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EAD

LITERATURAS
HISTÓRIA
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

LICENCIATURAE EM
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA
LICENCIATURA EM LETRAS,
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

CRISTINA ABBADE COELHO


LUÍS CARLOS SANTOS

Salvador

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

©2010 Cedido a Editora da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB para esta edição.
Proibida a reprodução total ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em
Língua Portuguesa ou qualquer outro idioma.
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FICHA TÉCNICA

EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – EDUNEB

DIRETORA
Maria Nadja Nunes Bittencourt

REVISÃO E PREPARAÇÃO DE ARQUIVO


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DIAGRAMAÇÃO
Sidney Santos Silva

O conteúdo deste Material Didático é de inteira responsabilidade do(s)/da(s) autores (as), por cuja criação assume(m) ampla e total
responsabilidade quanto a titularidade, originalidade do conteúdo intelectual produzido, uso de citações de obras consultadas, referências,
imagens e outros elementos que façam parte desta publicação.

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Dilma Roussef

MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad

SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

PRESIDENTE DA CAPES
Jorge Guimarães

DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES


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VICE- GOVERNADOR
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SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

REITOR
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PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO


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COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro

COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO


Daniel de Cerqueira Góes

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Caro (a) cursista,

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Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem es-
truturamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura na modalidade de Educação a Distância
(EaD).

O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da
área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar o conhecimento teórico e prático de maneira
contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos
envolvidos com a disciplina em questão. Cabe salientar, porém, que esse não deve ser o único material a ser uti-
lizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), as atividades propostas pelo Professor
Formador e pelo Tutor, as atividades complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso
somado compõe os estudos relacionados a EaD.

É importante também que vocês estejam sempre atentos às caixas de diálogos e ícones específicos que aparecem
durante todo o texto apresentando informações complementares ao conteúdo. A ideia é mediar junto ao leitor, uma
forma de dialogar questões para o aprofundamento dos assuntos, a fim de que o mesmo se torne interlocutor ativo
desse material.

São objetivos dos ícones em destaque:

? Você sabia? – convida o leitor a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou
VOCÊ SABIA?
informações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta.

Saiba mais – apresenta notas, textos para aprofundamento de assuntos diversos e desenvolvimento
?? SAIBA MAIS
? da argumentação, conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliam a compreender melhor o
conteúdo abordado.

Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles,
INDICAÇÃO
você poderáDEaprofundar
LEITURA seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros ol-
hares e interpretações sobre determinado tema.

Sugestões de atividades – consiste num conjunto de atividades para você realizar autonomamente em
SUGESTÃO DEde
seu processo ATIVIDADE
auto-estudo. Estas atividades podem [ou não] ser aproveitadas pelo professor formador
como instrumentos de avaliação, mas o objetivo principal é o de provocá-lo, desafiá-lo em seu processo
de auto-aprendizagem.

Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entu-
siasmo para juntos desenvolvermos uma prática pedagógica significativa.

SETOR DE MATERIAL DIDÁTICO


UNEB/EaD

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Apresentação da Disciplina

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Prezados (as) Estudantes,

A disciplina História e Educação tem como objetivo apresentar os diferentes processos de transmissão cultural das sociedades,
− neste caso, a brasileira − possibilitando uma compreensão articulada e coerente dos processos educacionais do passado
e suas possíveis relações com a realidade educacional da atualidade.
O estudo aqui descrito procura ir além da cronologia e investe no processo de interpretações dos fatos, em uma perspectiva
de conjunto, para uma formação crítica e reflexiva da sociedade, estabelecendo as relações entre educação e política, teoria
e prática. Nesse sentido, este módulo apresenta um estudo introdutório sobre os fatos e consequências que marcaram a
Educação no Brasil e deverá ser visto por todos, como uma espécie de guia para facilitar os estudos da disciplina referida
Quanto a sua estrutura, o módulo está dividido em três capítulos: o primeiro, Introdução e História tem por objetivo apresentar
o significado e a importância da disciplina Educação e História na formação docente; o segundo traz uma exposição dos
fatos que marcaram a construção da educação no Brasil; e por fim, o capitulo três, tem por objetivo dialogar com a história
do pensamento pedagógico brasileiro que marcou de maneira decisiva a educação hoje estabelecida no nosso país.
Desejamos a todos bons estudos.

Um forte abraço,
Os autores

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SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO: SIGNIFICADO, HISTÓ- O que se pretende de maneira breve é apresentar a
perspectiva epistemológica que fundamenta a concep-
RIA E O PORQUÊ ção de história no pensamento ocidental.

Um dos pontos importantes que se deve estabelecer


nesse momento é o significado do estudo da história ?? SAIBA MAIS
da educação, ou seja, o sentido deste estudo na for- ?
mação do professor. Definir porque é necessário que o
educador tenha conhecimento dos fatos históricos que A leitura do livro O que é filosofia? é importante para a compreensão
marcaram o processo da educação. da perspectiva da filosofia contemporânea francesa e de categorias
que se opõem à concepção moderna de linearidade na produção
Um bom entendimento do passado, aliado a uma
do conhecimento, de um modo geral. O Caos, o simulacro, desejo,
leitura crítica do presente, contribui para que o sujeito- semiótica, a multiplicidade, a imanência, a diferença, a criação de
-histórico faça projeções mais significativas ao lidar conceitos são questões tratadas nesta obra.
com o seu tempo e o futuro.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia. Rio de
A concepção da história na construção do conheci-
Janeiro: Ed. 34, 1992.
mento ocidental moderno pode ser entendida a partir
das ideias de linearidade, progresso e finalidade. Estas
categorias podem ser percebidas na filosofia da história O fato de apresentar a discussão acerca da pers-
de Kant, Hegel e Marx, por exemplo.1 Ambos os autores pectiva de uma epistemologia da história fundamentada
pensam a história a partir de uma concepção linear, que desde o progresso, a finalidade, a evolução tem como
passa por etapas em busca do progresso e chega a objetivo promover entendimento da produção do conhe-
uma finalidade, sendo entendida desde uma evolução. cimento e como ele influencia nas relações humanas. A
Esta forma de pensar o processo histórico leva a história situa o sujeito, pois ela concebe um passado,
identificação de uma origem epistemológica única, e, com isso, garante uma totalidade.
sendo esta perspectiva vigente na filosofia da história Além da discussão sobre o significado do estudo
moderna. A origem única determina todas as realidades, da história, outro ponto importante de se entender é
logo, a partir desta se produz sentidos acerca de todas a relevância da história da educação na formação do
as outras experiências históricas existentes. A história professor para subsidiar sua prática. Conhecer a história
vista como progresso pode levar a equívocos, exemplo da educação se faz importante porque o professor não
disto é justamente ser esta visão uma das bases para o pode estar fora do espaço-tempo em sua profissão.
processo de colonização ocorrido a partir do século XVI. A prática não sobrevive sem uma teoria que a fun-
Na contemporaneidade a ideia de verdade universal damente, e ao mesmo tempo oriente as nossas ações.
é criticada e, ao invés de totalidades, o que se busca É nesta medida que reconheço como necessário ao
produzir são sentidos. A crítica à verdade no pensa- educador conhecer a história da educação, para assim
mento ocidental no século XIX parte de uma grande acessar as informações sobre as concepções políticas,
contribuição do pensador alemão Friedrich Nietzsche. ideológicas que determinam as práticas pedagógicas.
Este considera que há uma impossibilidade de acesso a Como afirma o poeta Carlos Drummond de Andrade
qualquer tipo de certeza, colocando em crise, portanto, (2002a) “sempre fica um pouco de tudo”, e isto esta-
todos os valores, o bem e a verdade. As referências belece ao historiador, educador, o chão para começar
foram diluídas, não se tem mais verdade. caminhar.
A poesia Resíduo (2002a, p. 92), apresenta uma
1 O processo histórico desses três filósofos pode ser
noção da marca do passado, pois sempre fica algo que
encontrado no seguinte sítio: <http://www.scribd.com/
passou anteriormente, o que se passou. Leia:
doc/16198251/Filosofia-da-historia-em-Kant-Hegel-e-Marx>

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Resíduo Já na poesia Mãos Dadas (2002b, p. 59), o mesmo


poeta chama atenção para o presente:
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De tudo ficou um pouco


Do meu medo. Do teu asco. Mãos Dadas
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
[...] Mas de tudo fica um pouco. Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Da ponte bombardeada, Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
de duas folhas de grama, Entre eles, considero a enorme realidade.
do maço O presente é tão grande, não nos afastemos.
- vazio - de cigarros, ficou um pouco. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
[...] O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
Pois de tudo fica um pouco. os homens presentes,
Fica um pouco de teu queixo a vida presente.
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio Sem perder de vista o presente, o poeta tem a
um pouco ficou, um pouco preocupação de ter o olhar voltado para o passado,
nos muros zangados, porque está plugado no seu tempo, de mãos dadas com
nas folhas, mudas, que sobem. ele, mas tendo a responsabilidade com o futuro, e isso
pode ser percebido na poesia Mundo Grande (2002b,
Ficou um pouco de tudo p. 75):
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco Mundo Grande
de ruga na vossa testa,
retrato. Nao, meu coração não é maior que o mundo.
Ê muito menor.
[...] E de tudo fica um pouco. Nele não cabem nem as minhas dores.
Oh abre os vidros de loção Por isso gosto tanto de me contar.
e abafa Por isso me dispo.
o insuportável mau cheiro da memória. Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente
[...] Mas de tudo, terrível, fica um pouco, e nas livrarias:
sob as ondas ritmadas preciso de todos.
e sob as nuvens e os ventos Meus amigos foram às ilhas.
e sob as pontes e sob os túneis Ilhas perdem o homem.
e sob as labaredas e sob o sarcasmo Entretanto alguns se salvaram e
e sob a gosma e sob o vômito trouxeram a notícia
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido de que o mundo, o grande mundo está crescendo
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate todos os dias,
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes entre o fogo e o amor.
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe, [...] Então, meu coração também pode crescer.
fica sempre um pouco de tudo. Entre o amor e o fogo,
Às vezes um botão. Às vezes um rato. entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos

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A bondade, de acordo com o poeta, é superior a ANOTAÇÕES


maldade. Isto mostra uma afirmação positiva do poeta

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em relação à vida. E que a vida futura será possível se
as pessoas forem solidárias umas com as outras. Com
esta poesia finalizamos o sentido do estudo da história.
As três poesias apresentadas nos oferecem elemen-
tos importantes para o entendimento das trocas entre
os tempos: resíduo-passado, mãos dadas- presente e
mundo grande-futuro.
Através da história é possível anunciar a vida futura,
mas para isso se faz necessário conhecer os “resíduos”
sem perder de vista o presente.

INDICAÇÃO DE LEITURA

O livro Introdução à História da Filosofia, pertencente à Coleção Os


pensadores, além de trazer a Fenomenologia do espírito, texto em
que Hegel apresenta a discussão do que seja conhecer, oferece
também textos nos quais o autor aborda a concepção de estética.
O belo é o objeto de estudo da primeira parte do livro, enquanto
na segunda parte se observa a discussão dos fenômenos, da
realidade. Porém, o texto que consideramos de maior relevância
é Introdução à História da Filosofia, por ser este exatamente uma
boa ferramenta de estudo para conhecer a concepção de história,
neste caso, história da filosofia do conhecimento indo-europeu-
moderno. Para Hegel (2000, p. 444), a liberdade é exclusivamente
dos povos dito por ele “racionais”, e com isso, a história, a razão,
começa na Grécia. “A genuína e própria filosofia começa no
Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência,
desaparece a consciência natural e o espírito desce dentro de si
próprio”.
A afirmação deste filósofo tem como fundo ideológico, a negação
dos povos africanos, asiáticos e os povos indígenas do continente
americano.
HEGEL, George Wilhelm Friedrich. Introdução à História da
Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2000. (Coleção Os pensadores)

Os dois livros do poeta Drummond retratam o momento em que este


vive o horror da segunda guerra mundial. E ambos são o retrato da
incompreensão do humano diante do terror da destruição do outro
e pela consequente falta de sentido de algumas ações humanas.
Os dois livros dialogam nesta temática. Sentimento do mundo foi
publicado em 1940, e A Rosa do Povo em 1945. O poeta sente
seu tempo e interpreta isto em poesias, que marcam o momento
histórico vivido por ele, mas que transcende o seu tempo.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro:
Record, 2002.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de
janeiro: Record, 2002.

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CAPÍTULO 1 estudos históricos com o objetivo educativo. A questão


que se procura compreender neste tópico é acerca
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das teorias que fundamentam o campo pedagógico,


que é compreendida como “o estudo dos fenômenos
1.1 SIGNIFICADOS E OBJETIVOS DE SE educativos”.
ESTUDAR A “HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO” Este significado tem como finalidade apresentar o
conhecimento das reflexões estabelecidas dentro do
A disciplina “história da educação” recebe duras campo da educação, e assim conhecer a história do
críticas por parte de alguns discentes que não entendem pensamento educativo. As construções teóricas que
o motivo de se estudar tais conteúdos. Os argumentos fundamentam o sistema de pensamento da educação
utilizados por alguns graduandos se dão do seguinte têm suas bases assentadas dentro de um espaço-tem-
modo: “por quê perder tempo prendendo como foi a po. Isto é, as teorias pedagógicas são fundamentadas
educação no passado, se meu tempo é agora?” por um sistema filosófico vigente da época. E, deste
modo, as questões políticas, econômicas e culturais
A afirmação citada, anteriormente, apresenta de influenciam de maneira decisiva na construção destas.
maneira genérica e panorâmica algumas impressões
apresentadas por discentes acerca da disciplina. A história das reflexões educativas é definida em
diálogo com várias áreas do conhecimento, mas espe-
O presente trabalho apresenta a importância de cialmente com a filosofia, sociologia e antropologia. São
alguns significados e objetivos da presença dos pro- elas que oferecem o sentido a educação ao apresentar,
cessos históricos da educação no Brasil. Isto é, a partir em conjunto com as outras áreas do conhecimento
das inquietações sobre o porquê de se oferecer na grade humano, o que é o mundo e o homem. Portanto, a edu-
curricular de formação de professores tal disciplina. cação constrói seu sentido e determina seus métodos
O papel do historiador é o ponto inicial para se en- de como agir e assim fazer o que se pretende.
tender. E um de seus papéis é o desafio constante, não A construção filosófica, aliada às outras áreas do
somente com o passado, mas também com o presente. conhecimento, determina a concepção da educação,
E com isso, o historiador entende seu espaço-tempo. e esta, a filosofia, é marcada pelo seu espaço-tempo,
A história da educação, neste caso, tem como um de logo a educação não é neutra. Não existe a “educação
seus objetivos, servir como base para um entendimento pela educação”. O docente é convocado a adotar uma
da prática e da teoria educativa. posição, assumir uma identidade político-cultural en-
Os estudantes não podem perder de vista o seguinte quanto profissional.
ponto: “o historiador é um homem do presente que, A aprendizagem do processo histórico da educação
do presente, interroga o passado.” (SAVIANI; SANFE- se apresenta, desta maneira, de fundamental importân-
LICE; LOMBARDI, 1999, p. 20) O historiador não quer cia na formação do professor, porque este ao aplicar
exclusivamente investigar o passado, o seu objetivo uma teoria terá o conhecimento de quem está a serviço
é encontrar possíveis inferências já construídas no e o porquê de utilizar a teoria x e não a y. Sendo assim,
passado para entender o seu tempo. Sendo assim, o compreende que todo processo é marcado por uma
conhecimento da história da educação é necessário finalidade política, econômica e cultural. A posição
para um entendimento mais sofisticado do educador neutra não existe mais ao compreender a história da
dentro do processo histórico-cultural-político. educação.
Uma questão importante é sobre a “ambiguidade A partir do entendimento de que as questões políti-
terminológica” da expressão história da educação, cas, econômicas e culturais determinam o pensamento
sendo utilizada em dois sentidos: primeiro, pode se histórico da educação e, para além dela, os sistemas
referir ao campo de estudo, que se dedica a história filosóficos, que se defende a importância da compreen-
do “pensamento da educação”, e segundo os sub- são da história da educação. Desta forma, o que se
-campos dos estudos históricos educativos. O autor espera é que os discentes sejam capazes de construir
Dario Ragazzini (1999) apresenta tal discussão no livro, criticamente a consciência do processo histórico das
História da Educação: perspectivas para um intercâmbio ideias que circulam no âmbito da educação. Com isso,
internacional. este entendimento possibilita ao professor não ter uma
O primeiro significado, elencado neste módulo, diz atitude alienada em suas práticas educativas.
respeito à história da educação como conjunto dos

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O conhecimento das construções das teorias passa- O primeiro significado a ser discutido neste módulo,
das se torna necessário para uma outra interpretação “a história da educação como conjunto dos estudos

