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Emil A.

Sobottka

CONSTELAÇÕES PÓS-NACIONAIS E A

DOSSIÊ
QUESTÃO DA INTEGRAÇÃO SOCIAL1

Emil A. Sobottka*

A preservação da identidade cultural coletiva, em sua tensão com a integração de novos membros, foi objeto
de discussão entre Taylor e Habermas em seus textos sobre política de reconhecimento. Para ambos, a ideia
de nação deixou de ter força agregadora suficiente em estados modernos. Face à diversidade fática, surge a
dupla pergunta: o que pode manter a unidade de uma comunidade política nas atuais sociedades e como
novos membros podem ser nela integrados? O texto trata dessa questão, reconstruindo aquele debate e as
alternativas propostas pelos dois autores, levando em consideração tanto a crescente individualização das
formas de vida como a migração transnacional.
Palavras-chave: Reconhecimento. Migrações. Integração social. Cidadania.

1
INTRODUÇÃO nesse particular, enfatiza que “as concepções
de nação e indivíduo cresceram juntas na his-
Charles Taylor (1995, p. 241), em seu tória do Ocidente e continuam a influenciar
texto A política do reconhecimento, defende uma a outra”. Para reforçar sua tese sobre a
a tese de que “nossa identidade é moldada importância do reconhecimento, Taylor (1995)
em parte pelo reconhecimento ou por sua au- afirma que ele não é uma simples cortesia que
sência, frequentemente pelo reconhecimento se poderia conceder ou não aos outros, mas
errôneo por parte dos outros”. Ao destacar o uma necessidade vital. A implicação ética des-
caráter relacional da formação identitária, o sa asserção é que, em sendo uma necessidade
autor se coloca em sintonia com debates con- vital do Outro, o reconhecimento, de modo al-
temporâneos que questionavam concepções gum, pode ser negado: quem o recusa ou faz de

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essencialistas, como a da descendência étnica modo errôneo, tornando-se cúmplice do dano
comum (Parekh, 1995). A interação com outros que sua atitude causa.
possibilita ver a si próprio como por meio de A ênfase que Taylor (1995) dá à dimen-
um espelhamento e acompanhar as implica- são coletiva da afecção e ao efeito deforma-
ções de cada gesto, contribuindo, assim, para dor que o reconhecimento errôneo tem para
a formação e a constante adaptação da imagem a identidade da coletividade afetada pode se
de si. A integração mediante a socialização e tornar produtiva, por exemplo, em situações
a formação da identidade de cada indivíduo de convivência de grupos étnicos em que pelo
são vistas como concomitantes. Craig Calhoun menos um deles demarca claramente a dife-
(2000, p. 19), analisando a concepção de Taylor rença. Em situações como essa, o racismo e a
1
xenofobia podem se desenvolver – mas podem
*
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – também se desenvolver movimentos sociais de
PUCRS. Escola de Humanidades.
Av. Ipiranga, 6681. Cep: 90619-900. Porto Alegre – Rio resistência e de luta contra a discriminação.
Grande do Sul – Brasil. sobottka@pucrs.br
Mas, em seu texto, Taylor (1995) tam-
1
Agradeço ao parecerista que avaliou o texto e fez ex-
celentes sugestões. bém trata, ainda que secundariamente, da

http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v32i85.27683 47
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integração de imigrantes em sociedades já es- entre integração ético-cultural e política, pro-


tabelecidas. A perspectiva adotada pelo autor põe-se designar como integração espacial um
em sua argumentação sobre os imigrantes é a terceiro modo de presença do estrangeiro,
da coletividade estabelecida, que teme a des- quando ele compartilha o território, mas não
caracterização de sua identidade. Esse temor, ingressa na comunidade política nem assume
para Taylor (1995), não apenas justificaria me- como sua a cultura local. Por fim, destaca-se
didas defensivas da coletividade, mas explica- como, em diferentes situações, os países vêm
ria também a imposição de exigências de inte- reagindo ao desafio da integração face à inten-
gração cultural dos imigrantes. sificação da migração internacional.
Jürgen Habermas, em A luta por reco-
nhecimento no estado democrático de direito
(1995), um dos poucos textos em que tematiza A COMUNIDADE PORTADORA DE
a questão do reconhecimento de forma explí- IDENTIDADE E A QUESTÃO DA
cita, se coloca diametralmente contrário essa AUTENTICIDADE
tese. Sua perspectiva de abordagem leva em
consideração sociedades em que a unidade Logo no início de seu texto, Taylor
não é dada por uma identidade cultural cole- (1995) faz uma breve recapitulação sobre o
tiva, mas pela formação de uma comunidade devir do discurso sobre reconhecimento e a
de jurisconsortes que tem, na adesão ao mar- familiaridade por ele adquirida. Para tanto, o
co legal, a dimensão primeira de sua unidade. autor recorda que, nas sociedades modernas,
Esta unidade é, então, flanqueada por outras a antiga noção de honra, que pressupõe uma
dimensões integradoras, em especial a cultura sociedade desigual e hierárquica, com distri-
política local, sem implicar a necessidade de buição altamente seletiva dessa distinção, foi
um nivelamento das formas de vida. Enquan- sobrepujada pela noção de dignidade, atribu-
to Taylor (1995) dá ênfase à coletividade como ída universalmente a todo ser humano, ou a
detentora e portadora de identidade digna de todo cidadão, considerada como a única con-
ser preservada, em Habermas, o foco é o indi- cepção compatível com uma sociedade demo-
víduo que forma e precisa renovar sempre sua crática. Essa nova concepção, ainda segundo
identidade. Quando se trata de imigrante, esse o autor, teria sido associada a uma identidade
indivíduo pode, inclusive, desafiar a cultura e individualizada, que passa a exigir do sujeito
as formas de vida predominantes até então na formas de agir coerentes com impulsos morais
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comunidade que o acolhe. que brotam de seu interior. Corresponder a es-


O presente texto toma como ponto de ses impulsos internos substituiria as fontes ex-
partida a proposição de Taylor e a defesa que ternas da moralidade e se constituiria no novo
ele faz de medidas protetivas da identidade ideal de autenticidade, assim sintetizado:
francófona no Québec. Num segundo momen-
Há um certo modo de ser humano que é meu modo.
to, analisa a resposta de Habermas à política Sou chamado a levar minha vida assim, e não imi-
de reconhecimento defendida por Taylor, co- tando a vida de outrem. Mas essa noção dá uma
locando em destaque tanto a diferença na con- nova relevância ao ser fiel a mim mesmo. Se não
formação da coletividade como na questão de o for, perderei o sentido de minha vida, ficarei pri-
quem é o sujeito portador da identidade.2 Em vado do que é ser humano para mim. […] Ser fiel a
mim mesmo significa ser fiel à minha própria origi-
seguida, busca-se destacar três possíveis mo-
nalidade, que é algo que somente eu posso articular
dos de integração em sociedades atuais. Par- e descobrir. Ao articulá-la, estou também definindo
tindo da distinção feita por Habermas (1995) a mim mesmo, realizando uma potencialidade que
é propriamente minha (Taylor, 1995, p. 245, grifo
2
Sobre o debate entre Taylor e Habermas, ver Gutmann
(1994), Cooke (1997) e Mattos (2004). do autor).

