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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

INTERFERÊNCIA DA TONTURA NA QUALIDADE DE VIDA DA CRIANÇA -


RELATO DE CASO

Fernanda Carla Cordeiro (UNOPAR)


Juliana Jandre Melo (UNOPAR)
Luciana Lozza de Moraes Marchiori (UNOPAR)
Daiana Cristina Bondezan (UNOPAR)

RESUMO

A tontura e a instabilidade corporal são os sintomas de alteração do equilíbrio corporal que


surgem quando ocorre o conflito das informações vestibulares, visuais e proprioceptivas.
Podendo afetar a habilidade de comunicação, o estado psicológico e o desempenho escolar da
criança interferindo na sua qualidade. OBJETIVOS: descrever os resultados obtidos à
aplicação do DHI brasileiro em criança com vestibulopatia FORMA DE ESTUDO: relato de
caso. MATERIAL E MÉTODO: um paciente avaliado na Clínica de Fonoaudiologia da
Universidade Norte do Paraná com queixa de tontura e hipótese diagnóstica de síndrome
vestibular periférica submeteram-se ao questionário DHI brasileiro, com idade de 12 anos
RESULTADOS: foi detectado prejuízo na qualidade de vida no paciente avaliado, devido à
tontura, principalmente nos aspectos funcionais avaliados pelo DHI brasileiro.
CONCLUSÕES: o paciente com tontura crônica e hipótese diagnóstica de síndrome
vestibular periférica apresentou prejuízo na qualidade brasileiro. de vida, em relação aos
aspectos físicos, funcionais e emocionais, avaliados à aplicação do DHI o que mostra a
necessidade dos profissionais da área de saúde estarem atentos quanto a importância do
diagnóstico e tratamento da vertigem para a melhoria da qualidade de vida da criança com
esta alteração.

INTRODUÇÃO

A tontura é um sintoma muitas vezes esquecido ou desprezado na anamnese da criança. Essa


queixa pode associar-se a várias outras afecções, muitas vezes diferindo daquelas encontradas
em adultos. É em função dessa dificuldade que pediatras, neurologistas e até
otorrinolaringologistas não estão atentos para a presença de quadros vestibulares na infância
(MEDEIROS, et. al., 2003).
As dificuldades existem devido à própria idade do paciente, que não informa, ou o faz às
custas de dados parciais e inconclusivos, sobre seus sintomas (MEDEIROS et. al., 1999).
A tontura e a instabilidade corporal são os sintomas de alteração do equilíbrio corporal que
surgem quando ocorre o conflito das informações vestibulares, visuais e proprioceptivas. A
disfunção vestibular na criança costuma afetar a habilidade de comunicação, o estado
psicológico e o desempenho escolar (GANANÇA, et. al., 1999).
As vestibulopatias na infância não são tão raras como se supõe, seu diagnóstico é difícil pela
diversidade de sintomas que as crianças apresentam, muitas vezes, as crianças não entendem a
tontura como um sintoma .anormal. e têm dificuldades para referir o desconforto. Na maioria
Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

