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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


FACULDADE INTEGRADA AVM

GESTÃO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA COMO


RESGATE DOS VALORES ÉTICOS E MORAIS

Por: Elizabeth de Araujo Fernandes

Orientador
Profª. Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro
2011
2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM

TÍTULO DO TRABALHO

Apresentação de monografia à Universidade


Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Administração e Supervisão Escolar.
Por: . Elizabeth de Araujo Fernandes
3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a Igreja e a meus


pais pela formação religiosa que
ensinaram-me a professar, a qual fez-
me ser quem eu sou.
4

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a Dom Estêvão


Tavares Bettencourt - OSB, todos os
meus professores e amigos da
caminhada na fé.
5

RESUMO

O estudo do Ensino Religioso na escola pública estadual no município


do Rio de Janeiro com base no credo católico tem por objetivo fazer com que o
gestor administre as diferenças e diversidades religiosa, fazendo um trabalho
inter e transdisciplinar no chão da escola, que é local de produção e
construção do conhecimento e da formação de cidadania, ressignificando os
valores éticos e morais do ser humano.

O primeiro capítulo enfoca o histórico do Ensino Religioso na escola


pública no Rio de Janeiro desde o período colonial até os limiares dos dias
atuais.

Já o segundo capítulo fica por conta da explanação acerca dos valores


éticos e morais que norteiam uma sociedade justa, com vista a proporcionar ao
educando a plena realização do ser humano pessoal e social; ensinando-o o
respeito mútuo em relação ao ecossistema e ao próximo.

Finalmente, o terceiro capítulo trata dos assuntos ligados diretamente ao


gestor e a práxis (saber e fazer escola), para a formação da cidadania como
integração social dos alunos, acabando com o isolamento entre os saberes e
tornando-os parceiros na construção de um mundo harmônico e reequilibrado
socialmente e gerar um ser humano melhor.
6

METODOLOGIA

Os métodos adotados na pesquisa deste estudo foram baseados:

- na leitura dos livros mencionados na bibliografia;

- nos informes da ASPERC, que abrange todas as Coordenadorias


Metropolitanas de Estado de Educação, Coordenadorias Regionais de
Educação, Colégios Católicos e Colégios Particulares laicos, criado em
18/06/2010, às 13h 30 min, no Auditório do Edifício João Paulo II, à Rua
Benjamin Constant, 23 / 2º andar, Glória – Rio de Janeiro, repassados por
Vera Lúcia Santiago Cruz, presidente do Conselho Deliberativo da referida
entidade;

- na palestra sobre Diversidade Religiosa na Escola, com a teóloga e Mestre


em Educação – Docente do Colégio Teresiano e PUC-Rio, na disciplina de
Cultura Religiosa, Glória Costa Nascimento, no dia 14/06/2011, no
Novamerica, à Rua 19 de Fevereiro 160 – Botafogo – Rio de Janeiro;

- nos ensinamentos proferidos nas palestras da 8ª Jornada Internacional de


Educação do Estado do Rio de Janeiro, de 19 a 21/07/2011, de 9h às 19h, no
Centro de Convenções Sulamérica, à Rua Machado Coelho, 100, Cidade
Nova – Rio de Janeiro;

- nos ensinamentos apreendidos no ISCR da Arquidiocese de São Sebastião


do Rio de Janeiro, no curso de bacharelando em ciências religiosas, da Santa
Sé (Congregação para Educação Católica – Vaticano, filiada a PUC-Rio).
7

SIGLAS e ABREVIATURAS

§ - parágrafo
Art. – artigo
ASPERC – Associação de Professores de Ensino Religioso
Católico
CEB – Câmara de Educação Básica
CEE – Conselho Estadual de Educação
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNE – Conselho Nacional de Educação
CP – Conselho Pleno
D. – Dom
DAER – Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
ENERs – Encontros Nacionais de Ensino Religioso
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso
GRERE – Grupo de Reflexão do Ensino Religioso
IDAC – Instituto de Ação Cultural
IESDE – Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino
ISCR – Instituto Superior de Ciências Religiosas
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LEC – Liga Eleitoral Católica
MG – Minas Gerais
Nº - número
OSB – Ordem de São Bento
8

PCNER – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino


Religioso
PPP – Projeto Político Pedagógico
Séc. – século
SEE – Secretaria de Estado de Educação
SNER – Secretariado Nacional de Ensino Religioso
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - HISTÓRICO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA


PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO 13

CAPÍTULO II - OS VALORES E A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DO


ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA 25

CAPÍTULO III - GESTÃO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA


PÚBLICA ESTADUAL NO MUNICÍPIO DO RIO DE
JANEIRO 34
CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42

ÍNDICE 49

FOLHA DE AVALIAÇÃO 51
10

INTRODUÇÃO

O Ensino Religioso é o compromisso coletivo e também o desejo de


construir o desafio para que os alunos vivam com dignidade, experienciando o
bem comum, realizando o exercício da cidadania e inserindo o jovem na
sociedade, dando limites para que não interfiram no livre-arbítrio do
semelhante. Tem por objetivo:

§ Oportunizar maior compreensão do cotidiano e de suas relações com o


outro e consigo mesmo, isto é, o exercício da alteridade;

§ Orientar mães e/ou responsáveis dos alunos a uma ação participativa


no cotidiano escolar dos filhos;

§ Implementar atividades sócio-culturais;

§ Promover ações de diálogo das diferentes culturas, sob o ponto de vista


da interreligiosidade, respeitando as tradições religiosas;

§ Incentivar o aluno a expressar-se através da escrita e da oralidade,


valorizando a criatividade e o conhecimento do aluno;

§ Implementar espaço de discussão, ações de esclarecimentos sobre a


permanência do aluno na aula da disciplina de Ensino Religioso
Confessional e também nas demais disciplinas;

§ Estimular o desenvolvimento de competências para a escrita, enfocar a


importância de ser religioso e de ter o devido respeito às diferenças
religiosas, para uma efetiva integração dos diferentes credos
(ecumenismo e diálogo interreligioso).

A grande novidade a ser introduzida é que o Ensino Religioso deverá


ser tratado como disciplina do sistema de ensino, cujos conteúdos deverão
11

primar pelo conhecimento religioso que forme consciências e atitudes


anteriores a qualquer opção religiosa. (Joel de Holanda, PE).

Analisando criticamente, percebemos a necessidade de uma nova


maneira de olhar e da construção de um novo caminho, com a finalidade de
superar as dificuldades, reforçando as práticas positivas como forma de
melhorar o desempenho escolar no cotidiano das unidades escolares. A
educação dos alunos nos princípios da liberdade, da solidariedade, da justiça,
da paz, numa forma eficiente de aprofundar a busca pelo transcendente, se faz
necessário para a dinamização e implementação das ações da Educação
Religiosa. Dessa maneira, a esperança será semeada, afirmando que existe
um futuro, com o vislumbre duma vida mais digna, onde haja a inclusão de
nossos jovens na sociedade.

A sala de aula não pretende ser uma comunidade de fé, mas um


espaço privilegiado de reflexão sobre limites e superações. Isto implica a
necessidade de se construir uma pedagogia que favoreça tal perspectiva,
porque o que objetivamos é fruto de uma experiência pessoal, na incansável
busca de respostas para as questões existenciais. É preciso a práxis.

