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Metodologias ativas na construção do pensamento empreendedor no ensino

de design

Délcio Julião Emar de Almeida


Centro Universitário de Belo Horizonte - UNIBH
delcio.almeida@prof.unibh.br

Rangel Benedito Sales de Almeida


Centro Universitário de Belo Horizonte - UNIBH
rangel.almeida@prof.unibh.br

Resumo: O presente artigo apresenta a experiência da aplicação de metodologias


ativas objetivando a construção do aprendizado sob o viés do pensamento
empreendedor, contribuindo para a percepção do docente na busca e identificação
de oportunidades de atuação profissional, de forma autônoma, reforçando o
protagonismo e a capacidade de trabalho em equipe. Dessa forma, serão descritos
os procedimentos metodológicos aplicados em um projeto interdisciplinar no
curso tecnólogo de Design Gráfico, no qual os envolvidos propuseram dinâmicas
ativas na concepção, organização e controle de projetos de mostras exposicionais.
Para tal, serão discutidos aportes teóricos relacionados ao empreendedorismo,
inovação, metodologias ativas e interdisciplinaridade. Os resultados obtidos
demonstram a validade do alinhamento de conceitos teóricos e práticos na
construção do conhecimento, em um intenso compartilhamento de saberes e
vivências.

Palavras-chave: empreendedorismo, inovação, metodologias ativas,


interdisciplinaridade, ensino de design

1. INTRODUÇÃO
Estimular o protagonismo do docente. Foi este o principal motivador que guiou a
concepção da proposta de se trabalhar com projetos interdisciplinares no Centro Universitário
de Belo Horizonte – UNIBH. Para tal, construiu-se uma estrutura didática baseada em
preceitos metodológicos que contemplassem ações afirmativas e concorressem para a
autonomia dos atores do processo, intencionando o aprendizado significativo e a
potencialização do pensamento empreendedor. No sentido de alinhar teoria e prática, em um
mundo cada vez mais competitivo, o qual passa por transformações intensas, faz-se urgente a
reflexão a respeito de como a academia contribui para o despertamento do empreendedorismo
em seus docentes e discentes, não apenas no sentido da pesquisa, mas antes na busca de
projetos e produtos inovadores, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico do
país. Havia a necessidade da organização de estratégias que permitisse a aplicação de técnicas
e metodologias ativas, como um caminho para se alcançar tais objetivos. A grande questão era
como alinhar os conteúdos preestabelecidos pelos Projetos Pedagógicos dos Cursos – PPCs e
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tais metodologias, como ensino híbrido, sala de aula invertida dentre outros, enfatizando um
ensino baseado em competências e habilidades? Um programa de ensino ativo vai além da
simples transmissão de conhecimentos e informações, sendo antes estruturado na exploração
das capacidades individuais do discente, no relacionamento horizontalizado com seus
professores e colegas, na valorização de saberes historicamente construídos, empatia,
alteridade e proatividade.
Portanto, foi desenvolvida a disciplina de Projetos Interdisciplinares, no sentido de
congregar os saberes de todas as disciplinas lecionadas no período, baseando-se em
metodologias ativas e compartilhamento de saberes. Tal disciplina, coordenada por um
professor mediador, segue o conteúdo das disciplinas envolvidas, definindo-se um tema geral
e apresentado às equipes envolvidas no projeto, as quais definem, com a contribuição dos
discentes, a abordagem que consideram mais relevantes. O presente artigo objetiva
demonstrar como foi feita essa organização e os resultados obtidos. Primeiramente, serão
discutidos, na revisão da teoria, conceitos relacionados aos termos empreendedorismo e
inovação, sua relação com o ensino e a construção do conhecimento. Em segundo lugar, serão
apresentados referenciais ligados às metodologias ativas de ensino e suas contribuições na
efetivação da prática interdisciplinar. Na etapa da descrição dos procedimentos
metodológicos, serão descritos, com mais detalhes, a disciplina Projeto Interdisciplinar, o
tema e subtemas desenvolvidos pelas equipes de docentes do curso tecnólogo de Design
Gráfico, os detalhes referentes a cada etapa dos projetos concretizados. Dessa forma, serão
analisados os resultados e possíveis desdobramentos advindos das iniciativas apresentadas,
concluindo assim a narrativa desse artigo.

