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A Organizacao Sociopolitica Do Povo Xukuru Do Ororuba
A Organizacao Sociopolitica Do Povo Xukuru Do Ororuba
Sociopolítica do Povo
Xukuru do Ororubá
Estado de Pernambuco
186 Organização Sociopolítica do Povo Xukuru do Ororubá
Organização Sociopolítica
do Povo Xukuru do
Ororubá
Inovações
A reaglutinação e organização de um povo que estava disperso, mas que mantinha
contatos familiares e continuava com algumas tradições como o Toré, a Pajelança e
o Cacicado, parecia o grande desafio a ser enfrentado para voltar a conviver como
povo indígena. Relatos dos índios mais antigos atestam a realização escondida do
Toré nas matas da Serra do Ororubá em razão da proibição de realizar qualquer
ritual, imposta pelos fazendeiros aos índios. Hoje são mais de 9.000 índios e índias
distribuídos em mais de 2.000 famílias. Números mais precisos são esperados com
a divulgação do diagnóstico feito pelo Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA).
O levantamento teve a participação de agentes de saúde, professores e lideranças
Xukuru na coleta de dados.
Gerenciamento da organização
Nesse período de reconquista do território, do retorno dos índios que estavam
na cidade e da reorganização dos que viviam em terras de fazendeiros, houve
a composição de uma forma de governar o território que envolve instituições
tradicionalmente conhecidas como indígenas e formas de participação e decisão
que são caracterizadas como democráticas. Um Conselho de Lideranças foi
instalado com um membro de cada aldeia. Um Conselho de Professores foi
criado em 1997 (Conselho de Professores/as Xukuru - COPIXO), decorrente
do primeiro encontro de professores Xukuru, realizado em 1992. Este Conselho
é filiado à Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco - COPIPE. Um
Conselho de Saúde foi constituído em 2001 (Conselho Indígena de Saúde Xukuru
do Ororubá – CISXO) com um membro de cada aldeia (24 no total). Quem decide
grandes questões é a Assembléia Anual que reúne pelo menos 10 representantes
Cidadania
A luta política pelo território Xukuru tem uma dimensão que se ampliou para políticas
que atendessem direitos à educação e saúde, e recuperação do meio ambiente, que
se encontrava com muitos pastos e pouco gado. Esta dimensão possibilitou um
sentimento de cidadania expresso nas falas, no livro Xukuru e nas reuniões. Nas
conversas com índios e lideranças, a cidadania significa viver como coletividade e
ser útil também para a cidade de Pesqueira e região. O medo presente nas décadas
anteriores de declarar-se índio ou índia Xukuru deu lugar à auto-afirmação como
pertença a uma etnia indígena com fortes laços com outras etnias indígenas do Estado
de Pernambuco. Segundo lideranças indígenas e o Centro de Cultura Luis Freire,
somente a elite econômica ligada à pecuária extensiva no município de Pesqueira e
região perdeu com o retorno do território indígena. A população de Pesqueira pode
se beneficiar com produtos mais baratos (frutas e hortaliças) e água mais cuidada.
Esse aspecto é lembrado com freqüência pelos indígenas.
As mulheres estão representadas no Conselho de Lideranças. Na Comissão
Interna são 24 dos 56 membros. No Conselho de Professores e de Saúde
constituem a maioria. Há cursos de capacitação na área de saúde com grande
presença de mulheres.
Considerações finais
O território é pensado a partir dos plantios e da promoção da saúde e da
educação, principalmente das crianças. Ou seja, há uma concepção de território
como algo vivo desde as primeiras retomadas. A ocupação atual não permite mais
desmatamentos como os que aconteciam no tempo recente de criação de gado.
A agricultura familiar e coletiva dá-se em pequena escala, que pode atender as
necessidades do Povo Xukuru e da região. A convivência espontânea entre jovens
e antigos no governo favorece a continuidade da organização associada a políticas
voltadas para as crianças.
Outro aspecto positivo é a utilização da infra-estrutura deixada pelos
fazendeiros, como casas e barracões, para o uso dos próprios índios para
realizar oficinas e cursos de capacitação, e servir como moradia de lideranças,
principalmente das que sofrem ameaça de morte.
Das aldeias mais distantes há dificuldade para chegar aos locais de
reuniões, geralmente mais próximos das áreas centrais. Há uma reivindicação de
transporte público para o interior do território indígena, que considera as várias
necessidades dos índios, inclusive daqueles que fazem o ensino médio na cidade
de Pesqueira.