
uma doação. Não, você pode fazer uma doação?” Eu falei: “Posso. De
quanto que é, doutor?”. “Dois mil reais.” E eu esperei por 20 dias. E
dentro de 20 dias, ele não ligou. Aí minha esposa falou: “Olha, vamos
pegar o meu pai e minha mãe para fazer a doação, porque o doutor
não vai conseguir”. Aí levei o pai dela e a mãe dela. O Dr. Álvaro
falou: “Não precisa que eu vou conseguir o rim”. Aí dentro de uns 40
dias, ele ligou para o meu irmão que mora em Pouso Alegre para
Jussânia comparecer lá em Poços de Caldas dentro de 2 horas que
tinha surgido um rim. Aí a gente foi para lá e fez o transplante. Fez o
transplante, deu tudo bem, estava continuando, e, depois disso, ele
fez uma internação falsa. Não sei quem fez a internação falsa se foi o
Dr. Álvaro ou a Santa Casa, quem que é. O Ministério da Saúde
mandou uma carta para nós de uma internação da Jussânia que
estava internada na Santa Casa. E, nesse tempo dessa internação,
nem em Poços de Caldas a gente tinha ido. Aí a mulher minha falou
para mim como é que fazia. Eu falei: “O dia que nós formos nós
vamos conversar com a secretária Adelaide”. Aí eu conversei com a
Adelaide. Falei: “Adelaide, e essa internação aqui, a Jussânia não teve
aqui esse mês passado.”. A Adelaide falou assim: “O SUS está
pagando muito pouco e isso aí é para o médico ganhar mais”. Eu falei:
“Não, mas a Jussânia não está não está consultando pelo SUS, ela
está consultando pela UNIMED”. Ela falou: “Deixa para lá, deixa para
lá isso aí”. E a Adelaide é uma pessoa muito boa, uma pessoa muito
educada, deixamos para lá. Quando a gente precisa de uma receita
para pegar remédio na Policlínica, ela dá a receita. Aí ficou para lá. O
caso da Jussânia foi esse aí.

Podemos então afirmar que as leis citadas nesta denúncia, não servem para
nada?

Qualquer pessoa poderia – como os médicos fizeram – criar uma fundação


filantrópica, e mesmo sem credenciamento no Ministério da Saúde, realizar o
comércio de órgãos disfarçados em doações?

Jussânia faleceu pouco mais de um mês depois de implantar os rins. A causa


da morte foi REJEIÇÃO DOS ÓRGÃOS. A pressa do médico em implantar os
rins em Jussânia custou muito mais que os R$ 2.000,00 poupados pela
família. Custou a vida de Jussânia.
Laboratório LABORPOÇOS – Exames de histocompatibilidade

Aqui demonstro que a organização não se preocupava em atuar na


clandestinidade, a qualquer custo e sem controle ou fiscalização externa.

Central de Transplantes comandada por ÁLVARO IANHEZ era clandestina, pois não
possuía sequer ato constitutivo ou até mesmo um CNPJ.

Além disso, O decreto lei 2.268/97 exige:

Seção II - Dos Estabelecimentos de Saúde

Art. 9º Os estabelecimentos de saúde deverão contar com serviços e


instalações adequados à execução de retirada, transplante ou enxerto de
tecidos, órgãos ou partes, atendidas, no mínimo, as seguintes exigências,
comprovadas no requerimento de autorização:

I. atos constitutivos, com indicação da representação da instituição,


em juízo ou fora dele;

II. ato de designação e posse da diretoria;

III. equipes especializadas de retirada, transplante ou enxerto, com


vínculo sob qualquer modalidade contratual ou funcional, autorizadas
na forma da Seção III deste Capítulo;

IV. disponibilidade de pessoal qualificado e em número suficiente para


desempenho de outras atividades indispensáveis à realização de
exames e análises laboratoriais necessários aos procedimentos de
transplantes;

V. instrumental e equipamento indispensáveis ao desenvolvimento da


atividade a que se proponha.

O Laboratório é uma instituição de saúde e portanto deveria possuir


credenciamento para a realização destes exames. Mais uma vez, em Poços de
Caldas, parece que a lei não atinge aquelas fronteiras.

A auditoria do Ministério da Saúde sob o No. 33/00 revelou que:

“Na Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas foram analisados


prontuários, em especial o de PAULO VERONESI PAVESI e seus receptores,
além de outras documentações relativas aos transplantes, como
autorizações, equipes cirúrgicas credenciadas e o Laboratório de
Histocompatibilidade. Foram entrevistados dois pacientes que se
encontravam internados e que haviam realizado transplantes”.

Observou ainda a auditoria:


“III.3 - O Laboratório de Histocompatibilidade Segundo o cadastro do
DATASUS, o Laboratório de Poços de Caldas Ltda LABORPOÇOS, CGC
02.525.748/0001-33, tem como sócios proprietários:

ÉLCIO PEREIRA VALADÃO e JOSÉ WURTEMBERG MANSO

Responsável técnico: Angélica de Lima, cadastramento SUS PT/SAS No 337,


18/09/2000, recadastramento SUS PT/GM/MS No 1313, de 30/11/2000,
classificado como Tipo I.

Observação: Segundo informações de funcionários, o Laboratório vem


realizando exames de histocompatibilidade desde 1997, antes mesmo de
estar autorizado pela SAS/MS, sendo pagamento dos exames realizados
efetuado diretamente pela Santa Casa de Poços de Caldas (sic)”.

Uma matéria jornalística foi exibida pelo JORNAL NACIONAL em 04/03/2004.


A matéria exibia o prefeito distribuindo dinheiro à vereadores para obter a
aprovação de projetos. Fitas gravadas pelo próprio prefeito de Alfenas (Minas
Gerais) e acabaram virando um grande problema para ele. Numa reunião
com vereadores, o prefeito aparece distribuindo dinheiro e pedindo apoio
para aprovar projetos. Um funcionário de uma das empresas do prefeito
chega ao gabinete. Traz um pacote de onde tira maços de dinheiro. O
prefeito conta as notas e guarda tudo numa gaveta. Seis vereadores chegam
para uma reunião. A conversa é sobre projetos do prefeito em tramitação na
Câmara Municipal. JOSÉ WURTEMBERG MANSO alega que o dinheiro teria
sido enviado em 2002 por três candidatos a deputado e um a governador
para cobrir gastos da campanha eleitoral. "Esses vereadores trabalharam
para candidatos que eu estava apoiando, esse dinheiro foi justamente para
efetuar o pagamento do trabalho deles na campanha política. Esse dinheiro
eu recebi dos candidatos que apoiei, do NEWTON CARDOSO, do CARLOS
PIMENTEL, do GERALDO RESENDE", garante o prefeito. Cinco vereadores
que aparecem na gravação não quiseram gravar entrevista. Dois deram a
mesma explicação que o prefeito, mas este cita um valor diferente. "Recebi
R$ 2 mil e recebo novamente se for preciso, se me der o deputado, para
campanha política. Jamais recebi outro dinheiro sem ser esse", afirma o
vereador ROBERTO MARCOLINO. O prefeito JOSÉ WURTEMBERG MANSO já
responde a um processo no Tribunal de Justiça do estado em que é acusado
de contratar por quase R$ 1,5 milhão uma empresa sem licitação. Há
também sete investigações em andamento para apurar outras suspeitas de
corrupção. O ex-governador NEWTON CARDOSO disse que não conhece
nenhum vereador de Alfenas e que nunca deu dinheiro para que eles
trabalhassem na campanha ao governo do estado. O ex-deputado GERALDO
RESENDE também negou o envio de dinheiro. Já o deputado estadual
CARLOS PIMENTA afirmou que o comitê de campanha dele na cidade teria
dado aproximadamente R$ 500 para cinco dos vereadores mostrados na
imagem para a contratação de mão-de-obra e a compra de combustível.
JOSÉ WURTEMBERG MANSO é prefeito de Alfenas pela terceira vez. Mas no
segundo mandato não terminou o governo. Foi cassado por improbidade
administrativa.
Fonte: Site do Jornal Nacional
http://jornalnacional.globo.com - 04/03/2004

Parece que os médicos e políticos envolvidos nesta macabra e perversa história de


assassinato, possuem certa queda pelo ilícito com a finalidade de crescerem
financeiramente. A improbidade administrativa (processo civil) foi a forma que
constituintes deste país utilizaram para criar o roubo dos cofres públicos sem que
isto se traduza como crime.

