Você está na página 1de 28

A Epístola aos

Efésios

Hamilton Smith
CONTEÚDO

1. Introdução

2. O Propósito de Deus em Cristo – Efésios1

3. A Obra de Deus na Realização do Seu Propósito – Efésios 2

4. A Forma de Deus Tornar Conhecido o Seu Propósito – Efésios 3

5. O Caminhar do Crente em Relação à Assembleia - Efésios 4:1-16

6. O Caminhar do Crente ao Confessar o Senhor – Efésios 4:17-32

7. O Caminhar do Crente como um Filho de Deus – Efésios 5:1-21

8. O Caminhar do Crente em Conexão com os Relacionamentos Naturais –


Efésios 5:22 - 6:9

9. O Conflito – Efésios 6:10-20

2
1 – INTRODUÇÃO

É um grande favor que o abençoado Deus tenha revelado a Si mesmo em graça


a um mundo de pecadores, e ainda Ele fez mais, já que revelou aos crentes os conselhos
secretos do Seu amoroso coração.

Para aprender sobre a bem-aventurança dessas revelações devemos nos voltar à


Epístola de Paulo aos Efésios, pois ali temos uma revelação inspirada dos conselhos de
Deus para a glória de Cristo e a bênção daqueles que estão destinados a compartilhar da
Sua glória.

É de suma importância ver que há o conselho da vontade de Deus para os


crentes, assim como a graça de Deus que traz a salvação de todos os homens.
Geralmente somos mais bem informados sobre a Sua graça salvadora do que sobre os
conselhos do Seu coração. A graça salvadora de Deus encontra a nossa condição de
pecadores, e inevitavelmente devemos começar com aquilo que atende a nossa
necessidade; mas os conselhos de Deus revelam o que Deus propôs fazer acontecer para
a satisfação do Seu próprio coração. A graça salvadora de Deus, e os conselhos de Deus,
embora sejam bênçãos distintas, não podem ser separadas, pois a graça que salva a
nossa alma nos conduz à glória que satisfaz o coração de Deus.

Na revelação dos conselhos do coração de Deus descobrimos o verdadeiro


caráter celestial da cristandade. Aprendemos que, embora a igreja seja formada na terra,
ela pertence ao céu e, embora passe pelo tempo, ela foi deliberada na eternidade e para a
eternidade.

Efésios 1 nos revela os conselhos eternos de Deus para Cristo e a Sua igreja em
vista da eternidade.

Efésios 2 apresenta os caminhos de Deus para a formação da igreja no tempo


em vista dos Seus conselhos para a eternidade.

Efésios 3 apresenta o serviço especial confiado ao apóstolo Paulo em conexão


com o tornar conhecida a verdade sobre a igreja.

Efésios 4 a 6 formam a porção prática da Epístola, na qual os crentes, que são


instruídos nos conselhos do Deus, são exortados a andar em coerência com essas
verdades enquanto passam pelo tempo. Se Deus aconselhou que houvesse, nos santos, a
exibição da Sua graça em toda a eternidade, Ele não pode deixar de desejar que na
assembleia, enquanto for formada no tempo, deva haver um testemunho da Sua graça,
amor e santidade.

3
2 – O PROPÓSITO DE DEUS EM CRISTO

Efésios 1
No primeiro capítulo da Epístola nos é aberta a revelação do propósito de Deus
para Cristo e Sua igreja. Nos capítulos que seguem aprenderemos os caminhos
graciosos de Deus na formação da igreja; mas nos é revelado primeiro o propósito de
Deus em vista da eternidade, para que possamos inteligentemente entrar em Seus
caminhos enquanto é tempo.

Depois dos Versos introdutórios nos é apresentada primeiro a chamada de


Deus que revela o propósito dEle para aqueles que compõem a Sua igreja (Versos 3 a
7). Em segundo lugar, temos a revelação da vontade de Deus para a glória de Cristo
como o Cabeça de toda a criação, e a bênção da igreja em associação com Cristo
(Versos 8 a 14). Em terceiro lugar, temos a oração do apóstolo para que possamos
compreender a grandeza do chamamento de Deus, a bem-aventurada herança e a força
poderosa que está cumprindo o propósito de Deus e trazendo crentes para dentro da
herança.

1 - O propósito de Deus para os crentes (Versos 1-7)

(Versos 1, 2). O apóstolo está a ponto de revelar os grandes segredos da


vontade e do propósito de Deus, e ele, por isso, tem o cuidado de lembrar aos santos que
é “apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus”. Ele não é enviado por homem, como
servo de homem, para revelar a vontade do homem. Ele é divinamente equipado, e
enviado por Jesus Cristo, segundo a vontade de Deus para revelar a Sua vontade.

Além disso, ele se dirige aos crentes efésios como “aos santos... e fieis em
Cristo Jesus”, implicando que na assembleia em Éfeso havia uma condição espiritual,
caracterizada pela fidelidade ao Senhor, a qual os preparou para receberem estas
comunicações profundas. É possível para uma companhia de santos ser marcada por
muito zelo e atividade, e, contudo estar em falta com a fidelidade ao Senhor. Na
verdade, esta era a condição na qual esta mesma assembleia caiu nos anos posteriores,
por isso o Senhor teve de dizer-lhes que apesar de todo zelo e labuta deles, “tenho,
porém, contra ti, que deixaste o teu primeiro amor… caíste”. No tempo em que o
apóstolo escreveu isso eles ainda eram, como uma companhia, marcados pela fidelidade
ao Senhor. Ademais, além de uma condição correta da alma, se tivermos que ganhar
com a epístola, precisaremos da “graça” e da “paz” de Deus o nosso Pai e do Senhor
Jesus Cristo, que o apóstolo desejou a esses santos.

(Verso 3). Depois dos Versos introdutórios o apóstolo imediatamente revela a


bênção dos crentes segundo o propósito de Deus, e, portanto as bênçãos mais elevadas
para eles. Nesta grande passagem aprendemos a fonte de todas as nossas bênçãos, o
4
caráter delas, o princípio das nossas bênçãos e o fim que Deus tem em vista ao nos
abençoar tão ricamente, e acima de tudo que os propósitos de Deus são realizados
através de Cristo.

A fonte de toda a nossa bênção se encontra no coração de Deus e Pai de nosso


Senhor Jesus Cristo. Deus foi perfeitamente revelado em Cristo. Em Sua passagem por
este mundo como Homem, Ele manifestou a infinita santidade e poder de Deus e a
perfeita graça e amor do Pai. É para o coração de Deus o Pai assim revelado que somos
privilegiados a traçar todas as nossas bênçãos.

Então somos instruídos quanto ao caráter das nossas bênçãos. O Pai “nos
abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. A pequena
palavra “todas” nos fala da plenitude das nossas bênçãos. Nem uma bênção que Cristo,
como um Homem, desfrutou foi retida. Somos abençoados “com todas” as bênçãos
espirituais. Por mais que a cristandade professa possa conferir benefícios exteriores aos
homens, sempre permanece verdadeiro que as bênçãos cristãs são espirituais e não
materiais, como com a nação de Israel. As nossas bênçãos não são, contudo menos reais
porque têm um caráter espiritual. A filiação, a aceitação, o perdão – algumas bênçãos
colocadas diante de nós nesta Escritura – são bênçãos espirituais além do alcance da
prosperidade deste mundo, mas asseguradas por Cristo ao mais simples crente Nele.

Além disso, a esfera apropriada para as nossas bênçãos não é a terra, mas o
céu. Fomos abençoados “nos lugares celestiais”. Na terra podemos ter pouco; no céu
somos ricamente abençoados. Todas essas bênçãos espirituais e celestiais são em
conexão com Cristo, não em algum sábio por causa da nossa conexão com Adão. Elas
são “em Cristo”. As bênçãos dos judeus eram temporais, na terra, e na linhagem de
Abraão: as bênçãos cristãs são espirituais, celestiais, e em Cristo. Diferentemente das
bênçãos terrenas elas não dependem de saúde, ou riquezas, ou posição, ou educação, ou
nacionalidade. Elas estão fora de toda a variedade de coisas terrenas, e permanecerão
em toda a sua plenitude quando a vida no tempo é terminada e o nosso caminhar na
terra é encerrado.

(Verso 4). Então aprendemos não apenas sobre a fonte e o caráter das nossas
bênçãos como vinda do coração do nosso Deus e Pai, mas descobrimos que elas tiveram
o seu início “antes da fundação do mundo”. Então foi na distante eternidade, que fomos
escolhidos em Cristo. Isto envolve uma escolha soberana inteiramente independente de
tudo o que temos em conexão com Adão e o seu mundo, e que nada que aconteça no
tempo pode alterar.

Além disso, nos é permitido ver não apenas o início das nossas bênçãos antes
da fundação do mundo, mas também o grande fim que Deus tem em vista quando o
mundo tiver acabado. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos escolheu em
Cristo antes da fundação do mundo para que nas eras por virem possamos estar “diante
Dele” para a satisfação do Seu coração – “para que fossemos santos e irrepreensíveis
diante Dele em amor”. Se é o propósito de Deus ter um povo diante Dele por toda a
5
eternidade, eles devem estar em uma condição que é absolutamente ajustada a Ele; e
para ser ajustada a Ele eles devem se parecer com Ele. Somente aquilo que se parece
com Deus pode se ajustar a Deus. Por isso Deus nos terá “santos e irrepreensíveis” e
“em amor”. Isso é realmente o que Deus é, e o que foi perfeitamente expresso em Cristo
como Homem. Ele foi santo no caráter, irrepreensível na conduta, e amor na essência.
Deus, também, nos terá diante Dele em um caráter que é perfeitamente santo, em
conduta à qual nenhuma culpa pode ser imputada, e com uma natureza que é amor e
pode corresponder ao amor – o amor de Deus. Deus é amor, e o amor não pode estar
contente sem uma resposta nos objetos do amor. Deus vai cercar a Si mesmo com
aqueles que, semelhantemente a Cristo como Homem, perfeitamente correspondem ao
Seu amor, para que Ele possa deleitar-se em nós e possamos nos deleitar nEle.

