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DANO MORTE
INTRODUÇÃO
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2. Delimitação do estudo
4 Cfr. www.dsgi.pt
5 MENEZES CORDEIRO, António. Direito das Obrigações. Vol. II, p. 283.
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4. Objectivos do estudo
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precioso da humanidade.
5. Hipóteses
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um dano moral nessas mesmas pessoas (...). o cônjuge, os filhos ou os pais podem, pois,
pedir uma indemnização pela morte de um parente (...)”8.
MENEZES CORDEIRO, quando se debruça da problemática do dano morte, aceite
que a morte é um dano e, como tal, “ (...) a supressão do bem vida acarreta um dano não
apenas para a vítima, mas para outros membros da comunidade, nomeadamente para
aqueles face aos quais a vida da vítima seja protegida. (...) Se a morte dá lugar a um dano
imputável face à própria vítima, em termos de originar responsabilidade civil, é evidente
que o direito à indemnização se transmite aos sucessores. Duvida-se, no entanto, da
existência de tal dano. Porque:
- a morte sobrevém com a extinção da personalidade da vítima; consequentemente,
esta já não seria pessoa, em termos de poder sofrer danos. (...)”9.
No Direito das Sucessões, uma das questões que têm sido discutidas liga-se à
necessidade de saber se, as pessoas elencadas no n.o 2 do artigo 496.o do Código Civil
(cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e aos filhos ou outros descendentes,
na falta destes, aos pais ou outros ascendentes, e por último, aos irmãos ou sobrinhos que
os representem) e a sua ordem, não estaria a prescrever para este direito, uma hierarquia
sucessória diversa da comum10.
Note-se que a responsabilidade civil, neste caso, pela morte do lesado, resulta,
necessariamente, por factos ilícitos, na maioria, ou na totalidade, atendíveis no Direito
Penal, e, como tal, classificados por ilícitos criminais.
No geral, os debates sobre a indemnizabilidade ou não dos danos não patrimoniais,
maxime, o dano pela perda de vida, surgem ligados à actuação do Direito Criminal, em
resposta a um ilícito criminal de justiça, o que não seria de estranhar o facto de ser a
jurisprudência criminal que trata destas questões, embora com relevância total no âmbito
do Direito Civil.
Neste sentido, o tema do presente relatório – dano morte – há-de ser enquadrado no
âmbito da Disciplina de Direito Civil, mormente, o Direito das Obrigações, cuja sede é o
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7. Metodologia
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8. Referencial teórico
11 Processo nº 264/2001 – C.
12 Processo nº 45/89 – 1.ª.
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Naquele ordenamento jurídico tem sido discutido, ultimamente, nos tribunais, não a
possibilidade de indemnização daqueles danos, mas o valor irrisório que tem sido fixado
para os danos sofridos pelos familiares da vítima com a sua morte e os sofridos pela vítima
antes de morrer. E, quanto ao dano morte, por razões ético-sociais, os valores fixados não
tem sido objecto de contestação” 13.
No ordenamento jurídico brasileiro, a jurisprudência e a doutrina começaram por
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negar a indemnização do dano pela perda de vida. Por exemplo, o aresto de 23 de Julho de
1952 (RF, 93/506) do Supremo Tribunal Federal, afirmava que “a indenização por morte de
filho menor, não se provando que prestava alimentos aos pais, consiste simplesmente no
correspondente aos funerais e luto da família, abrangendo as despesas de tratamento da
vítima, quando se tenha verificado”14. Noutro sentido, o Acórdão do Tribunal de Justiça de
São Paulo, reafirma que “De acordo com a tradição do nosso direito, de acordo com o texto
expresso da lei, de acordo com a lição dos doutrinadores e torrencial jurisprudência dos
Tribunais, nos casos de homicídio a obrigação limita-se à prestação de alimentos, não
sendo devido o ressarcimento da lesão, a título de danos morais (LACERDA DE
ALMEIDA, Obrigações, p. 328; LAFAYETE, Direito das Coisas, p. 473; (…); acórdãos
que se encontram na RT, 73/193-74/375-75/66 e 78/543 (...)”.
