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COMO CONFIAR EM DEUS DIANTE DA TRAGÉDIA?

COMO EXPLICAR A TRAGÉDIA À


LUZ DA CONFIANÇA EM E DO AMOR DE DEUS?

É POSSÍVEL CONFIAR EM DEUS DIANTE DA TRAGÉDIA?

COMO FALAR DA CONFIANÇA EM E DO AMOR DE DEUS DIANTE DA MORTE DOS 71


TRIPIULANTES DO VÔO DA LaMia (da aeronave LMI-2933)?

A tragédia do vôo da LaMia que carregava Chapecoense me levou a perguntar:


 COMO FALAR DA CONFIANÇA EM E DO AMOR DE DEUS DIANTE DA
TRAGÉDIA, DA CATÁSTROFE, DE UM ACIDENTE TÃO DESUMANO E
BRUTAL?

Por que isto aconteceu? Como isto foi acontecer? Por que a delegação da Chapecoense
estava neste vôo? Por que existiu este vôo? Qual a razão da Chapecoense ter fretado este vôo? E à
luz disso tudo, como falar da CONFIANÇA EM DEUS e DO SEU AMOR diante da tragédia do
acidente que aconteceu às 0h30min no horário de Brasília, nas montanhas da Colômbia?

I – TODA TRAGÉDIA HUMANA É RESULTADO DA TRAGÉDIA ULTERIOR DO PECADO –


Ec 10.8

“Quem abre uma cova nela cairá, e quem rompe um muro,


mordê-lo-á uma cobra.” (Eclesiastes 10:8)

