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DICAS PARA ESCRITORES

Nano Fregonese

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Copyright © 2016 by Adriano Fregonese

Todos os direitos reservados.

Autor

Adriano “Nano” Fregonese


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APRESENTAÇÃO

Oi, colega,

Antes de mais nada, obrigado por ter baixado esse pequeno livro. Tenho certeza
que você encontrará coisas bacanas por aqui.

Não sei se você já acompanha meu trabalho, por isso vou me apresentar
rapidamente.

Eu sou o Nano Fregonese. Escritor, storyteller e publicitário. Estudo e trabalho


com storytelling e técnica criativa desde 2008. Mantenho um site que traz dicas
para pessoas que querem escrever um livro ou então que precisam criar projetos
envolvendo histórias.

Este livro que você tem em mãos traz alguns dos meus melhores artigos, criados
ao longo de 2015 e 2016. Os artigos ainda estão lá no site, mas aqui você tem
acesso a tudo de forma mais organizada.

Caso queira conhecer um pouco mais do meu trabalho ou ver os serviços que
ofereço, acesse www.nanofregonese.com.br

Já se você tem vontade de escrever um livro, eu recomendo que você dê uma


olhada na minha série Como Escrever Um Livro. Ela tem tudo o que você precisa
para começar.

Boa leitura e um grande abraço!


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SUMÁRIO

COISAS QUE TODO ESCRITOR PRECISA FAZER

O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA FAZER PARA CONTAR UMA HISTÓRIA

A VERDADEIRA FORÇA DA SUA ESCRITA ESTÁ NA PERGUNTA: POR QUÊ?

DE ONDE VÊM AS IDEIAS?

STORYLINE: A SUA TRAMA CABE EM UM TWEET?

COMO CRIAR PERSONAGENS MARCANTES COM APENAS UMA PERGUNTA

EXPLORANDO PENSAMENTOS OU COMO UTILIZAR PERSONAGENS PELO LADO DE DENTRO

COMO ESCREVER UMA CENA SEM ENROLAÇÃO

NAVEGANDO EM ÁGUAS DESCONHECIDAS: COMO ESCREVER SEM ESTRUTURA

ALÉM DA MURALHA: COMO TERMINAR O SEU LIVRO

3 DICAS DA PULP FICTION PARA MELHORAR A SUA ESCRITA

7 TRAMAS BÁSICAS PARA A SUA HISTÓRIA E PARA A SUA MARCA

COMO FORTALECER A HISTÓRIA USANDO O OBJETIVO

ENGAJANDO LEITORES JÁ NO INÍCIO

COMO NÃO ENGAJAR O SEU LEITOR

ESCREVER COMO UM PROFISSIONAL FAZ TODA A DIFERENÇA (OU COMO O LIVRO MAIS

AGUARDADO DO ANO SE TRANSFORMOU EM DECEPÇÃO)

VOCÊ NÃO PRECISA DE UMA EDITORA PARA SER PROFISSIONAL: ESCREVENDO PARA A

AMAZON
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O QUE O SEU LEITOR DESEJA?

REPERTÓRIO E EMOÇÃO

ESCRITORES, COMECEM A JOGAR VÍDEO-GAME

6 COISAS QUE ESCRITORES DEVEM APRENDER COM RPGS

COMO ESCREVER PARA CRIANÇAS

COMO AVALIAR UM LIVRO EM 5 PASSOS

LIVRO VS. EBOOK: NESSA BRIGA QUEM PERDE É VOCÊ


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1.

COISAS QUE TODO ESCRITOR PRECISA


FAZER

Assuma que você é um escritor de histórias. Não tenha vergonha. Orgulhe-se do


fato.

Um escritor escreve. Então pare de se preparar para escrever e comece a arranjar


tempo para praticar. Todos os dias.

Estabeleça metas. Mas não esqueça que essas metas devem ser realistas, ou então
você vai desanimar, definhar e desistir.

Leia. Leia muito. Mas leia como um criador. Analise a estrutura da história, o
ritmo, a criação de personagens e a construção da cena. O que salta aos seus
olhos?

É necessário compreender que há um mercado por trás das histórias.


Compreender que o seu trabalho só será digno de nota se você criar com o
coração é mais necessário ainda.

Começar uma história é um grande feito. Terminar uma história é divino.

Abra-se para as críticas construtivas. Elas irão ajudar você a enxergar o seu
trabalho de formas inteiramente novas, além de manter o seu ego sob controle.

Mantenha o ego sob controle. Não permita que ele se transforme em arrogância
cega.

Escrever histórias é uma técnica, mas também uma arte. E de vez em quando a
arte vai carregá-lo por lugares não planejados. Embarque na jornada.
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Aprenda com autores mais experientes. Eles passaram por dificuldades que você
nem imagina.

Ajude os autores menos experientes. Lembre-se de como você sofreu e de como


desejou ter alguém para guiá-lo.

Só escreva quando estiver inspirado. Esteja inspirado todo dia. É a sua


responsabilidade como criativo.

Pesquisa e revisão fazem parte do processo. Não reclame. Aceite. Faça.

Não se apegue demais às suas histórias. Elas estão protegidas na sua gaveta, mas
foram escritas para serem lidas.

Viva uma vida que nutra o escritor dentro de você. Brinque. Descubra.
Questione. Imagine.

Saiba que escrever histórias é algo difícil, dolorido, solitário e muitas vezes
ingrato. Mas vale cada gota de suor e cada lágrima.

Ame criar. Crie com amor.


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2.

O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER


PARA CONTAR UMA HISTÓRIA

Este texto aqui é antigo. Muito antigo. Resolvi relê-lo mais para ver se eu falava
muita besteira no passado, mas acabei me surpreendendo com quão útil ele me
foi, mais uma vez.

Então, se você tem vontade de criar uma narrativa e não sabe por onde começar,
dê uma olhada. Talvez o meu eu do passado possa ajudar.

A Verdade

Quase todo mundo pode criar histórias. O storytelling não é exclusividade de


gênios talentosos que fazem fortunas com bestsellers. Embora o talento exerça
seu papel, ele pode ser sobrepujado pela dedicação e trabalho duro.

O que você precisa é de comprometimento.

A primeira coisa a fazer é consumir histórias. Leia, assista a filmes e séries,


escute os causos do tiozinho do bar, leia de volta. Mas faça tudo isso como um
criador. Preste atenção aos mecanismos e engrenagens por trás daquilo que está
sendo transmitido a você. Quais pontos chamam a atenção? Existe uma estrutura
por trás? Algum personagem se destaca? Você entendeu aonde quero chegar.
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A segunda coisa a fazer é praticar. Escreva, desenhe, narre, jogue RPG, faça o
que quiser, mas se force a contar histórias. Não tem como escapar. A prática vai
te ensinar coisas que nem décadas de estudo teórico são capazes de trazer.
Pratique até o storytelling virar uma segunda natureza.

A terceira coisa a fazer — e sobre a qual falarei de forma mais aprofundada — é


conhecer as regras. Sim, polêmica à vista!

Muita gente diz que conhecer as técnicas de narrativa prejudica a criação, tira a
originalidade, banaliza o artista. Bullshit. Ninguém está dizendo para você
ignorar a sua voz e seguir uma receita de bolo, mas, até mesmo para ser original,
é preciso conhecer as regras. Ou então como você poderá quebrá-las?

As estruturas narrativas são constantemente aprimoradas, mas estão por aí desde


a época das cavernas. E por um motivo bem simples: nós percebemos a nossa
existência por meio de uma estrutura de história. Nossa vida é um apanhado de
histórias com começo, meio e fim, cheia de conflitos e antagonistas. Nada mais
justo do que se aproveitar dessa estrutura para criar livros, filmes, comerciais,
etc.

Conheça as regas.

A Preparação

A criação começa muito antes de você sentar e botar seus pensamentos no papel.

Alguns storytellers gostam de desenvolver a ideia enquanto escrevem. Outros


fazem resumos enormes, com todos os detalhes importantes da trama. Há ainda
os que ficam no meio do caminho, anotando elementos chave e deixando pra
descobrir o resto junto com os personagens.

Independentemente do que você queira fazer, tenha respeito pelo papel da


pesquisa. Estude sobre aquilo que você quer escrever, leia livros sobre o assunto,
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fale com profissionais. Preencha a sua mente com matéria-prima e confie no seu
cérebro para criar conexões inovadoras.

Considere ter uma boa noção do clímax da sua trama o mais cedo possível. Ao
saber o destino, fica mais fácil traçar as rotas até lá e entrelaçar os elementos que
tornarão o clímax não só possível aos olhos do receptor, mas também inevitável.

Esteja sempre com um caderninho. Einstein disse que suas melhores ideias
surgiram quando ele não estava trabalhando (a Teoria da Relatividade apareceu
quando ele estava tomando banho). Então mantenha um caderno a postos.

A Escrita

Existe uma penca de livros sobre técnicas criativas por aí, mas hoje vamos falar
sobre o básico: o bom e velho Modelo Dramatúrgico Clássico.

Este modelo se divide em 3 atos e conta com a presença de 3 elementos cruciais:

• Personagem
• Objetivo
• Conflito

A coisa é simples. Alguém quer alguma coisa e precisa superar obstáculos para
conseguir. Que tal analisar esses elementos separadamente?

Personagem

O principal recebe o nome de protagonista. É ele quem possui o objetivo


principal da história e sofre o maior conflito. Deve ser empático e realista. Não
pode ser uma pessoa perfeita, pois isso causa tédio. Sua função é gerar
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identificação. O leitor precisa se identificar com o personagem e com as


dificuldades sofridas por ele.

Todo bom personagem é composto de conflitos internos e externos. A maneira


como ele lida com estes conflitos nos mostra quem ele é.

É possível revelar o personagem contando sobre ele (ou fazendo outros


personagens contarem) ou então mostrando. Mostrar é sempre melhor. "Atos
falam mais que palavras".

Há 4 formas básicas de se mostrar:

• Ação do personagem;
• Fala do personagem;
• Aparência do personagem;
• Pensamento do personagem (esta forma possui uma capacidade enorme de
criar identificação).

Uma história deve combinar e alternar estes métodos.

Objetivo

É aquilo que o protagonista quer, o que é vital para ele. Em toda história é
necessário que haja um objetivo principal, mas podem haver objetivos
secundários — tanto por parte do protagonista como por parte de outros
personagens. Os objetivos secundários são comumente usados em tramas
paralelas.

O objetivo deve ser difícil de obter, já que isso cria emoção e empatia (afinal,
alguém aí já conquistou algo de graça?). Todavia, não pode ser impossível, sob
risco de causar desinteresse por parte do espectador.
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O protagonista deve estar motivado a conseguir o objetivo. Precisa sentir a


questão como caso de "vida ou morte".

Mantenha o objetivo principal bastante claro. Ele é o motor da história.

Assim que o receptor conhece o protagonista e seu objetivo, ele enxerga o


caminho a se percorrer.

Conflito

Entre o protagonista e o seu objetivo ficam os conflito. Simples assim.

Este elemento é o tempero da receita. Sem ele tudo é chato. Quanto melhor o
conflito, melhor será a trama. Nada ilumina mais o personagem do que uma boa
luta.

Não podemos deixar a história com apenas um conflito. Eles devem ser
apresentados em quantidade e crescer de intensidade ao longo da história.
Lembra das fases do Super Mario? Cada vez que você superava uma, a outra
ficava mais difícil, não é? Aqui a coisa funciona do mesmo jeito.

Os obstáculos não precisam ser necessariamente explicados, mas devem ser


verossímeis. É importante fugir da gratuidade.

Em algum momento, porém, o conflito deverá ser resolvido – para o bem ou para
o mal. O protagonista consegue ou não seu objetivo.

Sobre a solução dos conflitos:

• Cuidado com soluções improváveis, forçadas e baseadas na coincidência;


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• Organização dos conflitos: devem ter uma estrutura ascendente, ficando


gradativamente mais difíceis;
• O Antagonista: é o conflito encarnado num personagem. Deve ter um
Objetivo próprio e verossímil que vá de encontro ao desejo do
protagonista.

Os 3 Atos

Ato I — Começo

É a introdução da história. Aqui mostramos o protagonista e o mundo no qual ele


está inserido. Surge o objetivo e nada mais é igual. O mundo vira de cabeça para
baixo e a ordem é abalada. O personagem precisa ir atrás de seu objetivo, ele
precisa agir.

O Ato I termina quando o objetivo e a importância do mesmo ficam claros na


cabeça do leitor. A ação propriamente dita começa a partir deste momento.

Ato II — Meio

Onde a ação se desenvolve. O protagonista tenta conseguir seu objetivo, mas se


depara com conflitos. É a maior parte da trama.

Não tenha medo de ser maldoso. Complique a vida do protagonista. Nada de


piedade. Ninguém quer ouvir uma estória na qual tudo vai bem.

Uma boa forma de alongar e adicionar complexidade à obra é por meio de tramas
paralelas; objetivos secundários e histórias menores dentro da história
propriamente dita.

O Ato II se dirige a um momento no qual o protagonista precisa se comprometer


com o clímax. É a batalha final. O tudo ou nada. Em caso de sucesso, ele salva a
galáxia. Caso ele falhe, a Estrela da Morte esmagará a Aliança Rebelde.
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Seu herói vai topar a parada? Claro que vai.

Ato III — Fim

A conclusão da história, quando o protagonista alcança ou não o objetivo.


Devemos estar prontos a responder a pergunta: "O Herói consegue o que quer?"

Após darmos a resposta, temos um momento de descompressão e encaminhamos


o fim.

Pode ser longo, como o final de O Senhor dos Anéis ou absurdamente curto,
como o fim de Telma e Louise (o Ato III corresponde à imagem congelada das
duas dentro do carro... deve durar cinco segundos).

Pronto. Disse o que precisava dizer? Explicou o que aconteceu aos personagens?
Então acabou. Não enrole

A Revisão

Aqui começa o trabalho sujo. Nunca abandone a revisão, é ela que vai tornar o
seu trabalho memorável.

Revisar não é somente corrigir erros e substituir palavras. Revisão é dar ordem,
adicionar o que está faltando, melhorar cenas, aprofundar e, principalmente, tirar
tudo o que não for essencial para a estória.

Stephen King tem uma equação bem didática sobre a segunda versão de suas
obras:

2ª Versão = 1ª Versão — 10%

Pense nisso como a lapidação de uma joia.

Você deve ser firme, largar o aspecto criador e assumir o papel de editor. Não é
hora de apego emocional. Difícil cortar tudo aquilo, né? Eu sei, mas é necessário.
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Uma boa dica é aguardar cerca de um mês antes de começa a editar. Isso ajudará
a criar o tão necessário distanciamento.

Também é Importante

Um storyteller não pode parar aqui. Sugiro a pesquisa de alguns temas:

• Ponto de Vista;
• Ambientação;
• Showing VS. Telling;
• Sentimentos e Pensamentos do Personagem.