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da realidade. Um exemplo disso são as produções históricos com objetivo educativo”, busca traçar as
realizadas entre os grandes teóricos. Karl Marx foi principais teorias da educação. Portanto, estabelece
um pensador que realizou suas produções teóricas de um primeiro ponto bastante importante, a saber, a falsa
entendimento da realidade concentrada nas relações idéia que porventura o educador tenha de que exista o
econômicas e políticas. Entretanto, Antonio Gramsci “homem universal”.
dialoga com Marx, e oferece um “ponto a mais” ao O objetivo desta disciplina é apresentar aos discen-
conceber a cultura como um elemento importante no
tes que não existe a idéia de uma teoria da educação que
estabelecimento das relações de poder da humanidade.
seja utilizada em todas as épocas, pois o ser humano
é feito de tempo e espaço. O educador, conhecendo as
diferentes teorias da educação, marcado pelo período
?? SAIBA MAIS
? histórico-cultural pode fazer as escolhas necessárias
para atualizar seu modo de pensar e agir na educação.
O professor se sente instigado e, consequentemente,
“No campo teórico, o italiano Antonio Gramsci (1891-1937), como estimula os discentes também. É necessário conhecer
crítico do marxismo oficial, desenvolve importantes reflexões
para inovar e assim o docente coloca em crise sua
para a compreensão do papel do intelectual na cultura em geral
e especificamente na educação”. Durante 11 anos esteve preso própria prática.
pela ditadura fascista de Mussolini e, mesmo no cárcere até No capítulo seguinte o segundo significado será
morrer, escreveu muito. Suas principais obras são: Concepção trabalhado. E este tem como finalidade pontuar a dis-
dialética da história, Os intelectuais e a organização da cultura e
Literatura e vida nacional.
cussão das especificidades da história da educação.2
Uma de suas contribuições originais está no conceito de
hegemonia, que etimologicamente significa dirigir, guiar, conduzir.
Segundo Gramsci, uma classe é hegemônica não só quando INDICAÇÃO DE LEITURA
exerce a dominação pelo poder coercitivo, mas também quando
o faz pelo consenso, pela persuasão. Essa tarefa cabe aos
intelectuais, que elaboram um sistema convincente de idéias O livro indicado está organizado em nove capítulos que tratam dos
pelas quais se conquista a adesão até da classe dominada. Basta estudos histórico-educativos, até a apresentação de uma moderna
constatar que a escola burguesa é classista. Além de preparar história da educação. E as discussões são feitas no Brasil, como
seus intelectuais, infiltra-se nas classes populares para cooptar em Portugal, quanto na Colômbia.
os melhores elementos, que, assimilados, passam a aderir aos
valores burgueses.
SANFELICE, José Luís; SAVIANI, Dermeval; LOMBARDI, José
[...] A consciência de classe do intelectual orgânico pode ser Claudinei (Org.). História da educação: perspectivas para
mais bem desenvolvida entre os grupos de pressão que se intercâmbio internacional. Campinas: Autores Associados;
formam na sociedade civil, como os sindicatos e o partido dos HISTEDBR, 1999.
trabalhadores. Capazes de criar uma contra-hegemonia, resistem
à inculcação ideológica da escola e podem atrair intelectuais até
então comprometidos com o sistema.
Isso não significa, porém, desconsiderar o importante papel da SUGESTÃO DE ATIVIDADE
escola no projeto de democratização da cultura e do saber. A
educação proposta por Gramsci está centrada no valor do trabalho
e na tarefa de superar as dicotomias existentes entre o fazer e
o pensar, entre a cultura erudita e cultura popular. Para tanto, a 1. A partir do entendimento de que é importante
escola classista burguesa precisaria ser substituída pela escola aliar as informações do passado com tempo
unitária, oferecendo a mesma educação para todas as crianças,
presente faça um texto argumentativo apresen-
a fim de desenvolver nelas a capacidade de trabalhar manual e
intelectualmente. Nesse caso, entrar em contato com a técnica do
tando a importância da História da educação na
seu tempo não significa deixar de lado a cultura geral, humanista, formação do professor.
formativa.
Gramsci exerce até hoje influência muito grande na pedagogia,
e a teoria progressista deve a ele seus fundamentos. (ARANHA,
1996, p. 175) 2 A discussão das especificidades serão apresentadas no
tópico 1.2.

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2. À luz dos textos sobre Antonio Gramsci (1) 1.2 HISTÓRIA: DA ESCOLA E DO
e Karl Marx (2) construa um texto crítico- PENSAMENTO PEDAGÓGICO
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-argumentativo sobre as relações existentes


entre as concepções desses dois teóricos, quer
seja diretamente ou indiretamente no campo da História da escola
educação.

A história da escola tem como seu início o surgi-
Texto (1) - “Gramsci propõe a superação desta di-
mento do ensino formal. O saber cultural e histórico
visão; uma escola crítica e criativa deve ser ao mesmo
de uma comunidade passa de uma geração para outra.
tempo ‘clássica’, intelectual e profissional. Para ele, ‘o
advento da escola unitária’ significa o início de novas re- As sociedades chamadas por alguns autores de
lações entre trabalho intelectual e trabalho industrial não tradicionais tinham um modo de educar diferente das
apenas escola, mas em toda a vida social. O princípio sociedades que instauram o ensino formal, por exemplo.
unitário, por isso, refletir-se-á em todos os organismos O conhecimento da comunidade era passado de forma
de cultura, transformando-se e emprestando-lhes um oral, pelo sábio e os mais velhos da região. As regras
novo conteúdo.” (GADOTI, 1999, 125) sociais, os valores morais e culturais das sociedades
tradicionais eram transmitidos em convívio direto
pelos mais velhos do território. O que se observa em
Texto (2) - “Os princípios de uma educação pública algumas sociedades tradicionais é a não divisão do que
socialista foram enunciados por Marx (1818-1883) e seja intelecto e sensibilidade, as duas coisas se davam
Engels (1820-1895) e desenvolvidos, entre outros, por em conjunto. Prática e teoria eram consideradas dois
Vladimir Ilich Lênin (1870-1924) e E.Pistrark”. Marx e elementos fundamentais.
Engels nunca realizaram uma análise sistemática da
A outra característica do ensino nestas sociedades
escola e da educação. Suas ideias a esse respeito
era o porquê de ensinar aos mais jovens. O processo
encontram-se disseminadas ao longo de vários de seus
de qualquer ensino-aprendizagem tinha a ver com o
trabalhos. A problemática educativa foi colocada de
bem estar da comunidade.
modo ocasional, fragmentário, mas sempre no contexto
da crítica das relações sociais e das linhas mestras de Essas sociedades não têm de maneira institucionali-
sua modificação. zada a figura do professor e do aluno, embora o ensino
exista. O conhecimento é transmitido pela atitude dos
que tem como característica o entendimento: “saber é
Marx e Engels, em seu Manifesto do Partido Comu- fazer e fazer é saber”.
nista, escrito entre 1847 e 1848, defendem a educação
O ensino formal, o surgimento da escola, aparece
pública e gratuita para todas as crianças, baseada nos
na história da humanidade no momento em que a
seguintes princípios:
educação é direcionada pela pedagogia. Com a teoria
da educação, esta constrói métodos para lidar com a
1º) da eliminação do trabalho delas na fábrica; prática, ou seja, orientar as ações.
2º) da associação entre educação e produção A escola surge nesse contexto de desenvolvimento
material; da pedagogia. E a partir disso é possível perceber as
3º) da educação politécnica que leva à formação do séries e o educador passa a ser agora um especialista
homem omnilateral, abrangendo três aspectos: mental, no que ensina. Já se percebe uma diferença do “edu-
físico e técnico, adequados à idade das crianças, jovens cador” da sociedade tradicional.
e adultos; Nas sociedades que já tem construídas as teorias
4º) da inseparabilidade da educação e da política, que fundamentam a educação, os professores apre-
portanto, da totalidade do social e da articulação entre sentam um conteúdo e o docente é especializado na
o tempo livre e o tempo de trabalho, isto é, o trabalho, sua disciplina.
o estudo e o lazer.” (GADOTTI, 1999, p. 120-121) As consequências do ensino formal envolvem
questões do tipo políticas e culturais. Segundo, Carlos
Brandão (2007, p. 34):

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Assim também a educação. Por toda parte onde ela deixa


de ser totalmente livre e comunitária (não escrita) e é presa
SUGESTÃO DE ATIVIDADE

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na escola, entre as mãos de educadores a serviço de sen-
hores, ela tende a inverter as utilizações dos seus frutos: o
sabe e a repartição do saber. A educação da comunidade de
iguais que reproduzia em um momento anterior a igualdade,
1) Discorra sobre a concepção de escola tradicional
ou a complementariedade social, por sobre diferenças nat-
e progressista, apontando teóricos importantes desses
urais, começa a reproduzir desigualdades sociais por sobre
dois movimentos.
igualdade naturais, começa desde quando aos poucos usa a
escola, os sistemas pedagógicos e as “leis do ensino” para
servir ao poder de uns poucos sobre o trabalho e a vida de
2) Marque a questão correta:
muitos. Onde um tipo de educação pode tomar homens e
mulheres, crianças e velhos, para torná-los todos sujeitos
livres que por igual repartem uma mesma vida comunitária; a. Os jesuítas foram educadores importantes da es-
um outro tipo de educação pode tomar os mesmos homens, cola progressista, pois suas técnicas marcaram de
senhores e outros, escravos, ensinando-os a pensarem, maneira decisiva esta escola.
dentro das mesmas idéias e com as mesmas palavras, uns
b. A escola tradicional é marcada pelo movimento
como senhores e outros como escravos.
espontâneo do educando e a imobilidade não é pre-
sente na perspectiva de educação deste movimento
A. Escola tradicional e o silêncio não é uma determinação desta escola.
c. Na escola progressista o aluno não é centro dos
métodos de ensino. A única referência está no
A escola em sua história passa por várias fases. professor.
Uma delas é o modo de entender o ensino estabele-
d. Paulo Freire não é um grande representante da esco-
cendo a distinção entre a categoria intelectiva e moral
la tradicional, seus métodos de ensino-aprendizagem
dos discentes. E a partir disso, o aluno se inserir na
marcaram a escola progressista.
sociedade. O ensino-aprendizagem nessa concepção
era de maneira receptiva e mecânica. O objetivo era
“gravar” o conteúdo.
Neste modelo de escola não tem a problematização,
a crítica dos discentes acerca do modelo de sociedade
História do pensamento pedagógico
em que está inserido. O professor é o dono da verdade
e o aluno é aquele que somente pode copiar o que é A história da pedagogia se refere à história das ideias
escrito no quadro. pedagógicas. A ideia pedagógica é sempre contextuali-
zada com o seu espaço-tempo o qual foi desenvolvido.
Escola Progressista Sendo assim, tais pensamentos não estão dissociados
das questões ideológicas que marcaram seu tempo.
Os pensamentos pedagógicos, Iluminista, Posi-
A escola progressista possui como objetivo a crítica tivista, Socialista, Escolanovista, Fenomenológico -
a sua sociedade. A realidade é o ponto de partida para os Existencialista são marcados pelas questões sociais,
projetos pedagógicos desta escola. A realidade social, econômicas, políticas e culturais do seu tempo.
o tecido cultural e histórico o qual os discentes estão As teorias pedagógicas elencadas anteriormente
inseridos serve como ponto inicial e finalidade para as foram influenciadas de maneira decisiva pelo pensa-
análises da escola progressista. mento moderno. Pensamento este que teve grande
contribuição do teórico francês René Descartes.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 19


EAD

Pensamento Moderno
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

O pensamento moderno-científico teve como grande


O título original do filme é Finding Forrester (Encontrando Forrester)
teórico René Descartes (1596-1650), que coloca em e foi lançado em 2000 nos Estados Unidos da América (EUA) pelo
crise a epistemologia e centraliza sua preocupação diretor foi Gus Van Sant. É classificado no gênero de drama e tem
no método. Descartes segue um procedimento passo duração de 135 minutos.
a passo a ser utilizado pela razão com o objetivo de A história do filme é de um jovem adolescente norte americano,
encontrar a verdade universal, a certeza absoluta. O negro chamado Jamal Wallace. Ele ganha uma bolsa de estudo em
filósofo, no estudo sobre o método, duvida de todo o uma escola de pessoas que tem um poder econômico superior ao
seu. A escola é de uma elite de Manhattan. Wallace ganha essa
processo de conhecer, até de sua existência por certo
bolsa por causa de seu desempenho no colégio localizado em
momento, e chega à certeza indubitável, “Penso. Logo Bronx, onde estudava. E além de ser um bom aluno dentro da
existo”. Com esta afirmação, Descartes chega sala de aula, jogava muito bem basquete. O jovem estudante,
a conclusão de que a razão é responsável pela verdade após uma aposta com seus amigos, acaba conhecendo William
das coisas existentes, e inclusive seu próprio corpo Forrester. Este, um talentoso escritor, o qual Jamal vai ficar muito
amigos. Forrester ao perceber que Jamal tinha um grande talento
é inferior a razão. Porque o ser é pensamento, e este
para a escrita estimula o jovem a seguir este caminho.
que constitui a verdade do ser humano.
O filme, além de tantos ensinamentos, como a questão das
O pensador francês oferece alguns elementos relações raciais de um jovem negro numa escola em que a
que serão utilizados na construção do pensamento maioria é branca, evidencia uma questão importante da relação
pedagógico. Como o estabelecimento da dicotomia entre a competência do corpo e do intelecto.
pensamento versus corpo, a separação sujeito/objeto O jovem Jamal procurou provar que além de ser um bom jogador
e a homogeneização do ser humano e da cultura. de basquete era capaz de ser um grande escritor também.
ENCONTRANDO FORRESTER. Direção: Gus Van Sant. Intérpretes:
Entretanto, Descartes não escreveu sobre educação. Sean Connery, F. Murray Abraham, Robert Brown, Anna Paquin.
O objetivo de apresentar sua teoria serve como enten- Roteiro: Mike Rich. [S.l]: Columbia Pictures Corporation, Finding
dimento das produções de conhecimentos que foram Forrester Productions, Fountainbridge Films, 2000. (135 min),
construídas após o impacto das elaborações filosóficas son., color.
do teórico francês.

?? SAIBA MAIS SUGESTÃO DE ATIVIDADE


?
René Descartes nasceu em 31/03/1596 na cidade de La Haye, na Faça uma redação de no mínimo 30 linhas, apon-
França. Em 1637 é publicado o Discurso do Método e dos Ensaios. tando a contribuição do pensamento cartesiano para
No ano de 1644 é publicado os Princípios da filosofia e nos
mesmo ano é feito a tradução latina do livro Discurso do Método.
o conhecimento humano. E aponta essas influências
Três anos mais tarde são feitas traduções em para o francês na educação.
dos livros: Princípios da filosofia e Meditações. As concepções
de Descartes na Universidade de Leiden são proibidas, mesmo
sendo favoráveis. Em 1649 ele publica As Paixões da alma e um Pensamento Iluminista
ano após essa publicação, o filósofo morre em Estolcomo, em 11
de fevereiro.
O pensamento iluminista, pois fim, com a Revo-
lução Francesa, ao regime absolutista. Neste regime,
quem possuía o poder era a nobreza e o clero, sendo
o surgimento da burguesia uma grande força nesse
período.
Um dos grandes destaques entre os pensadores
iluministas foi Jean Jacques Rousseau. Este pensador
é considerado como um dos primeiros teóricos a

20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

introduzir a discussão da infância na educação. Para Rousseau defendia a ideia de que o ser humano nasce
Rousseau a criança nasce boa, mas ela se corrompe bom, mas a sociedade o degenera. A partir desse en-

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


com a convivência na sociedade. É o adulto que cor- tendimento ele defende que a educação deveria ter como
rompe a pureza da criança. objetivo estimular a criança a agir por interesses naturais,
sem as intervenções e imposições da sociedade. Para o
Através da leitura de Rousseau, também se pode
filósofo francês o intuito da educação era fazer com que
observar a mudança do poder e da educação das mãos
a criança exercesse a sua liberdade. Suas ideias influen-
da Igreja para o Estado. A burguesia do século VXIII
ciaram várias correntes pedagógicas posteriores, inclu-
imprime sua força sobre a Igreja com o objetivo de por
sive a Escola Nova.
a educação sob controle do Estado. Essa, no entanto,
é uma das contribuições significativas do pensamento
iluminista para a educação, o advento da obrigatorie-
dade do estado em oferecer escolas. Mas, a educação
mesmo sendo pública não era a mesma para todos. INDICAÇÃO DE LEITURA
Rousseau apresenta a Educação dividida em três
períodos. O primeiro é a infância, seguido da adoles-
cência e por fim, a fase da maturidade. Ele entedia que No livro Emílio, ou da Educação Rousseau defende a ideia de
que o homem é bom por natureza, mas enquanto participa da
somente na fase da adolescência poderia ter início o sociedade vai se tornando corrupto. O autor ao conceber esse fato
desenvolvimento do conhecimento científico. Sobre estabelece um sistema de ensino que o “homem natural” possa
esse a importância do Iluminismo para a pedagogia, conviver com a sociedade corrupta.
Moacir Gadotti (1999, p. 88) escreve:
ROUSSEAU, Jean Jaques. Emílio, ou da Educação. São
Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.
O século XVIII é político-pedagógico por excelência. As ca-
madas populares reivindicam ostensivamente mais saber
e educação pública. Pela primeira vez um Estado institui a
obrigatoriedade escolar (Prússia, 1717). Cresce, sobretudo
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
na Alemanha, a intervenção do Estado na educação, criando
Escolas Normais, princípios e planos que desembocam na
grande revolução pedagógica nacional francesa do final
do século. Nunca anteriormente se havia discutido tanto a No seu livro Emílio, Rousseau destaca que o adul-
formação do cidadão através das escolas como durante os to, sabendo quais são os pensamentos, sentimentos
seis anos de vida da Revolução Francesa. A escola pública e interesses das crianças, não irá impor os seus.
é filha dessa revolução burguesa.Os grandes teóricos ilumi- Para compreender a infância, o homem precisa olhar
nistas pregavam uma educação cívica e patriótica inspirada a vida com simplicidade. Enquanto o mundo físico é
nos princípios da democracia, uma educação laica, gratuita- harmonioso, o mundo humano é egoísta e cheio de
mente oferecida pelo Estado para todos. Tem início com ela conflitos. Os males sociais e a educação oferecida aos
a idéia da unificação do ensino público em todos os graus. jovens são os responsáveis por esses conflitos.
Mas ainda era elitista: só os mais capazes podiam prosse-
 Tanto a sociedade quanto o desenvolvimento do
guir até a universidade.
homem se modificam e é por isso, que a educação

é fundamental a essa adaptação. Para Rousseau o
indivíduo não deve ser sacrificado aos caprichos da

? VOCÊ SABIA?
sociedade, a educação assume um papel de destaque.
Embora as fases no desenvolvimento da vida do
indivíduo já tivesse sido reconhecido por vários pensa-
Nasceu em Genebra – Suíça, em 1712, filho de uma família dores, foi Rousseau quem mostrou a importância das
protestante, tornou-se católico e depois voltou ao protestantismo mesmas para a educação.
e veio a falecer na França, em 1778. Filósofo, autor de livros como:
A primeira fase, até os 5 anos, era como uma fase
Do contrato Social, Discurso Sobre a Origem da Desigualdade
entre os homens, Emílio, ou da Educação. animal, com o aparecimento do primeiro sentimento de
si mesmo; aos 12 anos, o indivíduo torna-se consciente