GERALDO RESENDE (citado na matéria) e GERALDO THADEU PEDREIRA DOS


SANTOS eram deputados federais em 2004 quando foi instalada a CPI DO TRÁFICO
DE ÓRGÃOS, criada com base no caso PAULINHO, fizeram questão de participar
das investigações. RESENDE defendeu os médicos e deu guarida ao ex-deputado
federal CARLOS EDUARDO VENTURELLI MOSCONI, chefe e o principal criador desta
estrutura de comércio de órgãos. GERALDO THADEU era prefeito de Poços de
Caldas na época da morte de PAULINHO e também participou da CPI como um fiel
defensor desta quadrilha.
ADULTERAÇÕES NO PRONTUARIO

Aqui demonstro como autoridades e os médicos envolvidos forjaram e


adulteraram documentos para favorecer os acusados, e obstruindo a
justiça.

Além de todas as irregularidades, percebe-se um grande desespero na montagem


de provas. Abaixo vou demonstrar uma seqüência de imagens de documentos
fraudados pelos médicos para que não fossem punidos. A falsificação é tão
grosseira e tão absurda, que nos, familiares de Paulinhos, nos sentimos
constrangidos.

Acima é possível visualizar que a palavra ARTERIOGRAFIA está escrita sob outra
palavra que foi apagada. Esta ficha de Anestesia foi forjada pelo HOSPITAL PEDRO
SANCHES.

O Ministério Público Federal moveu uma ação de improbidade administrativa contra


algumas pessoas ligadas à saúde de Poços de Caldas. Nesta ação, o procurador
federal JOSÉ JAIRO GOMES relata a falsificação de AIH, mas até hoje nenhum
processo criminal por falsificação de documentos públicos, foi aberto.

O procurador cita que:


“É, certamente, o descontrole no setor de AIH’s um dos fatores primordiais
para a ocorrência de distorções e toda sorte de abusos no âmbito da saúde
pública. Tome-se como exemplo as cópias das AIH’s relativas ao menor
P.V.P. encaminhadas em 12/12/2.000, pela Diretora Clínica da Santa Casa,
Dr. Regina Cioffi, ao Dr. Flávio Azenha, do Ministério da Saúde, e também
encaminhadas em 16/01/2.001 ao Dr. Júlio Abreu Neto, Auditor do Ministério
da Saúde (v. fls. 155/159 e 179/181 do IC).

Verifica-se em tais documentos que alguns importantes campos encontram-


se em branco.

Surpreendentemente, em momento posterior, ou seja em 14/03/2.001, o


advogado da Santa Casa encaminhou aqueles mesmos documentos ao
Assessor Especial do Ministro da Saúde, Dr. BENEDITO NICOTERO, desta
feita com alguns campos já preenchidos, nomeadamente o espaço reservado
à “assinatura do médico responsável”.

Tais circunstâncias, é bem de ver, corroboram a suspeita de que o controle


de AIH’s em Poços de Caldas pode, de forma perigosa, ter sido deixado ao
alvedrio dos prestadores.

Não é demais aduzir ter sido justamente o desconhecimento da engenharia


do sistema que levou o SUS a custear vários partos em homens e que
simples procedimentos ambulatoriais foram pagos com vultosas quantias,
como se fossem cirurgias de alta complexidade, etc.”

Vários exames que não existiam na 1ª e 2ª cópia do prontuário, apareceram


somente na última cópia, quando o advogado da SANTA CASA esteve em Brasília
pessoalmente para entregá-las ao assessor do Ministro. Nas imagens abaixo, uma
seqüência de exames forjados cujas datas de solicitação e emissão são
incompatíveis com todo o relato do caso. Abaixo está a imagem do exame emitido
em 08/05/2000 e solicitado em 20/04/2000. Este exame foi impresso pelo
laboratório da Santa Casa, mas PAULINHO estava no HOSPITAL PEDRO SANCHES
no dia em que o exame foi solicitado.

O mesmo acontece com o exame de billirubina. A SANTA CASA emitiu o resultado


de um exame em um período que PAULINHO nem estaria neste Hospital.

Abaixo está a imagem do exame emitido em 22/04/2000, solicitado no mesmo dia.


Em 22/04/2000 PAULINHO foi sepultado às 08:00 da manhã. Antes do
sepultamento, a família ficou com PAULINHO das 20:00 dia anterior e toda a
madrugada, e nada foi colhido do corpo dele. O exame abaixo é falso.
A mesma fraude foi realizada com vários outros exames como por exemplo, o
degasometria abaixo:

Os exames acima fazem parte do inquérito 39/01/DPF/VAG e estão em anexo ao


processo de homicídio. Porém ninguém responde processo pela falsificação dos
mesmos.

Neste caso, a responsável principal é REGINA MARIA BATAGINI CIOFI, diretora


técnica da SANTA CASA DE MISERICÓRDIA. REGINA chegou a ser afastada da
direção, mas voltou há mais de um ano ao cargo. Na página seguinte, o importante
documento de IDENTIFICAÇÃO DO NOTIFICANTE da Morte Encefálica do Doador.
Na imagem percebesse que a cópia fornecida em 16/01/2001 está sem assinatura.
Na cópia fornecida no dia 22/03/2001, a assinatura aparece misteriosamente.
O mesmo pode ser observado abaixo no documento IDENTIFICAÇÃO E DADOS DO
DOADOR.

O documento abaixo é o ATESTADO DE ÓBITO. Segundo este atestado, os dados


apresentados ali foram colhidos de um Boletim de Ocorrência. Porém nos dois
hospitais em que PAULINHO foi atendido, nenhum boletim de ocorrência foi
lavrado. Até porque, foi determinado aos policiais que estavam no HOSPITAL que
saíssem de seus postos e não registrassem o fato.
O médico ÁLVARO IANHEZ reuniu-se em 02/03/2001 com os delegados da
polícia civil de Poços de Caldas Sr. LACY DE SOUZA MOREIRA e o Sr. JUAREZ
VINHAS, e na companhia de um grupo de médicos legistas elaboraram um
acordo em que a Polícia permitiria que não fossem realizadas necropsias em
corpos de doadores, mesmo aqueles que tiveram morte violenta. PAULINHO
não foi necropsiado, e diversos doadores também não foram.

Tal atitude permitia aos médicos que retirassem os órgãos que desejassem
sem que a família soubesse. Com isso, o órgão poderia ser comercializado,
pois sem a necropsia, jamais saberíamos.

Não foi a primeira ajuda da polícia aos médicos. No começo de toda a


história, o delegado JUAREZ VINHAS inocentou todos os acusados em um
inquérito local aberto supostamente por uma ONG. VINHAS concluiu que a
culpa foi do PAI DO PAULINHO que “confessou” ter chamado a REDE GLOBO
para dar entrevistas.

Dar entrevistas em POÇOS DE CALDAS, é crime. Deixar de fazer necropsia


não.

Apesar do acordo absurdo e criminoso, nenhuma medida foi tomada pela


Polícia Federal ou pelo Ministério Público Federal. Na cidade de Poços de
Caldas pode estar havendo neste momento, o uso de cadáveres para
diversas finalidades, uma vez que está explícita a conivência de delegados e
médicos legistas. Este acordo está em vigência até os dias de hoje. Ainda
que nossas leis determinem o contrário.
A lei de transplante 9.434/97 determina que:

Capítulo II - DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, ÓRGÃOS E


PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE

Art. 7° (VETADO)

Parágrafo único. No caso de morte sem assistência médica, de óbito


em decorrência de causa mal definida ou de outras situações nas
quais houver indicação de verificação da causa médica da morte, a
remoção de tecidos, órgão ou partes de cadáver para fins de
transplante ou terapêutica somente poderá ser realizada após a
autorização do patologista do serviço de verificação de óbito
responsável pela investigação e citada em relatório de necropsia.

No mesmo sentido, o decreto lei 2.268/97 determina que:

Capítulo IV - DA RETIRADA DE PARTES - Seção I


Da Comprovação da Morte

Art. 17. Antes da realização da necropsia, obrigatória por lei, a


retirada de tecidos, órgãos ou partes poderá ser efetuada se estes não
tiverem relação com a causa mortis, circunstância a ser mencionada
no respectivo relatório, com cópia que acompanhará o corpo à
instituição responsável pelo procedimento médico-legal.

Parágrafo único. Excetuam-se do disposto neste artigo os casos


de morte ocorrida sem assistência médica ou em decorrência
de causa mal definida ou que necessite de ser esclarecida
diante da suspeita de crime, quando a retirada, observadas as
demais condições estabelecidas neste Decreto, dependerá de
autorização expressa do médico patologista ou legista.

