Terceira Civilização - Edição 409 - 01/09/2002 - pág.
4 - Diálogo Sobre Religião Humanística
Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística
(2) Nitiren Daishonin — Uma vida inteira
dedicada ao cumprimento de um juramento
Esta é a continuação da segunda parte da série
“Diálogo sobre a religião humanística” publicada na
revista de estudo mensal da Soka Gakkai,
Daibyakurengue, edição de fevereiro de 2002. Neste
diálogo, o presidente da Soka Gakkai Internacional,
Daisaku Ikeda, e o coordenador do Departamento de
Estudo de Budismo da Soka Gakkai, Katsuji Saito,
enfocam vários fatos relacionados à história do
budismo e à vida de Nitiren Daishonin de forma
abrangente e profunda. Com certeza, este artigo
contribuirá para facilitar a compreensão dos
ensinamentos budistas e da filosofia humanística que
cada vez mais atrai a atenção das pessoas do mundo
inteiro.
Presidente Ikeda: Quando lutamos para
propagar os ensinos de Daishonin apesar
das perseguições, conseguimos fazer com
que o estado de Buda brilhe
radiantemente em nossa vida. Mediante
esse processo, cultivamos nosso mais
elevado potencial como seres humanos.
Esse é o caminho direto para atingir o
estado de Buda da forma como somos, o
supremo caminho para atingir a iluminação
nesta existência. Nitiren Daishonin foi o
único que se colocou na vanguarda no
início dos Últimos Dias da Lei e comprovou
essa suprema verdade por meio de sua
própria vida. É por isso que nós o
reverenciamos como o Buda dos Últimos
Dias da Lei. Em outra ocasião, vamos
estudar mais detalhadamente a história
que está por trás de cada perseguição.
Katsuji Saito: Na ocasião da Perseguição de
Tatsunokuti (1271), Daishonin abandonou
sua condição transitória de mortal comum
e revelou sua identidade de Buda dos
Últimos Dias. (cf. WND, pág. 413.)
Pres. Ikeda: No escrito “Abertura dos
Olhos”, Daishonin refere-se a sua essência,
seu “espírito”, como a vida do Buda.
Saito: Ele diz as seguintes palavras:
“No décimo segundo dia do nono mês do
último ano, entre as horas do rato e do boi
(das 23 horas às 3 horas da manhã), esta
pessoa chamada Nitiren foi decapitada. Foi
seu espírito que chegou a esta Ilha de
Sado e, no segundo mês do ano seguinte,
cercado pela neve, escreve estas palavras
para enviar aos seus discípulos mais
próximos.” (The Writings of Nichiren
Daishonin [WND], pág. 269.)
Referindo-se ao 13o capítulo do Sutra de
Lótus, “Devoção Encorajadora”, ele declara
que, por mais terríveis que sejam os
ataques dos três poderosos inimigos, ele
— seu próprio “espírito” — nada teme.
Pres. Ikeda: Tendo mantido seu grande
desejo de concretizar o Kossen-rufu
enquanto vencia várias perseguições,
Daishonin pôde até mesmo triunfar na
Perseguição de Tatsunokuti — a pior de
todas as perseguições que enfrentou —, na
qual sua própria vida foi posta em jogo.
Quando Daishonin se refere ao seu
“espírito” nesta passagem, ele quer dizer o
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estado de vida do Buda do tempo sem
início que se encontra em todas as
pessoas. Essa vida é a essência da pessoa
conhecida como Nitiren Daishonin. É uma
vida de absoluta liberdade e brilho,
transbordante de benevolência por todos
os seres vivos e de solidariedade por
aqueles que estão sofrendo. Ela surge com
uma sabedoria inesgotável e com energia
espiritual, transbordante também de
infinita energia vital, boa sorte e benefício.
E arde com a coragem para combater as
tendências negativas de si próprio e dos
outros, sem ter medo de nada.
O significado máximo da existência
humana encontra-se em desfrutar
plenamente esse maravilhoso estado de
vida de Buda. O coração humano não
existe para sofrer, mas sim para desfrutar
ilimitadamente o estado de vida de Buda
dotado das quatro virtudes da eternidade,
felicidade, verdadeira identidade e pureza.
Não há alegria maior. É por isso que o
capítulo “Revelação da Vida Eterna do
Buda” descreve o mundo como um local
“onde os seres vivos vivem felizes e
tranqüilos” (LS16, pág. 230). Esse é o único
ensino que pode fundamentalmente
conduzir as pessoas dos Últimos Dias à
iluminação e transformar a época.
