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A vida de Nichiren Daishonin | Exame • TC • Ed.

562 • 13/06/2015 • Quezia Rebeca Silva Flores (723343)

TC

EXAME

A vida de Nichiren Daishonin


Princípios básicos e personagens do budismo
Nichiren Daishonin nasceu no décimo sexto dia do segundo mês de 1222, na Vila de Kominato, na
costa leste da província de Awa (atual prefeitura de Chiba). Seu pai, Mikuni no Taifu, e sua mãe,
Umegiku, viviam da pesca. Conforme Nichiren Daishonin declarou em Carta de Sado, ele era de
uma família chandala. Chandala constituía a classe social mais baixa do antigo sistema de castas
da Índia, abrangendo profissões como a de pescadores, carcereiros e abatedores de animais.
Daishonin fazia questão de deixar claro que sua origem era a mais humilde. Quando criança,
recebeu o nome de Zennichi-maro. Aos 12 anos, deixou o lar e a vila pesqueira onde morava para
estudar num templo próximo chamado Seicho-ji. Naquela época, os templos eram os únicos locais
em que as pessoas podiam aprender a ler e a escrever.

Nesse templo, que pertencia à escola Tendai, Zennichi-maro desenvolveu o interesse pelo estudo
do budismo. Ali, estudou sob orientação do sacerdote sênior Dozen-bo e recebeu instruções não
apenas sobre as doutrinas da escola Tendai, mas também sobre as das escolas Palavra
Verdadeira e Terra Pura.

Aos 16 anos, Zennichi-maro resolveu ordenar-se e adotou o nome religioso Zesho-bo Rencho.
Algum tempo depois, deixou seu mestre e partiu para estudar em Kamakura, onde realizou extensa
pesquisa sobre os ensinamentos das escolas Terra Pura e Zen. Mas Kamakura era ainda uma
cidade nova e com fraca tradição no budismo. Em 1242, após três anos estudando nessa cidade,
Rencho retornou ao templo Seicho-ji, mas no mesmo ano partiu para o oeste do Japão. Desta vez,
foi para o Monte Hiei, sede da escola Tendai e do budismo em geral; depois para o Monte Koya,
sede da escola Palavra Verdadeira; e, em seguida, para outros templos importantes das regiões de
Quioto e Nara. Após aproximadamente dez anos de estudo no Monte Hiei e em vários outros
lugares, Rencho concluiu que o verdadeiro ensinamento do budismo estava no Sutra do Lótus — a
essência da iluminação do buda Shakyamuni. Todos os outros sutras eram simples meios que
conduziam ao Sutra do Lótus.

Rencho retornou ao templo Seicho-ji em 1253. Ali, logo no início da manhã do vigésimo oitavo dia
do quarto mês, recitou o Nam-myoho-renge-kyo pela primeira vez, fornecendo desse modo a chave
para todas as gerações futuras desvendarem o tesouro da iluminação oculto no próprio coração.
Também mudou seu nome para Nichiren (Lótus do Sol).
Em seguida, ao meio-dia, Daishonin expôs sua doutrina no templo, na presença de seu mestre e de
outros clérigos e aldeões. Friccionando o rosário budista entre a palma das mãos, ele recitou Nam-
myoho-renge-kyo três vezes. Então, declarou que nenhum dos ensinamentos anteriores ao Sutra
do Lótus revelavam a iluminação do Buda, que todas as escolas baseadas nesses ensinamentos
eram desencaminhadoras. Disse também que o Sutra do Lótus era supremo e que o Nam-myoho-
renge-kyo, a essência desse sutra, era o único ensinamento capaz de conduzir as pessoas dos
Últimos Dias da Lei à iluminação. Apenas alguns dos presentes compreenderam o significado da
primeira pregação de Nichiren Daishonin. Na realidade, reagiram irados, pois lhes pareceu um
ataque às suas próprias crenças religiosas. O administrador da região, Tojo Kagenobu, devotado
seguidor da escola Terra Pura, tomou medidas para prender Daishonin. No entanto, ele conseguiu
escapar e manteve sua decisão de ir a Kamakura transmitir seu ensinamento.

Contudo, antes de partir, visitou seus pais, convertendo-os à nova crença.

