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Cantores Líricos: Vozes da Experiência com a Ansiedade de Performance

Marlene Ferreira1, Zélia Teixeira2,3


1 Universidade Fernando Pessoa 27934@ufp.edu.pt
2Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa, Portugal. zelia@ufp.edu.pt;
3Hospital Escola da Universidade Fernando Pessoa; zeliamacedoteixeira@gmail.com

Resumo. O presente artigo descreve e analisa os resultados parciais de um estudo qualitativo alargado que
pretendeu verificar de que forma a ansiedade de performance está presente no quotidiano do cantor lírico,
e quais as estratégias utilizadas no seu enfrentamento por parte deste grupo de profissionais. Os resultados
aqui expostos são centrados na produção dos discursos referentes a duas questões sobre a experiência da
ansiedade de performance musical, e nas eventuais estratégias usadas para a ultrapassar. Resultam da
administração de um questionário socioprofissional e de uma entrevista semiestruturada a um grupo de 8
cantores líricos com mais de 6 anos de prática, selecionados pelo método bola de neve. O procedimento para
aceder aos significados emergentes dos seus discursos foi a Grounded Theory, seguindo as rotinas de seleção
de unidades de análise, criação de memorandos, e categorização em dois níveis (descritivo e conceptual). Os
resultados manifestam um convívio constante com a ansiedade, o reconhecimento do seu impacto lesivo da
performance, mas também a existência de estratégias para o controle da ansiedade.
Palavras-chave: Cantores líricos; Ansiedade de Performance Musical; Teoria sustentada nos dados.

Lyric Singers: Voices of musical performance anxiety experiences’


Abstract. The present article describes and analysis the partial results of a broad qualitative study, whose goal
was to explore the subjective experience of being a lyric singer, in several dimensions. The results presented
here are centered in the production of discourse from two questions covering the experience of anxiety on
musical performance, and the eventual strategies applied to overcome it. These results are product of
administering a social-professional questionnaire and a semi-structured interview to a group of 8 lyric singers
with over 6 years of experience, sampled through the snowball method. Grounded Theory was the procedure
chosen to access the emerging constructs in the participants’ discourses, following the routines of analysis
unit selection, memorandum generation and categorization on two levels (descriptive and conceptual). The
collected results convey a constant presence of anxiety, the recognition of its damaging impact on
performance, but also the existence of strategies geared towards managing this anxiety
Keywords: Lyric Singers; Musical performance anxiety; Grounded Theory.

1 Introdução

A Ansiedade de Performance (AP) refere-se a um grupo de desordens (a nível fisiológico,


comportamental e cognitivo), que podem fazer-se sentir em vários domínios, desde a realização de
exames, ao falar em público, ou ao desempenho desportivo (Kenny; 2006; Sloboda, 2008). Dentro de
um desses domínios – o artístico – escolhemos o caso particular da AP associada ao canto lírico pois a
carreira destes profissionais é repleta de audições, testes, provas, exames, concertos e recitais que
implicam direta e indiretamente a avaliação e exposição ao público, para além do elevado rigor técnico
e artístico de que se revestem de forma a cativar o público (Mendanha, 2014). O medo de falhar em
qualquer aspeto da funcionalidade individual é o principal fator da AP, caracterizando assim a sua
existência em vários contextos, e no caso do canto, para além dos fatores internos, destacam-se a

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imprevisibilidade e incerteza do emprego, os horários desregulados de trabalho, a instabilidade


financeira e até mesmo as alterações pessoais e sociais. O cantor lírico dispõe apenas de um tempo
curto para demonstrar as suas horas de ensaio e o seu esforço contínuo (Fehm & Schmidt, 2006). A AP
não respeita idades, competências ou experiência técnica e está presente em cantores amadores e
profissionais, que cantam a solo ou em grupo (Kenny, 2005; 2011). Frequentemente confundida com
as noções de medo de enfrentar o palco (Wilson & Roland, 2002) ou entrando na classificação mais
abrangente de fobia social (Osborn & Franklim, 2010; Kenny, 2011) representa para cada cantor lírico
um desafio (Spahn et al, 2010), e tem sido alvo de aproximação da Psicologia da Música (Kenny, 2011).
Com este enquadramento foi nosso objetivo dar voz a um grupo de cantores líricos no sentido de
aprofundar o significado que atribuem ao surgimento da AP, e a forma como lidam com esta eventual
ameaça, antes, durante e após as suas apresentações públicas.