Claro que há muito mais do que isso a se estudar, mas não dá pra abordar todo o
assunto aqui. O aprendizado nunca termina. Se você quer mesmo ser um
contador de histórias, seja humilde e admita que sempre haverá algo novo a se
considerar.

Analise os mestres, se dedique, leia, escreva, dê duro, mas, acima de tudo, seja
persistente. Ser um contador de histórias não é fácil, mas vale a pena.

Há algo primitivo e verdadeiro nisso que nos conecta ao que há de mais humano
em nós. Agora, me conte uma história...

Livros Recomendados:

Série Como Escrever Um Livro (disponível na Amazon), Nano Fregonese

Book in a Box: Cena e Estória, James McSill e Nano Fregonese

Desenhando Quadrinhos, Scott McCloud


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Escrita Criativa, Renata Di Nizo

Immediate Fiction, Jerry Cleaver

A Jornada do Escritor, Christopher Vogler

Manual do Roteiro, Syd Field

Oficina de Escritores, Stephen Koch

On Writing, Stephen King

Plot & Structure, James Scott Bell

O Poder do Clímax, Luiz Carlos Maciel

Roteiro de Cinema e Televisão, Flávio de Campos

Story, Dave McKeen

Vencendo o Desafio de Escrever um Romance, Ryoki Inoue.


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3.

A VERDADEIRA FORÇA DA SUA ESCRITA


ESTÁ NA PERGUNTA: POR QUÊ?

Esse texto é um pouquinho diferente dos que eu costumo escrever. Talvez ele
não seja tão direto ou com dicas tão práticas, mas é algo que cedo ou tarde a
gente teria que abordar, de qualquer forma. Sendo assim...

Você já parou para se perguntar por que você escreve? Sério. Por que diabos
você gasta horas da sua vida debruçado sobre cadernos de rascunho rabiscando
personagens, cenários e ideias de tramas? Sem falar em todo o sofrimento que
vem junto com o ato da escrita em si e, claro, da maldita — e mais do que
necessária — revisão.

Entender o seu porquê é entender quem você é e que tipo de coisa pode deixar
para os outros.

E podemos encaixar esse conceito em tudo o que fazemos. Vou me usar como
exemplo, para variar um pouco.

Eu mantenho um site, bem como uma fanpage no Facebook e um canal no


YouTube. Em comum, temos o fato de as três coisas tratarem do mesmo assunto:
técnicas para criar histórias.

Agora, por que eu faço isso? Eu não estou cobrando nada pelo serviço e
certamente eu não sou um santo.

Por que, então?


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Eu me fiz essa pergunta muitas e muitas vezes até que a conclusão me ajudou a
achar o meu espaço (tanto online quanto na vida prática).

Eu não repasso o conhecimento que adquiro porque sou um cara super legal que
quer salvar o mundo. Claro que eu quero um mundo melhor, mas essa não é a
primeira coisa que me vem à cabeça quando sento para escrever artigos.

Eu divido o que eu aprendo com colegas escritores porque eu entendi que, se eu


quiser ter sucesso como autor no Brasil — que ainda tem um mercado editorial
restrito a poucas pessoas, preferência por estrangeiros e baixo índice de leitura
per capita –, eu preciso ajudar a mudar a realidade. Eu preciso fazer a minha
parte para mostrar às editoras e ao público que os autores nacionais podem sim
ser bons e profissionais. Que nós temos capacidade de dominar a técnica da
escrita criativa e entregar livros a altura do padrão internacional. Diacho,
podemos entregar livros melhores.

Então, ao ajudar mais autores, eu acabo me ajudando.

O bom de ser um escritor, é que os outros escritores parecidos comigo não são
meus concorrentes. Eles são meus aliados. Veja bem, um leitor que compra o
livro de outro autor que escreve no meu gênero provavelmente se interessará
pelos meus livros também.

Assim, eu descobri quem eu sou: um escritor que sabe que a técnica pode ser seu
diferencial e, através dela, ainda pode conquistar amigos pelo caminho. Além do
pessoal que lê minhas histórias, eu encontrei um novo público: você que está
lendo isso agora.

Você deve fazer esse mesmo exercício.

Por que você escreve?

Se você escreve para alcançar o grande público, deve se preocupar com o assunto
da sua história, com o linguajar que usa e também em sair de casa e começar a
fazer conexões. Networking será importantíssimo para você. Comece a
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frequentar eventos de autores, vá a workshops, conheça as pessoas das editoras.


Acredite quando digo que tudo isso será tão importante quanto a qualidade da sua
história.

Se você é um escritor mais underground que escreve para um grupo específico de


pessoas, foque no seu público, ao invés de sonhar com best-sellers. O mercado de
nicho é muito bacana e possibilita um contato legal com os leitores, cria relações
duradouras e pode gerar uma boa base de fãs... mas você não vai estar na lista
dos mais vendidos com a sua obra voltada para góticos canhotos fãs da Marvel e
que só ouvem Sisters of Mercy. E tudo bem! Garanto que se a sua história for
boa, os góticos canhotos fãs da Marvel e que só ouvem Sisters of Mercy voltarão
para mais.

Já se o seu foco está na autopublicação, tenha certeza de ter formado um bom


mercado. Preocupe-se em construir um grupo de fãs que de fato esteja
interessado no seu livro ANTES de você gastar R$ 30.000 com editoração,
diagramação e impressão. Caso contrário, você corre o risco de acabar com uma
infinidade de caixas em sua sala de estar, apenas juntando poeira.

Por outro lado, se você escreve apenas para lidar com os demônios internos e
colocar as coisas pra fora, então você, mais do que todos os outros tipos, deve
conhecer o seu público: você mesmo. Seja brutalmente honesto e tire o máximo
que puder das horas em frente ao computador. Como dizia Hemingway, sangre
na página.

Contudo, o exercício de se perguntar "por quê?" também vai te ensinar algo mais
importante. Vai te mostrar qual é a sua essência, o seu motor, aquilo que fará
você continuar a escrever mesmo quando as coisas parecerem difíceis. Você irá
erguer os olhos cansados da tela e vai lembrar...

"Eu faço isso porque acredito que a fé pode mudar a vida das pessoas". (C.S.
Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia)
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"Eu faço isso porque quero mostrar como a meritocracia é fundamental a uma
sociedade". (Ayn Rand, autora de A Revolta de Atlas)

"Eu faço isso porque quero que, daqui a 20 anos, meus filhos encontrem esses
escritos e sintam orgulho do pai". (João Silva, um autor que faz o melhor
possível)

Ao criarmos personagens, nós sempre nos perguntamos o que os motiva e o que


os levará pela jornada da história. Por que faríamos diferentes com a gente
mesmo nessa grande trama chamada vida?
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4.

DE ONDE VÊM AS IDEIAS?

Eu gosto de ler biografias e assistir as entrevistas dos meus autores favoritos. Ver
quais foram as influências, traumas e momentos marcantes que transformaram
aquelas pessoas em grandes criativos sempre me ensina muito.

E se tem uma coisa com a qual a gente sempre acaba se deparando ao ver esse
tipo de conteúdo é com a pergunta:

De onde vêm suas ideias?

Se você está lendo isso, é porque tem interesse em escrever histórias. Então
talvez você mesmo já tenha se deparado com algum curioso querendo saber de
onde VOCÊ tira as SUAS ideias. Já pensou nisso?

Claro que cada escritor acaba dando uma resposta um pouquinho diferente, mas
se você analisa aquilo a fundo, percebe que existe algo em comum. Isso acontece
porque as ideias surgem do mesmo lugar. Não importa se você é um autor de
histórias infantis no Brasil ou um escritor de dramas históricos na China, as
ideias de vocês têm a mesma fonte.

Já sabe qual é?

De onde vêm as ideias, afinal?

De todos os lugares.

Isso mesmo. Tudo o que ocorre ao seu redor, por mais banal que seja, pode ser
matéria-prima para uma ideia.

Tá, eu sei que a resposta parece clichê, então vamos desenvolver um pouquinho
mais.

A mente criativa tem uma forma muito peculiar de funcionar.

Para desenvolver ideias é preciso exercitar o seu cérebro, mas você também não
pode forçá-lo demais ou acaba gerando o efeito contrário e ele se fecha. Quem já
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foi obrigado a tirar conceitos e ideias em pequenos espaços de tempo porque o


cliente estava ali te olhando com cara brava sabe do que estou falando.

Você não pode dominar completamente a sua criatividade. Ela não vai começar a
gerar grandes ideias só porque você mandou. Ela é poderosa e bonita, como um
cavalo de raça, mas, assim como o animal, também pode ser muito teimosa.

O truque, então, é trabalhar COM ela. Direcioná-la.

Para isso, você precisa alimentá-la bem. E aqui chegamos no grande ponto do
texto que eu quero que você guarde na memória: para gerar ideias, você precisa
de repertório.

Repertório é uma série de informações, emoções, vivências, gostos, etc que você
guarda no seu íntimo. Cada livro que você lê, cada viagem que faz, cada nova
música que te toca. Tudo isso é repertório e acaba sendo armazenado naquele
grande galpão que você tem na cabeça.

Ao viver experiências interessantes, adquirir conhecimento e experimentar


emoções, você agrega material para a criação de novas ideias.

Pense na sua imaginação como um laboratório com um inventor maluco dentro.


Absolutamente qualquer coisa pode ser feita ali, mas, para trabalhar, o inventor
precisará de material. Ele não pode sair do laboratório e correr atrás das coisas. É
você quem precisa fazer isso pra ele.

E você faz isso ao adquirir repertório!

Ficar trancado em casa vivendo uma rotina imutável, lendo apenas um assunto e
ouvindo a mesma música criará uma gama de materiais muito limitada. O
inventor não conseguirá fazer muita coisa de diferente com apenas aquilo em
mãos.

Para gerar novas coisas você tem que viver novas coisas. Conhecer pessoas,
aprender algo novo, viajar — nem que seja na maionese.

No fundo, a criatividade nada mais é do que a habilidade de unir coisas que já


existem de formas totalmente novas. Star Wars ainda é uma história de capa e
espada com toques de ficção científica e faroeste, afinal de contas. A novidade ali
foi a junção inovadora de diferentes referências.

A sua mente — o seu inventor maluco — está mais do que pronta para trabalhar.
Ela vai gerar ideias bacanas. Pode confiar. Ela só precisa que você faça a sua
parte.
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Então deixe as páginas de rascunho de lado de vez em quando e vá aproveitar a


vida. Ela está cheia de ideias esperando por você.
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5.

STORYLINE: A SUA TRAMA CABE EM UM


TWEET?

Quando eu me preparo para escrever uma história, normalmente gasto um bom


tempo pesquisando e fazendo um monte de rabiscos por aí. Aquela coisa clichê,
mas que sempre funciona: anotações em guardanapos, em papéis de rascunho ou
em caderninhos.

Quando sinto que a história começa a ter uma certa consistência na minha
cabeça, aí eu passo a organizar e dar forma para aquele monte de informações
caóticas. E, nesse momento, tem uma coisa que eu gosto de fazer e que me ajuda
muito na hora de escrever pra valer: o storyline.

Para quem não está familiarizado com o termo, o storyline seria uma espécie de
resumo muito sucinto da sua trama. Algo que caiba em duas ou uma frase, daí o
seu nome.

Em termos bem práticos, fazer um storyline é como contar a sua história em um


tweet!

Tá, Nano, mas por que isso é importante?

Porque o storyline vai te ajudar a focar nas coisas importantes.

Quando escrevemos um romance, é muito fácil perder o controle e acabar


divagando. Viajamos dentro do mundo que criamos e apenas ao final é que
vamos nos dar conta que, embora possa haver muita coisa bacana nos nossos
escritos, também tem muita coisa descartável, que não interessa ao leitor. O
storyline serve como um guia que constantemente nos lembra do que se trata a
história. Ele diz:

"Ei, cara. Não esqueça a essência da sua criação, heim".


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Outra função valiosa do storyline é mostrar se a nossa trama está complicada


demais.

Escrever uma história em uma simples linha nunca é fácil, mas se você estiver
achando a tarefa impossível, é bem provável que a narrativa esteja meio
megalomaníaca e precise ser retrabalhada.

Lembre-se que o leitor, ao ler o seu livro, não tem acesso à sua mente. Ele não
vai poder tirar dúvidas ou conferir as suas referências. Se a coisa estiver
complicada demais, emaranhada demais, solta demais, a experiência será
comprometida... e ele pode desistir do livro.

Como eu já disse em outros textos, menos é mais. E o storyline ajuda a gente a


segurar a empolgação.

Além de tudo isso, ter um storyline em mãos pode ser crucial na hora de vender a
ideia sobre o seu livro.

Lá fora existe um termo famoso chamado de elevator's pitch. Fica mais fácil falar
sobre ele com uma pequena historinha.

***

Imagine que você é o autor de "Game of Thrones" e está em uma convenção de


escritores. Lá tem um monte de gente criativa, editores, agentes literários e donos
de editoras querendo encontrar bons livros para publicar.

Agora imagine que você está saindo pra almoçar. Você pega o elevador junto de
uma senhora bem vestida e de expressão simpática.

– Oi — ela diz. — Você também está na convenção? Você é um escritor?

– Sim — você responde. — E a senhora?

– Eu trabalho para uma editora. Estou procurando um livro original por aqui. Por
acaso tem uma história para me contar?

Você sente o batimento cardíaco acelerar. A boca fica seca e uma gota de suor
frio escorre pelas suas costas. Você respira fundo, se recompõe e diz:

– Bom, a minha história é sobre esse reino em luta, com vários nobres disputando
um trono de ferro, mas também tem uma espécie de zumbis de gelo no norte, ao
mesmo tempo em que uma garota que descende de uma antiga família que estava
no trono quer reconquistar o poder, e também tem um anão que tem uma relação
complicada com o pai e, falando em pai, tem um jovem bastardo que se alista em
uma patrulha...
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Então o elevador chega ao seu destino. As portas se abrem. A senhora vira pra
você e diz:

– Legal, até mais.

E vai embora sem saber de fato sobre o que é a sua história. A oportunidade
perdida para sempre.

***

Entendeu como ter um bom storyline em mãos faz toda a diferença? Por meio
dele você consegue falar sobre a alma da sua história em poucos segundos e
gerar interesse. Uma vez que as pessoas estejam encantadas pela ideia por trás da
sua história, aí elas vão pedir mais e aí você terá tempo para entrar em detalhes.

Legal, Nano, entendi. E como eu faço um storyline?

Em alguns simples passos:

1) Antes de mais nada, se prepare para a tarefa. Muito embora o storyline seja
composto de apenas uma frase, essa frase é difícil pra burro de encontrar. É
perfeitamente normal gastar mais de uma hora testando variações até finalmente
se sentir confortável com algo.