Toda tragédia é resultado de uma tragédia ulterior, chamada PECADO. O pecado é uma
tragédia cujos resultados não poderemos dimensionar, cujo impacto sobre a criação e sobre nossas
próprias vidas jamais entenderemos completamente. O pecado é a origem de toda tragédia e toda
tragédia é filha desta tragédia primitiva. O pecado foi uma tragédia e através dele a tragédia entrou
na história do mundo, na história humana. O pecado foi uma tragédia porque, em primeiro lugar,
nos fez desobedecer a Deus, nos deu sentimentos de sermos iguais a Deus, nos involuiu, nos tirou
do patamar que Deus nos dera na criação, e cuja principal consequência foi a morte.
Somos ainda hoje tão primitivos quanto a tragédia-mor do pecado nos levou a ser. Toda a
tecnologia, todo conhecimento acumulado, todo avanço científico nas mais diferentes áreas, tudo
isso não tornou o ser humano melhor, nem o poderá torná-lo. A tragédia do pecado nos colocou num
ponto infinitamente atrás daquele que Deus originalmente nos havia posto na sua criação (original).
O pecado não nos fez regredir a um estágio anterior: regredir sugere que havia um ponto de
partida, primitivo, a partir do qual se avança para um ponto posterior, em que há uma evolução, uma
melhora, um avanço; regredir implica em voltar ao ponto de origem, de partida. O pecado não nos
fez regredir, porque no ponto atrás em que nos encontramos hoje, depois do pecado, nunca jamais
havíamos estado antes. Ou seja, estamos numa determinada posição em que nunca antes havíamos
estado e que é muito atrás da posição original na qual Deus nos colocou na criação. O pecado nos
levou a uma primitividade desconhecida antes dele. A tragédia do pecado nos pôs numa posição
atrás, de atraso em que nunca havíamos estado antes. E desta posição primitiva jamais saímos, e
nada do mundo, do seu conhecimento acumulado, do seu avanço tecnológico, de toda a evolução
percebida na história da humanidade em todos os sentidos possíveis, fez o ser humano avançar do
fosso no qual a tragédia-mor do pecado nos lançou: ainda estamos lá.
O pecado nos colocou num nível atrás que não existia na criação original de Deus.
E quanto mais o tempo passa, mais para trás andamos: somos mais egoístas; mas
individualistas; mais materialistas; mais confiantes em nós mesmos – auto-confiantes –; mais
humanistas; mais amantes das coisas; mais isolados, mais solitários e menos solidários; a vida não
vale nada a não ser pelo lucro que os outros podem nos gerar, o que vale são as coisas e não as
pessoas, nos medimos pelo que temos e não pelo que somos; somos arrogantes, presunçosos,
orgulhosos, pisamos as pessoas na nossa prepotência, nos sentimos superiores aos outros, melhores
que os outros, não temos semelhantes – temos subalternos, inferiores, os outros são uma sub-classe,
nós somos sempre melhores –; amamos as coisas e usamos as pessoas; o sentido da vida é a
felicidade individual – vale tudo para ser feliz – o critério que julga a vida é o sucesso material –
por material entenda-se tudo aquilo que traz felicidade a uma pessoa, pode ser a fama (a qualquer
preço), o dinheiro, o conhecimento, o poder, os prezares do corpo, qualquer coisa que possa fazer
alguém feliz – isto é claro, exclusivamente individual e sem importar o outro –; geramos formas
mais sofisticadas de matar – agora matamos em massa –, geramos formas sofisticas de fazer guerra,
mas ainda fazemos terrorismo à moda antiga: degolamos as pessoas, queimamos vivos os
condenados, a barbárie continua; inventamos o roubo digital, o sexo cibernético, o jogo online, os
atentados são combinados via WhatsApp, mas também mantemos nossos campos de concentração,
em que o fanatismo religioso dá o tom da loucura de fazer com que a pessoa humana creia que a
outra pessoa é sua inimiga; tudo vira arma de guerra, o avião, o caminhão, e corpo humano – no
