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" Que meus olhos partays

em qual quer parte questeys,


em meu coraçam ficays
e nele vos converteys.
Este é o vosso luguar.
Em que may eta vos vejo,
por que nam quer meu desejo
que vos dy passays mudar.
por isso que partays,
em qual quer parte questeys
em meu coraçam ficays,
pos nele se converteys. "

(Rui Barbosa)

Neste texto, tomamos o envolvimento íntimo do autor através de sua confissão amorosa, em
que chega a afirmar que mesmo com amada se ausentando, ela continuará presente, pois ela
se transformara no próprio coração do poeta. Notamos, ainda, uma linguagem simples e grafia
mais próxima de hoje, mas preserva-se a coita amorosa trovadoresca.

2. " Senhora, partem tão tristes

meus olhos por vós, meu bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,

tão doentes da partida,

tão cansados, tão chorosos,

da morte mais desejosos

cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,

tão fora d’esperar bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém. "

(João Ruiz de Castelo Branco)

João Ruiz de Castelo Branco viveu na segunda metade do século XV. É um dos inúmeros poetas
do Cancioneiro Geral. A “Cantiga sua partindo-se” é, merecidamente, um dos mais conhecidos
poemas do período humanista. A delicadeza expressiva dessa pequena cantiga bastou para
perpetuar o nome de seu autor.

3. " Antre tremor e desejo,


Vã esperança e vã dor,
Antre amor e desamor,
Meu triste coração vejo.

Nestes extremos cativo


Ando sem fazer mudança,
E já vivi d'esperança
E agora vivo de choro vivo.
Contra mi mesmo pelejo,
Vem d'ua dor outra dor
E d'um desejo maior
Nasce outro mor desejo. "

(Sá de Miranda)

Abaixo, seguem exemplos de poesia palaciana, dos poetas Aires Teles e Conde de Vimioso.

Meu amor tanto vos quero,

que deseja o coração

mil cousas contra a razão.

Porque, se vos não quisesse,

como poderia ter

desejo que me viesse

do que nunca pode ser?

Mas conquanto desespero,

e em mim tanta afeição,

que deseja o coração.

(Aires Teles)

Meu amor, tanto vos amo,

que meu desejo não ousa

desejar nenhuma cousa.

Porque, se a desejasse,

logo a esperaria;
e, se eu a esperasse,

sei que vos anojaria.

Mil vezes a morte chamo,

e meu desejo não ousa

desejar-me outra cousa.

(Conde Vimioso)

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