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1ª. CINEMA – A CAVERNA DOS SONHOS PERDIDOS .

Observações críticas do filme e do diretor W Herzog

PREMISSA DE COMO VER “CINEMA” POR RUDOLF ARNHEIM DE 1932

2 – A IMAGEM E O MUNDO VISTO.

O APARECIMENTO DA IMAGEM É SIMULTÂNEO AO DESPERTAR DA


CONSCIÊNCIA DE SI E DO OUTRO – FRUTO DO PRIMEIRO RECUO DO
HUMANO FRENTE À NATURA. NO PERÍODO DA PEDRA-LASCADA, HÁ
MAIS DE 25 MIL ANOS O HOMEM TRAÇOU OS PRIMEIROS DESENHOS
NAS PAREDES DAS CAVERNAS (ALTAMIRA E LASCAUX), SUPOSTAMENTE
PARA GUARDAR SEUS MITOS. E O RITO/RAPTO DA CAÇA-PRESA-POSSUÍDA.
DEPOIS, JÁ NO NEOLÍTICO E PROVAVELMENTE FEITOS PELAS MULHERES,
COMEÇAM OS OBJETOS E CERÂMICA.

A IMAGEM PRIMITIVAMENTE É MEMÓRIA E PRESENÇA DO OUTRO.


PG 50/51

UMA NECESSIDADE PROFUNDA de arranjar as coisas – e mesmo registrá-las em imagens-


ocupa os sonhos da humanidade desde os tempos mais remotos.

Para os primitivos homens das cavernas, uma imagem valia como se fosse a própria coisa
representada, ou seja, uma pintura do inimigo era vista como uma maneira de exercer poder
sobre ele. Uma imagem pode ainda representar uma experiência vivida por um sujeito. Assim
como cada um de nós tem necessidade de compartilhar suas vivências, assim como elas muitas
vezes ecoam em nossos sonhos, a atividade de produzir imagens é também como uma forma de
expressão do que se experimentou é mais um mecanismo para descarregar nossas tensões.

O fato é que essa necessidade de expressar a subjetividade ou de representar o mundo é uma das
raízes das artes plásticas. [...] A segunda raiz da arte é o gosto natural do homem pela simetria e
equilíbrio. Esta predileção é fundamentada claramente na biologia, pois caminha junto com o
princípio de equilíbrio e estabilidade presente na constituição de todo organismo. A mais
primitiva expressão neste sentido pode ser constada até mesmo no trabalho de uma faxineira,
que não precisa ser orientada a seguir qualquer ordenamento estético para organizar os objetos
pelos princípios de equilíbrio e simetria: o tinteiro no centro da mesa, a espátula de abrir cartas à
esquerda e o mata-borrão à direita dele. Um instinto parecido encontra-se também num
comerciante meticuloso que cola o selo exatamente em paralelo aos cantos do envelope. São
dezenas de “arranjos” destituídos de qualquer sentido prático. Eles seguem uma orientação para
a beleza. Expressão biológica disso é o nosso organismo funcionar como quem pinta um quadro
sempre que lhe é permitido, mesmo que para isso não exista a mínima razão.

Esses esforços em busca do equilíbrio e da simetria são valorizados para onde quer que se olhe,
independente do material utilizado, e, muito frequentemente, de forma totalmente inconsciente.
O egípcio enfeitava as paredes das câmaras mortuárias com desenhos de jarros e pães a fim de
que servissem como provisão para que seus faraós não fossem condenados a passar fome na
sua peregrinação até o reino dos mortos, um trabalho que foi feito sem a menor ambição
artística ou decorativa. Eles não sabiam nada a respeito da importância de dividir
harmoniosamente a área de disposição desses objetos para criar uma boa relação de equilíbrio
ou de que os membros em um relevo poderiam estar bem ou mal dispostos – e apesar disso um
sentimento formal inconsciente os levou a construir obras magistrais.

