Terceira Civilização - Edição 408 - 01/08/2002 - pág.
4 - Diálogo Sobre Religião Humanística
Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística
(2) Nitiren Daishonin — Uma vida inteira
dedicada ao cumprimento de um juramento
Esta é a segunda parte da série “Diálogo sobre a
religião humanística” publicada na revista de estudo
mensal da Soka Gakkai, Daibyakurengue, edição de
fevereiro de 2002. Neste diálogo, o presidente da Soka
Gakkai Internacional, Daisaku Ikeda, e o coordenador
do Departamento de Estudo de Budismo da Soka
Gakkai, Katsuji Saito, enfocam vários
relacionados à história do budismo e à vida de Nitiren
Daishonin de forma abrangente e profunda. Com
certeza, este artigo contribuirá para facilitar
compreensão dos ensinamentos budistas e da filosofia
humanística que cada vez mais atrai a atenção das
pessoas do mundo inteiro.
Katsuji Saito: Da última vez, falamos em
termos gerais sobre o “grande desejo de
ampla propagação” que constitui a
essência dos escritos de Nitiren Daishonin.
Desta vez, gostaria de me aprofundar na
vida de Nitiren Daishonin, mais
especificamente no seu juramento de
concretizar o Kossen-rufu.
Presidente Daisaku Ikeda: É na vida dos
seres humanos que encontramos a
verdadeira religião. O Budismo de Nitiren
Daishonin é um budismo para as pessoas
comuns. O verdadeiro objetivo do budismo
é levar a paz e a felicidade às pessoas. O
Gosho revela pelo menos dois grandes
juramentos feitos por Daishonin durante
sua vida. O primeiro foi quando ele, aos
doze anos, jurou tornar-se a pessoa mais
sábia do Japão.1 E o segundo foi quando
ele estava com 32 anos, pouco antes de
declarar o estabelecimento de seu ensino.
Daishonin descreve este último juramento
no Gosho “Abertura dos Olhos”, quando ele
fala de sua decisão de refutar a calúnia
contra o Sutra de Lótus,
independentemente da intensidade das
perseguições que enfrentasse, e de
propagar o ensino correto pela felicidade
fatos de todas as pessoas. (cf. The Writings of
Nichiren Daishonin [WND], págs. 239-240.)
Daishonin dedicou a vida inteira ao
a cumprimento de seu juramento.
Saito: O primeiro juramento que Daishonin
fez aos doze anos poderia ser considerado
como o ponto de partida de sua busca. O
segundo foi feito quando ele se levantou
como o devoto do Sutra de Lótus, e se
expressa em sua altaneira declaração
sobre ser o “pilar do Japão” (WND, pág.
280.) e assim por diante, e que foi o tema
central de nosso diálogo da última vez.
Pres. Ikeda: Daishonin fez o primeiro
juramento ao entrar para o templo Seitioji,
na Província de Awa (atual Província de
Tiba). Aos doze anos, ele estava na idade
equivalente ao de um estudante da sexta
série de hoje. É provável que a razão pela
qual ele tenha entrado para o Seitioji numa
idade tão tenra não se devia tanto ao início
do treinamento para tornar-se sacerdote,
mas sim para receber educação básica na
escrita e na leitura.
Saito: Naquela época, os templos budistas
de todo o Japão funcionavam como
instituições educacionais. Daishonin foi
ordenado no sacerdócio quatro anos
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 1.
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depois, quando estava com dezesseis
anos.
Pres. Ikeda: Apesar de ele ter sido
ordenado formalmente somente aos
dezesseis anos de idade, já aos doze anos
Daishonin ansiava ardentemente aprender
os ensinos do budismo, o espírito essencial
de alguém que deseja renunciar ao mundo
secular e iniciar uma vida sacerdotal.
Acredita-se que a busca ativa da verdade
que Daishonin empreendeu começou
desde que ele era bem jovem.
Saito: O próprio Daishonin diz que ele
estava com “doze ou dezesseis anos”
(Gosho Zenshu, pág. 1407.) quando entrou
para o sacerdócio.
Pres. Ikeda: Isso nos mostra o quanto era
profundo e significativo seu juramento de
tornar-se a “pessoa mais sábia do Japão”.
Saito: A respeito desse juramento,
Daishonin declara: “Há profundas razões
para as orações que ofereci, mas não
posso escrevê-las em detalhes aqui.”
(Gosho Zenshu, pág. 1292.) Isso indica que
ele tinha muito mais a dizer sobre essa
questão.