No oitavo mês de 1253, Daishonin se instalou numa pequena cabana num local chamado
Matsubagayatsu, a sudeste de Kamakura. Começou a difundir os ensinamentos do Sutra do Lótus
ali e na casa das pessoas que o apoiavam. Na primeira oportunidade, visitou templos na cidade
para debater com os priores. Denunciou as crenças da escola Terra Pura por ensinar que a
salvação poderia ser obtida pela simples invocação do nome do buda Amida, e também criticou
abertamente o Zen por rejeitar os sutras.

Suas investidas despertaram a ira não só dos líderes religiosos, mas também das autoridades
governamentais, pois estas eram, em muitos aspectos, ardentes defensoras das escolas Terra
Pura e Zen. Logo, Nichiren Daishonin enfrentou forte oposição, porém, continuou se esforçando
para converter as pessoas ao seu ensinamento. Foi nesses primeiros anos de propagação que
grandes discípulos como Shijo Kingo, Toki Jonin, Kudo Yoshitaka e Ikegami Munenaka, entre
outros, se converteram.

No início de 1256, o Japão sofreu uma série de calamidades: tormentas, enchentes, secas,
terremotos e epidemias. Em 1257, um terrível terremoto destruiu um grande número de templos,
edifícios do governo e residências em Kamakura. E, em 1259 e em 1260, a população foi assolada
pela fome e pela peste.

Nichiren Daishonin acreditava que havia chegado o momento de explicar a causa básica dessas
catástrofes. Em 1258, ele foi a Jisso-ji, um templo em Iwamoto (atual prefeitura de Shizuoka) para
consultar manuscritos do cânone budista e reunir provas irrefutáveis da causa real dos desastres.
Durante sua estada nesse templo, conheceu um acólito de 13 anos. Esse jovem ficou tão
impressionado com a pessoa de Daishonin que se tornou seu discípulo. Nessa ocasião, Daishonin
lhe deu o nome Hoki-bo. Posteriormente, denominou-o Nikko, designando-o como seu legítimo
sucessor.
O homem mais poderoso do país na época era Hojo Tokiyori, ex-regente do xogunato Kamakura
que havia se retirado no templo Zen, Saimyo-ji. No décimo sexto dia do sétimo mês de 1260,
Nichiren Daishonin apresentou a Tokiyori um tratado intitulado Estabelecer o Ensinamento Correto
para a Pacificação da Terra. Nesse tratado, ele atribui a causa das recentes calamidades à calúnia
ao correto ensinamento do budismo e à crença das pessoas em falsas doutrinas. Afirma que a
adoração ao buda Amida é a fonte dessa calúnia e que a nação continuaria sofrendo na mesma
proporção, a menos que as pessoas renunciassem às crenças errôneas e aceitassem os
ensinamentos do Sutra do Lótus. Para fundamentar suas declarações, ele incluiu citações do Sutra
da Luz Dourada, do Sutra Mestre dos Remédios, do Sutra dos Reis Benevolentes e do Sutra da
Grande Compilação. Esses sutras afirmam que se houver uma nação hostil ao correto
ensinamento, esta sofrerá vários desastres. Dos sete desastres mencionados no Sutra Mestre dos
Remédios, cinco já haviam atingido o Japão. Nichiren Daishonin previu que, se as autoridades
persistissem em rechaçar o correto ensinamento, os dois desastres restantes — invasão
estrangeira e conflitos internos — também devastariam a nação.

Tudo indica que Tokiyori e as autoridades governamentais ignoraram o tratado escrito por
Daishonin. Entretanto, quando as notícias chegaram até os seguidores da escola Terra Pura, estes
ficaram enraivecidos. Um grupo desses seguidores correu para a cabana de Nichiren Daishonin,
em Matsubagayatsu, com a intenção de matá-lo. Esse acontecimento é conhecido como
Perseguição de Matsubagayatsu e ocorreu na noite do vigésimo sétimo dia do oitavo mês de 1260.

Daishonin conseguiu escapar por pouco e, com alguns discípulos, seguiu para a província de
Shimosa, onde permaneceu por um tempo na residência de Toki Jonin, seu seguidor e figura
influente na região. Mas o senso de missão de Daishonin não lhe permitiu ficar ali por muito
tempo. Em menos de um ano, ele estava de volta a Kamakura para retomar a propagação de seus
ensinamentos.

