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JOSUÉ RICARDO MENOSSI DE FREITAS

RICARDO ARAUJO PEREIRA


YONG OLIMPIO REIS

VOLUNTARISTAS
SCHOPENHAUER, KIERKEGAARD E NIETZSCHE

Seminário apresentado atendendo às exigências


parciais da disciplina de História da Filosofia II com
o Prof. Rev. Donizeti Rodrigues Ladeia.

SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO


REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
São Paulo
2017
Introdução
Neste seminário buscamos apresentar os principais voluntaristas a fim de
explicar a noção de vontade como uma evolução histórica, na qual a mesma se apresenta
em três sentidos. Psicologicamente, na qual a vontade é colocada sobre a primazia das
demais capacidades cognitivas; Eticamente, na qual a vontade é o determinante moral,
sobrepujando a razão prática sobre a razão teórica e Metafisicamente convertendo a
vontade como a coisa em si, sendo a mesma um absoluto em nosso mundo.
O voluntarismo de Schopenhauer é neste sentido metafísico, por tratar da
vontade como algo absoluto e que rege todas as coisas em nosso mundo, sendo o mesmo
irracional, mas, além disso, a vê como parte da vida psíquica do sujeito.
Já Kierkegaard vê a vontade como algo ético e impossível de ser praticada,
restando ao mesmo apenas lançar-se no campo religioso.
Já Nietzsche vê a vontade como algo além da vontade de viver que é apenas uma
volição negativa, por estar presa na noção de bem e mal, portanto cabe ao homem
romper com isso em uma nova vontade a vontade de poder, rompendo com as
instituições tradicionais e se tornando em super-homem. (MORA, 1978).
Desenvolvimento
Vida e obra de Schopenhauer
Historicamente Schopenhauer era o adversário mais apaixonadamente envolvido
contra Hegel, chegando a qualifica-lo como “sicário da verdade” e seu pensamento
como “palhaçada filosófica”.
Nasceu em 22 de Fevereiro de 1788 em Danzing, filho de comerciantes, se
dedicou aso estudos após o suicídio do pai. Estudou na Universidade de Gottingen, onde
estudou como cético Schulze, por conselho deste Schopenhauer estudo Kant e Platão.
No outono de 1811 foi para a Universidade de Berlim, onde ficou decepcionado com as
aulas de Fitche.
Já em 1813 recebeu láurea em filosofia na Universidade de Jena com a
dissertação Sobre a quadrupla raiz do princípio de razão suficiente.
Em Weimar por meio de sua mãe escritora teve acesso a Goethe e Friedrich
Mayer que o introduziu ao pensamento hindu.
Ao transferir-se para Dresden, para concluir a obra O mundo como vontade e
representação, tendo sua primeira edição inutilizada pela baixa repercussão.
Transferiu-se para Berlim onde disputou com Hegel aulas acarretando em um
atrito com o mesmo, que teve sua origem quando expos com toda faculdade reunida uma
discussão crítica ao pensamento de Hegel.

O Voluntarismo de Schopenhauer
O Mundo como Representação
Para entendermos o pensamento de Schopenhauer sobre a vontade precisamos
verificar como ele entendia o mundo, para este filósofo o mundo é uma representação do
próprio sujeito, como o mesmo o vê, isso quer dizer que não podemos compreender
plenamente este mundo fora de nós mesmo, logo o conhecimento que temos do mundo
se encontra em nossa consciência.
Para tal conhecimento que Schopenhauer vai chamar de representação, existem
duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis estas são o objeto e o sujeito.
(REALE & ANTISSERI, 2005).
Como sujeito da representação, entende-se como aquele que tudo conhece, sendo
o sustentáculo do mundo, pois tudo que existe só o é por meio do sujeito.
Já o objeto é aquilo que é conhecido, sendo o mesmo condicionado pelo tempo e
pelo espaço, pois tudo o que existe só o é no tempo e no espaço.
Porém tal objeto só é organizado no tempo e no espaço por meio de categorias de
causalidade. Cada causalidade emerge de necessidades, nas quais Schoupenhauer
classificou em necessidades físicas (causa entre objetos materiais); necessidades lógicas
(a verdade de premissas determina a conclusão); necessidade matemática (causa da
concatenação de entes aritméticos e geométricos) e necessidade moral (causa que regula
as relações entre ações e seus motivos).
Sendo o mundo uma representação minha por meio do trabalho intelectual, não
nos leva além do mundo sensível, sendo a representação apenas um fenômeno não a
coisa em si, o fenômeno é apenas um objeto para o sujeito. Logo todo fenômeno é uma
ilusão que cobre a verdadeira face das coisas e sua essência.
Para solucionar o problema para alcance da essência das coisas Schopenhauer
conclui que o homem além de fenômeno é o sujeito que conhece e que também se
constitui por corpo.