Quando a fé recebe estas grandes verdades, e olha para o glorioso fim, se


deleita com tudo o que foi revelado do coração de Deus e da eficácia da obra de Cristo.
Tal é o amor do Pai, e tal a virtude da obra de Cristo, que por toda a eternidade
estaremos diante da face do Pai santos e irrepreensíveis, e por isso no pleno e
desimpedido desfrute do amor divino.

Quando nos é desta forma permitido olhar para a eternidade e termos uma
visão ampla da bênção que está diante de nós, este mundo passageiro, que muitas e
muitas vezes nos parece tão grande e importante, se torna muito insignificante, enquanto
a cristandade, vista em seu verdadeiro caráter segundo Deus, se torna excessivamente
grande e abençoada.

(Verso 5). Há, além disso, bênçãos especiais para as quais os crentes estão
predestinados. A predestinação sempre parece ter em vista essas bênçãos especiais.
Segundo a soberana escolha os crentes, em comum com os anjos, estarão diante de Deus
santos e sem culpa. Mas, adicionalmente a essas bênçãos, os crentes foram
predestinados ao lugar especial de filiação. Fomos colocados no mesmo lugar de
relacionamento com o Pai que Cristo tem como Homem, para que Ele possa dizer:
“Meu Pai, e vosso Pai”. Os anjos são servos diante dEle; nós somos filhos “para Si
mesmo”.

Este lugar especial de relacionamento é “segundo o beneplácito da Sua


vontade”. Assim a bênção do Verso 5 sobrepassa a bênção do Verso 4. Ali foi a
soberana escolha que pela graça nos torna agradáveis a Ele: aqui é o beneplácito de
Deus que predestina os crentes para o relacionamento de filhos.

(Verso 6). A forma que Deus agiu para nos predestinar para este grande lugar
de bênção ressoará “para o louvor e glória da Sua graça”. As riquezas da graça de Deus
nos coloca diante dEle mesmo na conveniência a Ele; a glória da Sua graça nos leva ao
relacionamento com Ele, tendo nos tomado em favor no Amado. Se fomos aceitos no
Amado, somos aceitos como o Amado, com todo o prazer com o qual Ele foi recebido
na glória.

6
(Verso 7). Os Versos precedentes apresentaram o propósito de Deus para os
crentes; neste Verso somos lembrados da forma com que Deus nos tomou para que
possamos participar dessas bênçãos. Fomos remidos pelo sangue de Cristo, e os nossos
pecados perdoados segundo as riquezas da Sua graça. As riquezas da Sua graça
satisfazem toda a nossa necessidade como pecadores; a glória da Sua graça satisfaz o
beneplácito de Deus de nos abençoar como santos. Um homem rico pode abençoar um
mendigo pela abundância das suas riquezas, e isto seria uma grande graça, mas se o
homem rico fosse além, e trouxesse o homem pobre para a sua casa e lhe desse o lugar
de um filho, ele não seria apenas graça para o pobre homem, mas a honra e a glória do
homem rico. As riquezas da graça satisfizeram a necessidade do prodigo e o vestiram
com um veste da casa do pai: a glória da graça deu a ele o lugar de um filho na casa. A
glória da graça de Deus fez dos crentes filhos, não servos.

2 - A revelação da vontade de Deus para a glória de Cristo e bênção da igreja


(Versos 8-14)

(Versos 8, 9). Deus não apenas nos designou para as bênçãos que virão depois,
e não apenas já possuímos a redenção das nossas almas e o perdão dos pecados segundo
as riquezas da Sua graça, mas esta mesma graça abundou em relação a nós para que
possamos ter no tempo presente o conhecimento do Seu propósito. Deus tornou
conhecido para nós o mistério da Sua vontade para que possamos conhecer o
beneplácito que tem proposto nEle mesmo.

É da vontade de Deus que a igreja, enquanto aqui na terra, fosse a depositaria


dos Seus conselhos. Deus permitiria que fôssemos sábios e inteligentes quanto a tudo o
que Ele está fazendo, e ainda fará, para o Seu beneplácito, para a glória de Cristo, e para
a bênção da igreja. Ter a mente de Deus nos manteria calmos na presença do
desassossego do mundo, e nos levantaria acima da tristeza e do pecado, como aqueles
que conhecem o resultado de tudo isso. Na Escritura um “mistério” não é
necessariamente algo que é misterioso, mas antes um segredo que é tornado conhecido
para os crentes antes que seja publicamente declarado ao mundo. No mundo vemos o
homem fazendo a sua própria vontade segundo o seu próprio prazer, e por isso toda
tristeza e confusão. Mas é privilégio do crente conhecer os segredos de Deus, e por isso
saber que Deus operará todas as coisas segundo o Seu beneplácito, e que no final os
Seus propósitos prevalecerão.

(Versos 10-12). Os Versos que seguem nos abrem este mistério de Deus.
Aprendemos que há duas partes neste mistério. Primeiramente, há o propósito de Deus
para Cristo; em segundo lugar, há aquilo que Deus tem proposto para a igreja em
associação com Cristo.

7
É o prazer de Deus, na dispensação da plenitude dos tempos, reunir em unidade
todas as coisas em Cristo. A “plenitude dos tempos” dificilmente se referiria ao estado
eterno, já que então Deus será tudo em todos. Parecia ter em vista o mundo por vir – o
dia do Milênio – quando o resultado pleno dos caminhos de Deus no governo será visto
em perfeição. Todos os princípios de governo que foram confiados aos homens em
tempos diferentes, e nos quais os homens tanto falharam completamente, serão vistos
em perfeição sob a administração de Cristo. A ruína dos tempos foi vista sob o governo
de homem; a “plenitude”, ou perfeição, dos tempos, será vista quando Cristo reinar.
Então toda coisa ou ser criados, nos céus e na terra, irão se mover sob Seu controle e em
Sua direção. Por conseguinte, a unidade, a harmonia e a paz prevalecerão. Tal é o
segredo, ou mistério, da vontade de Deus para a glória de Cristo.

Além disso, nos é permitido ver que é o beneplácito de Deus que a igreja, em
associação com Cristo, tenha parte nesta vasta herança sobre a qual Cristo será o
Cabeça. No décimo primeiro Verso o apóstolo diz: “fomos feitos herança”, referindo-se
certamente aos crentes dentre os judeus. A nação judaica tinha perdido a sua herança
terrestre por rejeitar a Cristo e prosseguir na sua própria vontade. Os remanescentes dos
judeus, que creram em Cristo, obtiveram uma herança mais gloriosa no mundo por vir,
segundo o propósito Dele que operou todas as coisas segundo o conselho da Sua própria
vontade. Associado a Cristo em Seu reinado, os crentes exporão a Sua glória. Naquele
dia Ele será “glorificado” e “admirado” em todos os que creem (2 Ts 1:10). O mundo e
toda a criação serão abençoados sob Ele: a igreja terá a sua porção com Ele. Esses
crentes dentre os judeus tinham “primeiro confiado” em Cristo. Eles tinham confiado
em Cristo durante o dia da Sua rejeição: a nação restaurada confiará nEle no dia da Sua
glória.

(Verso 13). O “vós” do Verso 13 traz os crentes dentre os gentios para terem
parte na bênção desta gloriosa herança. Eles tinham crido no Evangelho da sua
salvação, e tinham sido selados com o Espírito Santo da promessa.

(Verso 14). O “nosso” do Verso 14 reúne os crentes, dentre os judeus e os


gentios. Estes compartilham em comum esta gloriosa herança. Pelo Espírito
desfrutamos de um antegosto da bem-aventurada herança. Esta herança é uma possessão
comprada – o preço: o precioso sangue de Cristo. Toda a criação é dEle, já que Ele é o
Criador; e tudo é dEle pelo direito da compra. Embora tudo tenha sido comprado, tudo
ainda não foi redimido. Ele comprou a herança pelo sangue; Ele redimirá a herança pelo
poder. Quando Ele tiver libertado toda a criação do inimigo pelo Seu poder, ela será
para o louvor da glória de Deus.

3 - A oração para que os crentes possam conhecer a esperança do


chamamento e a glória da herança (Versos 15-23)

8
(Verso 15). A oração é introduzida colocando diante de nós a condição
espiritual dos santos efésios – uma condição que estimulou o apóstolo a agradecer, e
orar sem cessar, a favor deles. Muito abençoadamente, eles eram marcados pela “fé que
entre vós há no Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos”. Sendo Cristo o
objeto da sua fé, os santos se tornaram o objeto do seu amor. Não pode haver nenhuma
maior prova da fé viva em Cristo do que o amor prático para com os santos. A fé coloca
a alma em contacto com Cristo, e, estando em contacto com Ele, o coração se derrama
por todos aqueles que Ele ama. Quanto mais perto nos achegamos a Cristo, mais as
nossas afeições se derramam por aqueles que são dEle.