2 Metodologia

O método qualitativo tem como principal objetivo aprofundar a complexidade de fenómenos, factos
e processos, permitindo desconstruir todos os microprocessos sociais e impulsionando assim a sua
investigação, (Victora, Knauth & Hassen, 2000; Fernandes da Silva, 2010). Ainda assim, não se foca
apenas no que é observável, mas também na atribuição de significados ao comportamento, já que o
estudo da experiência humana deve ter em conta que o sujeito interage, interpreta e constrói sentidos
(Fernandes da Silva, 2010; Guerra, 2014). Por outro lado, permite que o investigador tenha a liberdade
de interpretar os fenómenos, segundo a perspetiva dos sujeitos em estudo, descurando da
representatividade numérica e das relações lineares estatísticas (Guerra, 2014). Salienta-se o papel do
investigador interagindo diretamente com o objeto de estudo e investindo de modo ativo na recolha
de dados e no seu registo. Por outro lado, a investigação tende a ser mais descritiva, indutiva e
interpretativa, (Fernandes da Silva, 2010; Guerra, 2014). Dentro do grupo global das metodologias
qualitativas destacamos a Grounded Theory ou Teoria Fundamentada nos dados, que gradualmente
viu generalizadas o seu método gobal de análise e várias das suas estratégias chaves, particularmente
a codificação e o registo de memorandos, que se tornaram parte do léxico mais amplo de investigação
qualitativa (Charmaz, 2011). A presente investigação comporta as características anteriormente
apresentadas procedendo à recolha, registo, transcrição, organização, interpretação e construção
hierarquizada da informação recolhida, acedendo assim, à complexidade e diversidade desta
realidade, tendo em conta os significados atribuídos pelos participantes. Os resultados retratados no
presente artigo incidem apenas em duas das oito questões que formavam a entrevista total, e que nos
permitem responder ao objetivo anteriormente descrito.

2.1 Amostra (participantes)

A amostra da presente investigação é constituída por 8 cantores líricos profissionais, 6 do sexo


feminino e 2 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 25 e os 49 anos. A maioria dos
participantes possuem mestrado na área do canto e todos têm outra ocupação para além do canto
lírico, ligada ao ensino desta mesma arte. Quanto aos naipes de vozes, a nossa amostra é composta
por 5 sopranos, 1 contralto, 1 tenor e 1 barítono, com prática profissional entre os 5 e os 28 anos.
Trata-se de uma amostra intencional, não probabilística, selecionada pelo método de bola de neve.

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2.2 Instrumentos

A recolha de dados decorreu em contexto online, respeitando todos os procedimento éticos


subjacentes à prática da investigação validados pela Comissão de Ética da Universidade Fernando
Pessoa. Procedeu-se à elaboração de dois instrumentos que incidiram, na caracterização
sociodemográfica e socioprofissional dos sujeitos, na exploração dos significados associados à da AP,
assim como das formas de lidar deste grupo de profissionais para fazer face a esta problemática.

2.2.1 Questionário de Caracterização Pessoal (socioprofissional)

Através deste questionário, realizado via online, recolheu-se informação relativa à idade, estado civil,
habilitações literárias, número de anos de experiência, naipe de voz a que pertencia e ocupações extra
para além do canto lírico, dos participantes.

