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LETRAMENTO LITERÁRIO: UMA PROPOSTA DE ENSINO ATRAVÉS DE

CRÔNICAS

Ana Cecília Nascimento e Santos – UFS


GT 7 – EDUCAÇÃO, LINGUAGEM E ARTES
RESUMO
A leitura literária no Ensino Fundamental pode ajudar a introduzir o aluno no mundo letrado. Além
disso, proporciona um duplo aprendizado ao estudante: maior conhecimento da língua e formação
cultural do indivíduo. Nessa perspectiva, este trabalho busca apresentar uma proposta de atividades de
leitura para ser desenvolvida nas salas de aula desse nível de ensino, a partir das crônicas de Luiz
Fernando Veríssimo, tomando como referência o modelo de sequência didática básica de Rildo
Cosson (2014). Pretende-se, então, que o aluno, leitor em desenvolvimento, possa ter seus primeiros
contatos com a literatura de uma maneira prazerosa, começando por textos mais simples e curtos para
que, com o tempo, possa ir ampliando seus horizontes de leitura. Busca-se, dessa maneira,
proporcionar o ensino da leitura literária unindo o prazer de ler ao compromisso do conhecimento.
Palavras-chave: Letramento Literário; Crônicas; Leitura.

ABSTRACT
Literary reading in elementary school can help to introduce the student in the literate world. It also
provides a dual learning to the student: greater knowledge of the language and cultural formation of
the person. From this perspective, this study aims to present a proposal for reading activities to be
developed in classrooms of this level of education, using chronicles of Luiz Fernando Verissimo, with
reference to the model of basic teaching sequence of Rildo Cosson (2014). It is intended, then, that the
student, reader in development, may have his/her first contact with literature in a pleasurable way,
starting with simple and short texts, so that, over time, he/she can go expanding his/her reading
horizons. We seek, in this way, provide the teaching of literary reading joining the pleasure of reading
with the commitment of knowledge.
Keywords: Literary Literacy; Chronicles; Reading.

INTRODUÇÃO
O ensino de Literatura é, ainda, visto com preconceito por parte de muitos professores
das mais diversas áreas de ensino, inclusive da própria área de Letras. Ela acaba sendo uma
disciplina restrita às séries de Ensino Médio e sua prática é mais voltada para o conhecimento
de períodos históricos e análise de textos provenientes de tais períodos. Contudo, é importante
que se tenha uma maior consciência das contribuições que esta disciplina e, mais do que isso,
que o letramento literário podem trazer para o desenvolvimento cultural e cognitivo dos
estudantes. Além disso, não se deve deixar essa instrução apenas para os últimos anos


Mestranda pelo Profletras. Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino pela UFS. Graduada em Letras
pela UFS. Professora da Rede Estadual de Sergipe. E-mail: anaceciliase@gmail.com

Artigo apresentado ao ENFOPE.

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escolares, é importante que seja iniciado um trabalho nessa direção desde cedo, pois é através
do uso da linguagem que o indivíduo cria ligações socioculturais com o meio em que vive e,
também, com aqueles meios que lhe são distantes, ampliando o seu conhecimento de mundo.
Conforme Bordini e Aguiar, “o acesso aos mais variados textos, informativos e
literários, proporciona, assim, a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade
e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens” (BORDINI & AGUIAR,
1988, p.10). Desse modo, a escola deve repensar suas concepções e práticas quanto ao ensino
de Literatura e buscar inseri-la no dia-a-dia do aluno desde as séries iniciais, proporcionando
ao estudante uma cultura da leitura, um gosto pela literatura, para que ele possa crescer, saber
tomar posições, descobrir sentidos nos diversos textos que encontrar e tornar-se proficiente na
sua língua. Reforçando a ideia apresentada, compreende-se, então, a prática da literatura como
“uma exploração das potencialidades da linguagem, da palavra e da escrita,
que não tem paralelo em outra atividade humana. Por essa exploração, o
dizer o mundo (re) construído pela força da palavra, que é a literatura,
revela-se como uma prática fundamental para a construção de um sujeito da
escrita. (COSSON, 2014, p.27)

