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8º Congresso Brasileiro de Engenharia de Fabricação

18 a 22 de maio de 2015, Salvador, Bahia, Brasil


Copyright © 2015 ABCM

APLICAÇÃO DE MODELO ESTRUTURADO PARA DEFINIÇÃO DE


COMPETÊNCIAS E PORTFÓLIO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DE UM
CENTRO TECNOLÓGICO: O CASO DE UM INSTITUTO DE INOVAÇÃO
EM CONFORMAÇÃO & UNIÃO DE MATERIAIS

Leone Peter Correia da Silva Andrade, leone.andrade@fieb.org.br1


Rafaela Campos da Silva, rcampos@ita.br2
Jefferson Oliveira Gomes, gomes@ita.br2
Daniel da Silva Motta, daniel.motta@fieb.org.br1
Rodrigo Santiago Coelho, rodrigo.coelho@fieb.org.br1
1
SENAI CIMATEC – Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia, Avenida Orlando Gomes, 1845, Salvador,
Bahia, Brasil, CEP: 41.650-010
2
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias, São José dos
Campos, São Paulo, Brasil, CEP:12.228-900

Resumo: A Confederação Nacional da Indústria desenvolveu políticas de apoio para os principais setores industriais,
no âmbito do “Plano Brasil Maior” do governo federal, com destaque para a implantação de vinte e seis institutos
focados em inovação. Esses Institutos possuem como principais características: especialização em áreas de
conhecimento transversais, estrutura física orientada a serviços avançados, pesquisa aplicada aos setores pré-
competitivos e atendimento em âmbito nacional, estabelecendo parcerias e redes de inovação com o setor produtivo e
outros institutos e universidades nacionais e internacionais. No âmbito deste programa foi criado o Instituto SENAI de
Inovação em Conformação & União de Materiais (C&UM), objeto deste estudo. C&UM, incluindo soldagem, são
processos de fabricação de extensão transversal, isto é, englobam boa parte das indústrias de manufatura e
construção. O objetivo deste trabalho é apresentar a aplicação de um modelo estruturado para definição das
competências tecnológicas e do portfólio de produtos e serviços de um instituto de inovação em C&UM, necessários
para atender às demandas da indústria nacional. Para atingir o objetivo em questão, inicialmente foi realizada uma
análise do ambiente externo com o intuito de identificar distintos fatores externos que podem impactar no resultado do
Instituto. Essa análise contemplou o levantamento de tendências tecnológicas e análise do mercado nacional e, como
resultado, foram apresentados os setores industriais a serem atendidos pelo Instituto, com foco especial em seus
potenciais e demandas. O levantamento das competências tecnológicas necessárias e a definição do portfólio de
serviços e produtos tecnológicos foram desenvolvidos para as condições atuais do mercado, com base nos mercados-
alvo que foram identificados.

Palavras-chave: conformação; união de materiais; soldagem; colagem; análise de mercado; competências


tecnológicas; portfólio de serviços tecnológicos.