2) Identifique a ambientação. Onde e quando se passa a sua história? É no futuro


distante? Em uma terra mística? Na Europa do século XI? Se é relevante para a
trama, melhor falar disso desde já.

3) Identifique o protagonista da sua história, aquele personagem que tem mais a


perder, e diga quem ele é em poucas palavras. Mas atenção: nada de nomes nesse
momento. Prefira termos mais explicativos como "um policial aposentado", "um
nobre bastardo", "um jovem bruxinho", "um garoto que não cresce" e coisas do
tipo.

4) O que o protagonista deseja mais do que tudo na sua história? Por quê?

5) Agora pegue isso que você criou e reduza até ficar bem claro e direto.

Alguns exemplos de storyline:

a) Em uma terra medieval fantástica, um pequeno hobbit precisa destruir um anel


mágico para derrotar o senhor das trevas.

b) Um professor frustrado de química é diagnosticado com câncer terminal e


decide traficar drogas para conseguir dinheiro.
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c) No congresso americano, um político traído traça um plano para alcançar o


poder a qualquer preço e se vingar daqueles que o prejudicaram.

Notem que nem de perto os storylines trazem os detalhes dos personagens ou da


trama. Eles também não abordam as surpresas, reviravoltas e sacadinhas
inteligentes que, eu tenho certeza, você incluirá no seu livro. Eles não servem
para isso.

Storylines são um primeiro passo. Um olhar duro e direto para o que de mais
essencial existe na história. Mas, sem conhecer o essencial da história, como
podemos avançar?

Então, que tal brincar de resumir a trama em um tweet?


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6.

COMO CRIAR PERSONAGENS MARCANTES


COM APENAS UMA PERGUNTA

No fim das contas, a história acaba dependendo de um bom personagem.

É possível que um bom personagem salve um filme ou livro ruim, mas nem
mesmo a melhor trama conseguirá salvar um personagem chato, desinteressante e
sem brilho.

Não adianta. Você precisa investir, especialmente no protagonista de sua história.

Ok. É bem provável que você já saiba disso. Todo mundo repete esse tipo de
coisa pela internet, mas pouca gente explica, pra valer, como fazer.

O que eu vou falar aqui não substitui todos os livros de técnica literária ou as
horas de análise prática que você precisará dedicar para se tornar um grande
criador de personagens, mas com certeza vai ajudar.

Se você é um cara angustiado que realmente quer dar um toque de vida em seus
personagens, mas não sabe por onde começar… Bom, você veio ao post certo.

A dica para um personagem marcante é: invista em valores.

Qual é o valor do seu personagem? E por valor eu não quero dizer apenas
qualidades ou coisas bacanas e politicamente corretas. Quando eu digo valor, eu
quero que você pense naquilo que o seu personagem não pode viver sem. Faça
com que ele pergunte a si mesmo:

Qual é a coisa mais importante do mundo para mim?

É isso! A resposta irá revelar qual é a essência do seu personagem e, a partir dela,
você poderá guiar todas as escolhas dele ao longo da trama.

Veja o Batman lá no início da carreira, no fim da década de 30, antes de se


estabelecer todo um cânone para o homem-morcego. Naquela época podíamos
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definir o herói por meio de um único valor: justiça. Tudo o que o Batman fazia
era guiado por um grande senso de justiça.

Legal, mas os tempos mudaram e o público procura por personagens cada vez
mais complexos. O que fazemos então?

Inserimos mais uma camada de valor.

Nós fazemos o personagem perguntar mais uma vez: qual é a coisa mais
importante do mundo para mim?

Agora temos dois valores. Duas essências.

Muitas vezes esses dois valores vão andar lado a lado e construir uma dinâmica
bacana ao longo da história. Só que as coisas ficam boas mesmo quando usamos
esses valores para gerar conflito, colocando um em luta com o outro.

Vamos para um exercício prático.

Vou partir do pressuposto que quase todo mundo sabe quem é Walter White, do
seriado Breaking Bad. Um químico brilhante, pai, bom marido, que nunca
recebeu o devido valor e de repente se descobre com câncer.

Perguntamos pro Walter qual é a coisa mais importante do mundo. Ele


responde: família.

Com esse valor em mente, ele acaba tomando decisões com o intuito de garantir
um bom futuro para a sua família. Mas a coisa não para aí, não é mesmo?

Nós perguntamos pra ele qual é a outra coisa mais importante do mundo e ele
diz: poder, controle.

Agora temos outro valor para brincar. Um valor que, ao entrar em conflito com o
primeiro, gera os momentos mais dramáticos da série.

Ao criarmos a luta Família X Poder, vamos descobrindo quem Walter White


realmente é. Ele é Heisenberg.

Entendeu a lógica da coisa? É isso!

Conforme você for ficando mais seguro com a brincadeira, poderá ir se


aventurando em mais camadas de valores e em personalidades com diferentes
níveis de complexidade. O mais legal disso tudo é que os personagens parecem
trabalhar ativamente na própria construção. Experimente e veja o que acha.

Depois me diga… qual é a coisa mais importante do mundo pra você?


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7.

EXPLORANDO PENSAMENTOS OU COMO


UTILIZAR PERSONAGENS PELO LADO DE
DENTRO

Um dos grandes diferenciais da literatura é a possibilidade de se estar muito mais


próximo dos personagens do que em outras mídias. Via de regra, filmes são
ótimos para mostrar o que acontece do lado de fora do personagem. O livro é
ótimo para mostrar o que acontece dentro.

E acredite quando falo que o lado de dentro é mais importante.

Veja bem, nós consumimos histórias porque queremos viver novas vidas, sentir
novas coisas, experimentar novas situações. Ninguém lê A Guerra dos Tronos
para saber o que Tyrion faz ou diz. Nós lemos para estarmos lá com ele e
sentirmos o que ele sente naqueles grandes momentos.

Nós queremos uma grande experiência emocional e a melhor maneira de


alcançá-la é por meio dos personagens.

Então por que tanta gente se recusa a explorar os aspectos internos de seus
personagens e acaba escrevendo um “filme para ler”?

Medo? Insegurança? Desconhecimento? Talvez um pouco de tudo.

Sempre achei que o truque para explorar o interior de um personagem era me


imaginar como ele — algo como uma mini sessão de RPG. Tento assumir o seu
papel e identificar sentimentos e suas consequências. Então mostro tudo.
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Compare:

A porta do elevador abriu e Fulano saiu para a garagem do prédio sem tirar os
olhos da tela do iPhone. Mal deu dez passos quando foi jogado contra a parede.
De repente sentiu a lâmina fria contra seu pescoço. Fulano teve medo.

A porta do elevador abriu e Fulano saiu para a garagem do prédio sem tirar os
olhos da tela do iPhone. Mal deu dez passos quando foi jogado contra a parede.
De repente sentiu a lâmina fria contra seu pescoço.

“Meu Deus”, pensou ele. “Eu vou morrer”.

Imediatamente lembrou da esposa e da filha pequena em casa, aguardando para


jantar.

A boca ficou seca. Suas pernas perderam a força e o estômago embrulhou. Lutou
contra a vontade de vomitar.

Entende o que estou dizendo? No primeiro exemplo eu apenas contei. No outro


eu mostrei.

Mas tem mais ali, certo? Eu sei que você é uma pessoa atenta e percebeu que,
além das reações físicas geradas por um sentimento, eu inseri algo mais no
exemplo. Algo que faz toda a diferença:

“Meu Deus”, pensou ele. “Eu vou morrer”.

Pensamento. O personagem pensa.

Podemos usar o pensamento como algo instintivo e reflexivo. Isso gera


identificação porque todas as pessoas fazem. E como todas as pessoas fazem, seu
personagem também deve fazer.

Mas dá pra ir além.


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É possível realizarmos uma análise mental, um monólogo interno ou até mesmo


um fluxo de consciência.

A análise mental ocorre quando nós, como narradores, expomos o que o


personagem pensa.

O monólogo interno surge quando o personagem exprime seus pensamentos de


forma lógica, quase como se conversasse consigo mesmo. Em outras palavras,
damos voz às análises, dúvidas e decisões de nosso personagem. Particularmente
acredito que o monólogo interno deveria ser usado pelo menos uma vez por
capítulo, mesmo que de forma curta.

Por fim, o fluxo de consciência escancara o próprio processo mental do


personagem em uma série de pensamentos que se sobrepõem e também
escorregam para os aspectos mais simbólicos do subconsciente. Pode ser
desarticulado, ilógico e sem sentido aparente. Imagine mergulhar fundo na mente
de um esquizofrênico e tentar perceber a realidade da mesma forma que ele a
percebe. Desafiador, não? A obra O Som e a Fúria, do Faulkner, é famosa pelo
uso magistral desta técnica.

Saber como compartilhar a alma de nossas criações é uma perícia que todo
escritor deveria se preocupar em desenvolver. Ela aproxima o leitor do
personagem e aumenta a identificação; o que acaba por gerar maior emoção e
envolvimento com a obra. No fim das contas, tudo fica muito mais real e
compreensível.

Dê uma espiada na forma como George Martin consegue nos levar para dentro da
mente de seus personagens a ponto de nos tornarmos cúmplices. Podemos até
mesmo não torcer por aquelas figuras, mas nós certamente as compreendemos e
nos identificamos com elas. E se você conseguir fazer isso nas suas histórias, eu
garanto que os leitores voltarão para mais!

E aí, o que está pensando agora?.


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8.

COMO ESCREVER UMA CENA SEM


ENROLAÇÃO

Em primeiro lugar, vale um reforço: cena não é a mesma coisa que capítulo. Um
capítulo pode ser composto de uma só cena ou então conter diversas delas. Hoje
há uma tendência, com autores super ultra best-sellers, de se utilizar capítulos
curtos — praticamente um capítulo por cena. Mas, sinceramente, isso vai
depender muito do seu estilo de escrita.

A definição mais simples para cena é...

Algo acontecendo em algum lugar em determinado espaço de tempo.

Teve quebra no espaço ou no tempo? Então acabou a cena.

Mas não se preocupe tanto com isso ainda. Preocupe-se em saber para quê serve
uma cena.

1) Mover a História
2) Revelar Personagem
3) Revelar Cenário

Se a sua cena não cumpre nenhuma dessas funções, ela pode ser descartada. Sim,
eu sei que dói, mas é para o bem, acredite.

A sua cena cumpre alguma daquelas funções? Aí sim estamos começando a


conversar.
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Para tornar a sua cena mais dinâmica, é interessante tentar usar pelo menos duas
daquelas utilidades que citei, ao invés de uma só. Chamamos isso de double
duty!

O que isso quer dizer, na prática?

Que, ao invés de criar uma cena apenas para revelar um cenário e/ou
personagem, dá para fazê-la mover a história também.

De repente aquele seu protagonista está no trabalho quando acaba se irritando


com uma colega e "estoura". Ele berra, ameaçando e xingando antes de
finalmente se desculpar e se acalmar.

Tudo bem, até aqui mostramos que ele é impaciente e dado a impulsos violentos.
Poderia terminar por aí. Mas nós também poderíamos continuar e fazer diversos
colegas testemunharem o momento de agressividade. Entre esses colegas,
poderíamos ter um psicopata que vê ali a chance perfeita para cometer um crime
e jogar a culpa no protagonista esquentadinho.

Entende o que quero dizer?

Certo, vimos para quê serve a cena, mas como é a sua estrutura? O que devemos
colocar nela?

Hoje em dia o que se ensina em muitos livros de técnicas e workshops é o uso da


Cena de Ação e Cena de Reação, cada uma com 3 elementos.

De forma bastante resumida, funciona assim:

Cena de Ação (ocorre no exterior do personagem)

• O personagem tem um objetivo.


• Ele encontra dificuldades para alcançar o objetivo.
• Um grande desastre acontece.

Cena de Reação (ocorre no interior do personagem)

• O personagem reflete sobre o que acabou de acontecer.


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• O personagem se vê num dilema: o que fazer agora?


• O personagem toma uma decisão sobre como agir.

É isso. Essa estrutura parece bobinha, mas consegue encadear cenas em uma
sequência lógica e eficiente. Se você dominar a técnica, pode ter certeza que será
bem-sucedido na sua escrita. Você terminará a história e ela será agradável a
leitor.

Para quem procura um método simples, direto e eficaz, pode investir sem medo.

Legal, mas essa é a única forma?

Não. Há outras maneiras de se escrever uma cena. Escolas diferentes que


funcionam em maior ou menor grau, dependendo de cada escritor.

Eu mesmo estou brincando com diversas técnicas e construindo uma "fórmula"


que se encaixa no meu estilo e que tem como base apenas dois elementos. Já
testei algumas vezes e parece funcionar.

Mas isso é assunto para outras conversas.

Por ora, vamos brincar com coisas acontecendo em um determinado lugar, em


um determinado espaço de tempo!
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9.

NAVEGANDO EM ÁGUAS
DESCONHECIDAS: COMO ESCREVER SEM
ESTRUTURA

Eu realmente acredito em estrutura. De verdade.

Acho que é uma ferramenta valiosíssima para todo escritor, uma base que dá
segurança e ajuda a enxergar adiante quando a gente se aventura pelas mares
bravios da criação.

O conhecimento técnico sobre a construção de tramas seria como um astrolábio


ou sextante. Um amigo confiável que mostra o caminho.

Dito isso, ouso afirmar que ele simplesmente não funciona para certas pessoas.
Ao invés de auxiliar, ele aprisiona. No lugar da confiança, ele traz angústias.

O que fazer então? Como ser capaz de escrever uma história utilizando de
estratégia, mas sem se abraçar com as famosas técnicas de plot?

Usando a lógica e o bom-senso.

Antes de mais nada entenda no que consiste uma história. O que fez todas as
histórias contadas, desde a época das cavernas até os dias de hoje? Do que elas
tratam?

De uma busca.

Todas elas se trazem pessoas buscando coisas e que precisam superar problemas
para conseguir essas coisas.

O que acontece no meio varia de história pra história, mas, em essência, é isso aí.
Pode conferir. A sua história deve ser sobre isso também. Não existe razão para
lutar contra essa realidade. Use o fato a seu favor.
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Uma vez compreendido isso, você pode se sentar, criar um personagem marcante
e nos mostrar a busca dele ao longo de centenas de páginas.

Uma vez estabelecido qual é o objeto dessa busca, então cada novo capítulo deve
ser um passo na jornada. Às vezes o personagem conseguirá chegar mais perto
do seu objetivo, às vezes tropeçará e será preciso se reerguer antes de continuar.

Mas cada página escrita deixa o herói mais próximo do grande momento da
história: o clímax. Aquele instante em que descobrimos se ele consegue o
objetivo ou não, se a busca é bem sucedida, se teremos um final feliz ou uma
tragédia.

É nessa sequência de momentos, de parágrafos e capítulos que entra a lógica.