Podemos verificar, que o cenário do Ensino Religioso nas escolas, ainda


é uma utopia, pois não é uniforme, devido a diversidade religiosa de nosso
País.

Por isso, é de fundamental importância que o Gestor esteja antenado


com a disciplina de Ensino Religioso, a fim de adotar estratégias para
administrar a diversidade e promover um senso geral de visão e identidade
com a escola. Gerando normas e regras com o intuito de orientar as condutas
humanas em suas relações sociais e organizacionais; iluminando o
12

entendimento dos usos e dos costumes, para evitar os preconceitos e suas


consequências , tais como: o “bullying”. E evitar casos como o ocorrido no dia
7 de abril deste ano, que teve um desfecho lastimável: “o massacre em
Realengo”, no Rio de Janeiro; crime conhecido como: “school shooting”,
quando Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, ex-aluno da Escola
Municipal Tasso da Silveira, praticou na mesma, o maior massacre de
estudantes ocorrido no Brasil; matando 12 alunos e ferindo outros 12 alunos e
suicidando-se a seguir. As vítimas foram, na maioria, de meninas entre 12 a 14
anos de idade, possivelmente, em decorrência de traumas do “bullying” sofrido
nesse colégio, por meninas dessa faixa etária. Com um agravante: o mesmo
sofria de esquizofrenia e parou o tratamento com 18 anos. Tratamento este,
indicado pela escola, que soube diagnosticar precocemente o problema e
prontamente atendido pela mãe adotiva. Com a morte da mãe que era seu
esteio e sem o tratamento, além da influência da globalização, que faz brotar
fantasias que tendem a migrar, Wellington surtou e cometeu esse atentado
trágico. Para evitar casos estarrecedores como este, é que o Gestor precisa
atuar concomitantemente com todas as disciplinas, sem desmerecer nenhuma,
pois todas são fundamentais na formação da cidadania e integração social dos
alunos.
13

CAPÍTULO I
HISTÓRICO DO ENSINO RELIGIOSO
NA ESCOLA PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO

O que nós somos é o presente de Deus a nós.


O que nós nos tornamos é nosso presente a Deus.
Eleanor Powell

Este estudo enfoca o Ensino Religioso na Escola Pública


Estadual no Município do Rio de Janeiro, sob a édige do credo católico.

Sendo a escola um espaço onde educadores e educandos trabalham


valores sociais, ética e cidadania, formando indivíduos socialmente
responsáveis, como premissa para uma sociedade justa e ciente de sua força
política, como um ser participativo e também a formação econômica
sustentável e não predatória; verificamos no estudo que se segue, a
importância do Ensino Religioso nas escolas, desde o Brasil Colônia até os
dias atuais.

1.1 - O que é Ensino Religioso

É a educação religiosa que se faz na escola , a qual difere de uma


ação pastoral ou catequese, e que não deve levar ao proselitismo.

O Ensino Religioso é uma das áreas de conhecimento do fenômeno


religioso, que estuda as mais variadas tradições e culturas religiosas. Por ser
um espaço de reflexão dos valores humanos, deve ser trabalhado a inter e a
transdisciplinaridade na escola, com todas as disciplinas; uma vez que a
escola é local de produção e construção do conhecimento que levará ao aluno
14

elementos necessários para a descoberta da sabedoria. Portanto, cabe ao


Ensino Religioso a imensa responsabilidade de criar produtores da paz, dando
fim a um legado de discussões, conflitos e guerras ao longo da história da
humanidade, decorrente do fanatismo religioso. Por isso, o conhecimento
religioso deve ser epistemologicamente enfocado nas dimensões
antropológica, sociológica, psicológica e teológica.

O Ensino Religioso possibilita um diálogo entre a cultura e a


descoberta, fomentando a dimensão religiosa e observando as diferenças
culturais e religiosas, proporcionando assim, um acréscimo ao processo de
formação do cidadão; ressignificando os valores éticos e morais do homem,
que sem os quais poderá ter deformação de caráter, que acarretará danos
irreparáveis à sociedade, em decorrência da inversão de valores.

Ressaltamos a necessidade do Ensino Religioso na escola pública,


como disciplina curricular, como área de conhecimento, propiciando a
educação do alunado, numa dimensão religiosa do ser humano para uma vida
pessoal e social, direcionada para o Transcendente e a religiosidade, uma vez
que, sendo a semelhança de Deus, sente a necessidade de buscá-lo e
preencher essa lacuna, através do despertar da vontade de tornar o mundo
um lugar onde as pessoas encontrem a razão de viver, mediante seus dons
colocados a serviço da vida e do próximo, para a construção de uma existência
mais solidária; pelo renascimento da humanidade baseado nos valores éticos e
morais, que norteiam uma sociedade equânime.
O Ensino Religioso deve ser ministrado por professores habilitados
com licenciatura em qualquer área de conhecimento e os requisitos são:
§ Admissão por concurso público para o Magistério Público
Estadual;
§ Licenciatura plena que o habilite ao exercício permanente do
magistério nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino
Médio;
15

§ Credenciados pela autoridade religiosa competente (DAER -


Carta do Pároco e a autorização do Diretor do DAER), que
deverá exigir do professor formação religiosa obtida em
instituição por ela mantida e reconhecida (Mater Ecclesiae, da
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro), pelo credo
católico;
§ professores têm de apresentar, anualmente, o credenciamento
concedido pela Autoridade Religiosa competente à
Coordenadoria Regional e esta o enviará à Coordenação de
Ensino Religioso, na Secretaria de Estado de Educação.

1.2 - A introdução do Ensino Religioso nos primórdios da


escola pública

Em 1985, a CNBB, criou a GRERE1 para fazer um levantamento do


surgimento do Ensino Religioso na história do Brasil, desde a Colônia; que
tinha a missão de evangelizar, conforme os acordos estabelecidos entre o
Monarca de Portugal e o Sumo Pontífice, para a conquista dos gentios, através
do Regime de Padroado2, outorgado desde os meados do séc. XV, no período
do Regime Colonial; vigorando até 1890, pelo decreto 119-A.

1.2.1 - Período Colonial (1500 a 1800)

O Ensino Religioso caracterizou-se privilegiando o conteúdo de cunho


doutrinário, seguindo às normas do Concílio de Trento (1545-1563), que tinha
por objetivo salvaguardar as verdades fundamentais da fé católica.

1
FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. O Ensino Religioso no Brasil: tendências, conquistas,
perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 57 apud GRERE-CNBB, Pró-Manuscrito, instrumento
de trabalho, Brasília, DF, 1987, p. 3.
2
Idem, ibidem, p, 58 apud Comissão de História da Igreja na América Latina, História da Igreja
na América Latina, tomo 2, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1979, p. 163-167.
16

Em 1707, as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia elaboram


a Breve Instrucçam dos Mystérios da Fé, accomodada ao modo de fallar dos
3
escravos do Brasil , ou seja, um Catecismo abreviado para os escravos, com o
resumo do Catecismo Romano, através de perguntas e respostas e o
Catecismo “Forma da Doutrina Cristã”, para os cristãos católicos, que perdurou
tal modelo até o Concílio Vaticano II (1961 - 1966).