Nessa perspectiva, este artigo traz uma proposta de trabalho de leitura literária para ser
desenvolvido com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. As atividades que serão
realizadas irão se basear nas crônicas de Luís Fernando Veríssimo, que, com humor, trata de
diversos assuntos do cotidiano, tornando o texto literário bem próximo da realidade desses
estudantes e promovendo uma interação maior entre eles. Para a organização e planejamento
das atividades, tomou-se como referência o modelo de sequência didática básica do livro
Letramento Literário, Teoria e Prática, de Rildo Cosson (2014). Pretende-se, então, que o
aluno, leitor em desenvolvimento, possa ter seus primeiros contatos com a literatura de uma
maneira prazerosa, começando por textos mais simples e curtos para que, com o tempo, possa
ir ampliando seus horizontes de leitura e se tornando um leitor mais proficiente.

1. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
Na leitura e na escrita, aprendemos a expressar o mundo por nós mesmos, vivendo as
mais variadas experiências, por isso, o ensino de leitura ocupa um lugar de destaque no
ambiente escolar. Paralelo a este, temos o ensino de literatura com seu longo histórico,
estando presente nas mais variadas instruções há milênios. Utilizava-se o texto poético como
matéria de ensino para se garantir a formação escolar. De acordo Zilberman (2009), no
princípio, o ensino da literatura não visava formar leitores, ele existia e se justificava
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“porque era o gênero mais próximo da linguagem verbal, que cabia
conhecer e saber utilizar. Havendo a necessidade de dominar o código
verbal, estabeleceu-se como padrão de uso sua aplicação pelos poetas e
criadores literários, que se tornaram modelos e ajudaram a configurar o
cânone.” (ZILBERMAN, 2009, p.11,12)

Assim sendo, se justificava por razões diferentes das que percebemos na atualidade.
Os textos literários eram os modelos a serem seguidos por quem queria fazer parte do
universo letrado. Convém destacar que estamos falando de uma época em que a maioria
esmagadora da população não tinha acesso à escola e muito menos sabia ler, portanto, vivia
numa cultura não letrada. Aqueles que detinham o conhecimento faziam parte da elite cultural
e podiam, através dos textos literários, conhecer e estipular regras e princípios para se viver
em sociedade.
Hodiernamente, a escola vive um momento diferenciado, em que a educação não é
algo que existe só para as elites, mas abarca toda a população. Desse modo, o ensino de
literatura passa a ser questionado, e é como se o conhecimento de obras canônicas não se
fizesse tão necessário, também, para as classes mais baixas. Zilberman (2009) destaca que
Com as mudanças decorrentes da inserção dos grupos de baixa renda no
processo produtivo e no mercado de trabalho assalariado, a escola teve que
ampliar suas vagas e facilitar o acesso para que essa camada pudesse,
também, estudar. Desse modo, a literatura “passou a aceitar autores vivos,
obras atuais e materiais não necessariamente literários ou linguísticos.”
(ZILBERMAN, 2009, p.15)

Então, textos de diversos tipos passaram a ser estudados na escola, pois, não se pode
desprezar o fato de que fazemos parte de uma cultura que privilegia o texto escrito. De acordo
com Bordini & Aguiar “a situação de desigualdade entre elementos alfabetizados e
analfabetos produziu uma relação de domínio dos primeiros sobre os segundos, que se
acrescentou a todas as outras formas de dominação social” (BORDINI & AGUIAR, P. 10,
1988). E isso se reflete até hoje, mesmo enquanto uma sociedade que busca proporcionar o
ensino a todos, pois, apesar de inserir e proporcionar o ensino do texto escrito a todo cidadão,
a escola ainda representa um aparelho de dominação das classes populares, já que, desde o seu
surgimento, satisfez os desejos da burguesia emergente na seleção e rejeição de conteúdos a
serem ensinados. Uma pessoa menos favorecida tem acesso à escola, mas, muitas das vezes,
os conteúdos que lá aprende não têm valor significativo para a sua realidade de vida.

