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Direito Tributário – Temas Atuais

Sacha Calmon Navarro Coelho


(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
cujo capital detém participação
equivalente a 93%. Por sua vez, a
Beta detém 7% do capital da
sociedade operacional Gama.
Para melhor visualização da
estrutura, vejamos o gráfico
abaixo:
Planejamento Tributário e
Aquisição/
Incorporação de Empresas –
Questões Alfa
Atinentes ao IRPJ e à CSLL
100%
Sacha Calmon Navarro Coelho é 100%
Professor Titular de Direito Tributário da UFRJ,
Doutor em Direito Público pela UFMG,
Presidente Honorário da ABRADT, Vice- Beta 93%
Presidente da ABDF, Membro da IFA, Advogado.

Eduardo Maneira é
Professor Adjunto de Direito-Tributário da UFRJ, 7%
Mestre e Doutor em Direito Tributário pela
UFMG, Secretário-Geral da ABRADT e Advogado

Gama

1. CONSULTA.
3. A REESTRUTURAÇÃO
Consulta-nos a Imaginarius SOCIETÁRIA.
S/A a respeito da legalidade das
medidas que pretende realizar A primeira etapa da
para a reestruturação societária do reestruturação trata da operação
grupo, a qual, segundo em que a Beta adquirirá da
informações, iniciou-se há cerca controladora estrangeira Alfa a
de 1 ano, e que compreenderá totalidade (93%) da participação
diversas etapas. que mantém no capital social da
Gama, a preço de mercado, de
acordo com a projeção dos
2. A ESTRUTURAÇÃO resultados estimados desta,
SOCIETÁRIA ATUAL. através de Laudo de Avaliação a
ser emitido previamente à
A atual estrutura societária aquisição. Após este passo, a
do grupo Imaginarius, a qual se Gama tornar-se-á subsidiária
mantém inalterada deste o início integral da Beta.
de suas atividades no Brasil e cuja Esta operação, por
reorganização ora submete-se à conseqüência, implicará na
análise, é composta pela empresa formação de um ágio
Alfa, uma sociedade de capital fundamentado em expectativa de
estrangeiro sediada na Holanda, rentabilidade futura (art.385,
controladora da sociedade holding inciso II, do Regulamento do
brasileira Beta, detendo 100% de Imposto de Renda –RIR/ 99,
seu capital, e da sociedade aprovado pelo decreto nº
operacional brasileira Gama, de 3.000/99), que será registrado na

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contabilidade da empresa pela Empresa adquirente, entre o
incorporada Beta e poderá ser valor da aquisição e o valor
amortizado em um período de 5 a patrimonial do investimento
10 anos, conforme previsão legal. adquirido?
O planejamento ora
proposto considera que a 5- A quem caberá a
aquisição das ações será responsabilidade (sujeição
contratada para pagamento em passiva) pela apuração do
longo prazo, através de diversas provável ganho de capital e do
remessas ao exterior, em período recolhimento dos tributos
que pode variar de 5 a 10 anos. incidentes?
Em etapa subseqüente, a
Gama, então subsidiária integral 6- Qual é o tratamento tributário a
da Beta, será por esta ser dado ao ganho de capital
incorporada, reduzindo a estrutura auferido pela Empresa estrangeira,
societária no Brasil e permitindo, na alienação do investimento para
em conseqüência, na hipótese de a Empresa brasileira (momento da
haver resultados tributáveis, a apuração e da retenção na fonte,
dedutibilidade do ágio amortizado alíquotas a serem consideras)?
para fins do Imposto de Renda da
Pessoa Jurídica – IRPJ e da 7- Em que extensão o ganho de
Contribuição Social sobre o Lucro capital sob análise deve ter o
Líquido – CSLL. tratamento equiparado ao
Assim expondo, a tratamento dado às pessoas físicas
Consulente, formula os seguintes ou dado às pessoas jurídicas,
quesitos: sediadas no Brasil (arts. 140, 421,
“1 – Pode a Empresa controladora 682 e seguintes do RIR/99)?
com sede no exterior (Alfa) alienar
a sua participação societária na 8- Em se tratando de alienação
empresa controlada para uma para recebimento do preço, em
terceira Empresa, sediada no um prazo de 05 anos ou mais, o
Brasil, também sob seu controle? ganho de capital pode ser
reconhecido e os tributos apurados
2- A adoção do valor de mercado, e recolhidos (inclusive IR Fonte) à
na operação de compra e venda medida e na proporção das
de investimentos, entre Empresas parcelas recebidas em cada
controladora e controlada é uma período de apuração, mesmo
opção ou uma imposição da sendo o alienante uma pessoa
legislação brasileira, inclusive jurídica estrangeira (art. 421, do
frente às disposições concernentes RIR/99)?
à distribuição disfarçada de lucros?
9 – Com a incorporação da
3- Quais critérios (inclusive empresa adquirida (Gama) pela
cambiais) deverão ser empresa adquirente (Beta), o
considerados na determinação do valor do ágio pago quando da
valor do investimento na empresa aquisição poderá ser amortizado
brasileira, pela Empresa alienante, como despesa dedutível, conforme
para efeitos de apuração do ganho previsto nos arts. 7º e 8º, da Lei
de capital, sujeito à tributação? nº 9.532/97?

4- Qual deverá ser o tratamento 10 – Algumas das operações


contábil e fiscal a ser observado poderiam ser caracterizadas como

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procedimentos de evasão e/ou Cabe ainda ressaltar que se
elisão fiscal, e, em sendo, poderão analisa aqui a legalidade das
sofrer algum tipo de restrição, medidas pretendidas, sem
pela legislação brasileira, em qualquer avaliação acerca de sua
especial, pela LC nº 104/2001? viabilidade financeira.

11 – A realização da operação,
entre empresas do mesmo Grupo 5. ELISÃO E EVASÃO FISCAL.
poderia, só por esta razão, de
alguma forma, ser caracterizada Oportuno que se discorra
como simulação? sucintamente sobre a questão
jurídico/doutrinária que irá
12 – A operação em questão, permear todo o parecer, qual seja:
poderia, de alguma forma, ser a reestruturação societária
tratada como operação ilícita, sob pretendida pela Consulente se
os argumentos de que ao final enquadraria no campo da elisão ou
haverá benefício fiscal decorrente da evasão fiscal? Pois bem. A
de amortização do ágio?” estrutura a seguir apresentada
decorre da sistematização do tema
Em prosseguimento à evasão, a partir da mescla dos
análise das hipóteses acima critérios adotados por SAMPAIO
1
relatadas, passamos a nos DÓRIA e de ALBERTO XAVIER2:
manifestar.

EVASÃO FISCAL (LATO SENSU)


4. ESCLARECIMENTOS
INICIAIS. 1. Evasão omissiva (intencional ou
não), subdividida em:
O presente parecer se 1.1. Evasão imprópria (abstenção
baseia nas informações relatadas intencional de incidência; não
pela Consulente, através de seus entrar no fato gerador);
consultores retrocitados, os quais 1.2. Evasão em sentido próprio
fundamentam as mencionadas (por sua vez subdividida em):
operações na existência de 1.2.1. Não pagamento por
relevante propósito negocial e desconhecimento ou
econômico para a reestruturação mau conhecimento do
societária do grupo. dever fiscal (não
Segundo o relato da intencional).
Consulente, existem relevantes 1.2.2. Não pagamento
interesses empresariais para a apesar do
reestruturação societária do conhecimento do dever
grupo, dentre eles, “a mudança do fiscal, sonegação
perfil dos investimentos no Brasil, (intencional).
com a redução do número de
empresas no país, bem como 2. Evasão comissiva (sempre
obter, através de tal intencional):
reestruturação, alternativas
viabilizadoras para uma situação 1
DÓRIA, Antonio Roberto Sampaio. Elisão e
operacional que justifique a Evasão Fiscal. São Paulo: Lael, 1971, pp.14-22.
remessa lícita de recursos ao
2
exterior (matriz)”. XAVIER, Alberto Pinheiro. O negócio Indireto
em Direito Fiscal: Lisboa: Companhia e Editora
Forense, 1971, pp.9-12

