Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
A iniciação dos alunos à pesquisa nos Cursos de Licenciatura tem sido apontada
como possível deflagradora de uma postura indagativa e questionadora do professor,
que poderá se consolidar no transcorrer de sua trajetória profissional. Algumas
instituições a possibilitam pela via de programas institucionais de iniciação científica e
alguns cursos contemplam disciplinas relacionadas à pesquisa em sua matriz curricular.
Na UFPR, na década de 80, atividades vinham sendo desenvolvidas na modalidade de
projetos, inclusive em matemática, tendo a pesquisa como componente metodológico.
Já, nesta época, alguns professores acreditavam que se os alunos vivenciassem em seu
curso de formação projetos investigativos e inovações metodológicas, após se
graduarem, teriam uma postura didática diferenciada no seu percurso profissional
(Guérios, 2000). Atividades de iniciação científica, de fato, propiciam tal vivência, mas
apenas para os que se vinculam a projetos de professores. Sem dúvida vivenciam o
processo e muito aprendem, mas, não se percebe nesses alunos o movimento interior
típico de quando se é autor do tema que pesquisa e responsável por métodos adotados.
Concordamos com os autores que percebem "a necessidade de desenvolvimento da
postura investigativa como parte integrante da atuação profissional do professor, no
sentido de olhar para sua prática, refletir sobre ela, avaliá-la, pensar e implementar
intervenções inovadoras, voltar a olhar, a refletir..."(PIRES, 2002, p. 48). D'Ambrosio
(1996) considera importante o desenvolvimento desta postura desde a formação inicial e
vê na pesquisa a possibilidade de estabelecer o elo entre teoria e prática. Fiorentini,
Nacaratto e Pinto (1999) constatam que os professores agem como reflexo de um
conjunto de situações que vivem, embasados por um misto de teorias que vão
Anais do VIII ENEM – Pôster 2
GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática
1
Alunos de Prática de Ensino (2003) diurno: André L. Furtado, Anísio Lasievicz, Alexandra M. Caron,
Bruno M. R. dos Santos, Bento L. A. Andrade, Carmem L. K. de Almeida, Clarice A. Roika, Cleomara de
F. Ferreira, Cristina B. de Camargo, Daniel P. de Castro, Daniele de C. A. Ricieri, Dayenne de F. L.
Gama, Eder Miotto, Elizabeth T. de Oliveira, Fernanda M. Schena, Fernando Y. Sakaguti, Fabrício J.
Caliani, Jozisleide K. Ribeiro, Lucimara A. Yada, Márcio L. Miotto, Maria A. dos Santos, Marialba R. G.
Imaguire, Marizângela Baldão, Mauro C. da Silva, Noemi A. Nichele, Osvaldo Tolachinski, Priscila M.
M. G. Kinoshita, Rosângela A. Cabral, Silmara Rudek, Tatiana Tortato; noturno: Adnir M. da Silva, Ana
Paula Ribeiro, André G. da Silva, André L. Pilatti, Carlos A. Depizoli, Cléber A. Bennert, Cinthya
Bueno, Cláudio A. M. da Silva, Ednilson Rotini, Fabiana de Albuquerque, Franciele C. Mielke, Heily
Wagner, Lidiane R. Ramos, Luciane Lourenço, Roberto O. Santos, Sandro Pimentel, Silmara A. da Silva,
Sirlei da C. Vicente, Vera G. Pratto.
Anais do VIII ENEM – Pôster 3
GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática
2
Doravante, os dados apresentados, as leituras efetivadas e as reflexões destacadas referem-se ao
movimento coletivo dos alunos durante o processo da pesquisa, motivo pelo qual as mantivemos neste
texto assim como foram efetivadas por eles. Um fato interessante merece ser destacado: houve situações
inesperadas, e em algumas vezes contraditórias, não só para os alunos, mas também para nós, professores
da disciplina, o que nos acrescentou, embora não fosse objetivo da atividade. Como nossa intenção é
oferecer para a comunidade não só o que os dados revelaram, mas também – e principalmente – a
inovação didática que desenvolvemos na condução da disciplina de Prática de Ensino, e mais ainda, a
possibilidade que descobrimos existir de desenvolver uma pesquisa coletiva numa dinâmica efetivamente
colaborativa, mantivemos na seqüência do texto, em grande parte, o modo como os alunos redigiram suas
análises e conclusões. Se equívocos houver, debite-se a inovação na condução da disciplina. De qualquer
forma, cremos que as revelações desta pesquisa refletem a realidade brasileira e oferecem subsídios para
discussões sobre a formação inicial e continuada de professores.