Desta forma, no Brasil, a construção jurisprudencial tem sido no sentido da
indemnização pela morte de filhos menores, em decorrência de acto ilícito, que se inspirou
no princípio da reparação do dano moral. Reconhece Sílvio RODRIGUES que “(...). É,
pode-se dizer, uma forma obliqua de se atingir a reparação do dano moral, dadas as reações
que suscita o pleno reconhecimento do instituto”15.
8.2. Sistematização
14 Cfr. RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil – Responsabilidade Civil. Vol. IV, Editora Saraiva, 2000, pág.
195.
15 Idem, pág. 198.
16 Luís Manuel Teles de. Direito das Obrigações. Vol. I, Almedina, 2005, pág. 313.
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PARTE I
MORTE COMO DANO
O dano constitui um dos pressupostos da responsabilidade civil, pois sem ele, seria
contra-senso falar-se, no âmbito da responsabilidade civil, do dever de indemnizar. A noção
de dano pode ser estudada em várias perspectivas. À partida, e em termos naturalísticos,
entender-se-ia por dano “(..) a supressão de uma vantagem de que o sujeito beneficiava”17.
Todavia, o sentido naturalístico não é concludente para uma boa análise jurídica
com vista a construir uma teoria geral do dano. Para o efeito, o Professor MENEZES
LEITÃO propõe uma simbiose entre os sentidos fáctico e normativo para a definição do
dano juridicamente, e di-lo da seguinte maneira: dano é “(...) a frustração de uma utilidade
que era objecto de tutela jurídica”18.
Nesta mesma linha, o Professor MENEZES CORDEIRO define dano,
juridicamente, como sendo “ (...) a supressão ou diminuição duma situação favorável que
estava protegida pelo Direito”19.
Segundo o Prof. Vaz SERRA, dano é “todo o prejuízo, desvantagem ou perda que é
causado nos bens jurídicos, de carácter patrimonial ou não”20.
Na fórmula do Prof. Pereira COELHO, “por dano pode entender-se, por um lado, o
prejuízo real que o lesado sofreu in natura, em forma de destruição, subtracção ou
deterioração de um certo bem corpóreo ou ideal. Dano será, por exemplo, a perda ou a
deterioração de uma certa coisa, o dispêndio de certa soma em dinheiro para fazer face a
uma despesa tornada necessária, o impedimento da aquisição de um determinado bem, a
dor sofrida”21.
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Para o Prof. ANTUNES VARELA, “dano é a perda in natura que o lesado sofreu,
em consequência de certo facto, nos interesses (materiais, espirituais ou morais) que o
direito violado ou a norma infringida visam tutelar”22.
Das noções atrás analisadas resulta claro que o dano consiste numa diminuição no
todo ou em parte de uma vantagem, utilidade ou uma situação favorável a que o Direito
atribuiu certos efeitos jurídicos.
Assim, a situação da existência de dano se vai construindo segundo uma tríade - o
lesado, o lesante e o bem jurídico que sofreu a lesão. Desta forma, será o lesado que
suporta o prejuízo na sua esfera resultado de actuação ilícita do lesante, encontrando-se
aquele na obrigação de indemnizar os danos por ele causados à esfera jurídica do lesado.
Nesta trilogia, como é possível que a morte – perda de vida de um sujeito de direito
– constitua dano?
É que tudo se passa, normalmente, da seguinte maneira: há um sujeito capaz de
direitos e obrigações que sofre um dano, e é ele que é o sujeito da indemnização que o
lesante vai ser coagido pelo Direito a ressarcir. Ora no caso da morte do lesado, como
considerar o fenómeno que extingue a personalidade jurídica como dano ou melhor o que
extingue o lesado, torna-se dano.
Para o Prof. MENEZES CORDEIRO, a resposta é afirmativa, pois, “ (...) a vida
representa uma vantagem, um bem, (…). E representa um bem com conotações
patrimoniais e morais, amplamente protegido pelo Direito. Simplesmente, pela natureza
intrinsecamente social do homem, a vida de uma pessoa não é, apenas, um bem pessoal de
cada um, antes beneficiando, além do próprio, todos os elementos da comunidade,
principalmente os mais próximos – pais, filhos, cônjuge, etc. Nessa dimensão social, o bem
da vida é, também, tutelado. Resulta daqui que a supressão do bem vida acarreta um dano
não apenas para a vítima, mas para outros membros da comunidade, nomeadamente para
aqueles face aos quais a vida da vítima seja protegida”23.