1. INTRODUÇÃO

As transformações da economia mundial exigem novas respostas do Brasil. Há uma nova geografia do crescimento,
da produção e da inovação que apresentam claros efeitos sobre a forma de inserção do Brasil no mundo (CNI, 2013).
Aumentar o desempenho das exportações, obter um maior grau de eficiência gerencial e produtiva, compatibilizar o
crescimento econômico com a sustentabilidade ambiental, contribuir para o avanço do conhecimento e da tecnologia e
capacitar recursos humanos para atuar no novo contexto produtivo são alguns dos desafios importantes a serem
superados para que a indústria brasileira cresça em nível competitivo e ingresse nas próximas décadas, suficientemente
fortalecida, para disputar uma maior inserção mercadológica mundial (CNI, 2012). No cenário em que a balança
comercial brasileira apresenta déficits bilionários em produtos da indústria de transformação, associada a uma elevada
demanda por serviços com médio e alto valor tecnológico agregado, esses desafios se fazem ainda maiores (Figura 1).
A inovação tecnológica é um fator vital para aprimorar a competitividade no setor industrial, assim como um tópico
permanente dos conselhos superiores de administração das empresas brasileiras. Essa agenda está alinhada com a
estratégia governamental do "Plano Brasil Maior". Nesse contexto, a CNI (Confederação Nacional da Indústria)
desenvolveu políticas de apoio para os principais setores industriais. Dentre essas políticas, encontra-se a implantação
de cinquenta e nove Institutos SENAI de Tecnologia e de vinte e seis Institutos SENAI de Inovação, tendo como
objetivo a aproximação dos pesquisadores aos desafios do chão de fábrica, assim como das expectativas de mercado,
gerando inovação e melhoria contínua de processos, que propiciem maior qualidade, produtividade e,
consequentemente, competitividade para indústria brasileira, fomentando, assim, a economia do país.
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Os institutos de tecnologia caracterizam-se por: especialização em setores industriais relevantes, estrutura física
orientada à prestação de serviços técnicos e atendimento direto em âmbito regional, com o oferecimento de soluções aos
gargalos tecnológicos das indústrias.
Os institutos de inovação, por sua vez, consistem em uma rede para alavancar o suporte a inovação nas empresas e
tratar as metas relacionadas à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I) na fase pré-competitiva. Esses Institutos
possuem como principais características: especialização em áreas de conhecimento transversais, estrutura física
orientada a serviços avançados, pesquisa aplicada aos setores pré-competitivos e atendimento em âmbito nacional,
estabelecendo parcerias e redes de inovação com o setor produtivo e outros institutos e universidades nacionais e
internacionais.
No âmbito deste programa foi criado o Instituto SENAI de Inovação em Conformação & União de Materiais
(C&UM), objeto deste estudo. As indústrias de C&UM são extremamente importantes para a economia brasileira, já
que elas fazem uso e integram diversas tecnologias de fabricação, constituindo assim uma base de mudanças contínuas
nos processos produtivos e no desenvolvimento de novos produtos. O mercado engloba desde empresas de diversos
setores que utilizam os processos de C&UM de forma indireta para melhorar sua produtividade, até indústrias que
desenvolvem as tecnologias desses processos de fabricação, como as siderúrgicas, estamparias e as empresas de
soldagem.
O objetivo deste trabalho é apresentar a aplicação de um modelo estruturado para definição das competências
tecnológicas e do portfólio de produtos e serviços de um instituto de inovação em C&UM necessários para atender às
demandas da indústria nacional. O trabalho é apresentando com uma breve revisão bibliográfica sobre os processos
fabricação por C&UM (seção 2), seguido pelo modelo de planejamento estratégico proposto pelo Instituto Fraunhofer
IPK Berlim-Alemanha (seção 3), que foi usado na implantação do Instituto SENAI de Inovação em C&UM (seção 4).

Figura 1. Balança Comercial Brasileira. Fonte: IEDI (2012).

2. AS COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS DE CONFORMAÇÃO E UNIÃO DE MATERIAIS

As áreas tecnológicas de C&UM contemplam processos de fabricação de extensão transversal, isto é, englobam boa
parte das indústrias de manufatura e construção. A primeira, conformação mecânica, consiste nos processos de
deformação plástica (a quente ou a frio) onde um bloco ou uma chapa metálica adquire determinada forma através de
ferramentas e/ou matrizes. Assim, além das características dos equipamentos utilizados e dos requisitos de projeto do
produto final, torna-se essencial para controle do processo o conhecimento das propriedades mecânicas e dos
mecanismos de deformação plástica do material utilizado e as condições de interface entre a peça e o ferramental. As
recentes evoluções dos equipamentos, a utilização de materiais com propriedades especiais e o desenvolvimento de
análises matemáticas sofisticadas dos processos de conformação tem levado à fabricação de produtos de alta qualidade
além de elevar a eficiência da indústria dedicada a este ramo. A Tabela (1) mostra a classificação dos métodos de
conformação mecânica de acordo com a matéria-prima utilizada (chapa ou bloco massivo), exemplificando os
principais grandes grupos de processos e as tecnologias consideradas estado da arte (ASM Handbook, 1993).
A segunda área tecnológica, união de materiais, abrange diversos processos de união (soldagem, rebitagem,
colagem e outros) que se diferenciam pelas grandezas físicas, químicas e mecânicas para a obtenção de junções rígidas
estruturais e não-estruturais. Os processos de soldagem por arco e por resistência elétrica são os mais utilizados para
união permanente de componentes pela indústria. Alguns dos principais meios de união também estão listados na
Tabela (1). No entanto, com o avanço dos sistemas híbridos (dissimilares) e a necessidade de estruturas cada vez mais
leves e processos mais eficientes, novos métodos e aperfeiçoamento dos existentes é uma realidade, principalmente
quando nenhuma ou pouca alteração dos materiais de base é tolerada. Aqui, pode-se destacar os processos que não
envolvem fusão dos materiais de base, como a soldagem por fricção linear (friction stir welding) e a colagem (adhesive
bonding). O primeiro utiliza uma ferramenta cilíndrica, composta de ombro e pino perfilado, utilizado para promover a
mistura mecânica dos materiais por deformação plástica e é considerado um dos maiores avanços na união de materiais
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dos últimos anos (Lohwasser & Chen, 2010). A segunda, na aplicação de resinas poliméricas entre as superfícies a
serem unidas conferindo rigidez estrutural à união. Apesar de não ser um processo novo, o uso de colagem cresce de
forma significativa aparecendo como uma alternativa a métodos convencionais como a solda por resistência e
rebitagem. Isto se deve a melhor distribuição de tensões e no isolamento eletroquímico, o que aumenta a resistência à
corrosão (Messler, 2004).