Com o fito de ocultar irregularidades na constatação da morte, os médicos


associaram-se à Polícia Civil e deixaram de realizar a devida necropsia, que
apontaria as verdadeiras causas da morte de PAULINHO.

Para que documentos fossem adulterados e inseridos no processo, seria necessário


a conivência de autoridades e políticos como demonstrarei abaixo. Nota-se o
empenho em impedir a punição de quem comete crimes tão graves como o
assassinato de crianças, para que um sistema fraco e fraudulento não seja
manchado. Me refiro a política de transplantes brasileiras, um dos orgulhos políticos
do governo. E para manter as aparências, vale tudo.
Em 1991, teve início a Máfia dos transplantes de Órgãos em Minas Gerais. CARLOS
EDUARDO VENTURELLI MOSCONI, ex-deputado federal, urologista e membro da
Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), reuniu um grupo de
“amigos” médicos e criaram uma “ONG” para a retirada e distribuição de órgãos no
Sul de Minas. O Jornal Brasileiro de Transplantes, volume 1, nº 4 (out/nov/dez)
publicou a fabulosa idéia do Sul de Minas.

C.E.V.MOSCONI aparece na reportagem como um dos fundadores. Neste


documento, a equipe enaltece:

“Materiais: Foram realizados no período de outubro de 1991 a dezembro de


1998, 88 transplantes renais (49 masculinos / 39 femininos), sendo que 31
pacientes (35,22%) eram deste serviço e 57 pacientes (64,70%) eram de
outros centros de nefrologia. 60 transplantes foram de doador cadáver
(68,20%) enquanto 28 (31,82%) foram de doadores vivos. Os órgãos foram
captados na região sul de Minas Gerais num raio de 150 Km deste serviço (
Poços de Caldas 24, Alfenas 7, Varginha 3, Guaxupé 1, Itajubá 1, Pouso
Alegre 5 ), sendo encaminhados 33 rins, 8 fígados e 1 coração para outros
centros (HC Unicamp 25, Puc Campinas 4, Varginha 2, MG Transplante BH 6,
SSSP 5)”.

Em 1997 a lei 9.434 determinou a partir de sua publicação, que todos os


transplantes só poderiam ser realizados por equipes e instituições credenciadas. A
própria ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) publicou o texto,
confirmando a ilegalidade das atividades deste grupo que só foi credenciado pela
portaria 357 de 21 de julho de 1999. Além disso, a equipe confessa sem maiores
preocupações, a retirada sistemática de córneas sem nunca possuir credenciamento
para tal prática, uma vez que a portaria somente permitia a retirada e implante de
rins.

Indiferente ainda às leis de transplantes, rígidas e rigorosas na mesma proporção


de sua inutilidade, a equipe revela o envio de órgãos à diversos locais fora do
estado quando deveriam atender a CNCDO de Belo Horizonte.

Estes fatos foram narrados muito antes dos acontecimentos que culminaram na
morte PAULINHO. MOSCONI não é membro da equipe credenciada pela portaria
357. O deputado federal preferiu seguir outros caminhos. Membro do corpo clínico
dos hospitais SANTA CASA DE POÇOS DE CALDAS e PEDRO SANCHES, o deputado
com freqüência enviava verbas, ambulâncias e o que mais lhe pedissem. O relator
da lei de doação presumida de órgãos, onde todo e qualquer brasileiro era um
potencial doador em um leito de UTI, foi MOSCONI. Para o chefe de uma central de
transplantes clandestina, como MOSCONI, retirar órgãos humanos com o
consentimento presumido certamente aumentaria a produção. Por sorte, a
população reagiu e lutou contra este roubo de corpos vivos e a lei acabou sendo
retirada em 2001, logo após o assassinato de PAULINHO.

O ex-deputado federal tem uma grande história política. Sua carreira foi marcada
com quatro legislaturas em Brasília: 1983-1987, 1987-1991, 1995-1999 e 1999-
2003.

Destas legislaturas MOSCONI conseguiu emplacar apenas um projeto, que foi a PEC
82 que destina verbas para a área de saúde. Licenciou-se do mandato de Deputado
Federal na legislatura 1983-1987, para exercer o cargo de Secretário de Saúde do
Governo do Distrito Federal, de 1985 a 1986. Licenciou-se do mandato de
Deputado Federal na legislatura 1995-1999, para exercer o cargo de Secretário de
Assuntos Municipais do Estado de Minas Gerais, de 6 de fevereiro de 1997 a 2 de
abril de 1998.

Quando o caso PAULINHO foi exibido no programa FANTÁSTICO da Rede Globo de


televisão mostrando o que foi apurado pela auditoria, MOSCONI usou o plenário
para defender os colegas médicos. Ou melhor, para defender os seus próprios
interesses uma vez que a Central Clandestina foi fundada por ele. MOSCONI não
poupou palavras e chantageou o Ministro da Saúde JOSÉ SERRA. Primeiro o
deputado justificou seu pronunciamento:

"Venho à tribuna para uma difícil tarefa, mas muito importante para mim,
como cidadão brasileiro, representante do sul de Minas nesta Casa e médico:
falar de um assunto mostrado no programa Fantástico, ontem à noite, pela
TV Globo. Trata-se de reportagem feita em razão de denúncia a respeito de
transplante de rim e doação de órgãos feitos na minha cidade, Poços de
Caldas.

Todos acompanharam a viram a situação em que foi colocada a equipe


médica, especialmente o nefrologista Dr. ÁLVARO IANHEZ, que conheço há
muitos anos e por quem tenho amizade bastante antiga e profunda e posso
responder tranqüilamente, ciente e confiante de sua ilibada conduta moral,
profissional e social”.

Depois MOSCONI dissertou sobre a existência da portaria 357 que autorizava os


médicos à retirarem e transplantarem rins, que está longe de legalizar a central
clandestina fundada pelo deputado.

“Tenho aqui em minhas mãos a Portaria n.º 357, do dia 21 de julho de 1999,
assinada por esse Senhor Secretário de Ações de Saúde do Ministério da
Saúde, que diz o seguinte: o Secretário de Assistência à Saúde, no uso de
suas atribuições legais, faz uma série de considerações sobre dispositivos
legais, e diz assim: considerando a manifestação favorável da Central de
Transplantes de Minas Gerais, resolve:

Art. 1º - Conceder autorização para realizar retirada de órgão e transplantes


de rim à equipe especializada assim identificada e composta:

I – Responsável técnico: Álvaro Ianhez, Nefrologista, CRM 12902, de Minas


Gerais. E, a partir daí, dá a lista dos outros profissionais.”

E a partir deste momento, MOSCONI avançou:

“Antes de concluir, Senhor Presidente, quero dizer que eu sou do PSDB e


tenho apoiado o Governo em todas as minhas manifestações, como V. Exa. é
testemunha. Tenho adotado essas posições por convicção. Não gosto de ser
pressionado a nada e gosto de tomar atitudes de acordo com minha
consciência. E é o que eu faço aqui.

Ouvi o Ministério ontem dizer, com a maior sem-cerimônia... – isso é um


crime, mas não sei que crime é esse. Para mim, crime é o que está sendo
praticado pelo Ministério, porque a dengue e a febre amarela estão voltando.
O Ministério tem se preocupado com campanhas, mas não sei com que
finalidade; não sei se é para trazer benefício ao povo brasileiro. Estou vendo
campanhas que não levam a nada, pois as doenças endêmicas estão
voltando ao nosso País. Agora, eu ouço o Governo, que eu aqui tenho
defendido, dizer: tem uma CPI contra a corrupção, mas os Deputados da
base governista não podem assiná-la – a CPI da corrupção.

Como é que eu faço, Senhor Presidente, com o povo da minha terra?

Como é que eu faço com essa gente honesta, correta, abnegada da minha
terra que trabalha o tempo todo pelo SUS e que é execrada pelo Ministério
da Saúde?

O que eu vou fazer?

Qual a justificativa que eu vou apresentar a eles?

Eu fui conivente com essa situação, ou talvez omisso, e agora não posso
assinar a CPI da Corrupção?

Vamos acabar com a malandragem existente nesse país, vamos acabar


comos ladrões, com os corruptos. Querem cercear as minhas mãos, Senhor
Presidente.

Eu não quero tomar nenhuma atitude no calor da emoção, porque eu não


gosto de fazer isso. Mas eu quero dizer a V. Exa. e a esta Casa, que eu estou
sentindo enorme dificuldade para não pegar uma caneta e assinar o pedido
de CPI para limpar deste País esses corruptos. Muito obrigado.”