homem-bomba, tudo vira uma forma de matar, de aterrorizar, tudo vira arma de destruição... Não
avançamos!
A tragédia da LaMia foi por alguns míseros mil dólares... culpa de quem? De quem
economizou contratando o mais barato? De quem não parou para abastecer? A tragédia já era
prenunciada pela ulterior tragédia-mor do pecado,
 que nos colocou numa posição em que a vida vale menos e as coisas valem mais...
 que nos fez acreditar que nós podemos qualquer coisa...
 que nos levou a acreditar que não precisamos respeitar as regras, nós fazemos as regras...
 que nos levou a acreditar que nós somos os senhores do nosso destino, da nossa história...
 que nos levou a acreditar que nós podemos controlar tudo, tudo mesmo, até a quantidade de
gasolina que a máquina, que nós mesmos criamos e especificamos como deve funcionar, vai
gastar ou não...
Os registros da aviação internacional mostram que o piloto já havia feito este trajeto três
vezes, antes da última tentativa fracassada, cujos resultados funestos não serão apagados nem da
nossa memória nem do nosso coração. Estamos acostumados a quebrar as regras e a achar que é
assim mesmo, que não dá nada, que nós podemos fazer nossas próprias regras, que nós estamos no
controle, que nós dominamos o mundo, a máquina, a tecnologia, as outras pessoas, a força da
gravidade, a força da natureza, nós somos deus, o nosso próprio deus somos nós mesmos, na
medida em que confiamos em nós como se nenhuma regra estivesse acima do que queremos, do que
acreditamos, do achamos semos e do domínio que pensamos ter.
Quando eu recebi a notícia do acidente, tive um impacto emocional muito forte, e senti
uma dor muito profunda. Na hora as notícias não eram suficientes para estabelecer/conhecer as
causas do acidente, mas ao longo do dia o quadro foi se formando, e hoje, apesar de ainda faltarem
muitos laudos técnicos, a causa do acidente está praticamente explicada: faltou combustível, o avião
teve uma pane seca.
A tragédia de Medellin, ou a tragédia da Chapecoense, seja lá como você nomear, parece
ter uma causa que cada vez parece mais real: a pane seca, ou seja, ficou sem combustível em pleno
vôo. Muito provavelmente, se não tivesse acabado o combustível, nada disso teria acontecido: o
avião teria pousado, o Chapecoense teria jogado sua partida de futebol contra o Atlético de
Medellin, teria voltado para casa... a vida continuaria. Mas faltou combustível, isto é uma realidade,
e a viagem terminou numa montanha, a cinco minutos do destino final, e junto com a viagem a vida
de 71 pessoas, entre elas: 19 jogadores da Chapecoense, a comissão técnica do time, além da sua
Diretoria, 21 jornalistas, o piloto e outras pessoas.
Nas primeiras horas da notícia da tragédia, eu me vi diante da pergunta incômoda: como
falar de confiança em Deus diante da tragédia da Chapecoense? Como afirmar que se pode confiar
em Deus diante de uma coisa tão absurda, de um acidente tão desumano, de mortes tão brutais, do
fim de um futuro tão promissor, da trágica morte de heróis de uma história quase inacreditável de
um time de futebol, que em 2009 jogava na Séria D do futebol brasileiro, e agora jogava uma final
de um torneio internacional na América Latina? COMO FALAR DA CONFIANÇE EM E DO
AMOR DE DEUS NUMA CIRCUSNTÂNCIA DE TRAGÉDIA COMO A DE MEDELLIN COM
O TIME DA CHAPECOENSE?
Por que acontecem tragédias, catástrofes, desgraças, desastres, calamidades? Por que
acontecem mortes que tão brutais, desumanas, incompreensíveis, inaceitáveis? Por quê? A resposta
a esta pergunta a Bíblia responde: por causa do pecado, que introduziu a morte no mundo. As
tragédias, as catástrofes acontecem por causa do pecado. Toda tragédia tem sua origem no pecado.
A Bíblia fala que a criação geme e nós gememos por causa do pecado:

“19 A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos


filhos de Deus. 20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, 21 na
esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro
da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 22
Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme
e suporta angústias até agora. 23 E não somente ela, mas
também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente
gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a
redenção do nosso corpo.” (Romanos 8:19-23)

Há catástrofes que são chamadas: Naturais. São aquelas que vêm da natureza, como
terremotos, vulcões, tsunamis, são aquelas em que a natureza, de alguma forma, gera mortes
inexplicáveis. Há catástrofes que vêm pela ação do homem, acidentes, geralmente de grandes
proporções, mas também acidentes individuais, como aquele que matou Airton Senna da Silva.
Chamamos de catástrofes, tragédias, o fim antecipado da vida que florescia e foi
brutalmente interrompida. Todas as vezes que a vida é interrompida antes do tempo gera em nós,
que ficamos vivos, uma sensação horrível de fracasso, de fragilidade, de impotência, de fraqueza, e
lá no fundo nasce uma revolta e um medo, amalgamados que juntamente precisam ser controlados e
escondidos. Além da incerteza, da multidão das perguntas e dúvidas, e da ausência de respostas,
nasce também o sentimento mais cruel da existência humana: a finitude. A morte é sempre o drama
mais cruel da vida, o ponto derradeiro da epopéia humana na terra, ela marca a característica mais
agressiva da existência: a finitude. A finitude é a característica de ser finito, de ter um fim , de
acabar, de chagar ao final da estrada, de pôr fim à jornada, de dizer adeus ao encanto que estar vivo.
Quando isto ocorre depois de muitos anos, com a velhice do corpo e a falência dos órgãos, ainda é
mais aceitável; não menos angustiante, mas mais aceitável. O que marca a tragédia, no entanto, é
quando este fim é antecipado, nos encontra no meio de uma viagem rumo ao futuro, à vida, ao
sucesso, ao desafio, quando nos faz parar no exato momento em que estávamos acelerando, quando
o final da jornada está claramente tão distante que é impossível ver o ponto de chegada. Justamente
aí a morte surge tão mais cruel e insana, e nos deixa perplexos ante a vida. Ficamos boquiabertos,
imóveis e imobilizados, buscando uma compreensão e uma explicação que simplesmente não
existem – isto é a perplexidade.
Foi justamente este sentimento primitivo de catástrofe e perplexidade que assolou o mundo
na hora da notícia do acidente, eram estas as palavras dos noticiários das televisão, da internet, das
redes sociais, o fim da viagem antes de atingir o ponto final, antes de chegar ao destino. Assim foi o
vôo da LaMia, que carregava a delegação da Chapecoense: uma tragédia e com ela a perplexidade.
Como eu já disse, as notícias foram chegando e no acúmulo de informações sobre o vôo o
quadro foi lentamente se formando. Ainda faltam laudos importantes, mas praticamente a causa está
identificada: foi falta de combustível, uma pane seca na aeronave da LaMia.
Eu me pus a perguntar junto com outros milhões de pessoas: como isto pôde acontecer?
Como isto pode acontecer? Nós não ficamos sem gasolina no nosso carro, já imaginou num avião?
Não tem posto de querosene lá em cima, e o avião está no ar, como isto aconteceu? Até agora ainda
parece irreal que isto tenha acontecido. Mas aconteceu, muito provavelmente.
O histórico de aviação da empresa LaMia também favorece esta explicação da pane seca.
Outros quatro vôos da empresa já haviam denunciado a prática de voar além do limite permitido
pelas especificações técnicas do fabricante da aeronave. De acordo com o fabricante, a aeronave
tem uma autonomia de vôo de 4 horas e 22 minutos (cerca de 3.000Km de distância). Em outros
quatro vôos, a LaMia já havia voado além do limite especificado:
 18/11/16: Medellín (Col) a Santa Cruz de la Sierra (Bol): 4h33min;
 29/10/16: Medellín (Col) a Santa Cruz de la Sierra (Bol): 4h32min;
 22/08/16: Medellín (Col) a Santa Cruz de la Sierra (Bol): 4h28min;
 28/10/16: Cochebamba (Bol) a Medellín (Col): 4h27min.
É verdade também que nos três vôos entre Medellín e Santa Cruz de la Sierra estava
programada uma parada para abastecer conforme informavam os respectivos planos de vôo, as
quais não foram obedecidas: "O coronel Freddy Bonilla, secretário de Segurança Aérea de
Colômbia e que está à frente das investigações da tragédia que teve 71 mortos, informou por
telefone ao DC que essas viagens previam parada na cidade boliviana de Cobija para abastecimento,
local a pouco mais de 1.000 km de distância de Santa Cruz de La Sierra. A prática foi considerada
"irresponsável" por especialistas em segurança de vôo." Ou seja, o piloto já estava se acostumando
a voar além do limite permitido pelas especificações técnicas do fabricante da aeronave.
"De acordo com as normais internacionais qualquer aeronave deve viajar com combustível
suficiente para chegar ao aeroporto de destino, e ainda mais trinta minutos e ainda mais cinco
minutos ou mais 5% da distância, o qual é o combustível reserva."
Por que um piloto voa além do limite permitido, correndo o risco de ficar sem
combustível? Por que um ser humano coloca em risco de forma tão grave a sua vida e de outras
pessoas? Por que uma pessoa não obedece as regras de segurança em um assunto tão sério e com
riscos tão graves, cujas consequências podem ser irreversíveis, como a queda de um avião?
A resposta na verdade está no ser humano marcado pelo pecado. O ser humano passou a
desobedecer desde o pecado de Adão e Eva e a partir daí se acostumou a desobedecer regras e
mandamentos, primeiro os de Deus e depois os dos outros homens também. A Bíblia diz que os
homens são "filhos da desobediência":

“nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo,


segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora
atua nos filhos da desobediência;” (Efésios 2:2)

“Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas


coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.”
(Efésios 5:6)

“por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da


desobediência].” (Colossenses 3:6)

Nós nos acostumamos a desobedecer, isto está no ser humano. Todos nós cometemos
infrações, seja contra os mandamentos de Deus, seja contra os mandamentos dos homens, esta é
nossa marca, somos assim. Na maioria vezes não percebemos as consequências que estas infrações
têm sobre nossas vidas, mas às vezes, como no caso da tragédia da Chapecoense, estas
consequências gritam além de todas as outras vozes.
Fui buscar na Bíblia uma resposta. A Bíblia afirma:

“Quem abre uma cova nela cairá, e quem rompe um muro,


mordê-lo-á uma cobra.” (Eclesiastes 10:8)
“Quem abre um buraco cairá nele; quem derruba um muro será
mordido por uma cobra.” (Eclesiastes 10:8 NTLH)

O sentido do texto hebraico é: todas as vezes que você ultrapassar o limite estabelecido
pelo muro, que demarca o ponto além do qual você não deve ir ou não pode ir, você se expõe ao
perigo de morrer, de ser mordido pela serpente. Ser mordido pela serpente tem dois sentidos:
 O primeiro sentido é: quem é mordido por uma cobra morrerá com certeza, mas
não no exato momento da mordida; viverá por um lapso tempo entre a mordida e o
efeito do veneno sobre o organismo. Este lapso de tempo não está determinado:
pode ser mais longo ou mais curto. Pode ser que aparentemente aquele que foi
mordido não perceba o efeito do veneno no seu corpo e ache que ele não produzirá
a morte; pura ilusão, é uma questão de tempo para o veneno causar o colapso dos
órgãos vitais e a morte chegar enfim;
 O segundo sentido é: a serpente é o Diabo, quando nos morde é certo que
morreremos, mas morreremos como Adão e Eva, uma morte em dois tempos: o
primeiro: a morte espiritual em primeiro lugar, uma separação de Criador
instantânea. A segunda, morte biológica, tão certa quanto a primeira, porém não tão
perceptível, por causa do tempo que continuamos vivos depois da mordida da
Serpente, mas é certo que a morte virá.
Seja como for, a Bíblia deixa claro que todas as vezes que ultrapassamos o limite
estabelecido além do qual não poderíamos ir, estamos expostos à morte, podemos ser mordidos pela
(S – s)erpente. Romper o muro é uma metáfora da desobediência às regras estabelecidas, aos limites
determinados, não importa quais sejam: se de origem divina ou humana, se extremamente graves ou
aparente insignificantes, se aos nossos olhos importantes ou insignificantes, se para nós fazem ou
não sentido de ser. Romper o muro, ultrapassar o limite, desobedecer a regra nos expõe à mordida
da (S – s)erpente. Se esta mordida causará uma morte instantânea ou tardia é apenas uma questão de
percepção humana, a verdade é que aquele que foi mordido morrerá inevitavelmente.
Mas nós, por causa do pecado, nos acostumamos a transgredir tanto os mandamentos de
Deus como as regras humanas, e nos acostumamos também a achar que não haverá consequências,
que podemos agir como melhor nos parecer, desprezando as regras – tanto de Deus como dos
homens – e não haverá consequências.
Assim foi com o piloto boliviano Miguel Quiroga, que pilotava aquele fatídico vôo da
Chapecoense, que terminou antes de chegar ao destino, numa montanha da Colômbia, matando 71
pessoas, inclusive ele mesmo.
Romper um muro é sempre um risco além da possibilidade humana de remediar, de evitar,
de consertar, de reescrever a história, de voltar atrás e refazer o caminho; romper um muro é expor-
se sempre à mordida da (S – s)erpente, cujas consequências nós não podemos sob hipótese alguma
controlar. Não foi possível a Miguel Quiroga controlar as consequências da falta de combustível na
aeronave que ele tantas vezes pilotou. A viagem – a vida, a existência, os planos, os sonhos, mas
também o vôo – terminou antes de chegar ao destino final, antes de atingir o ponto de chegada. O