Tabela 1. Classificação macro dos processos de conformação e união de materiais e estado da arte. Adaptado de:
ASM Handbook (1993).

Processos de conformação e união de materiais Estado da Arte


Forjamento
Laminação “Rolling”
Massiva Extrusão Tixoforjamento
Trefilação “Drawing”
Conformação
Dobramento
Deformação de superfície Estampagem incremental
Chapas
Estampagem profunda
Estampagem
Gás-combustível Laser Beam Welding,
Fusão Arco elétrico feixe de elétrons sem
Feixe de alta energia vácuo, processos híbridos
Fricção e atrito Friction Stir Welding,
União de Materiais Estado sólido
Adesivos Adhesive Bonding
Rebites
Resistência elétrica
Outros
Brasagem

3. MODELO IMPLANTADO

Os conceitos relacionados ao planejamento estratégico são universais e, portanto, genéricos. A aplicação dos
mesmos pode ser facilitada com a utilização de um modelo sistematizado, que deve ser customizado para cada tipo de
organização, a depender dos objetivos pretendidos. Para a concepção do Instituto SENAI de Inovação em C&UM foi
utilizado um modelo desenvolvido pelo Instituto Fraunhofer IPK, de Berlim-Alemanha, que prevê o planejamento da
implantação do Instituto baseado na análise do ambiente externo, na definição do modelo de negócio e no planejamento
operacional e financeiro, conforme ilustra a Figura (2).

Figura 2. Processo para Implantação do Instituto de Inovação. Adaptado de: Kohl et al. (2013).

Para cumprir o objetivo do presente trabalho, que é definir as competências tecnológicas e o portfólio de produtos e
serviços do Instituto SENAI de Inovação em C&UM, serão apresentadas apenas as fases de “Análise do ambiente
externo” e de “Definição do modelo de negócio”.
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A fase de “Análise do ambiente externo” pode ser dividida nas seguintes etapas: “Análise das tendências
tecnológicas” e “Análise do mercado nacional”. A primeira etapa consiste no levantamento das principais tendências
tecnológicas globais relacionadas à tecnologia de conformação e união de materiais. A segunda etapa compreende a
análise das condições dos quadros político, econômico, social e tecnológico (PEST) em âmbito nacional, que podem
apresentar uma oportunidade ou ameaça na implantação e operação do Instituto; a avaliação qualitativa dos setores
potenciais a serem atendidos, em termos do seu nível de demanda por soluções em P&D&I e da probabilidade de
sucesso de entrada do Instituto nesses mercados; a priorização dos setores industriais mais atrativos para o Instituto; e o
levantamento das principais demandas dos setores priorizados.
Após a análise do ambiente externo inicia-se a fase de “Definição do modelo de negócio”, composta por duas
etapas: “Estabelecimento da diretriz estratégica” e “Definição do portfólio de serviços e produtos”. Na primeira são
definidos a visão, a missão e os objetivos estratégicos do Instituto, que são derivados da estratégia política para o
sistema de inovação do país e alinhadas com as macroestratégias da indústria, de modo a garantir atendimento ao
objetivo geral de aumento da competitividade da indústria brasileira. Na segunda etapa, parte-se da definição dos
principais setores a serem atendidos e suas respectivas demandas, realizada na fase de “Análise do ambiente externo”,
para então estabelecer as áreas de competência do Instituto, considerando os pilares tecnológicos que deverão englobar
todos os serviços e produtos a serem desenvolvidos e oferecidos ao mercado. Para cada área de competência, deve-se
determinar o portfólio de serviços e produtos, avaliando o seu valor para o cliente e visando assegurar o máximo
rendimento e sustentabilidade do Instituto em médio e longo prazo.
Para a concretização deste trabalho, além da coleta de dados secundários, é de suma importância a realização de
workshops e reuniões para alinhamento de expectativas e contribuição direta de representantes da indústria,
representantes estratégicos da instituição e especialistas da área de conformação e união de materiais.