Claramente MOSCONI exigiu uma resposta para que não assinasse a CPI DA
CORRUPÇÃO, bastante temida na época pelo presidente FERNANDO HENRIQUE
CARDOSO. E o Ministro da Saúde JOSÉ SERRA respondeu através do oficio
105/2001 ASPAR/GM/MS, em 28/03/2001:

“Exmo. Deputado CARLOS MOSCONI Tomei conhecimento do discurso


proferido por vossa excelência no dia 26/03 último. A partir dele, e por
determinação expressa do Sr. Ministro JOSÉ SERRA, procurei localizar
internamente no Ministério da Saúde, razões para a profunda insatisfação
manifestada por vossa excelência em seu discurso.

Confesso que não consegui encontrar, até porque todos os passos referentes
ao episódio de Poços de Caldas, foram informados pessoalmente à vossa
Excelência pela equipe do Ministério da Saúde.”

Neste trecho, JOSÉ SERRA admite a participação de MOSCONI em todo o


andamento da auditoria, informando inclusive quais os documentos necessários à
serem inseridos para que as acusações fossem amenizadas. Tanto é verdade que
foi comprovada a presença do advogado SÉRGIO ROBERTO LOPES no gabinete do
Ministro anexando ao processo investigatório um novo prontuário, com laudos
falsos e documentos assinados como não estavam antes.

JOSÉ SERRA continuou:

“Infelizmente, lamentamos junto com vossa excelência, que este episódio


esteja servindo para macular os bons serviços que a comunidade médica de
Poços de Caldas, tem prestado a cidade, ao estado e aos país, de que a
exemplo vivo à dedicação que vossa excelência exerce tão bem o mandato
outorgado pelos cidadãos de Poços de Caldas.”

E finalmente aceitou ser chantageado:

“Reitero em nome do ministro José Serra, a necessidade de esclarecermos


por definitivo este caso sem nos curvarmos a sensacionalismos. Para tanto,
esperamos e necessitamos contar com vossa excelência.
Estamos confiantes de que o diálogo, é a melhor maneira de conduzirmos
este assunto, e não abalar um relacionamento construído ao longo de vários
anos.

Atenciosamente
Manoelito Magalhães Junior
Assessor Especial do Ministro.”

Tais discursos são documentos públicos e registrados não só em papel, como


também em vídeo e áudio.

Depois desta troca de elogios e favores, todos os crimes cometidos passaram a não
ter mais o mesmo peso que tinham antes no Ministério Público Federal e na Polícia
Federal.

Quanto ao episódio protagonizado pelo advogado da SANTA CASA, podemos


observar os documentos que comprovam a facilidade proporcionada à MOSCONI.

Em 22 de março de 2001, o advogado SÉRGIO LOPES solicitou ao Assessor Especial


do Ministro BENEDITO NICOTERO a inserção de documentos na auditoria no. 33/00
referentes ao caso PAULO VERONESI PAVESI, conforme o documento abaixo:
Em seguida, o assessor do Ministro da Saúde, encaminha ao procurador da
república JOSÉ JAIRO GOMES os documentos, dizendo que os mesmos eram
“atinentes ao funcionamento dos transplantes de Poços de Caldas”.

Na verdade, os documentos ali relacionados eram todos referentes ao prontuário de


PAULINHO, forjado e falsificado. A relação apresentada pelo advogado comprova
isso:
O procurador cumpriu sua parte e direcionou os documentos para o delegado da
Polícia Federal que prontamente os anexou ao inquérito.
E assim foi dado o passo inaugural para que ninguém fosse punido.

Vale lembrar que na época, MOSCONI e SCAFI eram sócios em um consultório


urológico em Poços de Caldas.

Com o bloqueio dos transplantes que eram realizados na SANTA CASA, segundo os
administradores, o hospital entrou em profunda crise financeira. Não é possível
aceitar que o repasse das verbas referentes a transplantes representasse a maioria
do faturamento do hospital. A menos que os transplantes realizados, iam alem
daqueles oficialmente declarados.

Se o caso Paulinho tivesse sido tratado com a seriedade merecida, os acusados


presos, e o processo andasse sem interferência política, outras conseqüências não
teriam acontecido como por exemplo a ainda “obscura” morte de Carlos Henrique
Marcondes. Ele pagou com a vida por saber demais. Na manhã do dia 24/04, três
dias depois de anunciar o déficit do Hospital, CARLOS HENRIQUE MARCONDES
dirigia-se a SANTA CASA onde teria uma reunião para discutir as dívidas. O hospital
estava tentando arrancar doações em dinheiro da população, com argumentos
sentimentais. Mas não conseguia explicar o que estava acontecendo com aquele
hospital que sempre esteve em boa saúde financeira.

CARLOS MARCONDES foi visto em seu carro no centro da cidade, em companhia de


mais três homens. Uma hora mais tarde, MARCONDES foi encontrado baleado. Em
sua mão estava uma arma que ficava guardada no carro. Ainda vivo o
administrador foi atendido por um médico que pertencia a equipe de transplantes
de ÁLVARO IANHEZ, cujo nome é JOÃO ALBERTO GOES BRANDÃO.

Levado à SANTA CASA, MARCONDES foi considerado morto. Ao mesmo tempo


REGINA CIOFFI e o delegado de polícia civil da cidade, LACY DE SOUZA MOREIRA,
informavam à imprensa que tratava-se de um caso de suicídio. Segundo
testemunhas, foram ouvidos mais do que um disparo.
Foi em 2002 que CARLOS EDUARDO VENTURELLI MOSCONI solicitou ao advogado
SÉRGIO ROBERTO LOPES a abertura de inquérito policial para apurar supostas
ameaças feitas pelo pai do PAULINHO aos médicos. Segundo as denúncias, PAULO
PAVESI teria dito por várias vezes que se vingaria contra os envolvidos no
assassinato do filho.

Vários inquéritos foram abertos contra o pai de PAULINHO, inclusive um inquérito


em nome de CARLOS HENRIQUE MARCONDES. Há inclusive um fato curioso.
MARCONDES não aceitou depor neste inquérito contra PAULO PAVESI, por não
acreditar nas ameaças, até porque já havia passado 2 anos da morte do garoto e
nunca nenhum ato violento aconteceu por parte da família. Ao contrário, a família
estava empenhada em levar o caso à imprensa e às autoridades, usando para isso
os meios legais disponíveis, que hoje é sabido, não tão disponíveis assim.

De qualquer forma, os inquéritos estavam abertos e já estavam na justiça local em


forma de processo. CARLOS MARCONDES era conhecido na cidade e entre amigos
como CARLÃO, devido ao porte atlético e aparente força física. Era de
conhecimento de todos que CARLÃO era adepto das práticas atléticas em artes
marciais, em especial o Kung-Fu.

Certamente eu deveria ser o maior suspeito de qualquer atitude violenta, afinal


qualquer pessoa sabe que nenhum suicida conseguiria disparar contra a sua boca
duas vezes.

Mas em relação aos tiros disparados, o delegado LACY imediatamente tratou de


justificar o ato:

“Ele testou a arma antes, e depois suicidou-se”.

Muitas perguntas ficariam sem respostas convincentes que serão expostas nesta
denúncia. Um inquérito foi aberto pelo delegado JUAREZ FRANCISCO VINHAS e
aponta diversas contradições, e incômodas descobertas.

Em depoimento no dia 02/05/2002 ao delegado, o provedor da SANTA CASA, JOSÉ


MARTINHO PRADO LUZ afirmou que:

“CARLÃO (forma como as pessoas se referiam ao administrador) se


apresentava muito preocupado, com a falta de receita desde agosto de 2001
pelos diversos transplantes realizados pela SANTA CASA cerca de uns 200”.

Com os fatos apurados no caso PAULINHO, o Ministério da Saúde não renovou as


credenciais para a realização de transplantes. Desde então os transplantes estavam
proibidos em Poços de Caldas.

MARTINHO disse também que:

“apesar de não apresentar tendência ao suicídio, CARLÃO estava muito


‘desgastado profissionalmente’ acreditando que CARLÃO teria se matado”.
MARTINHO confirmou a existência da reunião que MARCONDES participaria:

“na data de 24/04, estava marcado uma reunião para as oito horas o
conselho diretor para avaliar a situação financeira da SANTA CASA, na qual
deveria participar o CARLÃO; QUE para a surpresa do depoente, quando
aguardavam CARLÃO para a referida reunião, receberam a notícia de que
CARLÃO teria sido baleado na estrada Bortolan”

Outro personagem desta história, o advogado da SANTA CASA DE MISERICÓRDIA,


SÉRGIO ROBERTO LOPES que inseriu documentos falsos no prontuário de
PAULINHO disse em depoimento no dia 02/05/2002 que:

“CARLÃO estava muito preocupado com os problemas do hospital e


sustentava que era culpado pelas dificuldades e que inclusive o depoente
tentou acalmá-lo e convencê-lo de que esta não era a realidade”.