O pensamento consciente sobre o modo de fazer artístico é um produto cultural


extraordinariamente tardio e, até os dias de hoje, só acessível a um grupo muito seleto de
pessoas. A maioria das pessoas, o sujeito comum, ainda pensa que a arte é apenas uma
reprodução de objetos, tanto hoje como três mil anos atrás, e repara somente no conteúdo da
obra de arte, julga a obra somente pela sua semelhança com a realidade. Para o sujeito comum,
entre as gravuras coloridas de um livro de zoologia e as pinturas de animais de Rubens ou de
Delacroix há somente uma diferença terminológica, mas nenhuma diferença fundamental.
Por isso, até hoje, a fruição da arte é confundida com o prazer que a obra de arte proporciona.
Quando uma pessoa fica em paz ao observar por um instante uma paisagem bucólica em frente a
uma Vênus de mármore, ela pensa se comportar como um apreciador da arte. Por esta razão, até
hoje a sociedade de massa é inimiga anônima do desenvolvimento da arte. Ela percebe no
cinema só o enredo narrativo e volta seu interesse somente à história contada.

No seu estudo Cinema como Arte, desde 1932 um clássico sobre o cinema e suas formas,
Rudolf Arnheim já sinalizava, bem mais além das suas técnicas, a presença no saber-fazer das
artes do “sentimento formal inconsciente (que) os levou a construir obras magistrais”.

Rudolf Arnheim (July 15, 1904 – June 9, 2007) was a German-born author, art and film
theorist, and perceptual psychologist. He learned Gestalt psychology from studying
under Max Wertheimer and Wolfgang Köhler at the University of Berlin and applied it to
art.[1] His magnum opus was his book Art and Visual Perception: A Psychology of the
Creative Eye (1954). Other major books by Arnheim have included Visual Thinking (1969),
and The Power of the Center: A Study of Composition in the Visual Arts (1982). Art and
Visual Perception was revised, enlarged and published as a new version in 1974, and it
has been translated into fourteen languages. He lived in Germany, Italy, England, and
America.[1] Most notably, Arnheim taught at Sarah Lawrence College, Harvard University,
and the University of Michigan.[1] He has greatly influenced art history and psychology in
America.[1]
Although Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye took fifteen months
to complete, Arnheim stated that he felt that he essentially wrote it in one long
sitting.[2] In Art and Visual Perception, Arnheim tries to use science to better understand art,
still keeping in mind the important aspects of personal bias, intuition, and expression.[2] In
his later book Visual Thinking (1969), Arnheim challenges the differences between thinking
versus perceiving and intellect versus intuition.[2] In it Arnheim critiques the assumption that
language goes before perception and that words are the stepping stones of
thinking.[2] Sensory knowledge, for Arnheim, allows for the possibility of language, since the
only access to reality we have is through our senses.[1] Visual perception is what allows us
to have a true understanding of experience.[1] Arnheim also argues that perception is
strongly identified with thinking, and that artistic expression is another way of reasoning.[2] In
his book titled The Power of the Center: A Study of Composition in the Visual Arts (1982),
Arnheim addresses the interaction of art and architecture on concentric and grid spatial
patterns.[2] Arnheim argues that form and content are indivisible, and that the patterns
created by artists reveal the nature of human experience.[2]

Theories[edit]
Arnheim believed that most people have their most productive ideas in their early
twenties.[3] They get hooked on an idea and spend the rest of their lives expanding on
it.[3] Arnheim’s productive or generative idea was that the meaning of life and the world
could be perceived in the patterns, shapes, and colors of the world.[3] Therefore, he
believed that we have to study those patterns and discover what they mean.[3] He also
believed that artwork is visual thinking and a means of expression, not just putting shapes
and colors together that look appealing.[3] Art is a way to help people understand the world,
and a way to see how the world changes through your mind.[3] Its function is to show the
essence of something, like our existence.[1] Arnheim’s writing and thinking were most
important to him, and his goal was to understand things for himself.[3] Arnheim maintained
that vision and perception are creative, active understanding, and that we organize
perceptions into structures and form with which to understand them.[1] Without order we
wouldn’t understand anything, so the world is ordered just by being perceived.[1] Overall, he
wrote fifteen books about perceptual psychology and art, architecture, and film.[2]
1ª. CINEMA – A CAVERNA DOS SONHOS PERDIDOS .