4. ESTUDO DE CASO

Os processos de C&UM são importantes para a indústria e para a economia brasileira, uma vez que constituem uma
base relevante para o desenvolvimento tecnológico, encorajando mudanças contínuas nos processos produtivos e o
desenvolvimento de novos produtos. Segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foram
exportados 33 bilhões de dólares em produtos da indústria do setor metalmecânico no ano de 2011. De acordo com a
Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos, no ano de 2011 houve um faturamento nominal de R$ 80,6 bilhões
nas indústrias de Bens de Capital.
O Instituto SENAI de Inovação em C&UM, objeto deste estudo de caso, pretende se posicionar como um líder
facilitador de inovação nessa área. O Instituto faz parte da rede dos Institutos SENAI de Inovação (ISI) para promoção e
prática da inovação tecnológica. O principal objetivo do Instituto é o desenvolvimento de projetos de P&D&I em
parceria com a indústria, buscando o desenvolvimento tecnológico e a liderança de mercado das empresas. Isso inclui
uma abordagem sustentável para reforçar as atividades de desenvolvimento e pesquisa aplicada, bem como sua
comercialização dentro da produção industrial no Brasil. Em longo prazo, o ISI visa o desenvolvimento de processos,
equipamentos e metodologias, bem como a integração de sistemas, fornecendo aos clientes aplicações funcionais e
produtos/serviços inovadores, que contribuam para o aumento da competitividade industrial.

4.1. Análise do ambiente externo

4.1.1. Análise das tendências tecnológicas

Segundo o IIW (International Institute of Welding), o faturamento do mercado global das indústrias que atuam no
desenvolvimento de tecnologias de soldagem foi estimado em oitenta bilhões de euros em 2007. Dentre as indústrias
demandantes dos processos de conformação e soldagem, é possível citar: mobilidade, fabricantes de máquinas e
equipamentos, petrolífera, petroquímica, naval & offshore, saúde, defesa e mineração. De acordo com o IIW e a
Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração existem algumas tendências tecnológicas que são comuns
aos setores industriais. A seguir alguma delas são listadas algumas delas:
 Desenvolver pesquisas para minimizar os riscos a saúde e segurança nos postos de trabalho;
 Atender ao rápido crescimento na demanda de energia e de produtos manufaturados;
 Promover uma transferência efetiva de tecnologia para indústrias em países emergentes;
 Criar centros educacionais e tecnológicos com foco em suporte, transferência e implementação de tecnologias;
 Desenvolver novas tecnologias de soldagem e conformação;
 Desenvolver novos materiais e analisar a soldabilidade e conformabilidade dos mesmos;
 Promover o desenvolvimento e a implementação da automação dos processos de fabricação nas indústrias.

4.1.2. Análise do mercado nacional

O resultado da análise das condições políticas, econômicas, sociais e tecnológicas do macroambiente que impactam
no negócio do Instituto encontra-se sumarizado na Tabela (2).
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Tabela 2. Resultado da análise PEST para o Instituto de Inovação em Conformação & União de Materiais.

Condições Políticas Condições Econômicas Condições Sociais Condições Tecnológicas


Plano Brasil Maior: em especial a Descoberta do Pré-sal. Desenvolvimento de Mobilidade.
implantação da EMBRAPII. Investimentos no setor de óleo produtos sustentáveis. Cloud computing.
Inovar Auto. e gás. Tecnologias sociais.
Programa Ciência sem fronteiras. Investimentos no setor Big data computing.
Política de conteúdo local para os automotivo. Tecnologias assistivas no
setores de óleo e gás e automotivo. Investimentos do governo em setor da saúde.
FINEP - Fundos setoriais. infraestrutura e transporte. Tecnologias para redução de
Crise na Europa. Investimentos no setor de impacto ao meio ambiente.
Lei de Informática. energia eólica.
Lei da Inovação. Expansão do setor naval &
Lei do Bem. offshore.
Lei da Propriedade Industrial. Implantação de novas plantas
Lei 8666: Aquisição. industriais.