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economia fiscal ou elisão fiscal,
2.1. Ilícita (fraude, simulação, ocorreria quando o agente,
conluio); visando a certo resultado
2.2 Lícita (economia fiscal ou econômico, buscasse, por
“elisão”). instrumentos sempre lícitos,
fórmula negociável alternativa e
Segundo esses autores, a menos onerosa do ponto de vista
evasão por omissão é imprópria fiscal, aproveitando-se da
quando, por exemplo, não se legislação não proibitiva ou não
pratica o fato gerador para não se equiparadora de formas ou
ter que pagar o tributo (deixar de fórmulas de Direito privado
alienar bens para fugir do imposto (redução legal das formas ao
sobre lucro imobiliário ou deixar resultado econômico).
de obter rendas suplementares A disciplina da elisão fiscal
que aumentariam o patamar do IR comporta mais uma diferenciação.
– progressivo). Enquadram-se Temos elisão induzida quando a
ainda no conceito de evasão própria lei deseja o
omissiva imprópria os casos de comportamento do contribuinte,
“transferência econômica do por razões extrafiscais. Exemplo é
encargo fiscal” (deslocamento do a isenção por 10 anos do IR para
peso fiscal do contribuinte de iure os lucros das indústrias que se
para o contribuinte de facto) instalem no Norte-Nordeste do
mediante determinações Brasil. Temos elisão por lacuna
contratuais ou legais através dos quando a lei, sendo lacunosa,
fenômenos da repercussão, deixa buracos nas malhas da
absorção ou difusão. imposição, devidamente
A evasão omissiva própria aproveitados pelos contribuintes.
ocorre quando: A verdadeira elisão fiscal é esta,
a)intencionalmente o contribuinte por apresentar questionamentos
omite dados, informações e jurídicos e éticos na sua avaliação.
procedimentos que causam a Baseia-se na premissa de que, se
oclusão do dever tributário o legislador não a quis, como na
(sonegação); ou b) não elisão fiscal induzida, pelo menos
intencionalmente, o contribuinte não a vedou expressamente,
obtém os mesmos resultados por quando podia tê-lo feito (princípio
ignorar a lei ou o dever fiscal. As da legalidade). Esse princípio, no
duas espécies se diferenciam pela particular, abriga duas conotações
presença do dolo específico na relevantes. A primeira é a de que
primeira e pela sua inexistência na o contribuinte, observada a lei,
segunda. não está obrigado a adotar a
A evasão comissiva ilícita solução fiscal e jurídica mais
dá-se nas hipóteses de fraude, onerosa para o seu negócio. Pelo
simulação ou conluio, que são contrário, está eticamente liberado
ações unilaterais ou bilaterais, para buscar a menos onerosa, até
voltadas ao escopo de alterar a porque, sendo o regime econômico
realidade com o fito de não pagar considerado de livre iniciativa e de
o tributo ou retardar o seu assunção de responsabilidades,
pagamento (falsificação de prevalece a tese da minimização
documentos, notas fiscais, valores, dos custos e da maximização dos
negócios, etc). resultados. A segunda conotação
A evasão comissiva lícita, do princípio da legalidade no
finalmente, também chamada de particular reside no aforisma de

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que ninguém está obrigado a fazer resultado, conforme assinalado. Em
ou deixar de fazer alguma coisa conseqüência, de nenhum deles pode
senão em virtude de lei, de resto logicamente depender a distinção das
preceito constitucional e, pois, figuras em pauta.
dominante.
O primeiro aspecto substancial que as
Disto isso, é oportuno estrema é a natureza dos meios
ofertar exemplos práticos de eficientes para sua consecução: na
condutas elisivas lícitas por parte fraude, atuam meios ilícitos
dos contribuintes: (falsidade) e, na elisão, a licitude dos
a) o contribuinte ao comprar bens meios é condição sine qua non de sua
para o seu ativo fixo pode optar realização efetiva.
por fazê-lo via leasing, que
permite abater a despesa do lucro O segundo aspecto de maior
tributável pelo IR, ou via compra- relevância é o momento da utilização
dos meios; na fraude, opera-se a
e-venda que gera despesa não
distorção da realidade econômica no
dedutível, acrescendo seu instante em que ou depois que ela já
patrimônio líquido (Nem pensar se manifestou sob a forma jurídica
em simulação...) O STF já se descrita na lei como pressuposto de
pronunciou, caracterizando a incidência. Ao passo que, pela elisão,
espécie como elisão; o agente atua sobre a mesma
realidade antes que ela se exteriorize,
b) o contribuinte pode formar uma revestindo-a da forma alternativa não
sociedade com bens imóveis descrita na lei como pressuposto de
(colação de bens ao capital de incidência.
sociedade) ficando sua quota
Com ligeira ampliação dos momentos
imune ao ITBI, ao invés de fazê-lo em que a fraude se verifica, para
com bois, v.g., sujeitados ao incluir também a simultaneidade de
ICMS; sua ocorrência com a do fato gerador,
pode-se afirmar que é hoje
c) para gozar de uma isenção do doutrinariamente pacífica a adoção
IR por dez anos, o contribuinte desse critério formal distintivo entre
ergue sua fábrica em Ilhéus/BA, fraude e elisão”.
ao invés de fazê-lo em Vitória/ES,
que não está na área da SUDENE; MARCEL WURLOD4, em tese de
doutoramento apresentada à
d) no Município limítrofe, a Faculdade de Direito de Lausanne,
Câmara Municipal não votou lei intitulada Forme Juridique at
instituindo o ISS. O contribuinte réalité économique dans
instala ali o seu escritório de l’application des lois fiscales, traça
representação comercial, embora idêntico paralelismo, colocando a
tenha domicílio no outro ação humana, anterior ou
Município; posterior ao fato gerador, como o
elemento fulcral da distinção entre
ANTÔNIO ROBERTO SAMPAIO evasão ilícita e elisão, esta sempre
DÓRIA3 assim distingue a evasão lícita (economia de imposto).
ilícita da elisão, que é sempre
lícita:

“Os elementos comuns a ambas a


ação, a intenção, a finalidade e o
4
WURLOD, Marcel. Forme Juridique at réalité
3
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Op. économique dans l’application des lois fiscales.
cit.,p.20. Lausanne: Librairie F. Rouge et Cie S/A, 1947

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Direito Tributário – Temas Atuais
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RUBENS GOMES DE SOUZA5,
entre nós, igualmente erigiu, como “A sentença é respeitável e
único critério seguro para merecedora de elogio. Seu autor, o
distinguir evasão e elisão, a época ilustre juiz e professor, versa sobre
em que realizada a ação um tema que – não sei porque –
encontra freqüentemente inibição dos
excludente do contribuinte, se
magistrados que os impede de
antes ou depois da ocorrência do assumir uma posição clara com pleno
fato gerador do tributo: apoio na melhor doutrina num país
como o nosso, em que prevalece o
“O único critério seguro (para princípio da legalidade estrita em
distinguir a fraude da elisão) é matéria tributária, imbuído num
verificar se os atos praticados pelo sistema de direito positivo fechado,
contribuinte, para evitar, retardar ou que, em matéria de direitos
reduzir o pagamento de um tributo subjetivos, não permite qualquer
foram praticados antes ou depois da margem de discrição à autoridade no
ocorrência do respectivo fato gerador: trato com o indivíduo.
na primeira hipótese, trata-se de
evasão; na segunda, trata-se de Sei que há um bem relevante a
fraude fiscal”. preservar através da aplicação da
regra de isonomia, e em seu nome o
NARCISO AMORÓS6, na que a justiça indica é que pessoas em
Espanha, é outro que repercute a situações econômicas iguais paguem
mesma idéia, sem falar em fato impostos iguais; daí, com propriedade
gerador, mas falando em relação e acerto, muitos afirmaram que na
jurídica, o que, sem dúvida aplicação das leis tributárias deve-se
ter em vista o conteúdo econômico
significa um avanço na fixação do
das situações, fatos ou negócios, pois
critério distintivo. Em vernáculo, é sempre a ele que a vontade da lei
eis a frase: ou do legislador visa.
“A elisão para nós é não entrar na relação
Esqueceram os que assim pensam
fiscal. A evasão é dela sair. Exige,
portanto, estar dentro, haver estado ou que há outro princípio também
podido estar em algum momento.” importante e de incidência muito mais
ampla, que é o da certeza das
GILBERTO DE ULHÔA CANTO7, relações jurídicas, máxime daquelas
que se estabelecem com
um dos autores do anteprojeto de
prescindência da manifestação de
reforma tributária (Emenda 18 à vontade das partes, porque resultam
Constituição de 1946) e do Código da própria lei.
Tributário Nacional, cuidando de
sentença sobre contratos de (...)
leasing que tivemos a
oportunidade de prolatar quando Nenhum contribuinte tem obrigação
respondíamos pela 14ª Vara de pagar imposto que a lei não prevê,
Federal de Belo Horizonte, honra- ou maior do que por ela previsto;
se com o seguinte comentário: isso, porque em o fazendo, além de
sofrer lesão patrimonial sem justa
causa, estaria coadjuvando na
5
SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de infração à ordem constitucional. Uma
Legislação Tributária, Rio de Janeiro: primeira verificação a fazer consiste,
Financiaras, 1960, 3ª ed., p.113. pois, em apurar se a conduta do
6
AMORÓS, Narciso. La Elusion y la Evasion
Tributária, in Revista de Derecho Financiero y
contribuinte que o leva a não pagar
de la Hacienda Pública, Madrid, 1965, vol.15, imposto, pagar menor imposto ou
.573. pagar imposto mais tarde, importa em
7
Apud COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso violação de direito da Fazenda
de Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro, Pública, ou seja, contrapõe-se a um
Forense, 1999, 4ª ed., pp.219-22.

