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Amigos são importantes para o desenvolvimento do comportamento moral de

crianças e adolescentes de muitas maneiras. Quando crianças encontram-se em uma


situação problema que envolve uma tomada de decisão, a discussão entre amigos pode ser
valiosa. Eles expõem suas ideias e ouve o ponto de vista dos outros.

A amizade predispõe a criança a se preocupar com as necessidades de um amigo,


estimulando-a voltar sua atenção para outras pessoas, e assim, agir com empatia. As origens
da empatia podem ser vistas no começo da primeira infância. Bebês de 2 e de 3 meses reagem
às expressões emocionais dos outros. (Tomasello, 2007). As pesquisas em neurobiologia
recentemente identificaram células especiais do cérebro chamadas neurônios espelhos, que
podem ser a base da empatia e do altruísmo. Ao “espelharem” as atividades e motivações dos
outros, permitem que se veja o mundo do ponto de vista da outra pessoa. A empatia depende
da cognição social e do nível de autoconsciência da criança. A empatia geralmente surge mais
cedo em crianças cujas famílias conversam bastante sobre sentimentos e causalidade.

As diferentes formas de influência social exercida por amigos ocorrem desde a


infância. As crianças vão usar estratégias para influenciar colegas e fazer amigos, seja isso
algo cooperativo quanto coercitivo.

Uma amizade pode acabar não pela presença ou ausência de conflitos, mas por
inadequações na forma como é manejada. O conflito é natural nas relações sociais,
depende muito de como é feita a resolução de conflitos. A forma de lidar com conflitos
afeta o relacionamento. Isso requer habilidade social, negociações que vão garantir a
estabilidade nos relacionamentos.

Para que a amizade seja mantida é preciso haver reparação do dano e


reconciliação. Um importante fator para que o individuo se torne mais e mais capaz de
resolver seus conflitos, é o adequado desenvolvimento de competência social; Isso vai
implicar na capacidade do indivíduo fazer amigos e ser aceito.
Da mesma forma, as amizades podem influenciar os relacionamentos de irmãos.
Irmãos mais velhos que experimentaram um bom relacionamento com um amigo antes do
nascimento de um irmão provavelmente tratarão seus irmãos mais novos melhor e pouco
provavelmente desenvolverão comportamento antissocial na adolescência

Discriminar os comportamentos adequados ou desviantes de seus amigos e


importante para que crianças e adolescentes possam selecionar com quem terão maior
convívio. A qualidade da amizade e também fator importante. Amizades de alta
qualidade contribuem positivamente para o desenvolvimento individual em fatores como
autoestima, ajustamento, capacidade de enfrentamento ao stress. Em adolescentes, fatores de
comportamento pró-social estão relacionados com a presença de amizades com alta qualidade,
bem como o inverso: a inexistência de amizades de alta qualidade relaciona-se com a
presença de comportamentos antissociais.

Os relacionamentos não ocorrem apenas entre pares de amigos, mas também


entre os grupos que o indivíduo pertence. Juntando-se a um grupo, o indivíduo aumenta seu
poder de conseguir reforço. Assim, as consequências obtidas pelo sujeito, quando associado a
um grupo, excedem, em muito, aquelas obtidas em esforço individual, justificando as
associações que indivíduos fazem ao longo de suas vidas.
De acordo com Bock
Os grupos sociais são pequenas organizações de indivíduos que, possuindo objetivos
comuns, desenvolvem ações na direção desses objetivos. Para garantir essa
organização, possuem normas; formas de pressionar seus integrantes para que se
conformem às normas (2001, pág. 182)

O desejo de pertencer ao mesmo grupo leva a similaridades no comportamento


agressivo de amigos; O grupo de pares pode alimentar tendências antissociais. Crianças pré-
adolescentes são especialmente suscetíveis à pressão para ajustar-se ao grupo. Naturalmente,
um certo grau de conformidade aos padrões do grupo é saudável. Não é saudável quando se
torna destrutivo ou incita jovens a agir contra seus melhores julgamentos. Geralmente é na
companhia dos pares que algumas crianças cometem pequenos furtos e começam a usar
drogas.
A agressividade pode resultar da combinação de uma atmosfera familiar estressante e
não estimulante, disciplina severa, falta de afeto materno e de apoio social, exposição a
adultos agressivos e violência urbana e grupos iguais transitórios, que impedem amizades
estáveis

A manutenção dos grupos leva a sancionar e reforçar certos padrões de


comportamento como agressividade. Por outro lado, existe a correlação positiva entre
amizade e comportamentos pró-sociais;
Bowlby descreveu a importância das primeiras relações para o desenvolvimento,
que deram origem à teoria do apego. Segundo essa teoria, o ser humano herda um potencial
para desenvolver determinados tipos de sistemas comportamentais, como sugar, sorrir, chorar,
seguir com os olhos.
De acordo com Papalia (2013) entre 3 e 5 anos, crianças de apego seguro
provavelmente são mais curiosas, competentes, empáticas, resilientes e autoconfiantes, têm
um melhor relacionamento com outras crianças e formam amizades mais íntimas do que
aquelas de apego inseguro.

Como em qualquer forma de relacionamento humano, as amizades podem ser


fonte de decepções e conflitos, contudo, as pesquisas citadas mostram que ela esta mais
fortemente relacionada a comportamentos próssociais como cooperação, companheirismo,
proteção social, fatores que são facilitadores do desenvolvimento de comportamentos morais
como empatia, solidariedade e generosidade, os quais são inibidores de comportamentos
antissociais.

Os efeitos positivos da amizade no desenvolvimento de comportamentos próssociais e


morais mostram que ela pode ser uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento de uma
sociedade mais solidária e cooperativa.

REFERÊNCIAS

Bock, A. M. B. & Furtado, O. , & Teixeira, M. L. T. (2001) Psicologias. Uma introdução ao


estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva.

Gomide, P. I. C. (2010). Comportamento moral: uma proposta para o desenvolvimento das


virtudes. Curitiba: Juruá.

Papalia, Diane E. (2013). Desenvolvimento humano. 12ª ed. Porto Alegre : AMGH.

Tomasello, M., Carpenter, M., & Liszkowski, U. (2007). A new look at infant pointing. Child
Development, 78, 705–722.

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