Pres. Ikeda: E ele o faz em várias outras
partes do Gosho. Uma delas é seu
compromisso de abrir o caminho para a
iluminação de todas as pessoas,
começando com seus pais. Ele escreveu:
“Quando um homem deixa seus pais para
tornar-se monge, deve sempre ter como
objetivo a salvação de sua mãe e de seu
pai.” (WND, pág. 228.) Isso soa como uma
declaração geral, mas refere-se também a
si próprio. Em outro trecho, Daishonin,
relembrando seu ingresso no sacerdócio,
observou: “O que podemos dizer, então,
das pessoas que estão se devotando ao
budismo? Com certeza, elas não deveriam
se esquecer da dívida de gratidão que têm
para com seus pais e mestres e também
seu país. Mas, se alguém tiver intenção de
saldar essas grandes dívidas de gratidão,
pode-se fazê-lo somente se aprender e
dominar o budismo, tornando-se uma
pessoa de sabedoria.” (WND, pág. 690.)
Vemos aqui que o juramento de Daishonin
de tornar-se a pessoa mais sábia do Japão
vem de seu desejo de retribuir a dívida de
gratidão aos seus pais, entre outros, e de
conduzir todas as pessoas à iluminação.
Saito: Ele fala de seus pais querendo dizer
todas as pessoas, certo?
Pres. Ikeda: Correto, e isso é um ponto
importante. Em seus escritos, Daishonin
indica que nasceu como uma pessoa
comum em uma humilde família de
pescadores.
Quando criança, Daishonin naturalmente
observava os pais juntando forças e
trabalhando seriamente com as outras
pessoas da comunidade. Presume-se
também que seus pais tenham desfrutado
de relações amigáveis com o governante
do feudo e portanto é provável que
tenham servido em algum tipo de posição
de liderança, talvez como mediadores
entre o povo e as autoridades. De qualquer
forma, é um fato que Daishonin tenha
crescido entre pessoas comuns.
Compreendendo que a sabedoria era
crucial se ele quisesse saldar seu débito
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de gratidão e conduzir as pessoas à
felicidade, ele fez o grande juramento de
“tornar-se a pessoa mais sábia do Japão”.
Saito: Em outras palavras, sua declaração
não queria dizer em absoluto que ele
aspirava a tornar-se parte de uma elite que
estivesse acima das pessoas.
Pres. Ikeda: O Budismo de Daishonin é um
ensino do povo e para o povo — um ensino
em que as pessoas são as protagonistas.
Devemos compreender que o juramento
do jovem Daishonin determinou
firmemente a direção que seu budismo
tomaria como um ensino para as pessoas
comuns.
Saito: Por que é necessário tornar-se uma
pessoa de sabedoria para retribuir à dívida
de gratidão aos pais e aos outros?
Pres. Ikeda: Isso fica claro nos escritos de
Daishonin. Para capacitarmos nossos pais a
atingirem a verdadeira felicidade, devemos
libertá-los do sofrimento da vida e da
morte. A sabedoria do budismo é o único
meio para isso por transcender a vida e a
morte.
Daishonin declara ter começado a estudar
o budismo na infância com o pensamento
de que deveria “aprender primeiro sobre a
morte para então aprender sobre outras
questões”.2 Em outra parte, ele também
escreveu: “Desde criança, eu, Nitiren,
nunca orei por questões seculares desta
vida mas busquei sinceramente tornar-me
um buda.” (WND, pág. 839.) Tornar-se Buda
significa acima de tudo vencer os
sofrimentos da vida e da morte. Essas
declarações revelam que a questão da
vida e da morte era sem dúvida o fator
principal por trás do juramento de
Daishonin.
O profundo desejo de Daishonin era
conduzir seus pais, que haviam lutado para
criá-lo, e seus amigos, que haviam
trabalhado tanto junto com eles, ao
grandioso caminho para a verdadeira
felicidade. O profundo sentimento de
gratidão de Daishonin levou-o a fazer um
juramento de dominar a essência do
budismo e assim compreender a verdade
fundamental da vida e da morte.
Saito: Ele jurou adquirir sabedoria para
transcender o sofrimento da vida e da
morte para que pudesse capacitar todas as
pessoas a terem uma vida de genuína paz
e tranqüilidade. Esta é outra razão para as
orações que Daishonin ofereceu ao entrar
para o Seityoji.
Pres. Ikeda: Por exercer o ofício da pesca,
sua família estava constantemente sujeita