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 21


EAD

de si mesmo, é o momento da vida em que o racional como o único conhecimento verdadeiro, adequado. A
desperta; sendo um ser isolado, a criança não desfruta segunda característica é a descrição, que esta teoria
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

ainda da vida moral. E na fase seguinte, a puberdade, o propõe realizar e, por fim, o método da ciência é o
sexo é visto por Rousseau como o fator mais importante único válido. Por isso, deve ser generalizado para toda
da vida do indivíduo; com isso, surge a vida social do realização da produção humana.
indivíduo. Com o surgimento dos mais altos sentimen- O positivismo pode ser entendido, de acordo com
tos, a vida moral evolui naturalmente. Maria Lúcia de Arruda Aranha, como:
Se cada fase da vida tem a sua existência própria, a
educação inicial não mais poderia ser considerada uma O termo positivo designa o real, em oposição às
preparação à vida. formas teológicas ou metafísicas de explicação do
A contribuição de Rousseau para a educação infantil mundo. Para Comte, “todos os bons espíritos repetem,
é inestimável. O método da natureza vale para todas as desde Bacon, que somente são reais os conhecimentos
coisas, lembrou às mães a importância da amamenta- que repousam sobre fatos observados”. Isso significa
ção aos seus filhos. Disse que não se deveria moldar que, por meio da observação e do raciocínio, o homem
o espírito das crianças de acordo com um modelo torna-se capaz de descobrir as relações invariáveis
estabelecido. (NASCIMENTO; MORAES, 1998) entre os fenômenos, ou seja, suas leis efetivas.
O positivismo exprime a exaltação provocada no
Questões: século XIX pelo avanço da ciência moderna, capaz de
revolucionar o mundo com uma tecnologia cada vez
mais eficaz: “Saber é poder”. Esse entusiasmo desem-
a. Aponte as transformações políticas ocorridas no boca no cientificismo, visão reducionista segundo a
século VXIII e as consequências desse evento. qual a ciência seria o único conhecimento válido. Dessa
forma, o método das ciências da natureza – baseado na
b. Aponte as principais contribuições do pensa-
observação, experimentação e materialização – deveria
mento de Rousseau para a educação, a partir
ser estendido a todos os campos de indagação e a todas
da sugestão do texto.
as atividades humanas.
c. Em sua opinião, quais seriam caminhos para
Outra decorrência do positivismo é a concepção
a aplicação do pensamento de Rousseau na
determinista, que atribui ao comportamento humano
educação?
as mesmas relações invariáveis de causa e efeito que
d. Comente essa afirmação acerca de Rousseau: presidem as leis da natureza. Por exemplo, para Taine,
“Tanto a sociedade quanto o desenvolvimento um dos seguidores de Comte, o ato humano não é livre,
do homem se modificam e é por isso, que a já que é determinado por causa das quais não pode
educação é fundamental a essa adaptação. Para escapar, como a raça (determinismo biológico), o meio
Rousseau o indivíduo não deve ser sacrificado (determinismo geográfico) e o momento (determinismo
aos caprichos da sociedade, a educação as- histórico). (ARANHA, 1996, p. 139)
sume um papel de destaque.” (NASCIMENTO;
MORAIS, 1998)
O positivismo tem como característica ser uma
teoria científica e tem por objetivo estabelecer o pro-
Pensamento Positivista gresso moral da pessoa humana. Dentre os teóricos do
pensamento pedagógico positivista destaca-se Émile
Durkheim (1858-1917). Para ele, a pedagogia seria uma
O maior teórico do positivismo foi o francês Augusto teoria da prática social, e a educação o reflexo do que
Comte (1798-1857). É importante frisar que o termo seja a sociedade.
positivismo foi empregado por Saint-Simon, pela pri- Durkhein defendia a idéia de que o homem já nasce
meira vez, com o objetivo de determinar um método egoísta e somente a sociedade, tendo como ferramenta
indubitável para a produção de conhecimento. a educação, poderia fazer com que o homem pudesse
Já com Augusto Comte, que vem a se tornar o gran- ser sociável e solidário. A educação, neste caso, é
de nome do positivismo, primeiro determina a ciência uma ação praticada por uma geração anterior com o

22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

intuito de preparar as gerações novas para a vida em Pensamento Socialista


sociedade.

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


Esta concepção é contrária a defendida por Rous-
seau. O homem nascia bom, mas era a sociedade que O pensamento pedagógico socialista consolidou a
o “corrompia”. A natureza humana era naturalmente concepção de uma educação igual para todos. Enquanto
boa, mas as relações sociais degeneravam a bondade o positivismo consolidou uma educação burguesa, o
do homem. socialismo buscou uma educação que atendesse ao
movimento popular e socialista. As duas concepções
Sobre a importância de Durkheim e da concepção
nascem no século XVIII. O movimento elitista burguês
positivista, Moacir Gadotti (1999, p. 109) nos diz:
é representado pela teoria positivista e o movimento
popular e socialista pelo marxismo.
Um dos principais expoentes na sociologia da educação
A teoria pedagógica socialista nasceu dentro do
positivista foi Émile Durkheim (1858-1917). Ele considerava
movimento popular e tinha como objetivo a democra-
a educação como imagem e reflexo da sociedade. A educa-
ção é um fato fundamentalmente social, dizia ele. Assim, a
tização do ensino.
pedagogia seria uma teoria da prática social. No interior da concepção da educação socialista
Durkheim é o verdadeiro mestre da sociologia positiv- a consciência sobre o conceito de classe aparece de
ista moderna. Em sua obra Regras do método sociológico maneira essencial.
afirma que a primeira e mais fundamental regra é consid- As concepções filosóficas do socialismo foram
erar os fatos sociais como coisas. Para ele, a sociedade apresentadas inicialmente por autores como Karl Marx
se comparava a um animal: possui um sistema de órgãos
e Engels e desenvolvidas por outros teóricos como
diferentes onde cada um desempenha um papel específico.
Vladimir Lênin e Pistrak. É importante ressaltar que
Alguns órgãos seriam naturalmente mais privilegiados do
Engels e Marx não têm uma teoria especificamente
que outros. Esse privilégio, por ser natural, representaria
um fenômeno normal, como em todo organismo vivo onde
sobre a educação, mas estas ideias estão espalhadas
predomina a lei da sobrevivência dos mais aptos (evolu-
em seus escritos.
cionismo) e a luta pela vida, em nada modificável. De acordo com a afirmação anterior, diz Gadotti
(1999, p. 121):
O positivismo colaborou para a construção de uma
posição extremamente científica na educação. A visão Marx e Engels, em seu Manifesto do partido comunista,
mítica, mágica foi trocada por completa por uma visão escrito entre 1847 e 1848, defendem a educação pública
da ciência, da tecnologia. É importante ressaltar que a e gratuita para todas as crianças, baseada nos seguintes
elite possuía o controle da visão cientifica. princípios:
1ª) da eliminação do trabalho delas na fábrica;
O lema do positivismo foi “ordem e progresso”. Os
2ª) da associação entre educação e produção material;
seus teóricos defendiam a tese que para progredir teria
3ª) da educação politécnica que leva à formação do homem
que haver ordem. O positivismo influenciou de maneira
omnilateral, abrangendo três aspectos: mental, físico e téc-
direta na construção do Brasil, isso se percebe na frase nico, adequados à idade das crianças, jovens e adultos;
“Ordem e Progresso” escrita na bandeira brasileira. 4ª) da inesperada da educação e da política, portanto, da
totalidade do social e da articulação entre o tempo livre e
o tempo de trabalho, isto é, o trabalho, o estudo e o lazer.
Marx defende o trabalho infantil, mas insiste em que este

SUGESTÃO DE ATIVIDADE trabalho (útil, de valor social) deve ser regulamentado cui-
dadosamente, de maneira que em nada se pareça com a
exploração infantil capitalista. [...].

1) Aponte as diferenças entre o pensamento acerca


Outro teórico que participou do movimento
da educação de Durkheim e Rousseau.
da educação socialista, segundo Gadotti (1999), foi
2) Faça um resumo das ideias do positivismo. Antonio Gramsci. Ele criticava a escola normal, pois
3) Escreva sobre o pensamento de Augusto Comte. esta fazia uma separação entre o ensino dito clássico
e o profissionalizante. Nesta divisão determinava-se a

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 23


EAD

?
hierarquia da sociedade. O ensino profissionalizante era
destinado às classes pobres, enquanto o ensino clássi- VOCÊ SABIA?
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

co aos que dominavam a sociedade e os intelectuais.


Gramsci acreditava que a escola tinha que ser ao
William James (1842-1910) é o principal representante do
mesmo tempo intelectual, profissionalizante e clássica. pragmatismo. E o filósofo John Dewey foi diretamente influenciado
Com isso, se entende o princípio unitário, ou seja, a pelo pensamento do pragmatismo desenvolvido por ele.
escola unitária, a relação entre o trabalho intelectual O escolanovista concebe o aluno como referência de suas ações
e industrial. e considera estes como responsáveis por sua própria experiência.
Outra contribuição oferecida por esta escola é o método pautado
no centro de interesse, isto é, a educação tinha que ser centrado
nas necessidades infantis. A contribuição sobre os centros de
SUGESTÃO DE ATIVIDADE interesse foi oferecida pelo belga Ovide Decroly.

?? SAIBA MAIS
1) Estabeleça uma análise crítica entre os pensa-
mentos pedagógico Socialista e Positivista.
?
2) Quais foram às contribuições que as ideias socia-
Ovide Decroly nasceu na Bélgica, em 23 de julho de 1871 e veio
listas promoveram para as concepções pedagógicas. a falecer em 12 de setembro de 1932. Físico, no ano de 1901
instalou em Bruxelas a Escola Nova direcionada aos discentes
chamados de infância irregular. A pedagogia apresentada por ele
Pensamento da Escola Nova era de uma concepção psicológica e naturalista. (MORAES, [200-
?])

O pensamento pedagógico da escola nova surge no


início do século XX, e a partir desse período começa a SUGESTÃO DE ATIVIDADE
influenciar as práticas de ensino.
A construção da teoria da escola nova sofreu dialoga
de maneira direta com a concepção filosófica do prag-
Descreve o movimento filosófico que influenciou a
matismo. O pragmatismo é contrário a filosofia idealista
escola nova.
e a construção puramente teórica do conhecimento,
pois privilegia a prática, a ação, e se considera como Faça uma pesquisa sobre a concepção de educação
antiintelectualista. de Jown Dewey.
O pensamento da escola nova tem como objetivo
superar a educação tradicional, esta possui como Pensamento Fenomenológico-Existencialista
característica a falta de diálogo entre professor-aluno
e o processo de ensino-aprendizagem voltado para a Platão inicia a discussão sobre a pedagogia da
memorização. essência e o cristianismo desenvolve mais tarde a res-
Os precursores do pensamento pedagógico da peito. Em Platão se percebe a concepção das ideias
escola nova são os pedagogos Feltre, Basedow e inatas e as cópias delas, isto é, as sombras e as ideias.
Pestalozzi. Entretanto, John Dewey é considerado um A sombra é o desejo, o corpo, as sensações, e as ideias
dos primeiros teóricos a apresentar o ensino dado pela o espírito. A educação é entendida pela pedagogia da
ação. A educação pragmática e instrumentalista marca essência “como ação que desenvolve no indivíduo o
a construção teórica sobre educação de Dewey. que define sua essência verdadeira”. (GADOTTI, 1999,
p. 158)
A pedagogia da essência vai ser confrontada pela
pedagogia da existência. Esta sugere que a educação
seja construída por meio das necessidades presentes
e sejam realizadas sem dicotomias do conhecimento e

24 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

da ação. O homem não tem uma essência pré-definida, atribuído ao que é altruísta, e a hostilidade ao que é
mas ela é desenvolvida pelo próprio homem. egoísta [...].

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A pedagogia no século XX foi dividida pelo educador O pensamento pedagógico existencialista também
polonês - Bogdan Suchodolski em pedagogia da es- contribuiu para inserir na educação a antropologia. Este
sência e da existência. Os autores que desenvolveram método tem com preocupação interpretar aquilo que se
teorias relacionadas com a pedagogia da existência mostra, o que aparece.
foram os filósofos Kierkegard, Stirner e Nietzsche. A A contribuição que a filosofia existencialista ofereceu
contribuição de Kiekergard consiste na diferença entre a educação foi muito significativa. A primeira questão
as pessoas humanas. Os indivíduos são diferentes entre é sobre a existência centrada na questão atual do dis-
si, isto é, a pessoa humana é única. Já Stirner chama cente, no aqui agora. Outra contribuição é conceber
atenção para as imposições produzidas e aplicadas pelo a existência em movimento, ou seja, em constante
Estado e sociedade, modelos e ideais ultrapassados. O transformação.
filósofo alemão, Nietzsche, ao afirmar o fim dos valores

morais cristãos, ofereceu como legado, principalmente
para a filosofia existencialista de Jean Paul Sartre, a
morte de Deus. Segundo Nietzsche (1995, p. 79-80), o INDICAÇÃO DE LEITURA
homem criou Deus a sua imagem e semelhança. Deste
modo, com negação de Deus, ele põe fim ao fundador
da moral ocidental. A autora de História da educação apresenta o movimento histórico
da educação desde as sociedades tradicionais até a educação no
Minha tarefa de preparar para a humanidade um
terceiro milênio.
instante de suprema tomada de consciência, um grande ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São Paulo:
meio-dia em que ela olhe para trás e para adiante, em Moderna, 1996.
que ela escape ao domínio do acaso e do sacerdote, Em Histórias das ideias pedagógicas o autor faz uma construção
e coloque a questão do por quê?, do para quê? Pela do pensamento pedagógico desde o pensamento oriental e termina
com as perspectivas atuais de educação.
primeira vez como um todo -, essa tarefa resulta ne-
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática,
cessariamente da compreensão de que a humanidade 1999.
não segue por si o caminho reto, que não é regida di- Esses dois textos oferecem elementos importantes para o
vinamente, que na verdade, sob as suas mais sagradas entendimento da história da educação.
noções de valor, foi o instinto de negação, de degene-
ração, o instinto de décadence que governou sedutora-
mente. A questão da origem dos valores morais é para
1.3 CONCEITO: PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO
mim, portanto, uma questão de primeira ordem,porque
condiciona o futuro da humanidade. A exigência de que O tópico que se segue tem como objetivo apresen-
se deve acreditar que no fundo tudo está nas melhores tar a distinção entre o conceito de pedagogia e o de
mãos, que um livro, a Bíblia, tranqüiliza definitivamente Educação.
quanto à condução e à sabedoria divinas na sorte da
humanidade, esta exigência, retraduzida na realidade,
é a vontade de não deixar surgir a verdade sobre o Pedagogia
lamentável oposto disso, ou seja, que a humanidade
esteve até agora nas piores mãos, que foi governada
pelos malogrados, os astutos-vingativos, os chamados O sentido da palavra pedagogia passou por algumas
“santos”, esses caluniadores do mundo e violadores transformações ao longo do tempo. O termo inicialmen-
do homem. O signo decisivo no qual se revela que o te significava profissão do educador ou prática, e após
sacerdote (- inclusive os sacerdotes mascarados, os essa fase passou a ser chamada de teoria da educação.
filósofos) tornou-se senhor absolutamente, e não só Na Antiguidade Clássica, a pedagogia era considera-
dentro de uma determinada comunidade religiosa, que da como parte da ética e da política. Não tendo ainda a
a moral da décadence, a vontade de fim, é tida como autonomia como ciência, ela ainda dependia de outras
moral em si, é o valor incondicional em toda parte áreas do conhecimento.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 25


EAD

A partir do século XVII começou a ser articulada com


as concepções filosóficas que foram surgindo desde SUGESTÃO DE ATIVIDADE
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

esse período. A partir de autores como G. A. Comênius


Locke, Rousseau, Pestalozzi, foram elaborados siste-
mas pedagógicos que influenciaram o pensamento de
autores posteriores. 1. Discorra sobre a diferença e semelhança entre
A psicologia, antropologia, sociologia, filosofia são os conceitos de pedagogia e educação
áreas do conhecimento que dialogam de maneira direta
na construção das teorias pedagógicas. 2. Comente sobre o seguinte pensamento:
“A educação existe onde não há a escola e por toda parte
pode haver redes e estruturas sociais de transferência de
Educação saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer
criada a sombra de algum modelo de ensino formal central-
izado.” (BRANDÃO, 2007, p. 13)
A educação, em linhas gerais, pode ser compreen-
dida como aquela que transmite os valores culturais,
os conhecimentos elaborados na sociedade de geração
em geração. A educação é necessária, pois sem ela
não existe transmissão de conhecimento das gerações.
CAPÍTULO 2
Deste modo, todas as sociedades possuem estruturas HISTÓRIA E EDUCAÇÃO BRASILEIRA
sociais, culturais e históricas de transmissão de co-
nhecimento. Segundo Carlos Brandão (2007, p. 13):

A educação existe onde não há a escola e por toda parte 2.1 COLONIZAÇÃO, CATEQUESE E OS
podem haver redes e estruturas sociais de transferência
JESUÍTAS
de saber de uma geração a outra, onda ainda não foi se-
quer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e
centralizado. Porque a educação aprende com o homem a
O território brasileiro surge na história da humanidade
continuar o trabalho da vida. A vida que transporta de uma
(numa perspectiva de exploração) como consequência
espécie para a outra, dentro da história da natureza, e de
do renascimento e do humanismo europeu. O renasci-
uma geração a outra de viventes, dentro da história da espé-
cie, os princípios através dos quais a própria vida aprende e
mento é o momento em que ocorre a revalorização das
ensina a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser. referências culturais da antiguidade clássica. Ou seja,
é a troca dos valores culturais da idade medieval pela
E em outro momento acrescenta: valorização do conhecimento cientifico.
A partir do renascimento se observa a transição do
[...] A educação aparece sempre que surgem formas sociais feudalismo para o capitalismo. E atrelada ao movimento
de condução e controle da aventura de ensinar- e- apren- renascentista eclode o humanismo, este não tem mais
der. O ensino formal é o movimento em que a educação se Deus como centro, mas o homem. O teocentrismo
sujeita à pedagogia ( a teoria da educação), cria situações perde lugar para o antropocentrismo. O homem é a
próprias para o seu exercício, produz e construiu execu- chave dos segredos na idade moderna.
tores especializados. É quando aparecem a escola, o aluno
e o professor de quem começo a falar daqui para frente.
A educação indígena não tinha como parâmetro o
(BRANDÃO, 2007, p. 26). homem universal, aquele que possui a verdade das
coisas. Mas uma educação centrada no ensinamento
da comunidade. A educação indígena tinha como ca-
racterística uma formação comunitária, ao contrário do
individualismo; a liberdade, criatividade, teoria e prática
aliada na educação indígena. De acordo com Lúcio Paiva
Flores (2003, p. 36-37):