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O autor associará a consolidação desse tes palavras dramáticas: “essa assimilação é o


novo ideal de autenticidade em especial com pecado capital contra o ideal de autenticidade”.
Jean-Jacques Rousseau e Herder. De grande re- Por isso, ele se soma aos que consideram que o
levância para os propósitos de Taylor, Herder verdadeiro reconhecimento universal consiste
teria aplicado essa sua concepção de originali- em reconhecer a especificidade dos grupos so-
dade não apenas ao nível pessoal, que destaca- ciais. Diversas lutas sociais contemporâneas,
ria o indivíduo entre seus pares, “mas também como a das mulheres e as de questões de gê-
ao povo dotado de sua cultura entre outros nero, dentre outras, têm sido ancoradas nessa
povos” (Taylor, 1995, p. 245). A consequência emergente sensibilidade para especificidades.
seria que também os povos deveriam ser fiéis A nova sensibilidade para a diferença,
a si mesmos, deveriam manter sua autentici- em especial para as consequências de discri-
dade (Taylor, 1992; Vannini; Franzese, 2008). minações históricas que levam determinados
Mas, enquanto autores como Rousseau e grupos a concorrerem, já de saída, em desvan-
Herder estavam presos a uma concepção “mo- tagem, teve uma implicação prática bastante
nológica” do ser humano, considerando-o ca- disseminada. Para além da exigência moral de
paz de ser tanto mais autêntico quanto menos uma atitude individual, essa nova compreen-
vulnerável a influências de outros, a transfor- são da relação entre diferenças historicamente
mação dessa concepção solipsista em direção à desprezadas e a universalidade da dignidade
valorização da inserção relacional, nas últimas humana levaria a que fossem necessárias po-
décadas, colocou, na pauta da teoria social, a líticas que, precisamente para não reforçar a
centralidade da intersubjetividade. Segundo discriminação, deveriam prover tratamento
Taylor (1995, p. 248-249), será precisamente diferenciado aos que são diferentes. Foi essa
a descoberta da importância dos interlocuto- nova visão que impulsionou as políticas de
res e de “relações dialógicas com os outros”, discriminação positiva cujas medidas tempo-
na formação e manutenção da identidade, que rárias deveriam compensar as desvantagens
dá centralidade ao reconhecimento, tanto em historicamente constituídas.
nível individual como social ou coletivo (Cf. Para Taylor (1995), no entanto, há uma
Mendonça, 2009). Numa sociedade democráti- orientação de fundo nesse tipo de políticas que
ca moderna, segundo o autor, o reconhecimen- ele rejeita: as políticas compensatórias, que, via
to adequado torna-se crucial. Ao mesmo tem- de regra, são concebidas como compensação
po, sua negação, ou o reconhecimento distorci- temporária para discriminações do passado.

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do, vão muito além do descumprimento de um Se elas forem eficazes, tornar-se-ão desneces-
dever para com o outro, considerando-se que sárias assim que se retorne a um equilíbrio das
a imagem inferiorizada pode ser interiorizada, condições, e ninguém mais seja injustamente
afetando crucialmente a identidade. A despei- colocado em desvantagem. Com isso, elas per-
to de dificuldades com sua implementação na maneceriam presas a concepções universais,
vida cotidiana, o reconhecimento da igual dig- de um potencial humano universal, por exem-
nidade de todos teria consagrado o que o au- plo. No limite, essa postura da igual dignidade
tor denomina uma política do universalismo do potencial humano exigiria que as culturas
como impulso questionador da desigualdade e minoritárias se adaptassem aos padrões vigen-
de hierarquias supostamente naturais entre os tes, impostos pelas sociedades historicamente
concidadãos. Essa implicação democratizado- dominantes. Essa exigência seria desumana
ra é apoiada pelo autor. porque roubaria a identidade das culturas mi-
Mas sua percepção é que o universalis- noritárias. Na interpretação de Taylor, por suas
mo igualitário acabou eclipsando a diferença. consequências, ficaria claro que essa forma de
Taylor (1995, p. 251) a descreve com as seguin- expressão da nova sensibilidade estaria emba-

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sada em reconhecimento errôneo. Ela seria, reprodução da comunidade que tem como na-
pois, promotora de “um particularismo masca- tural para si a língua francesa e a cultura com
rado de universalismo” (Taylor, 1995, p. 254). ela associada, porque ambas – língua e cultura
Em contraposição a essas políticas, – seriam dignas de terem seu valor reconheci-
Taylor (1995) expõe uma forma mais exigente do por todos.
de reconhecimento: para além da dignidade ou Dentre as medidas adotadas à época, no
do potencial igual de todos, ela exige o reco- Québec, uma regulava o tipo de escola que as
nhecimento “do igual valor daquilo que estes famílias poderiam eleger para seus filhos. Ela
possam ter feito concretamente desse poten- pode ser destacada como ilustrativa. Segundo
cial” (Taylor, 1995, p. 253, grifo nosso). Sua aquela regulamentação, famílias de origem fran-
referência empírica é a disputa em torno do cófona e famílias de origem estrangeira seriam
francês no Québec.3 A língua e, por extensão, obrigadas a colocar seus filhos em escolas fran-
a cultura dos francófonos daquela província cesas. Taylor não desconhece que, com uma im-
seriam bens tão valiosos que eles deveriam ser posição como essa, algum direito interpretado
preservados. Provavelmente, pouca objeção como liberdade tenha sido restringido em nome
haveria a esse objetivo coletivo daquela comu- de um bem coletivo. Mas essa não seria uma
nidade, se sua implicação fosse a não discrimi- das liberdades fundamentais, “que nunca po-
nação e a correspondente liberdade para que dem ser feridas” e devem ser “incessantemente
a escolha da língua pelos indivíduos ou pelas protegidas”. Tratar-se-ia de tipos de “privilégios
famílias fosse facilitada em condições de ra- e imunidades que, embora importantes, podem
zoável igualdade. Política semelhante já havia ser revogados ou restringidos por razões de po-
sido defendida anteriormente por Will Kymli- lítica pública” (Taylor, 1995, p. 265).
cka (1992, 2003; Cf. Creighton, 2016) para De modo geral, o liberalismo se consi-
a população francófona do Québec e para os dera neutro e enfatiza, na política, a democra-
aborígenes canadenses – e tem sido praticada cia procedimental. Mais recentemente, ele se
como política compensatória ou de discrimi- apresenta como defensor do multiculturalis-
nação positiva em vários países. mo. Mas, na leitura de Taylor (1995), ele seria
A política implementada, em certo mo- tão somente mais “um credo em luta”, como o
mento, no Québec, e secundada por Taylor são outros tantos, sendo por vezes, inclusive,
(1995), no entanto, é bem mais exigente. Ela colonizador. Em oposição a esse particularis-
não se limita a colocar a língua francesa à mo disfarçado de universalismo, o autor advo-
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disposição de quem quiser preferi-la ou tê-la ga enfaticamente a necessidade de reconheci-


