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Resenha Montesquieu
Resenha Montesquieu
Para apresentar o objeto que será tratado em seu livro, Montesquieu apresenta,
nos capítulos iniciais de obra, o mapa de intenções de sua empresa, da seguinte maneira:
“A lei, em geral, é a razão humana, enquanto governa todos os povos da terra; e as leis políticas
e civis de cada nação devem ser apenas casos particulares onde se aplica esta razão humana.
Devem ser tão próprias ao povo para o qual foram feitas que seria um acaso muito grande se as
leis de uma nação pudessem servir para outra.
[...]
Devem ser relativas ao físico do país, ao clima gélido, escaldante ou temperado, à qualidade do
terreno, sua situação e grandeza, ao gênero de vida dos povos, lavradores, caçadores ou pastores; devem
estar em relação com o grau de liberdade que sua constituição pode suportar, com a religião de seus
habitantes, com suas inclinações, com suas riquezas, com seu número, com seu comércio, com seus
costumes, com seus modos. Enfim, elas possuem relações entre si; possuem também relações com sua
origem, com o objetivo do legislador, com a ordem das coisas sobre as quais foram estabelecidas. É de
todos estes pontos de vista que elas devem ser consideradas.
É o que tento fazer nesta obra. Examinarei todas estas relações: elas formam juntas o que
chamamos o Espírito das Leis.” (Montesquieu 1996, p. 16,17)
Antes de todas estas leis, estão as leis da natureza, assim, chamadas porque derivam unicamente
da constituição de nosso ser. Para bem conhecê-las, deve-se considerar um homem antes do
estabelecimento das sociedades. As leis da natureza serão aquelas que receberia em tal estado.
(Montesquieu 1996, p. 13,14)
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Ou seja, a partir da realização de uma abstração cognitiva, Montesquieu
procurará mostrar as leis naturais que regulariam o comportamento dos homens no
estado de natureza.
Neste estado, todos se sentem inferiores; no limite, cada um se sente igual aos outros. Não se
procurariam então, atacar, e a paz seria a primeira lei natural. (Montesquieu 1996, p. 14)
Ou seja, o autor de O Espírito das Leis assevera que todos são iguais no estado
de natureza, em virtude da fraqueza individual de cada um. E, em razão de que cada um
se reconhece fraco em relação aos demais, o comportamento comum seria pacífico.
Desse modo, a paz seria a primeira lei da natureza.
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Existem três espécies de governo: o REPUBLICANO, o MONÁRQUICO e o DESPÓTICO. [...]
Suponho três definições, ou melhor, três fatos:” o governo republicano é aquele no qual o povo em seu
conjunto, ou apenas uma parte do povo possui o poder soberano; o monárquico, aquele onde um só
governa, mas através de leis fixas e estabelecidas; ao passo que, no despótico, um só, sem lei e sem regra,
impõe tudo por força de sua vontade e de seus caprichos”. (Montesquieu 1996, p. 20)
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Na obra denominada “Política”, Aristóteles irá distinguir regimes políticos e formas de governo. O
filósofo de Estagira define regime político como o critério que separa quem governa e o número de
governantes. Nesse sentido, haverá três regimes políticos: a monarquia (poder de um só), a oligarquia
(poder de alguns poucos) e a democracia (poder de todos). Entretanto, formas de governo são definas por
Aristóteles em virtude da finalidade em vista da qual se governa, sendo que, para o filósofo, os governos
devem governar em vista do que é justo, de interesse geral, o bem comum. Sendo assim, são classificadas
seis formas de governo: aquele que é um só para todos (realeza), de alguns para todos (aristocracia) e de
todos para todos (regime constitucional). As outras três formas (tirania, oligarquia e democracia) são
deturpações, degenerações dos anteriores, ou seja, não governam em vista do bem comum.