2 REVISÃO DA LITERATURA
Será apresentada, a seguir, a revisão da literatura no que diz respeito aos conceitos de
empreendedorismo, metodologias ativas, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, no
sentido da busca pelo entendimento dos projetos integrados, focados em propostas
colaborativas, objetivando a formação de perfiz autônomos, competentes, habilidosos e
críticos, não apenas no que se relaciona ao campo de atuação profissional, mas antes
direcionadas para a construção de um caráter alinhado a valores sociais e no mundo das
relações humanas.
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2.1 Empreendedorismo e Inovação na educação


Existem diversas definições a respeito do que seja o termo empreendedorismo. Uma
das possíveis interpretações seria aquela que se refere ao sujeito criativo e criador de novas
formas de fazer negócio, propondo novos produtos ou serviços, organizações e recursos. O
empreendedor seria aquele que identifica oportunidades em adversidades, propondo novas
soluções embasadas nas situações cotidianas. De acordo com Dornelas (2001) o sujeito
empreendedor se caracteriza pela habilidade de identificar oportunidades e capitalizar sobre
ela, sempre atento aos riscos e vantagens advindas do ato de empreender. O autor argumenta
que esse indivíduo é um apaixonado pelo que faz e utiliza criativamente todos os recursos que
possui para transformar o ambiente em que vive. Possui, ainda, a noção da possibilidade de
fracasso, mas igualmente possui a característica da resiliência, já que “requer a devoção, o
comprometimento de tempo e o esforço necessário” (Dornelas, 2001, p.38). Essa potência
criativa e produtiva vai ao encontro do pensamento de Chiavenato (2007), o qual considera o
empreendedor como uma fonte energética transformadora e essencial para o crescimento
coletivo.
Apesar da ideia de que um indivíduo com perfil empreendedor ser inato não ser
totalmente errada, hoje é consenso que é possível ensinar empreendedorismo, incentivando os
sujeitos envolvidos no processo a descobrir suas próprias características empreendedoras,
observando os ambientes e fatores internos e externos, nas diversas áreas da sociedade. Para
Chiavenato (2007), o ato de empreender se associa estreitamente ao ato de aprender. Antes de
ser uma disciplina, o empreendedorismo pode estar inserido no contexto de várias outras
cadeiras e currículos, enfocando nas habilidades empreendedoras individuais, as quais devem
ser identificadas e classificadas, no sentido de serem compreendidas e potencializadas. Deve,
ainda, treinar os envolvidos na compreensão do processo empreendedor, na preparação de
planos de negócio, na identificação de fontes de recursos e financiamento, no gerenciamento e
controle de qualquer negócio ou carreira (Dornelas, 2001).
O ato de empreender está diretamente ligado ao de inovar. Empreendedorismo é
gerador de inovação e, consequentemente, aciona uma corrente que se retroalimenta de
inovação (Costa, Barbosa e Silva, 2011). Os autores sugerem que se uma instituição de ensino
busca se caracterizar enquanto empreendedora, deve, a priori, seguir alguns preceitos básicos,
como criar disciplinas voltadas ao tema, a criação de empresas juniores e incubadoras, além
de consultoria envolvendo discentes, discentes e setor produtivo.
Pode-se dizer, portanto, que inovação é a exploração bem sucedida de ideias, e essas
ideias pode surgir a partir do incentivo do espírito empreendedor. Um processo inovador pode
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ser radical ou incremental, esse aprimorando sistemas existentes, aquele transformando


totalmente um status quo preestabelecido. Para Borges e Tauchen (2012, p.5), “inovação está
relacionada com o processo de ruptura com o paradigma dominante que faz ir além da
reprodução e avança ao contribuir para a construção de novos saberes”, ou seja, o espaço
acadêmico se apresenta como locus principal no processo de, por meio de atos
empreendedores, levar à inovação. Para tal, ações ligadas à interdisciplinaridade e
metodologias ativas são imprescindíveis para alcançar tais patamares.