2.2.2. Entrevista Online Semiestruturada (Guião)

O guião para a recolha de dados mais alargados era constituído por 8 questões que versavam o
percurso como cantores líricos (como e quando começou, motivações…), a caracterização das suas
rotinas, o impacto de ser cantor lírico nas outras áreas de vida, rotinas de preparação para recitais,
condições que consideravam necessárias para um jovem cantor se desenvolver. Foi ainda alvo de
atenção a experiência da ansiedade associada à performance do canto lírico, e as estratégias eventuais
para lidar com essa possível condição. O presente artigo centra-se apenas na análise desta dimensão
relacionada com a ansiedade que assumiu a forma de duas questões:
1. Sabemos que a voz é a sua principal ferramenta de trabalho. Na sua opinião, de que maneira é que
a ansiedade está presente na prática do canto lírico (ensaios, espetáculos, reportórios novos…)?
2. No seu caso, como lida com a ansiedade que pode estar presente no seu quotidiano (estratégias,
pensamentos, ajudas de profissionais, uso de fármacos…)?

2.3 Procedimentos

Tal como acima referido, a recolha de dados foi realizada online. O contacto com o primeiro participante
foi efetuado por e-mail, e posteriormente usou-se a aplicação Messenger que permite o registo
automático do texto escrito. Desta forma garante-se uma maior rapidez na posterior transcrição da
informação, sem erros de compreensão ou mal-entendidos. Foram assegurados todos os princípios
éticos de confidencialidade, participação voluntária e direito à desistência sem quaisquer custos ou
repercussões. No final da entrevista, era questionada a possibilidade de o participante sugerir um ou
mais colegas ligados à mesma arte, respeitando desta forma os procedimentos da amostragem do tipo
bola de neve, adotados na presente investigação. Finda a recolha de dados via online, todas as
entrevistas foram transcritas e o histórico de mensagens da aplicação utilizada apagado. Para a análise
da informação recolhida, optamos como já referimos pela Teoria Fundamentada nos Dados ou
Grounded Theory. Os discursos transcritos a partir do Messenger foram analisados num primeiro
momento tendo em conta a informação que foi entendida como relevante pelas duas
investigadoras/autoras. Daqui decorreu a seleção de unidades de análise no formato de frases. A
categorização destas unidades discursivas foi feita após o levantamento de relação de associação entre
elas, recorrendo a memorandos e à constante reflexão das duas investigadoras/autoras (Charmaz,
2011), dando origem às categorias de 2ª ordem, claramente descritivas. Estas foram sujeitas a nova
apreciação de carácter mais abstrato, e pela sua agregação ou exclusão, originaram categorias
conceptuais mais abstratas que aqui denominamos de 1ª ordem ou centrais. Sustentados neste

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processo de integração hierárquica construímos o discurso do grupo quanto à AP e às estratégias


adotadas por cantores líricos para o seu enfrentamento.

3 Resultados

A análise e discussão dos resultados será realizada separadamente para as duas questões. A tabela 1
sintetiza o processo de agregação das unidades discursivas em categorias de 2ª ordem, e posterior
construção das de 1ª ordem, que asseguram a estrutura conceptual das respostas à questão “Sabemos
que a voz é a sua principal ferramenta de trabalho. Na sua opinião, de que maneira é que a ansiedade
está presente na prática do canto lírico (ensaios, espetáculos, reportórios novos…)?”
A resposta global que surge enquanto construção do discurso do grupo de participantes, poderia ser a
seguinte: “A ansiedade está presente em quase todos os cantores líricos e esta presença é constante,
uma vez que está associada ao medo do insucesso, nos vários momentos do processo, desde a seleção
para um papel nas audições, passando pelos ensaios e nos concertos. Surge particularmente em
situações de fragilidade que pode ser emocional, física ou técnica, e o seu efeito limitativo sente-se
principalmente a nível vocal e na concentração. Às vezes esta ansiedade pode ser positiva ou então
nem estar presente, mas aprende-se a lidar com ela com o tempo e com a preparação”.