A ficção é muito mais complexa do que a realidade, uma vez que ela precisa
fazer sentido enquanto que a vida normalmente é uma coisa maluca, sem pé nem
cabeça — há até quem diga que a nossa grande questão existencial é procurar
sentido dentro desse grande caos.

Então, ao escrever, você precisa tomar todo o cuidado possível para que os
acontecimentos narrados se encaixem uns nos outros, como peças de um quebra-
cabeça que vai se descortinando conforme a história avança.

Em um livro, não há espaço para capítulos inúteis. Em uma história, não


podemos nos dar ao luxo de contar aquilo que não importa.

Tudo deve estar ligado. Uma coisa leva a outra que leva a outra que leva a um
fim não apenas factível, mas inevitável.

Se você quer escrever sem utilizar estruturas narrativas, se quer navegar por
águas misteriosas, deve ao menos conhecer o seu barco e a sua tripulação bem o
bastante para lidar com os monstros pelo caminho.

Entenda a essência da história e seja inteligente na forma de contá-la.

Stephen King disse que nunca usou estruturas. Para ele, bastava imaginar
personagens complexos em situações terríveis e então observar esses
personagens lutando para escapar.

Alguém querendo algo e enfrentando desafios. Tudo isso contado em uma


sequência de eventos conectada e que faça sentido.

Simples. E, como todas as coisas simples, difícil pra caramba de acertar.

Antes de terminar, deixo ainda uma dica final para os que querem escrever sem
estrutura: viva. Viva com grande atenção. Você verá que as nossas maiores
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conquistas são guiadas por uma espécie de estrutura invisível, uma trama que nos
guia rumo a nossos sonhos e desejos. E, se sentimos isso na própria pele,
reproduzir na página não pode ser tão difícil assim, não acha?
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10.

ALÉM DA MURALHA: COMO TERMINAR O


SEU LIVRO

Você acordou com uma ideia muito boa para uma história, daquelas que fazem
você se erguer da cama e correr atrás de papel e caneta.

Você se senta na escrivaninha ou usa qualquer lugar como apoio e as palavras


começam a jorrar no papel. Aquele personagem que pareceu nascer
espontaneamente em sua criatividade começa a se construir e se desenvolver ao
longo das linhas. Você quase é capaz de enxergá-lo, sentir o cheiro dele, ouvir a
voz.

Conforme as páginas são completadas com frases e frases, a sua sensação de


urgência aumenta. Você precisa escrever aquilo tudo. Simplesmente precisa.
Afinal de contas, a sua musa inspiradora te fez uma visita e você não pode
desperdiçar a energia que ela trouxe.

Você imagina mundos e culturas e vestes e idiomas e todo tipo de aventura


emocionante para o seu personagem. Tudo aquilo vai para a página, claro. Talvez
você até mesmo escreva um ou dois contos.

De repente você é um intrépido explorador, passeando por um mundo selvagem,


sentindo prazer a cada nova descoberta. Você se sente poderoso, sábio e
confiante. Você finalmente está fazendo o que nasceu para fazer.

Mas será que você está certo? Será que não está vendo uma ilusão?
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O explorador dentro de você volta até a sua tribo e divide as descobertas com os
demais membros do clã. Em outras palavras, você leva a sua ideia até as pessoas
em quem confia. A opinião delas é muito importante.

Você aguarda enquanto elas leem e aí…

Elas adoram. Realmente há algo notável ali.

Isso está ótimo. Você deveria escrever um livro sobre isso — elas dizem.

Era o que você precisava. A segurança. A certeza de estar no caminho certo.

Você pega seu caderno de anotações e volta à exploração, mais fundo na trilha
que abriu. Mas então se depara com algo assustador. Uma imensa muralha de
gelo no meio do caminho. Você não consegue dar sequer mais um passo adiante.

Você se sente bloqueado. Toda aquela sua ideia legal congela dentro da sua
cabeça e você não consegue mais colocar as coisas no papel.

Você trava na hora de escrever o livro.

Conhece a sensação?

Pois é. Todos nos deparamos com esse problema em algum momento de nossas
vidas. E muitos acabam desistindo e abandonando o ofício. O livro fica sem ser
escrito. A ideia jaz abandonada em um caderno de rascunhos.

Por que tanta gente sofre desse mal e o que fazer para finalmente ultrapassar a
muralha e terminar de escrever uma obra?

Resposta: as pessoas não se preparam para a expedição. Elas precisam de um


plano.

Veja bem, ter um momento de inspiração é ótimo, ainda mais se ele acaba
gerando uma ideia que promete, mas você não pode depender dela.
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O processo criativo envolve diversas etapas e a conclusão de um livro exige que


você passe por todas elas. Não há como escapar. Desde o momento mais gostoso
até o mais sofrido, você precisa trilhar o caminho.

A primeira etapa — aquela que você vivenciou como inspiração — é a mais


agradável. É criação pura, sem comprometimento ou regras. Você simplesmente
traz suas ideias para a existência. Sem julgamentos. Sem estresse nenhum. E é ali
que nascem grandes temas ou sacadas e a sensação é realmente muito boa.
Gostosa de verdade. Mas a construção de uma história não para por aí. Para um
livro nascer, você vai precisar de muito suor, muito planejamento e de horas
angustiantes e solitárias em frente a uma tela em branco.

É ao se deparar com isso que muitos escritores travam.

E não é por menos. Escrever um romance é tão assustador e desafiante quanto


escalar aquela muralha de gelo. Se você ficar lá, aos pés dela, olhando para cima,
com certeza vai tremer.

Para alcançar o topo e ultrapassar a barreira você precisa de um sistema, de


ferramentas e também precisa dividir o trajeto em partes. Acredite em mim
quando digo que fica muito mais fácil chegar lá se você souber ir do ponto A ao
ponto B, do ponto B ao ponto C e assim all the way up!

Você consegue tudo isso por meio da técnica.

Ao estudar a técnica criativa e utilizá-la como ferramenta você aproveita tudo de


bom que existe naquela sua ideia inspirada e também consegue colocá-la na
forma de romance, em um livro com começo, meio e fim.

A técnica não é sua inimiga. Ela não vai matar a sua ideia. Ela vai te ajudar a
lidar com ela.

Então, sendo bem direto, é assim que você termina o seu livro:

A) Estude técnica — leia sobre estrutura e criação de cenas.


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B) Divida a jornada — com os conhecimentos que adquiriu sobre estrutura,


defina os pontos principais do seu livro (10% — 25% — 50% — 75% —
 90%, por exemplo). Então vá de um a outro, com calma, um trajeto de
cada vez. Como eu disse antes, se você tentar ir do chão ao topo da
muralha de uma vez só, você vai desistir, simples assim.
C) Tenha disciplina — você consegue um grande feito ao fazer uma coisinha
de cada vez. Escreva um pouco a cada dia, de capítulo em capítulo.
D) Aceite a dor — a inspiração é o momento mais gostoso do processo de
escrita, mas depois dela você precisará enfrentar dores e angústias. Terá
que escrever mesmo sem estar inspirado, passar horas solitárias e abrir
mão de algumas coisas. Aceite. Se você achar que tudo será maravilhoso
como aquele primeiro momento de criação pura então você irá se
decepcionar e desistir.

E pronto. Não tem segredo.

O que faz a maioria das pessoas travarem é o medo e a dúvida ao se depararem


com a muralha. Para vencer, basta entender que você não precisa escalar aquilo
tudo. É só escalar dez metros hoje, mais dez amanhã, mais dez depois. Quando
menos esperar terá vencido o obstáculo… e o mundo estará aos seus pés.

Pronto para a escalada?


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11.

3 DICAS DA PULP FICTION PARA


MELHORAR A SUA ESCRITA

Pulp Fiction foi muito mais do que um baita filme do Tarantino. Foi um estilo
literário do início do Século XX que acabou por influenciar a indústria do
entretenimento até os dias de hoje.

Impressas em papel barato, feito a partir da polpa da madeira — daí o termo pulp


-, essas histórias traziam temas fantásticos, assustadores, repletos de aventura e
mistério. Seus autores tinham carta branca para soltar a imaginação, desde que
levassem diversão ao grande público. Entre eles estão nomes imortalizados e
renomados como Robert E. Howard (de Conan, o Bárbaro), H.P. Lovecraft (dos
mitos de Chtulhu) e Edgar Rice Burroughs (de Tarzan e John Carter de
Marte) — verdadeiros herdeiros das penny dreadfuls inglesas e de ninguém
menos que Edgar Allan Poe, nos EUA.

O que nem todo mundo sabe, porém, é que o Brasil também possui o seu próprio
mestre pulp. Um ficcionista — como ele prefere ser chamado — que já escreveu
mais de 1.500 livros, mais de 200 HQs e roteiros para muitos filmes do Zé do
Caixão: R.F. Lucchetti.

Ontem à noite eu comecei a ler meu primeiro livro do Lucchetti, As Máscaras do


Pavor. Terminei hoje cedo e, se já não estava claro, agora não me resta dúvida
que o estilo pulp tem muito a ensinar a todos nós.

É claro que é possível argumentar que os contos estão datados, com uma
linguagem um pouquinho antiquada e que se apoiam em alguns clichês — na real
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eles estabeleceram certas coisas tão copiadas ao longo das décadas que acabaram
por se tornar clichês. Contudo, há algo tão poderoso por trás da técnica pulp que
deveria ser estudo obrigatório para todo escritor.

Aqui vou abordar 3 pontos que aprendi com a literatura pulp e com o livro do
Lucchetti:

1) Pesquise — Os autores pulps eram pagos por palavra ou por livro — o próprio
Lucchetti passou por um momento em sua vida em que recebia o equivalente a
R$ 350 por livro escrito. Isso quer dizer que não havia tempo a perder. Ao sentar
para escrever, era isso o que os caras faziam, escreviam. Eles não produziam
pensando em diversas versões, correções, experimentos, etc. Eles precisavam
terminar logo aquela história para poder pegar outra. Não tinha muito espaço
para erro. E como você minimiza o erro? Com pesquisa. Conheça bem o assunto
que vai abordar, guarde os principais pontos e mantenha informação relevante ao
seu alcance. Mas também lembre: a pesquisa é uma ferramenta, não uma
desculpa para você não iniciar a sua escrita.


2) Tenha Disciplina — Lucchetti escreve todos os dias, por pelo menos quatro
horas, a máquina. Para ele, além de ser um prazer, a escrita também é um
compromisso. Estabeleça uma rotina para produzir e se atenha a ela. Fale para
todo mundo que você não está disponível durante aquele período e não pare para
comer, ir ao mercado, atender ao telefone, ver e-mail ou passear no Facebook.
Durante o seu período de escrita, dedique-se a pesquisar, planejar sua trama, criar
personagens e, claro, produzir. Faça isso. Todo. Santo. Dia!

3) Keep it Simple — talvez o grande diferencial da literatura pulp. Lucchetti


chama a si mesmo de ficcionista porque ele sabe que seu papel é criar histórias,
ficção. Ele não tem arroubos artísticos e não ambiciona ser visto como um
grande intelectual. O que ele quer é que você leia o livro e entenda cada palavra.
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Que cada frase ajude o leitor a avançar em direção à próxima. Capítulos curtos,
parágrafos curtos, frases curtas. Corte o bullshit e escreva o que é necessário.
Lembre-se: a melhor maneira de dizer “o gato subiu no telhado” é dizer “o gato
subiu no telhado”. Parece moleza, mas como já disse o André Vianco:

Escrever fácil é difícil pra caramba.

E é isso. Se você não conhece muito sobre a pulp fiction, vale a pena gastar um
tempinho pesquisando e se envolvendo com esses autores que sempre estiveram
à frente de seu tempo. Alguns viveram vidas tão difíceis e passaram por
dificuldades tão grandes que suas histórias renderiam livros maravilhosos.

Lovecraft foi um jovem prodígio que recitava poesia aos 2 anos de idade. No ano
seguinte, seu pai enlouqueceu e ele passou a ser criado pela mãe. Como criança,
estava constantemente doente e foi diagnosticado com poiquilotermia, uma
doença que fazia sua pele ser sempre fria ao toque. Ainda jovem, sofreu um
colapso nervoso, o que complicou sua entrada em uma faculdade e o traumatizou
para o resto da vida.

Robert E. Howard começou a escrever aos 9 anos, inspirado pelos contos de


horror que ouvia da avó e fantasiava ser um bárbaro lutando contra Roma.
Preocupou-se em criar um mesmo universo para suas obras de fantasia,
semelhante ao que a Marvel faz hoje com seus filmes. Criou Conan e a Era
Hiboriana em 1932 (22 anos antes de O Senhor dos Anéis). Quando tinha 30 anos
de idade, recebeu a notícia que sua mãe não sairia de um coma e morreria em
breve. Profundamente abalado, foi até seu carro, sozinho, e atirou na própria
cabeça. Antes, porém, escreveu:

Tudo fugiu — tudo está feito, então levem-me à pira. O banquete acabou, e as


lâmpadas expiram.

Lucchetti precisou escrever 1547 livros por encomenda. Livros que ele não hesita
em chamar de besteira, sem nenhum apego. Escreveu para sobreviver, porque
precisava do dinheiro. Porém, também escreveu 200 livros nos gêneros que
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gostava, por amor. Hoje, após uma vida dedicada ao ofício, começa a ser
conhecido por um número maior de leitores.

Esses e muitos outros autores pulps abriram o caminho, lutaram, não foram
reconhecidos por anos e sofreram preconceito de “intelectuais”. Mas
aprimoraram uma técnica que sobreviveu ao tempo. E ela está aí, para ser
aproveitada pela gente.

Valorize. Aprenda. Com certeza ajudará você a se tornar um ficcionista melhor.


Comigo foi assim e sou muito grato a todos esses guerreiros das letras que
pavimentaram a estrada da nossa difícil jornada.
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12.

7 TRAMAS BÁSICAS PARA A SUA HISTÓRIA


E PARA A SUA MARCA

Se você já leu alguns dos meus textos ou assistiu aos meus vídeos, é provável
que já tenha me visto falar que – no fundo, no fundo – existe apenas uma única
história contada milhares de vezes:

Alguém quer alguma coisa e precisa superar obstáculos para conseguir.

Embora eu realmente acredite nisso, também admito que essa é uma forma de
simplificação extrema. Ela é muito útil para pensar na essência da sua história,
mas algumas pessoas podem encontrar dificuldade em avançar quando suas
tramas começam a ficar um pouquinho mais complexas.

Pensando nisso, diversos autores ao redor do mundo trabalharam no


desenvolvimento dessa história primordial até alcançarem algumas tramas-mestre
que, teoricamente, dão o caminho das pedras.

Se você está criando uma história, com certeza ela se encaixará em alguma
dessas opções. Pelo menos é o que eles dizem.