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comando legal que o torne obrigado sentido da norma; eis o que diz o art.
ao tributo evitado, reduzido ou cuja 72:
satisfação é retardada.
„Art. 72. Fraude é toda ação ou
(...) omissão dolosa tendente a impedir ou
retardar, total ou parcialmente, a
Na busca desordenada de fundamento ocorrência do fato gerador da
para definir a conduta do contribuinte obrigação tributária principal, ou a
como evasão, é comum ver-se a excluir ou modificar as suas
Fazenda Pública pretender que certos características essenciais, de modo a
atos tenham sido por ele praticados reduzir o montante do imposto
com simulação, porque o seu objetivo devido, ou definir o seu pagamento.‟
único ou principal foi evitar ou reduzir
ônus tributário. Trata-se de um erro Uma coisa que já foi claramente dita
palmar, pois, no direito positivo por vários autores (notadamente por
brasileiro, os casos de simulação Rubens Gomes de Sousa, Pareceres e
acham-se definido no art. 102 do Imposto de Renda. Ed. Resenha
Código Civil num numerus clausus, Tributária, 1976, ps. 175 e segs.) é
sem que dentre eles figure o ânimo de que a distinção entre evasão e elisão
evitar imposto. O que, de resto, nem não pode ser feita levando-se em
seria admissível num sistema jurídico conta elemento subjetivo ao autor,
não causalista, que somente se refere porque em uma e noutra o intuito é o
à causa nos dois únicos casos mesmo: não pagar tributo, pagá-lo a
mencionados no art. 90, em que ela é menor ou em data mais afastada, de
expressa como razão determinante ou sorte que a diferença deverá ser
como condição do ato. A rigor, a buscada noutro elemento. Daí, a
vontade de não pagar imposto nem formulação do conceito, já enunciado,
seria causa, podendo caracterizar que extrema a evasão e a elisão a
quando muito um motivo.” partir da anterioridade da conduta em
relação ao fato gerador. Uma
Ainda segundo ULHÔA exposição muito interessante desse
CANTO, a Lei nº 4.506, de entendimento foi feita pelo suíço
30/11/64, contém impropriedades MARCEL WURLOD, no seu „Forme
a respeito do conceito de fraude: Juridique et Réalite Économique Dans
L‟application des Lois Fiscales (ed.
F.Rouge, Lausanne, 1947).
“Para terminar estas breves
observações, penso que é oportuno
ponderar mais uma vez, a péssima Ora, se esse é o fator distintivo
redação adotada nos arts. 71, 72 e 73 correto, e não a intencionalidade do
agente, é forçoso entender o art. 72
da Lei nº 4506, de 30.11.1964, que
por força, do disposto no art. 21 do da Lei nº 4.502/64 como contendo
Dec.-lei nº 401, de 30.12.1968, implícita a condição de a conduta ser
acabou sendo também válida para de per si contrária à lei, pois o mero
fato do impedimento de que o fato
efeitos de imposto sobre a renda e
gerador surja, se entendido de modo
proventos de qualquer natureza, na
qualificação de sonegação, fraude ou ilimitado, levaria a conceituar-se
conluio. A maneira de caracterizar como fraude e deliberação de um
essas figuras ilícitas foi infeliz, porque profissional de não trabalhar durante
os últimos dias do ano, para evitar
misturou conceitos que deveriam ter
ficado separados e, principalmente, que o seu ônus tributário com o
porque deu uma definição de fraude imposto sobre a renda passasse de
que suscita dificuldade de um limite prefixado, como o de sua
possibilidade de caixa; ou o fato de
entendimento, sendo no meu parecer,
um daqueles casos para os quais a alguém vender um imóvel antes do
interpretação é reservada como meio dia 31 de dezembro de certo ano,
de compreensão do verdadeiro para não ter que pagar vultuoso
imposto predial e territorial; e assim

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por diante, numa infinidade de negócio fiscalmente menos oneroso. É
hipóteses em que é mais do que certo que esta figura assenta num
evidente que seria rematado absurdo jogo de tipos legais cuja aplicação
tentar evitar a aplicação do está em certa medida, ao menos,
dispositivo.” dependente da vontade do particular.
Quer dizer: é o caráter tipológico do
A essa altura, cumpre fazer direito fiscal que está na base da
um reparo crítico aos autores problemática do negócio fiscalmente
citados. Não que suas lições menos oneroso. Ora, não só os
estejam erradas. Apenas que são pressupostos de fato são objeto de
uma tipologia por parte da lei fiscal,
insuficientes. É que, para separar
são-no também os fatos impeditivos,
as formas evasivas das formas em que as isenções se traduzem, são-
elisivas não basta a indagação (e a no ainda os fatos de que depende a
resposta) sobre o momento em aplicação da taxa, no caso de
que se realizaram, se antes ou pluralidade de taxas são-no
depois do fato gerador. O finalmente os fatos aos quais a lei
momento pode ser também, v.g., atribui a dedutibilidade à matéria
antes do pagamento do imposto. colectável. Por outras palavras: objeto
Sobre o tema, ALBERTO XAVIER8, de um processo de tipificação legal é
nos idos de 1971, fez notar a não só os elementos da previsão da
norma, mas também os de sua
insuficiência doutrinária:
estatuição, ou seja, todos os
relevantes para a produção dos
“Outro equívoco de certa doutrina que
efeitos jurídico-tributários. Dessa
sobre o tema tem se ocupado é o de
sorte, facilmente se compreende
restringir o campo de atuação do
como o negócio fiscalmente menos
negócio menos oneroso ao do
oneroso, se atua, via de regra, nos
pressuposto (Tatbestand) do tributo.
elementos de previsão (pressupostos
Assim o sugere, desde logo, a
de fato), pode atuar quanto às
classificação de origem anglo-
isenções, quanto às deduções
saxônica, mas logo retomada pela
(contração de dívidas ou realização de
doutrina continental, entre a tax
doações para efeitos de dedução à
avoidance e a tax evasion.
matéria colectável) e quanto aos
pressupostos da aplicação da taxa.
Na tax avoidance ou elisão do
imposto, o particular consegue evitar,
Daqui resulta uma importante
impedir a realização do pressuposto
conseqüência: ou a distinção entre
de fato de um tributo, não praticando
elisão do imposto e evasão fiscal
o ato jurídico que a lei arvorou em
corresponde à diferença entre não
elemento de previsão ou praticando
sujeição a tributo e violação
outro que a mesma lei não atribui
fraudulenta da lei de imposto aplicável
conseqüências fiscais. Na tax evasion
– e então ficam de fora os negócios
ou evasão do imposto, o particular
fiscalmente menos onerosos que não
praticou um ato correspondente ao
respeitam à previsão, mas à
pressuposto de fato de um tributo, e
estatuição da norma; ou tal dicotomia
posteriormente, procura evitar o
exclui a violação fraudulenta da lei e
cumprimento da obrigação que lhe
nesse caso não se consegue
corresponde. Por outras palavras: na
descortinar qualquer diferença de
tax avoidance o particular pretende
regime entre a elisão e a evasão,
não entrar na relação tributária; na
apenas em função do elemento da
tax evasion procura dela sair.
norma a que se refere o negócio.”
A verdade, porém, é que esta
dicotomia não consegue surpreender
Como vimos de observar, a
todas as modalidades possíveis do elisão pode se dar também nos
elementos da conseqüência (base
8
XAVIER, Alberto Pinheiro. Op.cit., p.10. de cálculo) por meio de deduções,

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Direito Tributário – Temas Atuais
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por exemplo, que reduzam ou reestruturação da empresa,
extingam o montante do tributo a para obter ganho de qualquer
pagar, de maneira absolutamente natureza, funcional,
lícita. operacional, mercadológica ou
financeiro – business purpose
Para que haja fraude
– dificilmente se poderia
material ou de forma jurídica inquinar a operação de
(simulação ou abuso de forma fraudulenta, apenas porque
jurídica) devem estar presentes exerce o contribuinte o direito
requisitos rigorosos. A saber: de escolher, entre meios
lícitos, aquele menos oneroso,
(a) na fraude, os meios são do ponto de vista tributário.
sempre ilícitos. Na elisão, os
meios são necessariamente Em suma, quando ocorre
lícitos; fraude material, temos
(b) a utilização desses meios, na
falsificações. Na fraude por abuso
fraude, dá-se em momento
posterior à ocorrência do fato
de formas de direito privado é
jurígeno ou do pagamento, imprescindível a simulação do
falseando-se os dados de negócio jurídico, cujo conceito está
cálculo. Na elisão o emprego no Código Civil, art. 102 (numerus
dos meios, quase sempre, clausus):
ocorre antes;
(c) em relação à pertinência dos “Art.102. Haverá simulação
meios, quando estes nos atos jurídicos em geral:
expressam formas jurídicas
alternativas (negócio jurídico I – quando apresentarem
indireto), tem-se que, na conferir ou transmitir direitos a
fraude, há simulação de pessoas diversas das a quem
negócio e, na elisão, realmente conferem, ou
compatibilidade entre forma e transmitem.
conteúdo. Na fraude, a II – quando contiverem
intentio facti é uma, e a declaração, confissão, condição ou
intentio iuris é outra. Na cláusula não verdadeira.
elisão, a intenção real volta-se III – quando os instrumentos
a duas ou mais formas particulares forem antedatados,
jurídicas opcionais, as quais ou pós-datados.”
levam sempre ao resultado
desejado a priori. Podemos
exemplificar com a A simulação de negócio
possibilidade, no Direito jurídico, assunto seríssimo pelas
Brasileiro, de uma pessoa conseqüências que acarreta, exige
jurídica dotar-se de um bem rigor técnico e cautela para que
de produção (ativo fixo) seja
possa ser irrogada às pessoas,
adquirindo-o à vista ou a
prazo (compra e venda) seja mormente em matéria tributária.
alugando-o, por contrato de
arrendamento mercantil Diz CAIO MÁRIO DA SILVA
(leasing). Cabe ao PEREIRA9 que:
contribuinte, licitamente,
decidir que fórmula jurídica, “Consiste a simulação em celebrar-se
dente as permitidas, lhe é a um ato que tem aparência normal,
mais favorável, quer do ponto mas que, na verdade, não visa ao
de vista negocial, quer do
ponto de vista fiscal;
9
(d) finalmente, se há razões PEREIRA, Caio Mário da Silva.
empresariais reais, como Instituições de Direito Civil, vol.I., Rio de
Janeiro, Forense, 11ª ed., 1989, p. 367.

