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ARTIGO: FELICIDADE IRRACIONAL

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ALUBRAT
POSTADO EM 04/08/2010

“...felicidade é o caminho”

Dan Millman*

Nós todos temos objetivos, sonhos e desejos, e a maioria deles muda ao longo do tempo. Alguns de nós
desejamos melhor emprego ou renda, outros almejam mais educação, ou um companheiro (mais)
compatível, ou a oportunidade de viajar. Muitos desejos, mas todos com uma qualidade essencial comum:
acreditamos que alcançar a meta vai trazer ou nos levar à maior felicidade. E provavelmente irá - por
pouco tempo; depois, há a próxima meta, em uma busca incessante da felicidade.

Uma das melhores coisas sobre a graduação da faculdade é que descobrimos que só isso não nos torna
felizes porque aqueles que não foram à faculdade podem passar anos acreditando que, se tivessem ido
para a faculdade seriam felizes agora! Para outros, é assim: se eu tivesse encontrado uma relação
(melhor)... Se eu tivesse filhos... Se eu não tivesse filhos... Se eu tivesse uma profissão melhor... Se eu
tivesse mais dinheiro... Se eu tivesse viajado mais... Se eu tivesse... Então eu ficaria feliz.

Essa busca, perseguição de um sentido estável de felicidade, satisfação, realização, caracteriza a busca
humana. Bem, esta afirmação não é rigorosamente verdade em todos os casos. O psicólogo Abraham
Maslow propôs uma hierarquia de necessidades, começando com a necessidade básica de
sobrevivência, que, uma vez satisfeito, dá lugar à maior necessidade, culminando com o que ele chamou
de “autorrealização” - talvez um sinônimo científico ocidental para o que é chamado “iluminação” nas
tradições espirituais orientais.

Com tão pouca iluminação em nosso mundo atual, existem pessoas que não exatamente buscam a
felicidade, pois eles são muito profundamente enraizados em simplesmente evitar a dor ou o medo ou as
contradições psicológicas e patologias, assombrado por demônios, buscando salvação, absolvição,
escapar do sofrimento. Alguns encontram ajuda profissional, enquanto outros meditam, enquanto muitos
outros se automedicam.

Na verdade - ou pelo menos eu acredito que pode haver mérito nesta suposição - a maior parte das
pessoas que manifestam interesse em crescimento psicológico, crescimento pessoal, espiritual ou mesmo
de iluminação, estão no fundo à procura de um método, caminho, ou professor ou milagre que irá ajudá-
los a sentir-se bem mais tempo, e sentir-se mal por menos tempo.

O que poderia ser mais humano que buscar o prazer e evitar a dor? Ainda assim os caminhos que
algumas pessoas tomam são mais ou menos construtivos do que outros. De fato, se o “sentir-se bem” é
uma meta, pode-se também passar a vida tomando remédios que fazem o indivíduo sentir assim.
Entretanto, existem passivos notáveis a esta abordagem.

Então, onde está a felicidade? Onde a encontramos? Esta é certamente uma questão interessante,
dirigida por muitos psicólogos que estudam e investigam este tema e autores que o exploram.

Eu tenho meu próprio viés particular e perspectivas, com base na minha experiência peculiar, mentores e
percepção da realidade. Recordo os leitores do meu primeiro livro, “Caminho do Guerreiro Pacífico”: não
há caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Em outras palavras, não há na realidade felicidade
no passado ou futuro - estamos felizes agora, ou não somos.

A vida é uma série de momentos. Assim, eu nunca conheci uma pessoa neurótica, apenas as pessoas
que têm momentos mais neuróticos. (Às vezes elas se esquecem de ser neuróticas e funcionam bastante
bem). Eu nunca conheci uma pessoa inteligente ou gentil, apenas aquelas com mais inteligência ou
momentos gentis. Nós também podemos viver momentos felizes. Mas o objetivo de tentar ser feliz o
tempo todo é como tentar comer de uma vez por todas.

Eu também ofereço o lembrete de que podemos controlar os nossos esforços, mas não os resultados.
Não podemos controlar sequer acertar uma bola no jogo de golf ou fazer uma cesta no basquete ou um
gol no futebol ou encontrar o amor ou o sucesso. No entanto, fazendo um bom esforço, podemos
aumentar as chances de conseguir um resultado desejado. E por funcionar bem na vida - demonstrando
certo realismo e maturidade e exercer o esforço ao longo do tempo a serviço dos nossos objetivos,
estamos mais propensos a ter mais sentimentos de satisfação, realização e felicidade do que se não
funcionarmos bem.

Por exemplo, se alguém vem a mim para uma consulta sobre um problema que denomina de espiritual ou
emocional, eu com frequência começo perguntando três questões básicas:

- Você está se exercitando regular e moderadamente?