Esta suposta e frágil confissão infelizmente não pode ser comprovada. Já a diretora
clínica da SANTA CASA, REGINA MARIA BATAGINI CIOFI, disse em depoimento
também em 02/05/2002 à polícia civil que:

“CARLÃO estava com o estado emocional muito desgastado, e chegou dizer


à depoente a seguinte frase. ‘O Carlão acabou. Não tem mais jeito ’ ”.

E opinou sobre o caso:

“CARLÃO estava mesmo deprimido, presumindo a depoente que foi CARLÃO


quem se matou”.

REGINA MARIA BATIGINI CIOFI ainda fez questão de mencionar que MARCONDES
estava atualmente usando calmantes:

“CARLÃO ainda confessou à depoente, que estava dormindo com calmantes


e estava com dificuldades em alimentar-se pelos problemas financeiros e
administrativos da SANTA CASA.”

Em depoimento à Polícia Civil, a viúva de CARLOS MARCONDES afirmou que:

“Dra. ROSANA, lhe receitou medicamentos Lexotan, mas CARLÃO não


gostava de fazer uso de medicamentos; QUE na noite de 23 para 24,
CARLÃO dormiu bem e na terça-feira dia 23, a declarante almoçou com
CARLÃO no restaurante Fenícia.”

“acredita que seu marido não tinha motivos para suicidar; QUE solicita
investigarem o motivo de CARLÃO ter vindo a cidade e retornado ao
Bortolan, momento antes de ser ferido com arma de fogo”.

O filho de ANGELA e CARLÃO, GUSTAVO ARRUDA MARCONDES também depôs e


esclareceu alguns fatos, enfatizando a mesma preocupação da sua mãe:
“CARLÃO chegou a tomar remédios para dormir, sendo medicamentos
homeopáticos, mas não tinha problemas para alimentar-se;”

“QUE CARLÃO não se mostrava deprimido ou desanimado de viver


acrescentando que foi presenteado com um terno de formatura pelo pai,
enquanto o próprio CARLÃO preparava seu terno para participar da
formatura;”

“QUE pretendiam viajar para a praia no início de maio;”

Ao ser perguntado se gostaria de acrescentar algo ao depoimento, GUSTAVO


prontamente disse:

“QUE seu pai/vítima não estava desesperado pelos problemas da SANTA


CASA; QUE analisando os fatos como ocorreram, em confronto com as
atitudes de seu pai, conclui que ele não deva ter se suicidado.”

Segundo a polícia, CARLÃO não teve companhias em seu carro naquele dia. Embora
algumas pessoas tenham afirmado terem visto CARLÃO e 3 pessoas em seu carro
em direção ao Bortolan (onde MARCONDES foi encontrado), o delegado não
conseguiu em sua investigação comprovar tal fato. No depoimento de um vizinho
do administrador, o recepcionista EMERSON DOS SANTOS disse em depoimento à
Polícia no dia 20/05/2002 que:

“QUE o declarante foi descendo à rua para pegar o ônibus Circullare do outro
lado da avenida quando deparou com o carro de CARLÃO, achando muito
estranho, olhou para dentro do veículo que estava somente com o vidro da
porta do passageiro aberta vendo a vítima com a boca ensangüentada
segurando um revólver na mão”;

Tal relato comprova que alguém estava ao lado de MARCONDES, pois não é uma
atitude natural de qualquer motorista andar com o vidro do passageiro aberto.

ÉMERSON foi quem chamou à Polícia logo após encontrar o vizinho.

O laudo Nº 175/02 do posto médico legal de Poços de Caldas relata que “diante dos
dados colhidos durante a necropsia e dos resultados, concluímos que a morte
ocorreu por HEMORRAGIA CEREBRAL CONSEQUENTE A FERIDA PÉRFURO-
CONTUSA”. O Laudo apresenta um desenho evidenciando o local da entrada do
projétil e de uma fratura causada pelo mesmo.
A arma de CARLOS MARCONDES e o projétil encontrado dentro do crânio só foram
periciadas em 17/05/2002, quase um mês após o fato, embora a arma tenha sido
apreendida no dia 24/04/2002 bem como o projétil, retirado pelos legistas no
mesmo dia do mês de abril.

O laudo nº 507/02 sobre a arma encontrada nas mãos de MARCONDES concluiu


que:

“tratava-se de um revólver marca TAURUS calibre .38’’, um cano de 2’’,


capacidade do tambor para cinco cartuchos, acabamento oxidado, coronha
em madeira, nº CG50700. Com a arma em questão foi efetuado um disparo
contra alvo fixo, sendo que a mesma se mostrou eficiente, podendo ser
usada para ofender a integridade física de alguém.”

O projétil retirado do crânio de MARCONDES foi testado pela balística e no laudo de


nº 508/02, a conclusão é que:

“trata-se de um projétil (bala) de chumbo nu de calibre .38’’, massa de 9,9


gramas, apresentando deformações normais e acidentais”.

Portanto já era possível afirmar que a bala tenha sido disparada de uma arma
calibre 38, e também poderíamos afirmar que a arma que estava nas mãos de
CARLOS MARCONDES também era de calibre 38. Porém, não no inquérito qualquer
laudo pericial que afirme que a bala 38 encontrada no crânio de MARCONDES tenha
sido disparada da arma que estava nas mãos dele.

Se alguém tinha a intenção de fazer parecer um suicídio, como acreditou o


experiente delegado logo nos primeiros minutos depois da morte do administrador,
certamente está comemorando. Em qualquer caso como este a perícia e os
investigadores solicitariam um laudo que provasse que a arma utilizada era a que
estava nas mãos de MARCONDES, bastando para isso verificar o que os peritos
chamam de ranhura.

O inquérito foi encerrado pelo delegado JUAREZ FRANCISCO VINHAS, que


descreveu em seu relatório uma versão constrangedora. Assim como na apuração
do caso PAULINHO em que VINHAS apenas observando a conta do hospital
conseguiu concluir que não havia erro médico, imperícia, negligência ou
imprudência, conseguiu no caso CARLÃO mais uma vez trazer a luz com ampla e
irrestrita investigação o que estava evidente – para ele. Aliás, diríamos conveniente
para ele e para todos os envolvidos no caso PAULINHO.

DOS FATOS CONCLUSIVOS DO INQUÉRITO:

Consta que a vítima, então Diretor Administrativo do HOSPITAL DA SANTA CASA


local, estava respondendo a processos judiciais que questionavam sua
administração em vários aspectos, especialmente sobre o destino de verbas
federais no mencionado Hospital.
PROVAS:

Restou apurado que a vítima estava com “depressão” e chegou a dizer para a
testemunha REGINA MARIA CIOFFI BATAGINI a seguinte expressão: “O CARLÃO
acabou, não tem mais jeito”, e estava com dificuldade para alimentar e dormia
sobre efeito de calmantes (...)

O delegado ouviu os colegas de trabalho e a família. A família – acreditamos – que


sejam as testemunhas adequadas para dizer se CARLOS MARCONDES dormia e se
alimentava adequadamente, e pelo que disseram nos depoimentos MARCONDES
não tinha dificuldades para comer e para dormir. De fato CARLÃO foi indicado a
usar LEXOTAN, que conforme a viúva disse, o marido não gostava de remédios. Tal
fato foi comprovado quando o filho de MARCONDES disse que o pai tomava
remédios HOMEOPÁTICOS para dormir.

Mas o delegado preferiu a versão dos colegas de trabalho. Em seguida, o delegado


afirma:

“A perícia criminal, feita no local do crime, indica que ocorreu suicídio, o


mesmo acontecendo com a perícia médico local constante do procedimento
policial.”

Estranhamente verificando o laudo de nº 509/02 feito no local, afirma que:

“O local estava isolado pelos Policiais Militares, porém não havia sido
preservado pois o veículo estava com as portas fechadas e a arma (revolver
38) estava no interior da viatura da PM. ”

Além disso, os peritos em nenhum momento afirmam que o caso era de suicídio.
Verificando os outros laudos, como já citei anteriormente, não qualquer
comprovação de que a bala tenha sido disparada da arma do administrador, e tal
como os outros laudos, não afirmam ser um caso de suicídio. Mesmo assim a
conclusão do delegado é SUICÍDIO. E para comprovar a sua tese, o delegado
afirma:

“Há notícias informais de que a vítima possuía várias apólices de seguro de


vida e se homicídio fosse, propiciaria o recebimento do valor monetário que é
significativo, o que não ocorrerá com suicídio. Portanto não está descartado
interesse de terceiros em converter o suicídio fático em suposto homicídio
para beneficiarem do recebimento do mencionado seguro ”.