Tabela 1. Unidades de análise e categorias de 1ª e 2ª ordem obtidas na questão “Sabemos que a voz é a sua principal
ferramenta de trabalho. Na sua opinião, de que maneira é que a ansiedade está presente na prática do canto lírico (ensaios,
espetáculos, reportórios novos…)?”
Unidades de análise Categorias de 2ª Categorias de 1ª
ordem ordem
“Presente ela está quase em todos” – suj. 2 Está em quase todos
“Pode estar muito presente nalgumas fases”- suj. 6 Muito ou sempre A ansiedade está
“Acho que está muito presente” – suj. 4 presente presente em quase todos
“Está sempre” – suj. 3 e é constante
“Está sempre presente” – suj. 7
“Está sempre presente” – suj. 8
“Está em tudo o que põe em causa a responsabilidade” – suj. 1 Está associada à
“Está em tudo o que põe em causa a nossa performance” – suj. 1 perceção de ameaça Está associada
“Espero sempre que as coisas corram como previsto” – suj. 3 ao medo do insucesso
“Queremos sempre fazer de forma espetacular” – suj. 4 Está ligada ao
“(Queremos sempre) impressionar toda a gente” – suj. 4 perfeccionismo
“Sou também perfecionista” – suj. 3
“Acreditamos que esse trabalho é que poderá abrir portas para
outro ainda melhor” – suj.
“Está nas audições” – suj 1 Nas audições
“As audições, então, são horríveis” – suj. 4
“(As audições) são angustiantes” – suj. 4
“(Está) no primeiro ensaio com um maestro” – suj. 1 Nos ensaios Está presente em todas
“Antes de ensaiar, há ansiedade de estar bem preparada” – suj. 8 as fases do processo
(“Antes de um ensaio, existe ansiedade) de conhecer os parceiros (desde a seleção à
de trabalho que mudam constantemente” – suj. 8 apresentação final)
“Está nos concertos” – suj. 1 Nos concertos
“(Antes das apresentações) quando sinto que não estou bem de
saúde” – suj. 8
“(Antes das apresentações)

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Tabela 1. (Cont.) Unidades de análise e categorias de 1ª e 2ª ordem obtidas na questão “Sabemos que a voz é a sua
principal ferramenta de trabalho. Na sua opinião, de que maneira é que a ansiedade está presente na prática do canto
lírico (ensaios, espetáculos, reportórios novos…)?”
Unidades de análise Categorias de 2ª Categorias de 1ª ordem
ordem
“Só sinto nervos quando tenho de enfrentar o público sozinha” – s.2 Em situações de
“Só sinto nervos em situação de recital a solo” – suj. 2 fragilidade emocional
“(Quando) estamos numa fase emocionalmente debilitada” – suj. 6
“A saúde vocal também pode trazer alguma ansiedade” – suj. 8 Em situações de
“(A ansiedade para) não ficar doente é terrível” – suj. 8 fragilidade de saúde
“Quando sinto que não estou bem de saúde” – suj. 8 fisica
“(Quando) estamos numa fase (..) fisicamente debilitada” – suj. 6
“(Quando estamos a viver uma fase de insegurança) por questões Surge em múltiplas
(…) de saúde – suj. 6 situações de fragilidade
“(Quando) a obra tem passagens que nos põem “em sentido” – s. 6
“Quando não me preparei como devia” – suj. 8
“(Quando) estamos a viver uma fase de insegurança por questões Em situações de
técnicas”– suj. 6“Também está ligada a uma insuficiente preparação fragilidade/insegurança
antes dos ensaios e espetáculos” – suj. 4 técnica
“(A ansiedade pode ter um impacto) negativo” – suj. 2
“A ansiedade pode afectar de forma muito negativa a prática do Efeito negativo (sem Impacto negativo sem
canto lírico especificação) detalhe
“Sofrer de ansiedade só vai piorar a minha performance” – suj.
“Percebi que isso só me prejudicava” – suj. 3
“Precisamos do oposto para produzir tons bonitos e saudáveis” – Tem efeitos negativos
s.5 na voz É um limite vocal, físico e
“(A ansiedade) tira-nos a voz” – suj. 7 cognitivo
“(Negativamente) porque cria tensão muscular” – suj. 5 Tem efeitos negativos
“(A ansiedade) tira-nos o sono” – suj. 7 porque limita o corpo
“(A ansiedade) tira-nos a força” – suj. 7
“Faz com que o nosso foco deixe de estar na música” – suj. 7 Negativo por interferir
“(Faz com que o foco) passe a estar nos nossos medos” – suj. 7 na concentração
Dependendo como o cantor lida com ela” – suj. 2
“Há momentos que não estamos tão bem e temos de saber lidar É uma situação com
com isso” – suj. 3 que se aprende a lidar
“Quanto mais cedo soubermos lidar com ela melhor” – suj. 7 Lidar com a ansiedade é
“Ainda estou a aprender a lidar com o stress e ansiedade” – suj. 3 um processo de
“Com o meu amadurecimento a nível pessoal e vocal sinto que os aprendizagem contínuo
níveis de ansiedade baixaram bastante” – suj. 4 Diminui com a
“Quanto mais segura estou do meu trabalho (a preparação em preparação e com a
casa), menos ansiosa" – suj. 4 maturidade
“A ansiedade pode ter um impacto positivo” – suj. 2 Pode ser positiva sem Pode ser positiva sem
“Aprendi a usar a ansiedade de forma positiva no canto” – suj. 2 especificação especificação
“Ensaios não me deixam nervosa de todo” – suj. 2
“Nem coro, nem novo reportório (me deixam nervosa) – suj. 2 Não fica nervosa/o
“Nos ensaios por norma não sinto tanto” – suj. 3
“Antes das apresentações menos (ansiedade)” – suj. 8 Não fica tão nervosa/o A ansiedade nem sempre
“Gosto mais de cantar em ópera” – suj. 2 está presente
“Posso esconder atrás de uma personagem” – suj. 2

