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Código de Direito Canónico

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O Código de Direito Canónico (em latim
Codex Iuris Canonici; CIC) é o conjunto Código de Direito Canónico
ordenado das normas jurídicas do direito
canónico que regulam a organização da Igreja
Católica Romana (de rito latino), a hierarquia
do seu governo, os direitos e obrigações dos
fiéis e o conjunto de sacramentos e sanções
que se estabelecem pela contravenção das
mesmas normas. Na prática é a constituição
da Igreja Católica.

Índice
Na Idade Média
A Coleção Dionisiana
O Decreto de Burcardo de Worms Ratificado 25 de janeiro de 1983 (36 anos)
O Decreto de Graciano Local Roma
O Código de 1917 Autores Concílio Vaticano II
O Código de 1983 Signatários São João Paulo II
Conteúdo Propósito Normas de regência espiritual e
Organização temporal do cristianismo católico
Temas
Ver também
Referências
Ligações externas

Na Idade Média

A Coleção Dionisiana
Dionísio, o pequeno, natural da Cítia, conhecedor do grego e do latim, que viveu em Roma como monge
(entre 500 até 545), pode ser considerado o iniciador do Direito Canônico com sua obra compiladora
conhecida como Codex canonum ecclesiasticorum. Na sua primeira versão, ele mesmo explica sua
composição: põe primeiro os 50 cânones apostólicos, depois os dos
concílios de Niceia, Ancira, Neocesareia, Gangres, Antioquia, Laodiceia
e Constantinopla, totalizando 165 cânones para em seguida acrescentar
27 cânones do concílio de Sárdica e 138 cânones do concílio cartaginês
(419), além dos de Calcedônia. [1]A segunda versão estimada como
definitiva e mais ou menos conservada no original, corrigiu falhas da
versão anterior e criou um índice de todos os textos. A coleção foi
completada pelo autor com decretais dos papas Sirício (384-399),
Anastácio (399-401) e Bonifácio (418-422). A obra de Dionísio,
completada na época do papa Símaco (481-514) é marcadamente
jurídica e tem o valor de reunir num só volume a documentação
referente a séculos anteriores, e de uma forma que ressalta a praticidade João Paulo II foi o papa
de seu manuseio, largamente utilizada pelos sumos pontífices, de modo que promulgou o atual
a ser muitas vezes chamada de coleção semi-oficial da Igreja na Roma Código de Direito
de então. Dionísio era também matemático e foi ele quem fez o cômputo Canónico em vigor, do
ano de 1983.
do nascimento de Cristo que acabou por fixar o início do nosso
calendário em 753 da era de Roma, ano do início da era cristã. [2]

O Decreto de Burcardo de Worms


Na Alemanha publicou-se o importante decreto com o título de Código de Reforma Imperial, também
conhecido por diversos outros nomes - Decreto, Livro de Decretos, Coleção de Cânones ou,
simplesmente Burcardo. Seu autor que foi bispo de Worms (1000-1025), a mais importante diocese
alemã, compôs sua obra em 20 volumes com grande dispêndio de tempo e esforço, provavelmente
vindo em auxílio aos bispos no governo de suas dioceses e em favor de uma reforma geral na Igreja
alemã. Coletou cânones, leis, normas, concílios, disposições da Igreja de Roma relativas à alta
hierarquia, ao clero, aos tribunais, aos bens temporais da Igreja, aos livros, aos sacramentos do
batismo, da confirmação, do matrimônio e da eucaristia. Tratou de disposições referentes ao homicídio,
ao furto, ao perjúrio, à magia, aos sortilégios, ao jejum, à fornicação, às virgens e viúvas, à visitação aos
enfermos e à reconciliação pela penitência, aos julgamengtos, aos advogados e testemunhas, ao
imperador, aos príncipes e à Teologia dogmática. Entre os princípios desposados pelo Decreto de
Burcardo estão a independência do poder eclesiástico para realizar a reforma da Igreja com
colaboração mas não ingerência do poder civil, a submissão dos mosteiros ao bispos, a reforma do clero
diocesano (e o aconselhamento para que procurem viver em comunidade), o reconhecimento do
celibato desse clero como regra com indulgência para os casados e uma série de normas penitenciais.
Foi grande a influência deste decreto, só enfraquecendo após a Reforma gregoriana. [3] O período
compreendido entre 1050 e 1150 foi marcado por uma ordem jurídica definida pela confluência entre as
formas do direito escrito e oral, de modo que as normas, bulas e legislações conciliares tinham sua
aplicação determinada pela realidade social da jurisdição (iurisdictio), isto é, a legítima capacidade de
"dizer o direito".[4] Como afirma o historiador e medievalista Leandro Rust: "as normas escritas não
estabeleciam os limites das experiências e expectativas (...). A voz clerical remodelava o textual
incessantemente, segundo a vivência de necessidades circunstanciais e o peso de desafios temporários.
(...) As maneiras de relembrar o texto canônico eram constantemente refeitas; o modo de interpretá-lo
estava sempre em movimento."[5]