Para este autor, a vida, sendo uma vantagem, um bem, a sua lesão de que provém a
morte, consubstancia dano quer para a vítima, quer para os seus próximos.
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direito à indemnização por danos não patrimoniais cabe, em conjunto, ao cônjuge (…)”,
quer, necessariamente, dizer que quando o direito à vida sofre danos e traz consigo a
consequência morte, como não é possível à vítima receber ou reclamar a indemnização dos
danos que sofreu em vida, porque destituída de personalidade jurídica, este direito ingressa,
por direito próprio à pessoas referidas naquele número. Como refere LEITE DE CAMPOS,
“ (…) a lei não quis apontar a morte como facto ao qual tenham de se referir causalmente
os danos não patrimoniais”26.
Mas tal não ocorre porque se pretenda indemnizar o dano morte. O que se pretende
indemnizar são os danos não patrimoniais sofridos pela vítima antes de morrer. É, por isso,
que o Prof. GALVÃO TELLES refere que “normalmente, quando alguém é morto, sofre,
ainda que a morte seja imediata, dor física, angústia que proveio da consciência do risco da
lesão eminente”27.
A lei continua afirmando que “ (…) no caso de morte, podem ser atendidos não só
os danos não patrimoniais sofridos pela vítima, como os sofridos pelas pessoas com
direito a indemnização nos termos do número anterior”. Com isto, a lei não quis dizer que
tais danos incluíam a morte, mas tão somente os danos que vão desde o cometimento do
acto ilícito até à cessação das funções vitais da vítima, isto é, até à perda da personalidade
jurídica que marca o termo da vida e o início da morte.
Regra geral, o dano não patrimonial é sofrido pela vítima, pessoa que tem o direito
de receber a devida indemnização pelo prejuízo sofrido e não aos seus familiares. Ora, em
caso de dano pela perda de vida, o prejuízo é sofrido pela vítima, só que, sendo fatal a
lesão, são chamadas as pessoas elencadas no número 2 do artigo 496.o.
A parte final do número citado pode criar outra impressão, quando diz que “ (…)
como os sofridos pelas pessoas com direito à indemnização (…). Neste caso concreto, a lei
não classificou a morte como dano, tão somente acautelou todas aquelas situações
desvantajosas que aquelas pessoas podem ter sofrido pela lesão do direito à vida,
nomeadamente, as de a vítima, por exemplo, em vida, ser a única fonte de sustento da
família, prestar alimentos, ser o único filho do casal, porque aqui, a perda do direito à vida
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teria frustrado expectativas de alegria dos pais, de ter um filho que lhes dê netos e a
expectativa de continuidade da família.
Como expende ANTUNES VARELA “No caso especial da lesão ou agressão
mortal, a morte é um dano que, pela própria natureza das coisas, se não verifica já na esfera
jurídica do seu titular”28.
A consideração doutrinal da morte como dano representa um desvio à teoria geral
do dano. Com efeito, em caso de lesão que provenha a perda de vida, o lesado como tal
desaparece, aparecendo as pessoas referidas no número 2, subrogadas, como lesadas.
É, quanto a nós, incompreensível considerar, como tal, a morte como dano. Como
compreender a morte como dano se quem sofre danos é quem está vivo?
Em primeiro lugar, a morte é uma consequência da perda de um direito, o direito à
vida, independentemente de o facto causador ser ou não ilícito e causado por outrem ou
pela natureza das coisas. Temos que todo o homem morre. Se a morte fosse dano, então
toda a sociedade, em particular, os mais próximos das vítimas sofreriam danos. Porém, a
diferença entre esses danos estaria no que a morte causada por facto ilícito seria
indemnizável e a outra, que é natural, seria dano não indemnizável.
Em princípio, é necessário esclarecer que a morte é um fenómeno natural inerente à
dinâmica da própria vida. Independentemente da causa, a morte é a extinção do sujeito de
direito. A morte, como elemento definidor do fim da pessoa, não pode ser considera, em si,
como dano.