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efeito que juridicamente devia Negócio indireto não é negócio
produzir, mas enganosa. simulado11.
Postos esses fundamentos,
(...). veremos que no caso ora em
Pode a simulação ser absoluta ou
análise os meios a serem
relativa. Será absoluta, quando o ato
encerra confissão, declaração, utilizados serão lícitos, com estrita
condição ou cláusula não verdadeira, observância aos preceitos legais, e
realizando-se para não ter eficácia com absoluta coincidência entre a
nenhuma.(...) intenção real e a intenção
manifestada, baseada, segundo
A simulação se diz relativa, também relatamos a Consulente, no
chamada dissimulação, quando o ato relevante propósito empresarial de
tem por objetivo encobrir outro de reorganização societária,
natureza diversa (e.g., uma compra e patrimonial e de economia de
venda para dissimular doação), ou
custo.
quando aparenta conferir ou
transmitir direitos a pessoas diversas
das a quem realmente se conferem ou
transmitem.” 6. INAPLICABILIDADE DO
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.
Como se observa, na 116 DO CTN.
simulação de negócio jurídico, a
intentio facti divorcia-se da Pelas mesmas razões, é
intentio iuris. A intenção das inteiramente inaplicável ao caso
partes é uma. A forma jurídica em tela o parágrafo único do art.
adotada é outra. Ou então o ato é 116 do CTN, introduzido pela Lei
ficto. Segundo CLÓVIS Complementar nº 104, de 10 de
BEVILAQUA10, “a simulação é janeiro de 2001, a saber:
uma declaração enganosa da
vontade, visando produzir efeito
diverso do ostensivamente “ Art. 116. Salvo disposição de lei
indicado”. A simulação consiste, em contrário, considera-se ocorrido
pois, na discordância entre a o fato gerador e existentes os seus
efeitos:
vontade e declaração: as partes
regulam, clandestinamente, as
I - tratando-se de situação de
relações jurídicas de acordo com a
fato, desde o momento em
vontade desejada, mas não que o se verifiquem as
declarada. No negócio jurídico circunstâncias materiais
indireto, emprega-se determinado necessárias a que produza os
instituto jurídico com o objetivo de efeitos que normalmente lhe
alcançar finalidades diversas das são próprios;
que lhe são típicas. As partes
recorrem a negócio jurídico, a cuja II - tratando-se de situação
forma e disciplina sujeitam-se, jurídica, desde o momento
voluntária e conscientemente, em que esteja
visando a alcançar um fim diverso definitivamente constituída,
nos termos do direito
do fim típico do negócio adotado.
aplicável.

10 11
BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria Geral do ASCARELLI, Tullio. Problemas das
Direito Civil, 2ª ed. Rio de Janeiro, sociedades anônimas e direito comparado.
Francisco Alves, 1976, p. 225 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 1969, p. 110.

10
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
Parágrafo único. A fictícias. Ela se diz relativa, se
autoridade administrativa atrás do negócio simulado existe
poderá desconsiderar atos outro dissimulado. Explica
ou negócios jurídicos BARROS MONTEIRO13:
praticados com a
finalidade de dissimular a
“É relativa, quando
ocorrência do fato gerador
efetivamente há intenção de realizar
do tributo ou a natureza
algum ato jurídico, mas este: a) – é
dos elementos
de natureza diversa daquele que, de
constitutivos da obrigação
fato, se pretende ultimar (colorem
tributária, observados os
habens, substantiam vero alteram).
procedimentos a serem
É o caso da doação à concubina,
estabelecidos em lei
mascarada sob aparência de venda.
ordinária. (grifamos)
Para alcançar seu objetivo, as partes
realizam negócio jurídico diverso do
A fraude, a simulação e a que soam as palavras; b) – não é
dissimulação, no campo do efetuado entre as próprias partes,
Direito Tributário, são formas aparecendo então o testa-de-ferro, o
ilícitas de evasão ou de presta-nome, ou a figura de palha.
sonegação fiscal. A simulação Por exemplo, alguém, desejando
caracteriza-se pelo “intencional vender bens a um dos descendentes
desacordo entre a vontade e não podendo satisfazer a exigência
interna e a declarada, no sentido do art. 1.132, do Código Civil, simula
alienação a terceiro, para que este,
de criar, aparentemente, um ato
em seguida ou mais tarde, sem
jurídico que, de fato, não existe, outros embaraços, concretize o ato
ou então oculta, sob determinada que o primeiro tinha originariamente
aparência, o ato realmente em mira; c) – não contém elementos
querido. Como diz CLÓVIS, em verdadeiros, ou melhor, seus dados
forma lapidar, é a declaração são inexatos. Por exemplo, numa
enganosa da vontade, visando a escritura de compra e venda, os
produzir efeito diverso do contratantes mencionam preço
ostensivamente indicado.” 12
Ela, inferior ao real, a fim de reduzir o
em regra, pressupõe uma quantum do imposto de transmissão
da propriedade. Diz-se, nesse caso,
declaração bilateral de vontade,
que a simulação é parcial, hipótese
conluio entre as partes e visa a em que subsiste o ato, ressalvada à
iludir e lesar terceiros ou a violar Fazenda, é óbvio, a percepção dos
disposição de lei. respectivos direitos fiscais.

Embora a lei civil não (...)


estabeleça distinção entre
simulação absoluta ou relativa, a Cumpre não confundir simulação
doutrina as diferencia. A com dissimulação. Distinguiu-as
simulação absoluta exprime FERRARA, nos seguintes termos: na
ato jurídico inexistente, ilusório, simulação, faz-se aparecer o que não
fictício, ou que não corresponde à existe, na dissimulação oculta-se o
que é; a simulação provoca uma
realidade, total ou parcialmente,
crença falsa num estado não-real, a
mas a uma declaração de
dissimulação oculta ao conhecimento
vontade falsa. É o caso de um dos outros uma situação existente...
contribuinte que abate despesas Mas, em ambas, o agente quer o
inexistentes, relativas a dívidas engano; na simulação quer enganar

12
MONTEIRO, Washington de Barros.
13
Curso de Direito Civil. Parte Geral, 28 ed. MONTEIRO, Washington de Barros. Op.
São Paulo. Saraiva, 1989, p. 207 cit.pp.209-13.

11
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
sobre a existência de uma situação abuso da função instrumental do
não-verdadeira, na dissimulação, negócio), UBALDINO MIRANDA 15
sobre a inexistência de situação real. constrói unitariamente o
Se a simulação é um fantasma, a fenômeno simulatório, a saber:
dissimulação é uma máscara.”
“Com efeito, a simulação é um
Segundo a doutrina, a procedimento complexo a que as
simulação é distinta da partes recorrem para a criação de
dissimulação. Enquanto a uma aparência enganadora. Nesse
simulação expressa o que não procedimento, mediante uma só
existe na realidade (total ou intenção, as partes emitem duas
parcialmente), a dissimulação declarações: uma destinada a
oculta o que na realidade se permanecer secreta e a outra com o
constituiu. Por isso, alguns fim de ser projetada para o
conhecimento de terceiros, isto é, do
vislumbram na simulação relativa
público em geral. A declaração,
dois aspectos distintos, “do ato destinada a permanecer secreta,
que se aparentou fazer e o do ato consubstanciada numa
que na realidade foi feito, o contradeclaração ou ressalva,
fingido e o real, o invólucro e o constata a realidade subsistente
conteúdo. Desfeito o ato entre os simuladores.
aparente, roto o invólucro,
cumpre examinar a validade do O procedimento simulatório é
que restou, do conteúdo. Se não deliberado pelas partes mediante um
houver intenção de prejudicar a acordo ou pacto (pactum
terceiros, ou de violar disposição simulationis) pelo qual celebram um
negócio jurídico aparente: umas
de lei, o ato dissimulado é válido
vezes, por lhes interessar apenas
(plus valet quod agitur quam
essa aparência, frente a terceiros, os
quod simulate concipitur), na quais, na intenção dessas partes que
hipótese contrária, ilícito o simulam, devem tomar a aparência
14
conteúdo, será anulável” . como realidade, nenhuma relação
jurídica efetiva é estabelecida entre
Para a doutrina tradicional, elas (simulação absoluta). Outras
ocorrem dois negócios: um real, vezes, as partes têm em vista a
encoberto, dissimulado, formação de uma determinada
destinado a valer entre as partes; relação jurídica, mas pactuam a
celebração de uma forma negocial
e um outro, ostensivo, aparente,
aparente, a fim de ser projetada ao
simulado, destinado a operar conhecimento de terceiros para, sob
perante terceiros. essa forma aparente, subsistir, entre
elas, aquela relação jurídica que
Para outros, não se pode visam (simulação relativa).
negligenciar a complexidade da
simulação, que não pode ser Assim, na primeira hipótese, quando
reduzida a uma divergência entre uma das partes simula com o seu
a vontade e a declaração. Forte comparsa uma venda fictícia
em KÖHLER (para quem a (imaginaria venditio), para fugir ao
simulação é uma incorporação do assédio dos seus parentes
sucessíveis; e, na segunda hipótese,
próprio querer) e em BETTI (que
quando alguém simula uma venda a
conceitua a simulação relativa
como um vício da causa, ou

15
MIRANDA, Ubaldino. Teoria Geral do
14
MONTEIRO, Washington de Barros. Negócio Jurídico. São Paulo: Atlas, 1991,
Op. cit., p. 210 p. 115.