dos casos a criança refere um comportamento aparentemente interpretado como de dor, crise
histérica ou birra.
A vertigem na criança é de grande interesse, por se tratar de uma manifestação que envolve
patologias muito importantes, assim, se estas forem diagnosticadas precocemente poderão ser
tratadas de forma adequada, evitando uma série de repercussões possíveis no
desenvolvimento cognitivo e motor da criança (LAVINSKY et. al., 1999).
O cerúmen ou corpos estranhos acarretam obstrução parcial ou total do meato acústico
externo podendo causar tonturas e sintomas associados, por perturbação sensorial devido à
pressão exercida sobre a membrana timpânica. E as otites médias agudas podem alcançar a
orelha interna causando também crises de labirintite supurativas graves, e podem
comprometer gravemente as funções auditiva e vestibular, além do risco de meningite e outras
infecções do Sistema Nervoso Central (GANANÇA e GANANÇA, 1998).
Os testes do sistema vestibular não são particularmente sensíveis ou específicos para
demonstrar a interferência psicológica no quadro clínico e no sofrimento do paciente com
tontura (YARDLEY, 1992).
É raro haver sincronismo entre o mal-estar causado pela vertigem e os resultados dos testes
que fazem parte da avaliação otoneurológica ( HALLAM et. al. 1998,1991).
Avaliar a qualidade de vida (QV) do paciente com a sua rotina alterada, devido à presença de
sintomas vestibulares pode contribuir para estabelecer o tratamento mais adequado.
Atualmente, a preocupação com o impacto que a doença ou a intervenção do profissional da
saúde causa na QV do indivíduo é muito grande (FIELDER et. al., 1996).
Existem dois tipos de questionários que podem ser utilizados para a avaliação de QV: os
questionários específicos para determinadas doenças ou partes do corpo, que são os preferidos
pelos clínicos, e os genéricos, que avaliam a saúde geral do indivíduo.( FIELDER et. al.,
1996)
Em 1990, JACOBSON E NEWMAN (1990) elaboraram e validaram um questionário
específico para tontura, o Dizziness Handicap Inventory (DHI), com o objetivo de avaliar a
auto-percepção dos efeitos incapacitantes impostos pela tontura. Estes autores afirmaram que
o DHI requer pouco tempo para ser aplicado e os resultados obtidos mostraram-se de fácil
análise e interpretação, trazendo informações úteis para o planejamento e a realização do
tratamento da tontura.
A quantificação dos efeitos dos tratamentos medicamentosos, cirúrgicos ou de reabilitação era
muito difícil. Afirmaram que os testes convencionais para o diagnóstico são inadequados para
avaliar os efeitos incapacitantes impostos pelas doenças do Sistema Vestibular. Investigar a
QV de modo sistematizado por meio de questionário traduzido e adaptado à língua utilizada
em cada país é de fundamental importância. A adaptação cultural deste instrumento é
fundamental para a utilização na população de um determinado país, que tem sua língua, seus
hábitos e costumes ( GUILLEMIN et. al., 1993).
O DHI é o único questionário traduzido para a aplicação na população brasileira, até a
presente data, com o objetivo de avaliar os prejuízos da QV em pacientes com
tontura,denominado DHI brasileiro.
Muitos estudos mostraram a importância de se avaliar os prejuízos da QV em pacientes
vertiginosos com o intuito de quantificar os efeitos impostos pela vertigem nas funções de
vida diária, além de auxiliar na escolha do tratamento e avaliação do mesmo.(YARDLEY et.
al., 1992; YARDLEY L e PUTMAN, 1992; HAZLETT RL, 1996; CUNHA, 2003).
Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

Os objetivos desta pesquisa será descrever os resultados obtidos à aplicação do DHI brasileiro
em criança de 12 anos para observar o impacto da vertigem sobre a qualidade de vida.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo transversal do paciente J.V.B que apresenta queixa VPPB e outras
alterações como distúrbio de déficit de atenção (DDA).
Foi avaliado no ambulatório de vertigem da clínica escola da instituição.
Com o objetivo de descrever o caso foram realizadas:
- Inicialmente a criança foi submetida a anamnese padrão acompanhada do seu responsável
onde foram coletadas informações relativas a queixa da criança, antecedentes
pessoais,sintomas associados, história de doenças pregressas e hábitos pessoais.
Dados da anamnese:
Identificação: J.V.B ; 12 anos; sexo masculino; solteiro.
Queixa: tontura (instabilidade/ desequilíbrio), sensação de flutuação, sensação de cabeça oca
ou pesada, escurecimento da visão, fadiga e falta de concentração.
Este paciente respondeu ao questionário DHI brasileiro, (HAZLETT, 1996; CUNHA, 2003)
adaptado culturalmente para a língua portuguesa utilizada no Brasil. Este questionário avalia a
interferência da tontura na qualidade de vida dos pacientes e é composto por vinte e cinco
questões. As questões 01, 04, 08, 11, 13, 17 e 25 avaliam o aspecto físico, as questões 02, 09,
10, 15, 18, 20, 21, 22 e 23 avaliam o aspecto emocional e as questões03, 05, 06, 07, 12, 14,
16, 19 e 24 avaliam o aspecto funcional.
Os resultados obtidos foram tabulados e, desta forma, obteve-se o perfil dos aspectos mais
afetados para o paciente: físico, emocional ou funcional. As respostas dadas pelo paciente
recebeu a seguinte pontuação: as respostas “sim” receberam quatro pontos, as respostas “não”
não foram pontuadas (zero ponto), e as respostas “às vezes” receberam dois pontos.
O escore total, bem como, os escores específicos de cada aspecto (físico, funcional e
emocional) foram computados. Desta forma, o maior escore total obtido corresponde a cem
pontos, situação em que se observa um prejuízo máximo causado pela tontura; e o menor,
zero ponto, que revela nenhum prejuízo devido à tontura, na vida do paciente. Da mesma
forma, avaliando-se cada aspecto individualmente, quanto maior o escore, maior o prejuízo
causado pela tontura (CASTRO, 2003; GANANÇA, et. al. ,2003).

