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Pedagogia

Pedagogia
Mais do que qualquer outra época, o mundo atual formula sucessivos e constantes
apelos à pedagogia, já que as rápidas transformações por que passa afetam de
modo direto e imediato a educação. Por isso, amplia-se cada vez mais o campo de
pesquisa pedagógica e multiplicam-se as especializações nesse domínio.
Pedagogia é a ciência da educação e tem como objetivo a reflexão, a crítica, a
ordenação e a sistematização do processo educativo. Para a compreensão e
elucidação do fenômeno educativo, a pedagogia, por sua amplitude e envolvimento,
socorre-se de inúmeras disciplinas, que podem ser reunidas em três grandes
grupos: (1) disciplinas filosóficas: filosofia educacional, política educacional e
história da pedagogia; (2) disciplinas científicas: psicologia educacional, sociologia
educacional, biologia educacional, estatística educacional, história da educação e
educação comparada; e (3) disciplinas técnicas: didática, administração escolar,
orientação educativa e higiene escolar.
Os processos educativos podem ser abordados de três pontos de vista básicos. A
perspectiva teleológica trata dos fins e objetivos educativos; a ontológica estuda o
ser da educação, ou seja, procura determinar o que ela é, sobre quem atua e quem
a realiza; a mesológica aborda o problema dos meios e das formas mais adequadas
para a realização da obra educativa.
A pedagogia apresenta três funções básicas: a de ciência descritiva, empenhada
em descrever e compreender o fenômeno educativo, proporcionando assim ao
educador ampla e profunda visão de todo seu mecanismo; a de ciência normativa,
que dispõe sobre as diretrizes e os princípios necessários ao "fazer" educativo; e a
de ciência tecnológica, voltada para o desenvolvimento do instrumental
indispensável à consecução do trabalho educativo.
Os métodos empregados pela pedagogia distinguem-se daqueles usados pela
educação. Sendo a educação um fazer, seus métodos são próprios da ação. Os
métodos da pedagogia são os da teoria, ou seja, os métodos gerais das ciências, e
os particulares, das ciências humanas, adaptados ou modificados de acordo com
suas peculiaridades. Destacam-se entre eles os seguintes: (1) observação, que
inclui percepção, descrição e registro do fenômeno; (2) experimentação, ou
observação provocada, que segue os passos do método anterior, enriquecido pela
faculdade de se repetir o fenômeno nas mesmas condições ou introduzindo as
modificações desejáveis; (3) análise e síntese, ou decomposição de um todo,
objetivando o conhecimento do todo por suas partes; (4) método comparativo, que
consiste na comparação de fatos visando a conclusões definidas, como, por
exemplo, para conhecer as diferenças entre a aprendizagem da criança e do adulto;
(5) compreensão, ou apreensão do sentido de complexos espirituais, na forma de
um conhecimento objetivamente válido; poderia ser aplicado, por exemplo, na
interpretação da atividade lúdica da criança; (6) método genético, ou estudo dos
fenômenos educativos em seu desenvolvimento nas diferentes épocas; (7) método
estatístico, ou análise, com base em muitos dados, de um problema determinado;
(8) testes, ou estudo objetivo e impessoal de respostas a estímulos previamente
determinados.
Histórico. No Ocidente, a pedagogia atravessou diferentes fases, uma vez que