Em segundo momento, o sofrimento ou os prejuízos são sofridos pela vítima antes
de morrer, mesmo que se diga que há morte instantânea, por exemplo, se for a bala, esta
atinge, primeiramente, a epiderme, os membros circundantes dos membros vitais e depois o
membro vital, ocorrendo daí a morte, como consequência da perda da vida. Isto é assim
porque “A seguir ao acto ilícito, verifica-se um dano que não é ainda a morte; mas é um
dano que virtualmente irá conduzir à morte, contendo esta já em potência; é, por assim
dizer, o primeiro passo ou uma antecipação da morte”29.
É difícil precisar o exacto momento da morte porque ela não é um facto
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O artigo 496.o do Código Civil tem como epígrafe “ Danos não patrimoniais”, em
contraposição dos danos patrimoniais.
Esta contraposição nasce da necessidade de diferenciação entre aqueles danos que
podem ser avaliáveis pecuniariamente (traduzido numa abstracta diminuição do
património) e dos que, na doutrina francesa se designam de danos morais (não
patrimoniais), insusceptíveis de avaliação pecuniária ou medida monetária e que dizem
respeito aos direitos de personalidade, sendo que a sua reparação só pode alcançar-se por
via de compensação.
Como escreve MENEZES LEITÃO, a diferença entre os danos patrimoniais e não
patrimoniais reside no que “ Os primeiros são aqueles que correspondem à frustração de
utilidades susceptíveis de avaliação pecuniária, como na hipótese da destruição de coisas
pertencentes ao lesado. Os segundos são aqueles que correspondem à frustração de
utilidades não susceptíveis de avaliação pecuniária, como o desgosto resultante da perda
de um ente querido. A distinção entre danos patrimoniais e não patrimoniais não tem por
isso a ver com a natureza do bem afectado, mas antes com o tipo de utilidades que esse
bem proporcionava e que se vieram a frustrar com a lesão”31.
A distinção assenta na natureza dos interesses ofendidos. Assim, nos danos
patrimoniais temos interesses de ordem material e nos danos não patrimoniais, interesses
de ordem espiritual.
O artigo 496.o como tal não discrimina os tipos de danos não patrimoniais, estes
vão resultar da análise do conteúdo do artigo.
Desta forma, teremos que este artigo inclui os seguintes danos não patrimoniais:
• dano pela perda do direito à vida ou dano de que proveio a morte;
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PARTE II
A questão de ressarcibilidade dos danos não patrimoniais constitui, de per si, uma
vexata quaestio, em que alguma parte da doutrina repugna a sua aceitabilidade. Ora, mais
complexo se vai tornar a aceitabilidade de indemnização do dano pela perda de vida,
partindo-se da sua eventual autonomização dos restantes danos não patrimoniais.
As teses que repugnam a indemnização dos danos não patrimoniais partem do facto
de que “ (...) o dinheiro, de um lado, e as dores físicas ou morais, os vexames, as inibições,
os complexos criados por certas deformações estéticas, do outro, são grandezas
heterogéneas. Não há possibilidade de apagar (indemnizar) com dinheiro os malefícios
desta natureza. (...). Além disso, ainda que se pretendesse não indemnizar, mas compensar,
estes danos não patrimoniais, seria sempre muito difícil, senão praticamente impossível,
fixar, sem uma larga margem de arbítrio, a compensação correspondente a cada caso
concreto”36.
Ainda na senda das teses negativistas, umas reputam de imoral, se não escandalosa,
discutir-se em juízo os sentimentos mais íntimos, bem como a dor experimentada por uma
pessoa e derivada de acto ilícito praticado por outrem. Estas teses destacam como
argumentos as seguintes situações37:
a) a falta do efeito durável do dano meramente moral;
b) a dificuldade em descobrir-se a existência do dano;
c) a indeterminação do número de pessoas lesadas;
d) a impossibilidade de uma rigorosa avaliaçãoem dinheiro da extensão do dano
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não patrimonial;
e) o ilimitado poder que se tem de conceder ao juiz para avaliar o montante
compensador do dano não patrimonial.
Não é admissível que os sofrimentos morais dêem lugar à reparação pecuniária, se
deles não decorre nenhum dano material.
