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JUAZEIRO – BA
OUTUBRO – 2012
ESTRUTURAS DO PODER POLÍTICO E DEMOCRACIA BRASILEIRA
Resumo: Estruturas do Poder Político e Democracia no Brasil é uma abordagem analítica sobre a
conjuntura na política brasileira, a partir das inferências em textos estudados nas Ciências Políticas,
numa perspectiva dos estudos realizados nos Textos: Culturologia do Estado, Terceira Parte, de
Oliveira Viana, e Coronelismo Enxada e Voto ( O Município e o Regime Representativo no Brasil),
de Victor Nunes Leal, sob o enfoque do poder, adversidades estruturais e da democracia no Estado
brasileiro. Na linha da análise política, serão abordadas as características do poder político no
decorrer da história e suas relações com o Estado e com as proposições democráticas nas últimas
décadas, sob os argumentos trazidos pelos autores em evidência. Nesta perspectiva, a abordagem
examinará supressivamente as formas de governo, as estruturas de poder e o Estado democrático
brasileiro.
INTRODUÇÃO
O Estado brasileiro tem raízes profundas nas entranhas do absolutismo político das classes
dominantes, desde a sua formação embrionária como nação independente. Não precisamos ir muito
longe para se compreender as estruturas firmadas na constituição da nação brasileira, desde o
Império à República Velha, depois a República Nova e os tempos atuais de confirmação da prática
democrática no nosso País. As estruturas de poder do Estado são sempre eficientes no sentido de
manterem o “status quo” de uma parcela dominante da sociedade, a qual inventa e reinventa
estratégias infalíveis de manutenção do poder político aliado às engrenagem de parceria com o
poder econômico, fortalecendo-se como hegemonia de classe mandatária por longos períodos
históricos.
Na perspectiva teórica das concepções de poder, três grandes categorias de poder são
explicadas por Norberto Bobbio; segundo este autor, o poder econômico surge para se valer da
posse de certos bens necessários, ou talvez percebidos como necessários, dada a sua escassez, para
induzir aqueles que não o possuem a adotar certa conduta social, fundamentada especialmente em
um trabalho útil para a sobrevivência. Isto fez surgir a figura do proprietário e do não proprietário,
selando as relações de dominação; numa segunda concepção, nasce o poder ideológico,
confirmando a posse do saber ou do conhecimento de determinadas informações privilegiadas, o
leva ao poder de influenciar os comportamentos de outros membros da coletividades, podendo levá-
los a agir de determinada maneira; nesse viés, nasce o poder político, detentor da força física, dos
meios de coerção social. Este, segundo Bobbio, é considerado o sumo poder, pois quem o possui
será considerado dominante em toda a sociedade.
A palavra democracia, como já sabido, tem origem grega e significa: poder do povo (demo,
(demo,
povo; cracia, poder).
poder). A sua origem remonta às Praças Ágoras de Atenas, onde os cidadãos se
reuniam para decidir os rumos políticos da cidade. Analisando a progressão histórica, quando a
monarquia foi tida como a forma de governo mais adequada para os grandes Estados, pontua-se os
grandes empecilhos em se exercer a democracia direta, um tanto quanto inaplicável, na sua
concepção originária, em vista das exigências dos extensos territórios e das numerosas populações.
Essas dificuldades moldaram novas concepções para uma democracia representativa, concebida em
novo conceito de democracia indireta, na qual os representantes políticos, responsáveis por
governar os estados, são escolhidos pelos cidadãos. Para Oliveira Viana (1999), “o mundo
civilizado só o viu aparecer depois da Revolução Francesa – com o reconhecimento do princípio da
‘soberania do Povo’ e o advento das grandes democracias europeias”.
A DEMOCRACIA BRASILEIRA
No Brasil, diversas problemáticas tiveram que ser superadas até que, enfim, pudesse se
alcançar certo nível estabilidade como Estado democrático de direito. Em 1930, o País vivenciou a
revolução, com a queda da República Velha, resultando na terceira Constituição brasileira,
promulgada em 16 de julho de 1934, tornando a Nação um Estado social democrático; em 1937,
Getúlio Vargas decreta a Carta Outorgada, estruturando o Estado Novo. A Carta de 1937 traz em seu
bojo os princípios fundamentais da democracia, apesar dos oito anos seguintes de regime ditatorial
em que o País mergulhou. Depois da saída de Vargas, a Constituição Federal de 1946 traz
proposições mais democráticas que a anterior. Em 1964, as Forças Armadas assumem o poder
político, instalando duas décadas de ditadura militar. Somente em 1985, o povo brasileiro volta a
chamada "consciência democrática", fundando a resistência à ditadura, fortalecida pela união entre
diversas classe sociais, econômicas, intelectuais e religiosas. Isto fez nascer, em 1984, o movimento
pelas "diretas-já", não alcançado ainda os ideais democrático, o que culminou na eleição indireta do
então candidato Tancredo Neves, eleito o novo Presidente do Brasil, que não chegou a assumir o
cargo.