Anais do VIII ENEM – Pôster 4
GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática
o que utiliza. Algumas indagações surgiram: será que o nível de satisfação dos
professores em relação ao L/MD tem relação com o fato de participarem ou não do
processo de escolha? Será que a imposição do L/MD implica em insatisfação do
professor, independente da qualidade ou está relacionado com os resultados de
aprendizagem obtidos pela turma?
RECURSOS DIDÁTICOS
As categorias estabelecidas foram: materiais didáticos citados, ambientes
didáticos citados, recursos didáticos e informática. Os materiais didáticos mais citados
foram sólidos geométricos, tangram, jogos, livros, apostilas e periódicos, material de
desenho, ábaco, material dourado, geoplano, teodolito, sucata e outros (papel, papel
cartaz, cartolina, figuras e folders).
A calculadora, apesar de seu uso rotineiro, de seu baixo custo e ser de fácil
manuseio, praticamente não foi citada, o que nos leva a pensar que ela é pouco utilizada
na escola. Quanto ao pouco uso do computador como recurso didático, cremos ser
porque os softwares são pouco disponibilizados. Em nossas reflexões sobre tais
evidências, indagamos se os professores são incentivados a fazer cursos para utilização
desses recursos, se caberia às instituições de ensino o papel de investir na capacitação
docente para este fim ou se eles devem buscar tal capacitação por si, autonomamente.
Observamos que alguns professores são muito criativos para desenvolver
materiais didáticos, apesar da escola não fornecer recursos necessários para tal. A
criatividade observada em muitas respostas evidenciou que muito do que vai para o lixo,
poderia se converter em bons materiais didáticos. Tal fato nos fez pensar que deve haver
fatores que levam professores a ser mais ou menos criativos, mais ou menos autônomos,
mais ativos ou mais passivos, e até mesmo, mais ou menos competentes.
Tivemos uma grande variedade de ambientes didáticos citados, não ficando claro
se são realmente utilizados didaticamente ou apenas como uma fuga da sala de aula. Na
verdade, pareceu-nos não haver um consenso sobre o que seja um ambiente didático.
Nem entre os professores pesquisados e nem entre os pesquisadores. Tanto é que entre o
que foi citado como ambiente didático, a biblioteca predominou, embora seja pouco
utilizada para fins de estudo de Matemática, sendo vista como um local de estudo em
geral.
Anais do VIII ENEM – Pôster 6
GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática
AVALIAÇÃO
As categorias estabelecidas foram: sistema de avaliação, instrumentos utilizados,
participação do professor na sistemática adotada, nível de satisfação com a sistemática
adotada e nível de satisfação com os resultados.
Constatamos que os professores não diferenciam com clareza instrumentos de
avaliação de sistemas de avaliação. Parece-nos interessante que os cursos para formação
de professores, cursos de atualização e até mesmo as reuniões pedagógicas nas escolas
abordem a temática da avaliação.
Quanto aos instrumentos, mesmo com toda a ênfase atualmente dada às novas
metodologias, constatou-se que as formas de avaliar continuam, em grande parte,
inalteradas, prevalecendo provas e trabalhos. Não que estas sejam consideradas
irrelevantes, mas existem outras formas inovadoras que podem estar aliadas às novas
metodologias e que exploram outras habilidades. Um fato peculiar foi o item
“freqüência” ter aparecido como instrumento de avaliação. Discutindo tal peculiaridade
e revendo as entrevistas identificamos dois indicadores: um deles é o fator “não
reprovação” na escola regular, o que leva o professor a usar a freqüência como
ferramenta para obter participação do aluno; o outro é a “não reprovação” no programa
de Educação de Jovens e Adultos, em que nos primeiros módulos o aluno não é
reprovado por nota, mas somente por faltas.