Durante a colonização dos Jesuítas (1549), trazidos pelo Governador


Geral Tomé de Souza, esse modelo foi utilizado para catequizar os índios,
chegando-se à redação de Catecismo na língua dos gentios.

4
Em Pernambuco de 1760, a Reforma Pombalina , do então Marquês de
Pombal, seguia um modelo de educação baseada na Filosofia Iluminista, que
após a expulsão dos Jesuítas houve uma total desorganização do ensino, uma
vez que, a prioridade era somente “aprender a ler e escrever”. O Catecismo
elaborado pelos Jesuítas fora utilizado para o ensino da língua, conforme a
“Breve instrução para ensinar a doutrina cristã, ler e escrever aos meninos e ao
mesmo tempo os princípios da língua portuguesa e sua ortografia”.

1.2.2 - Período do Regime Imperial (1800 a 1889)

Este período, o da Monarquia Constitucional teve fatos importantes, que


marcaram essa época:

• A chegada da Família Real Portuguesa (1808);


• A promoção da Colônia a Reino-Unido.

3
Idem, ibidem, p. 59 apud “Constituiçoens Primeyras do Arcebispado da Bahia”, Editadas no
“Real Collegio das Artes da Comp. De Jesus”, Coimbra, 1707, p. 230-233.
4
Idem, ibidem , p. 60 apud BANHA DE ANDRADE, Antônio Alberto, A reforma pombalina dos
estudos secundários no Brasil, São Paulo, Eduspe-Saraiva, 1978, p. 13.
17

Tais fatos fizeram com que a burguesia se instalasse no poder e


exercesse seu domínio, com isso, o Ensino Religioso deu-se de forma mais
primitiva e doméstica, pois o Clero ocupou o alto funcionalismo do Governo do
Império, enquanto que, a Igreja cuida da Educação através dos leigos das
irmandades, confrarias e ordens terceiras.

Foi nessa época, no 1º Reinado, que a Religião Católica Apostólica


5
Romana é oficializada como “Religião do Império , concomitantemente o
Ensino Religioso continua sob o protecionismo do Estado.

No 2º Reinado, a Igreja enfraquece suas relações com o Estado e


conquista gradativamente sua autonomia. Surgindo daí publicações de
compêndios, manuais e cartilhas para a divulgação da doutrina cristã, nas
diversas regiões do país.

A Bíblia é divulgada no Brasil pelos protestantes, em 1810, por ocasião


6
do Trato com a Inglaterra . O Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, insere em
seu programa, o estudo das Sagradas Escrituras.

O art. 103 da Constituição Política do Império do Brazil, outorgada por


D. Pedro I, no dia 25 de março de 1824, mantém a religião católica como a
oficial.

O art. 5º da Constituição do País, ratifica a religião católica como a


oficial7 e o Ensino Religioso é obrigatório nas escolas, conforme a legislação
de 1827, no art. 6º8.

5
Idem, ibidem, p. 62 apud Constituição Política do Império do Brasil, art. 5º - outorgada e jurada
pelo Imperador Pedro I, 25/3/1824.
6
Idem, ibidem, p. 63 apud PACHECO, Dom Filipe Conduru, Vida de Dom Luis de Brito, primeiro
Arcebispo de Olinda, RJ, Imprensa Nacional, p. 234-236.
7
JUNQUEIRA, Sérgio. História, legislação e fundamentos do Ensino Religioso. Curitiba: Editora
IBPEX, 2008, p. 19 apud Constituição Política do Império do Brasil, 25/03/1824,
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao24.htm>.
8
Idem, ibidem, p. 20 apud Lei Imperial de 15 de outubro de 1827, promulgada por D. Pedro I,
<http://www.direitoshumanos.usp.br/counter/doc_histo/edu_imp/lei_15_10_1827.html>.
18

As reformas do Concílio Vaticano I (1869 – 1870) contribuíram com a


vinda de padres da Santa Sé (Roma) para compor o clero brasileiro, a fim de
fazer face ao movimento positivista.

1.2.3 - Período do Regime Republicano (1889 até os dias atuais)

Nesses quatrocentos anos de Ensino Religioso nas escolas do Brasil,


finda o Padroado - pelo Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, assinado pelo
Presidente Manoel Deodoro da Fonseca. Regime este, que era o suporte
político do Ensino Religioso nas escolas, que agora eram “escolas leigas”,
“ensino laico”, “laicização do ensino público”, sob influência da Revolução
Francesa. Decreta que “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos
públicos”9. Neste contexto, o Ensino Religioso foi proibido nas escolas da rede
estatal. Para fazer frente ao Governo, a Igreja incentiva as escolas paroquiais,
escolas primárias e colégios católicos, onde o Ensino Religioso era utilizado
como instrumento de competição, com esse diferencial.

O autor do decreto, Rui Barbosa, da corrente positivista, justifica sua


atitude, na qual explica que, desejava “uma Igreja livre em um Estado livre”,
que foi deturpado pelo Estado Brasileiro, negando a presença religiosa nas
escolas.

Em 1928, em Belo Horizonte – MG, o Congresso Catequístico considera


que o Ensino Religioso deve renovar-se e reformular sua metodologia,
adequando-se às novas tendências pedagógicas.

9
FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. O Ensino Religioso no Brasil: tendências, conquistas,
perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 65 apud CAMPANHOLE, Adriano e LOBO, Hilton,
Constituições do Brasil, Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, art. 72, § 6º,
1891, Atlas, 1984.
19

10
O Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931, assinado por Getúlio
Vargas, reintroduz o Ensino Religioso nas escolas públicas de caráter
facultativo.

Em 1934, art. 153, o Ensino Religioso é incorporado no texto


constitucional11, bem como na Carta Magna de 193712 e nas Leis Orgânicas do
13
Ensino , sob a influência dos acontecimentos universais, que induz Getúlio
Vargas a seguir as sugestões dos 45 artigos do Pacto Lateranense, concluído
em 1912, e assinado pelo Governo Fascista de Mussolini e a Igreja Católica de
Roma.

Foi na década de 50 e 60, que o Ensino Religioso fez uso de elementos


pedagógicos atualizados: plano de aula, linguagem específica, metodologia,
recursos e procedimentos didáticos e plano de lição14.

Findo o Estado Novo (1945), a Constituição de 1946, de 18 de setembro


de 1946 decreta no art. 168, que o Ensino Religioso é facultativo, devendo a
família ou a aluno indicar sua participação nessa disciplina ou não; capítulo
este elaborado pelo ex-ministro da Educação, do Governo de Vargas, Gustavo
Capanema. Para acalmar os ânimos entre o Estado e a Igreja, a LEC, propôs
que a disciplina de Ensino Religioso fosse ministrada fora dos horários normais
de aula e sem nenhum ônus para o Estado.