O Corpo como vontade tornada visível


O corpo é dado ao homem de um lado como representação, sendo este objeto e
vontade por outro lado, sendo que toda ação visível do corpo é a manifestação da
vontade, sendo os dois a mesma coisa de maneira indissociável. (REALE &
ANTISSERI, 2005).
O corpo como fenômeno é mais um objeto que pode ser analisado como qualquer
outro objeto. Porém é por meio do corpo que sentimos que vivemos, sentimos o prazer e
a dor, por meio do corpo percebemos o impulso da vida e de conservação.

A Vontade como Essência


Quando imergimos em nós mesmo em um estado mais profundo descobrimos
nossa essência como ente, que é a verdade de que somos vontade. Nessa imersão
rompemos com a ilusão, nos vendo como parte da vontade que rege e move o mundo.
Portanto quando tomamos a consciência de que a vontade é quem rege todos os
fenômenos do universo e da natureza, independente de suas distinções. Tal entendimento
torna possível atingir a coisa em si ultrapassando o fenômeno.
Os fenômenos são múltiplos, já a vontade é única, a mesma é cega e livre, sendo
sua irracionalidade e insaciabilidade que trazem o sentimento de eterna insatisfação.

A Vida como Palco do Conflito entre a Necessidade e o Tédio.


A vida é regida pela vontade que é essência de tudo o quanto existe no mundo,
logo a mesma nos atormenta pela busca de satisfação desta vontade insaciável e
irracional, enquanto não saciamos tal vontade sofremos e sentimos dor, quanto mais
consciente um homem se torna de sua vontade maior o seu sofrimento. O que leva o
homem pela busca de tal satisfação ou privação da mesma, porém a satisfação não é
durável tendo assim uma renovação da necessidade e da força da vontade.
Com isso tornando a vida em necessidade e dor, se satisfeita mesmo que por um
tempo mergulhamos no tédio. Já a satisfação em si é ilusória, já que a vontade renasce
em necessidade com uma nova forma.

O Homem como Ser Selvagem Carente de Redenção.


A vontade age como rédeas que direcionam o corpo do homem, por conta de sua
natureza impulsiva e irracional, o mesmo precisa de meios e formas de se redimir por
ações visíveis tão primitivas quanto a natureza das ações na vontade.
O primeiro passo é tomar consciência de que o homem em si é vontade através
de uma introspecção profunda podemos descobrir nossas necessidades que nos levam a
sofrer e as satisfações que nos colocam em tédio.
Em seguida Schopenhauer nos demonstra dois caminhos para redenção do
homem a arte e ascese.
Na experiência estética da arte o homem se liberta das cadeias da vontade,
deixando de olhar se os objetos lhes são úteis ou nocivos, para isso o mesmo se aniquila
como vontade tornando – se puro olho do mundo, mergulhando no objeto e esquecendo-
se de si mesmo. Porém a experiência estética é apenas uma anulação temporária da
vontade. (REALE & ANTISSERI, 2005).
O segundo caminho é a ascese, ou seja, suprimindo na raiz a vontade de viver.
Para alcançar tal libertação precisa vivenciar a justiça que é o reconhecimento do outro
como igual, o próximo passo está na bondade que é a compaixão pelos outros como
seres aprisionados pela vontade como nós mesmos, uma empatia que nos move em
direção ao outro que sofre, sendo assim tal compaixão colocada por Schopenhauer como
o fundamento da ética.
Por último quanto maior o conhecimento que o sujeito desenvolve sobre as
influencias da vontade sobre o mundo, tal conhecimento tem uma função de aquietação
do desejo, tornando o homem livre.
Portanto a ascese arranca o homem da vontade de vida, do vínculo com os
objetos e assim lhe permite aquietar-se, transformando voluntas (vontade) em noluntas
(recusa).

