A Integração Regional
no Direito Internacional
O futuro do Mercosul e da União Européia
São Paulo
2006
Copyright © 2006
Coordenadora: Yone Silva Pontes
Assessoria gráfica: Linotec
Ilustração de capa: Ana Carolina Sá
Revisão: J. Franzin
Impressão e acabamento: Graphic Express
Vários colaboradores.
ISBN 85-87364-95-2
06-7595 CDU-341:339.923
2006
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
Apresentação ................................................................................. 5
Prefácio .......................................................................................... 9
outros, foi essencial para o sucesso da edição. O livro virou uma referên-
cia obrigatória nas bibliotecas de Direito Internacional no Brasil, tendo
sido encomendado até mesmo por bibliotecas de Portugal.
O sucesso do primeiro livro permitiu que o atual livro A Inte-
gração Regional no Direito Internacional – O Futuro do Mercosul e da
União Européia tenha igualmente contado com a presença de ilustres
colegas como Luis Alexandre Carta Winter, Jorge Fontoura e Nádia de
Araújo, que contribuíram para traçar em um livro um panorama atuali-
zado e técnico dos desafios da integração no cenário internacional con-
temporâneo.
A primeira parte da obra retrata o Mercosul de maneira como
raramente aparece nas análises do bloco. Por isso, os textos mostram
o bloco de uma maneira objetiva e técnica através do ponto de vista do
direito internacional. Nesse sentido, o Mercosul aparece como um bloco
econômico único, cuja natureza jurídica é analisada por Larissa de Santis
Basso.
Já Luis Alexandre de Carta Winter e Jorge Fontoura exprimem
todas as particularidades do Mercosul por meio de dois estudos que ex-
põem as diferenças entre os países do Mercosul. Assim, podemos ver
que o presidencialismo no Mercosul exerce uma influência fundamen-
tal sobre o bloco. Jorge Fontoura, escrevendo na outra língua oficial do
Mercosul, tem o mérito de nos fazer pensar nas diferenças, ao invés de acen-
tuar as semelhanças com os nossos vizinhos.
Os textos de Marco Antônio Villatore e de Eduardo Biacchi
Gomes dão ênfase à mão-de-obra e à livre circulação de trabalhadores
no Mercosul, algo que afirma a vocação econômica da integração do
Cone Sul.
Finalmente, o texto da professora Nadia do Araújo é um estudo
das opiniões consultativas do Tribunal Permanente de Revisão do
Mercosul, que mostra que por detrás da integração econômica o Mercosul
há uma estrutura organizacional relativamente desenvolvida e adaptada
às necessidades regionais.
A segunda parte do texto trata de um tema pouco estudado no
Brasil que é a União Européia. É impossível estudar integração regional
Apresentação 7
Welber Barral
Florianópolis, setembro de 2006.
MERCOSUL
VONTADE POLÍTICA E
PROBLEMAS JURÍDICOS
1
QUESTÕES SOBRE A NATUREZA
JURÍDICA DO DIREITO DO MERCOSUL
Introdução
Os processos de integração regional sofreram grande prolifera-
ção no século XX, a partir da experiência européia. Além da cooperação
econômica, uma de suas características é a formação de um conjunto de
regras próprias para reger a integração, que, quando estão subordinadas
à supranacionalidade e ao efeito direito, dão origem ao chamado Direito
Comunitário, diverso do Direito Internacional Público clássico.
O processo de integração do Cone Sul tem velocidade e carac-
terísticas próprias, e tal também se dá em relação às suas normas. Além
disso, a ausência de uniformidade do tratamento da questão pelas legis-
lações nacionais e os diferentes posicionamentos da doutrina nos quatro
países tornam complexa a classificação de seu ordenamento. No presente
trabalho, analisaremos os diferentes aspectos pertinentes ao tema e pre-
tendendo, ao final, conseguir tecer algumas considerações sobre a natu-
reza jurídica do Direito do Mercosul.
2 SPRUYT, H., apud H. M. JO, Introdução ao Direito Internacional. 2. ed. São Paulo: LTr,
2004, p. 44.
3 TOUSCOZ, J., apud C. D. A. MELLO, Curso de Direito Internacional Público, v. 1.
15. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 77.