Nessa perspectiva, percebe-se que, no passado, o leitor “era formado para a literatura,
hoje, é alfabetizado e preparado para entender textos, ainda orais ou já na forma escrita, como
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querem os PCNs, em que se educa para ler, não para a literatura.” (ZILBERMAN, 2009, p.
17). Então, é nesse contexto que devemos pensar em práticas que proporcionem o letramento
literário, dando um novo viés a esse ensino e garantindo uma maior qualidade nas nossas
práticas pedagógicas cotidianas.

É fato que vivemos num mundo letrado e o uso da leitura se tornou imprescindível
para o desenvolvimento de qualquer atividade significativa em nossa sociedade. Enquanto lê,
o homem se transforma em ser social, compreende o mundo que o circunda, entende-se
enquanto partícipe desse mundo e pode, também, questionar, criticar, ou seja, agir nesse
mundo. “Ler implica troca de sentidos não só entre o escritor e o leitor, mas também com a
sociedade onde ambos estão localizados, pois os sentidos são resultados de
compartilhamentos de visões do mundo entre os homens no tempo e no espaço”. (COSSON,
2014, p. 27)

Mesmo sabendo da importância da leitura, Cosson considera que não é possível aceitar
a simples atividade de leitura como uma atividade de leitura literária. É preciso ir além disso,
faz-se necessário preparar e formar o leitor para uma cultura da leitura literária, mostrando os
caminhos a serem seguidos, construindo um leitor mais propício à compreensão do texto
literário e que possa levar esse hábito para a sua vida pós-escolar. Assim sendo, Cosson
ressalta que “no ambiente escolar, a literatura é um lócus de conhecimento e, para que
funcione como tal, convém ser explorada de maneira adequada. A escola precisa ensinar o
aluno a fazer essa exploração.” (COSSON, 2014, p.27)

Além disso, o texto literário é um texto muito rico. Ao tomar posse de uma leitura de
um cânone ou de alguma outra obra literária não classificada dessa forma, o leitor entra em
contato com um universo novo, e ali poderá conhecer aspectos culturais que servirão como
lições para o seu dia-a-dia. Costumes, crenças, situações-desafio, todas essas coisas são
apresentadas ao leitor e ele se depara com coisas que ele nunca se pegou pensando. Vai
desenvolvendo, assim, um maior senso crítico das coisas, vai se preparando para a vida.
Então, a literatura proporciona um duplo aprendizado, o aprendizado da língua e o
aprendizado da cultura. Cosson afirma essa questão quando explicita que

“A literatura serve tanto para ensinar a ler e a escrever quanto para formar
culturalmente o indivíduo. Foi assim com o latim e o grego antigo, cujo
ensino se apoiava nos textos da Era Clássica, para o aprendizado dessas
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línguas de uso restrito e para o conhecimento produzido nelas (COSSON,
2014, p.20)

Então, não podemos conceber um ensino básico regular que não privilegie o texto
literário, dando-lhe o espaço que merece e apoiando-se, também, nele para a formação de
leitores críticos e agentes sociais. Desde o princípio, a literatura foi utilizada como base de
ensino e, desde esses começos, o funcionamento da escola dependia da transformação da
poesia em matéria de ensino, então, não se pode perder essa conquista nos dias de hoje.
Zilberman (2009) enfatiza que
Se, no passado, a escola apoiava-se fortemente no ensino da literatura e,
mesmo sem ter como meta formar leitores, acabava, às vezes, contribuindo
para isso, no presente, dá as costas para a tradição e termina por privar os
alunos de qualquer história. A lógica que chamamos de retroativa é
abandonada, sendo substituída por um argumento perverso, conforme o qual,
na falta da literatura consagrada, devemos ficar sem nada. (ZILBERMAN,
2009, p.16)