2.2 Interdisciplinaridade e o ensino inovador


Vive-se em um mundo no qual as mudanças tecnológicas estão ocorrendo de forma
acelerada, transformando as relações de comunicação e de consumo. Não há mais
consumidor, mas antes indivíduos participativos e influenciadores nas dinâmicas sociais. De
acordo com Rancière (2005), o mundo das relações se dá por meio de uma partilha do
comum, composto pela produção cultural humana, momentos em que são compartilhados
referências, pensamentos, códigos e comportamentos. Como participante ativo do contexto
social, o indivíduo influencia na estrutura desse todo compartilhado. Ranciére argumenta que
esse “sensível” se apresenta ao indivíduo e está disponível para que esse indivíduo o perceba,
o codificando e recodificando. Essa dinâmica transforma e amplia os discursos e as
visibilidades, no corpo complexo das relações éticas, representacionais e estéticas
(RANCIÈRE, 2005).
Não é possível, portanto, enxergar e tratar da mesma forma tradicional, os envolvidos
nas dinâmicas de ensino e aprendizagem nos tempos atuais. As relações verticalizadas, nas
quais os alunos são apenas receptores do conhecimento pragmático que é transmitido por um
professor mecanizado, não pode ser mais aceito. A reinvenção do cotidiano para se abrir a
novas possibilidades, transformando paradigmas, apresenta-se como uma urgência, pois,
como aponta Fontoura (2011), na superação das formas tradicionais de pensamento e
domínios da disciplinares. Vygotsky (1991) reflete a respeito do papel do corpo social na
formação humana, refletindo nos processos de ensino e aprendizagem. O autor discute que o
desenvolvimento intelectual “dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática
e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente
independentes de desenvolvimento, convergem” (VYGOTSKY, 1991, p.20). Concordando
com essa afirmação, Morin (2003) discute que o ser humano é naturalmente interdisciplinar,
portador de dimensões físicas e culturais. O autor clama para a necessidade de um
pensamento profundo a respeito da realidade, no momento em que somente esse tipo de
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pensamento pode exercer alguma mudança em vivências que se apresentam igualmente


complexas. A Universidade deve, portanto, se adequar à contemporaneidade e “realizar sua
missão transecular de conservação, transmissão e enriquecimento de um patrimônio cultural,
sem o que não passaríamos de máquinas de produção e consumo” (MORIN, 2003, p.82).
Toda essa reflexão aponta para a urgência na abordagem das ações interdisciplinares
que refere ao ensino superior, colocando em cheque alguns aspectos da disciplinaridade e do
especialismo que podem se tornar barreiras para a compreensão do mundo. Fontoura (2011)
argumenta que a abrangência do conhecimento humano deve estar aliada à sabedoria, em toda
sua profundidade, ou seja, a conexão e noção das relações de interdependências entre corpos
de conhecimento que, segundo Japiassu (1976), se traduzem no termo interdisciplinaridade, o
qual se refere aos empreendimentos que incorporam resultados de várias especialidades e
disciplinas. Neste processo, métodos, procedimentos e instrumentos são comparados,
julgados e transformados. Entretanto, o termo disciplinaridade pode se entendido como o ato
de explorar de área específica de conhecimento, estabelecido em fronteiras científicas
homogêneas. Se difere da interdisciplinaridade, que “se caracteriza pela intensidade de trocas
entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas, no interior de um projeto
específico de pesquisa” (JAPIASSU, 1976, p.74). O resultado dessa dinâmica é um produto
mais complexo, maior, transformado e abrangente, o qual é nomeado por Piaget (1985) como
transdisciplinaridade, que se refere àquilo que transpassa para além da disciplinaridade,
alinhando e mesclando conhecimentos (NICOLESCU, 1999). A transdisciplinaridade permite
dimensões múltiplas de relações entre os níveis da realidade, em uma articulação holística
entre a ciência e a cultura (SANTOS, 2005). Portanto, as estratégias interdisciplinares no
âmbito as instituições de ensino superior estabelecem devido às pressões contemporâneas, do
momento histórico, a qual exige que a ciência e a tecnologia estejam alinhadas aos contextos
criativos e sociais (Jantsch & Bianchetti, 1995). A função da Universidade é formar cidadãos
éticos e possuidores de pensamentos complexos, os quais conectam os conhecimentos
igualmente complexos.

2.3 Metodologias ativas aplicada aos Projetos Interdisciplinares

A contemporaneidade é representada por mudanças significativas na constituição da


sociedade, fazendo-se necessária uma readequação das metodologias educacionais
responsáveis para a formação do indivíduo para este novo cenário. Nesse sentido, surge a
proposta pedagógica proposta pelo Conselho Nacional de Educação (2001), que apontam para
a formação de um profissional apto a solucionar problemas em níveis individuais ou
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coletivos, bem como tomar decisões apropriadas ao exercício da liderança, da administração e


do gerenciamento. As Metodologias Ativas, portanto, baseiam-se em formas de desenvolver o
processo de aprendizado, a partir da utilização de experiências reais ou simuladas, objetivadas
pela condição de solucionar, com êxito, desafios provenientes das atividades fundamentais
para o exercício da prática social em diferentes contextos.

