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ARQUEOLOGIA

Os vege
Primeiros habitantes
conhecidos do litoral
brasileiro, eles ocuparam
nossa costa pelo menos
entre 7 mil e mil anos

dos sa
atrás. Até há pouco tempo,
para saber como
era o ambiente em que
viviam e qual era sua dieta,
contava-se sobretudo
com os restos de animais
depositados nos sítios
pré-históricos chamados Chamados pelos especialistas de ‘pescadores-coletores-caçadores’,
sambaquis. Estes, porém, segundo as principais atividades pelas quais obti-
nham sua alimentação (pesca, coleta de moluscos e
abrigam igualmente de vegetais, caça de pequenos animais), deduzidas
fragmentos fossilizados dos vestígios encontrados nos sítios arqueológicos,
de carvão, provenientes eles viviam perto do mar, em lugares que integra-
de fogueiras. A análise vam diversos ecossistemas, como lagoas, restingas,
mangues e florestas.
desses fragmentos, além Esses povos foram os construtores dos sambaquis,
de ser de grande auxílio colinas formadas ao longo dos séculos por um acú-
na identificação da antiga mulo de conchas e sedimentos, e sobre as quais eles
flora, pode fundamentar moravam (figura 1). Uma particularidade dos
sambaquis é o fato de se destacarem na paisagem.
hipóteses sobre Alguns sítios, principalmente no estado de Santa
a utilização que esses Catarina, chegam a medir 30 m de altura por 100 m
nossos ancestrais faziam de comprimento. Outra particularidade é que, em
dela, tanto na alimentação seu interior, eles reúnem não só vestígios de habita-
ção e de artefatos líticos, mas também de sepulturas.
quanto na coleta A melhor forma de conhecer a dieta alimentar
de lenha para queimar. dos homens pré-históricos é analisar os restos de
animais e de vegetais depositados, junto com o
sedimento, nos sítios arqueológicos. Como os
FOTO JEAN-PIERRE YBERT

Rita Scheel-Ybert
Instituto de Botânica
da Universidade Montpellier II
(França)

2 6 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 2 8 • n º 1 65
ARQUEOLOGIA

tais na vida
mbaquieiros
sambaquis contêm grande quantidade de conchas, como de suas possibilidades de conservação. As Figura 1.
por muito tempo acreditou-se que seus habitantes conchas, parte não-comestível dos moluscos, cons- O Tambor,
em Angelim,
comiam quase exclusivamente moluscos. Em tem- tituem uma proporção importante do animal e sua
município
pos mais recentes, graças ao trabalho do zooarqueó- conservação é quase integral. Já os ossos de peixes, de Cabo Frio,
logo Levy Figuti, da Universidade de São Paulo de pequenos mamíferos terrestres e de aves, além de RJ, é um
(USP), a pesca tem sido reconhecida como a base da terem uma massa relativamente reduzida, conser- dos raros
dieta dos sambaquieiros, mesmo quando os restos vam-se por menos tempo. Quanto aos vegetais, sua sambaquis
intactos
de conchas parecem predominar no sedimento do conservação em ambiente tropical úmido quase só é
na Região
sítio. Já a coleta de vegetais, embora implicitamen- possível através da carbonização. dos Lagos.
te admitida, em geral é vista como uma atividade A má preservação dos restos vegetais dificulta Ele tem
secundária, cuja contribuição para a dieta seria também o conhecimento da antiga vegetação. Até 4 m de altura
quase negligenciável. agora, a reconstituição do paleoambiente onde vi- e 75 m na
largura maior
Antes do estudo de que falaremos a seguir, o viam os homens pré-históricos era feita a partir dos
consumo de vegetais nos sambaquis só era verifica- restos de animais encontrados, ou então deduzida
do pela presença de coquinhos, de raras sementes e da localização do sítio. No entanto, a maior parte dos
de objetos líticos que provavelmente serviram à sambaquis contém grande número de fragmentos de
preparação de plantas (alimentos, pigmentos). No carvão, até agora utilizados somente para conhecer
entanto, o resultado do nosso trabalho mostrou que a idade dos sítios. Além de servirem para a datação,
a coleta de vegetais era provavelmente muito impor- através do método do carbono 14, esses carvões re-
tante na dieta desses povos. presentam uma inestimável fonte de informações
Convém esclarecer que a quantidade de restos paleobotânicas, tanto para conhecer o meio ambien-
depositados depende tanto do tipo de alimento te do passado como para saber a utilização que os
homens pré-históricos faziam dos vegetais. 4