(Verso 16). Ouvindo da sua fé e amor, o apóstolo é forçado a dar graças e orar
sem cessar por esses santos. Se estivermos ocupados apenas com os defeitos e fracassos
uns dos outros, seremos esmagados e constantemente nos queixaremos dos santos. Se
olharmos e estivermos ocupados com o que a graça de Deus operou nos santos, teremos
motivo para dar graças, enquanto, ao mesmo tempo, não seremos indiferentes àquilo
que possa precisar de correção. O apóstolo nunca negligenciou o que era de Cristo nos
santos, muito embora nunca tenha sido indiferente ao que era da carne. Mesmo com
relação aos santos coríntios, nos quais houve muito que demandasse correção, ele pode
dar graças pelo que viu de Deus neles. Em nossa fraqueza, temos a tendência de cair em
um ou outro extremo. Em nossa ansiedade por mostrar amor podemos tratar muito
levemente o que está errado; ou, em nossa oposição ao que está errado, podemos
negligenciar o que é de Deus.

O apóstolo esteve revelando os conselhos de Deus a esses santos, e o fato de


que é forçado a orar é, em si mesmo, um testemunho da imensidade desses conselhos.
Eles estão além do poder de meras palavras humanas para ser expresso, e além do poder
da mente humana para ser compreendido. O apóstolo compreende que se essas grandes
verdades devem nos afetar, a mera afirmação delas não é suficiente. Escrevendo a
Timóteo ele diz: “Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em
tudo” (2 Tm 2:7). Assim nesta epístola, Paulo, conduzido pelo Espírito, pode nos
revelar os conselhos de Deus, mas ele compreende que somente Deus pode dar a
compreensão. Por essa razão ele se volta à oração.

(Verso 17). O apóstolo se dirige ao “Deus de nosso Senhor Jesus Cristo”, visto
que nesta oração, o Senhor Jesus é visto como Homem. A oração de Efésios 3 é dirigida
ao Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pois ali o Senhor é visto como Filho. Outra razão
para o uso de Nomes diferentes nas duas orações pode ser por que o apóstolo deseja, na
primeira oração, que conheçamos o poder que leva a cabo os conselhos de Deus, pois o
Nome de Deus é diretamente conectado ao poder; e a segunda oração, sendo
concernente ao amor, é muito apropriadamente dirigida ao Pai.

Nesta oração Deus também é tratado como o “Pai da glória”, apresentando o


pensamento daquela cena de glória da qual vamos tomar seu caráter de Pai de quem ela
emana. O Seu amor e santidade permearão aquele mundo de gloria no qual Deus será

9
perfeitamente apresentado. Enquanto o Pai é a emanação e fonte da glória, o Senhor
Jesus, como Homem, é o centro e objeto da glória. Nele todo o poder de Deus é
apresentado, o Seu Nome está acima de todo nome, e Ele é o Cabeça sobre todas as
coisas para a igreja.

Para entrar nas verdades que formam o objeto da oração do apóstolo,


precisamos do espírito de sabedoria e revelação do conhecimento pleno de Cristo. Toda
a sabedoria de Deus e toda a revelação da vontade de Deus são tornadas conhecidas em
Cristo. Por essa razão precisamos do conhecimento pleno de Cristo para entrar na
sabedoria de Deus, a revelação que Deus tornou conhecida de Si mesmo, e dos Seus
conselhos.

(Verso 18). Além disso, o conhecimento de Cristo pelo qual o apóstolo ora, não
é nenhum mero conhecimento intelectual, mas uma familiaridade de coração com uma
Pessoa, pois ele diz (como o texto deveria ser lido): “Tendo iluminado os olhos do
vosso entendimento [coração]”. Muitas vezes vemos na Escritura, e aprendemos pela
experiência, que Deus ensina através das afeições. Foi assim no caso da pobre mulher
pecadora de Lucas 7, que “amou muito” (Verso 47) e rapidamente aprendeu. Foi assim
no caso de um santo devoto, Maria Madalena, em João 20. A sua afeição por Cristo
esteve ao que parece mais ativa no dia da ressurreição do que a de Pedro e João, e a este
coração carinhoso o Senhor se revelou, e deu a maravilhosa revelação da nova posição
dos Seus irmãos no relacionamento com o Pai.

Com esses desejos introdutórios, o apóstolo faz três grandes pedidos na oração:

Primeiramente: para que possamos saber qual a esperança da vocação de Deus.

Em segundo lugar: para que possamos saber as riquezas da glória da herança


de Deus nos santos.

Em terceiro lugar: para que possamos conhecer o poder que realizará o


propósito da vocação e trará os santos para a herança.

A vocação está em cima em relação às Pessoas divinas no céu: a herança está


em baixo em relação às coisas criadas na terra. Conforme aprendemos em Filipenses
3:14, a vocação celestial, que está em cima, é de Deus e em Cristo. A fonte da vocação é
Deus; por isso, ela é referida aqui como a “Sua vocação”. Ela nos é revelada nos Versos
3 a 6 deste capítulo. Segundo a vocação divina, fomos abençoados com todas as
bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, fomos escolhidos em Cristo pelo
Pai para estarmos diante de Deus, agradáveis a Ele, “santos e irrepreensíveis diante dEle
em amor”, para a alegria e satisfação do Seu coração. Além disso, a vocação nos diz que
estaremos diante Deus, não como servos - como os anjos - mas como filhos diante da
Sua face. Ainda mais, a vocação nos diz que estaremos no favor eterno de Deus, aceitos
no Amado. Por fim, aprendemos na vocação que seremos para o eterno louvor e glória
da graça de Deus.

10
Para resumir a vocação como apresentada nesses maravilhosos Versos, ela
significa que fomos escolhidos e chamados acima para a bênção celestial, para estarmos
como Cristo e com Cristo diante do Pai, no relacionamento com o Pai, no favor eterno
do Pai, e para o eterno louvor e glória da Sua graça.

Esta é a vocação sobre a qual o apóstolo ora, e quanto a qual podemos bem
orar para que possamos entrar em suas bem-aventuranças, e conhecer qual é “a
esperança da Sua vocação”. Aqui a esperança não tem nenhuma relação com a vinda do
Senhor. Como os santos são vistos nesta epístola como assentados nos lugares
celestiais, não há nenhuma alusão à vinda do Senhor. A “esperança” é, como alguém
disse, “a plena revelação na glória eterna de todas as coisas para as quais Deus nos
chamou em Cristo, como o fruto dos Seus conselhos de uma eternidade passada”.

Em segundo lugar, o apóstolo ora para que possamos conhecer “as riquezas da
glória da Sua herança nos santos”. Foi dito: “Em Sua vocação olhamos para cima; a
herança, por assim dizer, estende-se abaixo dos nossos pés”. A herança é apresentada
nos Versos 10 e 11 deste capítulo. Ali aprendemos que a herança inclui todas as coisas
criadas nos céus e na terra sobre as quais Cristo será o glorioso Cabeça. NEle a igreja
obterá uma herança, pois reinaremos com Ele. Na oração a herança é apresentada como
“a Sua herança nos santos”. Um reino não se compõe meramente de um rei e um
território, mas de um rei e seus súditos. Além do mais, “as riquezas da glória da Sua
herança” serão mostradas nos santos. Naquele dia Ele será “glorificado nos Seus
santos”, e “admirado em todos os que tiverem crido” (2 Ts 1:10).

(Verso 19). Em terceiro lugar, o apóstolo ora para que possamos conhecer o
poder que está sobre nós pelo qual todas essas grandes coisas acontecerão. Este poder é
dito como “a força do Seu poder”, e como em “operação”, e por isso ativo em relação a
nós no tempo presente. Ele é um “sobre-excelente” ou insuperável poder. Há outros e
grandes poderes no uniVerso, mas o poder que está “operando” em relação a nós
sobrepuja todo outro poder, seja ele o poder da carne em nós, ou o poder do diabo
contra nós. Que conforto saber que em toda a nossa fraqueza há um insuperável poder
em relação a nós e trabalhando para nós.

(Versos 20, 21). Além disso, ele é um poder que não foi apenas revelado a nós
em uma afirmação, mas demonstrado na ressurreição de Cristo. Foi permitido que o
mundo e Satanás manifestassem a sua maior exposição de poder – o poder da morte –
quando cravaram Cristo na cruz. Então, quando o diabo e o mundo tinham expressado o
seu poder ao máximo grau, Deus demonstrou o Seu insuperável poder ressuscitando
Cristo dos mortos, e colocando-O como Homem no lugar mais elevado do uniVerso, até
a Sua própria destra. Nesta exaltada posição, Cristo foi colocado acima de todo outro
poder, seja principados espirituais e potestades, ou força temporal e domínio. Há nomes
denominados para o governo deste mundo, e para o mundo vindouro, mas Cristo tem
um Nome acima de todo nome – Ele é o Rei dos reis e Senhor de senhores.

11
(Verso 22). Ademais, Cristo não está apenas acima de todo poder, mas todo
mal será posto sob Seus pés. Tal é a expressão poderosa da força que não apenas nos
levará a compartilhar com Cristo este lugar exaltado de glória, mas que está conosco em
nossa jornada para a glória.

Então aprendemos outra grande verdade: Aquele em quem todo o poder foi
demonstrado, que está colocado em uma posição acima de todo poder, que tem o poder
para suprimir todo mal, é Aquele que é o Cabeça sobre todas as coisas para a igreja.

Em relação a todos os poderes do uniVerso Ele está colocado “acima” de todo


poder. Em relação ao mal, tudo está sujeito sob Seus pés. Em relação à igreja, o Seu
corpo, Ele é o Cabeça, e o Cabeça para dirigir em todas as coisas. Por essa razão é
privilégio da igreja confiar a Cristo a orientação e direção em relação a todas as coisas.
Na presença de todo poder oponente, e toda a maldade, temos um recurso em Cristo o
nosso Cabeça. Ele de fato pode usar dons e líderes, para instruir e guiar, mas é para o
Cabeça que devemos olhar e não simplesmente para os fracos e pobres vasos que em
Sua graça Ele possa achar próprio para uso.