Observações críticas do filme e do diretor W Herzog


PREMISSA DE COMO VER “CINEMA” POR RUDOLF ARNHEIM EM 1932

UMA NECESSIDADE PROFUNDA de arranjar as coisas – e mesmo registrá-las em


imagens – ocupa os sonhos da humanidade desde os tempos mais remotos.

Para os primitivos homens das cavernas, uma imagem valia como se fosse a própria coisa representada, ou seja,
uma pintura do inimigo era vista como uma maneira de exercer poder sobre ele. Uma imagem pode ainda
representar uma experiência vivida por um sujeito. Assim como cada um de nós tem necessidade de compartilhar
suas vivências, assim como elas muitas vezes ecoam em nossos sonhos, a atividade de produzir imagens também
é uma forma de expressão do que se experimentou [...]

Essa necessidade de expressar a subjetividade ou de representar o mundo é uma das raízes das artes plásticas.

A segunda raiz da arte é o gosto natural do homem pela simetria e equilíbrio. Esta predileção é fundamentada
claramente na biologia, pois caminha junto com o princípio de equilíbrio e estabilidade presente na constituição
de todo organismo. A mais primitiva expressão neste sentido pode ser constada até mesmo no trabalho de uma
faxineira, que não precisa ser orientada a seguir qualquer ordenamento estético para organizar os objetos pelos
princípios de equilíbrio e simetria: tinteiro no centro da mesa, espátula de abrir cartas à esquerda e o mata-borrão
à direita dele. Um instinto parecido encontra-se também num comerciante meticuloso que cola o selo exatamente
em paralelo aos cantos do envelope. São dezenas de “arranjos” destituídos de qualquer sentido prático. Contudo,
eles seguem uma orientação para a beleza.

Esses esforços em busca do equilíbrio e da simetria são valorizados para onde quer que se olhe, independente do
material utilizado, e, muito frequentemente, de forma totalmente inconsciente. O egípcio enfeitava as paredes das
câmaras mortuárias com desenhos de jarros e pães a fim de que servissem como provisão para que seus faraós não
fossem condenados a passar fome na sua peregrinação até o reino dos mortos, um trabalho feito sem a menor
ambição artística ou decorativa. Eles não sabiam nada a respeito da importância de dividir harmoniosamente a área
de disposição desses objetos para criar uma boa relação de equilíbrio ou de que os membros em um relevo poderiam
estar bem ou mal dispostos – e apesar disso um sentimento formal inconsciente os levou a construir obras magistrais.

O pensamento consciente sobre o modo de fazer artístico é produto cultural extraordinariamente tardio e, até os dias
de hoje, só acessível a um grupo muito seleto de pessoas. A maioria das pessoas, vide o sujeito comum, ainda pensa
que a arte é apenas uma reprodução de objetos, tanto hoje como três mil anos atrás, e repara somente no conteúdo da
obra de arte, julga a obra somente pela sua semelhança com a realidade. Para o sujeito comum, entre as gravuras
coloridas de um livro de zoologia e as pinturas de animais de Rubens ou de Delacroix há somente uma diferença
terminológica, mas nenhuma diferença fundamental.

Por isso, até hoje, a fruição da arte é confundida com o prazer que a obra de arte proporciona. Quando uma
pessoa fica em paz ao observar por um instante uma paisagem bucólica em frente a uma Vênus de mármore, ela
pensa se comportar como um apreciador da arte. Por esta razão, até os dias de hoje a sociedade de massa é inimiga
anônima do desenvolvimento da arte.
Ela percebe no cinema só o enredo narrativo e volta seu interesse somente à história contada.

Observação importante:

Neste seu estudo Cinema como Arte, desde 1932 um clássico sobre o cinema e suas formas,
Rudolf Arnheim já sinalizava, no saber-fazer das artes e bem mais além das suas técnicas, esta
presença do “sentimento formal inconsciente (que) os levou a construir obras magistrais”.

2ª. AULA / complemento para a primeira SESSÃO DE CINEMA / 16 Março

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