Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Convers o de Paul Claudel
A Convers o de Paul Claudel
CLAUDEL: UM INDIFERENTE
EM NOTRE-DAME DE PARIS
As 5:21 AM
Louis Charles Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper foi um importante escritor
católico e também um diplomata, dramaturgo e poeta francês, membro da
Academia Francesa de Letras, a quem foi conferida a “Grã-Cruz da Legião
de Honra”.
Em 1886, Paul Claudel, que tinha 18 anos e até então era ateu,
converteu-se subitamente ao catolicismo, no Natal, ao ouvir o coro da
catedral de Notre-Dame de Paris Ele se emocionou ao ver que todos tinham
fé e rezavam para um Deus que até então ele não queria conhecer, e viu
que poderia contar com a ajuda do poder invisível, do amor ao Criador.
Em março de 1906, casou-se com Reine Sainte-Marie Perrin e teve filhos com ela,
em um casamento feliz.
Ainda que os meus antepassados, em ambos os ramos, tinham sido crentes, dando
à Igreja vários sacerdotes, os meus pais eram indiferentes em matéria
religiosa. E, depois de termos mudado para Paris, afastaram-se
completamente da fé. A minha primeira Comunhão, anterior à mudança,
tinha sido boa. Mas foi, como para a maior parte da juventude, a
coroação e, ao mesmo tempo, o termo da minha prática religiosa.
Aos 18 anos
Para mais, vivia sem o freio da moral e ia caindo, pouco a pouco, num estado
de desespero. A morte de meu avô, cuja agonia durou meses inteiros,
devida a um cancro no estômago, a que eu assisti, inspirara-me um pavor
terrível, e à ideia da morte não me abandonou mais. Esquecera
completamente a religião e, com respeito a ela, a minha ignorância era
tão grande como a de um selvagem.
Assim se passavam as coisas com aquele pobre rapaz que, no dia 25 de Dezembro
de 1886, entrava na catedral de Notre-Dame de Paris, para ali assistir
ao ofício divino do Natal. Começava eu então a escrever, e tive a
impressão de que poderia, com superior diletantismo, encontrar nas
cerimónias católicas, um meio adequado e matéria para alguns trabalhos.
Nesta disposição de espírito, apertado e empurrado pela multidão,
assisti à Missa cantada, com moderada alegria. Como nada mais
interessante havia a fazer, voltei de novo à tarde para assistir às
Vésperas. Os meninos do coro da catedral, de roquetes brancos, e os
alunos do Seminário de S. Nicolau du Chardonnet, que os auxiliavam,
tinham justamente começado a cantar qualquer coisa em que mais tarde
reconheci o Magnificat. Eu estava de pé no meio da multidão, junto da
segunda coluna, perto da entrada para o coro, à direita, do lado da
sacristia.
E ali se deu o acontecimento que domina toda a minha vida. Num momento, o
meu coração sentiu-se tocado, e tive fé. Tive fé com tal intensidade de
adesão, com tal exaltação de todo o meu ser, com uma convicção tão
poderosa, com tal segurança, que não ficava margem para nenhuma espécie
de dúvida. E, desde então, todos os livros, todos os raciocínios, todas
as eventualidades de uma vida agitada não conseguiram abalar a minha fé;
mais do que isso, nem sequer conseguiram tocar-lhe. Subitamente,
apoderou-se de mim o sentimento fremente da inocência, da perpétua
filiação divina: uma revelação inefável. Quando tento reproduzir, como
faço frequentemente, o decorrer dos minutos que se seguiram a este
momento excepcional, encontro sempre os seguintes elementos que,
todavia, representam um único raio, uma única arma, de que a Providência
divina se serviu para alcançar e abrir o coração de um pobre filho
desesperado : “Que felizes são, de fato, os que creem! E se fosse
verdade?
verdade!
Esta resistência durou quatro anos. Ouso afirmar que foi uma defesa heroica.