26 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

Os conceitos básicos da formação do individuo índio são tais condições, e ainda menos a poderia ter com a forma-
muito diferentes; na comunidade indígena os filhos não são ção jesuítica, cuja excelência era exatamente a de conse-

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


só dos pais: são da comunidade toda, todos são respon- guir treinar a inteligência e mantê-la em completa e passiva
sáveis pelo cuidado e educação porque quando adulto vai subordinação. Quando e se alguma inteligência se eman-
conviver com todos. A infância na aldeia é o que se pode cipava... era que o método falhara. Embora espetaculares,
chamar de liberdade. Liberdade aqui não é poder fugir dos estes casos, entretanto, sempre foram raros e arriscados.
cuidados dos pais para viver sozinho e fazer o que bem en- A história de nossa independência intelectual como que se
tende. É ser livre junto com os pais; é estar na sua própria poderia datar do Marquês Pombal e da expulsão dos jesuí-
casa e desfrutar dos encantos que a infância proporciona. tas.
Florestas, rios, muitas árvores, frutas, brincadeiras das
crianças nas aldeias; são atividades intensas onde todos
participam e estão ausentes as conhecidas exclusões onde
Em 1549 se tem notícia da chegada dos jesuítas
alguém só joga porque é o dono da bola. Dessas atividades
no novo mundo - Brasil. A partir dessa data iniciou a
todos participam e elas se tornam mais interessantes ainda catequese dos índios na cidade do Salvador, nesta foi
quando os adultos resolvem brincar juntos; é o momento construída uma escola com o objetivo de catequizar
em que velhos, mulheres, jovens e crianças formam um os “selvagens”, e assim, transformá-los em cristãos
único grupo envolvido numa única atividade: brincar, todos novos.
somos crianças. A vinda dos jesuítas para o Brasil inicia a história
religiosa da colônia. O padre Manuel de Nóbrega foi o
A concepção de educação indígena no século XXI primeiro provincial a chegar na condição de conselheiro
é a do educador que vive com sua comunidade. Flores de Thomé de Souza, primeiro governador do Brasil
(2003) apresenta as categorias e a concepção de edu- (1549- 1553).
cação dos indígenas. Entretanto, vale ressaltar que com A companhia de Jesus possuía dois objetivos fun-
a chegada dos portugueses no século XVI, no território damentais: “missionário, com a fundação de aldeias
que futuramente seria chamado de Brasil, o modo de indígenas, e educacional, pela organização de colégios,
educação indígena é substituído através da força pelo base da cultura do Brasil colonial”. (ARRUDA; PILETTI,
modelo de educação dos Jesuítas. 1997, p. 153)
A companhia de Jesus ajuda a fortalecer o império José de Anchieta foi um dos principais padres que
cristão e dar ênfase à expansão católica em territórios trabalhou na missão de catequizar os índios em território
como o Brasil e em alguns países do continente africa- brasileiro. Ele é um dos principais jesuítas que chegou
no, como: Moçambique, Nigéria, Camarões. ao Brasil no século XVI, que veio na embarcação de
A companhia de Jesus vinha na contramão do pro- Duarte da Costa, o segundo governador geral (1553-
testantismo, ela estava com a força da contra-reforma, 1558). Anos mais tarde, em 1565, o governador Duarte
e a base central era afirmar uma autoridade espiritual da Costa é substituído por Mem de Sá, o terceiro go-
para os povos indígenas. vernador geral do Brasil (1558-1572).
Embora o mundo já estivesse na idade moderna, O padre recebeu uma educação renascentista, de
onde Deus foi substituído pelo homem, pelo cientificis- uma família rica. O pai era basco e a mãe judia, aos
mo, no Brasil o caráter de uma educação escolástica dezenove anos chegou ao Brasil embarcando na vila
prevalecia. de São Vicente.
O regime educacional brasileiro era fundamentado Anchieta aprendeu tupi-guarani, uma das línguas
pelos padres jesuítas. De acordo com Anísio Teixeira faladas pelos indígenas, e ensinou o latim. Como pa-
(1973, p. 64), acerca da educação escolar dos jesuítas: dre sabia uma das línguas dos indígenas e, com isso,
acabou ganhando a confianças dos índios. Deste modo,
conseguiu alguns sucessos como a paz entre os povos:
A educação escolar da época era a educação dos jesuítas, tupinambás, tamoios e os portugueses.
isto é, uma educação destinada a formar um pequeno grupo
Uma das suas ações como jesuíta foi colaborar na
de instruídos para o serviço de direção, por eles orientada,
fundação de um colégio em Piratininga, em 1554, lugar
da sociedade. Esses instruídos seriam os sacerdotes e al-
guns leigos, a serviço dos senhores ou da igreja. A pro-
que depois se tornaria a cidade de São Paulo.
fissão da inteligência não tinha autonomia na época e em

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 27


EAD

No período colonial não houve um padrão escolar


brasileiro, pois o modelo de socialização era empreen- SUGESTÃO DE ATIVIDADE
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

dido pelos romanos – jesuítas, ou seja, era a concepção


portuguesa de educação que prevalecia e a metrópole
impunha seu modelo a colônia.
A educação jesuíta tinha como finalidade a coloniza- TEXTO (1) – TRECHO DA CARTA DE PERO
ção e, para isso, convertia os indígenas em um ensino VAZ DE CAMINHA
pautado na moral. A educação era fundamentalmente
tradicional, pois os padres eram o dono do conheci-
mento e os povos indígenas estavam numa posição [...] Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata
de tábua rasa que somente seriam considerados seres nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.
humanos com a intervenção dos colonizadores. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e
temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque
A aprendizagem era caracterizada por ser receptiva
neste tempo d’agora assim os achávamos como os de
e mecânica. O método de ensino utilizado era a exposi-
lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é gra-
ção e demonstração verbal dos conteúdos. Todavia, o
ciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo;
assunto apresentado não era contestado pelos indíge-
por causa das águas que tem!
nas - alunos, definindo dessa maneira a relação padre
(professor), indígenas (aluno) - que é de total ênfase no Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar
papel dos padres. Estes eram o dono do conhecimento, parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a
enquanto os educandos (indígenas) ficavam na posição principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
à espera do ser iluminado. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui
esta pousada para essa navegação de Calicute bastava.
O aspecto que predomina na relação ensino-apren-
Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer
dizagem é na autoridade dos padres.
o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescenta-
mento da nossa fé!
?? SAIBA MAIS E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do
? que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei,
Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo
Os fatores que marcaram a Idade Moderna dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
Antes do fim da Idade Média, o feudalismo foi desaparecendo, E, pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo
dando lugar a novo período da História Ocidental, a Idade Moderna,
graças a fatores decisivos, como:
que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso
• No campo socioeconômico, o surgimento da burguesia
serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem
mercantil e a expansão comercial européia através das servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê,
Grandes navegações; mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu
• No campo político, o fortalecimento do rei e a formação dos genro -- o que d’Ela receberei em muita mercê.
Estados nacionais; Beijo as mãos de Vossa Alteza.
• No campo religioso, a Reforma protestante, a partir da qual
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje,
o catolicismo deixou de ser a única religião cristã da Europa
ocidental; sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
• No campo científico, o desenvolvimento da ciência moderna,
não mais fundamentada na autoridade, mas em métodos de Pero Vaz de Caminha
observação e experiência; Nicolau Copérnico e Galileu Galilei
mostraram que a terra gira em torno do Sol;
• No campo da comunicação, a invenção da imprensa por
Gutenberg permitiu a difusão mais rápida dos conhecimentos.
TEXTO (2) – TRECHO DA MÚSICA ÍNDIOS
No campo tecnológico, houve grandes avanços com o uso da
bússola, da pólvora e do papel. (ARRUDA; PILETTI, 1997, p. 145)
Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que entreguei

28 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


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A quem conseguiu me convencer jurídicos”. Enquanto no segundo reinado, com Pedro II,
Que era prova de amizade em 1875, instalou a escola de Minas, em Ouro Preto.

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


Se alguém levasse embora até o que eu não tinha. O segundo ato oficial, a lei complementar à constitui-
ção de 1824, outorgava que os negros eram proibidos
Renato Russo de freqüentar escolas, alegando que estes eram con-
siderados pelo império como portadores de doenças
contagiosas.
A partir da leitura dos textos (1) e (2) construa um Em 1827 foi aprovada a lei que determinava a cons-
comentário crítico estabelecendo uma co-relação trução de escolas de primeiras letras em todas as cida-
desses dois textos, apontando as questões históricas, des, lugarejos e vilas do Brasil. De acordo com Fernando
culturais e educacionais que os povos indígenas se de Azevedo, citado por Aranha, esta lei fracassou por
encontram na atual conjuntura política do Brasil. conta das questões econômicas, políticas e técnicas.
Mais tarde em 1834, com o ato adicional, o ensino
é descentralizado. Isto é, agora é atribuição da Coroa
regulamentar e promover o ensino superior, enquanto às
2.2 O IMPÉRIO E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA províncias ficaram responsáveis pela escola elementar
e a secundária.
Os intelectuais brasileiros, no século XIX, influencia-
dos pelas ideias européias da época procuram dar um
significado à educação no Brasil. E a partir disso idea-
lizaram projetos, leis, e criaram escolas nesse período. 2.3 A CONSTRUÇÃO DA PRIMEIRA
No Brasil não havia uma independência intelectual, UNIVERSIDADE EM TERRITÓRIO
pois os padrões escolares eram impostos da metrópole BRASILEIRO
para a colônia. As primeiras instituições começam
a aparecer no Brasil com a transferência forçada da
família real. Vale ressaltar que se trata de instituições No início do século XIX com o desenvolvimento
formais no modelo europeu de escola. Porque como foi do capitalismo industrial e com a política de Napoleão
visto anteriormente a educação é um elemento presente Bonaparte, que tinha nesse período a Europa em seu
em todos os povos. E os índios já tinham seu modo de controle. Através do decreto do bloqueio continental, a
educar antes da interferência dos europeus. família real portuguesa se ver obrigada a transferir-se
para uma de suas colônias, o Brasil. Essa transferência
A escola de Medicina foi construída no governo Jo-
da família real influenciou de maneira decisiva para
anino (1808-1821). O objetivo dela era formar médicos
o surgimento da primeira universidade em território
para a marinha e o exército. Esta escola fica localizada
brasileiro.
no Terreiro de Jesus, Salvador/Bahia e em 18 de fe-
vereiro de 2011, comemorou 203 anos de existência. O bloqueio continental era uma exigência da França
a Portugal obrigando os portugueses a decretar guerra
O período imperial no Brasil foi marcado de maneira
à Inglaterra, fechar seus portos aos navios ingleses,
decisiva pelo pensamento positivista. O positivismo
confiscar os bens dos ingleses que estivessem vivendo
exalta a tecnologia e privilegia a ciência como uma
em Portugal e se incorporar à esquadra francesa.
forma superior de produzir conhecimento.
A partir dessa conjuntura, o rei de Portugal, Dom
A teoria positivista é muito forte entre os intelectuais
João VI, ficou em situação difícil. Pois se acatasse ao
brasileiros da época. Dentre esses intelectuais podem
que Napoleão Bonaparte exigia perderia o Brasil, pois
ser citados aqueles que exerceram forte influência
os ingleses invadiriam sua colônia, mas se atendesse
na proclamação da república. Foram estes: Benjamin
ao que os franceses exigiam, Portugal seria invadida
Constant, Miguel Lemos e Teixeira Mendes.
pela França, no comando de Napoleão.
Após a independência, em 1822, começa a ser
Dom João era príncipe regente, ele estava no lugar
discutida nas assembleias leis referentes à educação.
de sua mãe Maria I, que apresentava o diagnóstico de
E no reinado de Dom Pedro I foram criados os “cursos

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problemas psicológicos. Por isso, era conhecida como O decreto n. 53, de 18 de novembro de 1966, foi
Maria “a louca”. o responsável pela consolidação e reestruturação no
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

A decisão que o príncipe tomou ao se ver pressio- ensino superior. Esta lei representou o estimulo do
nado pelo os dois lados foi a transferência da Corte processo de expansão dos cursos superiores e deu uni-
para o Brasil. A embarcação da família real chegou ao dade à estrutura das universidades. Ou seja, o decreto
Brasil em 1808, sendo que uma parte acabou indo para estimulou as pesquisas na universidade, ao concebê-las
o Rio de Janeiro e a outra, a do príncipe, para a Bahia. como instituição promotora de cultura.
As primeiras decisões do príncipe, primeiro em

?
Salvador e depois no Rio de Janeiro, foram: abertura
dos portos às nações amigas, montagem de uma bu- VOCÊ SABIA?
rocracia governamental (órgãos de governo, Casa de
Moeda, imprensa régia, Banco do Brasil). Além dessas Escola de Medicina
criações, D. João criou as escolas de medicina, sendo A escola de medicina inicialmente não tinha esse nome, ela
a primeira na Bahia, as escolas de engenharia, a Aca- passou por várias nomenclaturas. A primeira, de 1808 até 1826,
demia de Marinha e a de Artes. Escola de Cirurgia da Bahia, depois em 1826-1832, a Academia
Médico-Cirúrgica da Bahia, seguido da Faculdade de Medicina
Na república Velha, em 1920, são reunidas as três da Bahia (1832-1891). Após esta nomenclatura recebeu o nome
escolas superiores tradicionais: Medicina, Direito, de Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia (1891- 1901).
Engenharia. Somente em 1930 é confirmada a ideia De 1901-1946 o nome era Faculdade de Medicina da Bahia, de
de universidade profissional, a partir das três escolas 1946-1965, Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia. O
citadas anteriormente. A faculdade de Filosofia, Ciência penúltimo nome foi Faculdade de Medicina Federal da Bahia (1965-
2008) e, por fim, Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade
e Letras surge nesse mesmo período (1930). Federal da Bahia (2008-presente). (TERREIRO..., 2011)
Em 1962 a universidade no Brasil começa a ter
mais autonomia, a partir da implantação das Leis de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB). As universida-
des começaram a rever seus estatutos e prepararem SUGESTÃO DE ATIVIDADE
plano para reformas. Segundo Anísio Teixeira (1976,
p. 256), a Educação superior se caracterizou no Brasil
da seguinte forma: 1) Quais as consequências do pacto colonial para a
colônia brasileira? Aponte em seu texto quais foram os
Com as potencialidades criadas pela Lei (LDB), o debate desenvolvimento ocorrido no Brasil, no que diz respeito
continuou, levando afinal ao Decreto- Lei nº 53, de 18 de a educação.
novembro de 1966, que fixou os princípios e normas de or-
ganização para as universidades federais. Esse decreto-lei
constitui o fato mais significativo ocorrido em 1966, quanto O ENSINO ELEMENTAR
à universidade brasileira. Até então, a universidade continu-
ava a ser uma federação de escolas de profissões liberais,
com o Direito, a Medicina, Farmácia e Odontologia, e a En- No império o ensino elementar era responsabilidade
genharia, Arquitetura e Belas-Artes como principais, a que das províncias (o que seria conhecido mais tarde como
se juntaram depois, com prestígio crescente, as Faculdades Estado). A lei que determina é a de 1834. As províncias
de Filosofia e de Economia e as demais escolas que pode- têm autonomia sobre o ensino elementar e a secundária.
riam chamar de carreiras curtas, tais como as de enferma-
Como não existia uma obrigatoriedade do ensino
gem, de biblioteconomia, de nutricionista, de teatro, etc.
primário para o acesso a outros níveis, a população
Embora velha organização tenha estado sob a pressão do
favorecida economicamente e politicamente no Brasil
espírito de reforma e as universidades se tenham expandido
muito além dos seus limites originários, todo o crescimento
educava seus filhos em casa ou contratava professores
se processou, na realidade, pela multiplicação e criação de
que dessem aulas em conjunto. Para as demais popula-
novas unidades e não pelo desdobramento orgânico das ções não restavam muitas escolas, e o que a educação
unidades existentes a fim de enfrentar os novos desenvolvi- elementar proporcionava era ler, escrever e contar.
mentos do saber e a conseqüente mudança de carreiras De acordo com Maria Arruda Aranha (1996, p. 155),
universitárias. pode se dizer:

30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


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No ensino elementar, a situação é ainda mais caóti- A grade curricular do ensino secundário incluiu “o es-
ca. O modelo econômico brasileiro, predominante- tudo das ciências”, noções de sociologia, moral, direito