É preciso abandonar essa lógica e buscar, de fato, um letramento literário em sala de


aula. Mas que passos seguir para alcançar esse objetivo? Que textos podemos escolher?
Cosson e Bordini e Aguiar vão concordar que o professor deverá partir daqueles textos que
são mais próximos de seus alunos ir ampliando o horizonte de leituras com textos mais
complexos:
O primeiro passo para a formação do hábito da leitura é a oferta de livros
próximos à realidade do leitor, que levantem questões significativas para ele
[...] A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o
consequente desencadeamento do ato de ler. (BORDINI & AGUIAR, 1988,
P. 18)

Crescemos como leitores quando somos desafiados por leituras


progressivamente mais complexas. Portanto, é papel do professor partir
daquilo que o aluno já conhece para aquilo que ele desconhece, a fim de se
proporcionar o crescimento do leitor por meio da ampliação de seus
horizontes de leitura. (COSSON, 2014, p.35)

Cosson levanta, ainda, uma questão muito importante: as abordagens de ensino de


literatura usadas em cada nível educacional. Teremos, no ensino fundamental, um uso tão
diversificado de textos, que pode ser comparado ao ensino de leitura, já que literatura irá
englobar qualquer texto escrito que apresente um parentesco com a ficção ou com a poesia.
Ele ainda enfatiza que os textos precisam ser curtos, contemporâneos e divertidos,
justificando, assim, a preferência pelo trabalho com crônicas nesse nível de ensino, o que
serviu de base para esta proposta de trabalho. No ensino médio, literatura restringe-se ao
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ensino da literatura brasileira, fixando-se nos aspectos históricos da literatura brasileira com o
uso do texto literário para comprovação das características dos períodos literários (COSSON,
2014, p. 21). Muitas vezes, o prazer da leitura é substituído pela decoreba de resumos de
livros para a realização de provas e exames nacionais. Faz-se necessário rever esse aspecto
para que, de fato, se tenha um letramento literário na escola.
Mas, voltando para o Ensino Fundamental, defende-se que se trabalhe com gêneros
menores, é melhor do que se esquecer do texto literário, fixando-se apenas em textos de
jornais e outros registros escritos (COSSON, 2014). Desse modo, pensou-se na elaboração
dessa sequência didática que irá ajudar o professor a guiar os seus alunos nos primeiros passos
da leitura literária. O gênero trabalhado nessa sequência é a ‘crônica’ e, mais precisamente, as
crônicas de Luís Fernando Veríssimo, renomado autor nacional que se destaca por sua
linguagem leve e engraçada, trabalhando temas do cotidiano de maneira cativante.
A escolha desse gênero se deu pelas questões já levantadas acima, além do que, esse é
um gênero que ganhou uma nova roupagem ao longo dos tempos e passou a ser visto como
uma literatura mais brasileira mesmo. Madeira (2005), em sua dissertação, assinala que a
crônica é um “gênero brasileiro”, visto que foi aqui que ela se estabeleceu com as
características atuais. Além disso, ela afirma, também, que podemos considerá-la como um
gênero literário estreitamente ligado ao jornalismo, pois foi a partir do desenvolvimento da
imprensa no nosso país que ela começou a ganhar a forma atual, com denominadores
definidos.
A crônica surge, então, como uma tentativa de se fazer uma literatura nacional no
século XIX e será notada nos primeiros folhetins publicados nos jornais da época como um
registro do dia a dia. Hoje, ela continua tendo mesmo veículo de propagação, com a existência
de novos nomes que se destacam. É importante, então, que possamos utilizar esse material tão
rico da literatura brasileira a fim de realizarmos um ensino mais próximo da realidade do
nosso aluno, pois, é preciso que se crie uma maneira de ensinar que “permita que a leitura
literária seja exercida sem o abandono do prazer, mas com o compromisso de conhecimento
que todo saber exige”. (COSSON, 2014, p.23)

