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O papel da interdisciplinaridade na comunicação

científica do Espaço do Conhecimento UFMG

The interdisciplinarity role in scientific communication of


Espaço do Conhecimento UFMG
Autores: Nathália Caroline Raimundi de Siqueira1, Raísa Faria Rodarte Ribeiro2,
Rogério Lucas Gonçalves Passos3
Resumo
O presente trabalho propõe uma reflexão acerca da relação interdisciplinar da
equipe do Espaço do Conhecimento UFMG. Os pontos principais que foram
utilizados como metodologia para desenvolvimento do artigo foram pesquisa,
observação e análise de estratégias de mediação, que buscam sempre
aproximar a linguagem da exposição aos visitantes e a valorização do diálogo
com ele, incentivando-o a continuar com a busca pelo conhecimento dentro e
fora do espaço do Museu.
Palavras chave: comunicação científica, Espaço do Conhecimento UFMG,
interdisciplinaridade, mediação, museu de ciências.
Abstract

This work proposes a reflection about the interdisciplinary relation of Space of


Knowledge UFMG team. One of the main points that have been used as
methodology in the development of this article was research, observation and
analysis of mediation strategies, which objectivities to approach the language of
the exposition to the visitors and the valuation of the dialogue with them, so that
they feel encouraged to continue the pursuit of knowledge inside and outside the
Museum’s space.
Key words: scientific communication, Space of Knowledge UFMG,
interdisciplinarity, mediation, science museum.
Objetivos gerais
 Conhecer a diversidade de interpretações de um mesmo assunto.
 Proporcionar um espaço cultural gratuito para informação e lazer onde há
valorização constante do diálogo com o visitante, incentivando-o a fazer
perguntas e buscar respostas.

Objetivos específicos

1
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Email:
nathaliacrsiqueira@gmail.com
2
Graduanda em História (licenciatura) pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Email:
raisafrr@gmail.com
3
Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Email:
lucasrogeriogp@gmail.com
 Promover diálogo e respeito aos diferentes pontos de vista e vertentes de
um pensamento, tanto na interação entre mediadores quanto entre o
público visitante do Museu.
 A prática da mediação sem hierarquização, tendo como foco a
horizontalização do conhecimento acadêmico e o tradicional.
 Trabalhar com uma mediação no sentido de aproximar exposição e
visitante.

Metodologia
São realizadas pesquisas temáticas sobre os assuntos que têm relação direta
ou indireta com a exposição, realizando, assim, reuniões de formações semanais
com os mediadores. Semestralmente equipes de especialistas são convidadas
a ir até o Espaço para ministrar palestras ou seminários com o intuito de
desenvolver estratégias de mediação e de buscar uma aproximação da
linguagem da exposição com cada tipo de público. Diálogos semanais são
propostos entre a equipe de mediação para preparo da recepção do público
agendado, para a troca de experiências e o relato de comentários, experiências
e perguntas feitas pelos visitantes.
Introdução
O projeto tem como finalidade demonstrar como as práticas de comunicação
científica podem ser estabelecidas além da universidade em parceria com
projetos de extensão, usando como referência o Espaço do Conhecimento
UFMG, museu que faz parte do Circuito Cultural Praça da Liberdade, situado em
Belo Horizonte. O foco de trabalho do Museu é a divulgação cultural-científica
por meio de exposições de longa e curta duração. O Setor Educativo do Espaço
atua com uma equipe de trinta mediadores, sendo eles alunos de diversos cursos
de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, que contam
com uma bolsa de Projeto de Extensão (ProEx) para desenvolver suas
atividades no Museu. A ideia principal do trabalho de mediação no Espaço do
Conhecimento se concentra numa divulgação científica horizontalizada, onde o
diálogo entre o conhecimento produzido dentro e fora da universidade é
promovido. O objetivo é explorar ao máximo a interdisciplinaridade4 ao integrar
as diversas disciplinas científicas, naturalmente fragmentadas no currículo
formal, dissolver barreiras entre essas e, mais ainda, promover um diálogo com
o público que visita o Museu.
Interdisciplinaridade: formação pessoal e aprendizagens para a mediação
Dentre os vários projetos de extensão desenvolvidos na Universidade Federal
de Minas Gerais o projeto de Ações Educativas e Mediação no Espaço do
Conhecimento UFMG pode ser usado em prol de demandas sociais. Antes de
tudo, é preciso saber: o que se pretende com a popularização científica? O
objetivo da apresentação do conhecimento pelo Espaço é possibilitar uma
formação crítica sobre esse ou só promover a alfabetização em termos
específicos? Para que o conhecimento seja usado como auxílio na construção