a riscos e perigos. Por esta razão, é muito
provável que Daishonin, desde tenra idade,
tenha compreendido que a felicidade das
pessoas estava relacionada com o modo
como cada uma enfrentava a questão da
morte.
O início de uma “era de conflito”
Pres. Ikeda: O juramento de Daishonin
também pode ser compreendido de
acordo com as circunstâncias da época. A
sociedade naquele tempo devia estar em
tal estado que ele se sentiu compelido a
orar pela felicidade de seus pais e das
pessoas.
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Saito: Daishonin nasceu em 1222. Esse foi o
ano seguinte ao da Revolta de Jokyu, em
que a Corte Imperial desafiou a hegemonia
do xogunato Kamakura e foi derrotada.
Pres. Ikeda: Essa foi uma importante
batalha que possibilitou ao governo militar,
cuja influência havia sido anteriormente
confinada à região oriental do Japão,
estender efetivamente seu poder por todo
o país. A profunda consciência de
Daishonin, em tão tenra idade, da
necessidade de levar a felicidade para as
pessoas estava fundada na incerteza e
instabilidade da época em que ele havia
crescido.
O país havia entrado em um período de
estabilidade somente na proporção em
que o governo militar havia consolidado o
poder e estabelecido uma ordem social
dominada pelos clãs guerreiros. No
entanto, observando-se atentamente a
situação, estava longe de ser estável. De
fato, o estabelecimento de um sistema
social dirigido por guerreiros significava a
chegada de uma era de domínio militar.
Em outras palavras, isso marcou o início de
uma “era de conflito”.
Saito: Como o senhor explicou da última
vez, o “conflito” é a principal característica
do período conhecido como os Últimos
Dias da Lei.
Pres. Ikeda: Daishonin deve ter sentido isso
profundamente. Ou talvez tenha
acontecido algum incidente que o levou a
essa conclusão.
Saito: Uma possibilidade é que o
administrador local, aproveitando-se da
vitória do governo militar na Revolta de
Jokyu, começou a abusar do poder e a
causar sofrimentos às pessoas.
Pres. Ikeda: É verdade que posteriormente
Daishonin apoiou o lorde do feudo (da Vila
de Tojo, na Província de Awa) em sua luta
contra o administrador das terras, Tojo
Kaguenobu, que havia obtido o controle da
vila com o retorno do regime Kamakura. As
ações do administrador e de seus
companheiros devem ter sido injustas.
Tempos depois, Kaguenobu tornou-se o
cabeça da Perseguição de Komatsubara.3
De qualquer forma, fica claro que quando
jovem Daishonin ponderava
profundamente sobre as conseqüências
da Revolta de Jokyu.4
Saito: Em sua tentativa de derrubar o
governo Kamakura, o imperador
aposentado Gotoba e seus seguidores
praticavam os rituais da escola da
Verdadeira Palavra, consideradas como as
orações supremas do país naquela época.
Essa foi uma época em que as pessoas
acreditavam que tais orações poderiam
rivalizar com o poderio da força militar.
Além do mais, a Corte Imperial tinha ao seu
lado a autoridade da tradição e isso
contava muito entre o povo, que achava
que a corte prevaleceria. As pessoas nunca
poderiam imaginar que a questão acabaria
com a vitória dos que apoiavam o governo
militar, os quais eram meros vassalos e não
haviam realizado as orações de forma
intensa.
Pres. Ikeda: Daishonin analisou
cuidadosamente o significado desses
acontecimentos que derrubaram
completamente as idéias preconcebidas
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das pessoas.
A Revolta de Jokyu não apenas destituiu a
Corte Imperial e a aristocracia de sua
autoridade embasada na tradição exercida
sobre a sociedade como também
enfraqueceu as escolas budistas já
estabelecidas, as quais faziam parte dessa
sociedade. Isso mostrou com clareza a
ineficácia do budismo obsoleto e de suas
orações. Daishonin estava ciente dessas
questões e se dedicou a buscar um
caminho para aliviar o sofrimento de seus
pais e das outras pessoas a quem ele
devia gratidão.
A era dos Últimos Dias da Lei, governada
pela ganância e pelo poder, prosseguia, ao
passo que se tornava aparente a
incapacidade do budismo tradicional de
levar as pessoas à felicidade. Em meio a