Alarmados com o sucesso de Daishonin em atrair seguidores, os clérigos da escola Terra Pura
levantaram falsas acusações contra ele e submeteram-nas ao governo de Kamakura. O regente da
época era Hojo Nagatoki, filho de Shigetoki, um sacerdote leigo do templo Gokuraku-ji e inimigo
declarado de Daishonin. Sem provas ou julgamento prévio, Nagatoki aceitou as acusações e, no
décimo segundo dia do quinto mês de 1261, decretou o exílio de Nichiren Daishonin à desolada
costa ao longo da Península de Izu. Essa foi a primeira perseguição que Daishonin sofreu por parte
do governo.

Izu era um reduto da escola Terra Pura. Portanto, o exílio a essa localidade significava que a vida
de Daishonin corria grande perigo. Porém, felizmente, ele foi acolhido por Funamori Yasaburo, um
pescador local, e a esposa deste. O casal tratou-o com muita generosidade.

Mais tarde, Daishonin conquistou a confiança de Ito Sukemitsu, o administrador da área, que
estava doente. Sukemitsu converteu-se aos ensinamentos de Daishonin após este ter orado com
sucesso pela recuperação da saúde do administrador.
Não passou muito tempo e o governante, aparentemente aconselhado pelo ex-regente Hojo
Tokiyori, concedeu o indulto, e Nichiren Daishonin retornou a Kamakura no segundo mês de 1263.

Preocupado com sua mãe idosa, Daishonin voltou para casa em Awa, no outono de 1264. Já fazia
algum tempo que o pai havia falecido, e a mãe encontrava-se gravemente enferma. Então, ele orou
com fervor pela recuperação da saúde da mãe, que venceu a doença e viveu por mais quatro anos.
Porém, a notícia do retorno dele chegou ao administrador Tojo Kagenobu. Quando Daishonin e um
grupo de discípulos partiam para visitar Kudo Yoshitaka, um seguidor da localidade, foram
atacados por Tojo e seus soldados num local chamado Komatsubara. Nessa emboscada,
conhecida como Perseguição de Komatsubara, ocorrida no décimo primeiro dia do décimo
primeiro mês de 1264, Daishonin escapou da morte, mas foi ferido na testa por uma espada e teve
a mão esquerda quebrada. Dois de seus discípulos, Kyoninbo e Yoshitaka, foram mortos nessa
ocasião.

Em 1268, a invasão estrangeira que ele havia predito parecia iminente. Nesse ano, chegou a
Kamakura uma carta dos mongóis exigindo que o Japão declarasse lealdade a Kublai Khan, o
soberano mongol. Os líderes japoneses perceberam que a nação se encontrava em grande perigo.
De imediato, foram erguidas fortificações defensivas em Kyushu, em toda a faixa litorânea voltada
para a Coreia, e foi ordenado a todos os templos e santuários do país que oferecessem orações
pela derrota do inimigo.

Nichiren Daishonin, que havia retornado a Kamakura, estava convicto de que chegara o momento
de agir. Enviou onze cartas de advertência às mais importantes autoridades, incluindo o regente
Hojo Tokimune, o subchefe do Posto de Comando Militar, Hei no Saemon, e dois dos mais
influentes clérigos de Kamakura na época, Doryu, da escola Zen, e Ryokan, da escola Preceitos-
Palavra Verdadeira. Essas cartas reafirmam, de forma resumida, a declaração feita no tratado
Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra, ou seja, se o governo não
aceitasse o ensinamento correto, o país sofreria os dois últimos desastres preditos no sutra.
Todos os onze homens decidiram ignorar essas advertências.

Em 1271, o país foi assolado por uma seca persistente. O governante, temendo a fome, ordenou a
Ryokan, famoso e respeitado prior do templo Gokuraku-ji, que orasse por chuva. Ao saber disso,
sem demora, Daishonin escreveu uma carta a Ryokan desafiando-o a fazer chover. Na carta,
Daishonin declarava que se tornaria discípulo de Ryokan caso ele fosse bem-sucedido. Mas, se o
prior do templo Gokuraku-ji falhasse, deveria, então, tornar-se discípulo de Daishonin. O desafio foi
aceito por Ryokan. No entanto, apesar das suas orações e das de centenas de sacerdotes
assistentes, nenhuma chuva caiu. Ao contrário, Kamakura foi assolada por fortes ventos. No fim,
Ryokan não só se recusou a seguir Daishonin como também começou a tramar contra ele em
conluio com Hei no Saemon.