(Verso 23). No Verso 22 aprendemos o que Cristo é para a igreja – o que o


Cabeça é para o corpo. No Verso 23 aprendemos o que a igreja é para Cristo – o que o
corpo é para o Cabeça. A igreja é a plenitude daquEle que cumpre tudo em todos. A
igreja, como o Seu corpo, é para a exposição de toda a plenitude do Cabeça. Cristo deve
ser anunciado na igreja. Nada pode ser mais maravilhoso do que o lugar que a igreja
tem em relação a Cristo. Alguém disse: Ela é o Seu corpo “cheia do Seu amor,
energizada com a Sua mente, operando os Seus pensamentos, como o nosso corpo opera
os nossos pensamentos e os propósitos da nossa mente”. Que triste! Tendo não
conseguido dar a Cristo o Seu lugar como o Cabeça acima de todas as coisas para a
igreja, como um resultado necessário, falhou em anunciar a plenitude de Cristo.

Em toda esta grande oração o apóstolo está procurando um efeito presente


sobre a vida dos santos. A vocação e a herança nos estão asseguradas, por isso o
apóstolo não ora para que possamos ter a esperança e a herança, mas para que possamos
saber o que elas são. Por essa razão o conhecimento do que está por vir deve ter um
efeito presente sobre o nosso viver e caminhar, nos livrando, no poder da vida de
ressurreição, da carne e de todo poder oponente, e nos separando em espírito deste
mundo presente.

12
3 – A OBRA DE DEUS NA REALIZAÇÃO DO SEU PROPÓSITO

Efésios 2

Em Efésios 1 estão revelados para nós os conselhos de Deus para Cristo e a


igreja, fechando com a oração do apóstolo para que posamos conhecer o poder sobre
nós pelo qual esses conselhos de amor serão cumpridos.

Em Efésios 2 nos é permitido aprender, primeiramente, como o poder de Deus


opera em nós (Versos 1-10), e, em segundo lugar, os caminhos de Deus conosco
(Versos 11-22), para a formação da assembleia no tempo para cumprir Seus conselhos
para nós.

1 – A obra de Deus no crente (Versos 1-10)

(Versos 1-3). O capítulo abre apresentando um quadro solene da condição e


posição na qual o homem tinha caído na velha criação. Os dois primeiros Versos
apresentam a condição do mundo gentio, enquanto o Verso 3 traz o mundo judeu para
este quadro solene. “E éramos” nós judeus, diz o apóstolo, “por natureza filhos da ira,
como os outros também”.

O judeu e o gentio são vistos estarem mortos para Deus em transgressões e


pecados, mas vivos para o curso de um mundo mau sob o poder do diabo – o príncipe
das potestades do ar. Por essa razão o homem é desobediente a Deus, cumprindo os
desejos da carne e da mente, e por natureza sob o julgamento de Deus.

O judeu, embora em um lugar de privilégio externo, provaram pelos seus


desejos que tinham uma natureza caída e estavam no mesmo nível que os gentios. Tanto
judeu como gentio estão mortos para Deus. Na epístola aos Romanos somos vistos
como sob sentença de morte como resultado do que fizemos – nossos pecados. Aqui
somos vistos como já mortos para Deus como resultado do que somos – como tendo
uma natureza caída. Esta condição de morte não é, contudo, uma condição de
irresponsabilidade, pois o apóstolo descreve o homem como “andando”, tendo
“conversação” e cumprindo os seus desejos. É para Deus que o homem está morto. Para
as influências do mundo, a carne e o diabo, ele está ativamente vivo. Além disso, o
diabo obteve domínio sobre o homem pela sua desobediência a Deus, e a natureza caída
que temos é o resultado desta desobediência – somos filhos da desobediência.

(Verso 4). Se todo mundo está morto para Deus, não há nenhuma possibilidade
do homem se livrar de tal condição. Um homem morto não pode fazer nada com
respeito a alguém para quem ele está morto. Qualquer bênção para um homem morto
deve depender inteiramente de Deus. Isso prepara o caminho para as atividades do amor
13
de Deus. A verdade apresentada não é tanto a nossa entrada nessas coisas
experimentalmente, mas antes o modo com que Deus opera, segundo o Seu próprio
amor para satisfazer a Si mesmo.

Nos três primeiros Versos vemos o homem atuando segundo a sua natureza
caída, colocando-se sob julgamento. Nos Versos que seguem temos, em contraste
direto, Deus apresentado como atuando segundo a Sua natureza, trazendo o homem para
a bênção. Quando o homem atua segundo a sua natureza, ele atua sem referência a Deus
segundo a concupiscência em seu próprio coração. Quando Deus atua segundo a Sua
natureza, Ele atua sem referência ao homem, e por motivos de amor em Seu coração. O
amor de Deus opera em nós quando “mortos em pecados”, não quando começamos a
despertar para um sentimento da nossa necessidade, nem quando respondemos àquele
amor.

Quatro qualidades de Deus chegam diante de nós – o amor, a misericórdia, a


benignidade e a graça (Versos 4 e 7). O amor é a natureza de Deus, a nascente de todas
as Suas ações, e a fonte de todas as nossas bênçãos. Se Deus atuar segundo o amor do
Seu coração, a bênção resultante só pode ser medida pelo Seu amor. A pergunta, então,
não é que medida de bênção atenderá as nossas necessidades, mas qual é a altura da
bênção que satisfará o amor de Deus. A graça é o amor em atividade para com objetos
indignos, e sai em direção a todos. A misericórdia é mostrada ao pecador
individualmente. A benignidade é a concessão de bênçãos ao crente. Deus age, então,
“pelo Seu muito amor”, não devido a algo que somos. Quem pode medir o Seu “muito
amor”, e quem pode medir a bênção que é segundo este amor?

(Verso 5). Esse amor nos é expresso primeiro nas atividades da graça que nos
vivifica, como indivíduos, com Cristo. Se estamos mortos não pode haver nenhum
movimento do nosso lado em direção a Deus. O primeiro movimento deve vir de Deus.
Uma nova vida nos foi comunicada, mas é uma vida em parceria com Cristo. Ela é uma
vida que, na verdade, é a vida Dele com quem estamos vivificados. Assim a nossa
condição por graça é exatamente oposta à nossa condição por natureza. Estávamos
mortos para Deus com o mundo por natureza, agora estamos vivos para Deus com
Cristo por graça.

(Verso 6). Mas não é mudada apenas a nossa condição, a nossa posição
também é mudada. Vivificar é comunicar vida; a ressurreição leva aquele que está
vivificado para o lugar da vida. Este lugar está estabelecido em Cristo. Os crentes
judeus e gentios são ressuscitados juntos e feitos se assentarem juntos nos lugares
celestiais em Cristo. A vivificação é “com Cristo”, mas a ressurreição e o assentar são
“em Cristo”. Na realidade ainda não fomos ressuscitados e assentados nos lugares
celestiais. Sem embargo, estamos diante de Deus nesta nova posição na Pessoa do nosso
representante. Somos representados “em Cristo”.

(Verso 7). Tendo alcançado o mais alto da posição cristã, agora nos é dito o
propósito glorioso que Deus tem em vista para atuar assim em nossa direção em amor. É
14
“para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua
benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Deus, por assim dizer, diz: “Nas eras
vindouras mostrarei o que é o fruto da obra de Cristo, e qual é o propósito do Meu
coração”. É óbvio que apenas a condição e a posição mais alta na qual um homem pode
ser encontrado são adequadas para tais grandes fins. Quando os anjos e os principados
“virem um pobre pecador, e toda a igreja, na mesma glória que o Filho de Deus,
entenderão as abundantes riquezas da graça que os colocou ali”.

(Versos 8 e 9). Tudo acontece pela graça de Deus, e toda bênção que
desfrutamos é dom de Deus. A própria fé pela qual a salvação é recebida é dom de
Deus. As obras do homem não têm nenhuma condição de assegurar esta bem-
aventurança; tudo vem de Deus, e não há lugar para o homem gloriar-se.

(Verso 10). Isso leva a uma nova verdade. Não apenas são as nossas obras
excluídas – pois Deus fez toda a obra – mas também nós somos feituras dEle, e, como
tal, somos parte de uma nova criação em Cristo Jesus. Se, contudo, as obras da lei são
excluídas como um meio para a salvação, não devemos inferir que as obras não têm
nenhum lugar na vida cristã. Há na verdade obras convenientes ao lugar de bênção para
as quais somos conduzidos, as quais Deus preparou anteriormente para que andássemos
nelas. Essas obras serão colocadas diante de nós na parte posterior da epístola, onde
somos exortados a andar dignos da vocação; andar em amor; andar como filhos da luz; e
andar prudentemente (Ef 4:1; Ef 5:2, 8, 15).

“As boas obras”, das quais este Verso fala, são mais do que fazer uma boa
obra, a qual seria possível para um homem natural, cujo caminhar é um tanto bom,
fazer. Aqui os crentes não são vistos apenas como fazendo boas obras, mas como
andando nelas. Além disso, as boas obras são preparadas por Deus e conduzem a um
caminhar piedoso.

2 – A obra de Deus nos crentes (Versos 11-22)

O grande tema do capítulo 2 é a formação da igreja no tempo, em vista dos


conselhos de Deus para a eternidade. A primeira parte do capítulo nos revela a obra de
Deus em nós individualmente, seja judeu ou gentio; a última parte apresenta a obra de
Deus nos crentes judeus e gentios, para reuni-los juntos em “um corpo” e uma casa para
o lugar de habitação de Deus.