Para obviar estas teses, a favor da ressarcibilidade dos danos morais, a doutrina
optimista entende que, embora o dinheiro e as dores morais ou físicas sejam, de facto,
grandezas heterogéneas, a prestação pecuniária a cargo do lesante, além de constituir para
este uma sanção adequada, pode contribuir para atenuar, minorar e de algum modo
compensar os danos sofridos pelo lesado, embora se reconheça que não existe uma
intenção de pagar ou indemnizar o dano, muito menos o intuito de facultar o comércio com
valores de ordem moral, havendo apenas o intuito de atenuar um mal consumado38.
Relativamente aos argumentos acima alinhados acerca da negação da
indemnizibilidade dos danos não patrimoniais, o Prof. Sílvio RODRIGUES ensina,
criticando, que “(...) a circunstância de um evento danoso não ter efeito permanente não
ilide a existência de um prejuízo nem o mister de repará-lo. A indenização variará coforme
a mágoa tenha maior ou menor duração”39.
A dificuldade relativa à descoberta do alcance do dano não pode proceder pois
estamos em face de uma questão de prova em foro, valendo como tal em matéria de danos
morais, quanto patrimonial. “O juiz terá sempre em vista o quod plerumque accidit, o que
habitualmente acontece. Será ordinariamente difícil negar a dor que experimenta um pai
que perde um filho ou o sofrimento daquele que vê um ser querido mutilado”40.
A dificuldade em determinar o número de lesados pode ser decisivo, contudo, a lei
limitou a legitimidade processual para somente as pessoas indicadas no artigo 496.o do
Código Ciivil.
De facto, o argumento mais decisivo prende-se com a impossibilidade de rigorosa
avaliação em dinheiro, mas como a doutrina proclama, o dinheiro provocará na vítima uma
sensação de prazer, de desafogo, que visa compensar a dor, provocada pelo acto ilícito.
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lesão.
A segunda é que, no caso de agressão ou lesão ser mortal, toda a indemnização
correspondente aos danos morais (quer sofridos pela vítima, quer pelos familiares mais
próximos) cabe, não aos herdeiros por via sucessória, mas aos familiares por direito
próprio, nos termos e segundo a ordem do disposto no n.o 2 do artigo 496.o.
Isto quer dizer que não há lugar a uma indemnização autónoma devida às vítimas
pela supressão da vida.
Uma vez definida, quer a titularidade, quer a natureza do direito à indemnização, no
caso da morte do lesado, um outro ponto importa esclarecer.
É que, nos danos que o tribunal deve ponderar no cálculo da indemnização
equitativa prescrita no n.o 3 do artigo 496.o, nada impede, bem pelo contrário, que o
julgador tome em linha de conta, como parcela autónoma da soma a que haja de proceder, a
perda da vida, entre os danos morais sofridos pelos familiares. Ao lado dos desgostos ou
dos vexames causados pela agressão ou pela causa dela, haverá realmente que contar as
mais das vezes com o dano moral que, no plano afectivo, pode causar aos familiares a falta
do lesado, quer esta proceda de morte instantânea, quer não.
O Prof. ANTUNES VARELA fundamenta esta posição da seguinte maneira: a lei,
na hipótese de a lesão ou agressão ter causado a morte, poderia ter enveredado por um dos
dois caminhos. Ou se mantinha fiel ao princípio de que a indemnização só deve incluir os
danos sofridos pela vítima e considerava essa indemnização como um direito integrado na
herança, por inspiração do disposto no n.o 1, do artigo 71.o; ou partia da ideia de que, no
plano dos interesses em que se move o direito privado, a morte da vítima atinge
essenciamente o cônjuge e os parentes mais próximos dela e fixava a titularidade e o
montante da indemnização, tendo directamente em conta os danos patrimoniais e não
patrimoniais que a morte da vítima causa reflexamente a essas pessoas.
Foi esta última orientação, talvez a mais realista, que a lei perfilhou, como é
revelado pelos textos do Código e pelos respectivos trabalhos preparatórios.
Afirma, a propósito, que o texto inicial do anteprojecto de VAZ SERRA, na parte
em que previa a transmissão da indemnização aos herdeiros da vítima, se manteve até à
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primeira revisão ministerial; mas com a segunda revisão, duas alterações se produziram
nessa matéria – numa, eliminou-se <<a disposição que consagrava a transmissão aos
herdeiros do direito de indemnização por danos não patrimoniais, quando o facto lesivo
tivesse causado a morte imediata da vítima; e noutra, o texto saído daquela revisão passou
a dizer que <<o direito à indemnização por danos não patrimoniais>> cabe aos familiares
da vítima, sem distinguir, nessa atribuição, entre os danos morais sofridos pela própria
vítima e os causados aos seus parentes ou ao seu cônjuge>>.