No décimo dia do nono mês de 1271, Hei no Saemon intimou Nichiren Daishonin a comparecer à
corte para responder às acusações. Esse fato marcou o início da segunda fase de perseguições
movidas pelas autoridades. Daishonin refutou eloquentemente todas as acusações e repetiu suas
predições de invasão estrangeira e conflitos internos no clã governante. Dois dias depois, Hei no
Saemon e seus soldados invadiram a morada de Daishonin. Embora inocente de todas as
acusações, ele foi preso e sentenciado ao exílio na Ilha de Sado.

Entretanto, Hei no Saemon havia decidido decapitar Daishonin em Tatsunokuchi, numa área
afastada do centro de Kamakura. Nichiren Daishonin e seus seguidores acreditavam que a morte
era iminente, mas, no último instante, um objeto luminoso surgiu de repente no céu e aterrorizou os
soldados, que desistiram da execução. Após esse fato, Daishonin declarou ter renascido como o
Buda dos Últimos Dias da Lei. Uma descrição detalhada desse acontecimento marcante pode ser
encontrada nas próprias palavras de Daishonin em seu escrito As Ações do Devoto do Sutra do
Lótus. Esse acontecimento, ocorrido no décimo segundo dia do nono mês de 1271, ficou
conhecido como Perseguição de Tatsunokuchi.

No décimo mês de 1271, escoltado por samurais, Nichiren Daishonin atravessou a barco o Mar do
Japão até a Ilha de Sado, seu local de exílio. A única pessoa próxima a acompanhá-lo foi o fiel
discípulo Nikko. Os dois foram deixados num abrigo em ruínas numa área em que cadáveres de
indigentes e criminosos eram abandonados. Eles estavam desprovidos de roupas e alimentos e
não havia nada para acender uma fogueira e mantê-los aquecidos. No primeiro inverno,
sobreviveram apenas com mantos de palha.

Em resposta ao desafio proposto por sacerdotes da região, no primeiro mês de 1272, Nichiren
Daishonin travou um debate religioso com representantes de outras escolas budistas, que haviam
se reunido em Sado, vindos de localidades distantes, até de países vizinhos do continente asiático.
Durante o que ficou conhecido como Debate de Tsukahara, Daishonin refutou por completo as
doutrinas desses outros religiosos e provou a superioridade do ensinamento dele.

A situação em Sado começou a melhorar um pouco para Daishonin, pois ele passou a receber
oferecimentos de roupas e alimentos dos habitantes locais que haviam se convertido ao seu
ensinamento. Contudo, Daishonin ainda continuava sendo hostilizado pelos sacerdotes e leigos de
outras escolas. Devotava seu tempo principalmente à propagação e a seus textos. A maioria dos
escritos mais importantes de Daishonin, como O Objeto de Devoção para Observar a Mente e
Abertura dos Olhos, data desse período.

O escrito Abertura dos Olhos, concluído no segundo mês de 1272, é a prova documental da
revelação de Daishonin como Buda Original. Dashonin expõe ser o possuidor das “três virtudes de
soberano, mestre e pais” e o “Buda Original dos Últimos Dias da Lei”, ou o “objeto de devoção em
termos de pessoa”. Ele escreveu O Objeto de Devoção para Observar a Mente no quarto mês de
1273, no qual esclarece o objeto de devoção para a salvação de todas as pessoas nos Últimos
Dias da Lei. Daishonin inscreveu a sua condição de vida em forma de mandala, revelando desse
modo o “objeto de devoção em termos de Lei”. Por meio desses escritos, ele ensina que as
pessoas nos Últimos Dias da Lei devem abraçar o objeto de devoção (Gohonzon) de unicidade de
pessoa e Lei (ninpo ikka) e recitar o daimoku com fé para atingirem a iluminação nesta vida.

No segundo mês de 1274, o regente Hojo Tokimune, que nunca havia concordado completamente
com o severo tratamento dispensado a Daishonin, revogou o edito de exílio e, no vigésimo sexto
dia do terceiro mês de 1274, dois anos e cinco meses após ter sido exilado, Nichiren Daishonin
retornou a Kamakura.