como idioma adicional numa política de bilin- mento do igual valor das culturas. A enume-
guismo. O objetivo coletivo foi assegurar “que ração das diferenças e as políticas em favor da
haja uma comunidade de pessoas no futuro sobrevivência cultural seriam maneiras legíti-
que deseje aproveitar a oportunidade de usar mas e adequadas de superar reconhecimentos
a língua francesa” naquela província (Taylor, errôneos e de preservar a identidade e a au-
1995, p. 264). Ou seja: para os impulsionado- tenticidade dos diferentes num contexto mul-
res daquela política não bastaria disponibili- ticultural. Elas não constituiriam direitos que
zar a língua para os interessados; seria preci- poderiam ser exigidos pelas minorias e cum-
so implementar medidas que assegurassem, pridos ou denegados pelas maiorias. Taylor
no tempo, a reprodução de uma comunidade transfere a questão ao plano da ética, das obri-
de interessados nessa língua e nesta cultura. gações de reciprocidade que todos têm e que se
Taylor (1995) quer garantir, no longo prazo, a realizam através de atitudes, ou, nas palavras
de Taylor (1995, p. 273), “a maneira como de-
3
Sobre a situação dos diferentes grupos sociais e sua aco-
lhida no marco legal no Canadá, ver Kymlicka (1996). veríamos nos relacionar com os outros”.

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A LIVRE ESCOLHA ENTRE FOR- formas. Mas o lugar por excelência da partici-
MAS DE VIDA EM DISPUTA pação política é a esfera pública (Arato; Cohen,
1994; Gripsrud; Eide, 2010; Habermas, 1997;
Em uma resposta a Taylor, Habermas de- Cf. Rosenfeld; Arato, 1998). Ali seria o lugar
fende que a exigência de reconhecimento tem para que os próprios afetados, como indivídu-
por objetivo a “defesa da integridade de formas os ou organizados em movimentos sociais e
de vida e tradições com as quais os membros em organizações da sociedade civil, busquem
de grupos discriminados possam identificar- entender-se sobre como querem regrar sua
-se” (Habermas, 1995, p. 232) (Cf. Gutmann, vida coletiva, sobre aquilo que deve receber
1994). Sua ênfase está no fato de que esse reco- tratamento diferenciado e o que deve receber
nhecimento deve ocorrer dentro do marco do tratamento igualitário. Nessa busca pública
estado democrático de direito, cujo escopo são e aberta, nada impede que os jurisconsortes
os direitos subjetivos. Ou seja: para ele, o direi- aprovem como preferíveis formas específicas
to moderno tem, dentre outras características de vida culturalmente herdadas, inclusive
importantes, a de ser formal, procedimental e aquelas etnicamente vinculadas.
focado no individuo.4 Com essa construção, Habermas (1995)
Habermas (1995) contesta a construção detalha sua concepção de que a referência das
de Taylor, segundo a qual os direitos indivi- normas jurídicas é o contexto específico das
duais universais colidiriam com o reconheci- interações. Nele, tanto objetivos gerais como
mento das formas específicas de vida,5 e que, fins coletivos específicos, que expressam for-
em determinadas situações, seria necessário mas de vida em particular e se afirmam através
decidir qual deles priorizar. Seu argumen- de lutas por reconhecimento, podem resultar
to acolhe a possibilidade de a ordem jurídica da configuração democrática específica. Não
proteger concepções específicas do bem viver, há uma necessidade inerente à ordem jurídica
mas ele deriva essa possibilidade de uma cons- para que ela seja eticamente neutra. Forman-
trução procedimental que combina autonomia do-se consensos na esfera pública entre os
e participação política. Com isso, Habermas concidadãos, a ordem jurídica poderia prote-
se vê na necessidade de explicitar logo duas ger formas de vida coletivamente construídas e
questões-chave: (a) como uma ordem jurídica particulares daquela comunidade política.
dessas se coaduna com a exigência liberal de Esse procedimento não poderia, no en-
neutralidade valorativa e (b) como a ordem ju- tanto, resultar no privilégio de uma forma de

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rídica de uma comunidade política construída vida em detrimento de outras igualmente re-
sobre direitos dos indivíduos pode proteger presentadas no interior da circunscrição jurí-
formas de vida construídas coletivamente. dica. Ainda que não use expressamente essa
Um ponto de partida é a tese segundo a formulação, Habermas defende que, para ser
qual, numa democracia, para que ela possa ser democrática, uma comunidade de jurisconsor-
legitimamente considerada como tal, os juris- tes não pode fazer prevalecer o critério sim-
consortes devem ser, simultaneamente, auto- ples de maiorias, a temida tirania das maiorias
res e destinatários do direito. Para Habermas, a (Cf. Triadafilopoulos, 2011). Necessária seria
participação de cada concidadão na vida polí- a busca de entendimento sobre temas contro-
tica precisa ser livre e pode se dar de diversas versos na esfera pública, para que se alcancem
4
Uma análise da tese de Habermas pode ser vista em De- decisões políticas que reconhecem e respei-
lanty (1996). Lacroix (2009) argumenta que Habermas mu- tam a diversidade. As lutas políticas levadas
dou de postura recentemente nessa questão. Rasmussen
(2014), ao analisar as questões mais recentemente tratadas a cabo na esfera pública pelos movimentos
por Habermas, não secunda Lacroix.
sociais e por outras organizações da sociedade
5
Sobre as diferentes formas de vida e uma crítica a elas,
ver Jaeggi (2014). civil, como espaço privilegiado de articulação