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mente agrário, sofre algumas alterações na segun- e economia política, além das disciplinas já ensinadas.
da metade do século XIX em função do incremento
do comércio e, mais para o final, devido ao peque-
Os positivistas criticaram esta reforma, segundo eles
no surto de industrialização. Esse modelo não fa-
não respeitava os princípios pedagógicos de Comte,
vorece a demanda da educação, que não é vista havendo apenas o acréscimo de matérias científicas
como meta prioritária em face da grande população às tradicionais, o que tornava o ensino enciclopédico.
rural analfabeta composta sobretudo por escravos.3 Em 1901, através do código Epitácio Pessoa, a lógica
é incluída no currículo, retirando-se a biologia, a socio-
logia e a moral, reforçando a literatura sobre a ciência.
A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE
A partir do decreto n. 8. 659, de 5 de abril de 1911,
conhecido como Lei orgânica Rivadávia Correia, o
Aqui abordaremos o período que compreende curso secundário passou a ser considerado como
a Primeira República (1889) até o regime militar. Le- formador do cidadão e não apenas como uma mera
vantaremos as principais transformações ocorridas na etapa para promovê-lo ao um nível seguinte. Alinhada
educação brasileira apontando as reformas curriculares as orientações positivistas, pregava a liberdade de
e na própria estrutura de ensino. ensino, entendendo-se com a possibilidade ensino que
não seja por escolas oficiais e de frequência. Defendia
a substituição do diploma por certificado de aprovei-
A educação brasileira na Primeira tamento e assistência, bem como transferir os exames
República: 1889-1929 de admissão no ensino superior para as faculdades.
As dessa reforma não foram nada satisfatórias para
educação brasileira.
A primeira reforma ocorre no ensino secundário, Em 1915, acontece a reforma de Carlos Maximiliano,
liderado por Benjamin Constant tendo como princípio com o objetivo de por fim a Reforma Rivadávia Correia.
básico a liberdade bem como a gratuidade da escola Esta reforma re-oficializa o ensino no Brasil e dela
primária, estes princípios já faziam parte da constituição surge o vestibular como instrumento de impossibilitar
brasileira. Tal reforma possuía o intuito de transformar o ingresso dos jovens ao nível superior.
o ensino em formador de alunos para os cursos supe-
riores e substituir a predominância literária pela cientí-
fica, visto que Benjamin Constant foi um dos maiores ?? SAIBA MAIS
propagadores do ideário positivista do Brasil, dessa ?
maneira a sua reforma cobria-se de idéias positivistas.
Reforma Rivadávia Correa

?
A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso
VOCÊ SABIA? secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples
promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista,
prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade
de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de
Benjamin Constant nasceu em 1833 e faleceu em freqüência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em
1891. Ele foi político e militar e um dos fundadores da troca de um certificado de assistência e aproveitamento e
concepção da República brasileira. Constant é um dos transfere os exames de admissão ao ensino superior para as
intelectuais que divulgaram a ideia do positivismo no faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para
a educação brasileira.
Brasil.
A Reforma de Carlos Maximiliano, em 1915, surge em função
de se concluir que a Reforma de Rivadávia Correa não poderia
continuar. Esta reforma reoficializa o ensino no Brasil. (BELLO,
3 O termo é considerado hoje impróprio pois alude à uma [1998?])
condição natural. Sugerimos que este termo seja substituído
por negros escravizados.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 31


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Sob o comando do Presidente Artur Bernardes (1922-1926), o A evolução brasileira na era Vargas
Brasil vive um período complexo de mobilização. Operários em
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greves e protestos estudantis. Na tentativa de combater tais


questões, surge a Reforma João Luiz Alves, que introduz o ensino
de Moral e Cívica, como esperança ao combate de tais protestos.
Vários fatos importantes marcaram a década de vinte. Nesse A era Vargas é dividida em três períodos: governo
período ocorreu o Movimento do 18 do Forte (1922), a Semana provisório (1930- 1934), governo constitucional (1934-
da Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922) 1937) e Estado Novo (1937-1945).
a Revolta Tenentista ( 1924) e a Coluna Prestes (1924 – 1927).
As oligarquias tradicionais que detinham o poder
Na Educação diversas reformas foram realizadas de abrangência
estatal, a exemplo: Lourenço Filho (Ceará) 1923, Anísio Teixeira
no Brasil, os fazendeiros de café e os produtores de
(Bahia) 1925, Francisco Campos e Maria Casasanta (Minas leite, perderam seu prestígio, e Getúlio Vargas apoiado
Gerais) 1927, a de Carneiro Leão (Pernambuco) 1928, entre pelos tenentes, militares e burguesia dissidente assume
outros. o poder.
A Conjuntura do País desta década levou a tomada do poder por A constituição de 1934 estabelece o presidencia-
Getúlio Vargas, em 1930.
lismo, os três poderes, as eleições diretas e o voto
Os padrões da educação brasileira na época da república velha
feminino.
são relatados por Anísio Teixeira, segundo o teórico:
Já o governo constitucional é um período marcado
No período republicano, ab initio, já podemos
pelo pensamento político de direita e grupo de esquerda.
encontrar os germes do que agora vem ocorrendo Isto é, as divergências ideológicas entre a Ação Integra-
em toda a federação. Com efeito, as primeira da Brasileira (AIB), influenciada pelo nazi-facismo, de
grandes contradições nacionais entram a revelar- direita, e Aliança Nacional Libertadora (ANL), apoiada
se. Num país conservado em subdesenvolvimento por comunistas e liberais, de esquerda.
colonial, começam a circular idéias provenientes
dos países de maior desenvolvimento. A elite O Estado Novo é o momento histórico marcado pela
de formação estrangeira fala em todas as ditadura de Vargas. Nesta época, a nova perspectiva
reivindicações típicas dos países de estrutura mais apontada na administração de Vargas tinha como ob-
ou menos democrático-capitalista, sem refletir,
jetivo a educação. E o que estabelecia na configuração
entretanto, que tais reivindicações somente seriam
possíveis com o enriquecimento. A educação jurídica do Estado Novo era a competência entre as
popular,livre e gratuita, era uma consequência esferas do governo e a implantação de uma rede na-
direta do individualismo e do sucesso econômico, cional de educação.
multiplicado embora individual ou privado, e o
A criação do Ministério dos Negócios da Educação
Brasil não tinha condições nem para uma nem para
outra. Por isto mesmo, toda a educação tinha de e de Saúde Pública (1930), a Constituição de 1934, que
ser um pio desiderato, de gente bem intencionada estabelecia um Plano Nacional de educação, bem como
mas sem recurso. (TEIXEIRA, 1976, p. 65) a obrigatoriedade e gratuidade do ensino e as reformas
Educacionais (1930 e 1940) demonstram as mudanças
na educação escolar do Brasil.
No período de Vargas, a educação brasileira é mar-
SUGESTÃO DE ATIVIDADE cada pelo pensamento pedagógico da escola nova. E
o teórico mais notável desse movimento no Brasil é
Anísio Teixeira. Outros dois nomes importantes desse
movimento que luta a favor da escola pública é Fernan-
1. Discorra acerca da concepção pedagógica que do de Azevedo, sociólogo que sofre forte influência de
prevalece no Brasil na primeira república. Durkheim, e Lourenço Filho. Este é considerado como
2. Qual a importância das ideias de Benjamin Cons- um dos pioneiros da relação entre educação e psico-
tant para o pensamento pedagógico brasileiro? logia no Brasil.
Em 1938, foi criado o Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (INEP), órgão submetido ao Ministério da
Educação, com a direção de Lourenço Filho, que foi
diretor até 1946. E entre os anos de 1947 e 1951, Filho
foi diretor do Departamento Nacional de Educação. Este

32 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


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período é muito importante, porque foi exatamente o sume. A oposição não aceitava sua posse, alegando
momento em que ele presidiu uma comissão que tinha que ele possuía tendências políticas esquerdistas.

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como finalidade construir o projeto de Lei de Diretrizes Como solução para tal problema se estabelece o regime
e Bases. Mais tarde ela vira a lei 4.024/61, a LDB da parlamentarista de governo (1961-1962) que reduziu os
nação brasileira, tendo como relator Almeida Júnior. poderes constitucionais de Jango. Em 7 de setembro,
ele toma posse em meio a um governo turbulento e em
31 de março de 1964, tropas militares desencadeiam o
A República Populista e a educação no movimento golpista. Em 01 de abril, Jango é obrigado
Brasil a abandonar a presidência, no dia 02 de abril exilou-se
no Uruguai.
O Golpe Militar coloca, provisoriamente, um fim a
A república populista inicia seu período de 1945 tentativa da construção de um regime democrático no
e vai até 1964. O período histórico foi marcado pelo Brasil e assim se encerra a fase populista.
populismo. Este movimento representou um tipo de
organização política que inseriu as massas populares
no cenário político. As massas eram manipuladas, mas A LDB de 1961: Escolas públicas X Escolas
tinham seus desejos atendidos. privadas
Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), com o objetivo de
elaborar uma nova constituição, instala uma Assembléia
Nacional Constituinte, que foi votada em 1946, devol- A lei que determinava as Diretrizes e Bases da
vendo aos estados a autonomia que lhes tinha sido Educação Nacional (LDBEN), aprovada em 1961, foi
tirada durante o autoritarismo do Estado Novo. antecedida por um intenso debate acerca da dualidade
entre a escola pública e escola privada. De um lado,
Na área educacional a Nova Constituição determina-
vários intelectuais, representantes do escolanovismo,
va a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e
defendendo uma escola pública e gratuita como ga-
dá competência a União para legislar sobre direitos e
rantia de democratização da educação; E, do outro,
bases da educação nacional. Ainda em 1946 é regula-
representantes de setores conservadores, ligados a
mentado o ensino Primário e o Ensino Normal, e surge o
Igreja Católica, proprietária de escolas particulares
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC).
que, apoiados no discurso de “liberdade de escolha”
Em 1951 Getúlio retoma a presidência que perdura dos pais, pregavam a igualdade de condições para os
até 23 de agosto de 1954, ano de seu falecimento. estabelecimentos públicos e privados.
Em 1955, aconteceram novas eleições e Juscelino Como já vimos, o anteprojeto foi apresentado pelo
Kubitschek (J.K) é eleito (1956-1961). O seu governo ministro Clemente Mariani, em 1948, como uma con-
foi marcado pelo Slogan: “50 anos em 5”, ou seja, sequência da, então nova, Constituição de 1946, que
sugeria um desenvolvimento econômico no Brasil. Em trazia elementos democráticos, em oposição a de 1937.
seu governo é construída a cidade satélite de Brasília Este anteprojeto caracterizava-se pelo discurso sobre a
(12 de setembro de 1958) pensada pelo arquiteto Oscar obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, acerca
Niemeyer. E em 21 de abril de 1962 é inaugurada a da descentralização da educação, sobre a garantia da
Universidade de Brasília. escola pública e gratuita para outros níveis de ensino,
Na educação surge uma nova discussão, o antepro- entre outros.
jeto da Lei de Diretrizes e Bases. O ministro Clemente O deputado Carlos Lacerda, em 1959, apresenta um
Mariani apresenta o anteprojeto, em um trabalho ad- substitutivo que visava a favorecer os estabelecimentos
ministrado por Lourenço Filho. particulares, retirando, assim, a centralização da edu-
Darcy Ribeiro, aliado as idéias de Anísio Teixeira cação das mãos do Estado. Deste modo, as escolas
inaugura a concepção da Universidade de Brasília cul- privadas continuariam a funcionar, inclusive por meio
minando o projeto de renovação universitária. de financiamento do poder público.
Em 1961, Jânio Quadros foi eleito com uma grande Assinado por Fernando de Azevedo, com o apoio de
votação, governando apenas por quase sete meses. 189 pessoas, entre as quais educadores, intelectuais e
Com sua renúncia, seu Vice João Goulart (Jango) as- estudantes, também em 1959, é divulgado o Manifesto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 33


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dos Educadores, como uma reação aos setores conser-


?? SAIBA MAIS
vadores. O documento “[...] reafirmava os princípios da
?
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Escola Nova, mas tratando principalmente do aspecto


social da educação, dos deveres do Estado Democrático
A LDB n. 4.024, de 1961
e do direito à escola para todos”. (SANTOS; PRESTES;
Para aqueles (as) que desejarem conhecer de modo mais
DO VALE, 2006, p. 141) aprofundado a LDB de 1961, indicamos o link abaixo. Nele você a
O projeto somente vai ser transformado em lei no encontra na íntegra:
ano de 1961, pelo então presidente João Goulart. A
lei n. 4.024 mostra-se, porém, ultrapassada devido BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as
ao longo período decorrido entre a data da criação do Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://
anteprojeto e a data de sua aprovação. Após anos de www.histedbr.fae.unicamp.br/
debates e substitutivos que confrontavam os diversos navegando/fontes_escritas/6_Nacional_Desenvolvimento/ldb%20
interesses, muitas das ideias que soavam inovadoras lei%20no%204.024,%20de%2020%20de%20dezembro%20
de%201961.htm>. Acesso em: 12 jul. 2011
para a época, pareciam agora incapaz de dar conta da
realidade educacional brasileira.
MANIFESTO DOS EDUCADORES (1959)
Sobre as vantagens e desvantagens presentes nessa
O link abaixo traz o documento assinado por Fernando de
lei, Aranha nos diz: Azevedo e outras 189 pessoas em defesa da escola pública. É
uma excelente fonte para compreender o debate instaurado entre
escolas públicas e privadas na época.
De certa forma, não há alteração na estrutura do ensino, a
mesma da Reforma Capanema, mas com a vantagem de
MANIFESTO dos educadores: mais uma vez convocados
permitir a equivalência dos cursos. Portanto quebra a rigidez
(Janeiro de 1959). Revista HISTEDBR On-line, Campinas,
do sistema, ao tornar possível a mobilidade entre cursos.
n. especial, p.205–220, ago. 2006. Disponível em: <
Outro avanço está no secundário menos enciclopédico, http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/22/
com significativa redução do número de disciplinas. Tam- doc2_22e.pdf>. Acesso em: 12 jul 2011.
bém a padronização é atenuada, permitindo a pluralidade
de currículos em termos federais. (ARANHA, 1996, p. 204)
A Ditadura Militar e a educação (1964-
No entanto, no que diz respeito à participação dos 1985)
interesses privados na educação, a autora relata:
A educação brasileira com o golpe militar de 1964
Com a criação do Conselho Federal de Educação (CFE) e sofre várias mudanças que restringem os avanços no
dos Conselhos Estaduais de Educação (CEE), nos quais é processo educacional brasileiro.
permitida a representação das escolas particulares, tornam- De 1964 à 1985 o Brasil teve um dos períodos mais
se inevitáveis a pressão e o jogo de influências para obter marcantes na área educacional, a intervenção militar
recursos. Essa “cooperação financeira” porém, não deixa
trouxe a burocratização do ensino público, teorias e
de contribuir para manter a situação de injustiça numa so-
métodos pedagógicos restringiam a autonomia dos
ciedade em que 50% da população em idade escolar se en-
educadores e, consequentemente, dos educando.
contra fora da escola. (ARANHA, 1996, p. 205)
Com isso, qualquer manifestação que fosse contrá-
ria as idéias do governo eram reprimidas. A educação
que tinha como característica a crítica, a liberdade,
A “cooperação financeira” a qual Aranha se refere era caracterizada como um mal para a sociedade pela
no fragmento acima está relacionada com o art. 95 ditadura militar.
da LDB que definia a ajuda financeira destinada aos Os militares para provocar um profundo esvazia-
estabelecimentos de ensino, cujo financiamento seria mento na educação que propusesse a crítica em suas
destinado às escolas estaduais, municipais e particu- ações prenderam e demitiram professores, as univer-
lares, demonstrando a forte influência dos interesses sidades foram invadidas e estudantes oprimidos contra
conservadores e elitistas presentes na lei.

34 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

qualquer tipo de movimento tendo a União Nacional dos Religião. A obrigatoriedade do ensino que era de quatro
estudantes proibida de funcionar. passa para oito anos.

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


Atrelada a discussão do esvaziamento de intelectuais A principal característica dessa reforma é a inte-
brasileiros exilados em países estrangeiros, o Brasil gração do ensino profissionalizante ao ensino regular,
sofria de um grande mal o analfabetismo. A questão do deixando de existir a separação entre este ensino e o
analfabetismo continuava crescendo e na tentativa de propedêutico. No entanto, esses cursos estavam alta-
somar tal estatística criou-se o Movimento brasileiro de mente voltados para a formação do profissional para
alfabetização (MOBRAL), em meio a denuncias de cor- atuar no mercado de trabalho.
rupção foi extinto e substituído pela Fundação Escolar. Disciplinas ligadas a área das ciências humanas
No período da ditadura onde o poder estava apro- são retiradas do currículo ou integradas numa única
priado de toda máquina pública de forma autoritária. Os disciplinas, como Estudos Sociais, disciplina do 1°
militares, aliados a elite conservadora, tentam aniquilar grau, que abrigava os estudos da História e Geografia.
as manifestações culturais, que tinha como objetivo por É criado também o ensino supletivo que objetivava
em risco a estrutura ideológica do governo autoritário. “suprir a escolarização regular para os adolescentes
Uma das contribuições do governo militar pra edu- e adultos que não a tenham seguido ou concluído na
cação foi a perspectiva técnica, profissionalizante que idade própria”. (Art. 24, lei n. 5.692/71)
a educação deveria ter. Isso pode ser percebido na Lei
5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
em 1971, tem como principal objetivo oferecer a for- ?? SAIBA MAIS
mação educacional uma abordagem profissionalizante. ?
Em 1985 teve fim o governo militar dando início a
então chamada Nova República. Através da eleição indi- Leis n. 5.540/68 e n. 5.692/71
reta elegeu Tancredo Neves presidente, porém com sua É possível encontrar os textos completos das referidas leis
morte trágica e duvidosa, o vice, José Sarney, assume nos links abaixo, o primeiro referente a lei que reestrutura as
e torna-se o primeiro presidente civil desde 1964. universidades do país e o segundo as alterações realizadas pelo
governo de Médici no ensino fundamental e médio.