2. SEQUÊNCIA DIDÁTICA BÁSICA


Conforme explicitado, essa sequência didática é fundamentada no modelo apresentado
por Cosson (2014). Ela traz atividades que favorecem o trabalho com duas crônicas de Luís

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Fernando Veríssimo: “Detalhes” e “O príncipe encantado e as mulheres”. Para sua realização,
pensou-se em cinco momentos distintos que podem acontecer em um período de cinco aulas
ou mais, a depender do andamento das atividades nas turmas. Essa sequência tem os seguintes
objetivos: Inicialmente, pretende-se constituir uma relação entre o aluno e o texto, levando-o a
refletir sobre o tema da crônica e a acionar os seus conhecimentos (prévios) intertextuais.
Posteriormente, busca-se trabalhar as características desse gênero, deixando os alunos aptos a
produzirem suas próprias crônicas numa perspectiva do reconto da história e, finalmente, a
utilização de mídias tecnológicas para a veiculação da crônica.

2.1 Motivação
A motivação é o momento de preparar o aluno para a leitura do texto. Para iniciar a
leitura das crônicas, é importante que se faça um trabalho levando os alunos a terem um maior
interesse pela atividade que vão realizar. Então, como a crônica trata sobre contos de fadas,
serão feitos alguns questionamentos que levarão os alunos a pensarem nesse assunto:
- Que contos de fadas vocês conhecem? (Enquanto os alunos forem respondendo, o
professor vai elencando esses contos de fadas na lousa).
Em seguida, será apresentada, através do Datashow, a imagem da Cinderela e
outras perguntas serão levantadas:
- Esta imagem representa que conto maravilhoso?
- Quais os principais acontecimentos dessa história?
- Se essa história acontecesse nos dias de hoje, que elementos diferentes ela poderia
ter?
Depois desse primeiro momento de reflexões, os alunos irão assistir ao filme
“Cinderela Pós-Moderna” que traz uma releitura da história com as características dos dias de
hoje. É um vídeo curto e amador, mas que trabalha essa história de maneira descontraída, com
muitas características que envolvem o púbico infanto-juvenil.
Para encerrar esse momento, o professor deverá conversar com os alunos sobre o que
eles acharam de interessante daquele vídeo e organizar em uma tabela no quadro as diferenças
entre o conto de fadas atual e o conto de fadas clássico. A motivação deverá ocorrer no
período de uma aula, para que possa ser cumprido o papel da sequência. O caráter mais lúdico
da motivação ajuda no aprofundamento da leitura da obra literária que será feita mais adiante.

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2.2 Introdução
A introdução é o momento em que o professor faz a apresentação do autor e da obra.
Assim sendo, para iniciar a aula, será feita uma sondagem inicial com os alunos para saber se
eles já ouviram falar sobre Luís Fernando Veríssimo. Logo após, será exibido, através do
Datashow, um pequeno vídeo sobre esse escritor que está disponível no Portal do Professor.
Ao final, o professor poderá complementar com mais informações sobre o autor, se julgar
necessário. Convém ressaltar, conforme Cosson, que a apresentação não deve se tornar uma
“longa e expositiva aula sobre a vida do escritor, com detalhes biográficos que interessam a
pesquisadores, mas não são importantes para quem vai ler seus textos” (COSSON, 2014, p.
60). Essa apresentação é só para fazer com que os alunos conheçam um pouco do autor e se
interessarem mais por suas obras.
Depois de apresentar o autor, o professor irá conversar com os alunos sobre o que é
uma crônica, suas características, principais autores, onde é veiculado, dentre outros aspectos.
Para finalizar o momento, o professor deverá apresentar o livro do qual se extrairá a primeira
crônica a ser trabalhada. O livro intitula-se “Analista de Bagé” e a primeira crônica a ser
trabalhada será “Detalhes”. É importante que seja apresentado o livro físico aos alunos e não
somente as cópias do texto. De acordo com Cosson
Independentemente da estratégia usada para introduzir a obra, o
professor não pode deixar de apresenta-la fisicamente aos alunos. Aqui vale
a pena levar a turma à biblioteca para a retirada do livro diretamente da
estante. Se os livros não estão na biblioteca, mas sim na estante da sala de
aula, pode-se fazer uma pequena cerimônia para separar a leitura daquela
obra das atividades usuais. Nos casos em que se usa uma cópia ou
reprodução, convém deixar os alunos manusearem a original do professor.
(COSSON, 2014, p.60)