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Contudo, ele determina o sentido daquilo que define como princípio, nos
seguintes termos:
Existe a diferença seguinte entre a natureza do governo e seu princípio: sua natureza é o que faz
ser como é, e seu princípio o que o faz agir. Uma é sua estrutura particular, o outro, as paixões humanas
que o fazem mover-se. (Montesquieu 1996, p. 31)
Nesse sentido, pode-se dizer que a natureza do governo seria a essência interna
de cada regime, isto é, o número de detentores do poder soberano, enquanto o princípio
seria a disposição anímica manifestada especificamente pelos indivíduos existentes em
cada regime.
i. A virtude da democracia
O que estou dizendo é confirmado por todo o conjunto da história e está bem conforme à
natureza das coisas. Pois fica claro que numa monarquia, onde aquele que faz executar as leis julga estar
acima das leis, precisa-se de menos virtude do que num governo popular, onde aquele que faz executar as
leis sente que está a elas submetido e que suportará seu peso. (Montesquieu 1996, p. 52)
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Mas tanto quanto é fácil para este corpo reprimir os outros, é difícil que ele reprima a si mesmo.
A natureza deste regime é tal que parece que ela coloca as pessoas sob o poder das leis, e ela mesma as
subtrai a este poder.
Ora, tal corpo só pode ser reprimido de duas maneiras: com uma grande virtude, que faz com que
os nobres se tornem de alguma forma iguais a seu povo, o que pode vir a formar uma grande república; ou
com uma virtude menor, que é certa moderação que torna os nobres pelo menos iguais entre si, o que
promove sua conservação.
Assim, a moderação é a alma destes governos. Refiro-me àquela baseada na virtude, e não à que
vem de uma covardia ou de uma preguiça da alma. (Montesquieu 1996, p. 34)
Dessa forma, em virtude de seu olhar menos idealista do que empirista acerca da
história universal, o filósofo francês assevera que o princípio norteador da aristocracia é
a presença dessa virtude mais moderada, a qual possibilita o surgimento da noção de
igualdade entre os nobres, advento da qual implica que qualquer inovação legislativa no
sentido de restrição comportamental afetaria como um todo o corpo político
aristocrático.
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Com relação à monarquia, especificamente à monarquia constitucional, cujo
paradigma é a existente na Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688-1689,
Montesquieu se preocupa em mostrar que a virtude necessária nas demais formas de
governo é substituída, nela, pelas leis, visto que:
Nas monarquias, a política promove as grandes coisas com a menor virtude possível; assim como
nas mais belas máquinas, a arte usa tão poucos movimentos, tão poucas forças e tão poucas rodas quanto
possível.
O Estado subsiste independentemente do amor à pátria, do desejo da verdadeira glória, da
renúncia de si mesmo, do sacrifício de seus interesses mais caros e de todas as virtudes heroicas que
encontramos nos antigos e das quais só ouvimos falar.
As leis ocupam aí o lugar de todas estas virtudes, das quais não se precisa; O Estado nos
dispensa delas: uma ação que se conclui sem alarde é nele como que sem consequência. (Montesquieu
1996, p. 35).
Dir-se-ia que é como o sistema do universo, onde há uma força que afasta continuamente do
centro todos os corpos, e uma força de gravidade que os traz de volta. A honra move todas as partes do
corpo político; liga-as com sua própria ação; e assim todos caminham no sentido de o bem comum,
pensando ir em direção a seus interesses particulares. (Montesquieu 1996, p. 37)
Com efeito, o princípio que põe em movimento, para o autor de O Espírito das
Leis, o governo monárquico é a honra. Pois, a honra parece ter duas dimensões
características: a individual e a coletiva, em virtude de, ao buscarem o reconhecimento
pessoal, os indivíduos subsumidos por essa espécie de governo acabam contribuindo
para o bem coletivo.
Desse modo, a honra consegue verter os esforços individuais em contribuição
para o adequado funcionamento do Estado.
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Assim como é preciso virtude numa república, e, numa monarquia, honra, precisa-se de TEMOR
num governo despótico: quanto à virtude, não lhe é necessária, e a honra seria perigosa.
Nele, o imenso poder do príncipe passa inteiramente para aqueles aos quais o confia. Pessoas
capazes de estimarem muito a si mesmas seriam capazes de promover revoluções. Logo, é preciso que o
temor acabe com todas as coragens e apague o menor sentimento de ambição. (Montesquieu 1996, p. 38)
v. Bibliografia