Já vi por aí livros que falavam de 50 tramas básicas, 20, 10 e assim por diante.
Mas, ao fazer um curso sobre Brand Storytelling, acabei me deparando com o
conceito criado por Christopher Booker de 7 Tramas Básicas Para Marcas.

Embora o conteúdo seja mais voltado para a publicidade, decidi traduzir o


material e dividir com vocês. Acredito que seja útil para todo contador de
histórias!
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Então, aqui vão as Sete Tramas Básicas Para a Criação de Histórias:

1. Superar o Monstro

Há uma força do mal que ameaça o nosso herói / seu mundo / a humanidade. O
herói deve lutar e matar esse monstro, coisa que nem sempre é fácil, mas ele sai
triunfante e recebe uma grande recompensa. Pense em Beowulf, Dracula e King
Kong.

Vemos esta trama surgindo de vez em quando no mundo da publicidade. Pense


no “monstro” como um obstáculo (muito raramente um monstro real!) que o
herói precisa superar, geralmente com a ajuda de uma marca.

2. Da Miséria à Riqueza

Esta trama é bastante autoexplicativa: no início, o nosso herói é insignificante e


inferiorizado em relação aos outros, mas algo acontece e ele se eleva, mostra-se
como um ser excepcional. Pense em O Patinho Feio, Aladdin e Superman.

Em termos de marketing, como a descoberta de um produto / marca poderia


elevar alguém, transformando a sua vida?

3. A Busca

Na Busca o nosso herói precisa partir em uma viagem longa e perigosa e vai
enfrentar todos os obstáculos até que triunfe. Pense em O Senhor dos Anéis, O
Mágico de Oz e Harry Potter.

Na publicidade, podemos ver o nosso herói canalizando os valores da marca


conforme ele procura fazer o bem e atingir seus objetivos.
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4. Viagem e Retorno

Embora também com base em uma viagem, este tipo de trama é muito diferente
da Busca. Aqui, o herói viaja para fora do seu “mundo normal”, rumo a um lugar
desconhecido e perigoso. Ele deve então escapar e voltar para a segurança de sua
casa. Pense em Alice no País das Maravilhas, Procurando Nemo e As Viagens de
Gulliver.

Como uma marca poderia levá-lo para um outro mundo? Você consegue
representar a experiência de um produto através de uma viagem?

5. Comédia

Uma história feita de acontecimentos cômicos, normalmente envolvendo troca de


identidade, mal-entendidos ou confusão, resultando em algo hilário. Pense em
Sonhos de Uma Noite de Verão, Diário de Bridget Jones e Quanto Mais Quente
Melhor.

A Comédia em publicidade é muitas vezes usada para mostrar a situação


lamentável na qual o seu cliente pode se encontrar caso não use a sua marca /
produto.

6. Tragédia

Esta é a história sem final feliz. Enquanto os outros arquétipos possuem heróis
triunfantes e monstros derrotados, este terreno toma um rumo diferente e termina
na perda ou morte. Pense em Macbeth, Romeu e Julieta e Breaking Bad.

Este tipo de trama é mais utilizada em táticas de choque na publicidade de


caridade.

7. Renascimento
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Nosso último tipo de trama, o Renascimento, traz o herói sucumbindo a um


feitiço obscuro — seja ele o sono, doença ou encantamento — antes de quebrá-lo e
conseguir a redenção. Pense em A Bela Adormecida, A Bela e a Fera e O Jardim
Secreto.

Ao aplicar o Renascimento à publicidade, você pode interpretar “o feitiço


obscuro” como sendo um distanciamento do público em relação à sua marca /
produto. Ou talvez a sua marca seja uma forma de fazer as pessoas se
reconectarem ou se apaixonarem novamente por algo.

Você não tem que usar esses arquétipos como um guia engessado, mas é
interessante compreender os diferentes padrões que a narrativa pode seguir e
quando e como podemos usá-los.

Claro, as histórias nem sempre usam uma trama bem definida. Elas podem ser
uma combinação bem complicada de diferentes arquétipos.
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13.

COMO FORTALECER A HISTÓRIA USANDO


O OBJETIVO

O fim do ano se aproxima (ou pelo menos se aproximava quando escrevi esse
post hehe) e com ele vêm aquelas boas e velhas metas para o novo ano. É hora de
parar e refletir nas coisas que queremos para o ano que vem, seja um novo
emprego, perder peso, abrir um negócio, viajar ou qualquer que seja o seu desejo
para o ciclo que se inicia.

Sendo assim, eu não vejo um assunto melhor para a ocasião do que falarmos
sobre o Objetivo!

Quando criamos uma história e estabelecemos o nosso herói, precisamos dar uma
jornada a este herói. Ele vê seu status quo abalado e então sai para o mundo atrás
de alguma coisa capaz de fazer a diferença em sua vida. Talvez o herói precise
destruir um item amaldiçoado para salvar o mundo, talvez precise conquistar o
coração da mulher amada, talvez deva conseguir dinheiro para o tratamento de
um filho doente. O que quer que seja, é muito importante que o contador da
história dê um objetivo muito claro ao personagem.

Mas por que devemos fazer isso, Nano?

Por uma série de fatores:

Em primeiro lugar, um personagem que vai atrás de um objetivo é um


personagem ativo. Ele move a história e mostra personalidade. Nós gostamos de
pessoas que perseguem seus sonhos. Nós nos sentimos bem quando nosso
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esforço nos faz conquistar algo que desejávamos. Assim, quando vemos um
personagem que quer muito alguma coisa e está disposto a perseguir essa coisa,
nós nos identificamos – o que é vital para o sucesso de qualquer história.

Em segundo lugar, o objetivo estabelece a história. Quando entendemos


exatamente o que é que o herói deseja, nós passamos a ter algo pelo qual ansiar.
Nós temos um chão sobre o qual nos apoiarmos. Nós instintivamente entendemos
o que é que nos carregará pela jornada da história. Pensamos/sentimos algo
como: Então esse Jedi é o herói do filme e quer destruir essa tal Estrela da Morte
para salvar a galáxia? Legal, então vou torcer pra isso acontecer.

Em terceiro lugar, o objetivo, quando em conjunto com o personagem, nos dá


uma boa base do que se trata a história. Poderíamos resumir a trama como a
busca do personagem protagonista pelo objetivo. Simples assim. Quer ver?

O Senhor dos Anéis é sobre um hobbit que precisa destruir um anel


amaldiçoado.

Moby Dick é sobre um capitão de navio que deseja matar uma enorme baleia
branca.

Rocky é sobre um boxeador pobre e humilde que quer vencer na vida.

Nike é sobre um esportista do dia a dia querendo superar limites.

Harley Davidson é sobre um cara em busca da liberdade.

Está vendo como o objetivo é importante? Ele deve ser tão bem construído a
ponto de fazer o seu público investir em toda a sua história. Se ele for fraco ou
mal feito, as pessoas desistirão de ouvir o que você tem para contar.

Ainda bem que temos algumas técnicas capazes de maximizar a eficácia do


objetivo!

Lembra que eu disse que o objetivo estabelece a história? Pois bem, então use-o
para trazer o seu público para dentro da narrativa o quanto antes. Deixe muito
claro o objetivo do herói nos primeiros capítulos do seu livro ou nos primeiros
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minutos do seu filme. Construa a ambientação e, assim que possível, dê às


pessoas algo pelo qual torcer.

Para um objetivo ser poderoso, ele também deve ser vital para o herói – uma
verdadeira questão de vida ou morte. Caso ele não consiga alcançar o seu objeto
de desejo, o mundo acabará (pelo menos o mundo dele acabará). Lembre-se que
histórias são sobre experiências emocionais, então deixe a coisa interessante
aumentando os riscos.

O objetivo também deve ser difícil de conseguir. Sim, não tenha medo de fazer o
seu herói sofrer. Na vida real, nós precisamos batalhar muito para cada pequena
conquista. Se é assim na vida, por que seria diferente na ficção? Não tenha medo
de fazer o seu protagonista verter sangue, suor e lágrimas em sua jornada.

Por fim, você pode criar objetivos paralelos na trama, apenas não deixe de
estabelecer o objetivo do herói como o central da história. A narrativa é sobre
ele, afinal de contas!
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14.

ENGAJANDO LEITORES JÁ NO INÍCIO

Uma das partes mais importantes de um livro é o início. E por início eu quero
dizer o comecinho mesmo, aqueles primeiros dois ou três parágrafos.

Pode não parecer, mas aquelas poucas linhas possuem o poder de engajar o leitor
ou de afastá-lo para sempre da sua história. Eu sei que parece injusto, afinal,
como pode aquela pequena amostra espantar gente quando há tanta coisa linda e
incrível que você preparou nos próximos capítulos?

Pois é. É injusto, mas é assim que as coisas são.

Então, ao invés de reclamarmos, que tal aprendermos um pouquinho sobre como


atrair o leitor desde a primeira palavra?

Vamos começar entendendo por que o início é tão importante:

Pense no seu comportamento quando você vai selecionar um livro para leitura.

Se for um exemplar físico, é muito provável que você seja atraído pela capa e
pelo título. Depois, você lê a contracapa, as orelhas e aí abre na primeira página.
Esse é o grande momento. Você lê o começo do livro e, se a escrita não for boa,
você desiste.

Com ebooks o que ocorre é semelhante. Você é atraído pelo título, lê a descrição,
os comentários dos leitores e aí parte para a visualização gratuita de amostra que
a Amazon e sites do tipo disponibilizam. Se o texto não estiver legal, você
descarta a obra.

Não é assim?
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Você sabe que é.

Então como podemos fortalecer o início e assim aumentar as chances de termos o


livro lido?

Comece de uma forma incomum

Quando vemos algo que foge ao padrão de normalidade, automaticamente somos


atraídos para aquela situação. Algo dentro de nós quer entender e desvendar
aquele mistério, quer pintar a imagem na cabeça e dar algum sentido para aquilo.

Além disso, a grande maioria das pessoas vive vidas comuns, rotineiras, sem
grandes aventuras. Ao apresentar algo diferente em seu livro, você oferece a
oportunidade do leitor se tornar outra pessoa e embarcar em uma grande
aventura. Por algumas horas, ele poderá ser um super-herói, um guerreiro
primitivo, uma política influente em um país machista.

Pense em O Hobbit e em sua frase de abertura:

Numa toca no chão vivia um hobbit.

Ao lermos isso, não conseguimos evitar pensar:

O que diabos é um hobbit? Nunca ouvi falar disso. Quero saber mais a respeito.

Curiosidade

Esse ponto está ligado ao item anterior, mas nos toca de maneira ainda mais
profunda. De certo forma, coisas incomuns nada mais são do que caminhos para
alcançar a curiosidade.

Os humanos evoluíram graças ao fato de serem curiosos, de quererem entender


como as coisas funcionam, por fazerem perguntas e desejarem descobrir o que
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viria em frente na grande jornada chamada vida. Então por que seria diferente
nas histórias?

Tente inserir elementos misteriosos já no começo do livro. Informações que


façam o leitor fazer perguntas e imaginar o que será que acontecerá a seguir. A
ideia é fazer com que ele diga a si mesmo:

Eu tenho que continuar lendo para descobrir como isso se resolverá. Porque eu
preciso descobrir. Eu preciso.

Identificação

A identificação é um dos aspectos mais importantes da criação de personagem e


da história como um todo. Inclusive gosto de pensar em personagens como
pontes que permitem alcançar o leitor e puxá-los para dentro da trama.

A meta é criar um personagem com o qual o leitor possa se identificar a ponto de


imaginar a si mesmo em seu lugar.

Normalmente demora algum tempo para construirmos uma identificação


poderosa e envolve emoções e a manipulação correta de situações através da
narração. Contudo, se você puder gerar algum tipo de identificação já no começo
do livro, terá uma grande vantagem.

Eu sei que isso é bastante difícil, mas existem algumas técnicas que ajudam. Uma
das mais poderosas (e uma das que mais gosto) é iniciar com alguma injustiça
sendo cometida a alguém. Se você fizer isso corretamente, o leitor se colocará do
lado do personagem injustiçado quase que automaticamente.

E lembre-se: embora o começo seja uma das partes mais importantes do livro,
você não precisa estar com ele pronto logo de cara. Nada te impede de terminar a
obra toda e depois voltar para dar aquela lapidada especial na primeira página! ;]
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15.

COMO NÃO ENGAJAR O SEU LEITOR

No nosso último texto, falamos um pouquinho sobre o começo das histórias e


sobre algumas técnicas para engajar o leitor. Mas, como saber o que NÃO fazer é
tão importante quanto saber o que fazer, hoje vamos dar uma olhada naquilo que
você deve evitar ao iniciar o seu livro (na verdade você deve evitar essas coisas
sempre, mas principalmente nos inícios).

História Pregressa

Eu sei. Eu sei. Você investiu meses e meses na criação dos personagens. Criou
toda uma árvore genealógica, intrigas familiares, acidentes, traumas e heranças
que trouxeram suas criações até o momento no qual seu livro começa. É provável
que também tenha investido mais um monte de tempo na construção do cenário,
com leis da física próprias e toda uma sociologia que faz do seu mundo algo
único e inovador.

Eu sei. Você sabe. Por enquanto, isso é o bastante.

Não seja daqueles escritores que vão com muita sede ao pote e vomitam
informação já no primeiro capítulo do livro. Calma. Você terá centenas de
páginas para deixar a sua criação brilhar. Lembre-se que você não está
escrevendo uma enciclopédia, mas uma história.

Sendo assim, comece onde começa a sua história. Deixe o passado no lugar dele.

Descrição e Mais Descrição


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Se tem uma coisa que mata a vontade de ler é um livro com excesso de
descrição!

Descrições são importantes, claro, mas há uma forma adequada de lidar com elas
e isso normalmente envolve inseri-las no meio da ação. Aquele estilo antigo de
descrição dura, loooooonga e puramente informativa é cada vez menos usada. E
por um bom motivo: não é mais necessária.

Nós fomos criados na era da informação. Lidamos com excesso dela todos os
dias. Qualquer dúvida que a gente possa vir a ter quanto a algo desconhecido,
basta uma rápida consulta no Google e pronto. Não há mais razão para gastar três
páginas descrevendo todos os detalhes de uma floresta de coníferas. Tenha em
mente que as pessoas estão menos pacientes e um excesso descritivo
provavelmente vai conseguir apenas irritá-las.

Ação Sem Motivo

Começar com ação é sempre interessante. Isso movimenta a história e nos mostra
coisas sobre os personagens (afinal, atos falam mais do que palavras). O ritmo
acelerado pode empolgar o seu leitor e fazê-lo avançar pelas primeiras páginas de
um jeito fluido e natural.

Porém, cuidado com a armadilha.

Alguns escritores, na ânsia de animar o leitor já no início da história, acabam


criando situações cheias de movimento, mas esquecem de dar uma razão a elas.