Nitiren Daishonin revelou esta brilhante
fonte de esperança e iluminou a escuridão
dos Últimos Dias. De fato, ele é o “Sol e a
Lua”. Além disso, ele fez com que a vida do
Buda do remoto passado desabrochasse
enquanto perseverava em uma época de
medo e maldade impregnada das cinco
impurezas. Isso se adequa de forma
conveniente à descrição da pura flor de
lótus branca que desabrocha em um
pântano lamacento. Assim, Daishonin
também é a “flor de lótus”. E, a fim de
transmitir esse eterno estado de vida para
todas as pessoas, Daishonin manifestou
seu “espírito” na forma do Gohonzon.
Saito: Em suas escrituras, Daishonin
declara ter inscrito sua própria vida no
Gohonzon.1
Pres. Ikeda: Ele o manifestou como um
“límpido espelho” para capacitar todas as
pessoas a revelarem o ilimitado mundo do
estado de Buda. O Gohonzon incorpora o
grande desejo do Buda de buscar a
iluminação de todas as pessoas exposto
no Sutra de Lótus. É a cristalização da
imensa benevolência do Buda, a entidade
do objeto de devoção fundamental para
todas as pessoas. Da mesma forma,
Daishonin descreve o Gohonzon como a
“bandeira da propagação do Sutra de
Lótus” (WND, pág. 831).
Saito: Os bonzos da seita Nikken que não
apenas deixaram de abraçar o grande
desejo de concretizar o Kossen-rufu mas,
ao contrário, procuraram destruí-lo, são
totalmente incapazes de propagar o
correto objeto de devoção. Eles revelaram
claramente sua verdadeira identidade de
“Devadattas” da era moderna.
Pres. Ikeda: Na escritura “Abertura dos
Olhos”, Nitiren Daishonin diz: “O Buda e
Devadatta são como o corpo e sua
sombra.” (WND, pág. 278.) A SGI é uma
organização formada por pessoas
verdadeiramente dedicadas aos ensinos
de Daishonin, uma organização que pulsa
com o grande desejo de concretizar o
Kossen-rufu. É por isso que esses
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Devadattas invejosos e cheios de ódio,
inclinados a destruir a união harmoniosa
dos seguidores, começaram a nos atacar.
A SGI é autêntica. Nossa força e dignidade
portanto aumentarão rapidamente à
medida que continuarmos a derrotar todas
essas forças perversas em nosso
empreendimento de propagação da Lei
Mística em todo o mundo.
Do juramento à iluminação
Saito: Permita-me fazer uma breve síntese
do que discutimos até agora.
Observando a vida de Daishonin desde a
época em que ele entrou para o Seityoji
até o momento em que abandonou sua
condição transitória e revelou sua
identidade de Buda dos Últimos Dias,
verificamos a seguinte seqüência de
acontecimentos: ele fez um juramento aos
doze anos; recebeu uma jóia da sabedoria;
estudou os sutras; empenhou-se como o
devoto do Sutra de Lótus e enfrentou
grandes perseguições; e por fim
abandonou sua condição transitória e
revelou sua verdadeira identidade.
Pres. Ikeda: Após ter feito isso, Daishonin
concentrou-se em estabelecer a entidade
da Lei (o Gohonzon) para a transmissão de
seu ensino e a concretização do
Kossen-rufu pelos dez mil anos e mais dos
Últimos Dias da Lei. Dessa forma, ele
buscou transmitir seu próprio juramento e
sua própria iluminação às pessoas do
mundo inteiro.
Saito: De forma ainda mais sucinta,
podemos considerar a vida de Daishonin
nestes termos: juramento, iluminação,
juramento ainda mais profundo e
iluminação ainda mais profunda.
Pres. Ikeda: O fio condutor de toda sua vida
é seu esforço para levar as pessoas à
iluminação. Um buda não é seguramente
um ser absoluto que vive uma existência
estática. Ele compartilha os sofrimentos
dos outros e, sentindo que a época chegou
a um impasse, pondera seriamente sobre
como mudar a situação. Um buda jura
empreender uma luta para levar as
pessoas e a época à iluminação. A força de
seu juramento faz com que a iluminação
do Buda amadureça até transformar-se em
rica sabedoria.