- Você está se alimentando com uma dieta razoavelmente equilibrada?

- Você está dormindo e descansando o suficiente?

Trabalhando sobre estas três áreas muitas vezes resolve-se muitos dilemas psicológicos - e mesmo se
um problema prático da vida ou questão permanece necessitando de um auxílio profissional específico.
Nós somos mais capazes de enfrentar e responder a estes desafios se nos exercitamos, comemos bem e
descansarmos o suficiente.

Eu não sou certamente o único escritor ou professor a oferecer lembretes. A literatura está cheia de
excelentes observações, incluindo uma piada da escritora Barbara Lima: “A lição é simples: o aluno é
complicado”. Ou Mark Twain, que escreveu: “Eu tive muitos problemas na minha vida, a maioria dos quais
nunca aconteceu”. Lembretes da realidade. Eu uso estas citações para destacar algumas orientações
práticas sobre felicidade.

Em minha palestra no Brasil, no VII Congresso Transpessoal - Felicidade Autêntica, em setembro de


2010, introduzirei a ideia de felicidade não apenas como um sentimento, mas como uma prática - a
prática da felicidade irracional. Por que “irracional”?

Porque hoje (tal como no passado) não há muitas razões mentais para ser feliz, e se você ler os jornais
verá muitas razões para ser infeliz. Assim como uma disciplina, eu pratico a felicidade irracional.

Para entrar nos elementos no “como” desta prática, precisamos ir mais fundo nas explicações, o que seria
longo demais para um artigo e melhor feito através da transmissão oral. Mas eu acredito que há valor em
pelo menos levantar essa ideia, essa possibilidade, que nós podemos tratar a felicidade como uma prática
- algo que irradia para o mundo com uma palavra gentil ou um sorriso. Não se trata de negar a nossa
“verdadeira realidade interior” - o que quer que estejamos sentindo no momento. Pelo contrário, a prática
envolve uma espécie de transcendência.

Conforme eu ensino em todo o mundo, partilho o que chamo de “Abordagem de um guerreiro pacifico
para a vida” - com um coração pacífico e um espírito guerreiro. É preciso um espírito forte para trazer
felicidade ao mundo, para ajudar a criar mais felicidade, paz e bondade, apesar de todas as alterações
emocionais de nossos corpos e das nossas vidas

1 - As muletas que ajudam Dan Millman a se movimentar a partir de um determinado momento do filme
constituem poderosa metáfora. Podemos considerar essa barreira como equivalente a todas aquelas que
cada um de nós impõe ao nosso sucesso e vitórias a serem atingidas no cotidiano. E não me refiro aqui
aos pódios, prêmios, promoções e aumentos de salários que porventura possamos conquistar. Falo
daquilo que realmente importa, ou seja, de atingirmos a felicidade que se encontra não nos grandes
embrulhos ou pacotes e sim num cotidiano em que prevaleça o bem, a bondade, a ética, a justiça, a
honestidade e a fraternidade. Para isso precisamos nos desprender de nossos egos, vaidades, orgulhos e
preconceitos e – acima de tudo – estender a mão para o próximo, seja ele quem for, esteja onde estiver,
próximo ou distante...

2 - A maioria das pessoas atualmente se preocupa em saber cada vez mais, mais e mais... Acumulam
conhecimento para fazer frente a desafios imediatos e não parecem dispostas a pensar com profundidade
as informações que adquirem... Se elas resolvem os problemas, por que se preocupar com as mesmas?
A primeira grande realização de um “guerreiro da paz” é descobrir e ser humilde o suficiente para admitir
que não sabe, que precisa aprender... O caminho a ser trilhado não admite arrogância ou prepotência,
exige desprendimento e disciplina, cobra concentração e fé. Não basta ter conhecimento é preciso agir
com sabedoria, ou seja, é necessário atingir a capacidade de processar, refletir, comparar, pesar, analisar
e finalmente entender as informações para que se faça o uso inteligente daquilo que se conhece.
3 - “Poder além da vida” é um filme que harmoniza não apenas com a filosofia. Deve ser visto também
como uma produção que ressalta a necessidade do contato humano, em particular daqueles que
celebram as verdadeiras amizades e, principalmente das que colocam em contato as pessoas mais
jovens e as mais velhas. Há ensinamentos a serem dados a partir das duas pontas e possibilidades reais
de crescimento nesses encontros, porém, para que isso se efetive, temos que estar dispostos a ouvir não
apenas com os nossos ouvidos, mas também com o coração e a mente. Devemos igualmente nos
mostrar preparados para dividir, partilhar, sem qualquer constrangimento, preconceito ou intolerância,
mesmo que em determinados momentos as distâncias que separam as gerações pareçam ser tão
grandes que tornam o diálogo muito confuso. Há ganhos de valor incalculável nesses encontros, não
podemos abrir mão deles...

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