12
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
outrem, quando na realidade lhe autorizar o abandono da forma,
doa.” conceitos e institutos de direito
privado em favor de uma
Seja como for, nas “chamada interpretação
simulações relativas, se existem econômica”.
dois negócios distintos (o
ostensivo-simulado e o real- O parágrafo único do art.
oculto) ou se o negócio 116 refere-se à evasão ilícita,
dissimulado constitui um todo pois a simulação absoluta ou
com o acordo simulatório, o relativa (dissimulação), quando
parágrafo único, acrescentado ao oculta a ocorrência do fato
art. 116 do Código Tributário gerador ou a natureza dos
Nacional, autoriza desconsiderar elementos constitutivos da
atos e negócios jurídicos obrigação (preço, por ex.), viola
ostensivos (simulados), que a lei, configurando verdadeira
dissimulam outros atos e sonegação. E mais, sempre foram
negócios jurídicos, realmente desconsiderados pela autoridade
ocorridos e integrativos do fato administrativa.
gerador. Como já realçamos, o
mesmo artigo distingue entre São numerosas e rotineiras
fatos geradores – situações as hipóteses de simulação e
jurídicas e fatos geradores – dissimulação. (Entre muitos
situações de fato, mas, em outros exemplos, a simulação de
qualquer uma dessas gasto inexistente para redução do
modalidades, graças ao caráter lucro ou da renda – recibo de
relacional e transformacional do aluguéis fictícios; de empréstimos
Direito, existem direta ou inexistentes; recibos relativos a
indiretamente atos e negócios pagamento de serviços jamais
jurídicos pressupostos. As prestados por jovens profissionais
impropriamente chamadas liberais em favor de um
situações de fato, descritas em contribuinte, carente de despesas
numerosas hipóteses normativas a deduzir; igualmente o aparente
tributárias configuram execuções contrato de compra e venda que
de determinados atos e negócios dissimula verdadeira doação; os
jurídicos. juros excessivos cobrados por
sócio e empréstimo à sociedade e
O parágrafo único do art. o valor de aluguéis acima do
116 permite à autoridade mercado podem esconder – e a
administrativa desconsiderar atos lei já o pressupõe – verdadeira
e negócios jurídicos distribuição disfarçada de lucro;
dissimulatórios, portanto contratos de compra e venda de
fraudulentos, que visam a ocultar imóveis a registrar preço inferior
a ocorrência do fato gerador, ou ao real, etc.) O Código Tributário
seja, as verdadeiras relações Nacional, no art.116, não está
negociais constituídas, ou seu coibindo a elisão ou o
objeto, ou certas determinações planejamento tributário, por si
de seu conteúdo, relevantes e lícito, mas sim a simulação,
por ele pressupostas. Veremos, sempre ilícita. Na elisão os meios
portanto, que o art. 116 não são lícitos e o ato ou negócio
consagra cláusula genérica jurídico é real, desencadeia
antielisiva, nem tampouco altera efeitos próprios, não mascara a
os critérios de interpretação para ocorrência do fato gerador e há

13
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
compatibilidade entre forma e 7. LEGISLAÇÃO COMER-
conteúdo. Na elisão, o fato, ato CIAL E NORMAS
ou negócio jurídico pressuposto REGULAMENTARES.
na norma simplesmente não
acontece. Afastada a possibilidade da
reestruturação sob exame ser
O art.116 não cogita de enquadrada como planejamento
simulação relativa inocente. Há, ilícito e uma vez verificada a
portanto, que diferenciar. A inaplicabilidade do art. 116, §
doutrina tradicional do Direito único, ao caso, cabe-nos, agora,
Civil distingue entre simulação examinar a questão sob o
fraudulenta e simulação inocente. aspecto comercial e tributário,
Admitindo na simulação relativa pela abordagem de dois
dois diferentes atos, o que se institutos: a aquisição de
aparentou fazer e aquele que na investimentos e a incorporação
realidade foi feito, o fingido e o de pessoa jurídica.
real, ela tira daí conseqüências
diversas. O aparente será nulo, Primeiramente, observamos que
invalidado. Já o real, dissimulado, a aquisição de ações da Gama
poderá ser válido. “Desfeito o ato pela Beta deverá obedecer todas
aparente, roto o invólucro, as normas de regulamentação da
cumpre examinar a validade do Comissão de Valores Mobiliários –
que restou, do conteúdo. Se não CVM para realização de tal
houver intenção de prejudicar a operação, bem como as
terceiros, ou de violar disposição respectivas remessas de valores
de lei, o ato dissimulado é válido a título de pagamento pelos
(plus valet quod agitur quam títulos mobiliários adquiridos
quod simulate concipitur); na deverão seguir os procedimentos
hipótese contrária, ilícito o estabelecidos pelo Banco Central
conteúdo, será anulável”16. do Brasil, a fim de assegurar o
cumprimento das disposições
Ora, o art.116 refere-se à legais pertinentes e evitar
dissimulação fraudulenta, aquela qualquer argumentação para
ilícita, que oculta a ocorrência do desconsideração do negócio
fato gerador ou a natureza dos jurídico.
elementos constitutivos da
obrigação. Portanto, visa a coibir A legislação comercial (Lei
a simulação que viola disposição nº 6.404/76 – Lei das S.A.) assim
de lei tributária e, que, portanto, prevê a aquisição de ações para
não pode ter validade jurídica. conversão da pessoa jurídica em
subsidiária integral:
Não visa, assim, o art. 116
a coibir a elisão, nem tampouco a “Art. 251. A companhia pode ser
introduzir a interpretação constituída, mediante escritura
econômica entre nós. pública, tendo como único acionista
sociedade brasileira.

§ 1º. A sociedade que subscrever em


bens o capital de subsidiária integral
deverá aprovar o laudo de avaliação
de que trata o artigo 8º,
16
MONTEIRO, Washington de Barros. respondendo nos termos do § 6º do
Op.cit.,p.210

14
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
artigo 8º e do artigo 10 e seu 8. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
parágrafo único. DE PREÇO DE MERCADO DAS
AÇÕES PARA FINS DE
§ 2º. A companhia pode ser ALIENAÇÃO.
convertida em subsidiária
integral mediante aquisição, por
O artigo 465 do RIR/99, ao
sociedade brasileira, de todas as
suas ações, ou nos termos do tratar da distribuição disfarçada
artigo 252”. (grifamos) de lucros, conceito que, aliás,
caiu em desuso desde a extinção
Já a incorporação de da tributação sobre a distribuição
pessoa jurídica deverá dar-se de lucros e dividendos, refere-se,
conformidade com o artigo 227 em seu parágrafo 4º, à
da Lei nº 6.404/76, extinguindo- determinação do valor de
se a incorporada e sucedendo-lhe mercado de bem negociado com
a incorporadora em todos os pessoa jurídica ligada através de
direitos e obrigações. Vejamos: laudo de avaliação de perito ou
empresa especializada, não
“Art.227. A incorporação é a trazendo nenhuma outra
operação pela qual uma ou mais referência quanto à forma de
sociedades são absorvidas por emissão do laudo de avaliação.
outra, que lhes sucede em todos
os direitos e obrigações. Desta forma, devemos
recorrer às disposições da
§ 1º. A assembléia-geral da legislação comercial, mais
companhia incorporadora, se especificamente ao artigo 8º da
aprovar o protocolo da operação, Lei das Sociedades por Ações –
deverá autorizar o aumento de Lei nº 6.404/76, in verbis:
capital a ser subscrito e realizado
“Art. 8º A avaliação dos bens era
pela incorporada mediante versão
feita por 3 (três) peritos ou por
do seu patrimônio líquido, e
empresa especializada, nomeados
nomear os peritos que o em assembléia-geral dos
avaliarão. subscritores, convocada pela
imprensa e presidida por um dos
§ 2º. A sociedade que houver de fundadores, instalando-se em
ser incorporada, se aprovar o primeira convocação com a presença
protocolo da operação, autorizará de subscritores que representem
seus administradores a metade, pelo menos, do capital
praticarem os atos necessários à social, e em segunda convocação
com qualquer número.
incorporação, inclusive a
subscrição do aumento de capital
§ 1º Os peritos ou a empresa
da incorporadora.
avaliadora deverão apresentar laudo
fundamentado, com a indicação dos
§ 3º. Aprovados pela assembléia- critérios de avaliação e dos
geral da incorporadora o laudo de elementos de comparação adotados
avaliação e a incorporação, e instruído com os documentos
extingue-se a incorporada, relativos aos bens avaliados, e
competindo à primeira promover estarão presentes à assembléia que
o arquivamento e a publicação conhecer do laudo, a fim de
dos atos da incorporação.” prestarem as informações que lhes
forem solicitadas.(...)”

15
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
Os critérios de elaboração social, conforme disposição do
de laudos de avaliação e de artigo 385, inciso II do RIR/99.
eleição de peritos tecnicamente
qualificados estão dispostos no A título de esclarecimento,
Parecer CST nº 926, de maio de alertamos que o laudo de
198717, do qual transcrevemos o avaliação a que ora se faz
seguinte trecho: referência não se confunde com a
reavaliação do ativo permanente
“Além da capacidade dita jurídica, o de que trata o artigo 434 do
perito deverá possuir técnica ou RIR/99.
competência, isto é, aptidão,
idoneidade, conhecimentos
suficientes para exercer com
competência a função pericial que
lhe é cometida. Por outras palavras, 9. DA AQUISIÇÃO DE AÇÕES.
o perito deverá ser entendido, um
técnico na arte ou ciência de que 9.1 ASPECTOS CONTÁBEIS
depender a perícia. Quanto mais
caracterizadamente técnica for a Vejamos os lançamentos
matéria objeto do exame, mais contábeis da aquisição de ações
acentuadamente técnico urge seja o na empresa brasileira Beta,
perito. Tanto que em determinados
tomando-se por base os
casos a lei menciona expressamente
a especialização técnica do perito a seguintes números, a título de
ser nomeado. Assim, entre outros mera exemplificação:
vários, a lei de falências manda se
escolha perito contador para os
exames de escrituração do falido;
nas ações de demarcação,
funcionará um agrimensor (Cód. Cit., Alfa
art.423); no processo de interdição
serão nomeados peritos médicos
(Cod.Cit., art.607); em se tratando 100%
100%
de perícia de engenharia, deve ser
designado perito engenheiro, isto é,
profissional habilitado secundo a lei Beta 93%
que regulamenta essa profissão.”