Quantas vezes você já viu uma cena de ação acontecer e depois descobriu que ela
em nada agrega à história? Não revela coisa alguma? Não desenvolve os
personagens? Não tem a menor ligação com a trama? Frustrante, não é?

E o pior é que não há necessidade de fazer isso. Basta refletir um pouquinho


sobre a sua estrutura que eu tenho certeza que ideias para cenas de ação
relevantes vão aparecer.
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E você, consegue lembrar de alguma vez em que pensou em ler um livro e


desistiu por causa de um início problemático? O que chamou a sua atenção? Essa
reflexão é uma ótima professora, então que tal uma visita à livraria? ;]
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16.

ESCREVER COMO UM PROFISSIONAL FAZ


TODA A DIFERENÇA (OU COMO O LIVRO
MAIS AGUARDADO DO ANO SE
TRANSFORMOU EM DECEPÇÃO)

Eu sou um grande nerds. E por isso mesmo eu não pude resistir ao pitch de Os
Senhores dos Dinossauros:

“A união de Guerra dos Tronos com Jurassic Park”

Antes mesmo de ler qualquer coisa a respeito da obra eu já estava fisgado.


Quando vi que o próprio George Martin havia indicado a obra então, nossa! Corri
atrás da imagem da capa, me impressionei com as ilustrações, li entrevistas do
autor e, claro, encomendei a minha cópia ainda em pré-venda.

Contei os dias até a entrega. Quando o pacote chegou, fiz um vídeo de unpacking
e babei com a qualidade gráfica. E então comecei a ler.

E o livro não funcionou pra mim.

Ainda estou insistindo na leitura, mas está cada vez mais difícil continuar.

Veja bem, eu entendo quem gosta da obra. Afinal, temos dinossauros e cavaleiros
em um mundo fantástico. A premissa é ótima. Porém, pra mim, a execução ficou
devendo. Muito.

Quero usar essa experiência para reforçar algo que eu digo há bastante tempo:
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Não basta ter uma grande ideia para uma história, é necessário aprender como
contá-la.

A técnica de escrita criativa não é sua inimiga. Ela é uma ferramenta que agrega
valor àquela trama bacana que você tem na cabeça. Ela serve para aprimorar a
experiência do leitor, não para algemar o escritor.

Mas o que, afinal de contas, desagradou tanto em Os Senhores dos Dinossauros?

Sem soltar spoilers, vamos por partes:

1) Personagens

Game of Thrones ficou famoso não por causa de dragões, white walkers e
guerras entre famílias antigas. É claro que tudo isso é muito legal, mas teria
pouco valor se não tivéssemos personagens interessantes e muito bem
trabalhados. Ao longo da série, somos apresentados a figuras com as quais nos
identificamos, torcemos ou até mesmo odiamos, mas, em todos os casos, nós
conseguimos compreendê-las. É possível entrar na cabeça delas e olhar o mundo
através de seus olhos. E isso faz toda a diferença.

George Martin é um mestre na construção de personagens e na forma como eles


são apresentados ao leitor. O grande diferencial de sua obra está aí.

Victor Milán, autor de Os Senhores dos Dinossauros, não é George Martin. Seus
personagens carecem de profundidade, não nos convencem e, em dados
momentos, chegam a ser extremamente irritantes (não é, Princesa Melodia?).
Seus objetivos não são bem construídos e eles não nos saltam aos olhos como
seres reais. São, para usar um termo do meio literário, “sacos de ossos”.

O que podemos aprender com isso?

Que personagens são a alma da história. Como escritor, você deve se preocupar
em compreendê-los, partilhar de seus sonhos, angústias, medos e objetivos. Eles
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merecem uma grande parcela de esforço em sua construção e respeito em sua


execução.

Um personagem bem construído vai falar com você, dizer o que deseja e para
onde quer ir. E você deve escutá-lo. O maior erro que um escritor pode fazer é
forçar um personagem em um rumo que ele não tomaria.

2) Excesso de descrição

Antigamente, descrições longas e detalhadas eram necessárias. Afinal, não havia


internet e o acesso a informação era limitado. Desse modo, quando um escritor
falava de um ornitorrinco, ele precisava descrever o ornitorrinco em detalhes para
que o leitor não ficasse no escuro.

Hoje não é mais assim. Caso o leitor realmente faça questão de saber algo nos
mínimos detalhes, ele pega o celular e usa uma coisinha chamada Google. Hoje,
a gente quer que a coisa flua.

E descrições em excesso travam a história.

Sério, fazia tempo que eu não lia um livro com tantas descrições quanto Os
Senhores dos Dinossauros. Eu sei que obras de ficção científica e fantasia pedem
por um pouco mais de detalhes, mas aqui o autor passou um pouquinho da conta.
Ele gasta muita energia — e páginas e páginas — falando sobre as roupas e
armaduras e cor dos olhos e enfeites de cabelo e… enfim, você entendeu.

Prejudicou bastante a minha experiência de leitura.

O que podemos aprender com isso?

Que descrições são necessárias, mas devemos buscar formas de usá-las sem
diminuir o ritmo da narrativa. Um jeito de se fazer isso é sempre se perguntar:
“eu preciso mesmo detalhar isso aqui?”.
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Quanto mais você conseguir inserir a descrição no meio da ação, melhor.


Leitores amam ação.

Você já parou para se perguntar por que as pessoas gostam de ler diálogos?
Porque diálogo é ação. É algo acontecendo. É dinâmico e move a história
adiante.

Descrições são estáticas.

3) Trama

É importante situar o leitor dentro de sua história. O que está acontecendo?


Quem quer o quê? Como a coisa avança?

De certa forma, uma trama bem resolvida gera um resumo apurado da história.

O Senhor dos Anéis é sobre um cara comum que quer destruir um anel mágico e
assim derrotar o senhor das trevas.

Guerra dos Tronos é sobre uma série de conflitos entre casas nobres enquanto
um antigo mal desperta no norte.

Star Wars é sobre um Jedi que quer livrar a galáxia do domínio de um império
opressivo.

Sobre o que é Os Senhores dos Dinossauros?

Tive dificuldade em compreender a trama geral e também em descobrir quais são


os objetivos dos personagens e o que os move adiante naquele mundo — esse
probleminha, diretamente ligado à falha na criação de personagens, vem nos
incomodar aqui também. Está vendo como as peças se conectam?

Dá para notar que Milán criou um cenário grandioso em sua cabeça, mas ele não
soube expressar isso em termos de trama. Ele quis passar complexidade por meio
de palavras difíceis, mistérios e uma penca de personagens centrais. O resultado
acabou sendo confuso.
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O livro poderia ter um ritmo muito mais agradável caso ele simplificasse,
cortasse personagens e tivesse um objetivo bem claro em mente.

O que podemos aprender com isso?

Que menos é mais e que, antes de partir para a complexidade, é bom ter certeza
que se compreende muito bem sobre o que é a sua história.

4) Tensão e Conflito

Não adiante negar, conflito é o motor da história. Ninguém quer ler um livro
onde tudo dá certo. Nós queremos desafios e sangue e suor e lágrimas. Queremos
coisas acontecendo e uma trama que avance. Queremos conflitos que façam
sentido dentro do universo criado.

Muitos capítulos de Os Senhores dos Dinossauros são desperdiçados com nada


acontecendo. Pelo menos nada de muito relevante. Temos capítulos inteiros
compostos por fofoquinhas, sem grandes perigos ou significados para a história.

Em outros momentos nos deparamos com lutas e obstáculos, mas os personagens


são tão magnânimos que não chegamos a temer por eles.

Há bons momentos, no entanto. A cena que abre o livro, com uma grande batalha
entre cavaleiros de dinossauros é interessante e diverte — o que mostra que Milán
tem o conhecimento técnico necessário para um bom livro. Talvez seu erro tenha
sido em complicar demais. Se ele tivesse feito um livro mais enxuto e direto, o
resultado teria sido outro.

O que podemos aprender com isso?

Que histórias são sobre conflitos — internos e externos. Caso as coisas estejam


muito calmas na sua trama, então algo está errado. Um olhar crítico, capítulo a
capítulo, e uma edição implacável podem fazer maravilhas para consertar uma
história morna. Mas eu bem sei que é mais fácil falar do que fazer!
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Os Senhores dos Dinossauros se revelou uma ótima ideia que não foi aproveitada
em todo o seu potencial. Um exemplo de como um investimento técnico poderia
gerar um resultado final melhor.

Claro que nem tudo está perdido. Como eu já disse, a ideia é muito boa e Milán
imaginou um cenário bastante rico. Eu tenho certeza que muita gente vai curtir a
obra, muito em função da criatividade de seu escritor. E tudo bem, isso é mais do
que válido. Mas não podemos fechar os olhos e simplesmente ignorar os deslizes
técnicos.

Tem um ditado que afirma que sábio é quem aprende com os próprios erros e
mais sábio ainda é quem aprende com os erros dos outros. Tenho certeza que
Milán está lendo as críticas ruins que tem recebido e usando-as para se tornar um
escritor melhor.

A gente pode fazer o mesmo!


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17.

VOCÊ NÃO PRECISA DE UMA EDITORA


PARA SER PROFISSIONAL: ESCREVENDO
PARA A AMAZON

Quando a Amazon anunciou que ia implementar o KDP (Kindle Direct


Publishing) – seu serviço de auto publicação digital – no Brasil, eu lembro de ter
sido impactado por sentimentos conflitantes. Por um lado eu estava realmente
empolgado com a ideia de ter uma ferramenta daquele tamanho ao meu dispor,
mas, por outro, eu estava muito preocupado de que se eu testasse aquilo, de
alguma forma eu seria um autor menor.

Pois é, havia (e ainda há) esse pensamento por aí. Tinha muita gente – autores,
leitores críticos, consultores e donos de editoras – que me diziam que o KDP da
Amazon não era um caminho viável. Que se eu entrasse naquela onda, as minhas
portas estariam fechadas no mercado tradicional.

Eu era mais novo e bem menos experiente. Então, o que eu fiz?

Eu gostaria de dizer que a famosa ousadia e curiosidade da juventude falaram


mais alto e que eu me joguei de cabeça na aventura.

Mas a verdade é que eu tomei o caminho do covarde.

Eu deixei o medo prevalecer.

Eu não publiquei nada por lá.

Shame on me!
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Mas a vida segue e eu continuei meu caminho. Estudei. Conheci gente. Aprendi
pra caramba. Só que sempre mantive um olhar atento ao novo universo de
ebooks que crescia ao meu redor.

Como um voyeur, eu acompanhava tudo de longe, sem nunca me envolver de


verdade.

Até que tudo isso mudou radicalmente e eu vou te falar o porquê:

1) Comecei a trabalhar com publicidade

Em 2014 eu mudei alguns rumos da minha vida e abracei de vez a publicidade


como parte de mim. Como resultado tive noites de sono mais curtas, um
consumo de café em progressão geométrica e uma crise renal, mas também
conheci gente que pensa diferente, que enxerga o futuro com outros olhos e que
está interessada em fazer as coisas, em deixar a sua marca por aí, ao invés de
esperar. É uma cultura diferente daquela com a qual eu estava acostumado e
chamou a minha atenção para o que estava acontecendo com criativos ao redor
do Brasil e do mundo.

Hoje eu me considero um escritor – e uma pessoa – muito mais completa e


certamente o convívio com gente legal tem uma imensa parcela de valor nisso
tudo.

2) Comecei a ler ebooks

Pode parecer inacreditável, mas eu não tinha prazer com a leitura digital até o
ano passado. Eu me sentava em frente ao monitor e lia arquivos em pdf meio que
na marra, me forçando a concluir a leitura. Não era a mesma sensação de me
esparramar no sofá com uma caneca de café ao lado e um livro cheiroso no colo.

Aí eu deixei de ser mão de vaca e resolvi fazer as coisas direito.


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Com um iPad mini e livros no formato mobi e epub, a coisa mudou totalmente de
figura. Eu simplesmente me apaixonei pelas possibilidades do dispositivo, como
sublinhar com um toque, mudar a luminosidade e a cor de fundo, alterar tamanho
da fonte e o espaçamento entre linhas. Enfim, era outra coisa. Descobri até que
minha leitura estava mais rápida, o que me fez ler mais livros por mês e me levou
ao terceiro ponto…

3) Eu aprendi com as histórias dos outros

Lendo o dobro do que eu normalmente lia por mês, eu comecei a expandir minha
cabeça e a absorver ideias novas. Ideias de pessoas que construíram o próprio
caminho como autores ou empreendedores de algum tipo. Essas pessoas queriam
controle criativo sobre aquilo o que criavam e por isso se dedicaram a construir a
própria carreira, sem a interferência (para melhor ou para pior) de intermediários,
como editoras.

É claro que o caminho não é fácil e também não é adequado para qualquer um.
Mas eu senti uma grande identificação com todas aquelas histórias, como se eu
fizesse parte daquela tribo. Até o estilo de escrita de ebooks (sim, tem diferença)
condizia mais com a minha maneira de escrever.

Aí a ficha caiu.

Aí eu resolvi chutar o balde e embarcar na onda da Amazon.

Olha só o que eu aprendi…

A responsabilidade é muito maior.

Você deve procurar formas de editar, corrigir e adequar a sua obra ao público-
alvo. Até a capa será sua responsabilidade (demorei pra aprender essa parte, mas
já estou com um designer fera mexendo nisso). Escorregue nesse quesito e a
crítica vai te matar. Bastam alguns comentários com nota baixa lá na área de
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avaliações do seu livro e já era. Sério. Então tenha o triplo de atenção e cuidado
com o produto final.

A velocidade é de impressionar.

Se você também já assinou contrato com editoras tradicionais, então sabe que
tudo demora muito tempo. São meses até eles avaliarem seu original, depois mais
um tempão para correção, aí testes e mais testes, aí se escolhe uma data de
lançamento, depois muda-se a data, nesse meio tempo pode acontecer algum
problema de calendário que adia tudo, até que, um ano (ou dois, ou três) depois, a
sua obra é finalmente publicada.

Com o KDP da Amazon a coisa é absurdamente veloz e você pode ter um livro à
venda algumas horas após a sua conclusão. Além disso, a plataforma oferece um
monte de relatórios bacanas sobre os seus resultados.

Não é magia. É tecnologia.

Você precisa ser ainda mais profissional

Como você viu até aqui, publicar na Amazon é fácil e rápido, o que não quer
dizer que deve ser feito sem se pensar muito a respeito.

Em uma editora tradicional, existe gente que avalia o seu livro, sugere alterações,
corrige, adequa… em outras palavras, tem gente que torna a sua obra mais
profissional.

Longe de uma editora tradicional, todo esse trabalho será seu.