Nas palavras de Oliveira Viana (1999), o grande problema das nações modernas em colocar
em funcionamento uma nova estrutura de Estado, fundado em bases democráticas, a partir da
Revolução Francesa, foi a ausência de sentimentos e hábitos arraigados numa consciência
democrática dos novos cidadãos, os quais exercitam os fundamentos da democracia no novo tipo de
Estado. Segundo o autor, naquela época não existia na consciência das massas o que ele chamou de
"complexo democrático nacional". Somente depois Revolução Francesa, a classe privilegiada
desaparecera do cenário político, dando espaço para que a classe popular, apesar da falta de uma
cultura de poder político, pudesse conduzir o Estado através da escolha das instituições nacionais
exigidas pelo novo Estado, em que a classe popular passa a exercer a sua soberania e não mais e não
mais o Rei, construindo as estruturas do poder político de baixo para cima e não mais de cima para
baixo.
Essa nova lógica nas estruturas do poder político trouxe uma nova consciência para as
aldeias, as comunas e as cidades, que passaram a vivenciar um novo momento e a postular uma
nova incumbência no exercício do poder do Estado. Oliveira Viana sugere que
Na visão do autor, as estruturas do poder político são arraigadas quando os que estão no
domínio desse poder são permeados de um sentimento de consciência moral, fortalecido pelas
sanções sociais, pela ética política dominante, pelos costumes da sociedade, o que os legitimam ao
exercício representativo de um poder político dirigido aos interesses e não ao sacrifício de interesses
pessoais de família ou do chamado clã ou de partido. Nessas estruturas não há espaço para ambiente
de uma democracia eficiente, “onde quer que esta consciência solidarista falte, ou careça de força
moral coercitiva.” (Viana, 1999, p. 178). Nesse contexto, o direito de sufrágio prevalece aos
eleitores, aos contemplados nas funções do Estado fica reservado aqueles que efetivamente
representam o interesse da comunidade, em nível local ou nacional. Para Oliveira Viana, a não
existência do que ele define como “elemento culturológico essencial”, não define uma estrutura
democrática, que seja uma pequena ou grande democracia. Segundo o autor, os povos de origem
europeia têm os traços desse sentimento cultural democrático, naturalmente transmitido pela nação
matriz. (Viana, 1999, p.178).
Nós, brasileiros, povo sem espírito de colaboração e de equipe, observando esta extrema
solidariedade, extrema harmonia, esta extrema compreensão do interesse coletivo e
nacional, este maravilhoso espírito de colaboração e de ação em conjunto -- em que cada
cidadão inglês agia como se fora peça de uma máquina única e enorme, funcionando com
regularidade, em pleno regime liberal, de livre e espontânea iniciativa -- nós, brasileiros,
contemplando tudo isto, éramos levados a exclamar com orgulho, como se fôramos nós o
autor de toda esta maravilha: -- "Isto, sim, é que é um povo! (Viana, 1999, p. 182)
Estas estruturas de poder político são bem definidas entre os que são governantes e os que
são governados, compotas de lideranças ou chefes, mas também de liderados ou subordinados, os
quais normalmente ou se interessam ou se prendem ao funcionamento local das estruturas de poder
político administrativo, quando não são resultado de algum tipo articulação previsto na Constituição
e nas leis. Dentro desse perfil, as estruturas de poder político, bem assim as características de um
sistema democrático podem ser incluídos dentro de uma ordem jurídica, passando a figurar “entre
os tipos do nosso direito público costumeiro”, legitimados pelas classes populares.