Em 1966, o Concílio Vaticano II implementa e implanta novas práticas


pedagógicas, com a renovação metodológica, de objetivos e de conteúdo;

10
Idem, ibidem, p. 67 apud LIMA, Mário de, Escola leiga e a liberdade de consciência,
Tipografia Moderna, Belo Horizonte, 1914.
11
Idem, ibidem, p. 68 apud Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, art. 153,
promulgada em 16/07/1934.
12
Idem, ibidem, p. 68 apud Constituição dos Estados Unidos do Brasil, art. 133, decretada em
10/11/1937.
13
Idem, ibidem, p. 68 apud NÓBREGA, Vandick Londres da, Enciclopédia da legislação do
ensino, Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais” Ltda., Rio de Janeiro, 1952.
14
Idem, ibidem, p. 72 apud NEGROMONTE, Pe. Álvaro, A pedagogia do catecismo, José
Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1961, p. 110s.
20

15
levando em conta “uma ligação entre o ensino e a vida decorrentes de ações
relevantes dos ENERs, promovidos pela CNBB e as assembleias e seminários
do FONAPER.

Na Constituição de 1967, art. 168 e na Emenda Constitucional nº 1, de


1969, art. 176, reafirma o Ensino Religioso.

Com o Golpe Militar de 1964 e com o Ato Institucional nº 5, de 1968, o


Ensino Religioso na escola pública permanece facultativo, pois a prioridade do
Estado era uma educação tecnicista que atendesse aos interesses do capital
industrial e às novas elites.

Na Constituição Cidadã de 1988, o Ensino Religioso está contemplado


no art. 210, § 1º.

Os programas do Ensino Religioso na Escola Pública do Município do


Rio de Janeiro são elaborados pelo SNER, oriundo do GRERE e dos ENERs16.

1.3 - As leis de implantação do Ensino Religioso na


escola pública estadual no município do Rio de Janeiro

Em 1961, o Ensino Religioso, foi adotado na primeira LDB, de número


4024/61 em seu art. 97, § 1º e 2º.

O Decreto “N” nº 630 de 10/07/1966 criou a Divisão de Educação


Religiosa na Secretaria de Estado da Guanabara.

15
Idem, ibidem, p. 77 apud VERNHET, Paul, Novas dimensões do catecismo, ISPAC, Editora
Vozes, Rio de Janeiro, 1966, p. 33.
16
Idem, ibidem, p. 82 apud Departamento de Educação, “Programa de Iniciação Religiosa para
o Jardim de Infância”, Diário do Executivo, Minas Gerais, p. 19-20; “Linhas Gerais do Programa
de Ensino Religioso para as quatro séries do Curso Primário”, p. 20; “Programa de Formação
Religiosa para o Curso Secundário”, 1º ciclo, 2º ciclo, p. 20-21, Belo Horizonte, MG, 28/-1/1966.
21

Em 1967, artigos 168 e 176, a Constituição Federal, também trata do


Ensino Religioso nas Escolas Públicas, cuja emenda constitucional nº 1/1969,
mantém a mesma redação da Constituição de 1967.

1971, foi elaborada a 2ª LDB (5692/71), na qual, em seu art. 7º § único


trata do Ensino Religioso nas Escolas Públicas.

A Constituição de 1988 no art. 210, inclui no § 1º o Ensino Religioso nas


Escolas Públicas, bem como a Constituição do Estado do Rio de Janeiro de
05/10/1989, art. 310.

O ECA, Lei Federal nº 8069, de 13/07/1990 nos artigos 15, 16 (inciso


III), 17 e 94 (inciso XII) dispõe que as crianças e os adolescentes têm direito a
assistência religiosa de acordo com suas crenças.

A Resolução nº 1568, de 06/10/1990, da Secretaria de Estado de


Educação do Rio de Janeiro dispõe sobre o Ensino Religioso nas escolas da
rede pública estadual.

Foi aprovado o Plano Básico de Educação Religiosa ministrada na rede


estadual de ensino, conforme parecer do CEE/RJ nº 474 de 1994.

1996 foi o ano em que começou a vigorar a LDB 9394/96, de dezembro,


que também incluía em seus artigos o Ensino Religioso nas Escolas Públicas
de Ensino Fundamental.

17
Em 22/07/1997 houve uma nova redação no art. 33 (a lei nº 9475) .

17
“O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do
cidadão e constitui disciplina dos horários normais das Escolas Públicas de Ensino
Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
quaisquer formas de proselitismo”.
22

Também em 1997 o FONAPER elaborou, em encontros nacionais,


juntamente com especialistas, os PCNER do “novo” Ensino Religioso; tendo
como tema a capacitação profissional para o Ensino Religioso.

No Parecer CEB/CNE 04/98 e na Resolução CEB/CNE 02/98, o Ensino


Religioso é reconhecidamente definido como Área de Conhecimento.

A Resolução nº 2, de 07/04/1998 da Câmara de Educação Básica


instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.

O Parecer nº 097/99 do Conselho Pleno do Conselho Nacional de


Educação dispõe dos requisitos para ser professor do Ensino Religioso,
conforme o exposto nas folhas 12 e 13 deste estudo.

A Lei nº 3280 de 29/10/1000 institui o estudo dos Livros da Bíblia,


integrando o Ensino Religioso nas Escolas Públicas, objetivando repassar aos
alunos os valores morais e espirituais de construção de uma cidadania digna,
fraterna e respeitosa.

Em 13/11/2008, o Brasil firmou um Acordo entre a República Federativa


do Brasil e a Santa Sé sobre o estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil,
feito na cidade do Vaticano, nos idiomas português e italiano com teor
igualmente autênticos e que tem a força jurídica de um tratado internacional. O
art. 11, § 1º refere-se sobre o Ensino Religioso nas Escolas Públicas:

O Ensino Religioso, católico e de outras confissões religiosas, de


matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das
Escolas Públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a
Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de
discriminação. ( Nunciatura Apostólica no Brasil – Brasília 13/11/2008.
p. 5-6).

Este artigo é coerente com a Constituição Federal de 1988, art. 210, §


1º e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, art. 33.
23

Nessas seis décadas, todas as Constituições do Brasil, desde a de


1937, art, 113, incluem o Ensino Religioso no currículo escolar do Ensino
Fundamental.

A Lei Estadual nº 3459/2000, de 14/09/2000 adotada no Estado do Rio


de Janeiro, também inclui o Ensino Religioso em seu currículo escolar,
conforme os princípios constitucionais de liberdade religiosa e de crença, no
art. 5º, inciso VI, da Constituição atual, referendada sua constitucionalidade
pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, de acordo com a
18
Representação nº 141/2000, do Acórdão de abril de 2001 .

O Decreto Estadual nº 29228/2001 cria a comissão de planejamento do


Ensino Religioso confessional.

A Resolução nº 2415/2001 designa membros da comissão de


planejamento do Ensino Religioso confessional.

A Resolução SEE nº 2453, de 07/02/2002 estabelece as diretrizes para


a implantação das Matrizes Curriculares para os níveis da Educação Básica e
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

Parecer do CEE nº 553, de 07/05/2002 faculta aos professores que


tenham concluído uma graduação, com no mínimo, 160 horas de aula na
disciplina que pretende lecionar e tenha cursado as disciplinas de formação
pedagógica pode exercera docência de Ensino Religioso no Ensino Básico,
nos Níveis Fundamental e Médio.