Essa é uma oportunidade que o professor terá para fazer com que o aluno receba a
obra de maneira positiva, portanto, é importante que se empenhe para despertar no aluno o
desejo pela leitura.

2.3 - Leitura
Esse é o momento em que se vai apresentar o texto para que possa ser lido pelos
alunos. Como trabalharemos com as crônicas de Veríssimo, teremos dois momentos de
leitura, já que serão duas crônicas. A primeira leitura a ser feita é a da crônica “Detalhes”.
Para essa ocasião, os alunos receberão as cópias com a crônica seguido das seguintes
indicações:
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- Uma leitura silenciosa
- Uma leitura oral, na qual alguns alunos serão escolhidos para participarem
representando os personagens da crônica.
Em seguida, serão levantados os seguintes pontos da leitura:
- Qual o porquê do título?
- Que conexão tem essa crônica com os contos maravilhosos?
- Quem é o narrador-personagem?
- Que palavras nesse texto remetem a festas no estilo dos contos maravilhosos?
- Que palavras remetem às festas do passado?
Para confirmar essa diferença entre o comportamento dos personagens de contos
maravilhosos diferenciado do comportamento de personagens que representam o homem de
hoje, os alunos lerão uma segunda crônica de Veríssimo intitulada “O príncipe encantado e as
mulheres”. Haverá a leitura silenciosa seguida da leitura oral e depois os alunos irão observar
os mesmos aspectos da crônica anterior, havendo a preocupação de levantar, com essa
crônica, as características que vão se modificando a partir do momento em que o autor narra
contos de fadas de diferentes épocas.
Serão necessárias duas ou mais aulas para se trabalhar o momento da leitura. De
preferência, o professor deve utilizar aulas conjugadas, para que não haja um distanciamento
entre uma aula e outra e que alguns aspectos não se percam nesse processo.

2.4 - Interpretação
Com base nas leituras feitas em sala de aula, os alunos serão levados a refletir sobre
mais uns aspectos dos textos, para mostrar o que compreenderam. As questões norteadoras
desse processo serão:
- Na crônica “Detalhes”, como o narrador era esperado pela sua esposa?
- Como ele chega em sua casa?
- O que leva o porteiro a beber aguardente e a ficar tão nervoso?
- Que fatos são relatados do baile?
Com relação à crônica “O príncipe encantado e as mulheres”, podem ser feitos os
seguintes questionamentos:
- Qual o fato que aproxima essa crônica dos contos de fadas?

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- Faça um levantamento das diferentes abordagens do sapo às moças que
representam diferentes épocas?
Para concretizar a compreensão dos alunos, deverá haver a externalização da
compreensão do texto através da criação de um desenho de uma cena de uma das crônicas. A
turma poderá ser dividida em dois grupos e cada grupo fará um desenho referente a uma das
crônicas. Ao final, os alunos apresentarão seus desenhos e explicarão o que eles quiseram
retratar. As imagens serão pregadas em um mural na sala, ou na própria parede, buscando
seguir a cronologia dos fatos para que se tenha uma história contada através de imagens na
sala de aula.