C&UM são processos de fabricação de extensão transversal, que englobam boa parte das indústrias de manufatura
e construção. Para avaliar os setores industriais com potencial de serem atendidos, inicialmente é necessário
compreender como as empresas são beneficiadas por estes processos de fabricação. Desta forma, podem-se separar as
indústrias em três grupos:
 O primeiro grupo é formado por empresas que possuem um negócio distinto, entretanto utilizam os processos
de conformação e união de materiais de forma indireta para melhorar sua produtividade e desenvolver novos
produtos. Dentre essas empresas pode-se citar: Petrobras, Ford, Fiat, JAC Motors, GM, Embraer, Braskem,
Dow e Basf.
 O segundo grupo é formado por empresas que tem os processos de conformação e união de materiais
diretamente ligados aos seus negócios, trabalhando na construção e manutenção de indústrias e em obras de
infraestrutura. São exemplos dessas empresas: Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, MCE Engenharia,
OAS, UTC Engenharia, GDK, Thyssenkrupp, Sifco S.A., Forja Bahia e Ecocast.
 O terceiro grupo é formado por empresas que desenvolvem as tecnologias desses processos de fabricação,
atuando no projeto e construção de equipamentos, consumíveis, e na garantia da qualidade desses serviços.
Algumas dessas empresas: ESAB, Miller, Lincoln Eletric, Villares Metals, SMS Group, Schuler Group, CSN e
Usiminas.
Para subsidiar a priorização dos setores industriais a serem atendidos pelo Instituto, os setores potenciais (Energia
Renovável, Mineração, Mobilidade, Naval & Offshore, Petróleo & Gás, Química e Petroquímica e Siderurgia) foram
avaliados qualitativamente em duas dimensões. A primeira dimensão reflete o tamanho do mercado de cada setor
(faturamento), sua expectativa de crescimento no futuro e o quanto demanda soluções em P&D&I. A segunda dimensão
avalia a probabilidade de sucesso de entrada no mercado de cada setor, em termos da disposição do setor para investir
em soluções tecnológicas em P&D&I na área de C&UM. Foram atribuídas notas de zero a dez para cada setor em
relação a cada dimensão. Essas notas foram baseadas em pesquisas, na realização de palestras e workshops com
representantes do SENAI, do Instituto Fraunhofer e da indústria. Os resultados dessa avaliação foram plotados na
matriz da Figura (3).

Figura 3. Matriz de priorização de setores potenciais a serem atendidos pelo ISI em C&UM.
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Assim, os setores com alta demanda para soluções em P&D&I e alta probabilidade de sucesso de serem explorados
foram apontados como os segmentos de mercado mais importantes para o Instituto, são eles: Petróleo & Gás,
Mobilidade, Química e Petroquímica, Naval & Offshore, Siderurgia e Energia Renovável. As principais demandas de
cada setor estão indicadas na Tabela (3).

Tabela 3. Principais demandas para o Instituto SENAI de Inovação em C&UM.

Setor Demandas
Testes de equipamentos; Simulação de Soldagem; Soldagem em serviço (espessura < 5mm); Técnicas de reparo
Petróleo & em tubulação (linha viva); Desenvolvimento de especificação de processos de soldagem submarina;
Gás Desenvolvimento de equipamentos; Análise de falhas; Inspeção END automatizada; Inspeção baseada em risco;
Desenvolvimento de consumíveis.
Desenvolvimento de processos de soldagem para aços de alta resistência; Desenvolvimento de ferramentas de
simulação para soldagem e conformação; Desenvolvimento de novos materiais/compósitos (Polímero-metal) e
Mobilidade seus processos de união; Redução de ruído com o uso de compósitos; Novos processos de medição; Soldagem por
fricção; Fundição de alta precisão; Testes de fadiga; Desenvolvimento e simulação de processos de estampagem.
Desenvolvimento de peças com superfícies complexas.
Materiais e revestimentos resistentes à corrosão; Soldagem de materiais dissimilares; Análise de falha; Novos
Química e
processos de inspeção; Inspeção baseada em risco; Análise do ciclo de vida de equipamentos; Corrosão a alta
Petroquímica
temperatura.
Automação de processos de soldagem (alta produtividade, precisão); Estudos de deformação; Automação de
Naval &
processos de corte; Novos processos de tratamento de superfície contra corrosão; Técnicas avançadas de ensaios
Offshore
não destrutivos.
Desenvolvimento de ligas de alta resistência e baixo carbono; Caracterização de microestruturas e resistência
Siderurgia
mecânica; Simulação numérica de forjamento e laminação; Estudo de conformabilidade dos materiais.
Energia Automação de soldagem de torres eólicas (produtividade e precisão); Simulação de aerogeradores; Utilização de
Renovável materiais mais leves; Novos tratamentos superficiais; Desenvolvimento de materiais magnéticos.