O Decreto de Graciano
Conhecido como Concordia Discordantium Canonum, foi elaborado pelo Mestre em Direito, Frei João
Graciano, que a concluiu aproximadamente em 1140. É realmente um monumento jurídico da mais alta
importância, indo muito além do que uma coletânea de textos. O documento estabelece critérios para
avaliação dos textos com comentário científico, inclui roteiro para o aprendizado, conforme o costume
da universidade de Bolonha, apresenta princípios de proposições do Direito (distinctiones) e alega
casos práticos (quaestiones), cuja solução oferece nos capitula. Com frequência, emprega as
alternativas dos sic et non, no melhor estilo de Abelardo, para resolver contradições entre os textos.
Entre as fontes utilizadas estão a Sagrada Escritura, o direito natural, Os Cânones dos Apóstolos,
concílios ecumênicos, preceitos do Direito romano teodosiano e do justiniano, leis civis germânicas,
capitulares de reis e imperadores medievais (Henrique I e Ótão I), Decretos de Bucardo e Ivo de
Chartres, decretais dos papas Pascoal II (1099-1118) e Inocêncio II (1130-1143) e até o concílio
Lateranense II (1139). Ao todo, Graciano e sua equipe investigaram 3458 textos. Apesar de sua grande
fama e de seu texto ter sido utilizado no currículo de Direito Canônico das universidades, o valor
jurídico da obra como as demais anteriores permaneceu como o de uma coleção privada, jamais tendo
obtido aprovação oficial da Igreja. [6]

O Código de 1917
Até 1917 a Igreja Católica era regida por um conjunto disperso e não colocado em código unificado de
normas jurídicas tanto espirituais como temporais. O Concílio Vaticano I fez referência à necessidade
de realizar uma compilação onde se agrupassem e ordenassem essas normas, se eliminassem as que já
não estavam em vigor e se codificassem as restantes com ordem e clareza.

As ligeiras compilações efectuadas pelos papas Pio IX e Leão XIII resultaram insuficientes. Ter-se-ia de
esperar até que Pio X criasse em 1904 uma comissão para a redacção do Código de Direito Canónico.
Após doze anos de trabalhos, seria o Bento XV que promulgaria o Código em 27 de maio de 1917. O
Código entrou em vigor em 19 de maio de 1918. O Código de Direito Canónico de 1917 é conhecido pelos
seus dois principais impulsionadores, como Código Pio-Beneditino.

O novo código passou a formar um corpo único e autêntico para toda a Igreja Católica de rito latino,
criando-se uma comissão de interpretação do mesmo no ano da sua promulgação que, desde então, era
a única competente para esclarecer as dúvidas que poderiam surgir e cujos ditames têm o valor de uma
interpretação autêntica sobre qualquer dos cânones do código.

Por sua vez, continuou-se o trabalho de codificação, com o intuito de completar o ordenamento jurídico
com um código de direito canónico para as Igrejas sui iuris ou autónomas, de rito oriental. Estas Igrejas
estão em comunhão com o Romano Pontífice, e têm uma tradição disciplinar e jurídica própria desde
tempos imemoriais.O código dos Cânones das Igrejas Orientais foi publicado em 1991.
O Código de 1983
Quando João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, anunciou a reforma do Código, que se atrasou até
à finalização do Concílio. Morto João XXIII e terminado o Concílio, Paulo VI nomeou a comissão
reformadora em 1964.

O código manteve a sua natureza distinta para ambas as igrejas, a latina e a oriental, tal como estava
estabelecido no de 1917. Os Decretos conciliares tinham modificado uma parte substancial do Código
de 1917, e os primeiros trabalhos dirigiram-se à adaptação e derrogação dos cânones afectados. Foram
feitas consultas a todos os bispos do mundo e a outros eclesiásticos, bem como a todas as faculdades de
direito canónico. Foram realizados dois projectos em 1977 e 1980 que foram objecto de estudo por
canonistas, bispos, cardeais e superiores religiosos. Com todas as reflexões foi feito o esboço de 1982.
Em 25 de janeiro de 1983 o Papa João Paulo II promulgou o novo Código, que entrou em vigor em 27
de novembro do mesmo ano. Igualmente nomeou o novo órgão de interpretação do texto, denominado
Pontifícia Comissão, para a interpretação autêntica do Código de Direito Canónico, com as mesmas
funções que tinha a anterior comissão de interpretação. Em 1988, mediante a constituição apostólica
Pastor Bonus, esta comissão transformou-se no Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, com
umas competências mais amplias e articuladas [1] (http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_co
uncils/intrptxt/documents/rc_pc_intrptxt_pro_20061122_it.html)

Paralelamente, com a convocatória do Concílio Vaticano II foi abandonada a codificação oriental e


começou-se uma nova codificação do direito oriental, que terminou em 1991 com a promulgação do
Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium, ou Código dos Cânones das Igrejas Orientais. Este Código
veio completar a codificação na Igreja Católica, ao estar em vigor para as Igrejas sui iuris católicas de
rito oriental.