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dos indivíduos, seriam modos de assegurar, ao (1995), para a imposição de restrições na au-
mesmo tempo, a autonomia dos indivíduos e o tonomia de indivíduos (ou famílias) para es-
reconhecimento das formas coletivas de vida colherem sua forma preferida de vida. A inte-
que dão suporte à sua identidade. Segundo Ha- gração baseada na aceitação de um marco legal
bermas (1995, p. 249): formal distingue claramente entre a aceitável
e necessária convivência com formas diferen-
Pois se é possível garantir a integridade da pessoa de
direito em particular, de um ponto de vista normati-
ciadas de vida nas sociedades de constelações
vo, isso não pode ocorrer sem a defesa dos contextos pós-nacionais e pretensões de imposição de
vitais e experienciais compartilhados intersubjeti- uma forma de vida específica em detrimento
vamente, nos quais a pessoa foi socializada e nos de outras.
quais se formou sua identidade. A identidade do in- Em oposição à defesa da precedência
divíduo está entretecida com identidades coletivas e
de objetivos coletivos sobre a autonomia in-
só pode estabilizar-se numa rede cultural.
dividual feita por Taylor, Habermas apresenta
Mas Habermas contesta um ponto cen- sua concepção sobre como culturas poderiam
tral da tese de Taylor sobre o reconhecimento conviver em uma sociedade plural (Cf. Cooke,
do valor das culturas. Ele adverte que das lu- 1997; Delanty, 1996). Sua visão é que culturas
tas sociais podem resultar obrigações jurídicas não seriam um bem pronto a ser transmitido
de reconhecimento, mas não a obrigação ética ou herdado. Elas precisam se manter sempre
de uma apreciação positiva do valor da cul- em transformação para permanecerem vivas,
tura como tal. Sua convicção é de que a con- não podendo ser objeto de esforços de conser-
vivência multicultural e multiétnica deve ser vação, como podem ser espécies ameaçadas
regrada no marco jurídico feito “para atender a do mundo biológico. Mais que isso: para Ha-
pessoas individuais” (Habermas, 1995, p. 250). bermas, em sociedades plurais, multiculturais,
Em sociedades atuais, diversificadas e as formas de vida de uma cultura específica
estruturadas como constelações pós-nacio- seriam ofertas feitas a cada membro da comu-
nais, esse procedimento muito provavelmente nidade, seriam formas de vida à disposição de
resultará na coexistência de diversas formas cada indivíduo. Esses membros têm a liberdade
culturais particulares de vida numa mesma de apropriar-se ou não dessa herança, de adap-
circunscrição. A proeminência de uma, num tá-la e transformá-la. Assim, caberia a cada
processo democrático, não poderá implicar a cultura particular, para perpetuar-se no tempo
negação, o cerceamento, ou o desmerecimento e através de gerações sucessivas, apresentar-se
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das demais. A decisão de proteger determina- como suficientemente atrativa no conjunto das
da forma de vida, no entanto, não a congela ofertas disponíveis aos indivíduos a fim de ser
para sempre. Habermas (1995) ressalta que a apropriada e duradouramente reproduzida. Na
própria composição do conjunto de membros medida em que se apropria de ofertas cultu-
de uma ordem jurídica estatal é contingente e rais, mesclando-as, adaptando-as e transfor-
se altera por diversos fatores como migrações, mando-as, a pessoa seria simultaneamente so-
secessões, evoluções internas etc. Isso pode cializada e tornada indivíduo autônomo. Com
levar a mudanças nas proporcionalidades ou isso, a relação entre indivíduo e coletividade
mesmo inversão na relação entre minorias e deixa de ser uma contradição e passa a consti-
maioria. tuir, simultaneamente, os dois lados da equa-
Essas contestações de ordem teórico- ção: individualização e integração. Por meio de
-normativa tornariam desnecessário, ou me- posicionamentos reflexivos dos indivíduos, as
lhor, impossível que, num estado democráti- culturas particulares estariam expostas a “uma
co de direito, objetivos coletivos servissem de disputa civilizada entre diversas convicções”
justificação, como é preconizado por Taylor (Habermas, 1995, p. 253), da qual resultaria

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um intercâmbio renovador, tanto das culturas cultural ou multiétnica, haveria dois planos de
como das identidades dos membros da comu- inserção a considerar.
nidade política. No primeiro, que ele denomina de in-
tegração política, os cidadãos definiriam o
regramento abstrato de sua convivência, do-
TRÊS MODOS DE INTEGRAÇÃO tando sua cidadania com direitos e deveres
recíprocos. Dos membros da comunidade se
Há uma diferença profunda entre as requer a concordância com aquilo que resul-
formas como Taylor e Habermas concebem as tar da discussão pública em termos de orde-
possibilidades de sobrevivência da cultura de namento constitucionalizado. As disputas de-
coletividades. Elas estão intimamente vincula- mocráticas, na esfera pública, permitiriam a
das com a respectiva visão do vínculo que une argumentação ética ancorada em valores locais
a comunidade portadora da cultura. Taylor da respectiva comunidade, uma vez que esse
(1995) concebe a comunidade a partir de sua conjunto de valores é que fundamenta o regra-
dimensão étnico-cultural, como portadora de mento jurídico. E o regramento jurídico, por
uma identidade que se formou historicamente sua vez, assegura aos indivíduos a escolha li-
e que a caracteriza inconfundivelmente. A lín- vre entre as formas coletivas de vida em dispu-
gua constitui, para ele, o vínculo mais central ta. Assim, cada constituição reflete, em algum
de transmissão e cultivo dessa herança entre grau, a cultura política vigente quando de sua
as gerações. Não havendo mais pessoas dispos- elaboração, e a interpretação constitucional
tas a falar essa língua no cotidiano, a cultura acompanha as mudanças na autocompreensão
morrerá. E o fato de querer falar a língua esta- dos que vivem na respectiva circunscrição. De
ria vinculado à aceitabilidade social, expressa, novos membros que entram nessa comunida-
sobretudo, num número significativamente de seria legítimo esperar a concordância com
grande de outras pessoas falantes do mesmo tal regramento, mesmo sem uma adesão aos
idioma, que sirvam de referência. A morte da valores mais profundos que o inspiraram.
cultura de origem, por sua vez, seria a perda Portanto, nesse modo de integração,
de autenticidade, o que equivaleria a uma vida o que forma a comunidade política e assegu-
fracassada. A comunidade política e o marco ra sua unidade é o vínculo estabelecido pelo
jurídico teriam um papel relativamente secun- marco jurídico, do qual a constituição é a ex-
dário para os laços de pertinência, se forem pressão central. Pessoas livres e iguais se asso-

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comparados com a cultura oralmente expressa ciam através e em torno da constituição de sua
através da língua comum. comunidade política e asseguram, por meio
Habermas (1995, p. 257) concorda com de um consenso procedimental, como direi-
a necessidade de certo grau de lealdade inter- tos e deveres que compõem a cidadania serão
nalizada pelas pessoas para que os cidadãos distribuídos e os objetivos coletivos que serão
possam “manter vivas as instituições da liber- perseguidos. Aqueles que nascem dentro dessa
dade”. Para que o vínculo que une os membros comunidade política são a ela integrados pela
da comunidade possa ser duradouro, um con- socialização, comumente sem que possam in-
junto mínimo de direitos e de obrigações recí- dicar um momento ou um ato que explicite sua
procas necessitaria estar bastante assimilado, concordância. Eles concordam tacitamente. Já
de modo a poder servir de âncora motivacio- o ingresso pela naturalização é uma manifes-
nal dos membros da comunidade, indepen- tação explícita da adesão à comunidade: atra-
dentemente de formalizações jurídicas. Mas, vés de um gesto formal e consciente, é tornada
em claro distanciamento da posição de Taylor, pública a concordância com o regramento exis-
Habermas defende que, na convivência multi- tente, ao mesmo tempo em que se adquire o di-