As reformas na LDB BRASIL. Lei n. 5.540, de 28 de novembro de 1968. Fixa normas de


organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação
com a escola média, e dá outras providências. Disponível em:
Durante o período militar foram realizadas duas <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109783/lei-5540-68>.
Acesso em: 22 jul. 2011.
reformas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A
primeira, lei n. 5.540, de 1968, diz respeito à reforma
universitária, enquanto a segunda lei, n. 5.692, de 1971, BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e
Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências.
está relacionada, como já vimos acima, a alterações Revogada pela Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
feitas nos ensinos de 1° e 2° grau, com foco numa Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
educação profissionalizante. Leis/L5692.htm>. Acesso em: 12 jul. 2011.
No que tange a reforma universitária, entre as várias
alterações, destaca-se a extinção da cátedra, o siste-
ma de matrícula por disciplina – evitando a formação A educação brasileira e a redemocratização
de grupos – a nomeação para reitores sem que estes
sejam necessariamente ligados ao corpo docente da
A participação de pensadores de outras áreas do
instituição, entre outros. É significativa a perda de
conhecimento questionou de forma mais abrangente os
autonomia das universidades neste período, visto que
conflitos educacionais, foram além da sala de aula, da
todas as contratações e seleções eram controladas
didática, da escola, permearam a relação direta entre
pelo governo. (ARANHA, 1996)
professor e estudante e a dinâmica escolar. Profissio-
No ensino fundamental e médio são incluídas nos nais que foram impossibilitados de atuarem em suas
currículos as disciplinas Educação Moral e Cívica, Pro- funções, por questões políticas durante o regime militar
grama de Saúde, Educação Artística, Educação Física e

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 35


EAD

e até mesmo profissionais distantes do conhecimento


pedagógico passaram a atuar na área educacional.
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

Em 1988 foi promulgada nova constituição e um


Projeto de Lei para uma nova LDB foi encaminhado à
câmara Federal, pelo deputado Octávio Elísio, em 1989
o deputado Jorge Hage enviou a câmara um substitutivo
ao Projeto de Octávio. E em 1992, o Senador Darcy
Ribeiro, apresenta um novo projeto, que finalmente foi
aprovado em 1996, oito anos após o encaminhamento
do 1º projeto proposto em 1988.
Após o fim do regime militar até os dias atuais po-
demos destacar o trabalho do economista e Ministro da
Educação, Renato de Souza, que extinguiu o Conselho
Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de
Educação, que estava vinculado ao Ministério de Edu-
cação e Cultura. A mudança diminuiu a burocracia do
conselho. Durante sua administração encontramos o
maior número de projetos na área educacional. Dentre
eles o Exame Nacional de Cursos e o seu “Provão”,
onde os alunos universitários ao final de seus cursos
realizam uma prova para terem direito ao seu diploma,
TAM projeto foi um dos mais contestados.
O Planejamento Educacional continua sendo traba-
lhado até os dias atuais, porém de maneira política a
educação continua sendo instrumentos de reprodução
do sistema vigente, perdendo o seu significado, o de
oferecer conhecimentos básicos para que os discentes
possam ressignificá-los em seu cotidiano.
Enfim podemos concluir que a História da Educação
Brasileira constitui uma trajetória feita de rupturas, onde
cada período possui suas próprias características.
Ao longo desse Bloco II percebe-se que apesar de
tantas tentativas parece necessário que permaneça
esse o caos no sistema educacional, pois da chegada
dos Jesuítas até os dias atuais os problemas de pe-
quena e de grande dimensão não são solucionadas. O
descaso com a prática docente parece ser interminável,
a maioria dos professores brasileiros continua com
péssimos salários e condições difíceis para exercerem
suas atividades.
A formação docente continua sendo questionada,
mas o próprio sistema que regula a educação não
oferece aos docentes condições de melhoria. Portan-
to, todos esses fatores comprometem a formação do
docente e, consequentemente, a do cidadão brasileiro.

36 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD
?? SAIBA MAIS
?

Quadro 1 - A formação de professores no Brasil – 1939 a 2006

1939 - O curso de Pedagogia é 1961 – Cria-se um currículo mínimo para


1962 – O estágio supervisionado e o 1968 – É aprovada a Lei da Reforma
regulamentado. Os bacharéis podem atuar o bacharelado em Pedagogia, com sete
currículo da licenciatura em Pedagogia são Universitária, que possibilita os cursos de

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


na administração pública e na área de disciplinas determinadas pelo Conselho
regulamentados. O curso passa a ter entre Pedagogia oferecer as habilitações Inspeção
pesquisa. Os licenciados, com um ano de Federal de Educação, além de outras duas
as disciplinas obrigatórias Psicologia da Educacional, Administração, Orientação e
estudos em Didática e Prática de ensino, abertas, definidas a critério das próprias
educação e Didática e Prática de Ensino. supervisão Escolar e Magistério.
podem lecionar no ginasial. instituições de ensino.

1971 – A Lei de Diretrizes e Bases da


1969 – Acaba a divisão entre licenciatura e 1982 – Surgem os Centros Específicos de 1986 – O Conselho Federal de Educação
Educação Nacional (LDB) unifica o
bacharelado na Pedagogia. As instituições Formação e Aperfeiçoamento do Magistério cria uma resolução que permite aos cursos
Ensino Médio, antes dividido em Clássico,
são obrigadas a formar no mesmo curso (Cefams), criados pelo governo federal para de Pedagogia, além de formar os técnicos
Científico e Normal. A Escola Normal passa
os professores que vão lecionar nas aprofundar a formação de professores em em Educação, oferecer habilitação para a
a se chamar Magistério e os que nela se
Escolas Normais e os “especialistas”, como nível médio com carga horária de período docência de 1ª à 4ª série, antes limitada ao
formam mantêm o direito de lecionar da 1ª
supervisores e inspetores. integral. Magistério em nível Médio.
à 4 série.

1996 – Com a nova LDB, institui-se 1997 – O ano marca o início de uma 2003 – O Conselho Nacional de Educação 2006 – Saem as Diretrizes Nacionais para a
a exigência de nível superior para os disputa: de um lado, Institutos Superiores emite resolução e nota de esclarecimento Pedagogia, de caráter vago. E as Diretrizes
professores da Educação Básica. Redes de Educação e Escolas Normais Superiores confirmando a obrigatoriedade do diploma Nacionais da Educação delegam ao curso
públicas e privadas e profissionais da e, do outro, Faculdades de Pedagogia. em nível superior para a docência na a formação de professores de 1° ao 5°
Educação têm prazo de dez anos para se Professores de 1ª à 4ª série são formados Educação Infantil e séries iniciais, o que já ano, Educação Infantil, Ensino Médio na
adaptar à nova legislação. sem diretrizes claras. fora instituído na LDB de 1996. Modalidade Normal e EJA.

.Fonte: GURGEL, 2008, p. 51-52.

37
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS
EAD

A LDB ições próprias.’ Se olharmos bem para o significado usual


do termo ‘ensino’, percebe-se que, no fundo, ficamos com

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

a ‘aula’ como protótipo da educação escolar, o que certa-


A Lei de n. 9.394 que determina as Diretrizes e Bases mente representa algo no mínimo medieval. Nenhuma teoria
moderna importante daria aval a esse tipo de percepção.
da Educação que vigora hoje no país, foi aprovada em
Tem-se, por trás, o esquema ‘ensino-aprendizagem’, na
20 de dezembro de 1996 após vários empecilhos à sua
clivagem arcaica que separa aquele que ensina daquele que
regulamentação ocorridos devido à tramitação de dois
aprende. (DEMO, 1997, p. 68)
projetos distintos no Congresso.
O primeiro projeto, como já vimos, foi enviado a
Câmara pelo deputado Jorge Hage, em 1989, e discu- Neste mesmo livro, Demo faz observações acerca
tido até sua aprovação em 1993. Em abril de 1995 foi da educação superior e do uso das tecnologias na edu-
apresentado outro projeto tendo como relator o senador cação, principalmente no que concerne a educação à
Darcy Ribeiro. distância, uma vez que a nova LDB dedica apenas um
artigo ao assunto.
De acordo com Ester Grossi (1998), na apresentação
que faz numa edição impressa da LDB, as principais
características que diferem os dois projetos são:
INDICAÇÃO DE LEITURA
• a diminuição das responsabilidades do Estado
com relação à educação;
• cerceamento da sociedade civil em participar das É importante ressaltar que se vão 14 anos após a sua aprovação
e que muitas reformas já foram feitas na LDB, como as leis n.
decisões sobre o ensino, num nítido retrocesso 10.639/03 e n. 11. 645/08, a primeira incluindo a História e cultura
do processo de aperfeiçoamento democrático africana e afrobrasileira, nos currículos escolares, e a segunda
das políticas brasileiras. (GROSSI, 1998, p. 7) incluindo, além dos conteúdos e temas citados, a História e Cultura
indígena, representando uma grande avanço uma vez que atende
a uma forte demanda da sociedade civil, mais especificamente de
Do debate, seguido da elaboração do projeto movimentos populares. O livro apresenta reflexões sobre a então
aprovado em 1993, participaram ativamente setores recente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
da sociedade civil tais como, entidades sindicais e
estudantis, universidades, organizações ligadas à DEMO, Pedro. A nova LDB: ranços e avanços. Campinas: Papirus,
1997.
educação como associações de pais, assim como
setores privados. No entanto, com o apoio do ministro
da educação é aprovada em 1996, a Lei Darcy Ribeiro.
?? SAIBA MAIS
A nova LDB é sancionada sem passar por amplo
debate com setores organizados da sociedade civil.
?
Contando com 92 artigos, a lei é tida por muitos estu-
diosos da educação, por causa do seu caráter flexível, A Lei de Diretrizes e Bases as Educação Nacional pode ser
como muito vaga e autoritária. encontrada no link abaixo. A sua leitura e compreensão é essencial
Pedro Demo, no livro A Nova LDB: Ranços e Avan- para a formação do educador.
ços (1997), nos apresenta uma análise sobre alguns http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm.
pontos que podem ser considerados positivos nesta
flexibilidade disposta na lei, no entanto, aponta para O site “Pedagogia em foco” disponibiliza várias leis e resoluções,
antigos problemas que perpassam a estruturação do pareceres, entre outros, ligados à educação no país. Pode ser
acessado no seguinte endereço: http://www.pedagogiaemfoco.
sistema de ensino. Uma das críticas feita por este autor pro.br/lindice.htm.
se refere à noção de ensino.

Embora se trate de uma lei de educação, diz-se no Art. 1°,


§ 1°: ‘Esta lei disciplina a educação escolar, que se desen-
volve, predominantemente, por meio de ensino, em institu-

38 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

O manifesto considerado como um dos pioneiros


SUGESTÃO DE ATIVIDADE reivindicava uma educação gratuita, obrigatória e pú-

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


blica. O manifesto discute a relação da educação com
a demanda do desenvolvimento social.
Os autores que se destacam no movimento da escola
A partir da leitura dos textos relacionados ao his-
nova no Brasil são: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Ro-
tórico da LDB e nas pesquisas feita por você sobre o
que Spencer Maciel de Barros e Fernando de Azevedo.
assunto, elabore uma síntese das principais diferenças
entre as leis n. 4.024/61 (primeira LDB) e n. 9.394/96. Os escolanovistas inserem no pensamento pe-
Aponte quais modificações considera um avanço e faça dagógico brasileiro a ideia liberal democrática. Os
uma crítica a lei em vigor. educadores da escola nova defendem a escola gratuita
para todos. O objetivo é alcançar uma sociedade sem
divisões, igualitária. O privilégio não teria sentido neste
contexto.
Anísio Teixeira é um dos educadores destacados
CAPÍTULO 3 deste movimento. Ele foi estudar nos Estados Unidos
e voltou influenciado pelo pensamento pragmatistas de
A HISTÓRIA DO PENSAMENTO PEDA- John Dewey. E Teixeira é o responsável pela presença
GÓGICO BRASILEIRO DA DÉCADE DE do pragmatismo no pensamento brasileiro.
30 ATÉ OS DIAS ATUAIS Teixeira acreditava que a experiência americana de
uma universidade-empresa tinha que ser implantada no
Brasil. Segundo Anísio Teixeira (2010, p. 115):
3.1 EDUCAÇÃO LIBERAL: O
ESCALONOVISMO Só um estudo de como alguns reitores das universidades
americanas – quatro ou cinco dos mais significativos e cria-
dores – modificaram suas instituições nos permitiria sentir
O movimento denominado Escola Nova é um dos como a sociedade, em processo de industrialização, vê na
marcos para a autonomia do pensamento pedagógico universidade uma empresa como outra qualquer; e, assim
brasileiro. como a General Motors se transformou numa grande em-
O pensamento que predominava na educação presa, a universidade americana se transformou em uma
brasileira era o escolástico. A teoria religiosa medieval empresa formidável de produção de conhecimento. O fenô-
determinava o pensamento pedagógico brasileiro. meno não poderia ocorrer se a universidade tivesse a forma
antiga tradicional. Os objetivos sociais encarnaram-se com-
Após o pensamento iluminista ser inserido no Bra- pletamente dentro da universidade.
sil a teoria da educação ganhou contribuições com o A relação entre a instituição e a sociedade é imediata e dire-
liberalismo, positivismo, mas não avançou o bastante. ta, sendo a universidade uma agência para certo empreen-
Em 1924, por meio das ideias liberais foi criada no dimento social de cultura, de treinamento profissional e de
Brasil a Associação Brasileira de Educação (ABE). O pesquisa. O caso Harvard é extremamente esclarecedor,
objetivo dessa associação era reconstruir a sociedade como se tornam, depois, os casos dos Land Grant Colleges.
brasileira através da educação.
O momento da escola nova é conhecido como “oti- O pensamento da escola tem a preocupação de con-
mismo pedagógico”. Isto porque, os educadores tinham templar o nascimento da burguesia capitalista urbana
a esperança em democratizar a sociedade brasileira que vinha crescendo no Brasil, na década de 30.
através da educação. Este período é marcado pelo governo Vargas. Mais
Em 1932 é assinado por mais ou menos 27 educa- tarde em 1937, o Estado brasileiro conhece sua dita-
dores O manifesto dos pioneiros da educação nova. dura, chamada de Estado Novo. É o período em que as
Este movimento é considerado pelos historiadores da teorias de uma educação dita liberal entram em conflito
educação brasileira como um grande ato político da com o regime do Estado.
ABE por um Plano Nacional de Educação.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 39


EAD

? VOCÊ SABIA? ?
?? SAIBA MAIS
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Anísio Teixeira Fernando de Azevedo


Nasceu em Caetité, Bahia (em 1900) e faleceu no Rio de Janeiro Fernando de Azevedo nasceu em São Gonçalo do Sapucaí, no
(em 1971). Foi um escritor, educador e um grande pensador estado de Minas Gerais e veio a falecer em São Paulo. Ele foi
da educação no Brasil. A sua morte até hoje não foi muito bem diretor da Faculdade de Filosofia, professor da Universidade de São
explicada. Seu corpo foi encontrado dentro do poço, do elevador, Paulo (USP). Participou da reforma do ensino no Rio de Janeiro
do apartamento de Sérgio Buarque de Holanda. Onde estava indo e foi especialista da (UNESCO), com o objetivo de desenvolver a
há um almoço na casa deste. Teixeira não chegou ao almoço. educação na América Latina. Além disso, foi um sociólogo e um
nome importante no movimento da escola nova. Azevedo sofreu
Além de Anísio Teixeira, tem outro escolanovista importante, forte influência de Émile Durkhein.
Lourenço Filho. Ele é conhecido além de suas produções
intelectuais pelos cargos exercidos no governo. Filho em 1927 foi
um dos fundadores do Liceu Nacional Rio Branco. No liceu pode
dirigir a escola experimental.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Em 1931 foi diretor de gabinete de Francisco Campos, em 1938
começou a dirigir o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
(INEP), este é caracterizado com um meio de preservar os No livro Educação não é privilégio, Anísio Teixeira aborda o
registros históricos da educação. problema da educação brasileira. O texto é dividido em três
Segundo Moacir Gadotti (1999, p. 232) acerca do INEP: partes: a primeira ele escreve acerca da educação não ser um
privilégio, “Educação não é privilégio (1953)”. Na segunda parte
Teixeira discute a importância da “escola pública ser universal e
Outro grande acontecimento da década de 30 para gratuita (1956)” e, por fim, “A Educação e a formação nacional do
a teoria educacional foi a fundação, em 1938, do povo brasileiro”.
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), Teixeira apresenta a filosofia da educação, da escola que hoje é
realizando um antigo sonho de Benjamin Constant o modelo de seu pensamento, escola Parque. Segundo Anísio
que havia criado em 1890 o Pedagogium. Em 1944 Teixeira (1967, p. 130):
o INEP inicia a publicação da Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos, que se constitui, desde A filosofia da escola visa a oferecer à criança um retrato da vida
então, num precioso testemunho da história em sociedade, com as suas atividades diversificadas e o seu
da educação no Brasil, fonte de informação e ritmo de ‘preparação’ e ‘execução’, dando-lhe as experiências de
formação para os educadores brasileiros até hoje. estudo e de ação responsáveis. Se na escola-classe predomina
o sentido preparatório da escola, na escola-parque, nome que
Em 1941 presidiu a comissão nacional do ensino primário, se conferiu ao conjunto de edifícios de atividades de trabalho,
articulou também a I conferência nacional de educação. sociais, de educação física e de arte, predomina o sentido
Em 1948 Filho foi o presidente da comissão que estava designada de atividade completa, com as suas fases de preparo e de
para elaborar o anteprojeto de Lei de Diretrizes e Bases da consumação, devendo o aluno exercer em sua totalidade o senso
Educação Nacional. de responsabilidade e ação prática, seja no trabalho, que não é
um exercício, mas a fatura de algo completo e de valor utilitário,
seja nos jogos e na recreação, sena nas atividades sociais, seja
no teatro ou nas salas de música e dança, seja na biblioteca, que

? VOCÊ SABIA?
não é só de estudo as de leitura e de fruição dos bens do espírito.

TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. São Paulo:


Nacional,1967.
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP
De acordo com Sganderla e Carvalho (2008)
O INEP possuía uma seção de orientação e seleção de profissionais 3.2 EDUCAÇÃO PROGRESSISTA
que se destinava à seleção do pessoal para cargos públicos em
todo o país, bem como uma seção de psicologia aplicada para
se efetuarem pesquisas de âmbito pedagógico. A ação do INEP Embora tenhamos tratado da escola progressista
estendeu-se por meio de estágios e cursos de aperfeiçoamento anteriormente, citando algumas de suas principais ca-
para professores de Psicologia e coordenadores de serviços
educacionais. Estabeleceram-se com isso serviços de Psicologia
racterísticas, voltamos ao tema aqui para uma melhor
Aplicada e medidas educacionais em diferentes estados e países elucidação e análise do desenvolvimento da educação
da América Latina. no nosso país. Esta retomada se justifica uma vez que

40 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD

tal discussão ocupou de forma expressiva o cenário as alternativas críticas elaboradas por Nicanor Palhares
pedagógico brasileiro, principalmente a partir da década Sá. (GADOTTI, 1991, p. 13-14) No entanto, importa que

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


de 1970. de certo modo, tais teorias buscam elaborar um quadro
Partindo da concepção de que a educação é um meio que dê conta, enquanto análise, de um processo histó-
de transformação social, viabilizada pela análise dos rico da pedagogia no Brasil, ao mesmo tempo em que
processos econômico-político-culturais da sociedade, se busca uma alternativa a educação oficial no país.
a pedagogia progressista visa propor uma superação A abordagem feita neste material se baseia na
das concepções educacionais que buscavam apenas concepção de José Carlos Libâneo, cuja classificação
reproduzir nas escolas o modelo de sociedade vigente, é dividida em duas tendências – liberal e progressista –
as chamadas pedagogias liberais – tratadas ainda neste incluindo outras que se aproximam, na medida em que
capítulo, não cabendo, portanto, uma explicação dos partem dos mesmos pressupostos, e se diferenciam
seus pressupostos neste momento. Contrariamente, na concepção de seus métodos de aprendizagem. É de
a educação progressista é vista aqui como um, entre essencial importância ressaltar que estas classificações
tantos outros, meios de realização de projetos trans- não encerram as análises possíveis sobre o assunto,
formadores para a sociedade, se estabelecendo como apenas servem de indicação para um aprofundamento
uma crítica ao sistema de produção capitalista. e direcionamento de pesquisas do discente.
Neste sentido, para alguns representantes desta
vertente pedagógica, a escola pode ser um espaço de
democratização do ensino, a partir da crítica de conte- INDICAÇÃO DE LEITURA
údos que se aliam a existência concreta dos educandos
e suas práticas sociais. Os capítulos 2 e 3 do livro Filosofia da educação, de Luckesi,
A pedagogia progressista se divide em tendências, a oferecem uma boa indicação das concepções e tendências
saber, a libertadora, cujo principal autor é Paulo Freire; de pensamento pedagógico discutidos aqui, tomando como
referência a classificação feita por José Carlos Libâneo.
a libertária; e a pedagogia dialética, também chamada
de crítico-social dos conteúdos. LUCKESI, Cipriano. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez,
Veremos a seguir algumas características princi- 1994.
pais dessas vertentes, assim como seus principais
representantes e seu desenvolvimento nas práticas
O livro parte de uma análise de duas maneiras de conceber a
pedagógicas brasileira. educação – enquanto teorias não-críticas que visam à adaptação
Lembrando que esta é uma das tantas abordagens do indivíduo a sociedade, sendo esta a restauradora da ordem
que podem ser feitas da história do pensamento peda- social; as teorias críticas-reprodutivistas, que viam na escola um
dos aparelhos ideológicos do Estado para manutenção do modelo
gógico brasileiro. De acordo com Gadotti (1991, p. 8,
de sociedade vigente; e, por fim, estabelece a Teoria Crítica da
grifo nosso), Educação.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educacão,


É ainda muito prematuro estabelecer, com precisão, as prin- curvatura da vara, onze teses sobre educacao e política. São
cipais correntes e tendências de toda essa produção cientí- Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989.
fica, sobre tudo no interior do chamado ‘pensamento pro-
gressista’ [...]. Mesmo assim, já foram elaboradas algumas
sínteses, que de certa forma prefere trabalhar o pensamento
pedagógico do passado, embora ele ainda esteja presente REGISTRE SUA IDEIA
na teoria e na prática da educação. Faça uma pesquisa sobre outras abordagens teóricas da educação
que tomam como base o antagonismo entre educação não-crítica
e teorias críticas. Logo em seguida, elabore questionamentos
Deste modo, podemos destacar as sínteses elabo- acerca do tema pesquisado e, em grupo, discuta com seus
radas por diversos autores que buscaram delinear as colegas os pontos mais relevantes dessas teorias e como eles
práticas pedagógicas no Brasil, tais como a concepção podem nos orientar na nossa prática.
de “perspectivas analíticas opostas, sendo divididas em
pedagogia do consenso e pedagogia do conflito”, de
Beno Sander; ou ainda as concepções reprodutivistas e

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 41


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Educação popular
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

Na década de 1960 nosso país será tomado por


O documentário Cabra marcado pra morrer é sobre a história de
uma intensa discussão que se desdobrará na criação João Pedro Teixeira, líder camponês da Liga do Sapé, na Paraíba,
de diversos movimentos voltados para a questão que foi assassinado em 1962. O filme foi interrompido pelo golpe
da educação popular. Como já vimos, o período que militar de 64 e retomado vinte anos depois.
antecede o golpe militar no Brasil é marcado por forte
movimentação política e social de diversos seguimentos CABRA MARCADO PRA MORRER. Direção: Eduardo Coutinho.
Intérpretes: Elisabeth Teixeira e família, João Virgínio da Silva e os
da sociedade. habitantes de Galiléia (Pernambuco). Narração de Ferreira Gullar,
Vários grupos ligados a União Nacional dos Estu- Tite Lemos e Eduardo Coutinho. [S.l]: Globo Vídeo, 1984. (120
dantes (UNE), a igreja e outros setores da sociedade min.), son., color.
civil se organizam para debater o papel da educação e
O filme Cinco vezes favela apresenta cinco histórias distintas
promover ações voltadas à conscientização das classes e, assim como “Cabra marcado pra morrer”, foi produzido
populares. pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Retrata amplamente a
Centros de cultura popular foram criados em di- concepção de papel conscientizador da arte e de “formador” da
ferentes regiões do país. Merece destaque o Centro cultura popular.
.
Popular de Cultura (CPC), criado pela UNE com o CINCO VEZES FAVELA. Direção: Marcos Farias, Miguel Borges,
objetivo de construir junto as camadas populares uma Joaquim Pedro Andrade, Leon Hirzman e Cacá Diegues. Produção:
nova cultura nacional que fosse capaz de “devolver” ao Leon Hirszman, Marcos Farias e Paulo Cezar Saraceni. [S.l.]:
povo a “consciência de si mesmo” e, os Movimentos Centro Popular de Cultura da UNE, 1962. (96 min.), son., color.
de Cultura Popular (MCP) ligados ao governo de Miguel
Arraes, em Pernambuco, que buscavam desenvolver
centros de alfabetização de adultos em bairros pobres, A educação, neste sentido, é entendida como um
tendo destaque a atuação de Paulo Freire. (HOLLAN- instrumento de libertação. Vários educadores contri-
DA; GONÇALVES, 1989, p. 10) Ambos os movimentos buíram de maneira significativa para uma elaboração
buscavam, através da atuação didaticopedagógica a do que seja a educação popular, que não se confunde
conscientização das camadas excluídas socialmente. com a concepção de escola pública e gratuita. Destaca-
Somente partindo da problematização da sua realidade -se a importância de Carlos Rodrigues Brandão para
de oprimido, esses indivíduos poderão agir no meio a discussão.
social para a transformação do mesmo. Para Brandão, a educação é o “processo de huma-
nização que se dá ao longo da vida” (GADOTTI, 1991,
p. 39) e em espaços que não são determinados. Desta
maneira, o lugar do saber está vinculado às esferas que
fazem parte da vida do indivíduo, podendo se concre-
INDICAÇÃO DE LEITURA tizar na escola, mas também no trabalho, na rua e nos
demais ambientes de atuação do mesmo.
A educação popular estaria comprometida com os
Pertencente a Coleção “Tudo é História”, da editora Brasiliense, interesses daqueles que são excluídos socialmente,
o livro delineia os movimentos culturais e político-sociais que uma vez que concebe a mesma como modo de trans-
antecedem o período da implantação da ditadura militar no Brasil
e sua atuação durante o regime.
formação social através da oposição ao sistema.
HOLLANDA, Heloisa B.; GONÇALVES, Marcos A. Cultura e A escola, enquanto instituição de reprodução do
participação nos anos 60. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. saber científico, retira o poder de legitimidade dos
(Coleção Tudo é História) saberes produzidos em comunidade. A educação é
pautada, então, na aquisição dos saberes instituídos
pelas classes dominantes e tida como formal. É neste
processo que surge a educação popular como meio
de conscientização do oprimido e de produção de um

42 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


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saber popular que parte dos anseios daqueles que estão


envolvidos no processo de aprender. SUGESTÃO DE ATIVIDADE

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


Gadotti nos oferece um exemplo de experiência
desta prática, no seu livro Pensamento pedagógico
Brasileiro, ao se remeter à maneira pela qual Brandão
Pesquise o que são Comunidades Eclesiais de Base
considera as CEBs (Comunidade Eclesiais de Base)
e qual a sua importância no cenário político-educacional
como importantes organizações na luta pela libertação
brasileiro. Em seguida, promovam uma discussão acer-
oprimidos e de instituição do saber dos mesmos.
ca do papel da Igreja na educação popular.
Brandão apresenta três concepções, a saber, a
“educação de classe”, a “popular” e a “do sistema
dominante”. Estas são descritas por Gadotti (1991, p.
44) do seguinte modo:
INDICAÇÃO DE LEITURA
A educação da classe é entendida como processos não-
formais de reprodução dos diferentes modos de saber das BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo:
classes populares. Brasiliense, 2007.
A educação popular é um processo sistemático de ‘par- DEMO, Pedro. Pesquisa participante: mito e realidade. Brasília: UNB/
ticipação na formação, fortalecimento e instrumentalização INEP, 1982.
das práticas e dos movimentos populares’, com o objetivo
de apoiar ‘a passagem do saber popular ao saber orgânico,
ou seja, do saber da comunidade ao saber de classe na co-
munidade’. Paulo Freire e a pedagogia libertadora
[...] Por outro lado, ‘educação do sistema dominante’ con-
siste em ‘programas de instrumentalização e capacitação de
pessoas e grupos populares, sob controle externo’, visando Atrelada a uma perspectiva de educação para trans-
‘produzir a passagem dos modos populares de saber tradi- formação, a pedagogia elaborada por Paulo Freire visa,
cional para modelos de saber modernizado, segundo os por meio da conscientização dos educandos, a libertar
valores dos pólos dominantes da sociedade.’ as classes oprimidas do poder dominante. Logo, neste
sentido, a educação deve exercer o seu papel político,
vista aqui como um bem cultural negado pela opressão
das massas.
Sendo assim, a educação popular se caracteriza
como um pressuposto para a educação de classe, A pedagogia do oprimido proposta por Freire busca
elaborando assim um novo saber popular. Enquanto propiciar a libertação por meio do próprio oprimido, na
a última, a educação do sistema, corrobora para a medida em que se busca problematizar a sua realidade
manutenção do sistema instituído. através do desvelamento das relações de dominação da
natureza pelo homem e, consequentemente, do homem
De acordo com Gadotti, embora muitos defensores
pelo homem. Portanto, o processo de educação se
da educação popular desconsiderem que ela possa ser
dá ao passo que educadores e educandos buscam na
realizada no âmbito da escola, surgem alguns autores
práxis, dentro de uma relação horizontal, a superação
que irão buscar uma relação entre a escola pública e
da contradição opressor-oprimido.
as práticas não-formais. Entre esses podemos citar
Miguel Darcy de Oliveira e Rosiska Darcy de Oliveira. Sua concepção de educação é dividida em duas, a
educação bancária, onde se instaura há uma relação
de verticalidade entre educador e educando, sendo o
professor o “dono do saber”, aquele que possui o co-
nhecimento que o educando necessita para aprender,
constituindo-se assim em autoridade; e a educação
problematizadora que busca a dialogicidade.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 43


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De acordo com Freire (1987), a educação bancária há é um levantamento do universo vocabular do grupo
parte do pressuposto de um mundo estático, acabado, e, através deste, são escolhidas palavras geradoras.
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

tornando assim, a concepção de ser humano como um Numa certa comunidade pode ser escolhida deter-
ser encerrado em suas experiências existenciais. Neste minadas palavras que numa outra não apresentem
tipo de educação o que se busca é incutir ao máximo significado. As palavras escolhidas por um grupo de
conteúdos que, quase em sua totalidade, estão des- trabalhadores do campo podem envolver no universo
conecto da realidade cotidiana dos educandos. Neste vocabular palavras como, enxada, terra, plantar, por
sentido, para Freire (1987, p. 58), exemplo, enquanto numa comunidade urbana estariam
presentes outras palavras.
Em lugar de comunicar-se, o educador faz ‘comunicados’ e
Portanto, a pedagogia libertadora de Paulo Freire
depósitos que os educandos, meras incidências, recebem busca conscientizar-nos de nossa condição e de nosso
pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção papel de sujeitos históricos na construção de uma nova
‘bancária’ da educação, em que a única margem de ação cultura, uma vez que conhecer é interferir na realidade.
que se oferece aos educandos é a de receberem os depósi-
tos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecio-
nadores ou fichadores das coisas que arquivam. No fundo,
INDICAÇÃO DE LEITURA
porém, os grandes arquivados são os homens, nesta (na
melhor das hipóteses) equivocada concepção ‘bancária’ da Paulo Freire tem uma vasta obra sobre educação. Recomendamos
educação. alguns títulos que o ajudarão a aprofundar os conceitos trabalhados
neste módulo.

Contrapondo a essa visão, é proposta a educação FREIRE, Paulo; GUIMARÃES, Sérgio. A África ensinando a gente:
problematizadora, que parte do ser humano enquanto Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. São Paulo: Paz e
constituído de uma busca constante pela sua humaniza- Terra, 2003.
ção e a realidade como dinâmica. Portanto, o educador FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz
aqui é entendido, nas palavras de Freire (1987, p. 62), e Terra, 1987.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 12. ed. São Paulo: Paz


Um educador humanista, revolucionário, não há de esperar e Terra, 1996.
esta possibilidade. Sua ação, identificando-se, desde logo,
com a dos educandos, deve orientar-se no sentido da hu- FREIRE, Paulo. Conscientização. Teoria e prática da libertação:
manização de ambos. Do pensar autêntico e não no sentido uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. Tradução de Kátia
de doação, da entrega do saber. Sua ação deve estar infun- de Mello e Silva. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979.
dida da profunda crença nos homens. Crença no seu poder

?
criador. Isto tudo exige dele que seja um companheiro dos
educandos, em suas relações com estes.
VOCÊ SABIA?
Deste modo, é por meio do diálogo que se estabelece
a educação problematizadora, sendo necessário que o Paulo Freire nasceu em Recife em 1921, e suas primeiras
educador se coloque ao lado do educando. experiências educacionais são efetuadas em 1962 em Angicos,
Sua pedagogia é voltada para a alfabetização de No Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores do campo se
alfabetizaram em 45 dias. O impacto desse resultado é tão grande
adultos, a partir de uma perspectiva de educação que Miguel Arraes, então governador de Pernambuco, autoriza
popular, motivo pelo qual é muito mais presente em um trabalho semelhante nas favelas de Recife e, em seguida, em
processos educacionais não-formais. No entanto, todo estado. Também o governo federal se interessa pelo projeto e
muitos professores tem buscado incorporar a suas pretendia organizar 20 mil “círculos de cultura”, procedimento de
práticas em sala de aula, escolas públicas a elementos seu método de alfabetização, a fim de atingir cerca de 2 milhões
de adultos por ano.
dessa pedagogia.
No que diz respeito ao método, não há uma técnica ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São Paulo:
aplicável indistintamente, ao contrário, parte-se sempre Moderna, 1996. p. 206.
da realidade concreta do educando. Deste modo, o que

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Educação libertária Pedagogia Dialética

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


A educação libertária também se fez presente no Também conhecida como pedagogia histórico-
Brasil. Os socialistas combatem que o Estado deve ser -crítica ou pedagogia dos conteúdos. Teve como seus
mais presente, para assim a educação ser um direito principais representantes José Carlos Libâneo, Derme-
para todos. Entretanto, os anarquistas defendiam a val Saviani, Guiomar Namo de Mello e Carlos Roberto
tese de que se não ocorresse uma mudança radical na Jamil Cury. Baseados nas concepções de Georges
mente das pessoas (isso desencadeado pela educação), Snyders, Mário Alighiero Manacorda, Makarenko, Bgdan
a transformação na estrutura da sociedade jamais Suchodolski, Bernad Charlot e Gramsci.
aconteceria.
Tal teoria baseia-se do entendimento de que a escola,
Enquanto o movimento da escola nova acredita enquanto participante do tecido social, se caracteriza
que a educação seria o meio para alcançar a mudança como um elemento transformador da sociedade. Neste
na sociedade, os anarquistas defendem a ideia que sentido, os processos de aprendizagem estão centra-
somente isso não basta. dos na apropriação pelo aluno do saber socialmente
O pensamento pedagógico libertário tem em Maria construído em confronto com a sua realidade social,
Lacerda de Moura a principal educadora que difundiu ou seja, parte-se do saber fragmentado, desarticulado
a educação libertária no Brasil. e incoerente para, através da reflexão e da crítica aos
Moura nasceu em Minas Gerais em 16 de maio de conteúdos escolares, sínteses articuladas que ultra-
1887. Ela formou-se na Escola Normal em 1904, em passam o senso comum. Sendo assim, não haveria
Barbacena. Nesta mesma região inicia um trabalho de mais distinções entre cultura erudita e cultura popular.
comunitário junto as mulheres, o objetivo era construir Saviani estabelece duas vertentes de teorias da
casas populares. educação, as quais chamam de “teorias não-críticas”
A aliança teórica dela é com a pedagogia libertária e “teorias crítico-reprodutivistas”. A primeira é identi-
de Francisco Ferrer Guardial. ficada na “pedagogia tradicional”, na “pedagogia nova”
O principal problema combatido por Moura foi o anal- e na “pedagogia tecnicistas”. São classificadas por ele
fabetismo. Ela participou da fundação da liga contra o como não-críticas uma vez que procuram adaptar os
analfabetismo no Brasil. E tem seus trabalhos marcados valores vigentes ao indivíduo, ou seja, não enxergando
principalmente dentro desta temática. Segundo Moacir seu vínculo político com a ideologia dominante, acre-
Gadotti (1999, p. 232): ditam na escola como instituição restauradora dos
papéis sociais.
Nas “teorias crítico-reprodutivistas” encontram-se
Em Lições de Pedagogia I (1952), Maria Lacerda de Moura
teorias que viam a escola como lócus de reprodução
propôs uma educação que incluísse educação física, edu-
da ideologia dominante.4 No entanto, são pessimistas
cação dos sentidos e o estudo do crescimento físico. Am-
em relação ao poder transformador da educação, não
parando-se em Binet, Claparède e Montessori, afirmava que,
além das noções de cálculo, leitura, língua pátria e história,
percebendo a escola como um espaço de ação.
seria preciso estimular associações e despertar a vida inte- De acordo com Saviani, deve-se partir do senso
rior da criança para que houvesse uma autoeducação. Dizia comum até atingir uma consciência filosófica. Esta se
ela que era preciso declarar guerra ao analfabetismo, mas desenvolve no momento em que, diante de situações-
também à ignorância presumida, ao orgulho tolo, à vaidade -problemas, o aluno busca solucioná-los por meio da
vulgar, à pretensão, à ambição, ao egoísmo, à intolerância, reflexão. Neste sentido, há uma superação daquilo que
ao sectarismo absorvente, aos preconceitos, em suma: foi proposto tendo como base a sua realidade concreta.
guerra à mediocridade, à vulgaridade e à prepotência as-
Então, o filosofar se configura como parte indis-
segurada pela autoridade do diploma e do bacharelado in-
sociável do processo de domínio dos conhecimentos
competente.
escolares, uma vez que para tanto se deve passar pela