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Pedagogia

suas doutrinas sofrem a influência da realidade social, econômica e política da


época em que surgiram. Em seus primórdios, na etapa do empirismo pedagógico,
consistia num complexo de tradições educativas oriundas da observação e da
experiência de alguns mestres. Na Grécia antiga, o essencial da educação consistia
na "modelagem" dos indivíduos pelas normas da comunidade, segundo um
humanismo que valorizava uma imagem ideal do homem e não o "eu" subjetivo. A
partir do período clássico, surgiram questionamentos -- presentes nos trabalhos de
Platão e Aristóteles -- sobre temas que perdurariam: relações entre o indivíduo e o
estado, escola pública e privada, formação de líderes e outros. A educação
culminava na vida contemplativa, indicada para os melhores dentre os cidadãos.
Com a expansão do cristianismo, na Idade Média, enfatizou-se o estudo da
teologia, e a educação passou a visar à formação do cristão perfeito.
No Renascimento, as transformações sociais e econômicas da sociedade exigiram
um novo ideal pedagógico: o estudo do homem e da natureza apresentava
problemas cujas soluções se buscavam na literatura da antiguidade clássica pelos
humanistas. A criança era tratada como adulto em miniatura. Com a decadência da
cultura renascentista e a revolução comercial, instaurou-se a tendência para uma
educação mais prática. Novos princípios pedagógicos defenderam a idéia segundo
a qual o ensino deveria acompanhar o desenvolvimento natural da criança e
adaptar-se a seus interesses. No início do século XVIII, Jean-Jacques Rousseau
revolucionou a pedagogia ao valorizar a criança e sua personalidade e ao atribuir ao
mestre a função de acompanhar o desenvolvimento natural do discípulo. No final
desse século e início do seguinte, o pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi pôs
em prática o método de Rousseau e influenciou, também, o trabalho do filósofo e
pedagogo alemão Johann Friedrich Herbart, pioneiro da pedagogia científica.
Herbart idealizou a seqüência dos "cinco passos formais", a ser seguida numa aula
para adaptar-se melhor à psicologia do educando. A pedagogia científica recebeu
impulso a partir do final do século XIX, em face da expansão positivista, da
controvérsia evolucionista e das grandes modificações políticas. O progresso da
psicologia experimental no século XX introduziu modificações nos métodos de
ensino. Da mesma forma, a concepção de humanismo sofreu um deslocamento:
tornou-se mais subjetivista e fez do indivíduo o valor supremo.
As características da pedagogia contemporânea, que vê o homem como criador de
seu próprio ser, devem ser consideradas e analisadas à luz da realidade educativa.
A primeira delas é a preocupação pela ampliação do conceito da educação. Além
da tendência a atribuir à educação organizada importância cada vez maior, há o
valor crescente atribuído à educação como fenômeno essencial ao pleno exercício
das funções e atividades que interessam ao indivíduo e à sociedade. Outra
característica é a contínua extensão do campo da pedagogia, que lhe confere, cada
vez mais, um domínio específico. Hoje, embora dependa da contribuição das outras
ciências, possui enfoque próprio e se afirma cada vez mais como necessária ao
quadro sociocultural.
Dentre as funções pedagógicas, tem predominado tradicionalmente na educação a
função didática. Num mundo que quase sempre valorizou o espírito em detrimento
de outros aspectos da chamada "natureza humana", considerava-se que o objetivo
de toda boa educação -- e sua função dominante -- deveria ser a formação

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intelectual, desenvolvida fundamentalmente pelo conhecimento. O educador era


visto como aquele que transmitia o saber na forma de uma verdade a ser absorvida.
Hoje, cada vez mais se restringe -- ou se devolve a sua real posição -- a função
pedagógica do ensino, que solicita da ciência da educação uma revisão de suas
funções e, conseqüentemente, uma adequação às novas realidades. Os modernos
meios de comunicação e a grande massa de informações hoje difundidas fazem da
educação um processo crescentemente formativo, que ressalta, sobretudo, a
natureza criativa do educando.
A automação crescente, em função da qual se transformam as condições culturais
da sociedade, representa outro desafio à pedagogia. A automação abre novas
perspectivas de escolaridade, além da mínima ou obrigatória, e impõe novas e
constantes revisões pedagógicas. O objetivo da democratização da educação é,
ainda, outro desafio proposto à pedagogia contemporânea. A educação deixou de
ser privilégio para converter-se em direito. À pedagogia cabe acolher e responder
às indagações nesse sentido. Para atender às solicitações que decorrem do
fenômeno da democratização, são também temas que devem ocupar a pedagogia
contemporânea o lugar concedido ao lazer e a uma educação permanente, que se
prolongaria por toda a vida.
Ensino. No Brasil, a pedagogia é um curso de nível superior oferecido pelas
faculdades de filosofia, ciências e letras e pelas faculdades de educação. Os cursos
de pedagogia se estruturam em duas partes: uma básica, dedicada ao estudo de
disciplinas necessárias ao conhecimento da ciência da educação, e outra
diversificada de acordo com as diferentes áreas que constituem os campos de
atividade dentro da pedagogia. Essas áreas são as de orientação educativa,
administração escolar, supervisão escolar, inspeção escolar e formação de
professores para as atividades práticas dos cursos normais. Tais áreas não
esgotam o vasto campo da pedagogia, mas constituem, numa ordem de
necessidade, aquelas de que mais carece a educação brasileira. Na parte comum,
são estudadas pelo menos as seguintes disciplinas: psicologia educacional,
sociologia educacional, filosofia educacional, história da educação e didática. Na
parte diversificada, as disciplinas variam de acordo com a área ou habilitação.
O desafio contemporâneo à pedagogia é a expectativa de uma resposta aos
problemas que cotidianamente a educação sugere, como resultado das mutações
em curso -- problemas em última análise propostos não somente a pedagogos ou
técnicos em educação, mas àqueles que, direta ou indiretamente, estejam
envolvidos com o fenômeno educativo e com o desenvolvimento histórico e social
do homem.
Didática

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