Quando Sakyamuni atingiu a iluminação,
ele tinha inicialmente a idéia de viver
tranqüilamente no mundo de paz e alegria
que havia descoberto. Mas, a pedido do
deus Brahma (Bonten, em japonês), ele
decidiu expor a Lei e capacitar as pessoas
a também atingirem a iluminação. Isso se
chama a “exortação de Brahma”.
Saito: Brahma é uma divindade
considerada como o supremo governante
do mundo na mitologia indiana.
Pres. Ikeda: Quando Sakyamuni estava
considerando a respeito de entrar no
nirvana e gozar da paz e tranqüilidade de
sua iluminação sem expor a Lei, essa
divindade disse-lhe que se ele fizesse isso,
o mundo seria destruído. Assim,
Sakyamuni decidiu expor a Lei.
A exortação de Brahma é um drama
ocorrido no próprio coração de Sakyamuni.
Em outras palavras, o que Sakyamuni
ouviu foram as vozes das pessoas deste
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mundo.
Creio que podemos considerar a exortação
de Brahma e a subseqüente determinação
de Sakyamuni como símbolo do juramento
feito por Sakyamuni após ter atingido a
iluminação. Somente a iluminação que
primeiramente se fundiu com um grande
juramento e depois se desenvolve em
sabedoria para conduzir as pessoas à
iluminação e transforma a época pode ser
chamada de verdadeira iluminação do
Buda.
O segundo capítulo do Sutra de Lótus,
“Meios”, narra uma história equivalente à
da exortação de Brahma.
Saito: Correto. Nessa versão, todos os
deuses budistas fazem um apelo a
Sakyamuni. Todos os budas das dez
direções também lhe pedem que utilize o
poder de sua iluminação como sabedoria
para conduzir todos os seres à felicidade.
(cf. LS, págs. 42-44.)
Pres. Ikeda: Acredita-se que a iluminação
do Grande Mestre Tient’ai da China
também teve essas duas fases, consistindo
de sua iluminação no Monte Ta-su e de
seu encontro com um monge ancião em
Huadingfeng, no Monte Tient’ai, que o
encorajou a realizar a prática da
benevolência.
Saito: Supõe-se que tenha sido após essa
experiência que Tient’ai apresentou as
preleções que foram compiladas em suas
três obras principais: Grande Concentração
e Discernimento, Profundo Significado do
Sutra de Lótus e Palavras e Frases do Sutra
de Lótus.
A iluminação ocorre em dois níveis. O
primeiro é quando a vida da pessoa
abre-se para a Lei Mística, e o segundo,
quando a Lei Mística permeia e funde-se
totalmente com a vida da pessoa, fazendo
com que sua força manifeste-se como
sabedoria, caráter e ação humanística.
Pres. Ikeda: Daishonin diz que Nam ou
Namu, de Nam-myoho-rengue-kyo, que
significa “devotar”, tem duas implicações.
Uma delas é devotar-se, ou fundir a
própria vida, à verdade eterna e imutável. A
outra é que, com essa fusão, pode-se
extrair simultaneamente a inesgotável
sabedoria que funciona de acordo com as
circunstâncias mutáveis.
O termo “Aquele que assim partiu”
corresponde à primeira implicação, e
“Aquele que assim chega”, à segunda
implicação.2
Saito: Ocorre-me que a iluminação do
segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei
Toda, que ele atingiu na prisão, também
apresentou dois níveis.
Pres. Ikeda: Correto. Enquanto esteve
preso, o que ocorreu por causa de sua luta
para proteger a Lei, o Sr. Toda leu o Sutra
de Lótus com sua própria vida e despertou
para a verdade de que “o Buda é a própria
vida”. Sua expressão dessa realidade, em
uma linguagem tão clara e moderna,
renovou a essência do budismo na época
atual. Esse foi o nível em que a vida do
presidente Toda se abriu para a verdade
suprema do budismo.
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O fato é que os Bodhisattvas da Terra são
bodhisattvas que demonstram a energia
vital de seu estado de Buda inerente. Foi
por isso que Sakyamuni confiou-lhes a
propagação do Sutra de Lótus após seu
falecimento.