Sendo assim, o laudo de 7%


avaliação do valor de mercado
das ações da Gama a serem
adquiridas pela Beta deverá ser Gama
emitido por profissional
tecnicamente capacitado para tal
perícia, apontando, se correta a Valor contábil da Empresa Gama = 1.000
expectativa das Empresas, a mais Valor de mercado da Empresa Gama = 5.000
Valor do investimento na Beta = 70
valia do investimento adquirido, a
qual deverá ser registrada na
Beta como reserva de ágio para
posterior incorporação ao capital
Lançamentos contábeis na
17
Imposto de Renda e Incorporação de Beta relativos à aquisição de
Ações de Sociedade “Holding”, in Revista ações a prazo:
Dialética de Direito Tributário nº77. São
Paulo, Editora Dialética, 2002.p.181.

16
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
Débito – “Investimento” = respeito ao ágio pago por
930 rentabilidade futura, isto é,
aquele que ocorre quando se
Débito – “Ágio na aquisição paga pelas ações um valor a
de investimentos” = 3.720 maior que o patrimonial, em
função de expectativa de
Crédito – Passivo com rentabilidade futura da coligada
empresa ligada18 = 4.650 ou controlada adquirida.

Este deve ser amortizado


dentro do período pelo qual se
Cálculo do valor do ágio: pagou tal lucro futuro, ou seja,
contra os resultados dos
exercícios considerados na
projeção dos lucros estimados
que justifiquem o ágio. Neste
Mercado 4.650 (93% de 5000)
sentido, vide a transcrição do §
Contábil (930)
2º do artigo 14 da Instrução nº
3.720
247/96 da CVM – Comissão de
Valores Mobiliários, autarquia
responsável pela regulamentação
A Gama não será objeto de e fiscalização das companhias
qualquer lançamento nesta abertas:
etapa, visto que a alteração a ela
pertinente é uma troca de “Art.14 O ágio ou deságio
controle acionário, fato que não computado na ocasião da aquisição
ou subscrição do investimento
importa em ajustes contábeis.
deverá ser contabilizado com
indicação do fundamento econômico
O ágio, que é definido pela que o determinou.
diferença entre o valor pago e o
valor patrimonial das ações, e § 2º. O ágio ou deságio decorrente
que ocorre quando adotado o de expectativa de resultado futuro,
método de equivalência deverá ser amortizado no prazo e na
patrimonial, pode ocorrer por extensão das projeções que o
origens e circunstâncias diversas, determinaram ou pela baixa por
podendo o seu tratamento alienação ou perecimento do
contábil, quanto à sua futura investimento.”
amortização, variar em função de
seu fundamento econômico e Além disso, de acordo com
natureza. o § 3º do artigo 385 do RIR/99,
no caso do fundamento
econômico do ágio em aquisição
de investimentos estar baseado
9.2. ASPECTOS TRIBUTÁRIOS na sua rentabilidade futura, há a
necessidade de elaboração de um
demonstrativo que identifique o
Dentre as hipóteses
valor imputado ao investimento
previstas pelo artigo 385 do
adquirido, ou seja, um laudo de
RIR/99, o caso em tela diz
avaliação, elaborado com
observância ao disposto no item
18
Este deve ser segregado por longo e 8 acima, o qual deverá ser
curto prazo conforme o vencimento das
parcelas.

17
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
arquivado como comprovante da (...)
escrituração.
§ 2º. O lançamento do ágio ou
Conforme a previsão legal deságio deverá indicar, dentre os
do artigo 391 do RIR/99, as seguintes, seu fundamento
econômico:
contrapartidas da amortização do
ágio ou deságio, oriundo de
(...)
aquisição de investimentos em
coligada e controladas, não serão
II – valor de rentabilidade da
computadas na determinação do coligada ou controlada, com base em
lucro real. Este, portanto, seria o previsão dos resultados nos
tratamento tributário a ser exercícios futuros;”
observado pela Beta caso não
houvesse a posterior etapa do Desta forma, em
planejamento, qual seja, a consonância com as disposições
incorporação da controlada legais acima transcritas, para a
Gama. amortização do ágio e para que
ele seja considerado dedutível
Inobstante a previsão para fins de apuração do Lucro
acima, o inciso III do artigo 386 Real (base de cálculo do IRPJ) e
do mesmo diploma legal, assim do Resultado Ajustado (base de
dispõe: cálculo da CSLL), deve estar
suportado por um laudo de
“Art.386. A pessoa jurídica que avaliação que indique as razões
absorver patrimônio de outra, em
econômicas do valor imputado ao
virtude de incorporação, fusão ou
investimento adquirido.
cisão, na qual detenha
participação societária adquirida
com ágio ou deságio, apurado Assim, percebe-se que a
segundo o disposto no artigo amortização do ágio deverá, a
anterior: priori, ser realizada no prazo e
extensão projetados no laudo de
(...) avaliação.

III – poderá amortizar o valor do Porém, se os lucros


ágio cujo fundamento seja o de previstos pelos quais pagou-se o
que trata o inciso II do § 2º do ágio não seguirem os lucros
artigo anterior, nos balanços
projetados em uma base
correspondentes à apuração de lucro
uniforme de ano para ano, a
real, levantados posteriormente à
incorporação, fusão ou cisão, à razão amortização deverá acompanhar
de um sessenta avos, no máximo, esse desenvolvimento
para cada mês do período de proporcional. Ademais, se os
apuração;” (grifamos) lucros esperados forem
superiores aos anteriores
O inciso II do § 2º, por sua previstos, há a possibilidade de
vez, traz a seguinte redação: aceleração da amortização do
ágio, desde que respeitados os
“Art. 385. O contribuinte que avaliar prazos máximos e mínimos
investimento em sociedade coligada previstos na legislação.
ou controlada pelo valor de
patrimônio líquido deverá, por No caso em tela, esse
ocasião da aquisição da participação, efeito será vislumbrado na etapa
desdobrar o custo de aquisição em:

18
Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
posterior da reestruturação Sobre o tema, vejamos
societária, quando da abaixo a Solução de Consulta nº
incorporação da Gama, então 45/9820, proferida pela Receita
subsidiária integral, por sua Federal:
então controladora Beta.
“SOLUÇÃO DE CONSULTA –
Deve-se, entretanto, GANHOS DE CAPITAL NA
observar que a projeção para o ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO
pagamento das ações adquiridas SOCIETÁRIA
dar-se-á, de forma financiada,
em prazo igual ou superior a 5 A incidência do imposto de renda
anos. Por tal razão, cumpre sobre ganhos de capital auferidos
frisarmos que um prazo inferior por residente ou domiciliado no
de financiamento tornaria a exterior, na alienação de
operação mais segura, evitando participação societária, somente
que o período das remessas ao ocorre se o valor total pago,
exterior a título de pagamento creditado, entregue, empregado
das ações coincida, ou mesmo ou remetido for superior ao
seja superior, ao do período de montante registrado como
amortização do ágio na investimento ou reinvestimento
incorporadora. junto ao Banco Central do Brasil.

Não nos parece adequado Em que pese o termo “creditado”,


que o contribuinte possa o nos remeteria ao crédito
amortizar um ágio pelo qual contábil da operação, de acordo
sequer teve o ônus de com o parágrafo 3º do artigo 685
pagamento pela aquisição do do RIR/99, “o ganho de capital
investimento. auferido por residente ou
domiciliado no exterior será
Os efeitos tributários na apurado e tributado de acordo
alienante estrangeira das ações, com as regras aplicáveis aos
a empresa Alfa, do ganho de residentes no País”. (grifamos)
capital na operação, representado
pela diferença entre valor Desta forma, aplicam-se,
patrimonial de venda e o valor subsidiariamente, os artigos 140
contábil das ações, serão e 421 do RIR/99, que assim
observados, s.m.j., no momento dispõem, respectivamente: “Nas
da disponibilização dos recursos, alienações a prazo, o ganho de
ou seja, somente quando da capital deverá ser apurado como
remessa ao exterior. Isto porque venda à vista e tributado na
a retenção e o recolhimento do proporção das parcelas
imposto de renda na fonte devem recebidas em cada mês,
ser realizados quando da considerando-se a respectiva
ocorrência do fato gerador, que atualização monetária, se
corresponde ao pagamento, houver”; e “Nas vendas de bens
crédito, entrega, emprego ou do ativo permanente para
remessa de rendimentos, o que recebimento do preço, no todo ou
ocorrer primeiro.19 em parte, após o término do ano-
calendário seguinte ao da

19 20
SRRF/8ª RF, Consulta nº 319 de SRRF/8ª RF, Consulta nº 45 de
21/11/2002. 23/03/1998.