tudo isso, a ânsia pelo surgimento de um
novo budismo que servisse a esse objetivo
e que transformasse a época
intensificava-se, assim como o ardente
desejo de Daishonin de tornar-se a “pessoa
mais sábia do Japão”.
Recebendo a “jóia da sabedoria”
Saito: Após ter feito esse grande
juramento, o jovem Daishonin orou e
estudou seriamente. Em seus escritos, ele
descreve como, após ter sido ordenado
aos dezesseis anos, orou diante da estátua
do Bodhisattva Tesouro do Espaço,5 que
era o objeto de adoração do templo
Seityoji, e conta como esse bodhisattva
apareceu e lhe concedeu “uma jóia da
sabedoria tão brilhante quanto a estrela da
manhã”. (WND, págs. 175-176.) Daishonin
declara que com essa sabedoria ele
conseguiu o domínio geral dos principais
ensinos da época, conhecidos como “as
oito escolas e as dez escolas”.6
Pres. Ikeda: A sabedoria que nos permite
compreender a essência de todas as
escolas e de todos os sutras é a que deriva
da raiz mais profunda do budismo. Em
outras palavras, Daishonin havia adquirido
a sabedoria da Lei Mística. Armado do
grande desejo de conduzir
fundamentalmente todas as pessoas à
iluminação, ele buscou ardentemente o
caminho e assim despertou para essa
sabedoria.
Saito: Isso significa que ele atingiu a
iluminação do Buda?
Pres. Ikeda: Significa que ele
repentinamente se conscientizou da
natureza intrínseca de sua própria vida; ele
revelou a natureza inata de Buda na vida
das pessoas comuns.
Saito: Então, é possível atingir a iluminação
mesmo com a tenra idade de dezesseis
anos?
Pres. Ikeda: Daishonin recebeu a “jóia da
sabedoria” por causa de sua profunda e
sincera oração para conduzir de alguma
forma as pessoas à iluminação. A questão
é que ele não considerou esse
oferecimento como seu destino final, mas
sim como o ponto de partida para uma
busca ainda maior do caminho.
Saito: Até declarar o estabelecimento de
seu ensino aos 32 anos [no dia 28 de abril
de 1253], ele estudou intensamente em
Kamakura, no Monte Hiei [centro da escola
budista Tendai do Japão] e em outros
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lugares.
Pres. Ikeda: O juramento de Daishonin era
de tornar-se a pessoa mais sábia do Japão
para que pudesse capacitar todos aqueles
a quem devia gratidão a concretizarem a
verdadeira felicidade. À medida que
estudava, seu juramento se expandia,
transformando-se no desejo de levar a
felicidade a todas as pessoas dos Últimos
Dias da Lei. Isso se tornou seu grande
desejo de concretizar o Kossen-rufu, o que
o levou a declarar o estabelecimento de
seu ensino.
Num certo sentido, seria fácil para uma
pessoa que atingiu a iluminação desfrutar
sozinha a paz e a segurança desse estado
de vida. Daishonin, no entanto, buscou
incessantemente a sabedoria para
conduzir as pessoas à felicidade e
realmente transformar a época. Sua
jornada não acabou quando ele atingiu a
iluminação.
A iluminação sempre inicia com um
juramento. Após ter estabelecido seu
ensino, Daishonin continuou mantendo seu
juramento enquanto desafiava e vencia
grandes perseguições. Essa luta
possibilitou-lhe revelar sua verdadeira
identidade como o Buda dos Últimos Dias
da Lei.
Saito: Isso é extremamente significativo. O
senhor poderia falar mais detalhadamente
sobre essa relação entre o juramento e a
iluminação?
Pres. Ikeda: A busca de Daishonin
começou com suas orações no templo
Seityoji, as quais resultaram na experiência
do recebimento da “jóia da sabedoria”.
Como já mencionamos anteriormente, isso
foi realmente a transformação de seu
juramento em iluminação.
Com base em sua iluminação, ele
começou então a pesquisar os textos
budistas, aprofundando seus estudos em
Kamakura, no Monte Hiei e em outros
lugares. Isso o levou a fazer um grande
juramento pela concretização do
Kossen-rufu e depois a estabelecer seu
ensino. Em outras palavras, foi um grande
juramento originado de sua iluminação.
Após ter estabelecido seu ensino,
Daishonin enfrentou e venceu enormes
perseguições como o devoto do Sutra de
Lótus que se levantou com a
determinação de concretizar o
Kossen-rufu. Com sua abnegada
dedicação à propagação da Lei diante de