18
Idem, ibidem, p. 5- 6.
24

A Resolução CNE/CEB nº 07/2010 institui as Diretrizes Curriculares


Nacionais Gerais para a Educação Básica, estabelecendo o Ensino Religioso
como componente curricular obrigatório.
25

CAPÍTULO II
OS VALORES E A DIMENSÃO PEDAGÓGICA
DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA

Hoje é comum dizer que a sociedade está em crise, a educação


também, que não existem mais valores ou ética. Acusam uma e outra
estrutura que incentiva tal prática, mas esquecem-se de perguntar que
oportunidades estamos oferecendo às crianças e jovens a desenvolverem a
dimensão da consciência religiosa que é parte integrante de seu ser. Por isso,
o Ensino Religioso busca a integridade humana e colabora para a construção
de uma sociedade melhor.

Para tanto a escola é o espaço privilegiado para a realização de tais


discussões, cujos conteúdos deverão prender-se ao conhecimento religioso
para formar consciências e atitudes antes de qualquer opção religiosa,
conforme os estudos históricos da antropologia cultural, que legou ao
fenômeno religioso o reconhecimento universal; resgatando no ser humano, a
reflexão dos valores e suas aspirações mais profundas, ajudando o aluno a se
posicionar e a se relacionar da melhor forma possível com as novas realidades
que o cercam: quer em relação aos seus limites, quer quanto às linguagens
simbólicas.

A dimensão pedagógica do Ensino Religioso é pautada:


- na tendência pedagógica (abordagem pedagógica);
- no currículo;
- nos conteúdos (conceitual, procedimental e atitudinal);
- nas metodologias;
- no planejamento;
- na avaliação;
26

- na relação professor / aluno.

É um grande desafio para a educação, construir um mundo melhor,


tecendo cidadãos éticos e os ajudando a conviver com as diversas variedades
da personalidade humana, transformando-se no verdadeiro elo de ligação da
realidade atual com um mundo melhor, mais feliz, mais justo, mais humano e
sobretudo mais ético.

A inserção da ética e da moral na formação pedagógica através do


Ensino Religioso, vem para minimizar os impactos danosos que a família
sofreu em sua estrutura, função e valores.

2.1 - O Ensino Religioso e a ética

O termo “ética” vem do grego ethos, que significa: casa, lugar, morada
humana por excelência. Por isso, “há um processo permanente de construção
19
do ser em busca de se sentir bem”.

A ética nada mais é do que uma reflexão sobre a retidão do agir


humano, isto é, é a ciência do costume. Por isso, quando as religiões
institucionalizaram-se e tornaram-se organizações públicas, mantidas e
presididas pelo rei ou quando da sua oficialidade para o bem do Estado,
acarretaram uma dicotomia entre a ética da comunidade política e a ética
religiosa, como se a qualidade ética que os sacerdotes e cidadãos viviam
fossem diferentes de acordo com sua aplicabilidade.

A ética está no coração do fenômeno religioso, pois é pela qualidade


ética de nosso agir que nos dá acesso à comunhão com Deus.

19
FERREIRA, Amauri Carlos. Ensino Religioso nas fronteiras da ética. 2ª ed.,
Petrópolis: Vozes, 2001, p. 30.
27

A religião não tolhe o ser humano, e sim, faz-lhe desabrochar a


liberdade, através da ética, que delibera como devemos viver harmonicamente
com o próximo e com a Criação. Por conseguinte, justifica-se o Ensino
Religioso nas escolas públicas, como um remédio para a falta de ética dos
estudantes; uma vez que, estão imbricados religião e vida: pela justiça,
comportamento ético e pureza de coração que todo ser humano deve ter para
assemelhar-se ao seu Criador, para que possa viver com liberdade e respeito
aos direitos dos outros, pois “o ethos como lei é verdadeiramente a casa ou
20
morada da liberdade” .

Em seu crescimento, o homem vai assimilando uma gama de maneiras


de agir e de se relacionar uns com os outros e pauta sua ação numa série de
ideias e valores que balizam seu convívio social, em busca da plena realização
de si mesmo. Porquanto, cabe ao educador de Ensino Religioso ajudar o
educando a lidar com todos os elementos que seu meio social lhe proporciona
e levá-lo a buscar a coerência interna, que é relevante somente se esse
comportamento ético for integrado à vida do aluno.

O Ensino Religioso está ligado diretamente à vida, porque vai refletir no


comportamento do homem de acordo com sua ética; proporcionando assim, a
plena realização do ser humano pessoal e social.

A ética que o Ensino Religioso quer ensinar é a ética da consciência e


da liberdade em lugar da ética da lei e da obrigação.

A primeira corrente da ética é a Ética de Aristóteles (séc. V a. C.), que


privilegia as virtudes (justiça, temperança, prudência (calma) e força
(coragem), por valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana,
através dum comportamento adequado e por meio da vontade e do hábito, em
busca do equilíbrio do agir humano em sociedade.

20
Idem, p. 30 apud LIMA VAZ, Henrique Cláudio de. Escritos de filosofia II – ética e cultura. São
Paulo: Loyola, 1988, p. 16.
28

A segunda corrente da ética é a Ética de Kant (1996) que destaca o


dever (deontologia – tratado dos deveres) para o estudo dos princípios,
fundamentos e sistemas de moral (livre-arbítrio), isto é, o conjunto de deveres
profissionais inseridos num código específico.

Por esta razão, esta ética é a mais aplicável aos docentes (para
ministrar aulas) e não-docentes (para as atividades de administração,
planejamento, inspeção, supervisão escolar e orientação educacional), porque
trabalha com o agir humano, ademais, suas atividades profissionais devem
balizar-se pelos princípios éticos e morais, que estão intrinsicamente ligados à
moralidade pública, de acordo com o Código de Ética Profissional do Servidor
21
Público Civil Federal (Decreto 1.171, de 22/06/1994) , pois trabalham na
formação de seres humanos, que muitas das vezes são imaturos ou carentes
de bons exemplos, porquanto, “os exemplos valem mais do que mil palavras”,
como diz a sabedoria popular e John Locke, que defende o exemplo moral do
mestre para transmitir a virtude à criança.

Sendo assim, o ensino dos conteúdos, não podem ficar alheio à


formação moral do educando. Deve ater-se a valoração ética do mesmo, por
tratar-se de um ser histórico-social e como tal, está em formação e precisa de
um norte que o conduza à cidadania e ensiná-lo a viver eticamente neste
mundo global.

A ética contemporânea acrescenta aos três pilares da educação:


aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a ser, o princípio da
educação: aprender a viver juntos, ou seja, aprender a viver com os outros.

A terceira corrente da ética é a do Utilitarismo, que tem por objetivo


geral proporcionar o máximo de felicidade ao maior número de pessoas,

21
“A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais são primados
maiores que deve nortear o servidor público”.
29

através de uma proposição útil, que contribua para o êxito ou satisfação, isto é,
a prática das ideias. É uma corrente cujo pensamento tem um caráter
puramente finalístico.

A escola é de fundamental importância para combater a atual questão


social: do crescimento tecnológico que provoca o desemprego, decorrente do
capitalismo desenfreado; acarretando a desagregação social, através da
globalização, que tira o livre-arbítrio do homem e o joga nas garras do egoísmo
individual e social, privando-o duma conduta ética, uma vez que preocupa-se
somente com o econômico (ter) a qualquer preço, sem medir as
consequências nefastas, ao invés do humano (ser).

A ética fundamenta a moral, ao expressar a sua natureza reflexiva na


sistematização das normas, sendo portanto, uma exigência de crescimento e
de humanização, sabendo distinguir o bem do mal.

