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EDM 402 – Didática/ Pofª Dra.

Vivian Batista da Silva


Luiz de Lucca Neto nº 9338368

Prefácio: PENNAC, Daniel. Diário de Escola. Rio de Janeiro: Rocco, 2008. 238p.

Daniel Pennac é um ilustre conhecido da Educação. Filho de franceses, nascido no


ano de 1944 em Casablanca no Marrocos, seguiu para a Europa após passar toda a sua
infância no continente africano. Realizou assim o caminho tão frequentemente percorrido
por tantos intelectuais europeus filhos de pais que prestaram serviços ao governo Francês
em suas colônias tardias. A trajetória de Pennac é relevante para ilustrar a formação destes
intelectuais, assim como o descompasso entre centro e periferia, no qual o primeiro retira do
segundo os que tem algum acúmulo de capital cultural, nascidos na periferia mas filhos de
europeus.
Pennac, entretanto, não representa exatamente este modelo do intelectual francês:
filho de uma elite cultural, frequentador das mais importantes escolas, igualando ou
superando a papel daqueles que o formaram. Pennac descreve em seu livro Diário de Escola
justamente a trajetória inversa. Nele ressalta como seu período de escolaridade foi um
momento desastroso, convivendo frequentemente com a definição de péssimo aluno dada
pelos seus professores, determinado a um futuro intelectual miserável e sofrível.
A trajetória descrita por Daniel Pennac é posta em prova durante toda a obra já que
conhecemos o final da história. Quase um teleologismo visto que sabemos o seu desfecho,
conhecemos o que o autor é, um sujeito representante da intelectualidade francesa
contemporânea e autor de importantíssima obra e que nos apresenta, aqui, uma história
dissonante de sua trajetória. Não sabemos, contudo, a realidade de seu processo de
formação, mesmo assim Diário de Escola nem de longe se propõe a ser uma autobiografia do
seu autor, muito menos um estudo histórico e é aqui que se encontra a sua importância.
O livro pretende desconstruir a concepção, largamente estruturada na sociedade, de
que a educação é um modelo infalível de disseminação do conhecimento e formação
humana. Pelo contrário, apresenta as entranhas do tradicional modelo educacional como
reprodutor das hierarquias e diferenças sociais, de formador de elites através da
marginalização dos que não se enquadram em tal modelo. Pennac traz à superfície do
debate a noção de sobrevivência à escola como forma de resistência a esse modelo
segregador e opressor que reitera e aprofunda as desigualdades sociais. Exalta, acima de
tudo, o papel do professor como redentor daqueles relegados à margem do processo
educacional, pela sua lentidão ou simplesmente pelo não enquadramento ao sistema, o
magistrado que atua na contracorrente da massificação, que fomenta o potencial de cada
indivíduo e de acordo com suas possibilidades. Algo que, em muitos aspectos, dialoga com
outra grande obra como O Mestre Ignorante de Jacques Ranciére.

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