plano de vôo da Chapecoense – os planos, os sonhos, a vida – era muito mais longo, incluía uma
disputa da Taça de campeão da Copa Sul-Americana, incluía a Copa Catarinense, o Campeonato
Brasileiro, tantos sonhos e planos terminados pela mordida da (S – s)erpente, por causa do muro
rompido, de um vôo que não poderia ultrapassar 4h22min segundo as especificações técnicas do
fabricante da aeronave, mas que já contava com 4h37min quando do último contato com a torre de
controle do aeroporto de Medellín.
Eu me pergunto, sem parar, como isto pôde ocorrer? Como um piloto experiente comete
um erro tão primário, de deixar acabar o combustível em pleno vôo? Ele sabe que não pode
estacionar no acostamento, simplesmente não há o acostamento.
Embora eu não encontre a resposta e não sei se ela existe, eu posso entender que o fato de
ultrapassar limites é uma característica do ser humano depois do pecado, e que o ser humano se
acostumou a transpassar os limites e achar que não sofrerá as consequências.
Assim foi nos quatro vôos que Miguel Quiroga voou além do limite estabelecido. A quinta
tentativa terminou numa tragédia, na dor que todos nós sentimos, e que é profundamente maior para
os parentes e amigos, no entanto atinge todos nós.
A tragédia tem esta peculiaridade, atinge a sociedade, agride a vida humana aonde quer que
ela esteja. Eu não conhecia nenhum dos jogadores, não sabia seus nomes, não conhecia suas
histórias de vida, mas senti tanto a morte deles, não porque fosse próximo deles, mas porque a
tragédia expõe a nossa finitude e escancara a nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade, nossa
fraqueza, nossa impotência, nossa incapacidade de manter e preservar a vida diante da fatalidade da
morte – isto é a tragédia.
A tragédia nos chama à reflexão, à mudança, à transformação.
A trágica morte do piloto de Fórmula 1 Airton Senna levou a uma série de mudanças nas
regras da competição, que depois da sua em morte em 1 de maio de 1994, só este ano outro piloto
de Fórmula 1 veio a morrer nas competições.
Tenho esperança/certeza que o que aconteceu com a Chapecoense não voltará a acontecer
com um time de futebol brasileiro e mundial, porque as regras de fretamento e o monitoramento das
entidades que dirigem os campeonatos serão muito mais rígidas e obedecidas.
Mas seja como for, a tragédia nos tomou de assalto, e sempre nos tomará, seja um tsunami,
um terremoto, um acidente, uma peste, uma epidemia, a tragédia nos assusta, nos encurrala, nos
expõe no nosso maior temor, a impossibilidade assegurar a nossa própria vida diante dos perigos
aos quais ela pode vir a sofrer.
A tragédia da Chapecoense teve esta provável causa principal, a pane seca, a falta de
combustível, já que isto é uma realidade. A falha humana neste caso foi romper o muro do tempo de
máximo vôo e não ter atendido às normas internacionais de aviação, que exige que além do
combustível para chegar ao ponto de destino a aeronave deve ter combustível reserva de pelo menos
35 minutos a mais de vôo ou 5% da distância a ser percorrida. A (S – s)erpente mordeu e o efeito da
mordida foi imediato, catastrófico e irremediável: 71 mortos e seis feridos graves.