O autor define as estruturas de poder político do Império como sendo uma espécie de clã do
feudo, tornando-se um grupo complexo, com estrutura de poder hierarquizada, composto pelo
senhor do feudo e a sua família, definidos como "senhor-de-engenho", " sesmeiro", "fazendeiro",
"senhor de currais", " estancieiro", etc; asseguradas estas estruturas por um administrador, figurando
como auxiliares mais graduados do senhor-de-engenho; este está acima ou no mesmo plano do
capelão da fazenda, que normalmente acompanha o senhor do feudo nas suas expedições
povoadoras. Dentro dessa grande estrutura de poder, vem a população subordinada, a chamada
massa dos dependentes, que normalmente vivem submissos ao senhor pelo direito de propriedade
pessoal, figurando como escravos ou como submissos ao seu poder hierárquico, embora figurem
como cidadãos livres. “Embora livres também como os outros, formam o que os historiadores
feudais e o direito do feudalismo chamavam a "família rústica" do senhor.” Viana, 1999, P. 201).
Na visão de Victor Nunes Leal, as estruturas de poder político na história brasileira pode ser
analisadas como uma forma peculiar em que foi resultado de uma adaptação dos resíduos do antigo
e exorbitante poder privado, que conseguiu coexistir com um regime de extensa base representativa.
Na opinião do autor, o “coronelismo” é uma estratégia de compromisso, onde prevalece a troca de
favores entre o poder público e as lideranças locais. Isso fortalece progressivamente os chefes locais
e os senhores de terra. O autor ressalta que essas estruturas de poder privado ainda persistem nas
regiões do interior brasileiro.
A consequência dessas estruturas se reflete no poder público, pois que, alimentado por este,
cumpre uma função de representatividade política, com sufrágio ampliado na vida do eleitorado
rural, perpetuando-se uma dependência sem precedentes. Dessas características de poder, segundo
Leal, prosperam o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços
públicos locais, tudo sob a figura imponente da autoridade do “coronel”. O trabalhador rural vê
sempre no “coronel” um referencial de poder, um homem rico, ainda que não o seja, mas que se
destaca como símbolo de poder político e também com símbolo de poder econômico. Quando o
trabalhador rural entra em aperto, recorre imediatamente ao coronel, seu fiador para todos os
negócios realizados pelo trabalhador do campo. Esta dependência faz que o roceiro lute com o
coronel e pelo coronel. O resultado dessa relação são os votos de cabresto, filiados a estas estruturas
de poder na vida econômica rural.
“A rarefação do poder público em nosso País contribui muito para preservar a ascendência
dos “coronéis”, já que, por esse motivo, estão em condições de exercer, extra-oficialmente,
grande número de funções do Estado em relação aos seus dependentes. Mas essa ausência
do poder público, que tem como consequência necessária a efetiva atuação do poder
privado, está agora muito reduzida com os novos meios de transporte e comunicação, que
se vão generalizando.” (Leal, 1986, p. 42)
Uma dinâmica das estruturas de poder do “coronelismo” está permeada pelo sistema de
reciprocidade nas relações estabelecidas entre os componentes chefes municipais e os “coroneis” na
lideranças de magotes de eleitores, sob a condição de domínio do Estado através do erário,
empregos, favores políticos, força policial, e por que não, como ressalta o autor, “o cofre das graças
e o poder da desgraça.” Os dotes pessoais, as relações de influência e de amizade, os conchavos, são
resultados de interesses dos chefes municipais, quando participam da representação política estadual
ou federal.
Estas relações de poder político circulam na via dos interesses, quando não eleitorais,
visualizados nas necessidades supridas pelos cofres públicos, que socorrem os chefes locais em
detrimento de situações emergenciais, quando o socorre vem muitas vezes com dinheiro contado
pelo pagamento de serviços prestados ou por determinadas utilidades. Essa realidade faz
compreender as relações de dominação do Estado, que pretende consolidar-se com o mínimo de
violência. As relações de poder político circulam com aplicação de estratégias as mais amenas de
inferência de algum tipo de violência ostensiva, primando pela conciliação.
O percurso de autores como Oliveira Viana e Victor Nunes Leal demonstra, na concepção
da ciência política, uma sequência de interrupções e rupturas de processos que foram se formando
no decorrer da história brasileira. As estruturas de poder político, com tímidas modificações, ainda
celebram a hegemonia de determinadas classes, ainda perdura a cultura dos senhoriais do engenho
ou da política dos coronéis, um liame de manutenção de poder ficado entre o domínio econômico e
as estruturas do Estado, sob a legitimidade de uma ordem estabelecida e legitimada pelas elites
dominantes. Mesmo as vocações democráticas, ainda que sugeridas numa ideologia de massa, tem
suas premissas na autoridade estatal, mesmo sob o lema de liberdade e respeito ao estado
democrático de direito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. 3ª
edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto. 5ª edição. São Paulo: Alfa Ômega, 1986.