Um inquérito policial não pode considerar notícias informais, sem remetente, ou


conversas de bar como provas conclusivas. Vimos que o delegado não conseguiu
provar e não teve interesse sequer em saber se a arma de MARCONDES havia
disparado a bala que o matou, assim como colocou palavras nos laudos
apresentados que nunca foram escritas. VINHAS consegue o impossível. Ele culpa a
família de querer distorcer os fatos para obter o pagamento do seguro. A distorção
não partia da família, mas sim das próprias conclusões do delegado, que se melhor
informado fosse, saberia que as empresas de seguros atualmente pagam suicídios,
uma vez que não há premeditação em suicídio em casos cujas apólices tenham sido
contratadas há mais de 2 anos.

Outro fato curioso é que o delegado VINHAS afirma na conclusão do inquérito que:

“Além das provas constantes no Procedimento Policial, que julgamos ser


convincentes e harmônicos, foi solicitada a perícia residual do material
colhido nas mãos da vítima, no instituto de criminalista na capital, e quando
o laudo concluído será remetido a esse fórum para ser juntado ao inquérito”.

VINHAS havia concluído o inquérito sem conhecer o resultado do exame pericial


que apontaria se o autor dos disparos foi de fato o “suicida”. Também é curioso
que o laudo nº 5688/TX/02 – justamente a da perícia residuografica - seja datada
de 16/05/2002. O inquérito teve sua 1ª conclusão em 23/05/2002 com 43 páginas,
sendo que o laudo, só foi inserido no mesmo na página 79 muito depois da
conclusão.

Mais estranho ainda é verificar as fotos de CARLOS HENRIQUE MARCONDES na


maca do HOSPITAL DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA logo após ser considerado
morto pelos médicos. A imagem por si só, responde o motivo do resultado do laudo
residuográfico.
Podemos perceber na foto que as mãos de MARCONDES estão enfaixadas porque
foram submetidas a material químico, provavelmente ácido, com o objetivo de
invalidar o exame residuográfico.

O inquérito encerrado foi enviado ao Ministério Público, onde o promotor de justiça


ordenou que o mesmo fosse reaberto. O Promotor WAGNER IEMINI DE CARVALHO
concluiu:
“(...) após os fatos investigados, desapareceram vários objetos de valor da
vítima, além de documentos relacionados à SANTA CASA e que seriam
usados numa reunião com a diretoria daquela entidade, fato que igualmente
não mereceu a devida atenção investigatória por parte da DD. Autoridade
Policial. Assim requeremos a devolução dos presentes Autos a Delegacia de
Polícia de origem a fim de que a DD. Autoridade Policial possa prosseguir nas
investigações, elucidando tais dúvidas”.

O promotor referia-se também à questão dos seguros, que segundo o delegado


VINHAS, seriam o motivo da distorção dos fatos pela família. A primeira a ser
ouvida pelo delegado na 2ª investigação, foi a esposa de MARCONDES. ANGELA
MARCONDES foi ouvida novamente em 31/07/2002. A viúva reclamou em seu
depoimento do desaparecimento de duas pastas contendo documentos da SANTA
CASA que CARLÃO utilizaria na reunião do dia em que foi suicidado. ANGELA afirma
que uma pasta era verde e outra bege. Ela reclamou também do desaparecimento
de vários pertences pessoais como óculos e corrente de ouro que o marido usava
todos os dias. ANGELA sugere ao delegado que sejam ouvidas duas funcionárias
que segundo ela teriam removido os pertences do marido, inclusive os que ficavam
nas gavetas do local de trabalho.

MARTINHO DO PRADO LUZ, que dividia a sala de trabalho com o diretor


administrativo CARLOS MARCONDES, disse em seu segundo depoimento que
CARLÃO possuía uma apólice de seguro no valor de 20 vezes o salário que era de
R$ 20.000,00 correspondendo à R$ 400.000,00 e ainda relatou que não soube do
desaparecimento de objetos e documentos.

O depoimento do funcionário REINALDO BERTOZZI do departamento de


manutenção do hospital aponta um fato importante. MARCONDES havia
determinado a instalação de escutas telefônicas em vários pontos do hospital. Disse
o funcionário em depoimento à polícia no dia 02/08/2002 que:

“confessa ter instalado grampo telefônico (gravador) na linha telefônica da


sala onde CARLÃO trabalhava a pedido do mesmo, sendo que o referido
gravador não gravava todas as ligações, tendo um dispositivo para acioná-lo,
sendo três gravadores em três linhas, e de vez em quando CARLÃO mandava
mudar a linha para outro ramal. ”

SÉRGIO ROBERTO LOPES em seu segundo depoimento prestado em 02/08/2002


decidiu dar peso à versão do delegado que insistia na versão de suicídio. LOPES
disse à polícia que:

“como advogado da SANTA CASA, foi informado pelo próprio CARLÃO, que
este havia quitado o veículo de ANGELA, a faculdade do filho e que estava
tirando seus pertences pessoais de sua sala e levando para a sua casa isto
um dia antes dos fatos.”

Por que SÉRGIO LOPES teria omitido relato tão importante em seu primeiro
depoimento?
A família de MARCONDES soube que SÉRGIO LOPES, ex-policial militar retirou o
carro do pátio após ser periciado, levando o mesmo à um lava rápido onde
determinou que o carro fosse lavado por duas vezes. Após lavar, LOPES ligou para
a família e solicitou o pagamento das diárias do estacionamento bem como as
lavagens do carro. Sempre alegando ser advogado da SANTA CASA, LOPES tinha
acesso ao que desejasse, em qualquer momento. O fato de ser um ex policial
também facilitava as coisas na delegacia.

O filho de MARCONDES revelou também em conversa reservada com a família de


PAULINHO que seu pai estava totalmente enfaixado (dos pés à cabeça) no caixão,
e que estranhou o fato de que SÉRGIO LOPES durante o velório desejava que o
corpo fosse enterrado o mais rápido possível.

As funcionárias acusadas de limparem as gavetas de MARCONDES sem autorização


da família, também foram ouvidas. ZILDA DE CÁSSIA DINIZ, MARIA FÁTIMA DA
SILVA prestaram depoimentos como solicitou a viúva em seu depoimento e
negaram qualquer fato que pudessem ligá-las ao desaparecimento das fitas
gravadas pelo grampo telefônico implantado por determinação de MARCONDES.

E mais uma vez o delegado VINHAS decide arquivar o inquérito reafirmando a


hipótese de suicídio como sendo a mais provável, mesmo sem poder afirmar que as
mãos de CARLOS MARCONDES tivessem disparado a arma contra si.

VINHAS reafirma que:

“Restou apurado que CARLÃO suicidou-se com um tiro do seu próprio


revolver, no céu da boca, conforme Perícia Criminal e médico legal constante
no inquérito”.

Desta vez, VINHAS insiste e afirma que “há indícios no IP de que a vítima CARLÃO
havia premeditado sua morte”, provavelmente referindo-se ao depoimento de
SÉRGIO LOPES. VINHAS afirma ainda que a viúva de MARCONDES teria contratado
SÉRGIO ROBERTO LOPES para que o mesmo recebesse o carro do marido depois
da perícia, apesar da viúva negar a contratação.

Novamente o promotor de justiça devolve o inquérito pedindo para que as


investigações fossem aprofundadas principalmente no tocante as fitas
desaparecidas que certamente continham informações valiosíssimas.

Desta vez, a viúva ANGELA MARIA ARRUDA MARCONDES solicita através de seus
advogados que o delegado JUAREZ VINHAS responda algumas perguntas. IEMINI
também solicita o depoimento de MARIA JOSÉ DA RÉ. As perguntas apresentadas
foram por ANGELA demonstram que SÉRGIO LOPES agiu sem o consentimento da
família ao pegar o carro e lavá-lo por duas vezes.

A funcionária da SANTA CASA, MARIA JOSÉ DA RÉ em depoimento à polícia civil no


dia 10/09/2002, revela que sabia dos grampos telefônicos que, segundo ela, eram
utilizados para vigiar os funcionários daquele Hospital. DA RÉ afirma também que
trabalhou durante 27 anos no Hospital da SANTA CASA e que havia pedido
demissão há um mês do depoimento. Em outro inquérito, MARIA JOSÉ DA RÉ havia
sido indiciada por estelionato e concussão junto com o médico ÁLVARO IANHEZ.
Estranhamente DA RÉ pediu demissão e viajou para a ITÁLIA. Quando o Ministério
Público apresentou a denúncia DA RÉ foi excluída do processo.