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situados às margens do Canal de Itajuru,


que liga a Lagoa de Araruama ao mar (figu-
ra 3); em Arraial do Cabo, o sambaqui da
Ponta da Cabeça, localizado sobre o Morro
do Itirinho, na extremidade sudoeste da
Praia Grande; e, em Saquarema, os samba-
quis da Beirada e da Pontinha, situados en-
tre a lagoa de Saquarema e o mar.
As amostras de carvão foram coletadas
em perfis verticais, no interior de trin-
cheiras deixadas pelas escavações arque-
ológicas (figura 4). Todo o sedimento foi
peneirado a seco no campo e, em seguida,
submetido em laboratório à célula de
Figura 2. A antracologia, ciência que consiste flotação (equipamento em que o material é mergu-
Litoral sudeste na determinação dos restos de carvão lhado na água para separação dos elementos segun-
do estado do fossilizados a partir dos caracteres preservados da do a sua densidade; os resíduos de sedimento fino
Rio de Janeiro.
Os triângulos anatomia da madeira (ver ‘A anatomia dos carvões caem no fundo do reservatório, os resíduos grossei-
pretos indicam pré-históricos’, em CH nº 122), pode fornecer res- ros e as conchas ficam sobre a peneira e os fragmen-
todos os postas inéditas a duas das grandes perguntas que os tos de carvão flutuam, são levados pelo fluxo de
sambaquis arqueólogos brasileiros se fazem: Qual era a dieta água e caem sobre uma peneira exterior, onde são
conhecidos das populações pré-históricas? Como era o meio coletados).
até hoje.
Os vermelhos ambiente em que elas viviam? A identificação dos carvões foi feita num micros-
situam cópio de luz refletida, comparando-se sua estrutura
os estudados anatômica com as amostras de uma coleção de re-
neste trabalho ferência e com descrições e fotografias de obras da
Material e métodos
literatura especializada. Utilizou-se também um pro-
O grande número de sambaquis distribuídos por grama informático de determinação criado especial-
todo o litoral brasileiro, com exceção da região mente para a antracologia pelo analista de sistemas
Nordeste, testemunha a intensa ocupação desse Mario Scheel, do Rio de Janeiro. Esse programa é as-
litoral pelos pescadores-coletores-caçadores. So- sociado a um banco de dados anatômicos de amos-
mente na Região dos Lagos (estado do Rio de Ja- tras, tanto atuais quanto fósseis. A análise abrangeu
neiro), entre o cabo de Armação dos Búzios e mais de 15,5 mil fragmentos de carvão.
Saquarema, foram inventariados 65 sítios (figura 2).
Um estudo feito em sete deles permitiu a re-
constituição do paleoambiente vegetal dessa região
e forneceu informações sobre o aporte vegetal na die-
Os vegetais na dieta
ta dos sambaquieiros e sobre a coleta de lenha. Os Todos os sítios estudados apresentaram coquinhos,
sítios estudados foram: em Cabo Frio, os sambaquis sementes e fragmentos de tubérculos carboniza-
do Forte, Salinas Peroano, Boca da Barra e do Meio, dos. Esses restos alimentares estão presentes na
maior parte das amostras analisa-
Figura 3. das, indicando que a coleta de ve-
Margem leste getais deve ter sido muito mais
do canal difundida do que acreditavam os
de Itajuru, especialistas.
em Cabo Frio.
Esta é a primeira vez em que se
Os sambaquis
apontados encontram tubérculos em sítios
S brasileiros. Embora a maior parte
são os da Boca
da Barra (B), dos restos ainda não tenha sido
do Meio (M) identificada, podemos assegurar
e Salinas
que os sambaquieiros utilizavam
Peroano (S). M
O sambaqui uma grande variedade de espé-
FOTO RITA SCHEEL-YBERT

do Forte fica B cies. Dentre as identificadas, al-


do outro lado guns tubérculos provêm de carás
do canal (Dioscorea), outros de gramíneas
ou ciperáceas (figura 5).