Søren Kierkegaard
Foi conhecido como “o crítico dinamarquês”, bem como também lhe é atribuído
o título de “pai do existencialismo”, sendo-lhe creditado o termo “existencialismo”.
Seu pai, assombrado por suas aventuras sexuais (seduziu uma jovem empregada
antes de sua esposa morrer, casou-se com ela e teve sete filhos, sendo Kierkegaard o
mais novo), exigiu que seus filhos tivessem uma vida estritamente religiosa.
Por certo período aproveitou os “prazeres” da vida, porem, em uma crise, rompeu
seu noivado e, em seu primeiro livro apresentou o impasse: voltar à devassidão sexual
ou firmar-se em uma espiritualidade íntegra.
Kierkegaard tendia à melancolia, o que lhe rendeu escritos de gênero literário e
percepções peculiares.
Quanto à arte, entendia que o sofrimento do artista rendia risos à plateia.
Morreu em 1855: com 42 anos de idade.

Os Três Estágios
No início de seu trabalho intelectual defendeu haver três estágios, ou stadia da
existência humana:
1º - estágio estético: impotência espiritual, em que o indivíduo é apenas um observador.
Pode até participar de debates, mas não se relaciona com o próximo e nem mesmo tem
direção própria. O hedonismo é central (experiências emocionais e sensuais).
Viver no primeiro estágio não promove uma existência verdadeira e, para sair
desse estágio, é necessário um ato de vontade (decisão existencial).
2º - estágio ético: abre mão de seus pensamentos e atitudes egoístas, reconhece e
observa condutas éticas universais. Há, porém, o conflito com a culpa, haja vista a
finitude do indivíduo e o distanciamento de Deus. O racionalismo deste estágio é, de
fato, característica de destaque.
O universo suprime o individual, o pessoal, adequando a pessoa à abstração e
legalismo no que diz respeito aos seus relacionamentos.
O indivíduo então deve escolher: permanece nesse estágio ou transporta-se para o
próximo estágio.

3º - estágio religioso: este é o estágio alcançado elo ato decisivo de compromisso: salto
de fé.
Nesse estágio, a escolha é feita através do sentimento: Deus é um sujeito
supremo, não simples um Deus entendido filosoficamente.

Temor e Tremor
Nessa obra Kierkegaard questiona a decisão de Abraão em obedecer a Deus em
uma ordem incompreensível: matar Isaque. Essa decisão gera dor.
No episódio sobre o mandamento de Deus a Abraão para que mate seu filho, o
filho da promessa, Kierkegaard entende que Abraão passou por ua crise de
questionamentos, pois, apesar de ter vivido antes da promulgação da lei mosaica, já
tinha o senso moral, a essência do “não matarás”. Nesse ponto, em meio à razão, Abraão
está exatamente no estágio ético, e o grande questionamento se dá justamente na
possibilidade de se suspender o que é ético por força de um poder superior.
Abraão, então, revela o “temor e tremor” por meio de um ato de fé, partindo,
dessa forma, para o estágio religioso.

Um Ataque à Cristandade
Critica o cristianismo nominal, pois, em seu tempo, a cidadania em determinado
país cristão definia a religião do indivíduo, em especial na Dinamarca, por sua
nacionalidade.
A verdade, para ele é relacionada à subjetividade. Há duas possibilidades de
entendimento: ou a verdade está relacionada a uma fé subjetiva (relativismo), ou a
verdade é compreendida por experiência interior do sujeito (mais provável).
É existencialista, pois vai do real para o ideal, nunca do ideal para o real.
Quanto à teologia, se de fato o sujeito tiver sua relação individual como
prescrição essencial, valerá pura e simplesmente o que lhe é caro é o impacto
existencial.