4.2. Definição do modelo de negócio

4.2.1. Estabelecimento da diretriz estratégica

Lançando-se mão da análise do ambiente externo e das expectativas dos representantes estratégicos do SENAI para
o ISI em C&UM, foram definidos sua visão, missão e objetivos estratégicos.
A visão do ISI de C&UM é a de se tornar um dos fornecedores líderes ou o centro de excelência para soluções
inovadoras em fabricação e inspeção e trazer avanços nas atividades de desenvolvimento e pesquisa no Brasil. A missão
do Instituto é promover a competitividade na indústria brasileira por meio da transferência de conhecimentos e pesquisa
aplicada, com suporte ao processo de inovação nas empresas. Os objetivos estratégicos do referido Instituto são:
 Ser um importante elemento do Sistema Nacional de Inovação por meio dos processos e soluções tecnológicas
de inovação a serem fornecidos pelo ISI;
 Agregar competências nas tecnologias de Conformação, União de Materiais & Inspeção e ingressar em novos
segmentos de mercado (por exemplo: Energia, pré-sal, defesa, mineração, etc.), fornecendo produtos e serviços
de alta qualidade e pessoal qualificado;
 Desenvolver quadro técnico qualificado e diferenciado e criar infraestrutura para oferecer o portfólio de
produtos e serviços pretendido, assim como realizar pesquisas aplicadas visando o desenvolvimento
tecnológico e inovação dentro das indústrias;
 Aumentar a receita resultante dos serviços tecnológicos e pesquisa aplicada, por meio do aumento da
quantidade de serviços e projetos, assim como pelo aumento de seu valor agregado;
 Aumentar o número de pesquisadores trabalhando no ISI, incluindo pessoal altamente qualificado, além de
cooperar intensamente com outros institutos e universidades relacionados com conformação e união de
materiais.

4.2.2. Definição do portfólio de serviços e produtos

A partir da definição dos setores industriais e suas demandas e do estabelecimento da sua diretriz estratégica,
iniciou-se o processo de definição do portfólio. Como primeira etapa, identificaram-se os processos prioritários de
competência tecnológica. Estes processos foram agrupados em áreas de competência do Instituto, conforme apresentado
na Figura (4).
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Figura 4. Áreas de competência e processos prioritários do ISI em Conformação & União de Materiais.

A seguir são apresentadas as descrições das principais áreas de atuação do Instituto, suas respectivas competências
e portfólio de serviços e produtos.

Sistemas de Integração

Os projetos na área de C&UM, em geral, requerem uma integração de várias competências, a exemplo de
automação, desenvolvimento de produtos, fabricação de ferramentas, materiais, etc. A área de competência de Sistemas
de Integração terá a responsabilidade de integrar todas as competências demandadas para desenvolvimento de uma
solução tecnológica.

Materiais

A base para o desenvolvimento da C&UM é a caracterização dos materiais a serem trabalhados, pois o
comportamento dos materiais influencia diretamente no sucesso da manufatura. Novas descobertas de materiais a serem
manufaturados requerem tecnologia diferenciada de avaliação e validação a serem desenvolvidas pelo Instituto. A área
de competência de Materiais deve desenvolver pesquisas de ponta com o portfólio descrito na Tabela (4).

Tabela 4. Portfólio da área de competência de Materiais.

Área Competências Portfólio


Análise química e metalográfica
Técnicas avançadas de caracterização
Caracterização de Materiais Ensaios mecânicos
Ensaios de corrosão
Análise de tensão residual
Materiais
Análise de Falha Determinação da causa raiz da falha
Desenvolvimento de novas ligas
Desenvolvimento de Novos Materiais Produção piloto
Avaliação de Produto
Soluções de corrosão Estudo dos mecanismos de corrosão

Processos de Conformação

Atualmente a otimização dos processos de conformação é cada vez mais demandada pela indústria. Modificações
nos processos de fabricação são consideradas fundamentais. A área de Processos de Conformação deve desenvolver
pesquisas de ponta com o portfólio descrito na Tabela (5).
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Tabela 5. Portfólio da área de competência de Processos de Conformação.