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Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
contratação, o contribuinte 10.1 ASPECTOS CONTÁBEIS.
poderá, para efeito de determinar
o lucro real, reconhecer o lucro Na incorporação da
na proporção da parcela do sociedade Gama pela sociedade
preço recebida em cada período Beta, deverá ser criada uma
de apuração”. (grifamos) conta de incorporação,
transitória, com objetivo de
A responsabilidade pela formalizar e registrar,
retenção e o recolhimento do contabilmente, a extinção da
imposto, à alíquota de 15% sociedade incorporada.
(quinze por cento), sobre o
ganho de capital da Alfa, Na sociedade
traduzido pela diferença a maior incorporadora Beta, deverão ser
entre o valor pago ou remetido contabilizados os ativos e
pela Beta e o valor do passivos da então extinta
investimento21 registrado no sociedade Gama, conforme as
BACEN, é da adquirente dos bens respectivas naturezas das contas
alienados por pessoa jurídica de registro na incorporada.
residente ou domiciliada no
exterior22. O valor do O ágio pago pela
investimento em moeda incorporada Beta, por expectativa
estrangeira, registrado no de lucros futuros da extinta
BACEN, não constituirá base de controlada e ora incorporada
cálculo para determinação do sociedade Gama, deverá ser
montante de Imposto de Renda a amortizada dentro do período
ser retido na fonte quando de seu pelo qual pagou-se por tal
retorno ao país de origem23. rentabilidade futura, observando-
se os comentários feitos no item
Frisamos que a avaliação 9.2 acima acerca da possibilidade
das disposições legais da Holanda de acompanhamento proporcional
extrapola o foco da presente aos efetivos lucros ou prejuízos.
consulta, e, portanto, aqui não
analisamos o tratamento
tributário que deverá ser
dispensado à Alfa no exterior, 10.2. ASPECTOS SOCIETÁ-
limitando-nos a verificar os RIOS E TRIBUTÁRIOS.
efeitos perante o ordenamento
jurídico brasileiro. A incorporação da
subsidiária integral Gama por sua
controladora Beta acarretará a
extinção daquela pessoa jurídica
10. DA INCORPORAÇÃO DE e deverá observar as disposições
SOCIEDADE. do artigo 264 da Lei nº 6.404/76,
abaixo transcrito:

“Art. 264. Na incorporação, pela


controladora, de companhia
controlada, a justificação,
21
Convertido pela cotação da moeda apresentada à assembléia-geral
estrangeira na data da alienação.
22 da controlada, deverá conter,
Vide artigos 26 e 93, II da Lei nº
10.833/03. além das informações previstas
23
Artigo 690, inciso II do RIR/99. nos arts. 224 e 225, o cálculo das

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Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
relações de substituição das § 4º. Aplicam-se as normas
ações dos acionistas não previstas neste artigo à
controladores da controlada com incorporação de controladora por
base no valor do patrimônio sua controlada, à fusão de
líquido das ações da controladora companhia controladora com a
e da controlada, avaliados os dois controlada, à incorporação de
patrimônios segundo os mesmos ações de companhia controlada
critérios e na mesma data, a ou controladora, à incorporação,
preços de mercado, ou com base fusão e incorporação de ações de
em outro critério aceito pela sociedades sob controle comum.
Comissão de Valores Mobiliários, (Redação dada pela Lei nº
no caso de companhias abertas. 10.303, de 2001)
(Redação dada pela Lei nº
10.303, de 2001). § 5º. O disposto neste artigo não
se aplica no caso de as ações do
§ 1º. A avaliação dos dois capital da controlada terem sido
patrimônios será feita por 3 adquiridas no pregão da bolsa de
(três) peritos ou empresa valores ou mediante oferta
especializada e, no caso de pública nos termos dos artigos
companhias abertas, por empresa 257 a 263.”
especializada. (Redação dada
pela Lei nº 10.303, de 2001) Relativamente à legislação
tributária, a operação de
§ 2º. Para efeito da incorporação implicará no
comparação referida neste levantamento do balanço na data
artigo, as ações do capital da do evento, o encerramento do
controlada de propriedade da período e a respectiva tributação
pelo IRPJ e pela CSL, se houver
controladora serão avaliadas,
resultados tributáveis.
no patrimônio desta, em
conformidade com o disposto
no caput. (Redação dada pela
Lei nº 10.303, de 2001) 11. CONCLUSÃO PELA LICITU-
DE DA OPERAÇÃO.
§ 3º. Se as relações de
substituição das ações dos A operação em comento,
acionistas não controladores, consoante as exposições acima,
previstas no protocolo da não apresenta quaisquer indícios
incorporação, forem menos de fraude ou simulação, uma vez
vantajosas que as resultantes da que:
comparação prevista neste
artigo, os acionistas dissidentes - Os meios utilizados para
da deliberação da assembléia- reestruturação societária e
geral da controlada que aprovar a economia fiscal são,
operação, observando o disposto inquestionavelmente,
nos arts.137, II, e 230, poderão lícitos e utilizados de forma
optar entre o valor de reembolso coerente e legítima;
fixado nos termos do art.45 e o - A operação realizada é
valor do patrimônio líquido a aquela efetivamente
preços de mercado. (Redação desejada pelas empresas,
dada pela Lei nº 10.303, de havendo plena coincidência
2001) entre intentio facti e a

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Direito Tributário – Temas Atuais
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intentio iuris, inexistindo, ato praticado. Portanto, se o
portanto, simulação; ato praticado era lícito, as
- Como informado pela eventuais conseqüências
Consulente, existem contrárias ao fisco devem ser
relevantes interesses qualificadas como casos de
empresariais para a elisão fiscal e não de „evasão
reestruturação societária ilícita‟. (Ac. CSRF/01-
do grupo, dentre eles, a 01.874/94).
mudança do perfil dos
investimentos no Brasil, IRPJ – INCORPORAÇÃO
com a redução do número ATÍPICA – A incorporação de
de empresas no país, bem empresa superavitária por
como a alternativa de outra deficitária, embora
liquidez de remessa de atípica, não é vedada por lei,
valores ao exterior. Tais representando negócio jurídico
propósitos negociais indireto.”24
ensejam a operação de
forma absolutamente lícita. “NORMAS GERAIS – EVASÃO
FISCAL X ELISÃO FISCAL –
Diante de todos os meios Aproveita-se, legitimamente, do
lícitos disponíveis, cabe ao instituto da elisão fiscal o
contribuinte eleger a opção contribuinte que se vale de uma
menos onerosa e adequada ao determinada jurídica que lhe seja
seu interesse e objeto mais benéfica, sem infringir
empresarial. Tanto é assim, que nenhum dispositivo legal. Por
o Conselho de Contribuintes outro lado, comete evasão fiscal
entende que os contribuintes têm sujeitando-se ressarcimento dos
direito a administrar e planejar tributos sonegados e às
sua relação jurídico-obrigacional penalidades cabíveis, o
tributária, visando obter o contribuinte que, por trás do
máximo de economia fiscal comportamento aparentemente
dentre os limites legais. Vejamos: normal, oculta a intenção
deliberada de fraudar a lei.”25
“IRPJ – Ex(s): 1988 e 1999
– IRPJ – SIMULAÇÃO NA
INCORPORAÇÃO – Para que se
possa materializar, é “IRPJ – ELISÃO FISCAL –
indispensável que o ato DESCONSIDERAÇÃO DA
praticado não pudesse ser
PERSONALIDADE JURÍDICA
realizado, fosse por vedação
– É princípio assente na
legal ou por qualquer outra
razão. Se não existia doutrina e na jurisprudência,
impedimento para a realização que os contribuintes podem
da incorporação tal como organizar seus negócios de
realizada e o ato praticado modo a minorar a carga
não é de natureza diversa
daquela que de fato 24
1º CC do Min. da Fazenda, Recurso nº
apresenta, não há como 131653, Acórdão nº 101-94127, 1ª
qualificar-se a operação de Câmara, Publicado no DOU em
07/05/2003
simulada. Os objetivos visados 25
1º CC do Min da Fazenda, Acórdão
com a prática do ato não 106-05.619, 6ª Câmara. Publicado no
interferem na qualificação do DOU em 05/03/1997.

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tributária, desde que antes de contrárias ao fisco devem ser
ocorrido o fato gerador e qualificadas como casos de
respeitados os permissivos elisão fiscal e não de evasão
legais. Evidentemente, o ilícita.”27
princípio não é amplo e
irrestrito, a ponto de tolerar “SIMULAÇÃO NÃO
abuso desmesurado das firmas COMPROVADA –
jurídicas, divorciados de Incomprovada a ocorrência de
racional organização societária simulação na incorporação de
e empresarial. No caso, duas uma empresa superavitária
empresas interligadas, por uma deficitária, podem os
explorando atividade quase prejuízos desta serem
coincidente, com escrituração compensados com o lucro
contábil, recursos materiais e daquela, no futuro, observado
humanos, independentes, não o prazo legal, posto não haver
chegam a evidenciar indúvido vedação legal.”28
o abuso das formas
jurídicas.”26

”SUBSTITUIÇÃO DE AÇÕES
– Investimento feito em
“SIMULAÇÃO – Para que se empresa posteriormente
possa materializar a simulação incorporada por terceiro. A
em incorporação, é substituição de ações da
indispensável que o ato incorporada por ações da
praticado não pudesse ser incorporadora não implica na
realizado, fosse por vedação baixa do investimento para
legal ou por qualquer outra efeito de determinação de
razão. Se não existia ganhos ou perdas de
29
impedimento para a realização capital.”
da incorporação tal como
realizada e o ato praticado não
é de natureza diversa daquele
que de fato aparenta, isto é, “ESCOLHA ERRÔNEA DO
se de fato e de direito não MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE
INVESTIMENTO – Não existe
ocorreu ato diverso da
previsão legal para que seja
incorporação, não há como equiparada à reavaliação de bens
qualificar-se a operação de a avaliação de investimentos pelo
simulada. Os objetivos visados
com a prática do ato não 27
1º CC do Min da Fazenda, Acórdão nº
interferem na qualificação do 101-88316, publicado no DOU em
ato praticado; portanto, se o 14/08/1995 e CSRF, Acórdão nº 01-
ato praticado era lícito, as 1.857/1995 e nº 1.874/95 DO
13/09/1996.
eventuais conseqüências 28
1º CC do Min. Da Fazenda, Acórdão nº
101-92.311, publicado no DOU em
27/10/1998.
26 29
1º CC do Min da Fazenda, Acórdão nº 1º CC do Min da Fazenda, Acórdão nº
808010, publicado no DOU em 105-6.756 publicado no DOU em
05/06/1991, p.10688. 17/10/1996.