Meu nome foi mencionado por vários envolvidos no caso Paulinho, como um
provável suspeito. Infelizmente nunca foi ouvido nestes inquéritos e os processos
que me acusavam de fazer ameaças de morte, desapareceram ou foram
arquivados.

Pela última vez, vencendo pelo cansaço, o delegado JUAREZ VINHAS novamente da
o caso como encerrado, tendo como resultado o suicídio.

Segundo VINHAS, os grampos telefônicos tinham como único objetivo vigiar seus
funcionários. Em sua última intervenção, o promotor de justiça WAGNER IEMENI
DE CARVALHO desabafa:

MM. Juiz,

Trata-se de Inquérito Policial, instaurado com o objetivo de se apurar as


circunstâncias em que ocorreram a morte de CARLOS HENRIQUE
MARCONDES, já qualificado, sucedida em 24 de abril do corrente ano.
Concluído e relatado o mencionado Inquérito Policial a DD. Autoridade
Policial, sem se aprofundar de forma séria nas investigações concluiu que
Carlos Henrique cometeu suicídio, sugerindo o arquivamento do feito(sic).
Entretanto, não podemos concordar com tamanha irresponsabilidade por
parte de quem já no início das investigações, sem sequer ouvir uma
testemunha, sem um completo conhecimento dos fatos já havia
pressupostamente emitido um juízo de valor a respeito do caso ao editar a
Portaria inaugural - "Com vista à notícia constante do BO PM 5793,
relatando, em tese, suicídio...". Ora, o mencionado BO não faz menção a
suicídio, posição precipitada adotada pela DD. Autoridade Policial, que
acabou por contaminar seu senso de investigação, procurando desde o início
sustentar aquela posição, sem buscar outras vertentes que pudessem dar
segurança a Promotoria de Justiça para o deslinde da questão. O certo é que
ficou muito a desejar o resultado das investigações o que contribuiu para a
fixação da dúvida no espírito desta Promotoria de Justiça com relação ao que
realmente ocorreu naquela manhã do dia 24, resultando num enorme débito
com relação às explicações devidas à nossa sociedade. A DD. Autoridade
Policial que presidiu o presente Inquérito Policial não investigou a contento o
destino dos objetos pessoais e documentos que estavam com Carlos quando
de sua morte; não se interessou em saber sobre o destino das fitas que
continham gravações "comprometedoras" de conversas de médicos e
funcionários da "Santa Casa" e, o que é mais grave, revelando uma
irresponsabilidade incomum deixou perder aquela que poderia ser a principal
prova do suicídio - se é que este realmente ocorreu - qual seja, o material
colhido de Carlos Henrique Marcondes, conforme consta às fls. 79, nem
tampouco se aprofundou na questão de possíveis dívidas da "Santa Casa"
para com o de cujus. Enfim, estamos diante de um arremedo de investigação
policial, que revela o amadorismo ao extremo com que foi conduzida,
restando demonstrado apenas de concreto a existência de uma morte
violenta produzida por projétil de arma de fogo, que provocou hemorragia
cerebral em Carlos Henrique Marcondes. Nada mais. Diante deste quadro,
não pode esta Promotoria comungar com a precipitada conclusão a que
chegou a DD. Autoridade Policial. Não temos elementos seguros para afirmar
trata-se de suicídio, nem podemos falar com segurança que houve um
homicídio, muito embora os últimos acontecimentos ocorridos na vida de
Carlos, sabido por todos, indicam perfeitamente que ele era uma vítima em
potencial, dado seus conhecimentos e até mesmo envolvimento no
escândalo que envolveu a "Santa Casa" local. Desta forma, diante deste
quadro de incerteza fruto de uma inabilidade reveladora, na condução do
processo investigatório, lamentavelmente resta a esta Promotoria de Justiça
o ARQUIVAMENTO do feito uma vez que o mesmo não trás sequer indícios
da existência de crime ou sua autoria.

Poços de Caldas, 4 de dezembro de 2002


WAGNER IEMINI DE CARVALHO
Promotor de Justiça

Mas quem teria realmente interesse na morte de MARCONDES?

MARTINHO DO PRADO LUZ e CARLOS HENRIQUE MARCONDES eram as


pessoas autorizadas a assinar cheques no HOSPITAL DA SANTA CASA.
Ambos descobriram uma forma curiosa de desviar dinheiro daquela
instituição. MARTINHO confessou ter desviado dinheiro da SANTA CASA, e
assumiu a dívida que segundo o Ministério Público foi pago parte em
dinheiro, e outra em propriedades. Apesar da confissão, ao devolver o
dinheiro corrigido (segundo o Ministério Público), um acordo com as
autoridades (termo de ajuste de conduta) previa que - com a devolução do
dinheiro - o provedor não seria processado.

Desprezando as leis do país, onde o roubo de dinheiro público é crime e deve


ser punido com prisão, Martinho pagou a dívida com bens e dinheiro,
conquistados ao longo de vários anos à frente da SANTA CASA, e não foi
processado, nem sequer punido. Muitas pessoas com certeza foram
prejudicadas no atendimento à saúde por este desvio. Muitas até morreram
por não terem um hospital de qualidade meio a uma série de ineficiências
descobertas e que foram inclusive penalizadas pela Vigilância Sanitária.

O acordo foi publicado em jornal, e pode ser conferido abaixo. A corrupção e


a impunidade são tão grandes e visíveis, que podem ser divulgadas pela
imprensa. É de se estranhar o tamanho do poder de um ex-deputado, que
consegue obrigar a todos a calarem suas vozes com um simples gesto. Enfiar
a mão no bolso cheio de dólares e pagar o silêncio de quem deveria se
indignar e protestar.

Jornal da Mantiqueira, 15/11/2002

Continua ainda a reportagem dizendo que:


E conclui:

O esquema criado para desviar dinheiro do SUS, envolvia funcionários do


hospital que faziam empréstimos em seus nomes cujos valores eram
debitados diretamente da SANTA CASA. Os documentos que vou mostrar
aqui foram enviados para a Polícia Federal e Ministério Público Federal e
foram ignorados pelas duas autoridades. Mesmo com tantas provas, nenhum
funcionário foi denunciado ou sequer indiciado.
Os documentos abaixo são extratos do banco UNICRED. A UNICRED é uma
cooperativa de créditos para pessoas que trabalham na área de saúde.

Podemos observar nos títulos abaixo, empréstimos realizados em nome das


funcionárias MARIA FÁTIMA DA SILVA, MARIA JOSÉ DA RÉ e ELIAMARA
SANTIAGO nos respectivos valores de R$ 21.000,00 (vinte e um mil reais),
R$ 27.000,00 (vinte sete mil reais), e R$ 27.000,00 (vinte sete mil reais).

MARIA FÁTIMA e MARIA DA RÉ disseram em seus depoimentos no caso


CARLÃO que desconheciam quaisquer fatos que pudessem merecer
investigações.

Extratos de Empréstimos bancários Unicred

Como funcionava o esquema criminoso de desvio de dinheiro

CARLOS HENRIQUE MARCONDES e MARTINHO DO PRADO LUZ utilizavam


funcionários do hospital como laranjas que adquiriam empréstimos cujos
valores eram incompatíveis com suas rendas. Para isso, contavam com o aval
da SANTA CASA uma vez que dificilmente uma instituição bancária
concederia empréstimos nestes montantes sem garantia.

Em seguida MARCONDES e MARTINHO autorizavam a UNICRED a debitarem


as parcelas destes empréstimos diretamente da conta corrente da SANTA
CASA, nas respectivas datas de vencimento.

Estas operações não eram recentes e funcionaram durante muitos anos. O


abismo criado por estes desvios não eram percebidos uma vez que o
dinheiro proveniente das cirurgias de transplantes e de alguns partos
realizados em homens (como apurou o Ministério Público Federal) era
suficiente para encobri-los.

Porém, com a denúncia do caso PAULINHO, as credenciais que autorizavam


os médicos transplantarem não foram renovadas, causando a suspensão
inesperada destes procedimentos bem como o repasse de verbas. Sem
recursos, o hospital filantrópico foi para a UTI.