(Versos 11, 12). Antes de apresentar a posição presente dos crentes em Cristo,
o apóstolo contrasta a antiga posição dos gentios na carne com o novo lugar deles. Pelo
fato da igreja ser a agregação de todos os crentes desde o princípio do mundo, houve
nos tempos passados (os tempos antes da cruz) uma distinção estabelecida por Deus
entre judeu e gentio que, enquanto existiu, tornou a existência da igreja impossível.

O apóstolo lembra aos crentes gentios que, naquele tempo, existiam distinções
muito acentuadas entre judeu e gentio. Nos métodos de Deus na terra o judeu

15
nacionalmente gozava de um lugar de privilégio exterior no qual os gentios eram
completamente estrangeiros. Israel formava uma comunidade terrena, com promessas
terrenas e esperanças terrenas, e tinham um relacionamento exterior com Deus. A
adoração religiosa deles, a organização política deles, os relacionamentos sociais deles,
desde o mais elevado ato de adoração ao menor detalhe da vida, era regulado pelas
ordenanças de Deus. Este era um imenso privilégio no qual os gentios, como tal, não
tinham nenhuma parte. Não era porque os judeus eram um pouco melhor do que os
gentios, visto que na visão de Deus, a grande maioria dos judeus era tão má quanto os
gentios, e alguns até mesmo piores. Por outro lado, havia gentios individuais, como Jó,
quem eram homens realmente convertidos. Nos métodos de Deus na terra, contudo, Ele
separou Israel dos gentios, e deu-lhes um lugar especial de privilégio, visto que mesmo
se não convertido, (como era o caso com a maioria), era um imenso privilégio ter todas
as suas questões reguladas segundo a perfeita sabedoria de Deus. Os gentios não tinham
tal posição no mundo, não gozavam do reconhecimento público de Deus, nem tinham
suas questões reguladas por ordenanças divinas. Na verdade, as mesmas ordens que
regularam a vida do judeu severamente mantinham judeus e gentios separados. Os
judeus, por isso, tinha um lugar de proximidade externa de Deus, enquanto os gentios
estavam exteriormente longe à parte.

Israel, no entanto, falhou completamente em corresponder aos seus privilégios,


voltando de Jeová para os ídolos. Os mandamentos e as ordenanças de Deus, que deu a
ele a posição impar, eles desconsideraram completamente. Os profetas, através dos
quais Deus procurou apelar para a consciência deles, eles apedrejaram. O próprio
Messias deles, que veio para o meio deles em humilde graça, eles crucificaram; e
resistiram ao Espírito Santo que testemunhou de um Cristo ressurreto e glorificado. Por
conseguinte, eles perderam, por enquanto, o lugar especial de privilégio deles na terra, e
foram espalhados entre as nações.

(Verso 13). A colocação à parte de Israel prepara o caminho para a grande


mudança nos métodos de Deus na terra. O vívido vislumbre do passado, dado pelo
Espírito de Deus nos Versos 11 e 12, torna por contraste a posição dos crentes no
presente mais notável. Após a rejeição de Israel, Deus, na busca dos Seus métodos,
trouxe à luz a igreja, e estabeleceu assim um círculo inteiramente novo de bênção
completamente fora dos círculos judaicos e gentios.

Esta nova posição dos crentes não os vê mais como na carne, mas em Cristo.
Por isso, o apóstolo começa a falar desta nova posição com as palavras: “Mas agora em
Cristo Jesus...”, e passa a delinear um contraste com a antiga posição na carne. Com
relação à carne, o gentio estava exteriormente muito longe de Deus, e o judeu, embora
exteriormente perto, estava moralmente tão longe quanto os gentios. Falando com os
judeus, o Senhor tem de dizer: “Este povo honra-Me com seus lábios, mas o seu coração
está longe de Mim” (Mt 15:8).

16
O apóstolo então passa a mostrar como Deus operou para formar a igreja.
Primeiramente, os crentes “pelo sangue de Cristo chegaram perto”, os gentios sendo
trazidos do lugar distante, no qual o pecado os tinha colocado, para o lugar de
proximidade estabelecido em Cristo. Essa não é uma proximidade meramente exterior
por meio de ordenanças e cerimônias, mas uma proximidade vital que é vista em Cristo
mesmo, ressuscitado dos mortos e comparecendo diante da face de Deus por nós. Por
essa razão é dito: “em Cristo Jesus, vós… pelo sangue de Cristo chegastes perto”. Os
nossos pecados nos coloca muito longe; o sangue precioso de Cristo lava os nossos
pecados e nos traz para perto. O sangue de Cristo declara a enormidade do pecado que
exigiu tal preço para tirá-lo; ele proclama a santidade de Deus que não pode ser
satisfeita com nenhum preço menor, e revela o amor que pode pagar o preço. Não é
apenas que o crente pode se aproximar de Deus, mas que em Cristo ele “chega perto”.

(Verso 14). Em segundo lugar, dos crentes judeus e gentios “fez um”. Ninguém
pode superestimar a importância de se chegar perto pelo sangue; mas, para a formação
da igreja, mais é necessário. A igreja não é simplesmente um número de crentes que
“chegaram perto”, pois isso será a verdade de cada santo de todas as eras comprado pelo
sangue: ela é formada de crentes dentre judeus e gentios “feitos um”. Isso Cristo
consumou pela Sua morte. Em um duplo sentido “Ele é a nossa paz”. Ele é a nossa paz
entre Deus e o crente; e Ele é a nossa paz entre crentes judeus e gentios.

(Verso 15). Em Sua morte Cristo removeu a “lei dos mandamentos” que eram a
causa da distância entre Deus e o homem, e entre judeu e gentio. A lei, embora
prometesse vida àqueles que a guardavam, condenou aqueles que a quebraram. Visto
que todos quebraram a lei, inevitavelmente veio a condenação àqueles sob ela, e por
essa razão colocou o homens a uma distância de Deus. Além disso, se levantou uma
barreira severa – uma parede de separação – entre judeu e gentio. Até que esta barreira
fosse retirada não pode haver nem paz entre Deus e os homens nem entre judeu e
gentio. Na cruz foi levada a condenação pela violação da lei, e por essa razão a
inimizade entre os homens e Deus, e judeu e gentio, foi removida. A paz que é o
resultado está colocada em Cristo; Ele é a nossa paz. Olhamos para trás para a cruz e
vemos que tudo entre Deus e as nossas almas – o pecado, os pecados, a maldição pela
violação da lei e o juízo – estavam ali entre Deus e Cristo, o nosso Substituto; olhamos
para o alto e vemos Cristo na glória com nada entre Deus e Cristo exceto a paz eterna
que Ele fez, e por isso nada entre Deus e o crente. A nossa paz está colocada em Cristo,
que é a “nossa paz”.

Ainda mais, Cristo representa tanto os crentes judeus como os gentios; por isso,
Ele é a nossa paz por estar entre nós: somos feitos um. Na cruz Cristo aboliu
completamente a lei das ordenanças como um meio para se aproximar de Deus, e fez
um novo caminho de aproximação pelo Seu sangue. O judeu que se aproxima de Deus
com base no sangue acabou com as ordenanças judaicas. O gentio é trazido do seu lugar
distante de Deus, o judeu de longe da sua proximidade dispensacional, e ambos são
feitos um no desfrute de uma bênção comum diante de Deus nunca antes possuída por
17
ambos. Os crentes gentios não são elevados ao nível dos privilégios judaicos, nem os
judeus são rebaixados ao nível dos gentios; ambos são levados a uma base
completamente nova a um plano imensamente mais alto.

Em terceiro lugar, os crentes dentre judeus e gentios são feitos “um novo
homem”. Já vimos que eles são “feitos um”, mas isto não expressa a verdade completa
da igreja. Se o apóstolo tivesse parado aqui, de fato deveríamos ter visto que os crentes
são trazidos para perto pelo sangue, e feitos um pela remoção de toda a inimizade, mas
poderíamos ser deixados com o pensamento de que fomos feitos uma companhia em
feliz unidade. Essa de fato é uma abençoada verdade, mas está longe da verdade
completa quanto à igreja. Assim o apóstolo continua em frente e nos conta que não
apenas “chegamos perto”, e fomos “feitos um”, mas que fomos feitos “um novo
homem”. A expressão “novo homem” fala de uma nova ordem de homem, marcada pela
beleza e as graças celestiais de Cristo. Nenhum cristão é adequado para mostrar as
graças de Cristo; é necessário que toda a igreja mostre o novo homem.

(Verso 16). Em quarto lugar, há a outra verdade que os crentes formam “um
corpo”. Os crentes, judeus e gentios, não estão apenas unidos para mostrar as graças do
novo homem, Cristo caracteristicamente em todas as Suas excelências morais, mas
também formam um corpo. Isto é mais do que uma companhia de pessoas em unidade: é
uma companhia de pessoas em união. Eles estão unidos uns aos outros pelo Espírito
para que possam ser um corpo unido na terra para mostrar o novo homem. Por essa
razão, os crentes judeus e gentios não foram apenas reconciliados uns com os outros,
mas, como formaram em um corpo, eles estão reconciliados com Deus. Não combinaria
com o coração de Deus que os gentios estivessem muito longe, nem que os judeus
estivessem exteriormente perto; mas Deus pode descansar prazerosamente por ter
formado dos crentes judeus e gentios um corpo pela cruz, a qual não apenas removeu
tudo o que causava inimizade entre os crentes judeus e gentios, mas também a
inimizade em relação a Deus.