Depois de ter despertado para a verdade
de que sua própria vida era o Buda, o
presidente Toda leu e recitou o 15º
capítulo do Sutra de Lótus, “Emergindo da
Terra”, e compreendeu que a missão dos
Bodhisattvas da Terra de propagar o
ensino do Buda era na verdade sua própria
missão. Esse foi o ponto em que a vida do
Sr. Toda fundiu-se com a Lei Mística e ele
compreendeu, sem dúvida, a verdade de
que sua vida era o Buda. Isso é
demonstrado pela experiência pela qual
ele passou em sua solitária na prisão,
quando sentiu estar participando da
Cerimônia no Ar3 como um Bodhisattva da
Terra.
Os Bodhisattvas da Terra são aqueles que
continuamente colocam em prática a Lei
Mística e que a todo momento estão no
mesmo ritmo da eternidade da vida. Na
prática, eles são bodhisattvas, mas quanto
a seu estado de vida, são budas.
Após passar por essa experiência da
Cerimônia no Ar, o estado de vida do Sr.
Toda deve ter entrado no domínio da
eternidade da vida, o domínio da verdade
do Buda dos Últimos Dias da Lei.
O juramento da Soka Gakkai
Saito: A iluminação do Sr. Toda ocorrida na
prisão tornou-se o ponto primordial para o
incrível desenvolvimento da Soka Gakkai
após a Segunda Guerra Mundial.
Pres. Ikeda: É verdade. O fato de ter
compreendido sua missão como
Bodhisattva da Terra levou o presidente
Toda a dirigir a Soka Gakkai como segundo
presidente de acordo com o desejo dos
membros. E, no dia da posse, ele declarou
com a força do rugido de um leão o
grandioso e histórico juramento da Soka
Gakkai de atingir o número de 750 mil
famílias.
Gostaria de compartilhar as palavras que o
Sr. Toda proferiu naquela ocasião para o
bem de nossos companheiros mais jovens.
Saito: No discurso que ele proferiu no dia
da posse (3 de maio de 1951), o presidente
Toda disse: “Se nosso desejo é nos
levantar na época atual com o mesmo
espírito do Buda e realmente nos devotar
ao melhoramento do mundo, o único
caminho que temos a seguir é capacitar as
outras pessoas a praticarem o Budismo de
Daishonin. Essa é a melhor maneira para
atingir a felicidade pessoal, o caminho
mais direto para a paz mundial e a chave
para trazer a prosperidade para a nação.
Creio portanto que a propagação do
Budismo de Daishonin é a forma mais
elevada de prática budista.
“Como esse ato é dedicado à
concretização da felicidade de toda a
humanidade e equivale ao conceito
budista da salvação, está em total acordo
com o estado de vida do Buda. As pessoas
engajadas nesta prática não devem se
esquecer de que suas ações constituem a
máxima benevolência. Apresentar outras
pessoas ao budismo nada tem a ver com
debate religioso nem com o mero
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crescimento desta escola, mas sim com
igualar à benevolência de Nitiren
Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei,
e atuar em seu lugar. Espero que os
senhores nunca se esqueçam desse
espírito, nem mesmo quando estiverem
dormindo!
“Com base nesse espírito, estou
determinado a realizar com coragem um
grande movimento de propagação. O
momento propício chegou. O próximo ano
marcará os setecentos anos desde que
Nitiren Daishonin declarou o número de 750 mil famílias. Também
estabelecimento de seu ensino. A Soka
Gakkai é a única organização desse tipo
que apareceu em sete séculos. Os
senhores devem se orgulhar disso.
“Eu decidi dar minha vida pela causa do
Kossen-rufu. Juro converter 750 mil
famílias em toda minha vida. Se esse
objetivo não tiver sido alcançado quando
de meu falecimento, não precisam se
preocupar em realizar um funeral para
mim; simplesmente atirem minhas cinzas
ao mar, em frente a Shinagawa! Certo?”
Pres. Ikeda: Essa foi uma grandiosa
declaração feita com um estado de vida
equivalente ao do Buda e em exato acordo
com o Gosho. Dessa forma, o juramento de
Daishonin ganhou nova vida na época
atual.
Saito: Soube que houve diversas reações
quando o Sr. Toda lançou o inacreditável
número de 750 mil famílias.
Pres. Ikeda: Como o total de membros da
Soka Gakkai na época era de apenas uns
poucos milhares, quem poderia imaginar
que um objetivo tão improvável seria
alcançado em somente sete anos? Uma
pessoa pensou que talvez o Sr. Toda
quisesse dizer 75 mil! Outra disse ter
pensado que o presidente Toda
tencionava viver por um período
extremamente longo prolongando sua vida
por meio da fé. Outra ficou seriamente
perturbada, pensando que não poderia
suportar jogar os restos do presidente
Toda nas águas de Shinagawa. Nem
mesmo a reportagem publicada no Seikyo
Shimbun sobre a posse mencionou o
houve dirigentes que, em vez de pensar
em como poderiam evitar ver seu mestre
acabando nas águas de Shinagawa, tinham
a intenção de “sepultar” rapidamente seu
juramento.
