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DE VISIBILIDADE
Tem experiência como acompanhante de grupos de lazer para pessoas com deficiência, como
mediadora de emprego apoiado, oferecendo suporte às empresas que contratam e como
acompanhante em eventos, sendo estas, desdobramentos do AT convencional, mas
necessário na inclusão.
Conforme Safra (2004) esses pacientes vivem a experiência de não serem vistos no campo
social, com sentimento de humilhação, causando as vezes desesperança e amargura.
No trabalho que ela desenvolveu com grupo de jovens com Down, percebeu algumas atitudes
descontextualizadas e fantasiosas (serem artistas ou cantores famosos), as vezes tomavam a
palavra de maneira inconveniente, o que intensificava a angústia de ocupar um lugar de
estranhamento para os outros que presenciavam tais situações.
Nesse grupo foi selecionado pelos participantes, dois jovens com síndrome de Down para
participarem como palestrantes de congressos e outros eventos similares. Bia e Thiago se
inscreveram no VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DSTs e AIDS em 2008 e seus
nomes não foram ocultados, por ser também uma maneira de dar a eles a visibilidade que
tanto prezam. Nesse congresso foi falado de AIDS/Deficiência, por perceber a enorme
vulnerabilidade social que essas pessoas vivem por serem descartadas dos programas de
prevenção.
Criou maneiras para que eles conseguissem entender e participar das discussões e fez um
manejo do ambiente de modo a sustentar a participação deles.
Essa experiência impactou os participantes (apesar da deficiência ser um tema mais familiar)
e nos acompanhados que ficaram muito satisfeitos, eles conheceram e conversaram com
outras pessoas com diversos tipos de deficiência.
Era no quarto de hotel que conversavam, faziam elaborações pessoais, auxiliava-os na
organização de seus pensamentos e a deficiência dos outros faziam com que eles entrassem
em contato com a própria deficiência de forma diferente, deixando de ser um aspecto
humilhante para uma condição humana. Ressignificaram também a necessidade de apoio
como uma possibilidade e não como humilhação.
Compreender não é uma faculdade que possa ser adquirida pelo ser humano ao
longo da existência, seja por desenvolvimento mental ou aprendizagem. A
compreensão é essencialmente originária no ser humano. Trata-se de uma
possibilidade dada ao homem, que lá está desde sempre, ou seja, desde o
momento que ela acontece no mundo [...]. Assim, mesmo que se pense em
crianças com deficiência intelectual, abertura para o ser e a compreensão estão
igualmente presentes. Nessas crianças encontramos o sofrimento pela condição
decorrente da limitação que a deficiência traz, enquanto, ao mesmo tempo, há a
necessidade de dar sentido à experiência de serem atingidas deste modo de
situação. Por esta razão, também com essas crianças, é fundamental que se
possa estar e conversar com elas, para que a situação que as atravessa alcance
um sentido humano (SAFRA, 2006)
Thiago: Se vocês podem beijar, porque eu não posso? Se vocês podem namorar, porque eu
não posso? Se vocês têm relações sexuais, porque eu não? Sinto-me triste com isso!
“Sexualidade não é privilégio de quem não tem deficiência! Aprendi muito com o Projeto de
Orientação à Sexualidade e hoje eu namoro e estou aqui neste congresso falando para vocês!”.
Eles puderam contribuir, afetando o grupo de pessoas, tendo um lugar de reconhecimento.
Safra (2004) desenvolve uma compreensão sobre a importância de um lugar na comunidade
humana, designada por ele como Sobórnost:
O primeiro ponto importante na compreensão dessa perspectiva é que ela abole
a concepção de indivíduo, como nós a conhecemos. A noção de indivíduo leva
frequentemente a uma compreensão de ser humano como ontologicamente
isolado dos demais. Sobórnost assinala que cada ser humano é a singularização
da vida de muitos. Compreender o ser humano como a singularização da vida de
muitos implica dizer que cada ser humano é a singularização da vida de seus
ancestrais e é o pressentimento daqueles que virão. Isso não equivale a afirmar
somente a existência da influência cultural, mas sim que o sentido de si é um
fenômeno ontológico comunitário, isto é, que acontece em meio à comunidade e
como comunidade. Evento transgeracional, vindo da história em direção ao
futuro. A verdade de si mesmo acontece e se revela somente pelo reflexo do
rosto do outro. Em nossa maneira habitual de pensar, o ser é constituído antes
da comunidade. Sobórnost assinala-nos que ser é comunidade!
A singularidade de cada indivíduo dá-se pelo gesto criativo, sustentado pelos seus pares, que
recria o que herdou de seus ancestrais, abrindo caminhos inéditos para o futuro.
Com relação a Bia e Thiago a experiência foi tão surpreendente que eles foram convidados
novamente para outros eventos consolidando ainda mais o lugar de visibilidade tão ansiado.