(Verso 17). Toda essa abençoada verdade nos foi trazida pelo Evangelho da
paz pregado aos gentios que estavam muito longe, e aos judeus que estavam
dispensacionalmente perto. Podemos entender por que a pregação é introduzida neste
ponto em uma passagem que fala da formação da igreja. O apóstolo acaba de falar da
cruz, pois sem a cruz não pode haver pregação, e sem a pregação não pode haver igreja.
Cristo é visto como o Pregador, embora o Evangelho que Ele prega seja proclamado
instrumentalmente através de outros.

(Verso 18). Há outra verdade de grande bem-aventurança que através de um


Espírito ambos (judeus e gentios) têm acesso ao Pai. A distância não é apenas removida
do lado de Deus; também é removida do nosso lado. Pela obra de Cristo na cruz Deus
pode se aproximar de nós pregando a paz; e pela obra do Espírito em nós podemos nos
aproximar do Pai. A cruz nos dá nosso título para chegarmos perto; o Espírito nos
permite usar nosso título e na prática nos aproximar do Pai. Se o acesso é pelo Espírito,

18
então, claramente, não há lugar para a carne. O Espírito exclui a carne em todas as suas
formas. Não é por edifícios, ou rituais, ou órgãos, ou coros, ou por uma classe especial
de homens, que ganhamos o acesso ao Pai. É pelo Espírito, e além do mais é “um
mesmo Espírito”, e por isso na presença do Pai tudo é de um acordo.

Vemos, então, nesta grande passagem, primeiramente, as duas classes das quais
a igreja é composta, daqueles que certa vez estavam exteriormente perto e daqueles que
certa vez estavam muito longe. Em segundo lugar, vemos que Deus os fez um novo
homem, e os fez um corpo. Em terceiro lugar, aprendemos a forma pela qual Deus
consumou esta grande obra – pelo sangue de Cristo, “pela cruz”, pela pregação, e pelo
Espírito.

(Versos 19 a 22). Até aqui vimos a igreja como o corpo de Cristo, mas nos
caminhos de Deus na terra a igreja é vista em outros aspectos, dois dos quais são
trazidos para diante de nós nos Versos finais do capítulo. Primeiramente, a igreja é vista
como crescendo “para templo santo no Senhor”; em segundo lugar, como “uma moradia
de Deus”.

No primeiro aspecto a igreja é comparada com um edifício progressivo,


crescendo para templo santo no Senhor. Os apóstolos e os profetas formam as
fundações, sendo o próprio Cristo a principal Pedra Angular. Por toda a dispensação
cristã, os crentes estão sendo acrescentados pedra por pedra até que o último crente seja
edificado, e o edifício completo seja exposto em glória. Este é o edifício do qual o
Senhor diz em Mateus 16: “Eu edificarei a Minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela”. Cristo é o Construtor, não o homem, pois tudo é perfeito, e
nada além de pedras vivas faz parte desta santa estrutura. Pedro nos dá o significado
espiritual deste edifício quando nos diz que as pedras vivas são edificadas em uma casa
espiritual para oferecer sacrifícios espirituais a Deus, e anunciar as excelências de Deus
(1 Pe 2:5, 9). Em Apocalipse 21 João tem uma visão do edifício concluído descendo do
céu da parte de Deus, radiante com a glória de Deus. Então, de fato, daquele glorioso
edifício incessantes sacrifícios de louvor se elevam a Deus, e um testemunho perfeito
das excelências de Deus será dado ao homem.

Então o apóstolo, ainda usando a figura de um edifício, apresenta outro aspecto


da igreja (Verso 22). Depois de ter visto os santos como edificados em um templo que
cresce, ele então os vê como formando uma casa, já completa, para a morada de Deus
em Espírito. Todos os crentes na terra, a qualquer dado momento, são vistos como
formando a morada de Deus. Os crentes judeus e gentios estão sendo “juntamente
edificados” para formar esta morada. O lugar de habitação de Deus é marcado pela luz e
pelo amor. Por isso, quando o apóstolo chega à parte prática da epístola, ele nos exorta a
“andar em amor” e “andar como filhos da luz” (Ef 5:2, 8). A casa de Deus é por essa
razão um lugar de bênção e testemunho, um lugar onde os santos são abençoados com o
favor e o amor de Deus, e, assim tão abençoados, se tornam um testemunho ao mundo
em volta. Em Efésios a morada de Deus é apresentada segundo a mente de Deus, e por

19
isso somente o que é real é contemplado. Outras Escrituras mostrarão, infelizmente,
como, nas mãos dos homens, a morada tem sido corrompida, até que finalmente lemos
que o “julgamento deve começar pela casa de Deus” (1 Pe 4:17).

Temos, por isso, neste capítulo uma tripla apresentação da igreja:

Primeiramente, a igreja é vista como o corpo de Cristo, composto de crentes


judeus e gentios unidos a Cristo na glória, formando assim um novo homem para
mostrar a todos que Cristo é como o Homem ressurreto, o Cabeça sobre todas as coisas.
Vamos nos lembrar de que a igreja não é apenas “um corpo”, mas é o “Seu corpo”,
mesmo quando lemos: “a igreja, a qual é o Seu corpo”. Como o Seu corpo, a igreja é a
Sua plenitude, cheia de tudo o que Ele é para expressar tudo o que Ele é. A igreja, o Seu
corpo, deve ser a expressão da Sua mente, assim como o nosso corpo dá expressão ao
que está em nossa mente.

Em segundo lugar, a igreja é apresentada como crescendo para um templo


composto de todos os santos de todo o período cristão, no qual os sacrifícios de louvor
ascendem a Deus, e as excelências do Deus são mostradas aos homens.

Em terceiro lugar, a igreja é vista como um edifício completo na terra,


composto de todos os santos a qualquer dado momento, formando a morada de Deus
para abençoar o Seu povo e testemunhar ao mundo.

20
4 – A FORMA DE DEUS TORNAR CONHECIDO O SEU PROPÓSITO

Efésios 3

Vimos que Efésios 1 apresenta os conselhos de Deus quanto à igreja, enquanto


Efésios 2 apresenta a obra de Deus em e com os crentes para cumprir os Seus conselhos.
Efésios 3 apresenta a administração da verdade da igreja, o caminho que Deus tomou
para fazer conhecida a verdade aos gentios através da instrumentalidade do apóstolo
Paulo.

Comparando Efésios 3:1 com Efésios 4:1, será claramente visto que Efésios 3 é
parentético. Efésios 2 apresenta a doutrina e Efésios 4 a prática compatível com a
doutrina. Entre a doutrina e a prática temos esta importante subterfúgio no qual o
Espírito Santo apresenta a administração especial, ou serviço, confiado ao apóstolo. No
segundo verso este serviço é mencionado como “a dispensação da graça de Deus”, e no
verso 9 como “a dispensação do mistério”. Em ambos os versos a palavra é a mesma na
língua original. A melhor tradução é “administração”, uma administração como sendo
um serviço determinado. Este serviço era proclamar o Evangelho e tornar conhecida a
verdade entre os santos. No decorrer deste parêntese temos a apresentação de novas
grandes verdades com relação à igreja.

1 - O efeito de ministrar a verdade da igreja

(Versos 1, 2). O apóstolo nos diz que o efeito imediato de ministrar a verdade
da igreja era o de levar aquele que a proclamava à reprovação no mundo religioso. Esta
grande verdade suscitava a especial hostilidade do judeu, visto que não apenas via o
judeu e o gentio na mesma posição diante de Deus – morto em transgressões e pecados
– mas de forma alguma exaltava o judeu a um lugar de bênção acima do gentio. Além
disso, como a verdade da igreja deixava de lado todo o sistema judaico, com sua
apelação ao homem natural por meio de uma adoração exterior em templos feitos por
mãos, levantava a oposição daqueles que sustentavam aquele sistema. Naquele tempo,
assim como agora, a manutenção da verdade da igreja como revelada, e ministrada pelo
apóstolo Paulo implicará em reprovação e oposição daqueles que procuram manter uma
confissão religiosa exterior, ou um sistema eclesiástico segundo o modelo judaico.

Era, então, o levar a cabo este serviço especial, que proclamava o Evangelho da
graça do Deus aos gentios, que suscitara a malícia do judeu preconceituoso e levara o
apóstolo à prisão. Na estimativa do judeu, um homem que podia falar em ir aos gentios
não era digno de viver (At 22:21, 22). Paulo, contudo, não se via como um prisioneiro
21
de homens por alguma maldade, mas como um prisioneiro de Jesus Cristo por causa do
seu serviço de amor em tornar conhecida a verdade aos gentios.

2 - A verdade da igreja tornada conhecida pela revelação

(Versos 3, 4). Para que possamos receber a grande verdade da igreja na


autoridade divina, o apóstolo tem o cuidado de explicar que adquiriu seu conhecimento
do “mistério” da igreja, não através de comunicações de homens, mas pela revelação
direta de Deus, exatamente como ele diz: “Como me foi este mistério manifesto pela
revelação”. Isso resolve uma dificuldade que possa ser suscitada com relação à verdade
do mistério. Quando Paulo pregava o Evangelho nas sinagogas judaicas ele
invariavelmente apelava para as Escrituras (ver At 13:27, 29, 32, 35, 47; At 17:2, etc.), e
os judeus de Beréia são expressamente louvados já que procuraram as Escrituras para
ver se a palavra pregada por Paulo estava de acordo com elas. Mas logo que o apóstolo
ministrava a verdade da igreja, não podia apelar mais para o Velho Testamento para
confirmar. Seria inútil para os seus ouvintes procurarem as Escrituras para ver se essas
coisas eram assim. A incredulidade dos judeus tornou difícil para eles aceitarem muitas
verdades que estavam em suas Escrituras, exatamente como Nicodemos não conseguiu
captar a verdade do novo nascimento, mas aceitar algo que não estava ali, e que deixava
de lado todo o sistema judaico que estava ali e tinha existido com a sanção de Deus por
séculos, era para o judeu, como tal, uma dificuldade insuperável.