2.2 - O Ensino Religioso e a moral

O termo “moral” vem do latim mos ou mores, que significa “hábitos”.


Tais hábitos constituídos historicamente, são adquiridos no decorrer da vida do
homem, através de normas que oriente suas ações no agir social,
estabelecendo uma organização social de acordo com as leis na
temporalidade, para que possa pautar-se e agir corretamente.

Para Jean Piaget, as crianças nascem sem qualquer conhecimento


sobre o certo e o errado (fase da anomia) e compete aos adultos a formação
das mesmas (heterônoma).

As normas morais são apreendidas na família, na religião, na escola,


dentre outras, por isso, variam de cultura para cultura, em virtude da diferença
30

étnica. Tais normas passam por uma avaliação do homem que decide sobre a
aceitação ou a recusa da mesma.

A escola, por ser uma instituição destinada ao processo ensino-


aprendizagem, tem por obrigação empenhar-se na formação moral de seus
educandos, trabalhando com aprendizado da diferença e ensinando o respeito
mútuo, em relação ao mundo e ao próximo, proporcionando ao aluno uma
reflexão sobre o agir justo no mundo, em consonância com o outro,
possibilitando assim, o exercício da autonomia.

Dessa forma, o Ensino Religioso terá por objetivo:


“proporcionar ao aluno as oportunas experiências, informações e
reflexões ligadas à dimensão religiosa da vida, que ajudem a
cultivar uma atitude dinâmica de abertura ao sentido radical da
sua existência em comunidade, e a preparar-se assim para uma
22
opção responsável de seu projeto de vida”.

Na disciplina de Ensino Religioso pode-se utilizar temas variados da


atualidade (aquecimento global, violência, drogas, etc.), para que o aluno
possa refletir e provocá-lo a compreender os princípios que irão nortear suas
ações quanto à tomada de decisões, trilhando o caminho de formação da
identidade e do agir humano iluminado pela ética e pela moral, para que
possam buscar a transcendência religiosa. Sendo assim, os valores éticos,
morais e religiosos são propagados, facilitando o aprendizado do sagrado, em
sua religação congênita e estrutural.

Educar é ajudar a ser, nascendo aos poucos para a luz, para o


entendimento do mundo, de suas normas e regras morais e éticas que
permeiam a sociedade.

22
FERREIRA, Amauri Carlos. Ensino Religioso nas fronteiras da ética. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, 2001, p.
48 apud GRUEN, Wolfgang. Ensino Religioso na escola. Petrópolis, Vozes, 1995, p. 37.
31

Cabe também ao Ensino Religioso a retomada do verdadeiro significado


da palavra moral, que ficou esquecida e mal vista, decorrente da ditadura, que
tinha uma abordagem dogmática: a submissão e a falta de crítica, atitudes
totalmente contrárias as propostas da disciplina de Ensino Religioso.

Hoje a arte de educar é mais difícil, porque a nossa sociedade prefere


homens-coisas (ter) a homens-pessoas (ser), indivíduos escravos do
capitalismo selvagem, absorvendo produtos e ideais ditados pela globalização,
ao invés de cidadãos no controle de sua liberdade, com poderes de escolha
dos valores; deixando os instintos primários (possuir, gostar e poder) e
assumindo o verdadeiro instinto do ser (amar e servir a Deus e ao próximo).

O educador de Ensino Religioso precisa vencer essa alienação global e


se posicionar de forma a promover um rumo para as crianças e jovens que são
depositadas na escola, como a única solução dos pais para reeducá-las nas
regras éticas e morais, para conviver e viver nesses tempos conturbados e
sem perspectiva para esses seres despreparados e indefesos, e assumir
corajosamente o seu fazer concreto, apropriando-se assim, criticamente dos
valores da cultura atual.

O Ensino Religioso proporcionará ao alunado uma educação dos


valores morais que o transformará em seu ser radical, projetando-o para sua
verdadeira realização como ser humano.

Atualmente a sociedade está sofrendo a ausência de valores e não de


liberdade, porque os pais não estão sabendo educar seus filhos, uma vez que
não querem cometer os mesmos erros de seus pais (autoritarismo) e ficam
desnorteados e nada fazem pela educação de seus filhos, incentivando assim,
a falta do controle de limites, sendo impossível a educação através do
exercício dos valores fundamentais para a aquisição de hábitos de convivência
e de respeito mútuo, solidária e fraterna.
32

2.3 - Objetivos do Ensino Religioso na escola pública

Preocupados com o mistério da vida, com o futuro e com o sentido do


caminhar humano, todos buscam de alguma forma, em consonância com sua
maneira de sentir e agir, respostas às suas interrogações existenciais, como
forma de preencher o vazio que o mundo moderno e materialista nos legou.
Foi em boa hora que a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 criou
oportunidades legais e educacionais para sistematizar o Ensino Religioso
como disciplina escolar; a qual visa o estudo e à compreensão do fenômeno e
movimentos religiosos que constituem esta nossa sociedade plural.

O Ensino Religioso respeita a construção do conhecimento, da


interdisciplinariedade e da transdisciplinariedade. Porquanto tem por objetivos
gerais:
• Proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que compõem
o fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas recebidas
no contexto do educando;
• Subsidiar o educando na formulação do questionamento existencial,
em profundidade, para que possa dar sua resposta devidamente
informado;
• Analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e
manutenção das diferentes culturas e manifestações socioculturais;
• Refletir o sentido da atitude moral, como consequência do fenômeno
religioso e expressão da consciência e da resposta pessoal e
comunitário do ser humano;
• Possibilitar esclarecimentos sobre o direito à diferença na construção
de estruturas religiosas que têm na liberdade o seu valor
inalienável.23

23
Ensino Religioso Escolar <http://free.7host06.com/vinimax/santajoanadarc/gerinho.htm>.
Acesso em 16 março 2011.
33

Os valores de ordem moral: honestidade, coragem ou competência têm


as dimensões cognitiva / avaliativa necessários as relações interpessoais. Já
os valores de ordem afetiva: gosto / não gosto denotam a aceitação de
valores. Finalmente a ordem conativa dos valores: quero / não quero, nada
mais é do que a mediadora da ação.

Por isso, é de fundamental importância fazer com que o educando faça


de sua vida um encontro e uma presença constante entre os que o cerca,
conforme o mandamento de Cristo: “Amem uns aos outros como eu os tenho
amado”; primeiro momento da ética, percebendo no rosto do outro a
humanidade, carente de valores: a manifestação do sagrado.

A formação moral e ética corrobora para a consciência do limite que a


maioria das crianças e jovens de hoje, não conhecem ou não lhes são
aplicadas pela família.
34

CAPÍTULO III
GESTÃO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA
PÚBLICA ESTADUAL NO MUNICÍPIO DO
RIO DE JANEIRO

O Ensino Religioso deve ser ministrado ao alunado da Educação Básica


(educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) em todas as unidades
escolares da rede estadual, com matrícula facultativa e com professores de
acordo com o credo religioso dos alunos; em turmas para cada credo,
independente do número de alunos, desde que observadas as prescrições
quanto ao número máximo e a capacidade da sala. Já que 85% dos alunos
querem orientação religiosa, de acordo com o levantamento feito junto às
Coordenadorias Regionais. Os estudos realizados junto às famílias atendidas
pelas escolas, revelaram suas opções religiosas: 65% são católicos, 25%
evangélicos, 5% espíritas e outras crenças e 5% sem religião.