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método da equivalência terceira Empresa, sediada no Brasil,
patrimonial, ao invés do método também sob seu controle?”
do custo corrigido. Adotar tal
procedimento configura dar Sim. Não há qualquer
tratamento diferenciado a impedimento legal para a
hipóteses iguais (avaliação de alienação de participação
investimentos sejam relevantes societária entre pessoas jurídicas
ou não relevantes), o que se coligadas ou controladas. A
afigura consentâneo com a legislação comercial proíbe
legislação do imposto de renda e apenas a participação recíproca
com os princípios constitucionais entre empresas do mesmo grupo
vigentes. Recurso voluntário societário.
provido.”30
“2 – A adoção do valor de mercado,
na operação de compra e venda de
investimentos, entre Empresas
controladora e controlada é uma
“ÁGIO PAGO À EMPRESA opção ou uma imposição da
LIGADA – Não existe restrição, legislação brasileira, inclusive frente
na legislação do imposto de às disposições concernentes à
renda, a que uma pessoa distribuição disfarçada de lucros?”
jurídica, que adquira participação
societária em outra empresa, Trata-se de opção do
efetue o pagamento de ágio, com contribuinte, que pode realizar
fundamentação econômica sua operação pelo valor
baseada na rentabilidade futura registrado ou pelo valor de
do investimento, ainda que a mercado. Frise-se que as
aquisição se processe junto à disposições legais acerca da
empresa ligada ao adquirente. O distribuição disfarçada de lucros
ágio regularmente pago poderá caíram em desuso, conforme já
ser deduzido ou excluído na citado anteriormente, em virtude
determinação do lucro real da da extinção da tributação na
investidora, desde que distribuição de lucros e
observadas as condições dividendos a acionistas. Ressalte-
previstas na legislação do se, porém, a incidência do IRRF
imposto de renda, quando da sobre distribuição de reservas
aquisição do investimento.”31 tributáveis, i.e., reservas de
lucros relativas aos anos-
calendário em que havia a
previsão legal de tributação.
12. RESPOSTAS
“3 – Quais critérios (inclusive
“1- Pode a Empresa controladora cambiais) deverão ser considerados
com sede no exterior (Alfa) alienar a na determinação do valor do
sua participação societária na investimento na empresa brasileira,
empresa controlada para uma pela Empresa alienante, para efeitos
de apuração do ganho de capital,
sujeito à tributação?”
30
1ºCC do Min. da Fazenda, Acórdão nº
Deverá ser alterado o valor
101-90.675 publicado no DOU em
07/05/1997. do investimento registrado no
31
1º CC do Min. da Fazenda, Acórdão nº Banco Central do Brasil – BACEN.
101-84.191, publicado no DOU em
05/08/1994.

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Direito Tributário – Temas Atuais
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“4 – Qual deverá ser o tratamento tratamento dado às pessoas físicas
contábil e fiscal a ser observado pela ou dado às pessoas jurídicas,
Empresa adquirente, entre o valor da sediadas no Brasil (arts.140, 421,
aquisição e o valor patrimonial do 682 e seguintes do RIR/99)?”
investimento adquirido?”
De acordo com o parágrafo
A diferença entre o valor 3º do artigo 685 do RIR/99, “o
da aquisição e o valor primordial ganho de capital auferido por
das ações adquiridas pela Beta residente ou domiciliado no
deverá ser contabilizada como exterior será apurado e tributado
ágio na aquisição de de acordo com as regras
investimento. O referido ágio aplicáveis aos residentes no País”
somente será passível de (grifamos).
amortização após a incorporação
da Gama pela Beta, em virtude Desta forma, aplicam-se,
das disposições do artigo 386, III subsidiariamente, os artigos 140
do RIR/99, no período em que se e 421 do RIR/99, que assim
baseou-se a expectativa de lucros dispõem, respectivamente: “Nas
futuros, ou em prazo maior ou alienações a prazo, o ganho de
menor, acompanhando os capital deverá ser apurado como
efetivos lucros ou prejuízos. venda à vista e tributado na
proporção das parcelas recebidas
“5 – A quem caberá a em cada mês, considerando-se a
responsabilidade (sujeição passiva) respectiva atualização monetária,
pela apuração do provável ganho de se houver”; e “Nas vendas de
capital e do recolhimento dos
bens do ativo permanente para
tributos incidentes?”
recebimento do preço, no todo ou
em parte, após o término do ano-
A responsabilidade pela
calendário seguinte ao da
retenção e recolhimento dos
contratação, o contribuinte
tributos incidentes sobre o ganho
poderá, para efeito de determinar
de capital apurado é do
o lucro real, reconhecer o lucro
remetente dos valores, neste
na proporção da parcela do preço
caso, a adquirente Beta.
recebida em cada período de
apuração.”
“6 – Qual é o tratamento tributário a
ser dado ao ganho de capital
auferido pela Empresa estrangeira, “8- Em se tratando de alienação pra
na alienação do investimento para a recebimento do preço, em um prazo
Empresa brasileira (momento da de 05 anos ou mais, o ganho de
apuração e da retenção na fonte, capital pode ser reconhecido e os
alíquotas a serem consideradas)?” tributos apurados e recolhidos
(inclusive IR Fonte) à medida e na
proporção das parcelas recebidas em
O ganho de capital auferido cada período de apuração, mesmo
pela Alfa na alienação das ações sendo o alienante uma pessoa
à Beta será tributado na fonte à jurídica estrangeira (art. 421, do
alíquota de 15% conforme o RIR/99)?”
artigo 685, I e § 3º do RIR/99,
em cada remessa ao exterior. Sim. Conforme resposta
anterior, respeitando o princípio
“7 – Em que extensão o ganho de da capacidade contributiva.
capital sob análise deve ter o
tratamento equiparado ao

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Direito Tributário – Temas Atuais
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“9 – Com a incorporação da empresa absolutamente lícita, não
adquirida (Gama) pela empresa ensejando sua descaracterização.
adquirente (Beta) o valor do ágio
pago quando da aquisição poderá ser
Não obstante, a aplicação
amortizado como despesa dedutível,
da referida norma, ainda que
conforme previsto nos arts. 7º e 8º,
da Lei nº 9.532/97?” pretendida, somente poderia dar-
se através do Poder Judiciário,
Sim. Ademais a sucessão uma vez que a mesma pende
dos direitos e obrigações no ainda de regulamentação, e o
âmbito civil e comercial, no agente fiscal, enquanto aplicador
âmbito tributário, será possível a da lei, não detém poderes para
amortização do ágio como desconsiderar negócios jurídicos,
despesa dedutível na apuração do sob pena de aniquilar-se a
IRPJ e da CSL da pessoa jurídica segurança jurídica e a liberdade
incorporadora Beta, conforme negocial.
disposição do artigo 386 do
“11 – A realização da operação,
RIR/99, com base nos artigos 7º
entre empresas do mesmo Grupo
e 8º da Lei nº 9.532/97.
poderia, só por esta razão, de
alguma forma, ser caracterizada
“10 – Algumas das operações como simulação?”
poderiam ser caracterizadas como
procedimentos de evasão e/ou elisão
As operações entre
fiscal, e, em sendo poderão sofrer
algum tipo de restrição, pela empresas do mesmo grupo
legislação brasileira, em especial, societário ensejam maior atenção
pela LC nº 104/2001?” dos agentes fiscais por refletir
situação facilitadora de
Como vimos ao longo desta planejamentos ilícitos,
exposição, a reestruturação fraudulentos. Todavia, este
societária busca, entre outros argumento não é suficiente para
propósitos empresariais, a a caracterização de operação
redução da carga tributária, simulada, sob o escudo de todos
através da utilização de meios os fundamentos aqui elencados.
lícitos e da coincidência entre a
intentio facti e a intentio iuris. A A simulação, como vimos,
redução da carga tributária não consiste na realização de ato
consiste em única motivação para aparente para fingir situação
a total reorganização das inexistente (simulação absoluta)
empresas do grupo no Brasil. ou encobrir situação real diversa
Portanto, entendemos tratar-se (simulação relativa). Na hipótese
de caso de elisão fiscal, de de planejamento ora analisada, o
natureza intrinsecamente lícita, ato jurídico realizado refletirá a
constituindo negócio não sujeito real intenção das partes, e, por
à descaracterização. conseguinte, não há como se
falar em simulação.
Ainda assim, frisamos, a
norma contida no artigo 116 § “12 – A operação em questão,
único do Código Tributário poderia, de alguma forma, ser
tratada como operação ilícita, sob os
Nacional – CTN possui natureza
argumentos de que ao final haverá
antidissimulação e não anti-
benefício fiscal decorrente de
elisiva, posto que a elisão, como amortização do ágio?”
vimos é forma de economia fiscal

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Direito Tributário – Temas Atuais
Sacha Calmon Navarro Coelho
(Publicada na Revista Dialética de Direito Tributário nr. 135)
Não. Os meios utilizados
para aproveitamento da
dedutibilidade do ágio decorrente
da aquisição de investimento
decorrem de expressa previsão
legal e atendem a todos os
fundamentos e pressupostos do
fato gerador dos tributos. A
reorganização societária em
questão contempla propósitos
empresariais relevantes e utiliza
medidas não só não coibidas,
como expressamente permitidas
em lei, para o aproveitamento de
economia fiscal.

Este é o parecer.

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