Passando para uma análise mais pormenorizada das categorias hierárquicas de 1ª e 2ª ordem que
sustentaram o discurso do grupo construído para a questão 1 (tabela 1), encontramos a ansiedade
homogeneamente considerada como uma presença habitual na prática do canto lírico, mesmo antes
dos eventos (Spahn, Walther & Nusseck, 2016). As duas categorias de 2ª ordem “perceção de ameaça”
e “ligação ao perfecionismo” (Kenny, 2005, 2011) espelham mecanismos cognitivos subjacentes à
génese da ansiedade que se congregam na categoria central “medo do insucesso”, condição que

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Wilson e Roland (2002) nomeiam como preocupação com o fracasso, salientando a este propósito a
dimensão do perfecionismo patente de forma explícita na resposta da participante 3 (tabela 1). A
constância da ansiedade acima referida é assinalada nos vários momentos que compõem a
performance lírica (audições, ensaios e concertos) três categorias de 2ª ordem que se conjugam para
construir a vivência de todas as fases do processo, tal como referem Ray (2009) e Spahn e
colaboradores (2016) quando se debruçam sobre a experiência ansiosa da performance artística em
cada um destes momentos. Para esta presença contribuem, de acordo com os discursos analisados,
múltiplas situações de fragilidade (categoria central) que podem ser de cariz emocional, técnico e
especificamente físico (Kenny, 2011; Ray, 2009) neste caso categorias de segunda ordem. Não
estranhamos, pois, que a ansiedade seja vista como negativa e como um limite vocal, físico e cognitivo,
categoria central sustentada na perceção dos efeitos na voz, no corpo e na concentração (categorias
de 2ª ordem) tal como referem Fehm e Schmidt (2006). Mas se os efeitos negativos da ansiedade
transparecem em vários extratos dos discursos recolhidos também surge a consciência de que lidar
com ela é um processo de aprendizagem que precisa de tempo, e de preparação (categoria de 1ª
ordem), preparação esta que na opinião de Cardassi (2000) deve ser organizacional, física e psicológica,
e que associada ao tempo poderá justificar o surgimento das últimas duas categorias de 1ª ordem em
que a ansiedade até pode ser positiva ou inexistente

Quanto à questão 2: No seu caso, como lida com a ansiedade que pode estar presente no seu
quotidiano (estratégias, pensamentos, ajudas de profissionais, uso de fármacos…)? idêntica análise foi
aplicada. A resposta de grupo que construímos como possível foi a seguinte: “Preparam-se… vocal e
fisicamente, e aplicam algumas técnicas de controle centradas nos sinais de ansiedade, mas também
recorrem a estratégias indirectas, descentrando-se da ansiedade e valorizando a performance. A
prevenção é uma possibilidade bem como recorrer à ajuda de outras pessoas, profissionais ou não”. O
processo da categorização hierárquica foi idêntico ao da questão 1, (Tab. 2).