RESULATDOS E DISCUSSÃO

O paciente apresentou prejuízo na qualidade de vida por causa da tontura, nos aspectos
avaliados pelo DHI brasileiro. Os escores totais e dos aspectos físicos, funcionais e
emocionais obtidos à aplicação do DHI brasileiro encontram-se descritos no Quadro 1.
Os testes convencionais utilizados para o diagnóstico das alterações do sistema vestibular são
insuficientes para avaliar todos os efeitos limitantes e/ou incapacitantes, impostos pela
tontura.
Desta forma, disponibilizar um instrumento para avaliar a qualidade de vida dos indivíduos
que sofrem de vertigem e/ou outras tonturas, é muito importante para os profissionais da
saúde envolvidos com o tratamento do paciente.
Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

O questionário já traduzido e adaptado culturalmente à população brasileira foi aplicado no


paciente com tontura crônica e hipótese diagnóstica de síndrome vestibular periférica, para
avaliar a interferência da tontura na qualidade de vida deste paciente.
Quadro 1. Resultados obtidos quanto aos aspectos físicos,emocionais e funcionais e escore
total, na aplicação do DHI brasileiro no paciente com tontura crônica.

Escores dos aspectos físicos,funcionais e emocionais obtidos à aplicação do DHI


brasileiro
FI FU EM Total
J.V.B 08 18 14 40
Legenda: FI -aspectos físicos
FU- aspectos funcionais
EM- aspectos emocionais
Total- escore total

O paciente desta pesquisa afirmou em suas respostas ao DHI brasileiro limitação quanto às
atividades sociais. Estas atividades referem-se aos aspectos funcionais avaliados pelo DHI.
Estes resultados são concordantes com as afirmações de Yardley, Putman (1992), que
descreveram que muitos pacientes com tontura deliberadamente restringem as atividades
físicas, viagens e reuniões sociais, com o intuito de reduzir o risco de aparecimento destes
sintomas desagradáveis.
Os aspectos funcionais averiguados pelo DHI brasileiro investigaram a interferência da
tontura em determinados movimentos dos olhos, da cabeça e do corpo, porém com enfoque na
capacidade de desempenhar as atividades profissionais, domésticas, sociais, de lazer, e na
independência ao se realizar determinadas tarefas como caminhar sem ajuda e andar pela casa
no escuro.
Os aspectos emocionais avaliados pelo DHI brasileiro também se mostraram comprometidos
pela tontura no paciente, indicando acometimento da estrutura mental do paciente que
apresenta alteração do sistema vestibular.
Este fato está de acordo com autores que verificaram que os pacientes com alterações no
sistema vestibular muitas vezes apresentam ansiedade associada a ataques de pânico, medo de
sair sozinho e sentimentos de despersonalização, ressaltando a relação entre as alterações
vestibulares e os aspectos emocionais (PRATT, MACKENZIE, 1958; LEAVY,O’LEARY,
1947; NOBBS, 1988; GRISBY, JOHNSTON, 1989)
Os aspectos emocionais do DHI brasileiro investigaram a possibilidade da tontura ter
prejudicado a qualidade de vida dos pacientes gerando frustração, medo de sair
desacompanhado ou ficar em casa sozinho, vergonha de suas manifestações clínicas,
preocupação quanto à auto-imagem, distúrbio de concentração, sensação de incapacidade,
alteração no relacionamento familiar ou social e depressão.
Os aspectos físicos do DHI brasileiro avaliaram a relação entre o aparecimento e/ou piora do
sintoma tontura e os movimentos dos olhos, da cabeça e do corpo nos pacientes. O
aparecimento de tontura em determinadas posições ou movimentos da cabeça é muito comum
e pode ocorrer, por exemplo, em pacientes com vertigem posicional paroxística benigna, a
mais comum das vestibulopatias. Outras vertigens posturais podem se manifestar com tontura
à inclinação do corpo. Estímulos visuais (corredores de supermercado, obstáculos na calçada,
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movimentos de transeuntes) podem provocar ou agravar a tontura e também são pesquisados


pelo DHI brasileiro. O paciente com tontura crônica e hipótese diagnóstica de síndrome
vestibular periférica apresentou prejuízo na qualidade brasileiro. de vida, em relação aos
aspectos físicos, funcionais e emocionais, avaliados à aplicação do DHI .

REFERENCIAS

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