Você está na página 1de 9

Resumo

Desenvolvimento
neuropsicomotor
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 2

1. Introdução

O termo “desenvolvimento” tem sido o mais utilizado para abranger vários


aspectos interligados que caracterizam a evolução dinâmica do ser humano a partir de
sua concepção e resultam da interação entre a influência biológica da própria espécie e
do próprio indivíduo, sua história e seu contexto sociocultural. Do ponto de vista
biológico, o sucesso do desenvolvimento depende da integridade dos vários órgãos e
sistemas, principalmente o nervoso. Este cresce e amadurece sobretudo nos primeiros
anos de vida, portanto, nesse período, é mais vulnerável aos agravos e às adversidades
das condições ambientais, mas também, por sua grande plasticidade, é nessa época que
a criança melhor responde aos estímulos que recebe e às intervenções. O estudo do
desenvolvimento compreende alguns domínios de função interligados que se
influenciam entre si, são eles: sensorial, motor (dividido em habilidades grosseiras e
finas), da linguagem, social, adaptativo, emocional e cognitivo.

A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja,
os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for
estimulada ou motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso do
seu desenvolvimento.

2. Avaliação
A avaliação deve ser um processo contínuo de acompanhamento das atividades
relativas ao potencial de cada criança, com vistas à detecção precoce de desvios ou
atrasos. Essa verificação pode ser realizada de forma sistematizada por meio de testes.
A Caderneta de Saúde da Criança fornecida pelo Ministério da Saúde dispõe do
instrumento de vigilância para o acompanhamento dos marcos do desenvolvimento de
zero a 3 anos de vida. Além disso, com base na presença ou ausência de alguns fatores
de risco e de alterações fenotípicas, a caderneta orienta para tomadas de decisão.

É fundamental o conhecimento do contexto familiar e social (se gestação


planejada ou não, fantasias da mãe durante a gestação, quem é o cuidador, como é a

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 3

rotina e quais mudanças nas relações familiares ocorreram após o seu nascimento), dos
fatores de risco para distúrbios do desenvolvimento, da opinião da mãe em relação ao
desenvolvimento do filho e observar durante todo o atendimento o comportamento da
família e da criança (quem traz, como é carregada, sua postura, seu interesse pelo
ambiente e interação com as pessoas e o vínculo com a mãe).

Na primeira etapa de vida, a avaliação deve ser feita mês a mês, seguindo as
instruções de como pesquisar o marco do desenvolvimento por faixa etária. Caso
aconteça falha em alcançar algum marco, deve-se antecipar a consulta seguinte, e iniciar
uma investigação quanto ao ambiente em que a criança vive e a sua relação com os
familiares. O objetivo inicial é orientar a família a estimular a criança, com foco em
atividades que a ajudem a superar as dificuldades observadas. A persistência de atrasos
do desenvolvimento por mais de duas consultas, indica a necessidade de encaminhar a
criança para um serviço de maior complexidade e estimulação precoce
neuropsicomotora, essenciais ao prognóstico favorável.

Consultas preconizadas Aspectos do desenvolvimento da criança de 0 a 10 anos


Entre 1 e 2 meses: predomínio do tônus flexor, assimetria postural e preensão reflexa
Reflexos:
• Apoio plantar, sucção e preensão palmar: desaparecem até o 6º mês
• Preensão dos artelhos: desaparece até o 11º mês
• Reflexo cutâneo plantar: obtido pelo estímulo da porção lateral do pé. No RN, desencadeia
extensão do hálux. A partir do 13º mês, ocorre flexão do hálux. A partir desta idade, a extensão é
15 dias patológica.
• Reflexo de Moro: medido pelo procedimento de segurar a criança pelas mãos e liberar bruscamente
seus braços. Deve ser sempre simétrico. É incompleto a partir do 3º mês e não deve existir a partir
do 6º mês.
• Reflexo tônico-cervical: rotação da cabeça para um lado, com consequente extensão do membro
superior e inferior do lado facial e flexão dos membros contralaterais. A atividade é realizada
bilateralmente e deve ser simétrica. Desaparece até o 3º mês.
Entre 1 e 2 meses: percepção melhor de um rosto, medida com base na distância entre o bebê e o seio
1 mês
materno.
Entre 2 e 3 meses: sorriso social.
Entre 2 e 4 meses: bebê fica de bruços, levanta a cabeça e os ombros.
2 meses
Em torno de 2 meses: inicia-se a ampliação do seu campo de visão (o bebê visualiza e segue objetos com o
olhar).
Aos 4 meses: preensão voluntária das mãos.
4 meses Entre 4 a 6 meses: o bebê movimenta a cabeça na direção de uma voz ou de um objeto sonoro.
Aos 3 meses: o bebê adquire noção de profundidade.
Em torno dos 6 meses: inicia-se a noção de “permanência do objeto”.
A partir do 7º mês: o bebê senta-se sem apoio.
6 meses
Entre 6 e 9 meses: o bebê arrasta-se, engatinha.
Entre 6 e 8 meses: o bebê apresenta reações a pessoas estranhas.