E a luta foi nobre e radical. Não omiti nada. Utilizei todos os meios
possíveis de resistência. Uma após outra, tive que depor as armas. Foi
grande a crise da minha existência, esta agonia do pensamento, da qual
Artur Rimbaud escreveu : “A luta do espírito é tão brutal como as
batalhas entre os homens. Oh! noite dura! O sangue derramado arde sobre o
meu rosto !” A juventude que tão facilmente abandona a fé, não sabe que
tormentos custa recuperá-la. A ideia do inferno, a própria ideia da
beleza, todas as alegrias que, a meu ver, teria de sacrificar para
regressar à verdade, retraiam-me de tudo. Finalmente, caiu-me nas mãos
uma Bíblia protestante que certa amiga alemã oferecera uma vez a minha
irmã Camila. Foi na noite daquele dia memorável de Notre-Dame, depois de
ter voltado para casa, ao longo das ruas molhadas pela chuva, que então
me pareciam tão estranhas. Pela primeira vez, ouvi ressoar no coração a
voz, tão suave, e ao mesmo tempo tão inflexível da Sagrada Escritura,
que jamais se viria a extinguir. Apenas através de Renan conhecia eu a
história de Jesus Cristo. E, fiando-me neste impostor, não sabia sequer
que Ele se tinha proclamado o Filho de Deus. Cada palavra, cada linha,
na sua majestosa simplicidade, revelava a mentira das afirmações
descaradas daquele apóstata e abria-me os olhos. Como o centurião
romano, reconheci verdadeiramente que Jesus é o Filho de Deus. A mim,
Paulo, se dirigiu Ele, entre todos, e prometeu-me o seu amor. Mas, ao
mesmo tempo, não me deixou outra alternativa além da condenação, se o
não seguisse. Ah!, Eu não precisava que me explicassem o que vinha a ser
o inferno; já tinha passado nele a minha “temporada”! Aquelas poucas
horas tinham chegado para me demonstrar que o inferno está em qualquer
parte em que não esteja Cristo. E que me importava já a mira o resto do
mundo, em face deste novo e maravilhoso ser que acabava de me ser
revelado?
Assim falava em mim o homem novo. Mas o velho resistia com todas as forças e
não queria entregar-se
Assim falava em mim o homem novo. Mas o velho resistia com todas as forças e
não queria entregar-se a esta nova vida que na sua frente se abria. Será
preciso confessar que o sentimento que mais me impedia de manifestar a
minha convicção era o respeito humano? A ideia de revelar a todos a
minha conversão e de dizer aos meus pais que não comeria carne às
sextas-feiras; o facto de ter de me afirmar coma um dos católicos tão
ridicularizados, causava-me suores frios. E, momentaneamente
revoltava-me até contra a violência que me tinha sido feita. Mas sentia
sobre mim uma mão firme.
O grande livro que se me abriu e no qual eu fiz os meus estudos, foi a Igreja.
Mas o grande livro que se me abriu e no qual eu fiz os meus estudos, foi a
Igreja. Louvada seja por toda a eternidade esta grande e majestosa Mãe,
em cujos joelhos tudo aprendi ! Os Domingos passava-os em Notre-Dame, e,
sempre que me era possível, ia também lá durante a semana. Era nessa
altura tão ignorante na minha religião como o poderia ser em relação ao
Budismo. E agora desenrolava-se, perante mim, o drama sagrado, com tal
magnificência, que ultrapassava toda a força da minha imaginação. Ah !
Esta já não era, certamente, a linguagem mesquinha dos “devocionários”.
Era a poesia mais profunda e gloriosa, eram as atitudes mais sublimes
que jamais tinham sido concedidas a seres humanos. Nunca me conseguia
saciar por completo com o espetáculo da Santa Missa, e cada movimento do
sacerdote gravava-se profundamente no meu espírito e no meu coração. A
leitura do ofício de Defuntos, da liturgia do Natal, o drama da Semana
Santa, o cântico celeste do “Exultet”, ao lado do qual as harmonias mais
inebriantes de Pindaro e Sófocles me pareciam incolores, tudo isto me
sufocava de alegria, gratidão, arrependimento e adoração ! Pouco a
pouco, lenta e penosamente, abriu caminho até ao meu coração o
pensamento de que a arte e poesia são também coisas divinas. E o prazer
da carne não é indispensável para elas, mas antes prejudicial. Como eu
invejava os cristãos felizes que via comungar ! Só me atrevia, porém, a
misturar-me com aqueles que, em todas as sextas-feiras da Quaresma,
vinham beijar reverentemente a coroa de espinhos.
“Fala de Cristo apenas quando te perguntarem! Mas vive de tal maneira que
te perguntem”.
“As crianças não devem receber a religião; têm que pegá-la do meio
ambiente, como se pega o sarampo.”
“O dever está sempre acima de tudo.”
“O sinal de que não amamos alguém é que não lhe damos todo o melhor que
existe em nós.”
Giulia d’Amore
Fontes de pesquisa:
http://studentiroma.blog.arautos.org/2011/07/a-conversao-de-paul-claudel-
narrada-por-ele-mesmo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Claudel
http://historiasnovaseternas.blogspot.com.br/2012/10/a-luz-de-claudel-
continua-brilhar.html
http://www.infopedia.pt/$paul-claudel
http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp?id=127&cat=1
Convertidos do Século XX, Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1960.
Homens que regressam à Igreja, de Severin Lamping, OFM (Livraria Cruz,
Braga, 1948, pp. 251-260.