Isso quer dizer que você terá que aprender sobre edição, sobre gramática, sobre
leitura crítica e, sim, sobre marketing. Sem falar no grau de desprendimento que
você terá que desenvolver para avaliar sua obra de maneira imparcial.
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Não é pra todos. Tem autor que quer apenas focar na escrita e se dedicar a
produzir o melhor livro possível, e tem todo o direito de pensar assim. Não há um
certo ou errado nesse caso.

Mas, se você quer maior liberdade, se a independência fala alto no seu âmago,
então a autopublicação na Amazon (ou similares) é uma ótima saída.

Antes de terminar esse texto, porém, eu quero passar adiante uma pérola de
sabedoria que serviu para me inspirar e para me manter com os pés no chão:

O que separa as obras nessa nova era da literatura não é o fato de serem ou não
publicadas por uma editora, mas o fato de serem ou não produzidas de forma
profissional.

Agora é fácil publicar um livro, mas a imensa maioria das obras jamais chegará a
ser lida por ninguém. Ficará no limbo do espaço virtual, abandonada e esquecida.
Não por não ter uma editora, mas por não ser profissional.

Então, se você quer trilhar o caminho do autor independente, aprenda o máximo


possível, contrate bons profissionais para fazer o que você não faz, pague por
uma boa capa e nunca pare de se aprimorar. Essa é a sua responsabilidade e a sua
obrigação. Leve a sério.

De resto… o mundo é seu. Vá tomá-lo!


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18.

O QUE O SEU LEITOR DESEJA?

Você já parou para se perguntar por que as pessoas leem livros de ficção? O que
elas procuram? O que, afinal, o seu leitor deseja?

A resposta é a mesma pra todo mundo:

Uma poderosa experiência emocional.

Nós lemos para sentirmos medo, paixão, ansiedade, alegria e toda a gama de
emoções ao alcance do ser-humano. E tudo isso na segurança e conforto da nossa
poltrona!

Por isso, é vital que você entenda a importância de se transmitir corretamente


uma poderosa experiência emocional ao seu leitor.

Preparei um vídeo explicando um pouquinho melhor esse conceito. Para assistir,


é só clicar aqui!
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19.

REPERTÓRIO E EMOÇÃO

Todo criativo sabe, ou pelo menos suspeita de forma instintiva, que a base para o
seu ofício está no repertório que ele cultiva ao longo da vida. As informações,
experiências, curiosidades, cultura e conhecimentos que ele captou agora lhe
servem como matéria-prima. Já falei um pouquinho sobre isso nesse vídeo.

Contudo, não podemos esquecer a razão principal que faz as pessoas lerem um
livro ou assistirem a um filme: a busca por uma poderosa experiência emocional.
Sim, é a emoção que guia a vida das pessoas e é a emoção que guia as histórias.
Esqueça essa falácia de que o homem é um ser majoritariamente racional (se isso
fosse verdade, não existiriam médicos fumantes). Nós somos risos, lágrimas,
angústias, medos e superação.

Durante a folga de final de ano (era fim de 2015) eu pude ler mais um livro sobre
técnica narrativa voltada à escrita e me deparei com o autor afirmando algo
bastante parecido. Deixo aqui o ensinamento com vocês:

Um elemento fundamental e impossível de se ensinar, uma ferramenta essencial


de um escritor, é a cultura, os conhecimentos gerais, uma experiência de vida
rica e variada. O escritor que possui um conhecimento extenso das obras de
Platão, Shakespeare, Tolstói, Dostoiévski, Proust e Hemingway, para citar
apenas uns poucos, conta com um recurso valioso de tramas, situações
dramáticas, percepções de natureza humana, metáforas requintadas e outros
usos brilhantes de linguagem.
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Em sua essência, no entanto, um romance é emoção.

-Albert Zuckerman, Writing The Blockbuster Novel

E aí, como você tem utilizado o seu repertório?

Informar e trazer conhecimento é importante, mas não esqueça de tocar o coração


do seu leitor.

Cultura e sentimento. Lembre-se disso!


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20.

ESCRITORES, COMECEM A JOGAR VÍDEO-


GAME

Esta é uma adaptação do texto de Tom Farr. Leia o original aqui.

Há algum tempo eu venho pensando que os escritores do futuro precisarão estar


muito ligados aos games. Da mesma forma como o cinema causou grandes
mudanças no jeito de se escrever literatura, eu acredito que o mesmo acontecerá
com os videogames. E então eu me deparei com esse texto muito bacana. Para
dividir a ideia com um maior número de pessoas, resolvi traduzir os pontos
principais e adicionar um ou outro comentário.

Em primeiro lugar, vale dizer para todos que não possuem o hábito de jogar, que
os games se desenvolveram ao longo das décadas e estão dando cada vez mais
importância para a narrativa. Mas, mesmo antes dessa revolução, os games que
se tornaram imortais já tratavam de histórias. Super Mario é um conto sobre um
encanador que deve salvar uma princesa, afinal de contas. Então, aí vai uma
listinha de coisas que você pode aprender com os videogames.

6 COISAS QUE ESCRITORES PODEM APRENDER COM


VIDEOGAMES

Escritores são, antes de mais nada, contadores de histórias. Eles precisam


aprender com todos os meios possíveis e os videogames não são exceção. Nem
só de livros, filmes e seriados de TV é feito o storytelling.
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1. Construção de mundos

Mundos são essenciais nos games. Desenvolvedores gastam meses — por vezes


anos — construindo o cenário da história. O mundo do jogo deve ser interessante
e estimular o jogador a explorá-lo, a conhecê-lo a fazer dele sua casa. Lembro
quando eu jogava The Matrix: Path of Neo. Eu gostava de apagar todas as luzes
da sala e então ligar o Playstation. A sensação era a de que eu estava entrando de
fato na Matrix e que aquilo era a minha realidade verdadeira. Nerdice, eu sei!

Escritores podem aprender como criar uma experiência de imersão mais


poderosa para os leitores ao fazer do cenário um elemento vital da história. Harry
Potter não seria a mesma coisa sem Hogwarts.

Se você quer criar uma experiência de imersão para a sua audiência, você
precisa gastar um tempo se dedicando a criar o mundo da história.

2. Histórias guiadas por conflito

Todo contador de histórias sabe que o conflito é o motor de toda trama. Sem
conflito, não há livro. O mesmo ocorre nos games. Na verdade, é o conflito que
faz os jogadores quererem jogar, pra começo de conversa. A ideia de derrotar um
mal que assola o mundo ou então proteger uma garotinha em meio a um
apocalipse zumbi é irresistível e trará as pessoas para mais.

O roteiro de games é um ótimo exemplo de como manter sua história focada em


conflito.

3. Personagens complexos e marcantes

Eu gostei muito de Diablo III. A trama é bacana, a mitologia interessante e os


personagens tem sua própria história. Eu jogava com o Bárbaro e, a certa altura
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do jogo, uma personagem que tentávamos ajudar acabou tendo o pior destino
possível. Recordo que foi preciso parar por um momento e me recuperar
emocionalmente do choque antes de continuar. Afinal de contas, aquela
personagem confiava em mim. Ela dependia de MIM! O envolvimento foi no
nível pessoal. Por quê? Porque era uma personagem bem construída.

Isso serve para dizer que, conforme os games evoluem, a profundidade dos
personagens também evolui. Roteiristas e escritores querem criar personagens
inesquecíveis, que gerem conexões nesse nível pessoal ao qual me referi acima.

4. Explore emoções

Se você realmente quer jogar um leitor dentro da história, você precisa apelar
para as emoções. Muitos roteiristas de games já perceberam isso e nos
presenteiam com cenas cheias de drama e angústia que ressoam nas nossas
emoções mais básicas como amor, raiva, frustração, coragem, etc.

Qualquer história que queira engajar sua audiência deve mergulhar nas emoções
dessa audiência.

5. Histórias que tratam de resolução de problemas

Em toda história o protagonista se depara com um problema e passa o resto da


trama tentando resolvê-lo. Ao longo do caminho ele encontra problemas menores
que também devem ser solucionados para que ele possa seguir adiante.

Videogames são essencialmente sobre resolução de problemas. Muitos games,


aliás, trazem verdadeiros quebra-cabeças que devem ser resolvidos pelos
jogadores antes de se avançar na história.

Quando você escreve um livro, uma das melhores formas de manter sua trama
indo para frente é criar problemas e deixar o protagonista descobrir formas de
lidar com eles. E nada de soluções óbvias. Você deve criar problemas que
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obriguem o seu protagonista a raciocinar fora da casinha para que seu público
não adivinhe o que vai acontecer.

6. Escreva com seu público em mente

A melhor estratégia que um contador de histórias pode aprender com os games é


a de criar uma trama com um público específico em mente.

Desenvolvedores de games passam muito tempo bolando um jogo que eles


esperam que muitas pessoas comprem e joguem por horas e horas. Eles querem
que a experiência seja boa. Eles querem que esse mesmo público volte para o
próximo jogo — e uma das formas de aumentar as chances disso acontecer é
conhecendo seu público, seus gostos e preferências.

E não é exatamente assim para nós, escritores?


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21.

6 COISAS QUE ESCRITORES DEVEM


APRENDER COM RPGS

Eu sou um escritor. Eu conto histórias na forma escrita. Esta foi a maneira que eu
escolhi para transmitir as tramas que crio na minha cabeça. É para isso que eu
escrevo, não porque sou apaixonado pela língua portuguesa ou pela gramática,
por figuras de linguagem, construções semânticas, etc, etc.

Veja bem, não há nenhum problema com as pessoas que amam profundamente a
linguagem — e em especial a escrita. Eu apenas não sou uma delas.

Eu escrevo para contar histórias. Simples assim.

Claro que quero contar a melhor história possível para o meu público e por isso
tento sempre me empenhar no aprendizado da escrita, mas a essência do que eu
faço está na história.

Sou apaixonado pela possibilidade de criar histórias. E se teve algo na minha


vida que me mostrou o quão incrível esta criação pode ser, foram os jogos de
RPG.

Comecei a jogar em 1994, com 11 anos de idade. Um amigo me apresentou o


incrível mundo cheio de elfos e guerreiros e magia e necromantes e dragões do
Dungeons & Dragons e foi o que bastou para eu ser fisgado. Com o tempo eu fui
da fantasia do D&D para o drama e politicagem de Vampiro: a Máscara para o
horror de Chtulhu para os exercícios de futurologia de Cyberpunk e de volta à
fantasia em uma nova edição do D&D.
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O RPG sempre fez parte da minha vida.

Para quem nunca ouviu falar desse tipo de jogo (o jogo de verdade, não as
versões computadorizadas), o RPG é uma história que se conta conjuntamente,
de forma colaborativa. Cada jogador assume o papel de um personagem
enquanto que um jogador especial veste o manto do Mestre — uma espécie de
diretor e roteirista que controla todo o universo, com exceção dos personagens
dos jogadores.

O RPG me é tão caro porque, no fim das contas, possui apenas um objetivo:
contar uma história bacana entre amigos.

Ao final da sessão de jogo, se tudo der certo, o grupo terá vivido uma trama
divertida, emocionante, dramática, cheia de aprendizados e momentos marcantes.
Todos terão crescido. E por todos eu digo personagens e jogadores. Não duvide
nem por um segundo que o que você vive na mesa de jogo é real.

Jogar é como entrar na Matrix, só que em sua própria imaginação.

Ao jogar RPG você vive uma história. E é por isso que eu acho que o jogo pode
ser um grande aliado para escritores.

Então, quero dividir com vocês algumas coisinhas que aprendi ao jogar e que me
ajudaram a me tornar um escritor melhor:

1) Criação de Personagens

Para jogar RPG é necessário criar um personagem, alguém em quem você se


transformará durante algumas horas semanais. Talvez seja um Senhor da Guerra
bárbaro, talvez um vampiro com problemas de consciência. Não importa. O que
importa é que, para ser divertido jogar com ele, você precisará criar um vínculo
emocional. Precisará desejar o que ele deseja, sofrer com suas derrotas e vibrar
com suas conquistas. Você precisará se identificar com ele e enchê-lo de vida.
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E não é assim nos livros?

O escritor precisa desenvolver a habilidade de se colocar no lugar dos


personagens que cria e enxergar o mundo por seus olhos. E que melhor forma de
praticar tal coisa do que com divertidas sessões semanais entre amigos?

Alguns personagens são marcantes e entram para a história. Outros são


rapidamente esquecidos. Ao jogar bastante você começa a notar os ingredientes
que constroem um personagem marcante. Depois é usar o que aprendeu e aplicar
no seu livro.

2) Ponto de Vista

Um jogador de RPG controla apenas o seu personagem. Ele está limitado às


habilidades, conhecimentos, perícias e percepção apenas daquele personagem.
Ele não pode se meter nas cenas dos outros personagens e muito menos
confundir aquilo que o jogador sabe com o que o personagem sabe. O
compromisso com a interpretação faz parte de um bom jogo de RPG.

O escritor que praticou esse tipo de exercício encontra muito mais facilidade na
hora de usar Ponto de Vista em seus livros.

Aos escrever um capítulo pelo Ponto de Vista de um personagem, o escritor não


pode extravasar a percepção daquele personagem sem assumir o risco de criar
uma quebra na concentração do leitor. Essa limitação é um dos principais
obstáculos para muitos autores, mas é superada de forma mais natural por
jogadores de RPG. Afinal, eles fazem isso como hobby.

Quer ver como um jogador de RPG manda muito bem quando o assunto é Ponto
de Vista? Leia um livro de George Martin (Game of Thrones). O velhinho é
jogador de RPG e sua habilidade com Pontos de Vista é exaltada no meio
literário.
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3) Criação de Mundos

Toda história precisa de um cenário e no RPG não é diferente. Na verdade, os


cenários dos jogos são um dos principais atrativos. Embora os jogos tragam uma
base bastante rica, os jogadores que assumem o papel de Mestre são incentivados
a personalizar a coisa toda de acordo com seu grupo. Depois de certo tempo, a
gente começa a desejar fazer mundos cada vez mais ricos e complexos. E é
maravilhoso de ver como eles ganham vida, modificam e são modificados pelos
personagens.

Alguns jogos de RPG são especialmente zelosos quanto à construção de cenário


e trazem dicas e técnicas valiosíssimas para qualquer criativo. Se você quer
aprender como se faz, talvez a resposta esteja em um livro de RPG (como este) e
não em um livro com técnicas de escrita tradicional.

4) Prática de Estrutura

Uma das atribuições do Mestre é criar o “roteiro”, um esqueleto da aventura que


o grupo construirá em conjunto. Cabe a ele dar ritmo, gerar acontecimentos
interessantes para manter todos envolvidos e pensar em obstáculos a serem
sobrepujados pelos heróis.

Ao preparar uma aventura de RPG, você se força a pensar em termos de


estrutura, imaginando os pontos mais importantes da história e refletindo sobre
onde inseri-los. Contudo, os “roteiros” de RPG possuem uma característica muito
especial: eles precisam ser passíveis de alteração, abertos o bastante para que a
história seja modificada de acordo com as ações tomadas pelos jogadores. O que
nos leva ao nosso próximo ponto.