Conteúdo

Organização
O Código de Direito Canónico está ordenado em cânones que cumprem funções similares aos artigos
nos textos legislativos civis e divide-se em sete livros:

1. Livro Primeiro: Das normas gerais


2. Livro Segundo: Do Povo de Deus
3. Livro Terceiro: Da função de ensinar da Igreja
4. Livro Quarto: Da função de santificar a Igreja
5. Livro Quinto: Dos bens temporais da Igreja
6. Livro Sexto: Das sanções na Igreja
7. Livro Sétimo: Dos processos

Temas
Os temas principais tratados pelo CIC de 1983 são:[7]
1. O papel do Romano Pontífice e do Colégio Episcopal.
2. A organização da Cúria Romana, seus conselhos, congregações e tribunais; as funções da
Secretaria de Estado e do Sínodo permanente.
3. As regras para a constituição das associações de fiéis, das sociedades de vida apostólica, dos
institutos de vida consagrada, das prelazias pessoais e das administrações apostólicas.
4. A organização da igreja nacional. A estrutura das dioceses, arquidioceses, das prelazias, abadias
territoriais, administrações apostólicas, prelazias pessoais, dos ordinariatos militares, eparquias,
das províncias e regiões eclesiásticas, das conferências episcopais, dos sínodos diocesanos, dos
concílios provinciais e plenários, dos cabidos metropolitanos e das paróquias.
5. A organização das dioceses; o papel dos vigários episcopais, dos vigários gerais e dos vigários
judiciais no governo da diocese; o papel do Arcebispo e suas funções na administração da
província eclesiástica; a organização da Igreja Católica de Rito Oriental - os patriarcas, os eparcas
e exarcas e a liturgia específica dessas igrejas.
6. Os critérios para a definição de "sede vacante" e de "sede impedida".
7. As obrigações e os direitos dos bispos, dos párocos e dos fiéis.
8. As regras sobre o dízimo; uma obrigação de todos, e o seu modo de utilização.
9. As atribuições dos ministros ordinários e extraordinários da Eucaristia.
10. As exigências para ser padrinho de Batismo, Crisma e Matrimónio.
11. A idade mínima para o presbiterato e para o episcopado; as normas para os seminários.
12. Quem pode celebrar os sacramentos; a Comunhão em duas espécies - libação e intinção.
13. Regras sobre o Batismo; o Batismo fora da Igreja; o Batismo de não católicos; o Batismo por
imersão, infusão e aspersão.
14. O Matrimónio com não católicos; impedimentos matrimoniais; os divorciados e a Igreja; a situação
do padre casado.
15. Os casos de excomunhão de leigos e clérigos.
16. Outras punições canónicas a leigos e clérigos.
17. Quem não pode receber os sacramentos.
18. Regras sobre a Confissão; a confissão anual.
19. Sobre o Colégio Cardinalício (cardeais-diáconos, presbíteros e bispos); sobre o Consistório; sobre
a eleição do Papa e sobre o governo temporário da Igreja.
20. Regras sobre as ordens religiosas; normas sobre o hábito eclesiástico.
21. Os tipos de sacramentais, as orações e os objetos sagrados; o ritual do exorcismo.
22. Os tribunais eclesiásticos e os processos judiciais.
23. Tipos de leis canónicas; promulgação de leis; dispensa de leis; tipos de penas - o perdão e a
extinção das penas.

Ver também
Direito canónico
Decreto de Graciano
Corpus Iuris Canonici

Referências
1. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002. p. 414.
ISBN 85.326.1294-6 Verifique |isbn= (ajuda)
2. LIMA, Maurílio C. (2004). Introdução à História do Direito Canônico 2 ed. São Paulo: Loyola. p. 46-
47. ISBN 85-15-02008-4
3. LIMA, Maurílio C. (2004). Introdução à História do Direito Canônico 2 ed. São Paulo: Loyola. p. 88-
91. ISBN 85-15-2008-4 Verifique |isbn= (ajuda)
4. Rust, Leandro (2013). A Reforma Papal (1050-1150): trajetórias e críticas de uma história 1 ed.
Cuiabá: EdUFMT. p. 117-148. ISBN 978853270150 Verifique |isbn= (ajuda)
5. Rust, Leandro (2011). Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média Central 1 ed. São
Paulo: Annablume. p. 138-140. ISBN 9788539103140
6. LIMA, Maurílio C. (2004). Introdução à História do Direito Canônico 2 ed. São Paulo: Loyola.
p. 105-109. ISBN 85-15-2008-4 Verifique |isbn= (ajuda)
7. «Código de Direito Canónico» (http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-i
uris-canonici_po.pdf) (PDF). Consultado em 21 de março de 2013

Ligações externas
Codex Iuris Canonici - Texto latino oficial, no portal da Santa Sé (http://www.vatican.va/archive/cod
-iuris-canonici/cic_index_lt.html) (em latim)
Código de Direito Canónico (http://www.vatican.va/archive/cdc/) , em diversas línguas no portal da
Santa Sé
Código de Direito Canónico (http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuri
s-canonici_po.pdf) (em português)

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