Muitos cristãos dificilmente podem se sensibilizar com esta dificuldade, visto


que a verdade da igreja está grandemente obscurecida na mente deles, ou até mesmo
totalmente perdida. Vendo a igreja como o conjunto dos crentes de todos os tempos,
eles não têm nenhuma dificuldade em achar o que eles creem ser a igreja no Velho
Testamento. Que este tem sido o pensamento dos homens religiosos é amplamente
comprovado pelos títulos que foram dados a muitos capítulos do Velho Testamento na
Versão Autorizada. Aceite, contudo, a verdade da igreja como revelada na epístola aos
Efésios, e imediatamente nos deparamos com esta dificuldade a qual somente pode ser
resolvida pelo fato de que a verdade da igreja é uma revelação inteiramente nova.

(Verso 5). Esta grande verdade, que Paulo recebeu por revelação, ele a chama
de “o mistério”, e novamente no verso 4 como “o mistério de Cristo”. Ao utilizar o
termo “mistério” o apóstolo não deseja transmitir o pensado de algo misterioso – um
uso puramente humano da palavra. Na Escritura um mistério é algo que era até aqui
mantido em secreto, que não pode ser conhecido de outra maneira a menos pela
revelação, e quando revelado só pode ser compreendido pela fé. O apóstolo passa a
explicar que este mistério não foi tornado conhecido aos filhos dos homens nos dias do
Velho Testamento, mas agora é tornado conhecido por revelação “pelo Espírito aos
Seus santos apóstolos e profetas”. Os profetas mencionados neste verso evidentemente
não são os profetas do Velho Testamento, mas antes os mencionados em Efésios 2:20.
Em ambos os casos a ordem é “apóstolos e profetas”, não “profetas e apóstolos”, como
22
deveria ser esperado caso a referência fosse aos profetas do Velho Testamento. Além
disso, o apóstolo está falando do que é revelado “agora”, em contraste com o que foi
revelado anteriormente.

3 - A verdade da igreja assim revelada

(Verso 6). Tendo mostrado que a verdade da igreja foi tornada conhecida por
revelação, o apóstolo, em uma breve passagem, resume a verdade da igreja, e explica
por que ela é apresentada como “o mistério”. Evidentemente o mistério não é o
Evangelho, que não estava escondido em outras eras, pois o Velho Testamento está
cheio de alusões ao Salvador vindouro, embora poucas dessas alusões fossem
entendidas.

O que, então, é o mistério? É-nos claramente dito, no verso 6, que esta nova
revelação é que os gentios “são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da
promessa em Cristo pelo evangelho”. Os gentios foram feitos herdeiros juntamente com
os judeus, não só no reino terreno de Cristo, mas na herança que inclui tanto as coisas
no céu como na terra. E mais, os crentes gentios formam com os crentes judeus um
corpo do qual Cristo é o Cabeça no céu. Além disso, eles conjuntamente participam das
promessas de Deus em Cristo Jesus. O gentio não é elevado ao nível judaico na terra,
nem o judeu é rebaixado ao nível gentílico, mas ambos são tirados da sua velha posição
e elevados a um plano imensamente mais alto, unidos um ao outro em base inteiramente
nova, a mesma base celestial em Cristo. Tudo isso aconteceu por causa do Evangelho o
qual conduz ambos a um nível comum de culpa e completa ruína. Os três grandes fatos
mencionados neste verso já nos foram apresentados em Efésios 1. A promessa em
Cristo inclui todas as bênçãos reveladas nos sete primeiros versos daquele capítulo, a
herança é apresentada diante de nós nos versos 8 a 21, e a verdade do “um corpo” nos
versos 22 e 23.

4 - A verdade revelada e ministrada por Paulo

(Verso 7). O mistério não só foi revelado a Paulo; ele também foi feito o
ministro da verdade. O mistério também foi revelado a outros apóstolos (verso 5) mas a
ele foi cometido o serviço especial de ministrar esta verdade aos santos. Por isso,
somente nas epístolas de Paulo encontramos toda a revelação do mistério. A graça de
Deus tinha dado este ministério ao apóstolo; o poder de Deus o habilitou para o
exercício do dom da graça. Os dons de Deus só podem ser usados no poder de Deus.

(Verso 8). Além disso, o apóstolo nos conta o efeito que esta grande verdade
teve sobre ele. Na presença da grandeza da graça de Deus ele vê que é o principal dos
pecadores (1 Tm 1:15): em presença do imenso panorama da benção revelada pelo
mistério ele sente que é menor do que o ainda menor dos santos. Quanto maior as
23
glórias que são descerradas à nossa visão, menor nos tornamos aos nossos próprios
olhos. O homem que teve a maior compreensão deste grande mistério, em toda sua vasta
extensão, foi o homem que reconhecia ser menor do que o ainda menor dos santos.

Para cumprir o seu ministério, o apóstolo não só proclamou a ruína


irremediável do homem, mas as riquezas insondáveis de Cristo, riquezas além de todo o
cômputo humano, trazendo bênçãos que não têm limite.

5 – A finalidade em vista no ministério da verdade

(Versos 9-11). A pregação do Evangelho estava em vista na segunda parte do


serviço de Paulo – para iluminar a todos com o conhecimento do mistério, para mostrar
a todos os homens como o conselho de Deus de eternidade a eternidade é realizado no
tempo pela formação da assembleia na terra e para assim trazer à luz aquilo que estava
até aqui escondido em Deus desde a fundação do mundo.

Além disso, Deus não somente precisava que todos os homens fossem
iluminados quanto à formação da assembleia na terra, mas é Sua intenção que agora
todos os seres celestiais estejam aprendendo na igreja a Sua multiforme sabedoria. Estes
seres celestes tinham visto a criação recém-vinda da mão de Deus, e, quando viram a
Sua sabedoria na criação, gritaram de alegria. Agora na formação da igreja eles veem “a
multiforme sabedoria de Deus”. A criação foi a expressão mais perfeita da sabedoria
criadora, mas na formação da igreja de Deus a sabedoria é exposta em todas as formas.
Antes que a igreja pudesse ser formada, a glória de Deus tinha de ser vindicada, a
necessidade do homem encontrada, o pecado posto de lado, a morte abolida e o poder
de Satanás anulado. A barreira entre judeu e gentio tinha de ser retirada, o céu ser
aberto, Cristo estar assentado como Homem na glória, o Espírito Santo vindo a terra e o
Evangelho ser pregado. Tudo isso e muito mais está envolvido na formação da igreja.
Esses vários fins somente poderiam ser alcançados pela variada sabedoria de Deus,
sabedoria exposta, não apenas em uma direção, mas em todas as direções. Nem o
fracasso da igreja em suas responsabilidades alterou o fato de que na igreja os anjos
aprendem a sabedoria de Deus. Ao contrário, ele apenas torna mais manifesta a
maravilhosa sabedoria que, se levantando diante de todo o fracasso do homem,
vencendo todo obstáculo, finalmente conduz a igreja à glória “segundo o eterno
propósito que fez em Cristo Jesus o nosso Senhor”.

6 - O efeito prático do ministério da verdade

(Versos 12, 13). O apóstolo se desvia da revelação do mistério para dar uma
breve palavra quanto ao seu efeito prático. Essas maravilhas não são expostas diante da
nossa vista simplesmente para serem admiradas, como de fato são admiráveis. O
mistério é também excessivamente prático quando corretamente compreendido e
24
efetivado. Atuar na luz da verdade nos fará estar em casa no mundo de Deus, mas nos
porá para fora do mundo do homem. Como o homem cego de João 9, quando expulso
pelo mundo religioso, encontra-se na presença do Filho de Deus, assim como o
apóstolo, enquanto na prisão do homem na terra, tem acesso à presença do Pai no céu.

Cristo Jesus, Aquele por quem todos esses propósitos eternos serão cumpridos,
é Aquele por quem temos acesso ao Pai com confiança. Se essa grande verdade nos dá
coragem e nos faz estar em casa na presença do Pai, no mundo ela nos levará à aflição.
Isso Paulo encontrou, mas ele diz: “Não desfaleçais nas minhas tribulações”. Aceitar a
verdade do mistério – para andar à luz dele – nos porá imediatamente para fora do
mundo religioso. Atuemos sobre esta verdade, e ao mesmo tempo nos encontraremos
com a oposição da cristandade professa. Será, assim como foi com Paulo, um conflito
contínuo, e especialmente com todos aqueles que se submetem ao judaísmo.

Deve haver oposição, pois estas grandes verdades minam completamente a


constituição mundana de todo sistema religioso humano. É a verdade do mistério, com o
conhecimento do qual Paulo procurou iluminar todos os homens, proclamado desde o
púlpito da cristandade, nas convenções dos santos, ou até mesmo desde as plataformas
evangélicas? É a verdade do mistério, que envolve a ruína total do homem, a completa
rejeição de Cristo pelo mundo, a união com Cristo na glória, a presença do Espírito
Santo na terra, a separação do crente do mundo e o chamamento dos santos para o céu –
esta grande verdade é proclamada, ou efetivada, nas igrejas nacionais e nas
denominações religiosas da cristandade? Infelizmente ela não tem lugar em seus credos,
em suas orações ou em seus ensinamentos. Não, e ainda pior, é negada pela sua própria
constituição, seu ensino e sua prática.