2.5 Interpretação e Prática


Esse momento de interpretação será prolongado com outra atividade prática que irá
proporcionar uma maior apropriação do gênero crônica. Com base nos conhecimentos
adquiridos ao longo das aulas já ministradas, os alunos irão escrever suas próprias crônicas. O
recorte a ser feito é o mesmo apresentado por Veríssimo. Os alunos terão duas opções de
produção textual:
- escolherão um conto maravilhoso e tentarão fazer um recorte de algum momento
desse conto, detalhando-o ao máximo e trazendo novos elementos à história, assim como
aconteceu com a crônica “Detalhes”.
- escreverão uma crônica de algum conto de fada dos dias atuais, misturando os
elementos que já foram trabalhados nas aulas anteriores, de acordo com a crônica 2.
Esses textos deverão ser veiculados no blog da escola ou em um blog criado pelo
professor especialmente para o registro das produções textuais de seus alunos. Essa atividade
poderá ser um ponto de partida para a criação do blog. A intenção de fazer essa publicação é
proporcionar aos alunos a divulgação de seus textos, assim como realmente acontece com a
crônica, que é veiculada em jornais e, assim, proporcionar a todos a leitura dos textos uns dos
outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho foi elaborado com a finalidade de discutir um pouco sobre os caminhos
que o ensino de Literatura tem tomado nas nossas escolas de ensino básico. Entende-se que as

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crianças que ingressam no Ensino Fundamental maior já precisam ser estimuladas a
consumirem o texto literário nas suas práticas diárias e esse ensino deve ser enfatizado na
escola agindo como um facilitador no processo de desenvolvimento cultural do aprendiz e no
aprendizado da língua. Muito mais do que trabalhar textos diferenciados em sala de aula, já
que fazemos parte de uma cultura letrada, temos que proporcionar ao aluno esse contato com
o texto literário, apresentar a sua importância, fazê-lo compreender o mundo e a sociedade
através da história bem tecida e bem encadeada presente nas obras literárias. Além disso, e
importante que o professor esteja consciente de que, mais do que favorecer a leitura de obras,
ele deverá proporcionar a existência de um letramento literário, através do qual o aluno possa,
de fato, tornar-se leitor e um leitor consciente.
O gênero crônica se apresentou como uma boa alternativa a ser trabalhada na série
inicial do Ensino Fundamental Maior, tanto pelo seu formato de texto (curto, com linguagem
simplificada), como também pela familiaridade que os alunos têm com esse tipo de texto, já
que aparece em jornais, livros didáticos de turmas menores, dentre outros. Espera-se que a
sequência apresentada possa ajudar o professor dessas turmas a começar um trabalho de
letramento literário com seus alunos, salientando que esses são apenas os primeiros passos de
um longo caminho que se pretende produtivo, mas que depende de um empenho do professor
para que se efetue, também, nos outros gêneros textuais que perfazem a nossa literatura.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Proposta Curricular para a formação de


jovens e adultos - segundo segmento do Ensino Fundamental. Brasília: MEC, 2002, 63 p.
Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/vol2_linguaportuguesa.
pdf > Acesso em 05 de nov 2015.

BORDINI, M.G.; AGUIAR, V. T. de. A formação do leitor: alternativas metodológicas.


Porto Alegre: Mercado Alegre, 1988.

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro:


Itatiaia, 1993.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2014.

MADEIRA, A.M.G. Da produção à recepção: uma análise discursiva das crônicas de


Luís Fernado Veríssimo. 2005. 106 p. Dissertação (Mestrado em Estudos Lingüísticos).
Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/ALDR-
6ACH9P/anamaria_ginimadeira_diss.pdf?sequence=1

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Detalhes. In: ____. O analista de Bagé. São Paulo: Círculo do
Livro, 1984.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. O príncipe encantado e as mulheres. In. Zero Hora. 4 de maio
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ZILBERMAN, Regina. Que literatura para a escola? Que escola para a literatura? Revista do
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VÍDEOS APRESENTADOS

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http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/recursos/11790/videomaiseducacaoluisfernandove
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GAETA, Ariane, BARCELOS, Camila. Cinderela pós-moderna. [Filme-vídeo] Disponível


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https://www.youtube.com/watch?v=C4v4BGXTtCg, Acesso em: 11.11.2015

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