todos os obstáculos, ele pôde abandonar
sua identidade provisória e revelar sua
verdadeira identidade de mortal comum,
manifestando o estado de Buda existente
desde o tempo sem início.
Saito: Então podemos dizer que os estudos
de Daishonin tinham como objetivo
descobrir como sua iluminação se
encaixava nos ensinos do budismo.
Pres. Ikeda: Podemos supor que, com base
em sua iluminação, Daishonin dedicou-se
sinceramente à busca de um ensino que
capacitasse todas as pessoas a concretizar
a verdadeira felicidade nos Últimos Dias da
Lei. Suas investigações levaram-no à
conclusão de que o Sutra de Lótus era o
mais importante de todos os sutras e
portanto a resposta para sua odisséia. A
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sabedoria que brotou de sua vida era a Lei
Mística do Sutra de Lótus ensinado pelo
Buda Sakyamuni. Ele compreendeu que
esse era o único ensino que poderia
libertar as pessoas dos Últimos Dias do
sofrimento da vida e da morte e que
poderia transformar esta era de ganância e
conflitos.
Saito: Assim, ele declarou o simultaneidade de causa e efeito, que
estabelecimento de seu ensino.
Acredita-se que ele tenha feito isso com a
nobre determinação de viver como devoto
do Sutra de Lótus, ciente de que isso traria
grandes perseguições.
Exatamente como esclarecemos na parte
anterior, o devoto do Sutra de Lótus é
essencialmente a pessoa que se dedica ao
grande desejo de concretizar o
Kossen-rufu nos Últimos Dias.
Pres. Ikeda: Os estudos de Daishonin
resultaram em seu grande juramento em
prol do Kossen-rufu. Além de estar ligado
ao juramento feito aos doze anos, esse
juramento também refletia a clara
consciência do próprio Daishonin de que
estava cumprindo o grande desejo do
Buda expresso no Sutra de Lótus.
Saito: Parece que ele também
compreendia que estava assumindo a
missão do Bodhisattva Práticas Superiores,
o líder dos Bodhisattvas da Terra.
Pres. Ikeda: Embora não esteja explícito no
Gosho, há uma forte indicação disso com a
mudança de seu nome para “Nitiren”
quando ele estabeleceu seu ensino.
“Nitiren” representa o “Sol e a Lua” e a “flor
de lótus”.7 O Sutra de Lótus compara o
Bodhisattva Práticas Superiores ao Sol e à
Lua, que dispersam a escuridão da vida
dos seres vivos, e também compara os
Bodhisattvas da Terra às puras flores de
lótus que desabrocham no pântano.8
Podemos dizer ainda que a flor de lótus
corresponde à Lei Mística da
capacida os seres comuns dos nove
mundos de uma era maligna manchada
pelas cinco impurezas a abrirem o mundo
do estado de Buda.9
Os obstáculos levam à iluminação
Saito: Durante o período de 21 anos desde
a época em que estabeleceu seu ensino
aos 32 anos até seu retiro para o Monte
Minobu, Daishonin enfrentou uma série de
dificuldades, incluindo quatro principais
perseguições.10
Pres. Ikeda: Apesar de tudo, ele deixou a
nobre Lei para o bem da humanidade no
infinito futuro. Assim como Daishonin disse,
“Pode-se considerar os obstáculos como a
verdadeira paz e tranqüilidade”. (Gosho
Zenshu, pág. 750.) Quando o grande desejo
de concretizar o Kossen-rufu soa em nosso
coração, mesmo a pior das perseguições
nada mais é que poeira jogada ao vento.
De fato, encontramos os obstáculos que
nos levam à iluminação.
1. Em “O Mestre Tripitaka Shan-wu-wei”, Daishonin diz: “Desde a época em que eu era
criança, orava ao Bodhisattva Tesouro do Espaço pedindo-lhe que eu pudesse me tornar
a pessoa mais sábia de todo o Japão. O bodhisattva transformou-se num venerável
sacerdote diante de meus próprios olhos e concedeu-me uma jóia da sabedoria tão
brilhante quanto a estrela da manhã. Sem dúvida, com isso pude obter um domínio geral
dos principais ensinos das oito escolas mais antigas do budismo no Japão, e também os
das escolas Zen e Nembutsu.” (WND, págs. 175-176.) 2. Em “Myoho Ama Gozen Gohenji”,
Daishonin diz: “Desde minha infância, eu, Nitiren, estudei o budismo com um único
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 7.
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pensamento. A vida como ser humano é pateticamente efêmera. Mal expiramos e já