Área Competências Portfólio


Forjamento
Extrusão
Laminação
Conformação Mecânica
Estampagem
Trefilação
Processos de Conformação Corte e Dobra
Determinação das curvas CCT
Tratamento Térmico
Procedimentos de tratamento térmico
Estudos de solidificação
Fundição Processos de fundição
Fundição de precisão

Processos de União de Materiais

Com o desenvolvimento de novos materiais, há um esforço para melhoria de tecnologias de união de materiais
existentes como soldagem por arco elétrico (MIG/MAG tandem, Arco submerso, Eletro escória e TIG orbital) e
desenvolvimento de novas tecnologias, como: soldagem com feixes de alta potência (Laser e Feixe de Elétrons),
soldagem híbrida, colagem (adhesive bonding) e soldagem por fricção linear (Friction stir welding). Portanto, a
pesquisa e desenvolvimento na união de novas ligas, ligas ferrosas com ligas não-ferrosas, ligas ferrosas com polímeros
são desafios a serem conquistados. A área de União de Materiais deve desenvolver pesquisas de ponta com o portfólio
descrito na Tabela (6).

Tabela 6. Portfólio da área de competência de Processos de União de Materiais.

Área Competências Portfólio


Soldagem de metais
Processos de Soldagem Soldagem de polímeros
Desenvolvimento de juntas dissimilares
Soldagem por fricção
Processos de União de Materiais Soldagem a laser
Outros Processos de União
Adesivos
Processos híbridos
Aspersão térmica
Revestimento
TIG/MIG Tandem

Projeto e Simulação

Em alinhamento com as novas tendências da indústria nacional, como, por exemplo, os setores naval e de energias
renováveis que ressurgem com elevados investimentos privados e incentivos governamentais, o Instituto deve ter
condições de projetar, desenvolver e até manufaturar produtos para indústria nacional.
Programas de simulação numérica são essenciais no desenvolvimento de novos produtos. Esses softwares orientam
os pesquisadores no projeto da peça final, não sendo necessário utilizar antigos métodos, como o “Tentativa e Erro”,
reduzindo assim custos de projeto através de validações numéricas e aumentando a competitividade dos produtos
criados. O ISI de C&UM deve possuir softwares focados aos processos de manufatura, como, por exemplo, nos
processos de conformação de chapas metálicas (PAM STAMP e LS-Dyna); processo de forjamento, laminação e
trefilação (LARSTRAN, Forge e Simunfact); e processos de soldagem (Weld Planner e Sysweld). A área de Projeto e
Simulação deve desenvolver pesquisas de ponta com o portfólio descrito na Tabela (7).
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Tabela 7. Portfólio da área de competência de Projeto e Simulação.

Área Competências Portfólio


Design de Equipamentos, Peças e Design, mecânica da fratura, CAE e
Ferramentas simulação numérica
Simulação numérica de processos de
conformação
Projeto e Simulação Simulação Física e Numérica Simulação numérica de processos de união de
materiais
Simulação termodinâmica
Prototipagem de Dispositivos,
Prototipagem de peças
Equipamentos e Peças

Garantia da Qualidade

Em geral, na indústria, a maioria dos processos de garantia da qualidade são realizados por operadores qualificados.
O ISI deve fornecer soluções tecnológicas de ponta em sistemas de medição e inspeção para automatizar o
controle/verificação da qualidade e aumentar a confiabilidade desse processo. Um exemplo bem sucedido das
competências de integração do ISI é o desenvolvimento de técnicas de inspeção não convencionais dos processos de
soldagem.

5. CONCLUSÃO

Conforme explicitado, o objetivo deste trabalho compreendeu o desenvolvimento das duas primeiras fases do
modelo apresentado: “Análise do ambiente externo” e “Definição do modelo de negócio”. Essas duas fases constituem
um aspecto crítico e fundamental no processo, pois são a base para a realização das demais fases do modelo, que
compreendem o plano operacional, financeiro e de implementação do Instituto. Para assegurar o sucesso do projeto, é
de suma importância que seja realizado um controle operacional e estratégico das ações planejadas.
A partir das duas primeiras fases do modelo estruturado apresentado foi possível definir, de maneira sistematizada,
as competências tecnológicas e os serviços e produtos a serem desenvolvidos pelo ISI de C&UM, orientados pela
demanda dos setores industriais priorizados e alinhados com as diretrizes estratégicas do Instituto. Como os serviços e
produtos mencionados têm objetivo de melhorar o desempenho, a qualidade e a estabilidade dos processos, eles
proverão aos clientes vantagens competitivas sustentáveis.