Eu me enchi de profunda expectativa
diante da batalha crucial pelo Kossen-rufu
que estava para começar. De qualquer
forma, os sinceros sentimentos do
presidente Toda foram transmitidos a
todos. E todos nós entramos em ação.
Como discípulo do presidente Toda,
assumi minha posição na vanguarda da
Divisão dos Jovens e dei início à grandiosa
campanha de propagação para concretizar
o juramento de meu mestre.
Saito: Este mês de fevereiro marca o 50º
aniversário da “Campanha de Fevereiro”
que o senhor liderou no Distrito Kamata, de
Tóquio, uma atividade que se tornou o
ponto de partida para a concretização de
750 mil famílias.
Pres. Ikeda: A relação de mestre e
discípulo é o ponto primordial de tudo. O
presidente Toda atingiu a iluminação na
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prisão porque, unido ao presidente
Makiguti pelos laços espirituais de mestre
e discípulo, ele agiu com abnegada fé e
dedicação na propagação da Lei.
O presidente Makiguti reconheceu a
verdadeira essência do budismo. Em
outras palavras, esta não é uma religião
convencional, em que os sacerdotes
simplesmente oram em nome dos
praticantes, mas uma religião que capacita
as pessoas a viverem uma existência em
prol do bem maior, buscando a felicidade
tanto para si como a dos outros. Ele
declarou portanto que os seguidores de
Daishonin não deviam ser simplesmente
“crentes passivos” que se contentam em
deixar que os reverendos orem por eles.
Saito: O presidente Makiguti dizia:
“Devemos distinguir claramente entre os
crentes e os praticantes. Embora não haja
discordância sobre o fato de que alguém
que creia [na Lei Mística] terá suas orações
respondidas e receberá benefícios,
somente isso não se qualifica como prática
budista. Não existe algo como um buda
egoísta que simplesmente acumula
benefícios e não se empenha pelo
bem-estar dos outros.
Não podemos nos tornar budas a menos
que realizemos a prática de bodhisattva.
Em outras palavras, uma pessoa de fé
genuína é uma praticante que serve aos
outros com o espírito de um pai. No
entanto, quando realizamos uma prática
assim, as maldades competirão para nos
impedir... Uma pessoa de bem menor que
vive somente para si mesma seguramente
não será atacada pelas maldades. Ao
contrário, quando conduzimos uma vida
dedicada ao bem maior, dedicando-nos à
prática de bodhisattva, os demônios
surgirão sem falta. É graças ao surgimento
das maldades que podemos dizer que um
pessoa é uma praticante genuína.4
Pres. Ikeda: O Sr. Makiguti solicitava aos
membros que conduzissem uma vida em
prol do bem maior com base na prática de
bodhisattva, mesmo que isso significasse
enfrentar obstáculos e forças malignas. É
isso o que significa agir exatamente de
acordo com o grande juramento de toda a
vida de Daishonin de concretizar o
Kossen-rufu.
Saito: Sob a liderança dos três primeiros
presidentes, a Soka Gakkai assumiu o
grande desejo de concretizar o
Kossen-rufu e propagou esse desejo
amplamente. O desejo de criar uma rede
solidária de dez milhões de pessoas com
um mesmo propósito — um sonho
transmitido do presidente Makiguti para o
presidente Toda e dele para o senhor,
presidente Ikeda — simboliza muito isso.
Pres. Ikeda: Somente quando oramos com
o grande desejo de concretizar o
Kossen-rufu é que realmente vivemos de
acordo com o espírito com o qual
Daishonin inscreveu o Dai-Gohonzon para
o bem da humanidade. Quando fazemos
isso, o ilimitado estado de vida do Buda
responde. É por isso que a fé dos membros
da Soka Gakkai produz infinitos benefícios.
Por dez mil anos e mais
Pres. Ikeda: Por fim, gostaria de ler uma
passagem do Gosho “Retribuição aos
Débitos de Gratidão”. Esta passagem
poderia ser chamada de a proclamação da
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vitória de Daishonin, sua declaração da
concretização do Kossen-rufu pelos dez
mil anos e mais dos Últimos Dias da Lei.