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 4

Entre 9 meses e 1 ano: o bebê engatinha ou anda com apoio.


9 meses
Em torno do 10º mês: o bebê fica em pé sem apoio.
Entre 1 ano e 1 ano e 6 meses: o bebê anda sozinho.
12 meses
Em torno de 1 ano: o bebê possui a acuidade visual de um adulto.
15 meses Entre 1 ano e 6 meses a 2 anos: o bebê corre ou sobe degraus baixos.
Entre 2 e 3 anos: o bebê diz seu próprio nome e nomeia objetos como seus.
Em torno dos 2 anos: o bebê reconhece-se no espelho e começa a brincar de faz de conta (atividade que
2 anos deve ser estimulada, pois auxilia no desenvolvimento cognitivo e emocional, ajudando a criança a lidar com
ansiedades e conflitos e a elaborar regras sociais).
Entre 2 e 3 anos: os pais devem começar aos poucos a retirar as fraldas do bebê e a ensiná-lo a usar o penico.
Entre 3 e 4 anos: a criança veste-se com auxílio.
Entre 4 e 5 anos: a criança conta ou inventa pequenas histórias.
O comportamento da criança é predominantemente egocêntrico; porém, com o passar do tempo, outras
crianças começam a se tornar importantes.
A partir dos 6 anos: a criança passa a pensar com lógica, embora esta seja predominantemente concreta.
De 4 a 6 anos Sua memória e a sua habilidade com a linguagem aumentam.
Seus ganhos cognitivos melhoram sua capacidade de tirar proveito da educação formal. A autoimagem se
desenvolve, afetando sua autoestima.
Os amigos assumem importância fundamental.
A criança começa a compreender a constância de gênero. A segregação entre os gêneros é muito frequente
nesta idade (meninos “não se misturam” com meninas e vice-versa).
A partir dos 7 anos: a criança começa a desenvolver o julgamento global de autovalor, integrando sua
autopercepção, “fechando” algumas ideias sobre quem ela é e como deve ser etc.
De 7 a 9 anos
A influência dos pares (amigos, colegas da mesma idade) adquire grande importância nesta etapa da vida,
enquanto a influência dos pais diminui.
A partir dos 10 anos: ocorrem mudanças relacionadas à puberdade e há um estirão de crescimento (primeiro
10 anos
nas meninas, em torno dos 11 anos, depois nos meninos, em torno dos 13 anos).
Tabela 1: Aspectos do desenvolvimento da criança de 0 a 10 anos

3. Desenvolvimento motor
O recém-nascido (RN) possui padrão motor muito imaturo, com a presença do
reflexo tônico cervical assimétrico, que lhe confere postura assimétrica, com
predomínio do tônus flexor nos membros e intensa hipotonia na musculatura
paravertebral. Seus movimentos são, geralmente, reflexos, como sucção, preensão
palmar, plantar e da marcha, que passarão em poucos meses a ser atividades
voluntárias. Outros, como o reflexo de Moro e o tônico cervical assimétrico,
desaparecerão em breve, sendo que não devem persistir no 2º semestre de vida.

Durante os primeiros meses, há uma diminuição progressiva do tônus flexor e


substituição pelo padrão extensor na direção craniocaudal. A partir do 2º semestre,
não ocorre mais predomínio de padrão flexor ou extensor, e assim, a criança, por meio

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 5

de alternância entre os tônus, consegue primeiramente, rolar e, posteriormente, já


tendo dissociado os movimentos entre as cinturas escapular e pélvica, consegue
mudar da posição deitada para sentada.

A regra do desenvolvimento motor é que ocorra no sentido craniocaudal e


proximodistal e, por meio de aquisições mais simples para mais complexas. Assim, a
primeira musculatura a ser controlada é a ocular. Depois, há o controle progressivo da
musculatura para a sustentação da cabeça e depois do tronco. Durante o 3º trimestre,
a criança adquire a posição ortostática. O apoio progressivo na musculatura dos braços
permite o apoio nos antebraços e as primeiras tentativas de engatinhar, mas algumas
crianças andam sem ter engatinhado, sem que isso indique algum tipo de
anormalidade.

O desenvolvimento motor fino se dá no sentido proximodistal. Ao nascimento,


a criança fica com as mãos fechadas na maior parte do tempo, no 3º mês as mãos
ficam abertas por período maior de tempo, e as crianças conseguem agarrar os
objetos, embora ainda sejam incapazes de soltá-los. Entre o 5º e o 6º mês, conseguem
apreender um objeto voluntariamente e iniciam o movimento de pinça. A partir dos 2
anos, o contexto cultural em que a criança se insere passa a ter uma influência maior
e, consequentemente, também há maior variação entre os marcos.