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Os fragmentos de coquinhos, Figura 4.


FOTO RITA SCHEEL-YBERT

facilmente reconhecíveis a olho Aspecto


de um perfil
nu, aparecem nos sambaquis
no sambaqui
com muita freqüência e são rela- Boca da Barra,
tivamente abundantes no nosso em Cabo Frio, RJ.
material, enquanto as sementes e Em segundo
os tubérculos surgem em quanti- plano, entrada
da barra entre
dade bem menor. Tal despropor-
a lagoa de
ção, contudo, não deve ser in- Araruama e o mar.
terpretada como resultante de Ao fundo,
uma utilização menos ou mais a praia do Forte.
importante de cada categoria ali- Os sedimentos
arqueológicos
mentar. Ela resulta, simples-
apresentam
mente, da conservação diferen- sobretudo
cial dos vestígios. A parte dura conchas
dos coquinhos, além de muito de moluscos
mais resistente à degradação, constitui o resíduo Gomidesia, Myrcia, Myrciaria, Psidium – pitangas, e ossos de peixes,
mas também
não-comestível dos frutos, o que aumenta a pro- cambuís, araçás), anacardiácea (Anacardium, Spon-
incluem restos
babilidade de encontrá-los nos sítios arqueológicos. dias, Tapirira – caju, cajá, micome), anonácea (An- de outros
A conservação dos restos vegetais depende de o nona, Duguetia – pinhas), bromeliácea (Ananas, animais.
material ter sido ou não exposto ao fogo, intencional Bromelia – ananás, gravatás), cactácea (Cereus), cri- Nos sambaquis,
ou acidentalmente. É bem provável que os restos de sobalanácea (Chrysobalanus – bajuru, também cha- é freqüente
a alternância
coquinhos fossem queimados após a separação da mado maçãzinha-da-praia), malpighiácea (Byrsoni-
entre camadas
parte comestível do fruto, até mesmo como combus- ma – murici), morácea (Ficus – figo), passiflorácea ricas em conchas
tível adicional. Sementes, que com freqüência eram (Passiflora – maracujá, sururuca), sapotácea (Pou- e camadas
torradas, podem ter-se conservado por haverem teria, Sideroxylon – abiu, sapotiaba). Madeira carbo- arenosas.
caído na fogueira. Os tubérculos, em geral cozidos nizada da maior parte dessas espécies foi encontra- Embora a
composição
em água antes do consumo, por certo não eram da nos sedimentos estudados, o que prova sua pre-
do sedimento
expostos diretamente ao fogo. Esse é também o caso sença a pouca distância dos sítios. varie de um sítio
das folhas e dos frutos, consumidos cozidos ou Um caso interessante é o de Sideroxylon obtusifo- a outro,
frescos. Assim sendo, alimentos desta última cate- lium (sapotiaba), arvoreta que produz frutos comes- as características
goria só eram carbonizados excepcionalmente. tíveis e é muito freqüente, hoje, nas proximidades 4 dos artefatos
encontrados
O arqueobotânico inglês John Hather, um dos
são similares
raríssimos especialistas em identificação de tubér- A em todos eles
culos no mundo, confirma que estes são raramente
encontrados em sítios arqueológicos, mas observa
que, mesmo quando presentes, eles em geral passam
despercebidos, porque os métodos de determinação
ainda não estão bem desenvolvidos.
A descoberta de fragmentos de tubérculos atesta
que eles eram largamente utilizados pelos samba-
quieiros, e que a coleta de vegetais contribuiu bastan- B
te para a alimentação dessas populações.
Os tubérculos, fonte importante de amido, subs- Figura 5.
tância indispensável para a alimentação humana, Tubérculo
de Gramineae
são numerosos na vegetação de restinga. Na restinga
ou Cyperaceae,
aberta e na floresta de restinga existem várias espé- visto na lupa
cies de carás. Nas zonas úmidas, ocorrem a taboa (A, escala = 1 mm)
(Typha domingensis) e uma grande diversidade de e no microscópio
gramíneas e ciperáceas que produzem tubérculos eletrônico
de varredura
comestíveis.
(B, escala = 0,1 mm).
A restinga também é extremamente rica em pal- Datado de
meiras e leguminosas, que com freqüência têm se- aproximadamente
mentes comestíveis, e em numerosas espécies fru- 1,7 mil anos atrás,
tíferas. Exemplos destas últimas podem ser sele- ele provém
do sambaqui
cionados nas famílias mirtácea (gêneros Eugenia,
Salinas Peroano