II – TODA TRAGÉDIA EXIGE DO CORAÇÃO CRENTE UMA ATITUDE DE ENTREGA E


CONFIANÇA INCONDICIONAIS E DE FÉ NO AMOR DE DEUS – Sl 22.1; Mc 15.34, Sl 31.5;
Lc 23.46

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que


se acham longe de minha salvação as palavras de meu
bramido?” (Salmos 22:1)

“À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá


sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Marcos 15:34)

“Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste,


SENHOR, Deus da verdade.” (Salmos 31:5)

“44 Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve


trevas sobre toda a terra até à hora nona. 45 E rasgou-se pelo
meio o véu do santuário. 46 Então, Jesus clamou em alta voz:
Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto,
expirou.” (Lucas 23:44-46)

Se uma parte da tragédia pode ser explicada pelo pecado, pela desobediência, pela
arrogância humana de se sobrepor aos mandamentos de Deus e dos homens, uma outra parte dela
não tem explicação. São perguntas que ficarão sem respostas:
 Por que a Chapecoense contratou este vôo?
 Por que a Chapecoense estava neste avião?
 Por que Deus, mesmo sabendo de tudo que aconteceria, não impediu a contratação
da LaMia e o embarque no vôo fatídico?
 Por que?
Estas e outras perguntas parecem não ter uma resposta.
Jesus também fez uma pergunta, a única da sua breve existência, balbuciada na cruz, que
jamais respondida em vida: "–Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Ou seja: Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?" (Mc 15.34).
A mesma pergunta: "– Por que?": "–...por que me desamparaste?"
Jesus conhecia o plano eterno da salvação e da necessidade do seu sacrifício. A pergunta
dele não é em função das razões pelas quais ele estava na cruz naquele momento, estas razões ele
bem conhecia. A pergunta de Jesus tem u sentido mais humano, mais existencial, mais psíquico,
mais do ser humano em si: tem o sentido de perguntar por que, apesar das razões bem estabelecidas
para o fato em questão, Deus o havia colocado naquela posição.
O "Por quê?" de Jesus pode ser traduzido assim: "– Eu sei que eu mesmo me ofereci como
oferta pelo pecado da humanidade e que por isso estava determinado que eu deveria morrer como
estou morrendo, isto eu sei; mas eu queria saber você me desamparou, me colocou nesta posição,
aceitou que eu viesse, "Por quê?" não poderia ter sido de outra forma?
A resposta a esta pergunta nunca foi respondida. Jesus morreu sem uma resposta, não sem
confiar em Deus e ter fé no seu amor, mas sem a resposta sim.
É mais ou menos a mesma pergunta da tragédia de Medellín: por que aquele vôo? Por que
estava naquela aeronave o time da Chapecoense?
Mais uma vez eu me voltei para as Escrituras, para encontrar nelas uma resposta.
As duas últimas falas de Jesus na cruz são estas:

“À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá


sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?” (Marcos 15:34)

“44 Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve


trevas sobre toda a terra até à hora nona. 45 E rasgou-se pelo
meio o véu do santuário. 46 Então, Jesus clamou em alta voz:
Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto,
expirou.” (Lucas 23:44-46)

A diferença de referência de horário entre Marcos e Lucas deve-se ao fato de que um usa o
horário judaico (Marcos) e o outro usa o romano (Lucas), mas a hora é a mesma, no nosso sistema,
às 15:00 horas, ou seja às 3:00 horas da tarde.
Perto da sua morte, Jesus pergunta: "– Por que?"
Esta pergunta de Jesus não vem aos seus lábios do nada, pelo contrário, ele se lembra das
Escrituras, ele cita as escrituras, ele canta o hino antigo do Salmo 22:

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que


se acham longe de minha salvação as palavras de meu
bramido?” (Salmos 22:1)

“À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá


sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?” (Marcos 15:34)
No momento mais difícil da sua vida ele se volta para as Escrituras, e de lá arranca um
suspiro, uma pergunta... A base da sua fala são as Escrituras. Embora a sua alma esteja chorando,
ele não se afasta de Deus, ele continua apegado a Deus e ele busca na Palavra de Deus a inspiração
para explicar o sofrimento da sua alma: "– Por que?"
Este "– Por que?" é o da Palavra de Deus, não o do coração desesperado e solitário,
incrédulo, sem Deus e deuses, não o do coração que se afasta e se revolta diante da tragédia, mas o
do coração que se volta para Deus e dele de achega, se aconchega, apesar das dúvidas, das
perguntas, das incertezas, da tragédia, da catástrofe... Isto é lindo em Jesus.
Cerca de trinta minutos depois de fazer a pergunta que não teve resposta: "– Por que?",
Jesus mais uma vez se volta às Escrituras, desta vez para não para perguntar, mas para descansar:

“Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste,


SENHOR, Deus da verdade.” (Salmos 31:5)

“44 Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve


trevas sobre toda a terra até à hora nona. 45 E rasgou-se pelo
meio o véu do santuário. 46 Então, Jesus clamou em alta voz:
Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto,
expirou.” (Lucas 23:44-46)