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reito de poder postular, publicamente, futuras pessoas e grupos vinculados a formas de vida
mudanças. As regras para a naturalização de muito distintas, tornou-se normalidade. No
estrangeiros, por sua vez, expressam o desejo caso do Canadá, essa pluralidade tem longín-
de proteção mais ou menos restritiva dos mem- qua origem histórica, cujas raízes remontam
bros da comunidade política em relação às for- ao processo de colonização. Tal como em ou-
mas de vida já estabelecidas e com as quais eles tros países, ali “subculturas” se confrontam há
melhor se identificam. Patriotismo constitucio- anos. Mas a integração política não foi capaz
nal é a designação que Habermas (1995) dá a de consolidar um patriotismo constitucional
esse vínculo (Cf. Müller, 2006; Pinzani, 2002). capaz de dar sustentação ao consenso proce-
Um segundo modo, mais forte, que Ha- dimental no longo prazo e em toda a extensão
bermas designa de integração ética, seria aque- da comunidade. A província do Québec e suas
le em que ocorreria uma proteção explícita diferentes lutas por separação ou por autono-
de formas de vida construídas coletivamente. mia e as lutas dos aborígenes expressam isso.
Quem quiser se integrar à comunidade, nesse Mas, dentre os fatores responsáveis pela
nível, deverá ir bem além de uma conformação pluralidade cultural e dos modos de vida no
externa e descrita acima como integração polí- Canadá, pode-se citar também a migração
tica. Deve estar disposto a aculturar-se, assu- transnacional de anos recentes, com os desa-
mindo, em certo grau, o modo de vida, as práti- fios que ela coloca no que diz respeito à in-
cas e os costumes locais. Também, nesse modo tegração e à unidade. O país tem se destaca-
de integração, a socialização das pessoas nati- do internacionalmente tanto por políticas de
vas tende a ocorrer gradativamente e num bai- acolhimento de refugiados como de atração de
xo nível de explicitação. Mas, para quem vem migrantes que ali queiram se estabelecer (Cf.
de fora, na prática, essa integração significará Simmons, 2011). A fase de acolhida e abertura
um rompimento com a comunidade anterior e ao multiculturalismo estendeu-se, pelo menos,
com a sua cultura. A convicção de Habermas desde 1945 até a virada do século, quando, se-
é que colocar como exigência esse modo de gundo Ofelia B. Scher (2017), teria sido ini-
integração para imigrantes seria incompatível ciada uma fase de “mal-estar da diversidade”,
com o estado democrático de direito, porquan- substituindo-se a abertura e a receptividade
to atropelaria a autonomia dos indivíduos. Ou, pela preocupação com a segurança.
em referência à autenticidade defendida por Segundo os pressupostos defendidos por
Taylor (1995, p. 245), pode-se dizer que tama- Taylor (1995), o desafio no Québec, em meio à
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nha exigência implicaria, para o imigrante, a fase de abertura ao multiculturalismo, era o de


necessidade de ele renegar “o sentido de [sua] assegurar que a imigração não contribuísse para
vida”. A ênfase na integração ética seria, ade- uma mudança na posição hegemônica da co-
mais, um risco para a integridade da própria munidade francófona. Dentre as medidas ado-
comunidade, pois elevaria a probabilidade de tadas à época, naquela província, e secundada
segmentação, ou mesmo de movimentos sepa- pelo autor, uma visava a que, mediante a esco-
ratistas, na medida em que subsistissem sub- larização obrigatória em francês, pelo menos as
culturas resistentes a essa assimilação. novas gerações se integrassem culturalmente e
O debate desses dois autores mostra, em assumissem amplamente a forma de vida dos
uma situação concreta, a do Québec, como a francófonos locais. Nesse sentido, Taylor (1995)
homogeneidade de uma sociedade composta expressa dificuldade em aceitar a perspecti-
por uma só nação não pode mais servir de refe- va de uma pluralidade tão significativa que a
rência para a teoria sociológica atual. A plura- identidade coletiva e o modo de vida típico da
lidade de constelações pós-nacionais, em que, cultura tradicional local pudessem vir a ter sua
numa mesma comunidade política, convivem hegemonia questionada ou mesmo obliterada.

54
Emil A. Sobottka

Já a distinção que Habermas faz entre clássico texto sobre o estrangeiro, Georg Sim-
integração ético-cultural e política lhe permi- mel (2002) já havia anotado que as relações
tiu uma diferenciação entre dois graus dis- concernentes ao espaço são também o símbolo
tintos de assimilação de novos membros. A das relações entre os seres humanos. O autor
assimilação política se daria através da con- refere-se àquele que está numa comunidade,
cordância dos neófitos com os princípios fixa- mas não pertence imediatamente a ela, não é
dos pela constituição, tida como a expressão seu membro. O compartilhamento do espaço
sintética da compreensão ético-política dos ci- físico concomitante com a distância nas rela-
dadãos. Indiretamente ela veicularia a cultura ções, com o estranhamento, torna sua integra-
política estabelecida na sociedade em tela. A ção apenas espacial. Espera-se do estrangeiro
assimilação ético-cultural, por sua vez, seria que ele seja móvel. Não tanto como o turista
muito mais exigente e implicaria a disposição que hoje vem e amanhã terá ido, mas muito
de aculturar-se, de assumir o modo de vida, mais do que do imigrante que tenha como ho-
práticas e costumes locais. Por óbvio, essa úl- rizonte a naturalização e, por conseguinte, sua
tima afetaria profundamente a identidade dos integração formal na comunidade política.
migrantes, porquanto implicaria a necessidade É bem verdade que esse não é um fenô-
de um rompimento, em certas circunstâncias meno novo, pois seria possível encontrá-lo “na
inclusive bem radical, com a cultura e a forma história inteira da economia”, como, por exem-
de vida pregressas – o que cada migrante pode plo, na figura do comerciante, nos representan-
eleger, se assim desejar, mas que, em um esta- tes diplomáticos, dentre outros. Presentes no
do democrático de direito, nunca lhe poderia cenário político-social das décadas recentes,
ser imposto como condição de acolhimento. os estrangeiros migrantes estão fundamental-
Essa exigência seria um atentado à dignidade mente em duas modalidades de status: como
da pessoa recém-chegada. trabalhador temporário ou hóspede, que vem
Mas foi precisamente essa segunda for- para vender temporariamente sua força de tra-
ma de integração que se exigiu, à época, no balho em troca de ganhos a serem usufruídos,
Québec, pelo menos para a segunda geração de modo geral, na terra de origem, ou como re-
dos migrantes, com a legislação que lhes im- fugiado, que espera uma acolhida humanitária
punha um tipo específico de escola. Habermas para vencer uma adversidade via de regra tida
(1995, p. 258), por sua vez, está convencido como temporária (Cf. Castles; Haas; Miller,
de que, numa comunidade política unida pelo 2014). O estrangeiro com integração apenas