Quanto à satisfação com a sistemática adotada, há uma certa coerência entre os
professores que participam do processo de elaboração, e aqueles que se dizem
satisfeitos ou parcialmente satisfeitos, embora isso não implique que os resultados
obtidos sejam considerados satisfatórios. Na verdade, ao analisarmos o nível de
satisfação tanto com a sistemática de avaliação quanto com resultados obtidos, ficamos
em dúvida se realmente estavam parcialmente satisfeitos ou se estavam insatisfeitos e
ficaram constrangidos em informar, já que o 'parcialmente satisfeito' revela um certo
grau de satisfação e também insatisfação.
O que leva o professor a não estar satisfeito com os resultados obtidos em sua
avaliação? Parece uma pergunta simples, mas na verdade abrange inúmeros fatores
entre os quais: a metodologia aplicada, a didática do professor, a imposição da « não
reprovação »do aluno e problemas sociais. Alguns professores centram toda a
responsabilidade de desempenho no aluno, deixando de lado o seu papel nesse processo,
não dando a devida atenção à metodologia aplicada, nem avaliando-se cotidianamente, a
Anais do VIII ENEM – Pôster 7
GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática
fim de verificar suas possíveis falhas e sucessos de modo a repetir os bons resultados,
corrigir os erros, inovar e aperfeiçoar seus métodos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as análises e discussões efetivadas em cada uma das temáticas que
permitiram “ver” a realidade do sistema educativo tal qual numa radiografia, tecemos
algumas considerações que podem auxiliar as discussões sobre formação de professores.
Quanto ao modo como os professores estão atuando em suas instituições,
percebemos que as aulas ministradas continuam sendo predominantemente expositivas,
apesar de sugestões para atividades alternativas, como aulas práticas, salas ambiente,
utilização de novos materiais didáticos, dentre outros. A principal forma de avaliação é
cumulativa (por meio de provas e trabalhos) e o livro didático ainda é a principal
referência do professor. Percebemos que saber estabelecer critérios para sua adoção é
tão importante quanto utilizar recursos, métodos ou outra variável constante do
cotidiano docente. Confirmamos esta posição ao verificar o significativo número dos
que reclamaram de conteúdos que não conseguem ensinar relacionando-os ao cotidiano
dos alunos. Isso pode ser influência de livros adotados que tratam a Matemática abstrata
e incompreensivelmente. Embora muitos estejam envolvidos na elaboração do programa
que ministram e do respectivo planejamento, em larga escala, não houve indicativos de
que aproveitem esta oportunidade para analisar suas ações e implementar inovações. Em
geral, demonstraram possuir pouca “intimidade” com questões pedagógicas, tais como
avaliação, programas, métodos, e ambientes didáticos além dos que embaraçaram-se ao
explicar procedimentos adotados. Constatamos que há os que não conhecem teorias que
embasem a avaliação que fazem e nem os instrumentos que utilizam, o que avaliza
nossa posição de que a avaliação da aprendizagem merece destaque nos Cursos de
Licenciatura. Refletindo sobre tais constatações, percebermos que a fonte para a
formação profissional está na preparação didático-metodológica para a ação docente.
Em outro extremo, observamos que, apesar de dificuldades para desenvolver projetos,
atividades em laboratórios e metodologias diferenciadas, alguns tentam ir além do que
está ao alcance para proporcionar aos alunos uma aprendizagem significativa. Anseios
pessoais manifestados durante as entrevistas – o que interpretamos como desabafo - nos
conscientizou sobre o quanto o professor deseja ser reconhecido no contexto educativo e
social. Causou-nos curiosidade o que leva profissionais a terem atitudes tão
diferenciadas e permanecemos com esta indagação conosco.
Quanto ao âmbito da docência universitária, os professores da disciplina
declaram que a pesquisa como ação didática no desenvolvimento de uma disciplina
formal, como a Prática de Ensino, possibilitou a todos os licenciandos vivenciarem um
Anais do VIII ENEM – Pôster 10
GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática
PALAVRAS-CHAVE
Formação de professores, ensino de Matemática, Prática de Ensino
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
D'AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus,
1996.
DOLL Jr., W. Currículo: uma perspectiva pós moderna. Porto Alegre: Artes médicas,
1997.
MORIN, E., Ciência com Consciência, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1998 (original
Science avec conscience, 1a edição 1982 alguns / 1990 outros).