4
Termo utilizado por Fernando Cardona. Leia Transdisciplinaridade, Interdisciplinaridade e
Multidisciplinaridade, 2010.
social ele não deve ser somente apresentado aos visitantes, ele também precisa
ser discutido, avaliado e contestado, isso tudo de maneira ativa, não deve ser
somente aceito da maneira que é apresentado.
A partir do momento que os visitantes percebem que a ciência não é uma
verdade absoluta e que os cientistas não são os detentores exclusivos do
conhecimento especializado e/ou técnico/científico eles podem negociar
consensos entre cultura e ciência. Para que esse conhecimento científico seja
acessível a toda população ele deve ser apresentado de maneira clara e precisa.
Segundo Fourez (1995, p. 221), a finalidade da divulgação científica não é
transmitir um verdadeiro conhecimento, uma vez que ao final da transmissão a
única coisa que se sabe com certeza é que não se compreende grande coisa.
Isso confere certo verniz ao saber.
Além de proporcionar um espaço cultural gratuito para informação e lazer o
Espaço do Conhecimento também proporciona um local onde há interlocução
crítica e analítica sobre os discursos dos especialistas e o discurso leigo, sem
criar dicotomia de um conhecimento versus o outro, mostrando-o como um todo.
É um local de diálogo, onde podemos oferecer a oportunidade de aprendizado,
deixando que o público chegue às suas próprias conclusões refletindo sobre a
pluralidade das vozes, as diversas vertentes do saber. Esse também é utilizado
como porta de entrada para demandas sociais, uma vez que apresenta de uma
maneira crítica que o conhecimento científico não é de detenção exclusiva dos
cientistas, e que esse pode ser amplamente compreendido pela população. Para
Fourez (1995, p. 222)
[...] com frequência, aquilo que as pessoas necessitam para participar de
maneira significativa nos debates ou nas decisões que lhe dizem respeito não é
tanto de conhecimentos técnicos especializados. É inútil compreender a química
para compreender as vantagens e inconvenientes das aspirinas. É inútil
conhecer a resistências dos materiais para saber utilizar um martelo. Não
obstante, conhecer certas propriedades dos alimentos pode permitir que eles
sejam adquiridos de maneira mais satisfatória. [...] (cf. Waks, em Fourez, 1986).

Uma das grandes diferenças entre a mediação no Espaço do Conhecimento


UFMG e a mediação em outros conhecidos museus de ciência, é a tentativa de
não hierarquização do conhecimento, tendo como foco horizontalizar seus
diversos tipos, tanto acadêmico quanto o tradicional. No Espaço, procuramos
sempre deixar claro que o mediador não é detentor do saber, que sua função é
promover questionamentos críticos daquilo que é exposto no Museu, estimular
o “aprender a pensar” e mostrar que não existe uma verdade absoluta. Damos
ênfase ao diálogo entre mediador-visitante e a troca de experiências e saberes.
O Museu tem como base romper com as barreiras que existem entre a
universidade e o que vai além de seus muros. Sabemos que muitas pesquisas
que são desenvolvidas dentro da academia não saem dali, e também que há
muito o que dialogar com a população que vive além de suas fronteiras como:
suas crenças, culturas e histórias, pois elas dizem muito do que é a nossa
sociedade e servem, também, como fonte de estudo para a universidade.
O Espaço do Conhecimento trabalha com a mediação no sentido de aproximar
exposição e visitantes. Isso faz com que o Museu não seja um local distante do
público, pelo contrário, faz com que as pessoas se identifiquem com o que está
sendo exposto ali. A ideia, principalmente se tratando de um museu de ciências,
é que o Espaço não seja o lugar do extraordinário lotado de obras raras, animais
e plantas bizarros, inéditos e sensacionais, segundo Melo Leitão ([19--]), mas
sim, o lugar do comum, onde os visitantes se identifiquem e possam enxergar
seu cotidiano, compartilhar suas experiências de modo que elas sejam tão
importantes quanto a cultura científica e acadêmica que está exposta ali.
Um dos fatores responsáveis para que esse diálogo direto com visitante seja de
fato efetivo, é a formação de sua equipe. Composta de trinta alunos de diversos
cursos de graduação da UFMG, sem vínculo empregatício, que utilizam o
Espaço como meio de pesquisa e extensão da universidade. Vários fatores
devem ser levados em consideração ao se analisar o diferencial da equipe. O
fato de serem todos graduandos torna a relação entre mediador e visitante muito
mais próxima – seja ele aluno de escolas que fazem o agendamento e vem
conhecer o Espaço, seja o público espontâneo – uma vez que também estão em
fase de aprendizado e ainda estudam e pesquisam tudo aquilo que apresentam.
Por serem de áreas distintas, por vezes discursam sobre assuntos que pouco
conheciam antes integrar a equipe do Museu, reforçando a ideia de que o
conhecimento é acessível a todos, seja mediador ou visitante e independente da
área na qual atuam profissionalmente. Além disso, a interdisciplinaridade gera
várias visões acerca de um mesmo assunto e auxilia a troca de experiências.