43 A posição deste Professor vem expressa em: A indemnização do dano da morte, separata do Vol. L do
Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra.
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só se compreenderá se aqueles forem diversos dos compreendidos nos n.os 1 e 2 ou, pelo
menos, não coincidirem com os anteriores, ou neles não estiverem necessariamente
incluídos>>.
II – Mas como pode a vítima ter adquirido um direito de indemnização pela sua
própria morte (depois desta, portanto) se, com esta, a sua personalidade jurídica e, portanto,
a capacidade de adquirir direitos, se extingue? Como superar esta aparente impossiblidade
lógica?
Duas perspectivas de solução se oferecem para o problema da aquisição, pelo de
cujus, do direito de indemnização pela própria morte, com a consequente transmissão
mortis causa.
a) – Numa primeira perspectiva, os instrumentos jurídicos existentes permitem
compreender que alguém possa, ainda em vida, adquirir um direito pela sua morte. A seguir
ao acto ilícito, verifica-se um dano que não é ainda a morte; mas é um dano que
virtualmente irá conduzir à morte, contendo esta já em potência; é, por assim dizer, o
primeiro passo ou uma antecipação da morte.
Daí, nasceria logo um direito de indemnização pela morte, sujeito porém à
condição suspensiva da verificação da morte. Com efeito, é a própria lei que admite a
indemnização de danos futuros, ainda não prodzidos (artigo 564.o, n.o 2 do C. Civil); e o
direito correspondente parece dever transmitir-se aos herdeiros do seu titular, entretanto
falecido.
Porque não admitir que este mesmo tratamento se transporte para o caso do dano de
que proveio a morte? Há uma lesão; existirá o dano da morte; nasce a obrigação de
indemnizar, por mais curto que seja o tempo decorrido até à morte; o seu titular morre e o
direito transmite-se aos herdeiros.
b) – Numa segunda perspectiva, admite-se mesmo a possibilidade do nascimento
do direito à indemnização já depois da morte do titular do direito lesado.
Já antes do nascimento, a personalidade humana é beneficiada pelos direitos que
hão-de garantir a personalidade futura; e isto tem sido compreendido pelos ordenamentos
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jurídicos, podendo apontar-se, no nosso caso, os artigos 952.0, ... 2033.o e 2318.o do C.
Civil.
Mas assim como a personalidade jurídica que há-de ser, já compreende uma tutela
antes do nascimento, também a personalidade que foi e se extinguiu com a morte, exige
uma defesa para além desta. Sob pena de prejudicar os próprios interesses tutelados com os
direitos de personalidade, o direito não pode ignorar que o termo brusco e definitivo de
todos os interesses subjacentes à personalidade jurídica com a morte, e o correlativo
apagamento de todos os direitos e respectivos efeitos, constituiria um fenómeno que as
realidades do mundo dos factos contrariam.
O nosso legislador foi sensível a este problema, ao dispor, no n.o 1 do artigo 71 do
C. Civil, que os direitos de personalidade gozam de protecção depois da morte do
respectivo titular, tendo determinadas pessoas legitimidade para requerer as providências
adequadas. Não se trata aqui do exercício dum direito ao serviço dum interesse próprio:
trata-se do exercício dum direito alheio, ao serviço de um interesse alheio.
Em tal caso, os respectivos direitos projectam-se para além da própria morte, como
emanações dessa mesma personalidade e dão lugar a manifestações de protecção, mesmo
depois da morte do seu titular.
Assim, não parecerá estranho que entendamos que o direito de indemnização pelo
dano da morte é adquirido depois desta pelo de cujus; e esta disposição post mortem é
ainda uma manifestação da personalidade jurídica e dos interesses que lhe estão
subjacentes. É a própria tutela do direito à vida que postula a obrigação de indemnizar pela
sua lesão.
Desta forma, o Prof. Lei de CAMPOS adere a esta última perspectiva, por ser mais
conveniente: a indemnização pela lesão do direito à vida transmite-se, jure haereditario, ao
grupo de pessoas indicadas no artigo 496.o n.o 2 segundo a ordem aí estabelecida.