estamos inspirando. Nem mesmo as gotas de orvalho prestes a serem sopradas pelo

vento são suficientes para descrever sua transitoriedade. Ninguém, sábio ou tolo, jovem

ou velho, pode escapar da morte. Portanto, creio que devo primeiro aprender sobre a

morte para então aprender sobre outras questões.” (Gosho Zenshu, pág. 1404.) 3.

Perseguição de Komatsubara: Tentativa de Tojo Kaguenobu de matar Nitiren Daishonin

em Komatsubara, na Província de Awa, no dia 11 de novembro de 1264. Daishonin sofreu

um corte de espada na testa e uma fratura na mão esquerda; dois de seus seguidores

foram mortos nesse incidente. 4. Em “Shinkokuo Gosho”, Daishonin diz: “Como eu tinha

essas dúvidas [sobre a derrota da Corte Imperial na Revolta de Jokyu], desde que era

menino estudei a fundo os dois caminhos do budismo exotérico e esotérico e as

escrituras das várias escolas budistas, seja com os outros, seja lendo e fazendo

considerações sozinho. Para observarmos o próprio rosto precisamos de um espelho

límpido. Para julgar a prosperidade ou o declínio de uma nação, nada supera o espelho

do budismo.” (Gosho Zenshu, pág. 1521.) 5. Bodhisattva Tesouro do Espaço: Akasagarbha,

em sânscrito. Dizem que esse bodhisattva possui sabedoria e boa sorte tão ilimitadas

quanto o próprio Universo. Ele concede sabedoria e boa sorte às pessoas e as conduz à

iluminação respondendo às suas orações. Esse bodhisattva é descrito de diversas

formas; por exemplo, com uma espada simbolizando a sabedoria na mão direita e com

uma flor de lótus e uma jóia da concessão de desejos do benefício na mão esquerda. 6.

Oito escolas e dez escolas: As oito escolas indicam as principais escolas do budismo no

Japão anterior ao período Kamakura (1185-1333), e compreendem as seis escolas do

Budismo de Nara, mais as escolas Tendai e Verdadeira Palavra. Somando a essas

escolas a Zen e a Nembutsu, que se propagaram amplamente durante o período

Kamakura, temos então dez escolas. 7. Daishonin escreveu: “O Sutra de Lótus é o Sol e a

Lua e a flor de lótus. Portanto, ele é chamado de Sutra de Lótus da Lei Maravilhosa.

Nitiren também é como o Sol e a Lua e a flor de lótus.” (WND, pág. 186.) 8. O 21o capítulo

do Sutra de Lótus, “Os Poderes Místicos do Buda”, declara: “Como a luz do Sol e da Lua /

pode acabar com toda escuridão, / esta pessoa que passa pelo mundo / pode dissipar

a escuridão dos seres vivos, / fazendo com que um número imensurável de bodhisattvas

/ habitem no final o Veículo Único.” (LS21, pág. 276.) E o 15o capítulo, “Emergindo da

Terra”, diz que os Bodhisattvas da Terra estão “aprendendo habilmente o caminho do

bodhisattva, despojado das coisas mundanas / como a flor de lótus na água”. (LS15,

pág. 222.) 9. Cinco impurezas: Impurezas da era, do desejo, dos seres vivos, da visão e da

própria vida. São citadas no segundo capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”. 10. Quatro

perseguições principais: Perseguição de Matsubagayatsu (1260), Exílio em Izu (1261),

Perseguição de Komatsubara (1264) e Perseguição de Tatsunokuti e Exílio em Sado (1271).

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