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Figura 6. persos no sedimento quanto nos carvões concentra-

FOTOS RITA SCHEEL-YBERT


Carvão dos provenientes de fogueiras, indica que a coleta de
arqueológico
lenha era aleatória, isto é, os sambaquieiros não esco-
de Sapotaceae
(Sideroxylon aff. lhiam esta ou aquela espécie de planta para queimar.
obtusifolium, O resultado da análise antracológica mostrou
sapotiaba), que a maioria das espécies vegetais corresponde à
em microscopia vegetação que se encontra ainda hoje nas proximi-
eletrônica
dades dos sambaquis.
de varredura
(plano
transversal,
escala =
0,1 mm).
O meio ambiente
dos sambaquis. Os carvões dessa planta (figura 6)
Sambaqui
são particularmente abundantes no material estu- Os sambaquieiros habitavam basicamente a res-
do Forte,
160-170 cm dado, sugerindo que pode ter havido um manejo tinga, mas procuravam se situar também nas pro-
de profundidade dessa espécie. ximidades de outras formações vegetais. O paleo-
ambiente da Região dos Lagos, reconstituído pela
primeira vez, caracterizava-se pelas diversas fisio-
A coleta de lenha nomias da restinga, pela mata seca típica da região
de Cabo Frio, pelo mangue e, em direção ao inte-
A maior parte da lenha utilizada pelos sambaquiei- rior, pela mata atlântica. A floresta de restinga era,
ros provinha da coleta de madeira morta no entor- sem dúvida, muito mais abundante do que atual-
no dos sítios. Isso se deduz do fato de que muitos mente.
fragmentos de carvão apresentam traços de decom- Em Cabo Frio, eles viveram entre 6 mil e 1.300
posição ou de ataque por larvas de insetos, antes da anos atrás, num ambiente caracterizado pela inter-
carbonização (figura 7). face de três associações vegetais principais: a restin-
O grande número de espécies encontradas (mais ga, o mangue e a mata seca.
de uma centena), tanto nas amostras de carvões dis- Nos diagramas antracológicos (figura 8), que mos-
A tram as variações das proporções entre as diversas
plantas ou associações vegetais no curso do tempo,
vê-se que as mirtáceas, típicas da restinga, são abun-
dantes em todos os sítios estudados. A restinga aber-
ta predomina no sambaqui do Forte, enquanto nos
sambaquis Salinas Peroano e Boca da Barra a mata
seca e a mata de restinga são mais importantes. Isso
resulta da localização de cada sítio: enquanto o
sambaqui do Forte fica na beira da praia, domínio
fitossociológico da restinga aberta, os outros dois
situam-se na margem leste do canal de Itajuru, sobre
pequenas elevações cristalinas dominadas por forma-
ções florestais. O registro antracológico representa
em essência a vegetação local. Por isso, a recons-
tituição do ambiente regional só pode ser feita a par-
B tir do estudo de grande número de sítios, distribuí-
dos por uma área relativamente ampla.
No sambaqui do Meio, os raros microfragmentos
Figura 7. de carvão encontrados correspondem a espécies típi-
Fragmentos cas da restinga. Pode-se deduzir que essa vegetação
de carvão existia no entorno do sítio há mais ou menos 5,6 mil
com traços
anos, datação da base do sítio, mas não foi possível
de decomposição
anterior obter uma reconstituição ambiental mais precisa.
à carbonização: No sambaqui da Ponta da Cabeça, em Arraial do
em A, por ataque Cabo, a restinga predominou em relação à mata seca
fúngico desde cerca de 3,5 mil até pouco menos de 2 mil anos
(apodrecimento);
atrás. Em Saquarema, onde se situam os sambaquis
em B, por ataque
de larvas da Beirada e da Pontinha, a restinga aberta predomi-
de insetos nou largamente durante todo o período estudado:

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entre 4,5 mil e 3,8 mil anos atrás, no primeiro, e de Figura 8.


aproximadamente 2,3 mil até menos de 1,7 mil anos Diagramas
antracológicos
atrás, no segundo. As baixas porcentagens de elemen- sintéticos dos
tos de formações florestais e de mangue nesses dois sambaquis do
sambaquis não indicam necessariamente que tais Forte, Salinas
formações fossem raras naquela época, mas sim que Peroano,
ficavam mais longe dos sítios, de modo que a explo- Boca da Barra,
Ponta da Cabeça,
ração de madeira era mais reduzida. Pontinha
As únicas variações significativas observadas e Beirada.
nos diagramas antracológicos referem-se à vegeta- Os números
ção de mangue. Em Cabo Frio, elas podem ser em vermelho
atribuídas a oscilações climáticas que provocaram indicam a idade
aproximada,
variações na salinidade da lagoa de Araruama. Há em anos,
cerca de 6 mil anos, o clima dessa área era mais das camadas
úmido que o atual, tendo havido em seguida um assinaladas
período seco que durou aproximadamente até 2,4 em centímetros
mil anos atrás. Um breve episódio pluvioso, entre
2,4 mil e 2 mil anos atrás, foi seguido por um novo
período seco, que se manteve pelo menos até o fim
da ocupação da área.
Em Arraial do Cabo, há duas hipóteses para
explicar o aumento do mangue, como se verifica na
parte superior do diagrama, há pouco menos de
2 mil anos. Ele tanto pode corresponder a um au-
Sugestões
mento real desse tipo de vegetação no ambiente, para leitura
como resultar de um crescimento populacional no
sambaqui. De fato, os 30 cm superiores do sítio são FIGUTI, L., “O homem
considerados o apogeu da ocupação, o que pode ter pré-histórico,
o molusco
provocado uma extensão da área de coleta de le- e o sambaqui:
nha. Seja como for, a presença de elementos de considerações
sobre a subsistência
mangue em Ponta da Cabeça é muito importante,
dos povos
pois essa vegetação, que se encontrava provavel- sambaquieiros”,
mente nas margens da lagoa de Araruama, não in Revista
MAE-USP,
existe mais na região. v. 3, p. 67,
Apesar das oscilações climáticas que influencia- 1993.
GASPAR, M.D.,
ram a vegetação de mangue, sobretudo na área de Sambaqui:
Cabo Frio, nenhum outro indício de mudança no Arqueologia
ecossistema vegetal foi observado ao longo de vários do litoral brasileiro,
Rio de Janeiro,
séculos de ocupação humana. Isso significa que a Jorge Zahar Editor,
vegetação de terra firme da região costeira (princi- 2000.
SCHEEL, R.; GASPAR,
palmente a restinga e a mata seca) manteve-se de M.D. & YBERT, J.P.,
modo bastante estável pelo menos durante os últimos “Antracologia,
6 mil anos, e não sofreu nenhuma modificação de ori- uma nova fonte
de informações
gem climática nem antrópica durante esse período. para a arqueologia
É provável que essas formações vegetais, as mesmas brasileira”,
in Revista MAE-USP,
que existem hoje na região, só tenham começado a v. 6, p. 3,
sofrer alterações significativas a partir do período co- 1996.
TENÓRIO, M.C.,
lonial, por causa do extrativismo, da ocupação da fai-
“Agricultura
xa costeira e também, atualmente, do turismo. e coleta de vegetais
A estabilidade do meio ambiente vegetal teve na pré-história
brasileira“,
certamente conseqüências muito importantes para p. 22, in ALVES
as populações pré-históricas. Ela pode ter sido um FILHO, I. (org.),
História Pré-Colonial
fator decisivo na vida dos sambaquieiros, contri- do Brasil,
buindo para sua sedentarização e para a conserva- Rio de Janeiro,
ção de um sistema sociocultural estável, que se ed. Europa,
1994.
manteve por mais de 6 mil anos. n

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