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patriotismo constitucional, “só é preciso es- espacial aciona mecanismos de proteção con-
perar dos imigrantes que eles se disponham a tra a aculturação e só aceita externamente e em
arranjar-se na cultura política de sua nova pá- grau limitado o regramento jurídico constitu-
tria”, sem precisar renunciar à sua cultura de cional, o suficiente para viabilizar sua estância
origem. Contrastam-se, aqui, a expectativa de sem conflitos significativos. Ele não interioriza
transformação em uma espécie de nativo local a cultura política nem desenvolve o patriotis-
e a tese da suficiência da aceitação externa das mo constitucional essencial para a integração
regras procedimentais. política. Mas também a comunidade hospedei-
Para além dos dois modos de integração ra não lhe oferece um conjunto de direitos e
definidos por Habermas (política e ético-cul- deveres capazes de evocar nele o ancoramento
tural), a intensificação das migrações inter- motivacional considerado por Habermas como
nacionais dá maior visibilidade a um terceiro indispensável para a integração política.
tipo. Talvez seja impreciso qualificá-lo de in-
tegração em sentido estrito. Por isso, pode-se
designá-lo como integração espacial. Em seu

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CONSTELAÇÕES PÓS-NACIONAIS E A QUESTÃO ...

MIGRAÇÃO INTERNACIONAL E va, descrita por Norbert Elias e John Scotson


OS DESAFIOS DA INTEGRAÇÃO (2010), e a conflituosa relação entre os estabe-
lecidos e os novatos recém-chegados se repro-
A questão da integração, em geral, dos duz de modo ampliado.
migrantes (Papastergiadis, 2000; Treibel, 2011) Por mais evidente que seja essa tendên-
e a atual explosão da procura por acolhimento cia no cotidiano político, parece bem discutí-
têm colocado diversos países diante de gran- vel a tese de Justine Lacroix (2009) de que Ha-
des dilemas políticos (Geddes, 2016; Triadafi- bermas estivesse se aproximando de Taylor na
lopoulos, 2011). A tendência ao encastelamen- defesa de valores substantivos como fatores de
to da União Europeia – com diversos países agregação e integração. Tanto Habermas como
advogando por maior fechamento de fronteiras outros teóricos críticos têm buscado enfrentar
e com o patrulhamento militarizado do Medi- o desafio teórico que a integração coloca refle-
terrâneo como formas de afugentar a vinda de tindo sobre mais e não sobre menos autonomia
forâneos – sinaliza que os termos do debate en- para os indivíduos escolherem sua forma pre-
tre Taylor e Habermas seguem atuais. Enquan- ferida de vida.
to nos anos 1990 a concepção comunitarista Chama a atenção que tanto no debate
defendida por Taylor, por vezes com foco num entre Taylor e Habermas, como em boa parte
romântico ideal de nação, parecia em declínio da literatura atual sobre migrações, o ponto de
frente à pluralização das sociedades pós-na- vista predominante entre os participantes tem
cionais, hoje há um crescente retorno de ideais sido o dos estabelecidos. Pergunta-se o que a
de homogeneidade nacional em um número comunidade local pode exigir, como poderia
crescente de países. se proteger, e como a cultura local deveria se
O Grupo de Visegrado, que reúne Hun- manter viva. Pouca tem sido a reflexão na outra
gria, Polônia, República Checa e Eslováquia e perspectiva: o que os recém-chegados podem
tem, no governo da Áustria, um forte aliado, legitimamente esperar, o que se deveria ofere-
assim como o surgimento de partidos nacio- cer a eles para que a prerrogativa de escolha
nalistas fortes em França, Itália, Holanda e por um modo de integração pudesse ser deles,
Alemanha, dentre outros, exemplificam essa e que tal escolha pudesse ser bem fundamen-
virada. Há um crescente rigor na seletivida- tada. Poucas são as vozes que se perguntam em
de daqueles que podem vir a ser aceitos como que, para além de dimensões econômicas, os
membros temporários (refugiados, estudantes, novos jurisconsortes podem contribuir para
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trabalhadores, investidores) ou permanentes manter vivas e renovar as formas de vida até


(naturalizados) e uma declinante confiança na então estabelecidas.
capacidade de criação de laços pós-nacionais Se a consequência lógica da formação
de integração, como é preconizado no patrio- de constelações pós-nacionais for o surgimen-
tismo constitucional. No cotidiano da política to de uma sociedade civil mundial e uma ci-
de crescente número de países, o medo da per- dadania transnacional, como por um tempo se
da de identidade, devida ao menos em parte ao discutiu (Cf. Grimson, 2018; Merenson, 2018),
afluxo de migrantes, e a busca de maior inte- todo ser humano, toda pessoa será portado-
gração cultural estão sobrepujando a confian- ra de direitos e todos os demais serão os de-
ça na integração política. Em alguns casos, tais mandados. Sheila Benhabib (2006) discute o
países estão tentando restringir o acolhimento mandato de hospitalidade defendido por Kant,
a uma simples integração espacial, com ênfase no contexto da paz perpétua, como um prin-
na precariedade e na temporalidade da estân- cípio de cosmopolitismo legal. Em sendo as-
cia. E o nacionalismo está eclipsando constela- sim, o vetor da discussão teria de se inverter.
ções pós-nacionais. Parece que a Winston Par- A pergunta fundamental não seria mais como

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Emil A. Sobottka

as culturas locais poderiam se defender para grantes, com a justificativa de que haveria um
sobreviver e manter sua autenticidade, nem o pertencimento nacional já dado. O conjunto
quanto se pode exigir dos novos membros em de direitos e deveres vinculados à cidadania
termos de adesão e internalização da cultura passa a ser atribuído ao novo membro como
política local. Caberia à comunidade hospe- expressão da integração étnico-cultural, na ex-
deira a responsabilidade de encontrar os meios pectativa de que a socialização progrida poste-
para melhor realizar o acolhimento.6 riormente. Portugal e Espanha também desen-
Porém, como bem observa Benhabib volveram discursos e políticas de acolhimento
(2004), não havendo, no âmbito internacional, de latino-americanos, com a argumentação
um grau de formalização de um status legal fundada em supostos laços históricos que as-
comparável à cidadania, de modo a que o di- segurariam grande afinidade (Padilla; Cuberos-
reito pudesse ser eficazmente reclamado, tor- -Gallardo, 2016).7 Subsiste, nessas políticas, a
nam-se necessárias mediações institucionais concepção de nação que inspirou, nos anos
que acolham a norma cosmopolita no ordena- 1980, as reformas constitucionais no Québec.
mento local. Essas mediações dependerão da Uma grande diferença, porém, está no fato de
comunidade de jurisconsortes locais já esta- as políticas desses países não se expressarem
belecidos. Dependerão de sua maior ou menor em exigências altamente restritivas à acolhida
sensibilidade para com o dever ético-moral da do imigrante, mas na romântica idealização de
hospitalidade. Sua maior abertura para o aco- laços históricos de afinidade e pertinência.
lhimento poderá ser estimulada por apelos, Num estudo interessante, com o título
críticas ou pressões externas, mas dependerá, A invenção do passaporte, John Torpey (2000)
em última instância, da vontade política local descreve a íntima vinculação criada entre a
(Cf. Benhabib, 2004). Com isso, migrantes, re- ideia de estados-nação e sua institucionaliza-
fugiados e estrangeiros em geral podem ter, na ção por meio do desenvolvimento de sistemas
hospitalidade, apenas um direito em sentido de regulação e controle da mobilidade das
fraco. A contribuição da política migratória pessoas simbolizada no passaporte, na Euro-
para a justiça social, como Paolo Gomarasca pa e nos Estados Unidos da América. A razão
(2017) mostrou em relação à União Europeia, para que tenha feito o recorte nesse conjunto
será pouca enquanto permanecer divorciada de estados, segundo o próprio autor, foi por-
do status de cidadania. Ou, o que é o rever- que “a imposição do caminho trilhado pelo
so da moeda, enquanto a regulamentação dos Ocidente à maior parte do restante do mundo