4. Desenvolvimento sensorial
Deve-se indagar se a criança focaliza objetos e os segue com o olhar e se prefere
o rosto materno. No exame dos olhos, deve-se estar atento ao tamanho das pupilas,
pesquisar o reflexo fotomotor bilateralmente e o reflexo vermelho. A audição inicia-se
por volta do 5º mês de gestação, portanto, ao nascimento, a criança já está familiarizada
com os ruídos do organismo materno e com as vozes de seus familiares. Deve-se
perguntar se o bebê se assusta, chora ou acorda com sons intensos e repentinos, se é
capaz de reconhecer e se acalmar com a voz materna e se procura a origem dos sons.

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 6

Quanto à interação social, o olhar e o sorriso, presentes desde o nascimento,


representam formas de comunicação, mas, entre a 4ª e a 6ª semana de vida surge o
“sorriso social” desencadeado por estímulo, principalmente pela face humana. Já no 2º
semestre de vida, a criança não responde mais com um sorriso a qualquer adulto, pois
passa a distinguir o familiar do estranho. Assim, a criança pode manifestar um amplo
espectro de comportamentos que expressam o medo e a recusa de entrar em contato
com o estranho.

Relativo à linguagem, durante os primeiros meses de vida, o bebê expressa-se


por meio de sua mímica facial e, principalmente, pelo choro. Entre o 2º e o 3º mês, a
criança inicia a emissão de arrulhos e, por volta do 6º mês, de balbucio ou sons bilabiais,
cujas repetições são realizadas pelo simples prazer de se escutar. Entre 9 e 10 meses,
emite balbucios com padrão de entonação semelhantes à linguagem de seu meio
cultural. A primeira palavra, na maioria dos idiomas, corresponde a um encontro silábico
reconhecido que se inicia com sons de m, n, p, d ou t, como “mama”, “papa” e “dada”.
A linguagem gestual também aparece no 2º semestre de vida e é fruto da significação
dada pelos adultos do seu meio. Nessa fase, é comum a criança apontar e obedecer aos
comandos verbais como bater palmas, acenar e jogar beijinhos. Por volta dos 12 meses
de idade, surgem as primeiras palavras denominadas palavras-frase. Aos 18 meses, a
criança inicia frases simples e, a partir daí, ocorre um grande aumento em seu repertório
de palavras. Nessa fase, também começa o diálogo com troca de turnos (criança fala e
depois aguarda a resposta do outro para nova interferência).

5. Fatores de risco e alterações físicas


Os fatores de risco são:

• Ausência ou pré-natal incompleto;

• Problemas na gestação, parto ou nascimento;

• Prematuridade (idade gestacional < 37 semanas);

• Peso abaixo de 2.500g;

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 7

• Icterícia grave;

• Hospitalização no período neonatal;

• Doenças graves, como meningite, traumatismo craniano e convulsões;

• Parentesco entre os pais;

• Casos de deficiência ou doença mental na família;

• Fatores de risco ambientais, como violência doméstica, depressão materna,


drogas ou alcoolismo entre os moradores da casa, suspeita de abuso sexual etc.

As alterações físicas são:

• Perímetro cefálico:

o Recém-nascidos (RN) meninas com 37 semanas ou mais PC < 31,5 cm

o RN pré-termo PC < -2 desvios-padrão

• Presença de alterações fenotípicas

o Fenda palpebral oblíqua

o Olhos afastados

o Implantação baixa de orelhas

o Lábio leporino

o Fenda palatina

o Pescoço curto e/ou largo

o Prega palmar única

o 5º dedo da mão curto e recurvado

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 8

6. Orientações para a tomada de decisão

Dados da avaliação Classificação Conduta


Perímetro cefálico < -2 escores z ou >
+2 escores z, ou presença de 3 ou
mais alterações fenotípicas, ou Provável atraso no desenvolvimento ✓ Referir para avaliação neuropsicomotora
ausência de 2 ou mais marcos para a
faixa etária anterior
Ausência de 1 ou mais marcos para a 1. Orientar sobre a estimulação da criança
Alerta para o desenvolvimento 2. Marcar retorno em 30 dias
sua faixa etária
Todos os marcos para a sua faixa
Desenvolvimento adequado com ✓ Informar sobre os sinais de alerta
etária estão presentes, mas existem 1
fatores de risco
ou mais fatores de risco
1. Elogiar a mãe/cuidador
2. Orientar para que continue estimulando
Todos os marcos para a sua faixa a criança
Desenvolvimento adequado 3. Retornar para acompanhamento
etária estão presentes
conforme a rotina do serviço de saúde
4. Informar sobre os sinais de alerta

Referências bibliográficas

1. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. Barueri, SP : Manole,


2017.
2. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Cadernos de Atenção
Básica, n° 33. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
3. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Pediatria do
Comportamento e Desenvolvimento. Caderneta de Saúde da Criança Instrumento e
Promoção do Desenvolvimento: como avaliar e intervir em crianças. 2017.
4. Ministério da Saúde. Caderneta de Saúde da Criança: Menina. 12ª edição. Brasília:
2018.

www.sanarflix.com.br
Resumo de Desenvolvimento Neuropsicomotor 9

www.sanarflix.com.br

Você também pode gostar