Um Pós-Escrito não Científico


A verdade está no fervor interior: dois homens orando, um ora a Deus, sendo ele
de uma igreja ortodoxa, porém de forma falsa; o outro a ídolos, porém com verdadeira
devoção. O primeiro, na realidade, ora a um ídolo e o segundo, a Deus.
Para Kierkegaard, o estágio da religião está totalmente desvinculado da razão. O
ser humano, distante de Deus pela condição que a Queda lhe impôs, só pode reaver sua
essência humana pelo salto de fé, por um sentimento: amor a Deus.
Kierkegaard é considerado o pai do existencialismo cristão, sendo confrontado,
posteriormente (século XIX) por Nietzsche.
Teólogos que adotam o seu pensamento como base de sua teologia são Karl
Barth e Emil Brunner: verdade como subjetividade.

Friedrich Nietzsche: sua Vida e Obra


Friedrich Nietzsche, (1844-1900) foi professor de filologia na Universidade de
Basiléia.
Em 1879 deixa a Universidade por motivos de saúde. Em 1883, Nietzsche concebe
sua obra mais importante: Assim Falou Zaratrustra. Em 25 de agosto de 1900 morre sem
poder ficar inteirado do sucesso que estavam tendo os livros que ela havia impresso à
própria custa.

O que é vontade para Nietzsche?


Como seguidor de Schoupenhauer, a vontade é sega e insaciável, uma força que
estaria para além dos nossos sentidos. Ela representa tudo que vemos, é o substrato que
constitui a existência. Mas para Nietzsche, a Vontade não está fora do mundo, ela se dá
na relação, ou seja, é múltipla e se mostra como efetivação real.
Ele estrutura a vontade de duas formas: A vontade de potência e a vontade de
verdade;
Nietzsche faz uma crítica ao dogmatismo dos filósofos, principalmente aos
metafísicos. Para ele os metafísicos tinham um típico preconceito de julgar baseado na
sua verdade e no seu saber.
Vontade de Verdade: É desejo de fundamento, ou seja, motiva o homem a
encontrar uma verdade eterna e imutável que estaria por traz da realidade. Para ele a
vontade de verdade tem uma intenção de nivelar os homens, normatizar a vida e reduzir
o pensamento. Revela-se nas religiões e na filosofia pós-socrática como um desprezo
pelo mundo fazendo, o homem voltar-se para um suposto além do mundo criando uma
valorização espiritual que acaba por desligar o homem da realidade, tornando-o doente,
fraco e manipulável. Até mesmo o ateísmo é uma vontade de verdade, pois, para
Nietzsche gerava uma atividade filosófica inútil, ou seja, uma crítica estéril a um Deus
que não existe.
Vontade de verdade é difundida como valores com preconceitos morais que
degeneram o homem. Isso fez com que o ocidente gerasse homens fracos, “humildes” e
dignos de pena. A vontade de verdade é para Nietzsche uma mentira.
Vontade de Potência: É uma crítica a filosofia ocidental após Sócrates e quanto
ao cristianismo. A vontade de potência é uma vontade de vida, não de saber a verdade da
vida, mas de viver. A vontade de potência se volta para este mundo e para os fluxos de
imagens fortes, individuais e primitivas que nos ligam a vida, que nos dão força,
significados e objetivos. Ora, são justamente esses fluxos e essas vivencias individuais
que se ligam ao homem, à vida e ao mundo.
Referências
CARNEIRO, Alfredo; Nietzsche: Vontade de Verdade e Vontade de Potência; 2013.
Disponível em: http://www.netmundi.org/filosofia/2013/09/29/nietzsche-vontade-de-
verdade-e-vontade-de-potencia/. Acesso em 15 de Março de 2017.

MORA, José F.; Dicionário de Filosofia; tradução de Antônio José Massano e Manuel
Palmeirim; Lisboa; Publicações Dom Quixote, 1978.

REALE & ANTISSERI, Giovanni e Dario; História da Filosofia, 5 – do Romantismo


ao Empiriocriticismo, Tradução de Ivo Storniolo, São Paulo; Paulus; 2005.

SPROUL, R. C. (Robert Charles). Filosofia para Iniciantes. Tradução de Hans Udo


Fuchs, São Paulo: Vida Nova, 2002 (“Søren Kierkegaard: o crítico dinamarquês”, pp.
143-154).

TRINDADE, Rafael; Nietzsche – Vontade de Potência; 2013. Disponível em:


https://razaoinadequada.com/2013/07/15/nietzsche-vontade-de-potencia/. Acesso em 15
de Março de 2017.

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