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direitos dos seres humanos migrantes perma- tem sido uma das características mais marcan-
necerem vinculados, de modo determinante, à tes de nossa era” (Torpey, 2000, p. 3). O autor
sua cidadania de origem, uma limitação parali- defende que, ao instituir a distinção entre na-
sante travará o acesso aos direitos, permitindo cionais e não nacionais – ou entre cidadãos e
que os países de destino justifiquem, assim, não cidadãos – e o correspondente conjunto de
sua recusa ou restrição ao dever de hospitali- documentos, aqueles estados criaram para si o
dade (Cf. Morales Vega, 2016). “monopólio legítimo dos meios de movimen-
Mas há também situações em que, por to” (Torpey, 2000, p. 1). Eles criaram distinções
sobre essa vinculação, se estende um gesto de que incluem e excluem simbolicamente e se
acolhida e hospitalidade culturalmente anco- constituem em eficazes rastreadores da movi-
rado. Países como Alemanha e Itália têm aco- mentação das pessoas.
lhido generosamente descendentes de ex-emi- 7
Uma clara exceção nesse tipo de política é representada
pelo Japão, onde barreiras formais e, sobretudo, a discri-
6
A pergunta pelas causas e, em especial, pelos causadores minação no cotidiano, mesmo para filhos de descendentes
dos impulsos migratórios não pode ser abordada aqui. Ela de emigrantes já nascidos no Japão, são relatadas como
exigiria uma abordagem histórica diferenciada e a conexão sendo bastante ostensivas (Cf. Matsue; Pereira, 2017;
fundamentada desses achados com a normatividade ética. Tashima; Torres, 2018).

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CONSTELAÇÕES PÓS-NACIONAIS E A QUESTÃO ...

Torpey (2000) chama a atenção para o merosas de que o compartilhamento de sua


fato de que, que com a institucionalização des- cultura, de seu espaço físico e de seus recursos
ses documentos, os estados construíram tam- possa empobrecê-las, tanto mais o fechamento
bém um sistema de cercas em torno de seus excludente predomina sobre a capacidade de
próprios cidadãos, para poder extrair deles os inclusão.
recursos necessários para sua manutenção. Daiva Stasiulis (2008) discute a reorga-
Sem dúvida, este “sistema de cercas” viabili- nização e a reespacialização da cidadania por
zou os sistemas nacionais de tributação. Mas meio da migração de diferentes grupos sociais.
a mobilidade que o capital financeiro interna- Ela não vincula a discussão a uma noção uni-
cional adquiriu recentemente, desvencilhan- versal de direitos humanos ou de dignidade
do-se de sua “nacionalidade” e também de seu humana, de onde se derivariam obrigações
vínculo com o capital produtivo, expressa uma éticas, mas realça como a dimensão social da
crescente incapacidade de as instituições esta- cidadania, quando transnacionalizada sob as
tais manterem esse sistema de cercas voltado premissas neoliberais, não torna a cidadania
para significativos contingentes de pessoas e inclusiva, mas hierárquica e excludente. Pes-
capital para a extração dos recursos. Por ou- soas, serviços e assistência são comodificados
tro lado, aquelas cercas também poderiam ser em similaridade à força de trabalho, e sobre os
compreendidas como um “abraço” inclusivo. indivíduos recai a responsabilidade de busca-
Durante os regimes de bem-estar, foi tal sis- rem formas de suplementar os serviços sociais
tema que deu suporte ao conjunto de direitos essenciais, que são crescentemente esvaziados
de partilha, os quais proporcionaram a muitos de sua condição de direito, seja dos cidadãos
habitantes, em especial a trabalhadores, suas locais, seja dos cidadãos extraterritoriais. As-
famílias e pessoas em situação de necessidade, sim, tanto os sistemas locais de assistência
a superação da miséria. A crise dos regimes de quanto o mercado especializado de trabalho
bem-estar social, porém, levou a que esse abra- podem incrementar sua seletividade: os pri-
ço seja cada vez menos inclusivo na perspecti- meiros colocando entraves ao acesso e, com
va da garantia de diretos de cidadania. isso, incentivando a busca de serviços no mer-
O passaporte é, nas sociedades moder- cado transnacional, e os segundos externali-
nas, uma proeminente expressão materializada zando, para os países mais pobres, os custos de
do status de cidadão conferido aos membros de formação de sua força especializada de traba-
determinada comunidade. Mas, enquanto para lho, por meio do incentivo à fuga de cérebros
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Thomas Marshall (1992) a cidadania agregava (Cf. Özden; Schiff, 2006).


um conjunto de direitos e deveres que a comu- A partir da análise da situação da Grã-
nidade atribuía a seus membros plenos, sendo, -Bretanha, Schierup, Hansen e Castles (2006)
portanto, a expressão da integração por exce- chamam a atenção para outro tipo de desen-
lência, Jürgen Mackert e colaboradores (2004) volvimento na relação entre migração e tra-
mostram o lado excludente que a cidadania balho: a formação de guetos ocupacionais.
adquire, justo no momento em que a migração Segundo eles, diferentemente da capacidade
se torna mais intensa. No lugar de expressar a empreendedora de muitos imigrantes e da
pertinência, ela expressaria, segundo esses au- oferta generosa de janelas de oportunidade por
tores, o fechamento da respectiva comunidade sociedades afluentes, frequentemente propala-
em si mesma, isolando-se de intrusões. Talvez das, pode-se observar a formação crescente de
Héctor Cárcamo (2016) tenha razão quando co- um empreendedorismo étnico vinculado à mi-
loca em destaque que a cidadania, como cons- gração de pessoas com qualificações e recursos
truto, opera tanto a inclusão como a exclusão. intermediários, sem o capital econômico e so-
E quanto mais as comunidades se tornam te- cial para uma integração plena. As sociedades