Tabela 2. Unidades de análise e categorias de 1ª e 2ª ordem obtidas na questão: No seu caso, como lida com a ansiedade
que pode estar presente no seu quotidiano (estratégias, pensamentos, ajudas de profissionais, uso de fármacos…)?
Unidades de análise Categorias de 2ª Categorias de 1ª
ordem ordem
“Preparar-me bem” – suj. 1
“Ter a certeza de que estou bem preparada” – suj. 1 Prepara-se sem Prepara-se sem
“A melhor estratégia é a preparação” – suj. 4 especificação especificaçã0
“A certeza de que nos preparamos bem é o melhor elixir” – suj. 4
“(Temos de) ter técnica vocal para que não nos tire a voz” – suj. 7
“Com a melhor preparação vocal e musical” – suj. 7
“Fazer um bom aquecimento” – suj. 1 Preparação vocal Preparação vocal e
“Faço aquecimento vocal” – suj. 2 fisica
“Faço um trabalho o mais rigoroso possível nos ensaios” – suj. 5
“Faço sempre um aquecimento físico antes de cantar” – suj.4 Preparação fisica
“(Tento) fazer alongamentos” – suj. 2
“Tenho de respirar fundo” – suj. 1; suj 3 Controle da respiração
“Tento sempre baixar a respiração” – suj. 2
“Tento esquecer que estão ali pessoas” – suj. 2 Esquecimento/abstracção
“(Tento) esquecer o facto de estar a ser avaliada” – suj. 5 da situação
“(Tento fazer) um pouco de meditação” – suj. 2
“Temos de saber o motivo dessa ansiedade” – suj. 7
“Reunir o máximo possível de informações sobre o motivo dessa Compreensão da Estratégias de controle
ansiedade” – suj. 7 ansiedade da ansiedade
“Normalmente é a insegurança” – suj.7
“Ter paciência” – suj. 7
“Percebi que ficar nervosa só atrapalha” – suj. 3

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“Resolvi mentalizar-me do contrário” – suj. 3

Tabela 2. (Cont). Unidades de análise e categorias de 1ª e 2ª ordem obtidas na questão: No seu caso, como lida com a
ansiedade que pode estar presente no seu quotidiano (estratégias, pensamentos, ajudas de profissionais, uso de fármacos…)?
Unidades de análise Categorias de 2ª Categorias de 1ª
ordem ordem
“Concentrar-me” – suj. 1 Focalização e
“(Tento) concentrar me na música” – suj. 2 concentração
“(Tento concentrar-me) nas palavras que estou a dizer” – suj. 2
“Foco-me o mais possível na música e na interpretação” – suj, 5
“O modo de lidar, hoje em dia, é o de pensar o mais possível no lado
positivo do todo” – suj. 6
“Não me focar demais no que não está tão dominado” – suj. 6
“Procuro utilizar (…) o método do Lee Strassberg (que procura Procura de significado
emoções nas nossas experiências pessoais)” – suj. 2 emocional Estratégias de
“Procuro sempre uma "personagem"”- suj. 2 desvalorização da
“(Tento) pensar no sentido das palavras antes de entrar” – suj. 2 ansiedade valorizando
“A melhor maneira de viver o dia de récita é vivê-lo com o bio-ritmo a performance
o mais próximo possível do habitual” – suj. 6 “Normalização” da
“Acho que comecei a aprender a ver o "ser cantora" como uma experiência
profissão” – suj. 8
“Muito importante é não dar mais importância ao meu trabalho de
que aquela que realmente tem” – suj. 4
“Agir em conformidade com o que está ao nosso alcance” – suj. 7
“Valorizar o lado do prazer do que fazemos” – suj. 1
“Se cantar é um prazer então não preciso de ficar ansiosa” – suj. 3 Valorização do prazer
“(Preciso) de desfrutar dos momentos que tenho oportunidade de o obtido a cantar
fazer” – suj. 3
“Digo para mim mesma "Vai fazer o que tanto gostas e aproveita
porque passa a correr!"” – suj. 3
“Quanto mais tempo estou em palco, mais confiança vou ganhando” Cantar tem efeito
– suj. 2 tranquilizante
“Assim que começo a cantar, por alguma razão eles (nervos)
desaparecem” – suj. 3
“Recorri a uma gestora de stress” – suj. 3 Considerar ajuda
“Já pensei em recorrer a um psicólogo ou coach” – suj. 4 profissional
“Falei sempre dos meus sentimentos com outros artistas” – suj. 4 Recorrer a ajuda de
“Procurei encontrar com eles estratégias para superar esta situação” Recorrer a colegas outrem
– suj. 7
“Em situações em que esteja a ser avaliada, procuro levar árias nas Prevenção Prevenção
quais me sinta muito segura e confiante” – suj. 7