6. AGRADECIMENTOS

Ao SENAI Nacional e ao SENAI Bahia por terem viabilizado a cooperação com o Instituto Fraunhofer IPK e a
realização do projeto de pesquisa, do qual se originou o material apresentado.

7. REFERÊNCIAS

ASM Handbook, 1993, Volume 14: “Forming and forging”, ASM International Handbook committee.
CNI - Confederação Nacional da Indústria, 2012, “Relatório anual 2011 da Confederação Nacional da Indústria”,
Brasília, 64 p.
CNI - Confederação Nacional da Indústria, 2013, “Mapa estratégico da indústria 2013-2022”, Brasília: CNI, 137 p.
IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, 2012, “Carta nº 532 - A Balança Comercial na Indústria
de Transformação: Deterioração nas Quatro Faixas de Intensidade Tecnológica”. Disponível em:
http://www.aeb.org.br/userfiles/file/Carta%20IEDI%20n.pdf. Acesso em 19 de jan. 2015.
Kohl, H., Will, M., Steinhöfel, E. and Zonatta, A. M., 2013, “Strategy Workshop at SENAI Bahia: ISI for Forming &
Joining”, Salvador, Bahia.
Lohwasser, D. and Chen, Z., 2009, “Friction stir welding: From basics to applications”. Elsevier.
Messler, R. W., 2004, “Joining of materials and structures: from pragmatic process to enabling technology”.
Butterworth-Heinemann.

8. DIREITOS AUTORAIS

Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído no seu trabalho.
8º Congresso Brasileiro de Engenharia de Fabricação
18 a 22 de maio de 2015, Salvador, Bahia, Brasil
Copyright © 2015 ABCM

THE APPLICATION OF A STRUCTURED MODEL TO DEFINE


EXPERTISE AND PORTFOLIO OF PRODUCTS AND SERVICES FOR A
TECHNOLOGICAL CENTER: THE CASE OF AN INSTITUTE OF
INNOVATION FOR MATERIALS FORMING AND JOINING

Leone Peter Correia da Silva Andrade, leone.andrade@fieb.org.br1


Rafaela Campos da Silva, rcampos@ita.br2
Jefferson Oliveira Gomes, gomes@ita.br2
Daniel da Silva Motta, daniel.motta@fieb.org.br1
Rodrigo Santiago Coelho, rodrigo.coelho@fieb.org.br1
1
SENAI CIMATEC, Avenida Orlando Gomes, 1845, Piatã, 41.650-010, Salvador, Bahia, Brasil
2
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias, 12.228-900, São
José dos Campos, São Paulo, Brasil

Abstract: The National Confederation of Industry (CNI-Brazil) has developed policies to support the major industrial
sectors, under the "Bigger Brazil Plan" of the federal government, especially the implementation of twenty-six
institutes focused on innovation. These institutes have the following main characteristics: specialization in transversal
areas of knowledge, physical structures focused on advanced services, applied research for pre-competitive sectors
and service at the national level, establishing partnerships and innovation networks with the productive sector and
others national and international institutes and universities. Under this program was created the SENAI Institutes of
Innovation for Materials Forming & Joining (C&A), object of this study. C&A, including welding, are transverse
extent manufacturing processes, that is, involve much of the manufacturing and construction industries. The objective
of this study is to present the application of a structured model to define the technological expertise and portfolio of
products and services of an institute of innovation for C&A, necessary to meet the demands of the domestic industry.
To achieve this goal, first was performed an analysis of the external environment in order to identify different external
factors that may impact the results of the Institute. This analysis included a survey of technological trends and analysis
of the domestic market. As a result, the industrial sectors were presented to be met by the Institute, with particular
focus on their potential and demands. The study of the necessary technological skills and the portfolio definition of the
technological services and products have been developed for the current market conditions, based on the target
markets that have been identified.

Key Words: forming; joining of materials; welding; adhesive bonding; market analysis; technological expertise;
portfolio of technology services.

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