Sua vida estava chegando ao fim, e Jesus mais uma vez busca nos Salmos a inspiração para
achegar-se a Deus. Ele chama: Meu Pai, em aramaico: ABI, meu pai. Em aramaico, a língua nativa
de Jesus, não há como falar como em grego "PAI", sempre haverá o sufixo pronominal de pessoa
acoplado ao substantivo nestes casos e cuja tradução em nossa língua é "meu pai." Ele se volta para
uma palavra doméstica, "MEU PAI" e cita Salmo 31.5:

“Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste,


SENHOR, Deus da verdade.” (Salmos 31:5)

46 Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos


entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.” (Lucas 23:46)

Mesmo sem respostas ele se inclina, ele se submete, ele confia, ele tem fé, ele se entrega,
ele se oferece, ele cede, ele termina nas mãos do Pai.
O que é lindo em Jesus e que eu quero sempre fazer, é que diante das perguntas que não há
resposta, das questões que não existem explicação, dos motivos que não podemos dar as razões, ao
invés de se rebelar, se revoltar e se distanciar, ele se volta às Escrituras, e de lá tira o seu suspiro de
fé e de dor, e de lá também encontra a inspiração para descansar em paz "nas mãos do Pai."
Nem todas as nossas perguntas terão respostas, e parece que as maiores perguntas não têm
respostas. Mas o coração crente de Jesus descansa em Deus sem respostas. O coração crente não
precisa de respostas para descansar em Deus. O coração crente encontra nas mãos de Deus a
resposta para as perguntas que não têm resposta. Se alguma pergunta não tem resposta, a resposta
desta pergunta é "DESCANSAR NAS MÃOS DO PAI". Isto Jesus nos ensinou com a sua vida e
com a sua morte, com as suas perguntas e com a falta de respostas, isto Jesus nos ensinou voltando-
se para as Escrituras no momento mais crítico da sua vida.
Não há respostas às perguntas da tragédia da Chapecoense:
 Por que a Chapecoense contratou este vôo?
 Por que a Chapecoense estava neste avião?
 Por que Deus, mesmo sabendo de tudo que aconteceria, não impediu a contratação
da LaMia e o embarque no vôo fatídico?
 Por que?
Assim como também não houve resposta à pergunta de Jesus.
Nos dois derradeiros momentos da sua vida Jesus voltou-se para Deus e para sua palavra...
duas vezes ele cita as escrituras...

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que


se acham longe de minha salvação as palavras de meu
bramido?” (Salmos 22:1)

“À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá


sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Marcos 15:34)

“Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste,


SENHOR, Deus da verdade.” (Salmos 31:5)

“44 Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve


trevas sobre toda a terra até à hora nona. 45 E rasgou-se pelo
meio o véu do santuário. 46 Então, Jesus clamou em alta voz:
Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto,
expirou.” (Lucas 23:44-46)

Quanto às tragédias do nosso mundo, sempre haverá uma tentativa de resposta. A história
encontrará as suas razões e os historiadores darão as suas explicações, mas eu não quero saber nada
disso, eu quero ficar como Jesus: sem respostas, mas com o coração nas mãos de Deus.
O coração crente descansa sem precisar de respostas, sem exigir explicações, sem
compreender as razões, nada disso importa para o coração crente.
Eu quero ter o coração de Jesus, eu quero me parecer com Jesus. As catástrofes sempre nos
assustarão, nos deixarão perplexos, nos encherão de perguntas, exporão a nossa finitude, mostrarão
a nossa fragilidade, a nossa fraqueza, isto sempre assim.
Mas a lição de Jesus é maior, ela nos ensina como atravessar a catástrofe e a tragédia sem
nos afastar de Deus, que é o nosso Pai. Nós temos o direito inalienável de fazer as perguntas, ele as
fez e nós podemos fazer também as nossas perguntas. Mas a lição de descansar sem respostas, de
manter nossa fé firme no amor de Deus e de confiar nele sempre e em todo tempo é a fórmula
verdadeira CONFIANÇA.
Eu quero ficar como Jesus e convido você também a ficar como Jesus: SEM RESPOSTAS,
MAS COM O CORAÇÃO NAS MÃOS DE DEUS.
Que Deus nos abençoe.

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