7 - A oração para que essas verdades possam fazer bem ao crente

(Versos 14-21). As grandes verdades reveladas nesses capítulos muito


naturalmente levam à segunda oração do apóstolo. No segundo capítulo da epístola o
apóstolo revelou a grande verdade de que os crentes, dentre os judeus e gentios, foram
edificados juntos para formarem o lugar da habitação de Deus. No terceiro capítulo o
apóstolo apresentou a verdade do mistério, mostrando que os crentes, também tomados
dentre os judeus e gentios, são conduzidos a uma base inteiramente nova para juntos
formarem um corpo em Cristo. Então aprendemos que este mistério foi revelado com a
intenção de que a multiforme sabedoria de Deus pudesse ser exposta agora, segundo o
propósito eterno que Deus propôs em Cristo Jesus o nosso Senhor (Ef 3:10, 11).

Tendo em vista esta grande finalidade, o apóstolo se volta ao Pai em oração,


para que os santos possam estar em uma condição espiritual correta para entrarem na
plenitude de Deus. Para ocasionar esta condição espiritual nos santos vemos, no
decorrer da oração, que toda a Pessoa divina está empenhada com relação aos santos. O
Pai é a fonte de toda bênção, o Espírito nos fortalece para que Cristo possa habitar em
25
nós para nos encher da plenitude de Deus, para que Deus possa ser glorificado por ser
exibido nos santos hoje, e em todas as eras.

(Verso 14). Como a oração tem em vista o propósito eterno que foi “feito em
Cristo Jesus nosso Senhor”, é dirigida ao “Pai” que é a fonte desses conselhos eternos.
Pela mesma razão não há nenhuma menção de morte ou ressurreição na oração. Os
conselhos eternos foram todos estabelecidos antes que a morte entrasse, e o
cumprimento completo desses conselhos, os quais a oração considera, estará em uma
cena onde a morte nunca pode entrar.

(Verso 15). Desta nova cena de glória que está em vista, nos é dito que neste
mundo de benção por vir toda a família nos céus e na terra tomará o nome do Pai. Na
primeira criação todos os animais foram passados diante de Adão, para que desse a eles
nomes que demonstrassem as características distintas exibidas em cada família. Assim
com relação aos conselhos eternos da nova criação, toda a família nos céus e na terra –
os seres angelicais, a igreja no céu e os santos na terra – tomarão o nome do Pai, e assim
cada família tem o seu caráter distinto segundo os conselhos eternos do Pai.

A oração tem, por isso, em vista todo aquele que será conduzido à luz nas eras
eternas, segundo os conselhos de Deus antes da fundação do mundo – uma cena na qual
o Pai é a fonte de tudo, o Filho o centro de tudo e toda família nos céus e na terra exibe
um pouco da glória especial do Pai.

(Verso 16). O primeiro pedido consiste em que o Pai nos conceda segundo as
riquezas da Sua glória que sejamos fortalecidos com poder pelo Seu Espírito no homem
interior. O apóstolo não diz “segundo as riquezas da Sua graça”, como em Efésios 1: 7,
mas “segundo as riquezas da Sua glória”, porque a oração não está relacionada com a
satisfação da nossa necessidade, mas antes com o cumprimento dos conselhos do
coração do Pai.

Na oração do capítulo 1 o pedido consiste em que possamos conhecer o poder


de Deus em direção a nós; aqui é que possamos ter o poder em nós para nos fortalecer
no homem interior. O homem exterior é o homem visível, natural pelo qual estamos
tocando as coisas do mundo. O homem interior é o homem invisível e espiritual,
formado pela obra do Espírito em nós, e pelo qual estamos tocando as coisas invisíveis e
eternas. Justamente como o homem exterior tem de ser fortalecido por coisas materiais
desta vida, assim o homem interior tem de ser fortalecido pelo Espírito para entrar nas
bênçãos espirituais do novo mundo dos conselhos de Deus.

(Verso 17). O segundo pedido consiste em que Cristo possa viver em nosso
coração pela fé. O primeiro pedido conduz ao segundo, pois somente quando somos
fortalecidos pelo Espírito Cristo habitará em nosso coração pela fé. O efeito do Espírito,
que veio do Pai, trabalhando em nossa alma, será o de nos encher dos pensamentos do
Pai a respeito de Cristo – para pensarmos com o Pai acerca do Filho.

26
O pedido não consiste em que possamos ser fortalecidos com poder para
executar algum milagre, ou empreender um pouco de trabalho árduo, mas para que uma
condição espiritual possa ser operada em nossa alma por Cristo que vive em nosso
coração pela fé. O poder do mundo em torno de nós, da carne dentro de nós e do diabo
contra nós, é tão grande, que, se Cristo tiver de ter o Seu verdadeiro lugar em nosso
coração somente o terá quando formos fortalecidos pelo Espírito no homem interior.

Além disso, a oração é que Cristo possa “habitar” em nosso coração. Não
devemos tratá-lo como um visitante a ser entretido em alguma ocasião especial, mas
como Aquele que tem um lugar de habitação em nosso coração. Isso só pode acontecer
pela fé, pois a fé olha para Cristo, e quando Ele estiver diante de nós como um objetivo
terá um lugar de habitação em nosso coração. Aquele que é o centro de todos os
conselhos de Deus se tornará assim o centro dos nossos pensamentos. Como alguém
disse: “O objetivo supremo de Deus se torna o nosso objetivo supremo”. Que
testemunho de Deus seríamos cada um de nós se a nossa vida fosse governada por um
objetivo absorvente, e este objetivo fosse Cristo! Frequentemente nos parecemos com a
Marta do passado, distraída “com muitos serviços”, e “ansiosa e afadigada com muitas
coisas”. “Uma só é necessária”, ter Cristo como o único Objetivo da nossa vida, então o
serviço e todo o resto prosseguirá sem distração. Possamos nós, como Maria, escolher
esta “boa parte”.

O resultado de Cristo habitar no coração é de nos arraigar e fundar em amor. Se


Cristo, Aquele em quem e por quem, todo o amor do Pai tem sido tornado conhecido,
está vivendo em nosso coração, Ele encherá seguramente o coração de um
conhecimento e desfrute do amor divino.

(Verso 18). Cristo habitando no coração prepara o caminho para o terceiro


grande pedido, para que possamos “perfeitamente compreender, com todos os santos,
qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade”. Deus nos ensina
através das nossas afeições, para que o caminho para esta apreensão não seja somente
pela fé, mas por estarmos “arraigados e fundados em amor”. Através da obra do
Espírito, Cristo vive em nosso coração pela fé; vivendo ali pela fé Ele enche o nosso
coração de amor, e o amor nos prepara para compreender. Além disso, este amor nos
leva a abraçar “todos os santos”, para desfrutarmos mais do amor de Cristo, quanto mais
o nosso coração sai ao encontro de todos que são amados por Cristo.

Então o apóstolo deseja que possamos compreender “a largura, e o


comprimento, e a altura, e a profundidade”. Isso aparenta ser toda a variedade do
“propósito eterno” de Deus, já mencionado no verso 11. Este propósito eterno em sua
largura abraça “todos os santos”, em seu comprimento se estende pelas eras das eras, em
sua altura nos conduz a uma cena de glória, em sua profundidade nos alcançou aqui em
baixo em toda nossa necessidade.

(Verso 19). Toda esta cena de bem-aventurança é assegurada a nós pelo amor
de Cristo - Aquele que “amou a igreja, e deu a Si mesmo por ela”. Por essa razão o
27
quarto pedido consiste em que possamos “conhecer o amor de Cristo, que excede todo
conhecimento”. É um amor que pode ser conhecido e desfrutado, e ainda excede o
conhecimento. Se não podemos medir a altura da glória da qual Cristo veio, ou sondar a
profundidade do sofrimento no qual Ele esteve, ainda menos podemos medir o amor que
operou por nós, que inclui na vasta multidão de remidos, pequenos e grandes, que está
cuidando de nós em nossa passagem pelo tempo, e que está vindo por nós para nos levar
para o lar de amor para estar ali com Ele, e como Ele, para a satisfação do Seu coração
amoroso. Tal amor pode ser conhecido, e ainda permanecerá para sempre um amor que
excede o conhecimento.

O quinto pedido consiste em que possamos ser cheios de toda a plenitude de


Deus. A plenitude de Deus é tudo o que Deus é conforme revelado e tornado conhecido
em Cristo. O Filho plenamente declarou o Pai em Seu amor e santidade, em Sua graça e
verdade; e o apóstolo deseja que recebamos, em medida completa, da plenitude divina
que pode ser exibida nos santos.

(Verso 20). O sexto pedido consiste em que tudo o que o apóstolo esteve
orando pelos santos possa estar operando neles pelo poder de Deus. Deus é, de fato,
capaz de fazer muito mais abundantemente “por nós”, como muitas vezes é dito. Aqui,
contudo, onde o pensamento principal em toda a oração é a condição espiritual dos
santos, não é nem o que o Deus pode fazer por nós ou conosco que está em vista, mas
antes a Sua capacidade e vontade de operar “em nós” em resposta a esses pedidos, e
fazer isso “além daquilo que pedimos ou pensamos”.

(Verso 21). O sétimo e último desejo é que haja glória na igreja para Deus por
Cristo Jesus em todas as eras. Todos os pedidos na oração conduzem a este maravilhoso
pensamento de que por todas as eras os santos mostrem a plenitude de Deus, e que isso
seja para Sua glória. Toda a oração claramente mostra que é o desejo de Deus que o que
for a verdade dos santos em todas as eras eternas deve marcá-los em sua passagem pelo
tempo – para que tudo o que Deus é resplandeça em Seu povo.

28

Você também pode gostar