Passando da perspetiva global (discurso do grupo para esta questão) para a análise particular do
processo de construção de significado, o conceito de preparação revela-se logo num primeiro
momento, denotando a sua centralidade (Mendanha 2014), mas sem precisão, para logo de seguida
encontrarmos exemplos mais detalhados dessa mesma preparação que constituem a segunda
categoria de 1ª ordem: preparação vocal e física. Vários autores (Greene, 2002; Ray, 2009; Kenny,
2011) sublinham a importância da preparação física, e a este respeito, Cardassi (2000) sugere a prática
de desporto e de exercícios aeróbicos, e refere concretamente os alongamentos que surgem
explicitamente no discurso do participante 2. As estratégias de controle de ansiedade, constituem a
terceira categoria de 1ª ordem, e sustentam-se em práticas como as do controle da respiração,
abstração da situação e compreensão da própria experiência ansiosa – categorias de 2ª ordem. No
presente caso sobressai o controle respiratório, e não encontramos qualquer referência ao uso de
técnicas de relaxamento por parte dos elementos da amostra, sugestões comuns na bibliografia sobre
o controle da AP (Cardassi, 2000; Greene 2002; Kenny, 2005).

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A quarta unidade central, que denominamos como “estratégias de desvalorização da ansiedade,


valorizando a performance” congregou 5 categorias de 2ª ordem, que em nossa opinião assumem
algum distanciamento da experiência ansiosa recorrendo a alternativas de maior abstração:
concentração/focalização; procura de significado emocional; normalização da experiência ansiosa
(esvaziando-a de significado e banalizando-a) valorização do prazer a cantar; efeito tranquilizante do
canto. Estas dimensões de confronto com a ansiedade mais elaboradas (Brontons, 1994; Cardassi,
2000; Osborn & Franklim, 2010; Wilson & Roland, 2002) têm uma componente cognitiva e emocional
que os advogados do ramo da Psicologia da Música defendem merecer aprofundamento (Kenny,
2011). Finalmente recorrer aos outros para obter ajuda para lidar com a AP (categoria de 1ª ordem),
nomeadamente a colegas é referido, mas sem grande peso (pelo número de sujeitos e de referências),
e apenas encontramos uma unidade discursiva que pudemos associar à prevenção.
Apresentadas que estão as linhas da estrutura conceptual que surgiu da análise das respostas às duas
perguntas selecionadas é compreensível, que o músico, neste caso o cantor lírico, construa a presença
dos outros como fontes de eventuais críticas (Kenny, 2011). Acresce-se o perfeccionismo e a
necessidade de ter sucesso (Kenny, 2006, 2011; Kenny, Davis, & Oates, 2004; Wilson & Roland, 2002),
tornando o momento de performance uma possível ameaça, e consequentemente a resposta ansiosa
surge como competência de auto-proteção. Desta forma, a AP musical é uma resposta provável de luta
ou fuga, com um registo de excitação fisiológica que pode atingir o pânico (Wilson & Roland; Kenny,
2006, 2011). Ray (2005) elencou um conjunto de elementos que se conjugam na AP e que envolvem
aspetos técnicos (conhecimento do conteúdo, musicalidade, expressividade) anatomofisiológicos,
psicológicos e neurológicos) o que nos permite refletir sobre as estratégias para lidar com a vivência
ansiosa deste grupo de cantores líricos. Dos seus discursos não emergem técnicas comuns como o
relaxamento, a definição de objetivos, o uso de diálogos internos positivos intencionais, o treino em
imaginação, bloqueio de expectativas externas (Ray, 2005; Kenny, 2005), mas em contrapartida
encontramos busca de prazer na performance, referência à necessidade de boas condições físicas, com
destaque para os alongamentos, detetar dificuldades técnicas mal solucionadas, estabelecer
comunicação entre colegas, projeção emocional na actuação, focalização e concentração, controle
respiratório (Ray, 2005, 2009; Wilson & Roland, 2005; Kenny, 2006). Reconhecemos que a análise
destes resultados deverá ser contextualizada com as respostas do estudo alargado original, o que se
configura como um limite a esta investigação, ampliando o acesso aos significados de uma forma mais
coerente e integrada.