Figura 1: Cursos que constituem ou já constituíram a Equipe do Educativo do Espaço do


Conhecimento UFMG.

O fato de não possuírem vínculo empregatício também é determinante, uma vez


que os mediadores estão ali para aprimorar e tornar acessível os conhecimentos
adquiridos na universidade e não tem essa função como ocupação profissional.
O mediador ganha um grau de liberdade muito maior, a equipe tem o direito de
criar, mudar e/ou sugerir alterações em sua atuação no Espaço, visando sempre
facilitar o diálogo com o visitante, não priorizando o conteúdo em si, mas sim a
interação com o público. Edgar Roquette-Pinto (diretor do Museu Nacional nas
décadas de vinte e trinta) sempre reforçou a ideia de que as exposições
deveriam deixar marcas indeléveis em cada visitante que passasse por elas.
Cada visita deve ser única, cada visitante, independentemente da sua idade
pode e deve se apropriar do que está sendo exposto, e ainda mais, pode
contribuir com a mediação que está diretamente ligada com a universidade.
Figura 2: Modelo de Jantsch - Interdiciplinaridade: Existe cooperação e diálogo entre as
disciplinas, possui ação coordenada (imagem modificada pelos autores).

Resultados
Na interdisciplinaridade, dois ou mais assuntos que abrangem disciplinas
específicas relacionam seus conteúdos para aprofundar o conhecimento.
Claramente é possível perceber que todos ganham com essa prática por vários
motivos, entre eles: a interação entre os colegas de equipe, a maneira de
repensar as práticas diárias de mediação, o contato com as diversas áreas que
abrangem um mesmo conhecimento englobando sua complexidade e pela
reflexão da proposta de intervenção criada com o intuito de ouvir e não apenas
falar com o público.
Essa forma de interação cria uma dinâmica entre o público visitante e a equipe
de trabalho gerando, com isso, resultados positivos. Para a melhoria constante
da mediação a equipe utiliza como foco para formação práticas metodológicas
que possam dinamizar o trabalho e “encantar” os visitantes ao contextualizá-los
a respeito do conteúdo sem o objetivo único de passar informações.
Considerações finais
A prática reflexiva da mediação no Espaço do Conhecimento permite a
construção de uma experiência como atividade coletiva interdisciplinar. Nesse
sentido o trabalho da universidade e do Espaço se dá por uma via de mão dupla,
pois só é possível fazê-lo, na medida em que o visitante também contribua com
esse trabalho. E é por meio dessa troca que a pesquisa pode ser levada além
da universidade através da mediação. Um trabalho que exige preparo, formação
e, principalmente, sensibilidade dos mediadores para estimular os visitantes a
interagirem com a exposição.
A construção do conhecimento se dá por meio de experiências coletivas
resultantes de temas cotidianos. O Espaço do Conhecimento se torna um local
onde a prática científica é vivenciada dia a dia, com experiência e relatos simples
que saem tanto da academia quanto do conhecimento empírico. Nesse sentido,
caminhamos para a perspectiva que nos deixa claro a ideia de que a ciência não
é o conhecimento mais próximo da verdade.
Agradecimentos
Agradecemos a tradução à Thaís Borges da Costa.
Referências bibliográficas
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Como citar esse artigo: SIQUEIRA, N. C. R., RIBEIRO, R.F. R., PASSOS, R.
L. G.; O papel da interdisciplinaridade na comunicação científica do Espaço do
Conhecimento UFMG. In: CONGRESSO REDPOP: ARTE, TECNOLOGÍA Y
CIENCIA – NUEVAS MANERAS DE CONOCER, 2015, Medellín – Colômbia.
Congresso RedPop: Arte, Tecnología y Ciencia – Libro de memorias. 2015.
p. 559-566.

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