5) Prática da Criação Instintiva


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As histórias construídas em sessões de RPG são formadas em tempo real, com a


atuação do grupo todo, e isso ocasiona mudanças constantes. O mestre deve ser
maleável e permitir que os personagens ajam com liberdade e contribuam para a
obra, mas ele também precisa ser ágil para criar de forma instantânea.

Veja bem, é muito comum que, durante o jogo, os jogadores decidam fazer
coisas que o Mestre não previu enquanto escrevia o “roteiro”. Isso levará a
história por novos rumos. E é bom que isso aconteça, é uma das graças de se
jogar RPG. Um mestre que obrigue os jogadores a seguirem um rumo pré-
determinado não estará fazendo seu trabalho direito.

Para garantir a alegria, o Mestre deve aprender a criar pelo instinto e ter
raciocínio rápido. A única forma de se fazer isso é praticando e praticando e
praticando. Quanto mais se joga, melhor fica o jogo. E melhor fica o mestre. E
melhor fica o escritor. Esta habilidade, uma vez desenvolvida, ajuda a vencer o
tão temido bloqueio de escritor.

6) Melhorar Repertório

Finalmente, jogar RPG vai ajudar a aumentar o seu repertório. E, como eu já


disse neste vídeo, repertório é essencial para qualquer criativo.

Os jogos de RPG abordam assuntos interessantíssimos e ajudam a abrir a cabeça


para muitos temas e livros. Ao jogar, você vai querer saber mais sobre história,
cultura medieval, mitologia, religião, ciência e, claro, técnica de construção de
histórias.

Por isso, se você nunca jogou RPG, dê uma chance. Converse com entusiastas do
jogo por aí — eles estão espalhados por todos os cantos. Veja o que a experiência
pode fazer pelo escritor em você.
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Já se você costumava jogar e parou porque a vida adulta não te dá mais tempo
livre, pense neste texto como um incentivo para retomar o hobby. No fim das
contas, a gente nunca terá tempo se não nos dermos tempo. Transforme o seu
encontro semanal com amigos ao redor da mesa em uma prioridade.

E se você joga… bom, então você sabe bem do que estou falando. Role um d20!
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22.

COMO ESCREVER PARA CRIANÇAS

Ultimamente alguns dos meus leitores têm me perguntado sobre como escrever
para crianças.

Muito embora eu goste bastante de livros na categoria YA (Young Adult) e


acredite que todos devemos ler livros infantis de tempos em tempos, esta não é
uma área em que eu tenha especial contato – ou habilidade. Contudo, ao longo
dos anos eu tive a sorte de reunir alguns ensinamentos que, acredito, podem ser
bastante úteis para quem quer trilhar esse caminho cheio de magia e descobertas.

Vamos começar esclarecendo algumas coisas:

Muita gente acredita que as tramas voltadas a crianças devem ser simplificadas
de alguma maneira, como se elas não fossem capazes de compreender estruturas
como os 3 Atos (começo, meio e fim).

Isso é besteira.

O storytelling está ligado à nossa espécie desde o princípio das formações


sociais. Nós sobrevivemos até aqui, em grande parte, graças à nossa habilidade
de contar/ouvir histórias. É como uma segunda natureza. Tão natural quanto
correr ao ver um leão vindo em nossa direção ou salivar ao sentir o cheiro de
uma fruta suculenta. Nós compreendemos a nossa existência nesse mundo por
meio de histórias.

Por isso, não se engane: crianças são perfeitamente capazes de acompanhar uma
narrativa com começo, meio e fim.
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Não há porque não aplicar aqui o conhecimento que você adquiriu sobre histórias
de forma geral.

Dito isso, livros que têm a criançada como público-alvo precisam, sim, de uma
atenção diferenciada em certos pontos.

Em primeiro lugar, faça um exercício de empatia e se coloque no lugar de uma


criança.

A maneira como ela enxerga as coisas ao redor é bem diferente. Muita coisa
ainda é novidade e o que pareceria ordinário para um adulto, para ela pode ser
um grande mistério. O mundo ainda é um lugar de maravilhas a ser explorado.

Pense também em quais são os principais medos e desafios para pessoinhas


daquela idade. Talvez a escola ainda assuste. Quem sabe ter que ficar longe da
mãe durante oito horas diárias seja uma grande luta. Use a sua imaginação para
descobrir quais temas são relevantes para o seu público e pense em formas
interessantes de abordá-los.

Não se preocupe muito caso algumas coisas lhe pareçam clichê ou comuns.
Lembre-se que você já teve décadas de experiência de vida – sem contar milhares
de filmes, livros e seriados de TV na bagagem –, mas que quase tudo parecerá
inovador para um infante.

Mostre um mundo de extremos: preto e branco, bem e mal, luz e trevas. Ainda
não é a hora de se explorar tons de cinza. E nunca esqueça: os bandidos nunca
devem vencer… ao menos ainda não.

Os personagens devem gerar identificação, o que muitas vezes significa


protagonistas crianças ou com características infantis. Mas muito cuidado nesse
ponto: personagens crianças não são pequenos adultos bobos. Eles são ativos,
engraçados e perfeitamente capazes de realizar grandes feitos.

Todos temos qualidades e defeitos. Até mesmo os heróis.

A magia existe e explica muitas coisas!


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Coisas assustadoras de vez em quando são bem-vindas, mas elas jamais devem
tocar no corpo da criança.

E já que estamos falando sobre o que NÃO fazer… nunca, jamais, em hipótese
alguma use o seu livro para dar uma lição de moral ou uma bronca na criançada.
Elas vão perceber o seu intuito e não vão gostar nem um pouquinho.

Também não faça com que os adultos sejam os responsáveis por resolver todos
os problemas dos heróis infantis. Eles podem guiar e ajudar, mas permita que os
protagonistas lidem com obstáculos e os superem por conta própria.

Além disso tudo, tenha em mente que crianças ainda não possuem uma grande
capacidade de concentração. Por isso, você terá que caprichar ainda mais na
edição.

Exclua toda frase que não servir para avançar a trama.

Nada de diálogos muito longos.

Mantenha a ação, mantenha o movimento.

Palavras simples. Parágrafos curtos.

Muito, mas muito cuidado com excessos descritivos.

Procure manter um mesmo ponto de vista ao longo de toda a história.

Quando fizer uma mudança no espaço ou no tempo (ou uma mudança entre
capítulos), analise se a transição está fácil de ser captada. Se não estiver,
retrabalhe. A criança deve ser capaz de entender de onde veio e para onde está
indo.

Bom, essas são apenas algumas dicas sobre a maravilhosa e encantadora arte de
se escrever para o público infantil. Claro que elas não exaurem o assunto – e nem
tem a pretensão disso –, mas acredito que sirvam como uma base sobre a qual
trabalhar.
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O conselho mais importante que posso deixar é o de realmente se colocar no


lugar de uma criança lendo o seu livro. Faça esse exercício ao longo da sua
escrita e a construção ocorrerá de forma muito mais segura.

Procure ler livros infantis também. Assim você entrará no clima certo e
aprenderá formas de se abordar os assuntos que agradam a esse público.

Interessante notar como muito do que eu disse aqui também se aplica à escrita
destinada a adultos. Acho que só reforça o argumento que somos todos
contadores de histórias, afinal, não importando nossa idade.

Caso tenha gostado do conteúdo e esteja decidido a seguir como um escritor para
crianças, busque maiores informações sobre o assunto. Entenda que diferentes
faixas de idade terão diferentes necessidades e peculiaridades... e que talvez você
precise explorar um pouquinho até achar o seu nicho.

Mas não há problema algum nisso. Na verdade, tenho certeza que será uma
brincadeira gostosa e cheia de aventuras.

Boa viagem à Terra do Nunca!


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23.

COMO AVALIAR UM LIVRO EM 5 PASSOS

Recentemente me perguntaram como eu faço para avaliar um livro. Como eu


faço para saber se ele é mesmo bom ou ruim e se tem algo a me acrescentar?

Olha só, a questão é um pouco complexa, pois sei muito bem que existe uma alta
carga de subjetividade aí. Contudo, se tem uma coisa que a “história das
histórias” nos mostra é que, há, sim, uma certa lógica que nos revela se um livro
vale a pena ou não.

Sendo assim, usando essa lógica como apoio e levando em conta o que eu acho
que há de mais importante ao consumir uma história (a Experiência do Usuário),
concluí que sigo um roteirinho na hora de fazer análise. Aí vai, para quem achar
válido:

1. Comece pela ideia.

É boa? Criativa? Original? Dá vontade de ler mais a respeito?

2. Avalie como a ideia é executada no aspecto macro (trama).

O livro flui ou é travado? Os personagens geram empatia? A trama empaca?


Como são os pontos de virada? A história prende?

3. Avalie como a ideia é executada no aspecto micro (capítulos).


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Como eles começam e terminam? Você sente a tensão? Há possibilidade de


conflito no ar? Há muita variação de ponto de vista no mesmo capítulo? Como o
autor faz descrições?

4. Junte tudo, prestando muita atenção nos melhores e piores destaques do


livro.

Como foi a sua experiência como leitor? Como usuário daquela história? Boa ou
ruim? Esqueça os detalhezinhos e preste atenção no livro como um todo. Qual é
o gosto que fica na sua boca?

5. Aprenda.

Pegue o livro que você acabou de ler e estude tudo o que funcionou, tudo o que
você achou positivo. Depois faça o mesmo com todos os aspectos negativos.
Afinal, você não vai querer cometer aqueles mesmos erros, não é?

E é isso! Nesse vídeo eu falo sobre o assunto de uma forma um pouquinho mais
detalhada.
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24.

LIVRO VS. EBOOK: NESSA BRIGA QUEM


PERDE É VOCÊ

Li um texto muito bom da Camila Cabete sobre essa briguinha que existe entre
entusiastas dos livros físicos e fãs de livros digitais e resolvi levantar algumas
questões.

Ao que parece, a venda de ebooks na Amazon dos Estados Unidos caiu, pela
primeira vez, desde o lançamento do formato. Este fato fez um bocado de gente
sair soltando fogos por aí e celebrando o “fim” do tão terrível ebook.

Em primeiro lugar, celebrar a queda da venda de livros, em qualquer que seja o


formato, é de uma estupidez tremenda.

Em segundo lugar, essa queda não quer dizer que os ebooks vão acabar.

Vamos analisar os pontos com calma.

Quando o formato do livro digital foi anunciado, muita gente torceu o nariz, com
medo de que o já difícil mercado do livro tradicional entraria em colapso.

Eu me incluo nesse grupo.

Demorei muito para finalmente dar uma chance ao ebook porque, para mim,
existia toda uma mística por trás das páginas de papel, do cheiro do livro, da
textura da capa.

Mas aí chegou um ponto em que eu finalmente me rendi. E isso ocorreu por


vários motivos: falta de espaço físico em casa, preço mais em conta,
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possibilidade de conhecer novos autores que não tinham vez em editoras


tradicionais, facilidade de entrega (como sou ansioso, adoro essa história de ter o
livro no meu iPad com apenas um clique) e experiência de leitura.

Sim, experiência de leitura.

Desde que abracei o ebook tenho lido uma quantidade maior de livros e de forma
muito mais rápida. Consigo sublinhar os trechos que mais gosto com um
movimento do dedo indicador e depois encontro esses trechos com grande
facilidade.

É perfeito para os livros de não-ficção.

Para os de ficção, ainda prefiro os livros físicos. Eles me ajudam a relaxar, a me


desconectar e a ter uma experiência sensorial diferente. É uma espécie de
meditação.

Assim eu vi que livros físicos e digitais não precisavam competir, mas poderiam
se complementar no que dizia respeito a atender minhas necessidades como
leitor.

E é por isso que acho muito estúpido celebrar a queda dos ebooks.

As pessoas que estão felizes pelo movimento descendente das vendas dos livros
digitais parecem não entender que não são os ebooks que estão se retraindo, mas
os leitores.

Essa queda de vendas quer dizer que há menos gente lendo – ou interessada em
ler. E isso, pra quem trabalha com a escrita, é uma droga. Isso afeta a todos nós,
quer você publique de forma digital ou física.

No fim das contas, somos escritores. Devemos nos importar mais com o
conteúdo dos livros do que com a forma como são distribuídos ou lidos.

Mas calma que nem tudo é desgraça.


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Esse lance de ter menos gente comprando livros digitais nos Estados Unidos não
quer dizer que a indústria vai entrar em crise ou acabar. Nada disso. É apenas um
movimento normal de um mercado maduro que agora encontrou seu equilíbrio.

Os americanos consomem muitos livros. Muitos. Não vou nem comparar com o
Brasil porque nisso a gente perde de lavada. E, quando os ebooks apareceram, os
americanos embarcaram na brincadeira de cabeça.

Faça a experiência: entre na Amazon dos EUA e veja os números de


comentários, avaliações e vendas. Depois compare com a Amazon aqui do
Brasil.

Os americanos estão na nossa frente e isso é inegável. O que aconteceu agora é


que, após anos com um mercado crescendo sem parar, a coisa deu uma
estagnada. Devemos ficar de olhos nos números dos próximos anos, claro, mas
eu duvido que o ebook acabe. Duvido mesmo!

E outra: aqui no Brasil nós estamos longe de chegar no nível americano de leitura
ou venda de livros. Ainda temos muito para crescer antes de pensarmos em
quedas. Nosso mercado editorial digital ainda é infante e cheio de falhas, e temos
que trabalhar juntos para consertá-las.

O ebook pode ser um grande aliado. Ele facilita o acesso a leitura, dá espaço a
novos autores e até mesmo resgatou um formato literário que andava bastante
esquecido devido à relação custo X benefício de sua produção em formato físico
– a novela.

Bom, já estou me alongando mais do que pretendia. O que quero dizer com isso
tudo é que nós, amantes de livros, não devemos tomar lados. Não devemos torcer
pelo livro digital ou pelo livro físico, mas pelo livro… em qualquer forma que ele
exista. O que precisamos fazer é trabalhar em prol da leitura, estimular mais
gente a vir nessa onda, treinar escritores e lutar para garantir livros mais baratos e
acessíveis a todos.

Estamos todos no mesmo barco, afinal de contas.


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UM ÚLTIMO PEDIDO
Se você gostou desta obra, por favor, deixe uma avaliação na Amazon.
Avaliações são extremamente importantes na carreira de escritores de livros
digitais e serei muito grato por esse seu gesto.

Mesmo comentários curtos e simples como “Gostei deste livro” serão de grande
ajuda.

Para avaliar, é só clicar AQUI.

Obrigado e até a próxima!

Veja mais trabalhos do autor em www.nanofregonese.com.br

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