Você está na página 1de 2

Resenha crítica: “Precisamos falar sobre Kevin”

O filme “Precisamos falar sobre Kevin” retrata um drama, através da


perspectiva da mãe, que, em uma sequência de flashbacks, revela os motivos do
relacionamento conturbado com seu filho problemático.

É notório que, com o advento de uma gravidez indesejada, a mãe, Eva,


adquire forte depressão, ao se deparar com uma limitação de sua liberdade e
interrupção de sua carreira. Seus sentimentos de angústia e sofrimento são
percebidos por seu filho ainda em seu ventre, o que causou um grande
distanciamento entre eles, posterior ao parto.

A ausência de afeto materno desencadeou uma necessidade por parte do


filho, Kevin, em chamar a atenção da mãe, o que ele conseguiu através de atitudes
violentas, testando os limites de Eva até que ela perdesse a razão.

Apesar de Eva lutar para suprir as necessidades físicas de Kevin, além de


tentar uma aproximação, nunca logrou êxito quanto ao aspecto emocional, muito
pelo contrário, esse distanciamento apenas se agravou com o nascimento da irmã
mais nova.

Baseado em fatos reais, o drama demonstra, em doses homeopáticas, todas


as crueldades que Kevin foi capaz de cometer. Acometido pela doença da
psicopatia, que se diferencia da sociopatia pela ausência de culpa e remorso, ele
articula todo um plano para cometer um atentado em sua escola, onde realiza uma
carnificina.

Eva sempre desconfiou das atitudes agressivas e mórbidas de seu filho e


tentou alertar a seu marido sobre uma possível enfermidade, entretanto, Franklin
escolheu se manter inerte. Como sempre esteve ausente durante o dia, ao chegar
representava para o seu filho apenas a parte recreativa, brincando e fazendo-o
dormir, diferentemente de Eva que abrangia todos os aspectos da vida de Kevin e
não sabia lidar com sua personalidade forte.

Carente do apoio do marido, que deveria dar a devida importância para a sua
depressão e desempenhar um papel mais ativo na criação do filho, ao menos dando
a devida atenção às pontuações feitas por Eva, esta se viu de mãos atadas até que
o pior aconteceu.

Como se não bastasse todo o sofrimento gerado pela sua doença, pela
doença de seu filho, pelo mal que Kevin fez a irmã e pela omissão do marido, Eva
ainda teve que lidar com os julgamentos e a rejeição da sociedade e com toda a
maldade que lhe fizeram, sem ninguém lhe ofertar qualquer tipo de ajuda e
compreensão.

Este filme traz uma mensagem forte apresentando possíveis consequências


que a falta de tratamento psicológico pode acarretar, gerando até mesmo
consequências jurídicas quando leva ao cometimento de crimes. Ainda nos dias de
hoje não é dada à depressão a devida atenção e cuidado que esta doença merece,
visto que esta enfermidade não atinge apenas o indivíduo que a carrega, mas
abarca toda a estrutura familiar. Ademais, a depressão pós-parto ainda é
considerada um Tabu em decorrência do grande estigma do amor materno. Isto nos
ensina a dar maior atenção àqueles que demonstram sintomas de fragilidade
emocional.

Você também pode gostar