Saito: Permita-me ler essa passagem: “Se a
benevolência de Nitiren for realmente
grande e abrangente, o prol da Lei Mística, declara ele, durará dez
Nam-myoho-rengue-kyo será propagado
por dez mil anos e mais, por toda a
eternidade, pois tem o poder benéfico de
abrir os olhos cegos de todos os seres
vivos neste país chamado Japão e
bloquear o caminho que leva ao inferno de
incessante sofrimento. Seu benefício
supera o de Dengyo, Tient’ai, Nagarjuna e
Mahakashyapa.
“Cem anos de prática na Terra da Perfeita
Alegria não se comparam ao benefício
obtido de um único dia de prática no
mundo impuro. Dois mil anos de
propagação do budismo durante os
Primeiros e os Médios Dias da Lei são
inferiores a uma hora de propagação nos
Últimos Dias da Lei. Isso não se deve à
sabedoria de Nitiren, mas simplesmente
por causa do tempo. Na primavera, as
flores se abrem e, no outono, os frutos
aparecem. O verão é quente e o inverno é
frio. As estações fazem isso, não é mesmo?
(WND, pág. 736.)
Pres. Ikeda: Esse é o juramento de
Daishonin para o futuro e pode também
ser interpretado como seu decreto para os
futuros praticantes do Sutra de Lótus.
“A grandiosa e abrangente benevolência
de Nitiren” é revelada em sua luta para
proteger a Lei, com o propósito
fundamental de conduzir as pessoas dos
Últimos Dias à iluminação. E ela é também
demonstrada no fato de, enquanto sofria
incrível perseguição, ele ter revelado o
Nam-myoho-rengue-kyo, a semente para
atingir o estado de Buda, capacitando
todas as pessoas a atingirem a iluminação.
O benefício obtido com o empenho em
mil anos e mais, ou seja, toda a eternidade.
Daishonin nos pede para darmos
continuidade à luta que ele iniciou, a qual é
o verdadeiro manancial do Kossen-rufu, e
a jamais permitirmos que essa corrente
seja interrompida. Ele também nos instrui a
capacitar tantas pessoas quanto possível a
receber o ilimitado benefício da Lei Mística,
pois nesse ato se encontra o brilhante
caminho da paz e da felicidade para a
humanidade.
Do ponto de vista do eterno futuro,
estamos ainda no estágio pioneiro do
Kossen-rufu. Foi há pouco que o
Kossen-rufu começou a se expandir pelo
mundo. Vamos avançar com coragem e
uma nova consciência de nossa imensa
responsabilidade de definir o rumo da era
em que vivemos.
1. Em “Resposta a Kyo’o”, Daishonin diz: “Eu, Nitiren, inscrevi minha vida em sumi, assim,
creia no Gohonzon de todo coração. O desejo do Buda é o Sutra de Lótus, mas o espírito
de Nitiren nada mais é que o Nam-myoho-rengue-kyo. Miao-lo declara em seu
comentário que a essência deste sutra é a revelação da iluminação original do Buda e
seu imensurável tempo de vida.” (WND, pág. 412.) 2. “Aquele que assim partiu” e “Aquele
que assim chega”: Títulos do Buda originados da palavra sânscrita tathagata, um dos
dez títulos honoríficos do Buda. Há duas opiniões relacionadas a essa palavra. Uma
delas a interpreta como tatha-gata, que significa “Aquele que assim partiu” e indica a
pessoa que partiu para o mundo da iluminação. A outra interpreta como tatha-agata,
que significa “Aquele que assim chega” e indica a pessoa que chegou do mundo da
verdade. 3. Cerimônia no Ar: Uma das três assembléias descritas no Sutra de Lótus, na
qual toda a congregação é suspensa no espaço acima do mundo saha. Ela se estende
desde o 11o capítulo (Surgimento da Torre de Tesouro) até o 22o capítulo, “Transferência”.
A essência dessa cerimônia encontra-se na revelação da iluminação original do Buda
ocorrida no remoto passado e a transferência da essência do sutra aos Bodhisattvas da
Terra. 4. Tsunessaburo Makiguti, Makiguchi Tsunesaburo Zenshu (Coletânea de Obras de
Tsunessaburo Makiguti). Tóquio, Daisan Bummeisha, 1987, vol. 10, págs. 151-152.
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