Abaixo, cópia do ofício autorizando os débitos dos títulos exibidos:

Em 2001 a SANTA CASA chegou a ser condenada por diversas


irregularidades constatadas, referentes à falta de alvará da Vigilância
Sanitária, venda de medicamentos vencidos e altos índices de contaminação
hospitalar. Há documentos que comprovam o repasse de dinheiro de
MARCONDES para a SANTA CASA em 1996.
Acima a imagem de um cheque emitido por CARLOS MARCONDES, e o
comprovante de depósito deste cheque em conta corrente pertencente à
SANTA CASA.

Acima o empréstimo de R$ 50.000,00 realizado em 03/02/2001 quando


outros empréstimos ainda estavam sendo pagos pela SANTA CASA. Abaixo
um título pertencente à funcionária ZILDA CÁSSIA M. DINIZ acusada de ter
limpado as gavetas de CARLOS MARCONDES, que também fazia parte do
esquema de desvio de dinheiro do Hospital.

Chama a atenção que no item 004 em todos os extratos, era informado ao


banco que os recursos para o pagamento destes títulos eram “próprios”.
Próprios da SANTA CASA. É evidente alguém autorizava os empréstimos
dentro da cooperativa em conivência com os desvios, conhecendo inclusive a
origem do dinheiro. Assim que CARLOS HENRIQUE MARCONDES foi
suicidado, MARTINHO DO PRADO LUZ providenciou a quitação de diversos
títulos que estavam em nome do falecido.

Dentre os documentos que tive acesso, não existe qualquer indicação de que os
empréstimos tenham sido repassados à SANTA CASA. Sabe-se que operações como
estas, são utilizadas para a criação de um caixa 2, destinados ao uso pessoal. É
possível inclusive que as laranjas não sejam tão bondosas, e só participavam destas
operações mediantes à fartas comissões. O certo é que além de todos estes
procedimentos fraudulentos, a SANTA CASA ainda pagava pelo empréstimo, juros
com taxas astronômicas.O que mais impressiona é que estas pessoas que limparam
as gavetas de CARLÃO quando o mesmo foi suicidado, dominam também o
SINDICATO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE POÇOS DE CALDAS.
Após insistir na descoberta da verdade dos fatos e estas informações públicas,
passei a ser perseguido pelo Ministério Publico Federal que me processou por
injuria, calunia e difamação. A ação tinha como testemunha o delegado da Policia
federal CELIO JACINTO DOS SANTOS. A exemplo da ação movida por JACINTO
contra mim, fui absolvido. Mas desta vez, a juíza reconhece a verdade em minhas
denuncias:

Ante o exposto, julgo IMPROCEDENTE a pretensão punitiva deduzida na


denúncia para absolver PAULO AIRTON PAVESI, com base no art. 386, III e
V do CPP. Nos termos do art. 40 do CPP, determino seja oficiado o
Procurador Geral da República para apurar se houve alguma irregularidade
no fato de que nem todos os médicos indiciados pela CPI do Tráfico de
Órgãos foram denunciados pelo Ministério Público Federal, notadamente,
Sérgio Poli Gaspar e Celso Roberto Frasson Scafi.

Determino, outrossim, seja expedido ofício à Superintendente da Polícia


Federal em Minas Gerais para apurar se houve alguma irregularidade no
arquivamento do Inquérito Policial que apura a morte de Carlos Henrique
Marcondes, ocorrido na cidade de Poços de Caldas/MG, em 24 de abril de
2002, retomando, se for o caso, as investigações para o esclarecimento do
suposto envolvimento dos responsáveis com a chamada “Máfia dos
Transplantes”.

Aos ofícios mencionados deverão ser anexadas cópias da presente sentença,


bem como do e-mail enviado para a 4ª Vara da SJMG, datado de 23/04/2006
(fls. 798/822).

Transitada em julgado, dê-se baixa na distribuição, promovendo-se as


anotações, comunicações e registros de praxe.

Estranhamente nunca fui informado sobre o resultado destas determinações.

Atualmente vivo na Itália, após em 2008 pedir asilo político ao governo Italiano
apresentado estes fatos, documentos, vídeos, copias de processos judiciais e
testemunhas. De acordo com a convenção de genebra de 1951, o caso Paulinho
não poderia ser considerado político, e por isso o asilo foi convertido em asilo
humanitário. Em seguida, o governo italiano reconheceu a minha descendência
italiana e concedeu a cidadania a mim e a toda a minha família.

Não sei qual era a intenção de Carlos Mosconi ao determinar que eu fosse
denunciado por ameaças de morte a Marcondes, antes de ele ser suicidado. Mas
acho que deveriam investigar quem recebiam os valores movimentados em caixa 2
pelos administradores do hospital, e principalmente, descobrir por que sumiram as
fitas com as gravações do centro cirúrgico e demais telefones do hospital.

A morte de Marcondes não traria a família Pavesi qualquer beneficio, mas para
alguns políticos, seu desaparecimento seria uma dádiva. Lamento que alguns
destes políticos covardes se escondam sob o manto da impunidade parlamentar.
ULTIMAS CONSIDERAÇÕES

Solicito o envio de comprovante de anexação deste documento ao processo


em questão, conforme foi me solicitado.

As imagens de documentos relacionados ao caso Paulinho e exibidos aqui,


foram extraídos do processo e também foram apresentados na CPI do
Trafico de órgãos, considerados verdadeiros.

As autoridades que atuaram neste processo não mediram esforços para me


prejudicar e me perseguir, até que não tive outra opção a não ser deixar o
Brasil. Nos últimos anos, o Ministério Publico entrou com pedido para que eu
me submetesse a exames de sanidade mental. A perseguição também se
deu através de suspensão de sites que publicava sobre o caso, quebra de
sigilo eletrônico e envio de ofícios a empresa onde eu trabalhava em São
Paulo, provocando a minha demissão.

O processo de homicídio em questão é uma fraude completa, cheia de


acordos entre Ministério Publico e os envolvidos. Os principais responsáveis
pelo homicídio de Paulinho não constam no rol de acusados e até o
momento, o Ministério Publico não ofereceu qualquer justificativa que
demonstrasse a não participação destes elementos, que hoje desenvolvem
suas atividades normalmente. Ao contrario, os esforços do Ministério Publico
foram voltados a desqualificar meus depoimentos e minhas denuncias. Nem
mesmo durante a CPI do Trafico de órgãos, houve interesse destas
autoridades em participar das audiências a fim de colher novos elementos.

A questão do trafico de órgãos, não foi aprofundada pelas autoridades. As


denuncias apresentadas, conforme o acordo entre as partes (MP e Médicos),
são fracas e cheias de vícios, o que causaram o arquivamento dos processos
ou absolvição dos denunciados. Em nenhum dos casos fui informado sobre
os resultados das ações.

Acredito que este processo somente atinja uma verdade jurídica – que deve
ser o objetivo – se for levado para outro estado e julgado em tribunal isento,
sem a influencia política de Carlos Mosconi. Devemos lembrar que no Brasil,
a saúde não é uma questão de cidadania e sim uma questão política. Muitos
votos são arrecadados graças a supostas ações de políticos em prol de uma
instituição de saúde, quando na verdade, deveria ser uma obrigação, já que
tudo é feito com base na arrecadação de impostos. Como demonstro aqui, o
beneficio político também se estende ao beneficio financeiro privado. Graças
a movimentações financeiras fraudulentas sem qualquer fiscalização,
enormes quantidades de dinheiro deságuam em contas indevidas.

O caso Paulinho transformou em uma batalha política. A paralisação dos


transplantes foram usados para justificar rombos pré existentes na
administração do hospital. Os envolvidos fizeram passeatas e distribuíram
panfletos, induzindo a população a acreditar que toda a suspensão do
sistema foi devida as minha denuncias, feitas sem provas. As provas estão
no processo. Basta que sejam analisadas e caso eu esteja errado, que
apresentem respostas.

Tenho visto com freqüência, o deputado Carlos Mosconi afirmar que esta
negociando a volta dos transplantes a Poços de Caldas, alegando que os
médicos foram absolvidos pois tudo se tratava de uma grande calunia. Tal
comportamento demonstra que a justiça esta em segundo plano e que sua
força política é capaz de sobrepor aos interesses de uma sociedade. Que
voltem os transplantes, mas que voltem com médicos honestos que não
sobrevivam da morte de doadores.

Sem mais a declarar,

Paulo Airton Pavesi, pai de Paulinho, assassinado aos 10 anos de idade para
fins de trafico de órgãos.

Este documento foi elaborado em 2010. Alguns dos envolvidos foram


denunciados pelo Ministério Público e foram condenados. O desembargador
Flavio Batista Leite, contrariando as provas dos autos, anulou todas as
sentenças e determinou que o processo recomeçasse do zero.

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