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AUTOGESTÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

S.R.L. MILAGRE1, G. M..PEDROSO2

IV Congresso Científico e V Jornada de Iniciação Científica

RESUMO: A autogestão é resultante de um longo processo de luta pelo direito à moradia e


contribui para implementar e consolidar novas perspectivas no âmbito da indústria da
construção civil. O presente trabalho tem por objetivo apontar os efeitos da formulação de
uma política pública envolvendo as dimensões da economia e da cultura no trato de moradia.
Além disso, visa à geração de trabalho e renda, que toma como parâmetro a efetivação através
da autogestão. A abordagem teórica do projeto será associada de forma crítica à realidade
regional, buscando estratégias para a autogestão na construção civil. A coleta dos dados será
realizada através de observações e análise documental de projetos já existentes no Tocantins
como o programa Habitar Brasil, por acreditar que através de mecanismo simples seja
possível resolver grandes problemas sociais como inserir o mutirão com autogestão na luta
pela moradia.
PALAVRAS CHAVE: Autogestão, cidadania, baixo-custo.
ÁRVORE DO CONHECIMENTO: Ciências exatas, Engenharia Civil, Construção Civil,
Habitação.

INTRODUÇÃO: A questão da moradia tem sido considerada como uma questão de


abrangência social que contempla uma visão política em que se cotizam a custabilidade dos
recursos na interface com a questão social, como morar de forma digna. Dessa forma, é
possível a indissociabilidade da engenharia física, a humana e a social. “ A física se manifesta
através de todo o processo técnico isto é, a construção em si. Das relações técnicas ao mesmo
tempo que antropométricas, dos homens com tais coisas, cuida a engenharia humana. E das
inter-relações de ordem social entre homens uns com os outros e de métodos com instituições
de várias espécies dentro de uma sociedade humana, cuida a engenharia social.” (FREYRE,
Gilberto 1987). A autogestão no seu olhar sócio-econômico, volta atenção às mudanças
institucionais e contra as desigualdades sociais e exclusão, caracteriza pela expansão das
necessidades e desejos, apresenta-se sempre uma sociedades insatisfeita, do ponto de vista da
expansão de mercado, seja dos anseios humanos. “Os valores universais de liberdade e vida
podem inspirar novas interações humanas baseadas na igualdade e no reconhecimento mútuo
e livre dos cidadãos” RUSCHEINSKY(2002). Em outros termos, as políticas de moradias são
construções pelo baixo custo do empreendimento.

MATERIAL E MÉTODOS: O presente trabalho encontra-se em andamento. Estão sendo


utilizadas pesquisas bibliográficas, análise documental e observações do processo de
construção em sistema de mutirão em Estágio Curricular no projeto Habitar Brasil e também
no Projeto Taquari. Durante período de estágio foi observado que os integrantes do mutirão de
autogestão encontram-se na situação social denominada “limite do desamparo”. Neste ponto
limite, havendo qualquer acidente no percurso da vida, não possuem recursos financeiros
adequados para dissolver os problemas com seus familiares.Visando assimilar a perspectiva
da autogestão, buscar-se-á valorização das capacidades e das potencialidades, com
aproveitamento de competências e qualidades subjetivas, mas cujas oportunidades ainda não
1
Acadêmico do Curso de Engenharia Civil.CEULP/ULBRA. Trabalho de Conclusão de Curso - Palmas-TO  (63) 8402-3802 (63) 3215-
1845 (63)32158145 E-mail: sandraraquellacerd@bol.com.br
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Mestre em Alvenaria Estrutural, Professor do Curso de Engenharia Civil do CEULP-ULBRA, Professor do Curso de Edificações da Escola
Técnica Federal de Palmas – Tocantins. F: 63 9973 0082 – e-mail: gilson@ulbra-to.br ; gilson@etfto.gov.br
haviam aparecido na vida desses sujeitos. Entra em campo “o resgatar, o reconstruir, o alargar
e o inovar no horizonte dos saberes que abrangem desde o econômico ao cultural” (SILVA &
SILVEIRA, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÕES: O processo em análise, por mais que se refira de maneira


imediata a uma atividade econômica, desloca-se também para outras esferas como a
educação, o lazer, a participação política e a família. A abertura para a dimensão cultural abre
espaço para um processo de reflexão crítica sobre as relações sociais, concomitantemente com
o desenvolvimento do processo de trabalho que visa resolver uma problemática social bem
concreta. A autogestão na construção do espaço urbano abre a possibilidade concreta de
romper com o estranhamento e a alienação de políticas públicas, através do envolvimento dos
cidadãos com as questões ambientais, inova na oportunidade de efetivar o sonho de qualidade
de vida, bem como no caso específico, os mutirantes deixam de ser estrangeiros na cidade que
eles mesmos ajudam a construir. O estudo em discussão desponta para aspectos psicológicos
dos mutirantes como auto-estima e ascensão social uma vez que pode estimular para
ampliação de sua futura da moradia.

Figura 1. Programa Habitar Brasil – construção das casas populares pelos mutirantes.

Figura 2. Programa Habitar Brasil – A parceria na construção.


Figura 3. Programa Habitat Brasil – “Levantamento” das edificações

CONCLUSÕES: O mutirão autogerido em qualquer cidade onde houver a implementação do


projeto deve consolidar uma modalidade de construção que permita a emergência de
protagonistas capazes de formular e implementar, não apenas uma política mais adequada
para a moradia popular, mas também de uma construção que objetiva o baixo-custo. O
aprendizado gerado na luta pela moradia da classe menos favorecida pode possibilitar aos
agentes sociais da construção civil a proposição ao poder público da implantação de uma
política entendida como a mais adequada aos recursos disponíveis e a demanda apresentada,
bem como poderá levar aos cidadãos interessados em sua construção a participar, ativamente,
dos destinos da cidade e, conseqüentemente, dos problemas ocasionados pela falta dela. A
principal diretriz, nesse processo, é a autogestão dos recursos financeiros e dos
empreendimentos pelos futuros beneficiados - os moradores. Assim, a existência dos mutirões
autogeridos poderá contribuir para a conquista da cidadania e, conseqüentemente, para uma
cidade mais justa e democrática. O empenho dos cidadãos em movimento social pode permitir
que junto a institucionalidade se façam ressoar direitos de cidadania, melhorem a qualidade de
vida das pessoas, reconstruam parcela das relações sociais urbanas, possibilitando a
emergência de novas perspectivas sobre o espaço urbano e o propósito de atendimento a todos
os necessitados de moradia digna.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FREYRE, Gilberto. Homens, engenharia e rumos sociais. Rio de Janeiro: Record, 1987.
224 p.
RUSCHEINSKY, Aloísio. Atores sociais e lutas políticas. Porto Alegre: Edipucrs, 2001.
_____________ Metamorfoses da cidadania. São Leopoldo: Unisinos, 2001.
_____________ (org) Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed,
2002.
SILVA, Silvana Dias & SILVEIRA, Cláudia W. No caminho da autogestão, in
COBERLINI, Dárnis (org). As mudanças no mundo do trabalho. São Leopoldo: Instituto
Humanitas Unisinos, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA. Manual
Técnico de Alvenaria. Projeto. São Paulo, 1990.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normas relativas a alvenaria
de blocos de concreto e cerâmicos. Procedimentos, Especificações, Métodos de Ensaio e
Padronizações
DUARTE, Ronaldo Bastos. Recomendações para o projeto e execução de edifícios de
alvenaria estrutural. Porto Alegre, 1999.

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