O ensino também é a transmissão de saberes e viveres, visto que, a


inter-relação entre o professor e aluno é vivencial, faz parte do objetivo da
clássica pedagogia do diálogo, onde a escola dá ao aluno os horizontes de
referência indispensáveis para se movimentar no mundo, instruindo-os nos
valores existenciais; dando ao aluno a possibilidade de ser um homem livre,
autônomo e com capacidade de discernimento próprio, ou seja, despertar nele
a vontade da verdade. Por isso a religião compõe a socialização, logo, faz-se
mister que a disciplina de Ensino Religioso seja ministrada nas escolas
públicas, uma vez que ensinar (insignire) é gravar um sinal no indivíduo.

Como falar do mundo antigo sem tocar na religião e suas implicações


nos dias atuais? Já que no estudo do Ensino Religioso ocorre a colaboração
multidisciplinar de vários ramos do saber. E para que tal aconteça é de
35

fundamental relevância que o Ensino Religioso nas escolas públicas estaduais


no município do Rio de Janeiro se dê com base científica, religiosidade
consciente, solidez pedagógica e compromisso com a verdade, visto que,
busca a transcendência a partir da experiência: espiritual, religiosa, comunitária
e institucional. Estudo este, baseado no fenômeno religioso, como prevê a
Base Nacional Comum, parecer 04/98 e Resolução 02/98 da Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Quanto a área do
conhecimento delimita-se a estudar: o fenômeno religioso, o conhecimento
religioso e a didática do fenômeno religioso.

3.1 - O processo educativo através da práxis

A dimensão pedagógica do Ensino Religioso é ajudar o aluno a


posicionar-se e a relacionar-se da melhor maneira possível com as novas
realidades que o rodeiam, em relação aos seus limites e quanto às linguagens
simbólicas (livros sagrados e a dimensão dos valores), através de reflexão
sobre limites e superação, isto é, é preciso interpenetrar teoria e prática.

Sendo assim, é preciso envolver os alunos na discussão das normas de


convivência que permeiam nosso cotidiano, para que com o passar do tempo,
os alunos estejam observando e cobrando o cumprimento das normas
estabelecidas para o bom relacionamento social, transformando-se num
exercício de liberdade.

O Ensino Religioso escolar trabalha com o sentido da vida plena, para


saber e fazer humanos, por conseguinte, os trabalhos feitos em sala de aula
(leituras, redação, dinâmicas e contatos de diversos tipos com a realidade
estudada,etc.) devem ter em foco, o homem social, para sua plena libertação.
36

Para se atingir tal objetivo, os educadores devem estar comprometidos


com o lapidar dessa alma humana, comprometendo-se com a continuidade da
criação: é colocar-se a serviço da construção e da conquista do ser humano
pleno consigo e harmonizando-se com o planeta do qual precisa para
sobreviver; resgatando-o do processo destruidor da globalização /
ocidentalização do capitalismo mundial, que está semeando o caos na terra.
Para combater esse mal, deve-se investir na mudança dessa mentalidade e
desses valores equivocados, através de um longo processo educacional ético-
político e sociocultural, onde vemos o Ensino Religioso como um bálsamo para
essa conquista; numa multidimensionalidade do ser humano e da sociedade.

Para se obter um resultado positivo acerca da disciplina do Ensino


Religioso, o educador precisa primeiro conhecer a composição e as
características de cada turma, através do mapeamento das diferentes
confissões de fé, para que seja respeitado todo e qualquer credo religioso e
possa trabalhar a homogeneidade para se garantir a democratização do
respeito a diferença e a diversidade, pela convivência respeitosa e alteridade.
Em seguida, fazer uso da dimensão relacional, abordando relacionamentos
entre as pessoas, valores éticos e morais na vivência em sociedade,
assumindo um espaço de diálogo em sala de aula.

O Ensino Religioso é parte integrante na formação do cidadão, portanto,


esse estudo perpassará os ensinamentos das tradições e culturas religiosas,
os textos sagrados, as diferentes teologias e os ritos diferenciados, alocado ao
éthos; dentro da perspectiva de conviver, dialogar e participar
interdisciplinarmente, para acabar de vez com o isolamento entre os saberes.

Como metodologia pode-se adotar trabalhar com “projetos” num


conceito de interdisciplinaridade. As atividades extraclasse também são muito
proveitosas, porque fazem os alunos se envolverem de maneira responsável
com a realidade que vivenciam e ter a oportunidade de colocar em prática os
37

valores morais e éticos apreendidos na disciplina de Ensino Religioso, como


forma condutora do diálogo, solidariedade e ecologia.

É tarefa do professor de Ensino Religioso criar metodologia e didáticas


para superar o proselitismo e o fundamentalismo religioso e a catequização
neste espaço. Evitar exclusão, em virtude da diversidade de tradições
religiosas, dialogando com o diferente, bem como oferecer espaço de debate e
reflexão em torno das mesmas, sacudindo as consciências e sendo exemplo.

É preciso deixar-se seduzir pela educação religiosa, onde o ser humano


busca dar vida a seus valores, formatar seus projetos individuais e coletivos,
investindo através da esperança, em vista de construir um futuro melhor para
si, numa convivência responsável num ecossistema reequilibrado e
sustentável.

Os professores de Ensino Religioso, já tem uma entidade


representativa de abrangência nacional, a ASPERC, a qual foi criada no dia
18/06/2010 e tem alguns expoentes do credo católico, lutando para dignificar a
profissão de docente de Ensino Religioso nas escolas públicas e privadas,
dando respaldo legal e formativo.

3.2 - A ação do gestor na esfera das práticas do Ensino


Religioso

A orientação por parte do gestor de um colégio deve: reunir-se para


discutir suas práticas; para achar uma solução; ter liderança (habilidade de
identificar problemas, estabelecendo e priorizando metas; coordenar ações
institucionais); ter conhecimento técnico (o fazer pedagógico) e colocar em
prática o método de gerenciamento (administrar a instituição dando voz e vez
aos demais participantes, direta e / ou indiretamente, do universo escolar;
38

identificando as competências; aproveitando as habilidades de cada um e


compartilhando tarefas com sua equipe).

O saber-fazer escola reflete a gestão escolar, promovendo o trabalho de


grupo, motivando-o a fazer o ser humano melhor, sendo por excelência a
gestão de seres humanos (organizar, estruturar e administrar pessoas),
matéria-prima também do Ensino Religioso escolar. Porquanto, tem por meta
envolver todos os participantes num clima organizacional de possibilidades.

Como no Ensino Religioso, a gestão escolar também tem a tarefa de


propagar nos indivíduos suas potencialidades, tornando aptas pessoas para
agirem com autonomia em prol de uma cidadania crítica frente as demandas
da vida, das relações e do mundo do trabalho. Por isso, a gestão democrática
é a mais utilizada nas escolas por assemelhar-se com os princípios acima
descritos, uma vez que, tende ao desenvolvimento da autonomia do sujeito,
como consequência da descentralização do poder e das práticas participativas,
onde cada um é direcionado para cooperar com suas habilidades e
competências, para contribuir com a formação integral das pessoas envolvidas,
atendendo aos anseios da sociedade e fazer no outro a humanidade.