No oitavo dia do quarto mês, Daishonin foi intimado a comparecer diante do tribunal militar. Hei no
Saemon presidia novamente a sessão, assim como o fez três anos antes quando foram levantadas
acusações contra Daishonin. Mas, desta vez, ele se portou com reserva e polidez. Ao ser
questionado sobre a possibilidade de um ataque mongol, Daishonin respondeu que poderia ocorrer
ainda naquele ano. Acrescentou que o governo não deveria pedir aos clérigos da escola Palavra
Verdadeira que orassem pela destruição dos mongóis, uma vez que tais orações só agravariam a
situação.

Segundo um antigo ditado chinês, quando um sábio adverte o soberano três vezes e ainda assim é
ignorado, ele deve deixar o país. Por três vezes, Daishonin advertiu os governantes com relação
aos desastres e conflitos: na primeira, por meio da apresentação do tratado Estabelecer o
Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra; na segunda, ao ser preso e quase executado em
Tatsunokuchi; e na terceira, quando retornou de Sado. Convencido de que os governantes nunca
ouviriam suas advertências, ele deixou Kamakura no décimo segundo dia do quinto mês de 1274.
Mudou-se para uma pequena cabana aos pés do Monte Minobu, na província de Kai (atual
prefeitura de Yamanashi).

Por ser uma região remota, a vida de Daishonin em Minobu não foi nada fácil. Seus seguidores em
Kamakura enviavam-lhe dinheiro, alimentos e roupas, e ocasionalmente visitavam-no em grupos
para receber orientações. Nesse local, ele devotou grande parte do tempo aos escritos e
aproximadamente metade dos que existem ainda hoje data desse período. Também se ocupou
muito com explanações e treinamento para os discípulos. As preleções sobre o Sutra do Lótus
dessa época foram compiladas por Nikko e são hoje conhecidas como Registro dos Ensinamentos
Transmitidos Oralmente.

No décimo mês, cinco meses após Nichiren Daishonin ter se mudado para Minobu, os mongóis
iniciaram o ataque descrito anteriormente. Numa carta endereçada a um de seus discípulos,
Daishonin expressa profundo desapontamento pelo fato de suas advertências terem sido
ignoradas. Ele estava convicto de que, se as autoridades as tivessem considerado, a nação teria
sido poupada de tanto sofrimento.

Durante esse período, Nikko conseguiu converter vários habitantes, entre sacerdotes e leigos, da
vila de Atsuhara. Os sacerdotes de um templo da seita Tendai local, irados por esse êxito,
começaram a hostilizar os convertidos. Planejaram, junto com um grupo de guerreiros, um ataque
a vários camponeses desarmados, que também eram recém-convertidos, prendendo-os sob falsa
acusação de roubo. Vinte dos camponeses foram presos e torturados, e três, os irmãos Jinshiro,
Yagoro e Yarokuro acabaram sendo decapitados.

O incidente, conhecido como Perseguição de Atsuhara, foi importantíssimo porque, se antes as


perseguições visavam atingir principalmente Daishonin, desta vez, o alvo foram seus seguidores.
Contudo, apesar da ameaça das autoridades, os camponeses se mantiveram firmes na fé. Com
isso, Nichiren Daishonin se convenceu de que a fé de seus discípulos havia amadurecido o
suficiente a ponto de arriscarem a vida pela Lei Mística. Assim, vinte e sete anos após ter recitado
pela primeira vez o Nam-myoho-renge-kyo, surgiram os praticantes comuns que persistiram na fé,
“sem poupar a própria vida”, aceitando e abraçando os seus ensinamentos. Em outras palavras, a
fé inabalável dos seguidores camponeses, durante a Perseguição de Atsuhara, comprovou o
estabelecimento do budismo para o povo.

Perto de completar 61 anos, Daishonin se encontrava severamente debilitado. Sentindo que a


morte estava próxima, ele designou Nikko como seu legítimo sucessor.

Os discípulos e seguidores de Daishonin insistiram para que ele fosse a uma estação termal em
Hitachi a fim de se tratar. No oitavo dia do nono mês de 1282, Daishonin partiu de Minobu para
Hitachi. Quando chegou à residência de Ikegami Munenaka (localizada numa área que hoje faz
parte da cidade de Tóquio), sentiu-se muito mal para continuar. Vários de seus seguidores,
sabendo de sua chegada, reuniram-se na residência de Ikegami para vê-lo. Na manhã do décimo
terceiro dia do décimo mês de 1282, rodeado por discípulos e seguidores, que recitavam
respeitosamente Nam-myoho-renge-kyo, Daishonin faleceu serenamente.

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