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Este juiz afirma que o direito à vida é um direito pessoal inerente à personalidade.
Como é óbvio, esse direito não se transmite. Coisa, porém, diferente, senão diversa, é a
violação ou lesão desse direito e a indemnização que venha a corresponder-lhe, a qual se
reveste de natureza patrimonial.
O problema da aquisição, por parte da vítima, do direito a essa indemnização,
transcende a visão puramente naturalística ou materialística da personalidade; não tem que
se situar no tempo ou more geometrico, numa escala de mais ou menos minutos ou
segundos após a morte. A aquisição desse direito é automática; segue-se à própria violação
do direito, acabando por coincidir com ela, tal como a correspondente obrigação de
indemnizar está logo envolvida na consumação do facto danoso que é a perda daquele
direito.
Isto está de harmonia com o próprio direito da personalidade – direito carregado de
exigências metajurídicas – cuja violação pode pôr fim à personalidade física mas não pode
tolher a força da reacção legal inerente à protecção daquele direito.
E se, à perda do direito à vida, se substitui automaticamente o direito à
indemnização, nada impede que os herdeiros da vítima lhe sucedam nesse direito. Isto
concilia-se com o princípio subjacente aos artigos 68.o n.o 1, 70.o e 71.o do Código Civil.
Só preconceitos de raiz positivistas têm perturbado a doutrina nesta matéria que não
se compadece com frios esquemas de pura indução ou dedução mas com aceitação de
postulados e corolários ditados pela especial natureza do direito de personalidade.
Quando falamos em aquisição automática do direito à indemnização, pretendemos
lembrar que o facto, constituído pela lesão potencialmente mortal, se prende logo, por uma
relação condicionante, ao resultado que é a perda da vida, ou seja, o dano.
A morte é já, no plano puramente material, um fenómeno fisiológico ou patológico
de degradação da matéria que acaba por situar-se, logicamente, num instante posterior à
perda da vida.
A morte não se identifica necessária e completamente com a perda do direito à vida;
não é a lesão da vida considerada como valor existencial; é o termo da vida. A morte
aparece assim como o derradeiro vestígio dum dano já antes produzido.
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Aspecto de maior realce para o nosso ordenamento jurídico tem a ver com o facto
de os tribunais no momento da profirição das sentenças não destacarem os danos quando
computam a indemnização a atribuir às vítimas, cumulando todos os tipos de danos, o que
torna difícil de entender se estes admitem ou não a existência de um tal dano de que
proveio a morte. Assim, os tribunais cumulam no valor da indemnização os danos sofridos
pelos familiares da vítima com a sua morte, os danos sofridos pela vítima antes de morrer e
danos pela perda do direito à vida. É o que resulta quando o tribunal diz-nos que “ (...).
Elevam para 50.000.000,00 (cinquenta milhões de meticais) a quantia de indemnização a
favor dos familiares da vítima que se mostrarem com direito a ela (...)” 45. Noutro acórdão
de homicídio voluntário, o Tribunal Supremo condena no pagamento de 70.000,00 (setenta
mil meticais) de indemnização a quem provar ter direito46.
O que pretendemos é que admitido o dano de que proveio a morte, qual deve ser o
fundamento legal para a sua indemnização?
A busca da solução deve partir dos n.os 2 e 3, ambos do artigo 496.o quando referem
que “Por morte da vítima, o direito à indemnização por danos não patrimoniais (...)” e
“(...), no caso de morte, podem ser atendidos não só os danos não patrimoniais sofridos
pela vítima (...)”, respectivamente. Serão estes dispositivos suficientes para fundamentar a
existência de um dano autónomo dentro dos danos não patrimoniais, o chamado dano
morte?
Parece que a razão assiste aos nosso tribunais, quando se preocupam pelos danos
patrimoniais no seu conjunto, sem contudo distinguir entre uns e outros, embora não ajude
ao desenvolvimento da doutrina, no sentido de se procurar saber como os nossos tribunais
aplicam o direito nestas matérias que divide a própria doutrina. O silêncio dos tribunais
pode querer dizer que estes não querem tomar partido dessa intricada doutrinária, apoiados
pela falta de clareza na própria lei.