A ação do gestor escolar tem o foco na visão da escola e nos processos


pedagógicos. Ademais, faz-se necessário um planejamento estratégico, um
plano de metas e um detalhamento das ações para o fortalecimento do
contrato didático, do combinado entre alunos e professores e da fixação de
prazos para a realização dos projetos, com vista a solidificar o PPP, como uma
carta de navegação e um diferencial de qualidade.

Dentro desse universo, o envolvimento de professores, alunos, pais,


funcionários, técnicos e comunidades serão o termômetro dessa gestão.
Sendo assim, os gestores deverão aprender com Jesus a pedagogia
humanizadora e libertadora, isto é, Jesus envolve os discípulos em sua
39

missão, adaptando seus objetos, programas, métodos e técnicas às suas


necessidades.

É tarefa do gestor fazer com que professores de outras disciplinas


conscientizem-se que o Ensino Religioso epistemologicamente também
pertence a área de conhecimento e como tal, os educandos desta disciplina
tem direitos a todos os status social e financeiro que as demais disciplinas
fazem jus, conforme a Resolução 02/98 da Câmara de Educação Básica, art.
3º, item IV; por se tratar de uma disciplina que apresenta a dimensão religiosa
do ser humano e da realidade. Outrossim, é de suma importância que o gestor
envide esforços e ações no sentido de promover mudanças de
comportamento nos outros professores, desenvolvendo novas perspectivas,
ideias, opiniões e atitudes, objetivando a operacionalização do sentido no
processo educativo na escola, onde cada membro da equipe conhece e
respeita o outro e seu trabalho, fazendo com que cada um se envolva e se
sinta responsável pelo ser e fazer escola.

3.1 - Desafios e perspectivas do Ensino Religioso na formação


da cidadania como integração social

Estamos vivendo um processo de ruptura paradigmática dos valores, o


certo passou a não ter mais importância, o errado está em voga. Nesse
processo, entende-se que os indivíduos têm perfis desconfigurados com os
princípios éticos e morais, interferindo diretamente na sociedade. A
humanidade perdeu o rumo, precisa resgatar os saberes passados de geração
em geração e refletir como suas atitudes estão desestabilizando o ecossistema
e a própria sociedade. Assim sendo, o Ensino Religioso é o mote norteador da
ação educativa, através do resgate do elo do conhecimento na reconstrução
do desenvolvimento de atitudes e valores, agregando a auto-realização ao bem
comum da sociedade, combatendo a homogeneização das culturas e a
dessacralização ou desencantamento pela qual passa a humanidade.
40

É preciso desconstruir essa ideologia da massificação e da


uniformização cultural; nesse sentido, é prudente retomar a reflexão em torno
das questões sobre as diferenças e sobre a identidade dos diferentes povos do
planeta, definindo e assumindo compromissos para erradicar as mazelas
humanas e sociais.

Podemos constatar que a inclusão social veio para combater os


problemas sociais, a desintegração familiar, as exclusões e a marginalização
do indivíduo, que deixou-se contaminar pela cultura do ter em detrimento da do
ser. Nesse contexto, a escola é um dos caminhos pelo qual o aluno pode
readquirir sua cidadania, por meio de direitos e deveres, lhe proporcionando
igualdade social. Dentro dessa concepção, o multiculturalismo, o
pluriculturalismo, o interculturalismo e o transculturalismo vêm de encontro com
a plêiade de desafios e perspectivas do Ensino Religioso na formação da
cidadania, integrando pessoas num mundo mais justo, com desafios a superar,
espaços a conquistar e projetos a construir, para a realização plena do ser
humano, contrapondo-se as deflagrações dos “bullying”, dos contravalores, do
processo de deteriorização do núcleo familiar e da banalização das virtudes.
41

CONCLUSÃO

Este estudo não trata apenas de elencar os desvios de conduta que


permeiam nossa sociedade, mas pontuar o egoísmo humano. Por isso, é de
vital importância o Ensino Religioso nas escolas públicas estaduais no
município do Rio de Janeiro, para contribuir para a vida coletiva dos
educandos, diante dos desafios e conflitos, devolvendo a dignidade do ser
humano e os valores éticos e morais que norteiam a sociedade.
Transformando as escolas em lugares de vida em toda a sua plenitude e
educando para a cidadania e respeito às diferenças; contribuindo assim, para
mudanças profundas, pessoais e sociais.

Graças a força da religião, através da reza do terço, os dezesseis


sobreviventes dos Andes, (quarenta e cinco jovens jogadores de rúgbi, seus
amigos e familiares, além dos cinco tripulantes que viajavam de Montevidéu –
Uruguai, para participarem de um jogo em Santiago – Chile, sofreram um
acidente aéreo, em 1972, numa remota região dos Andes), conseguiram
superar todos os momentos difíceis para manterem-se vivos, quando
passavam a noite toda rezando o terço, num misto de fé e luta pela vida, para
que não dormissem e morressem congelados, durante os setenta e dois dias e
noites que passaram na neve.

O educador de Ensino Religioso veio ser luz nova no chão da escola,


por isso, deve fazer com que seus ensinamentos sejam não somente
palavras, mas um testemunho vivo, como um meio para ensinar a viver, a
defender a vida, a dar a vida, para criar e recriar permanentemente o mundo:
“salvar o homem realizando-o” (Edgar Morin). O Ensino Religioso escolar não
é um emprego, é antes de tudo uma vocação de serviço e amor ao próximo.
42

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49

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SIGLAS E ABREVIATURAS 7
SUMÁRIO 9
INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I
HISTÓRICO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA
NO RIO DE JANEIRO 13
1.1 – O que é Ensino Religioso 13
1.2 – A introdução do Ensino Religioso nos primórdios
da Escola Pública 15
1.2.1 – Período Colonial (1500 a 1800) 15
1.2.2 – Período do Regime Imperial (1800 a 1900) 16
1.2.3 – Período do Regime Republicano
(1900 os dias atuais) 18
1.3 – As leis de implantação do Ensino Religioso na
Escola Pública Estadual no Município do Rio de Janeiro 20

CAPÍTULO II
OS VALORES E A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DO ENSINO
RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA 25
2.1 – O Ensino Religioso e a Ética 26
2.2– O Ensino Religioso e a Moral 29
2.3– Objetivos do Ensino Religioso na Escola Pública 32
50

CAPÍTULO III
GESTÃO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA
ESTADUAL NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO 34
3.1– O Processo Educativo através da práxis 35
3.2– Ação do Gestor na esfera das práticas do Ensino Religioso 37
3.3– Desafios e perspectivas do Ensino Religioso na
Formação da cidadania como integração social 39

CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA 42
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 51
51

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM

Título da Monografia: GESTÃO DO ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA


PÚBLICA COMO RESGATE DOS VALORES
ÉTICOS E MORAIS

Autor: ELIZABETH DE ARAUJO FERNANDES

Data da entrega: 25 de julho 2011

Avaliado por: MARY SUE CARVALHO PEREIRA Conceito:

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