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Emil A. Sobottka

afluentes oferecem a elas nichos específicos CONCLUSÃO


para se fixarem como autônomos ou peque-
nos empreendedores no mercado de serviços Tanto o debate entre Taylor e Habermas
pessoais ou domésticos e, em menor grau, na como as múltiplas situações de correntes de
pequena manufatura, áreas nas quais os cida- migrações internacionais brevemente coloca-
dãos locais têm pouco interesse. Ao se forma- das em discussão deixam claro que as socieda-
rem como guetos ocupacionais de empreen- des atuais têm crescente dificuldade em lidar
dedorismo étnico, esses mercados suprem a com sua própria autocompreensão e com sua
demanda por serviços pouco atraentes para a relação face ao estranho, ao estrangeiro. Cresce
população historicamente estabelecida e ofe- a tensão entre o desejo de preservação da iden-
recem aos recém-chegados a possibilidade de tidade cultural coletiva e a necessidade inelu-
se fixarem, ao menos temporariamente, e obte- dível de integração de novos membros.
rem sustento, mas, ao mesmo tempo, reforçam Partindo de uma diferenciação sugerida
o cordão de isolamento que barra a integração inicialmente por Habermas, tentou-se diferen-
política, restando aos imigrantes tão somente a ciar entre três possíveis modos de integração
integração espacial. de novos membros em comunidades já esta-
Em muitos casos, há, inclusive, redes belecidas: desde uma copresença na forma de
clandestinas, incentivadas pelos potenciais integração espacial, passando pela aceitação
demandantes da força de trabalho ou dos pelo menos formal e externa do ordenamento
serviços, como o mostra o estudo de Izcara- constitucional como integração política, o grau
-Palacios (2018) relativo à migração de mexi- de exigências da comunidade para com os imi-
canos para os Estados Unidos, e o estudo de grados pode tornar-se gradualmente maior, até
Magalhães, Bógus e Baeninger (2018) relativo culminar na expectativa de uma integração
à migração de haitianos e bolivianos para São ético-cultural mediante uma aculturação com-
Paulo. O emprego informal, o trabalho autô- pleta, expressa por meio de valores, hábitos e
nomo ou a criação de pequenas empresas não práticas. Mas a excessiva atenção à perspecti-
representa um status elevado para os imigran- va das comunidades estabelecidas, não só na
tes. E só muito raramente se abre, para essas política, mas também nos debates acadêmicos,
pessoas, uma oportunidade de integração po- corre o risco de não fazer justiça a situações,
lítica na forma de naturalização. Sua situação necessidades e expectativas dos migrantes.
ocupacional serve para sustentar-se e fugir da A posição defendida por Taylor, quanto

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alternância entre subocupação e desemprego à legitimidade da defesa da identidade cul-
(Cf. Perocco, 2017; Schierup; Hansen; Cas- tural coletiva como autenticidade e à neces-
tles, 2006).8 Com isso, os autores contestam a sidade do reconhecimento do igual valor das
tese, por vezes difundida, de que, em tais so- culturas concretas, atualmente corre o risco
ciedades, haveria boas chances de mobilidade de arregimentação por nacionalismos emer-
social para imigrantes dispostos a se integrar gentes e movimentos xenofóbicos. Se a tese
economicamente. de Habermas nesse debate, de que, em cons-
telações pós-nacionais atuais, a integração
política seria o suficiente ponto de equilíbrio
para uma inclusão de novos membros perma-
8
Uma questão complexa, nessa temática, diz respeito à nentes for aliada a uma sensibilização maior
relação que se estabelece entre os migrantes que priori-
tariamente querem buscar renda temporariamente, para para com as implicações positivas que a aco-
depois regressar a seu país de origem. Em diversos países
eles se constituem em um fator econômico importante (Cf. lhida e a hospitalidade daqueles que querem
Özden; Schiff, 2006). Mas, por sua presença ser, em tese, permanecer apenas temporariamente em ter-
temporária por decisão do próprio migrante, a integração é
mantida num nível mínimo por ambas as partes. ras estranhas pode ter para todos envolvidos,

59
CONSTELAÇÕES PÓS-NACIONAIS E A QUESTÃO ...

então o debate pode deixar o plano da cultura DELANTY, G. Habermas and post-national identity:
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Caderno CRH, Salvador, v. 32, n. 85, p. 47-62, Jan./Abr. 2019

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CONSTELAÇÕES PÓS-NACIONAIS E A QUESTÃO ...

POST-NATIONAL CONSTELLATIONS AND THE LES CONSTELLATIONS POST-NATIONALES ET


QUESTION OF SOCIAL INTEGRATION LA QUESTION DE L’INTÉGRATION SOCIALE

Emil A. Sobottka Emil A. Sobottka

The preservation of collective cultural identity La préservation de l’identité culturelle collective


in tension with the integration of new members dans sa tension avec l’intégration de nouveaux
was the topic of a discussion between Taylor and membres, a été un objet des discussions entre Taylor
Habermas in their texts on recognition policy. et Habermas dans leurs textes sur les politiques de
For both the idea of nation per se no longer has reconnaissance. Pour les deux auteurs, l’idée de
enough aggregating force in modern states. Faced nation n’a plus assez de force d’agrégation dans les
with factual diversity, two questions arise: What États modernes. Face à la diversité des faits, se posent
could help to maintain the unity of the political deux questions: qu’est-ce qui peut maintenir l’unité
community in the given society? And second, how d’une communauté politique dans les sociétés
can new members be socially integrated? The text d’aujourd’hui? Comment peut-on y intégrer de
addresses these questions, reconstructing that nouveaux membres? Le texte aborde ces questions
debate and the alternatives proposed by the two en reconstruisant le débat et les alternatives
authors, taking into account both the increasing proposées par les deux auteurs en tenant compte à
individualization of life forms and transnational la fois de l’individualisation croissante des formes
migration. de vie et de la migration transnationale.

Keywords: Recognition. Migrations. Social integration. Mots-clés: Reconnaissance. Migrations. Intégration


Citizenship. sociale. Citoyenneté.
Caderno CRH, Salvador, v. 32, n. 85, p. 47-62, Jan./Abr. 2019

Emil A. Sobottka – Doutor em sociologia e ciência política pela Westphälische Wilhelms-Universität,


Münster, Alemanha. Professor da Escola de Humanidades na Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (Pucrs) em Porto Alegre, RS, Brasil. Coordena o Grupo de Pesquisa Emancipação e
Cidadania: Estado, Organizações e Políticas Públicas no CNPq, desenvolvendo pesquisas na área de
direitos de cidadania, movimentos sociais, democracia, políticas públicas, participação política e teoria
social. Suas mais recentes publicações são: Reconhecimento: novas abordagens em teoria crítica (São
Paulo: Annablume, 2015); Democratisation of work and economy through participation. Is it possible to
relaunch this utopia in neoliberal times (Ijar, v. 13, p. 97-99, 2017); From social to cyber justice: critical
views on justice, law, and ethics (ed. com Marec Hrubek e Nythamar de Oliveira. Praga: Filosofia, 2018).

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