Na verdade, a lei não é clara quanto à autonomização do dano de que proveio a
morte dos restantes danos não patrimoniais. O legislador não se exprimiu de forma clara, o
que conduz à interpretações radicalmente diversas, e com argumentos ponderosos com
45 Processo nº 264/2001 – C.
46 Processo nº 45/89 – 1.ª.
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que proveio a morte é um prejuízo supremo, lesão de um bem superior a todos os outros,
sendo que na determinação do quantum compensatório pela perda do direito à vida
“importa ter em conta a própria vida em si, como bem supremo e base de todos os demais e
no que respeita à vítima, a sua vontade e alegria de viver, a sua idade, a saúde, o estado
civil, os projectos de vida e as concretizações do preenchimento da existência no dia-a-dia,
incluindo a sua situação profissional e socio-económica”49
Na verdade, o cálculo do valor compensatório cabe ao prudente arbítrio do julgador,
guiado pela sua sensibilidade visando sopesar o sofrimento da vítima, tendo em conta
idade, estado de saúde e civil, reputação social, projectos de vida, actividade profissional
desenvolvida e sonhos pela frente da vítima, o que nos conduz à parâmetros genéricos
visando realizar a justiça em cada caso concreto.
A equidade referida pelo direito positivo quer dizer a utilização de todos os
pressupostos atrás destacados.
5. A questão de legitimidade
Nesta parte vamos procurar saber onde é que nasce o direito à reparação do dano
pela perda de vida (se é no património da vítima ou no património das pessoas referidas no
n.o 2 do artigo 496.o do Código Civil, por direito próprio).
Mostra-se necessário esclarecer que o n.o 2 do artigo 496.o do Código Civil regula a
questão da legitimidade para a acção indemnizatória, não fixando nenhuma hierarquia
sucessória anómala, pois não existe nenhuma transmissão mortis causa do direito à
compensação pelo dano de que proveio a morte. Com efeito, só o cônjuge não separado
judicialmente de pessoas e bens e filhos ou outros descendentes, na falta destes, os pais ou
outros ascendentes e por último os irmãos ou sobrinhos que o representam têm direito de
intentar a acção indemnizatória pelo dano de que proveio a morte.
O dano de que proveio a morte ocorre na esfera jurídica da vítima, pois é ele quem
sofre as dores, nem que seja em milésima parte do tempo, é neste tempo que se constitui e
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CONCLUSÃO
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pretende, tem seu fundamento teleológico na perda de vida e não na dor, porque se assim
fosse, não faria sentido, como reconhece Oliveira ASCENÇÃO, “à luz dos princípios, é
insanável a contradição que consiste em considerar facto aquisitivo de um direito o próprio
facto extintivo da capacidade de adquirir do de cujus – a morte”50. Pois o momento da
morte é o último momento da vida51, o momento da perda de personalidade jurídica, nada
podendo adquirir o de cujus. Porém o dano de que proveio a morte ou pela perda da vida
vai consistir num conjunto de prejuízos que a vítima sofre antes de perder a vida e que tem
como consequência a sua morte.
A morte, em nenhum momento, pode ser reparada e o morto não pode sofrer danos,
por isso a morte não pode aparecer como dano, senão valorar o dano que levou a esta
consequência, que é a ela anterior, independentemente da sua duração.
Nos precisos termos do n.o 3 do artigo 496.o pode o juiz proceder à repartição do
valor da indemnização entre vários danos não patrimoniais, evitando, como fazem os
nossos tribunais, cumular o valor da indemnização, talvez porque receosos em procurar
autonomizar danos onde não há uma posição categórica do legislador, devendo o intérprete,
nestes casos, “seguir a posição racional sobre esta matéria, no pressuposto de que é a que
exprime a ordem existente na realidade social e a praticamente mais satisfatória”52.
O valor da indemnização pelo dano de que proveio a morte cabe, por direito
próprio, ao cônjuge sobrevivo e aos parentes mais próximos, nos termos do n.o 2 do artigo
496.o do Código Civil e, é calculada segundo a equidade, tendo em conta o estado de saúde
da vítima, a função desempenhada por esta na sociedade, o valor de afeição social, e outras
circunstâncias relevantes a serem consideradas pelo juiz.
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BIBLIOGRAFIA
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www.dsgi.pt.
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