4 Conclusões

Dar voz a cantores líricos sobre a AP musical via online apresentou-se como uma escolha com
rentabilidade e eficácia no registo dos discursos, constituiu um fator facilitador do acesso aos
participantes na medida em que a sua disponibilidade não dependia de um encontro em espaço
coincidente com o das investigadoras/autoras, e revelou-se uma ferramenta importante na gestão do
tempo dos participantes facilitando um contacto que por vezes ultrapassou rotinas comuns neste tipo
de trabalho (como por exemplo disponibilizarem-se para a entrevista ao fim de semana, ou depois das
22h. Face à inexistência do contacto personalizado, proporcionou aos sujeitos uma partilha mais fácil
das suas experiências, vivências e narrativas (Joinson, Reips, Buchanan, & Schofield, 2010). No entanto,
encontramos apenas uma referência à utilização da Grounded Theory (Kenny, 2011) em estudos sobre
a AP e o canto, embora nos tenhamos deparado com uma obra que exemplifica cinco técnicas de
análise qualitativa, entre as quais a Grounded Theory, aplicada à narrativa de uma jovem cantora lírica
confrontada com uma doença grave (Charmaz, 2011), pelo que este estudo pode funcionar como

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ponto de partida para reflexões mais elaboradas e profundas sobre a temática, principalmente se
integrarmos a informação obtida a partir destas duas questões com as restantes permitirão consolidar
a teoria emergente deste processo que foi dar voz a oito cantores líricos acerca da ansiedade na sua
prática profissional. A ansiedade surge como uma entidade conhecida, recorrente, com fatores
variados na sua génese e expressões multifacetadas quando transparece nos temas que emergiram,
dando nota de uma experiência com expressão fisiológica, psicológica e até relacional, mas
essencialmente pautada pela subjetividade. Sendo uma experiência predominantemente negativa
também induziu a descoberta de estratégias usadas pelo grupo de participantes para que pudessem
lidar com ela e integrá-la nas suas performances. Assim como a prática do canto lírico sobrepõe arte e
técnica, também agrega corpo e identidade (Kenny, 2011), pois, tal como refere Charmaz (2011,
p.177), “Voice is a metaphor for self. Voice unifies body and self. Voice conveys self and expresses its
passions”, adequando-se singularmente a uma aproximação qualitativa. Nas vozes registadas online
divisa-se uma relação entre performance e ansiedade que o tempo e a preparação vão equilibrando,
mas onde a ameaça que o insucesso pode constituir não deixa de estar presente, embora contida na
pele de um personagem, ou limitada pelas estratégias que foram implementando, interessantemente
sem recorrerem a ajuda profissional na maior parte dos casos, e sem usarem fármacos, várias vezes
referidos pela bibliografia (eg. Kenny, 2011).
Com o presente estudo confirmamos que, mesmo recorrendo a uma comunicação em tempo real, mas
via online, pudemos “ouvir” o peso que a AT tem na forma como vivem a sua profissão e a sua arte e
acedemos a uma partilha de significados privada e personalizada, plena de significados que não se
vislumbra nas performances exuberantes, perfeccionistas, sentidas e apaixonadas dos cantores líricos,
em que temos de partilhar as suas vozes com o resto do mundo.
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