4 Destacam-se as teorias de Pierre Bourdieu, Louis


Althusser, Claude Baudelot e Roger Establet.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 45


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reflexão e crítica ao conteúdo. Ao se referir a essa


?? SAIBA MAIS
concepção, Gadotti (1991, p. 94) escreve:
?
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

A filosofia, no entanto, não é qualquer reflexão; é apenas Estudioso da LDB de 61, Dermeval Saviani publicou, em 1973,
aquela reflexão que é ‘radical, rigorosa e de conjunto’. Educação brasileira; estrutura e sistema. Neste trabalho conclui
Para que ela possa ser considerada filosófica, torna-se pela inexistência de um sistema educacional brasileiro, uma vez
necessário cumprir três requisitos básicos: a radicalidade que nossas leis não resultam de intencionalidade e planejamento,
(deve-se proceder a uma reflexão em profundidade, indo às
deixando prevalecer a importação e improvisação de teorias. Por
raízes da questão); o rigor (a reflexão deve ser guiada por
isso não podemos falar propriamente em sistema, mas apenas
métodos determinados); a globalidade (a reflexão deve con-
em estrutura, com as incoerências internas e externas que tornam
siderar o conjunto do contexto no qual ela se insere).
as nossas leis inadequadas à realidade brasileira e, portanto,
inoperantes, incapazes de propiciar as transformações de que
Neste sentido, busca-se a superação do senso tanto necessitamos. (ARANHA, 1996, p. 219)
comum pela filosofia, favorecendo sempre como ponto
de partida os interesses dos alunos. Esta superação
ocorreria da seguinte forma: REGISTRE DUA IDEIA
1. ação (fundada na “filosofia de vida”5) suscita
2. problema (exige reflexão: a filosofia), que leva à Estabeleça, com base no texto e em pesquisas com-
3. ideologia (consequência da reflexão), que acar- plementares, um quadro comparativo dos pensamentos
reta que fomentaram a discussão pedagógica no país no
4. ação (fundada na ideologia), que suscita
período de 1930 até os dias atuais. Levante pontos
5. novos problemas (exige reflexão: filosofia), que
que considere importantes e indissociáveis da prática
levam à
de ensino. Por fim, deverá ser apresentado um artigo
6. reformulação da ideologia (organização da
construído por você contendo os aspectos históricos
ação), que acarreta
7. reformulação da ação (fundada na ideologia re-
dessas vertentes e o seu posicionamento em relação
formulada). (GADOTTI, 1991, p. 95) a elas. Poderão ser produzidos textos que enfoquem
uma determinada corrente ou mais de uma, ficando a
delimitação do tema ao seu critério. Os artigos devem
O professor, portanto, é sempre um mediador entre ser socializados e discutidos pela turma, com a fina-
os conteúdos e a realidade social, focando no interesse lidade que estes se transformem em mais uma fonte
do aluno, que por sua vez, ao fazer esse enfretamento, de estudos.
age de modo crítico transformando o seu meio social.

INDICAÇÃO DE LEITURA 3.3 A POPULAÇÃO AFRO-BRASILEIRA E A


EDUCAÇÃO NO BRASIL

SAVIANI, Dermeval. Educação brasileira; estrutura e


sistema. São Paulo: Saraiva, 1975. A população afro-brasileira e a educação no Brasil
dialogaram sempre em conflitos. Pois o racismo instau-
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência rado em território brasileiro sobre os negros6 alijaram
filosófica. Campinas, SP: Autores Associados, 1996. estes do acesso a educação no Brasil por meio de leis
SAVIANI, Dermeval. História das idéias pedagógicas no
e decretos que impossibilitavam os negros de terem
Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007. acesso aos espaços educacionais ditos formais. E
além desse fato a historiografia da educação no Brasil
5 “Filosofia de vida” aqui corresponde ao que chamamos
de senso comum. De acordo com Saviani é o “princípio 6 A utilização do termo negro é uma categoria que
orientador da vida das pessoas”. contemplam pardos e pretos.

46 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


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não reconheceu os saberes das populações negras negros construíram meios de combater essa desigual
inseridas no ensino-aprendizagem. relação ao ponto de no início do século XX surgir a

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


Os africanos escravizados que vieram para o Brasil imprensa negra.
a partir de meados do século XVI foram proibidos le- A imprensa negra tinha como objetivo primeiro es-
galmente de freqüentar os espaços de educação, estes timular a cidadania dos afro-brasileiros. O papel desta
construídos a partir do século XIX, com a chegada da ferramenta (imprensa), que surge dentro das associa-
família real. ções sociais, era de denunciar o racismo presente na
No século XIX houve alguns decretos que proibiam sociedade brasileira, a denúncia sobre a ausência dos
os africanos escravizados de freqüentarem o ensino negros no mercado de trabalho, da educação pública,
público. isto é, sobre o fato da população negra está ausente
Em 1854, no segundo império, foi assinado o decre- da sociedade civil como cidadão.
to n. 1331. O decreto determinava no Art. 69 que não A imprensa negra, segundo, Elisa Larkin Nascimento
seriam admitidos as matrículas primeiro de meninos (2008, p. 97):
que padeceram de moléstias contagiosas, os que não
tiveram sido vacinados e por fim os escravos.7 Em geral, a ação e o discurso dessas organizações e de sua
Através dessas proibições se percebe qual era a imprensa almejavam para a coletividade dos ex-escraviza-
parte da população que não poderia frequentar a escola, dos uma participação efetiva na sociedade da qual era
os afro-brasileiros. excluída. Para isso, a educação destacava-se com o meio
Em 1878, ainda no segundo império, é outorgado por excelência e, portanto, o objetivo maior da prática des-
sas entidades, várias das quais abriram escolas noturnas
o decreto n. 7.031-A, este determinava que os negros
(Getulino, I,35;II, 56; e A Voz da Raça, I, 16, 18,31, 32; apud
somente pudessem frequentar os estabelecimentos
Bastide, 1973, p.150). Além de denunciar o ‘preconceito’ e
escolares pela noite.
incentivar a comunidade a se unir para lutar contra ele, os
Os dois decretos apresentados são apresentados periódicos da imprensa negra propunham a si mesmos um
com o objetivo de evidenciar a relação conflituosa da papel educativo- e cumpriam-no.
sociedade brasileira e a educação do negro no Brasil.
A historiografia da educação no Brasil não consegue
oferecer elementos explicativos para o fato do apare-

? VOCÊ SABIA? cimento da imprensa negra no Brasil. Pois como por


meio de tantas proibições, dos negros no sistema de
ensino, estes inauguram a imprensa negra no Brasil e
Decreto n. 1331-A
conquistam seu espaço na sociedade? Enquanto os
relatos da história da educação no Brasil compreen-
Em 17 de Fevereiro de 1854 foi outorgado o Decreto n. 1331-A. der como espaços de construção de conhecimento
Este tinha como objetivo apresentar a aprovação do regulamento a multiplicidade a sociedade não vai compreender a
para a reforma do ensino primário e secundário do Município da construção de uma imprensa negra, enquanto estes
Corte. O documento é conhecido como reforma Couto Ferraz.
não tinham acesso ao sistema de ensino.
BRASIL. Decreto n. 1331-A, de 17 de fevereiro de 1854. Aprova A educação nos quilombos, a construção de esco-
o Regulamento para a reforma do ensino primário e secundário las, sem ser aquelas do sistema de ensino, as escolas
do município da Côrte. Disponível em: <http://www.histedbr.fae. de oficiais que aceitaram os africanos escravizados
unicamp.br/navegando/fontes_escritas/
3_Imperio/artigo_004.html>. Acesso em: 12 jul. 2011.
para estes participaram da guerra contra o Paraguai.
Estes foram alguns fatores que precisam fazer parte
da historiografia da educação no Brasil, para assim
compreender a educação e a história do negro no Brasil.
Entretanto, mesmo com essa relação de desvanta-
A educação popular é um movimento protagonizado
gem dessa parte da população, esta soube enfrentar
inicialmente pela população negra. Porque é através
com força, arte e sabedoria esses problemas. Pois os
dessa “metodologia” que os africanos escravizados
são “alfabetizados” em território brasileiro.
7 É dessa maneira que está escrito no decreto.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 47


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?
Vale ressaltar que o movimento da educação po-
pular é lembrado apenas pelo grande educador Paulo VOCÊ SABIA?
LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

Freire. O trabalho do educador Freire tem como início


no período dos anos 60, na região Nordeste do Brasil,
com a educação de jovens e adultos.
Mas essa experiência teve início com a Frente Negra Abdias Nascimento
Brasileira (FNB), criada em 1931, e com o Teatro Expe-
Nasce em Franca, SP, em 1914 e falece em 24 de maio de
rimental do Negro (TEN), criado em 1944. 2011. O segundo filho de Dona Josina, a doceira da cidade,
São movimentos que nascem com o objetivo de e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro. Abdias cresce numa
combater o racismo no Brasil. A frente Negra era um família coesa, carinhosa e organizada, porém pobre, e vai se
diplomar em contabilidade pelo Atheneu Francano em 1929.
movimento da camada popular. Tinham como objetivo Com 15 anos, alista-se no exército e vai morar na capital
combater a discriminação racial que agiam com o intuito São Paulo. Na década dos 1930, engaja-se na Frente Negra
de colocar o negro a margem da sociedade. Brasileira e luta contra a segregação racial em estabelecimentos
O Teatro Experimental do Negro teve como seu comerciais da cidade. Prossegue na luta contra o racismo
organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938. Funda
fundador Abdias do Nascimento. O objetivo deste mo- em 1944 o Teatro Experimental do Negro, entidade que
vimento era contribuir para a formação da consciência patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46.
dos negros. E a questão inicial foi alfabetização de A Convenção propõe à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a
adultos, pois os integrantes do TEN entenderam que inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente
um dos fatores da ausência de atores negros era pelo e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial
como crime de lesa-pátria.
fato de alguns integrantes serem analfabetos. À frente do TEN, Abdias organiza o 1º Congresso do Negro
O TEN alfabetiza esses atores para estes atuarem Brasileiro em 1950. Militante do antigo PTB, após o golpe de
nas peças construídas por esse grupo. Na época da 1964 participa desde o exílio na formação do PDT. Já no Brasil,
lidera em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do
construção do Teatro Experimental do Negro, os perso-
PDT.
nagens negros no teatro eram encenados por brancos. Na qualidade de primeiro deputado federal afro-brasileiro a dedicar
Estes pintavam de negro sua pele para fazer o negro no seu mandato à luta contra o racismo (1983-87), apresenta projetos
teatro. E esse foi o fator que faz surgir a ideia do TEN. de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de
ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para
Entretanto, após os negros alfabetizados o problema
os negros na sociedade brasileira. Como senador da República
não é mais este, mas outros obstáculos colocados pelo (1991, 1996-99), continua essa linha de atuação.
racismo. O Governador Leonel Brizola o nomeia Secretário de Defesa e
Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio
de Janeiro (1991-94). Mais tarde é nomeado primeiro titular da
[...] O TEN identificava na educação a primeira prioridade de Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos (1999-
ação para o povo negro. As primeiras atividades foram os 2000).
cursos de alfabetização, em que se inscreviam favelados,
operários, empregadas domésticas e outras pessoas de Fonte: IPEAFRO. http://www.ipeafro.org.br/home/br/
personalidades.
origem humilde. O processo de alfabetização complemen-
tava-se com aulas de cultura geral e palestras de diversos
convidados. A educação empreendida no Teatro Experimental do
Identificado o alijamento do sistema de ensino e a inferior- Negro não era apenas comprometida com a escolari-
ização cultural como elementos essenciais da opressão, O
zação dos seus integrantes. Mas, tinha como objetivo
TEM tinha como objetivos a reabilitação e a valorização da
também a emancipação política, cultural e a conse-
herança e da identidade humana do negro. (NASCIMENTO,
quente integração na sociedade de maneira não negada.
2008, p. 122-123)
A partir de 1950, no Brasil são realizados vários
movimentos da população negra. As ferramentas utili-
zadas eram os jornais, revistas, os poemas chamados
de protestos.
Dentro do movimento negro surgem as organizações
de mulheres negras, que combatem o racismo, mas
com o recorte de gênero.

48 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


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As organizações construídas entre as décadas de


1950, 1960, 1970 lutaram a favor de uma educação que INDICAÇÃO DE LEITURA

LICENCIATURA EM LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS


contemplassem a discussão racial como uma forma
de encontrar justiça racial na sociedade brasileira. Um
dos exemplos desse episódio foram as mobilizações
sobre as reformas de base no Brasil, início dos anos O livro é dividido em cinco partes. A primeira trabalha com
60. Segundo Beatriz Larkin Nascimento (2008, p. 155): a discussão da História da educação, escola e legislação
educacional. A segunda parte aborda a discussão acerca da
História da interdição e do acesso do negro à educação, dando
A mobilização pelas reformas de base no Brasil no início da ênfase para o momento histórico de São Paulo e Minas Gerais,
entre os séculos XIX e XX. No terceiro capítulo as discussões
década de 1960 excluía a questão racial como eixo da luta
acerca de políticas públicas são abordadas com a seguinte
pela justiça social, pois a esquerda brasileira, com sua van-
abordagem: História social da educação do negro e das
guarda enraizada nas classes média e alta instruídas pela experiências de políticas educacionais.
ideologia da democracia racial, desconhecia a realidade do No quarto capítulo são apresentadas experiências educativas
racismo como fator de opressão do povo. A resistência à realizadas pelos afrodescendentes, em locais pontuais, como no
ditadura ocupava a esquerda clandestina, deixando pouco caso de Santa Catarina. A formação das educadoras (es) também
espaço para o desenvolvimento de uma militância afro- é abordada. O tema central do capítulo é chamado de A formação
brasileira em torno das questões específicas da população de professores e os negros. No último capítulo é apresentado a
importância da história e cultura africana nos currículo escolares.
discriminada racialmente. Mesmo assim, no período do
O ensino: conteúdos e currículos escolares é a temática do último
regime militar brasileiro, a repressão ao movimento negro
capítulo do livro.
figurava dentre as prioridades da segurança nacional.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade. História da
Na década de 80 os movimentos negros no Brasil educação do negro e outras histórias. Organizado por
discutem às políticas públicas como meio de combater Jeruse Romão. Brasília: MEC; BID; UNESCO, 2005.
as desigualdades raciais. A partir da década de 80 é (Coleção Educação para Todos). Disponível em: <http://
criada a Fundação Cultural Palmares, a Secretária de www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
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Promoção e Defesa das Populações Afrobrasileira (Se-
Acesso em: 07 maio 2011.
afro). O cenário conquistado pelas organizações negras
aponta para um embate que a população brasileira mais
tarde terá que enfrentar: a reserva de vagas nas univer-
sidades para a população afro-brasileira e indígenas. Este último capítulo teve como objetivo apresentar
As cotas, que são uma ramificação das políticas de as correntes pedagógicas que pensaram a educação
ações afirmativas. no Brasil, seja pela sua relevância na análise do sistema
de ensino brasileiro e de como deva ser a educação, ou
A conquista dos movimentos negro com as cotas
pela a influência que exerce na nossa prática cotidiana
nas universidades é um salto positivo para a conquista
enquanto educadores (as).
da cidadania desta população que esteve alijada da
sociedade. As cotas nas universidades além de ter um Fica agora o desafio para o futuro educador (a)
caráter objetivo de ter o número aumentado de afrobra- buscar, a partir dos conhecimentos aqui apresentados,
sileiros nas universidades, pode também contribuir para novos rumos e posicionamentos que possam dar conta
colocar em crise a democracia racial no Brasil. Então, da educação no nosso país. As teorias acima descritas
através de uma lei promulgada pelo Estado colocava fornecem indícios e subsídios para que esse exercício
em crise teses e dissertações que este mesmo Estado contínuo de reflexão e crítica ao que está posto seja
validava com a democracia racial no Brasil. feito sempre. Por que é igualmente necessário que
repensemos as nossas atitudes em sala de aula ou em
Ainda dentro das políticas afirmativas, outra con-
qualquer espaço em que a ação educativa esteja sendo
quista foi a lei 10.639/03. Lei que altera a Leis de Diretri-
colocada em prática.
zes e Bases da Educação (LDB). A lei 10.639/03 obriga
o ensino da História e Cultura africana e afro-brasileira. A perspectiva histórica se mostra de essencial im-
Após cinco anos, esta lei é alterada pela 11.645/08. A lei portância para o entendimento da ação de hoje e para
11.645 obriga além do ensino da cultura afro- brasileira a criação do futuro. Portanto, não basta a reflexão, pois
e africana a indígena.

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estaríamos apenas constatando o que está aí, o já dado. BRASIL. Decreto n. 1331-A, de 17 de fevereiro de
É imprescindível criar, colocar em ação a criatividade. 1854. Aprova o Regulamento para a reforma do
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