4 Ibid., p. 83.
5 H. M. JO, op. cit., p. 44-50.
Questões sobre a Natureza Jurídica do Direito do Mercosul 17
8 Alguns autores não estão de acordo com a teoria tradicional, que fala da cessão parcial
da soberania para a Comunidade como origem e legitimação das competências dos órgãos
comunitários, pois acreditam que formar-se-ia uma instituição firmada na soberania com-
partilhada, o que seria um contra-senso (ver trabalho do professor José Souto Maior Borges).
Apesar de saber da relevância do tema, não entraremos nessa discussão no presente livro, para
não o alongar em demasiado.
Questões sobre a Natureza Jurídica do Direito do Mercosul 19
2.2.2. Operatividade
Significa que as normas ditadas pelos organismos comuns são
operativas per se internamente nos Estados, em decorrência da compe-
tência legislativa reconhecida às autoridades comunitárias. A operati-
vidade se desdobra em três subprincípios:
12 Ibid., p. 50-51.
13 O princípio da supremacia não está expresso nos atos que instituíram as Comunidades
Européias: foi reconhecido a partir de jurisprudência do Tribunal de Justiça das Comunida-
des Européias – J. S. M. BORGES, op. cit., p. 84.
14 Ibid., p. 162-163.
Questões sobre a Natureza Jurídica do Direito do Mercosul 21
2.2.3. Subsidiariedade
Este princípio prescreve uma divisão de competências e cooperação
entre as diversas esferas de ação nacional e comunitária. Assim, o ordena-
mento comunitário tem âmbito específico de implementação, mas pode
ser aplicado, subsidiária e limitadamente, para resolver questões que, ainda
que consistam matéria de competência dos Estados, somente com sua apli-
cação podem promover o alcance dos objetivos do tratado de integração.18
2.2.4. Razoabilidade
A razoabilidade prega que as ações das autoridades da Comuni-
dade não excederão ao necessário para alcançar os objetivos propostos, ou
seja, suas ações jamais terão caráter arbitrário. Um exemplo de sua aplica-
ção seria o caso em que haja várias alternativas para resolver um problema,
e então será escolhida sempre a opção que menos onerar as partes.19
2.2.5. Igualdade
Impõe o tratamento igual de todos os nacionais, reafirmando a
não-discriminação entre os povos. Todos são iguais perante o Direito
Comunitário, devendo assim ser tratados.20
2.2.6. Liberdade
Está estreitamente ligado ao princípio da igualdade. Garante
que os Estados-Membros se associam livremente, e de mútua vontade,
concordam em garantir a livre circulação de bens, serviços, pessoas e
capitais dentro do espaço formado pela Comunidade.21
2.2.7. Eficácia
A Comunidade e os Estados-Membros devem intentar seus me-
lhores esforços para que a ação comunitária seja implementada. Para
tanto, devem as normas comunitárias ser aplicadas como normas inte-
grantes dos ordenamentos internos, possibilitando o alcance dos objeti-
vos estabelecidos nos tratados.22
2.2.8. Equivalência ou Uniformidade
O princípio da equivalência prega que as ações tomadas por cada
Estado, e mesmo pela Comunidade, para implementar os objetivos do tratado,
sejam correspondentes. Em verdade, tal não se refere apenas às ações postas
em prática, mas também que as normas comunitárias devem ter o mesmo
sentido nos diversos Estados-Membros da comunidade, ainda que seja neces-
sário pronúncia oficial dos órgãos comunitários sobre o sentido que deve ser
observado em sua aplicação.23 De fato, “la aplicación directa y la primacía
son los prolongamientos necesarios de esta necesidad de uniformidad del
derecho comunitario, en los cuales ellos com la condición de su realización”.24
20 Ibid., p. 169.
21 Ibid., p. 170.
22 Ibid., p. 170-171.
23 Ibid., p. 171-172.
24 Tradução livre: “a aplicação direta e primazia são os prolongamentos necessários des-
ta necessidade de uniformidade do direito comunitário, pois são a condição de sua realiza-
ção” (J. PÉREZ OTERMIN, “Principios esenciales de un ordenamiento juridico comunita-
rio”, in Boletim de Integração Latino-Americana (Bila), nº 8, janeiro-março de 1992).