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Os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana

BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. In: A construção social da realidade. 33.
Petrópolis: Vozes, 2011

I. A realidade na vida cotidiana


Os autores propõem uma análise sociológica da realidade da vida cotidiana,
desconstruindo, para isso, o que vivemos, pensamos, fazemos, nossa conduta na vida
diária. Situando sua explicação em “A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade
interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em
que forma um mundo coerente.” (BERGER; LUCKMANN, 2011. p. 35) e “O método
que julgamos mais convincente para esclarecer os fundamentos do conhecimento na
vida cotidiana é o da análise fenomenológica” (p. 36) sendo esse método empírico e
não necessariamente científico.

“A coerência é sempre intencional; sempre ‘tende para’ ou é dirigida para objetos [...] O
que nos interessa aqui é o caráter intencional comum de toda consciência. Objetos
diferentes apresentam-se à consciência como constituintes de diferentes esferas da
realidade” (p. 37). Sendo assim, seguem muitos exemplos para explicar melhor isso ao
longo do texto.

Nossa consciência permeia diferentes esferas da realidade: temos consciência que o


mundo tem múltiplas realidades. A realidade da vida cotidiana (a do “aqui” e “agora” se
apresenta como sendo realidade por excelência. É impossível não a ter como realidade.

“O mundo da vida cotidiana é estruturado espacial e temporalmente” (p. 43).


Espacialmente porque as minhas zonas de manipulação frequentemente entram em
contato com as zonas de manipulação dos outros (dimensão social). O tempo é tanto
social como consciente. Tanto nosso organismo quanto a sociedade nos impõem a ideia
de sequência de tempo. “A temporalidade é uma propriedade intrínseca da consciência.
A corrente da consciência é sempre ordenada temporalmente” (p.43)

A intersubjetividade também tem uma dimensão temporal. Nunca pode haver completa
simultaneidade entre níveis de temporalidade (tempo cósmico, calendário socialmente
estabelecido, tempo interior), como evidencia a experiência de espera. “A estrutura
temporal da vida cotidiana não somente impõe sequências predeterminantes à minha
‘agenda’ de um único dia mas impõe-se também à minha biografia em totalidade” (p.
45)

2. A interação social na vida cotidiana


A realidade da vida cotidiana é partilhada com outros. “Meu ‘aqui e agora’ e o dele
colidem continuamente um com o outro enquanto dura a situação face a face. Como
resultado, há um intercâmbio contínuo entre minha expressividade e a dele”. (p. 46) O
seu conhecimento dos outros determina o seu sucesso ou seu fracasso nas suas relações
com eles. Nas interações sociais, eu apreendo o outro por meio de esquemas de
“tipificação”. “Toda tipificação acarreta naturalmente uma anonimidade inicial” (p. 49).
A expressividade do outro lhe dará uma ideia inicial de quem ele é. A medida que você
vai conhecendo-o, que ele vai se tornando acessível a você, será rompida a ideia inicial
e a outra pessoa, até então anônima, se manifestará como um indivíduo único e atípico.

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