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Saber deste elemento talvez nos faça um alerta: embora o filme possa ser
compreendido como uma história regular, ele possui camadas que dizem muito
mais do que parece à primeira vista. (Pensar, por exemplo, no simbolismo da
cor vermelha).
Não é à toa que os sonhos e sua linguagem tenham papel tão importante na
narrativa de Le Belle Dejour. É tendo acesso a eles que podemos tentar de
alguma forma dar sentido ao que move a jovem e bela Séverine.
Séverine, a quem Catherine Deneuve empresta seu rosto e sua beleza fria,
distante e misteriosa, parece ter tudo o que uma mulher burguesa do nossos
dias poderia querer aspirar: juventude, beleza, elegância, belas roupas, um
marido rico que a ama, é educado e compreensivo (o cirurgião Dr. Pierre). No
entanto, de alguma forma ela sente que há algo de errado com este lugar. É
uma mulher perdida (como ela mesma diz em certo momento) e que não
consegue ter uma vida íntima com o marido.
Talvez mais importante que isso, Séverine não consegue encontrar um lugar
em seu próprio corpo e sua própria sexualidade, temendo-a, praticamente
ilustrando a postura que a sociedade, quanto mais pudica, assume diante dos
instintos sexuais, suprimindo-os.