De acordo com os estudos de Berbel (2011) os reflexos da utilização das Metodologias


Ativas no processo contemporâneo de ensino proporcionam situações experienciais
motivadoras aos discentes. Propõe-se uma experiência teórico-empírica para os projetos
interdisciplinares, ao passo em que deverão levar o discente a solucionar problemas
contextualizados à sua praxis. As Metodologias Ativas seriam, nesse sentido, fundamentais
para fomentar situações nas quais esse futuro profissional deverá lidar no futuro. Dessa
maneira, tais metodologias seriam capazes de preparar um profissional, ainda em formação, a
solucionar problemas, por meio de autonomia e protagonismo.

3 Materiais e métodos

3.1 Apresentação dos Projetos Interdisciplinares

A vigente matriz curricular do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH),


propõe que semestralmente sejam realizados projetos interdisciplinares com temas em
consonância com as disciplinas lecionadas naquele módulo. Os temas são direcionados às
unidades de formação e cada semestre uma área específica do conhecimento é trabalhada a
partir do viés das disciplinas do mesmo período. Conhecido inicialmente como Trabalho
Interdisciplinar de Graduação (TIG), após a reformulação da matriz curricular proposta em
2015, passou a chamar-se Projeto Interdisciplinar (PI). Contudo, mantém os mesmos moldes
de propostas, execução e critérios de avaliação. Todas as orientações, normas de distribuição
de notas, bem como os critérios de avaliação são descritos pelo edital do TIG / PI, documento
redigido de maneira colaborativa e cooperativa com o corpo docente do módulo no qual o
projeto será proposto, sendo revisado e validado por esta equipe e pela coordenação. Esse
documento é disponibilizado aos discentes para que tenham conhecimento sobre os
procedimentos referentes ao projeto daquele semestre.

3.2 Projeto Exposições Itinerantes

A proposta para a edição do TIG desenvolvido pelo terceiro módulo do curso


tecnológico em Design Gráfico do UniBH para o primeiro semestre de 2016 foi realizar um
projeto que, para além da formação profissional na área proposta pela matriz curricular,
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pudesse integrar habilidades e competências para o atendimento a necessidades de um cliente


real. Ademais, a proposta deveria fomentar ações empreendedoras para os discentes ao passo
em que seus projetos fossem factíveis e financiáveis.

Nesse sentido, foi proposto o desenvolvimento do projeto Exposições Itinerantes II: O


Designer Gráfico e o Planejamento de Espaços Culturais. O projeto corrobora com o
ementário de todas as disciplinas ministradas durante o terceiro módulo do curso Tecnológico
em Design Gráfico, pois desenvolve um projeto complexo que envolve ações relacionadas aos
conteúdos das disciplinas Sinalética e Design Corporativo, Acabamento e Design de
Embalagens, Insumos Gráficos e Sistemas de Impressão, Pré-Impressão e Fechamento de
Arquivos. Todos os conteúdos foram alinhados e direcionados para que cada disciplina
contribuísse para o planejamento, produção e realização de uma exposição itinerante. A
proposta é um desdobramento da experiência de Emar de Almeida & Sales de Almeida
(2016), realizada no segundo semestre de 2015 na mesma instituição, integrando teoria e
prática, fomentando posturas cooperativas e estimulando finalidades comunicativas e
informacionais. O projeto tomou como premissa a organização e o uso de ferramentas
comunicacionais que promovessem a maior integração possível entre os participantes, tanto
docentes quanto discentes, nos processos de inicialização, planejamento, execução, controle e
conclusão dos referidos projetos. Tais preocupações surgem da pouca cultura de projeto,
principalmente no que tange à educação, como afirma Moura & Barbosa (2007), “o panorama
atual parece estar mais para uma ‘cultura do improviso’ [...] hábitos de bons planejamentos,
gestão, controle, acompanhamento e avaliação são raros nesse meio”.

Foram realizadas para esta edição do TIG reuniões entre os professores do módulo que
reestruturaram o tema Exposições Itinerantes com foco em ações inovadoras e
empreendedoras visto que tal edição deveria estar em consonância com os espaços
exposicionais do Cine Theatro Brasil Vallourec, situado em Belo Horizonte, Minas Gerais.

O planejamento da exposição itinerante envolveu a produção de uma maquete,


reproduzindo em escala, dos espaços exposicionais e projeto de sinalética, um kit composto
por materiais de divulgação da exposição e um projeto de captação de recursos para realizar
esta exposição. Nesse sentido, as equipes de trabalho poderiam desenvolver as habilidades e
competências relacionadas à elaboração de projetos exposicionais não tão somente estéticos e
funcionais, mas também factíveis no sentido de sua sustentabilidade financeira.
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As maquetes deveriam representar ao menos um dos espaços exposicionais do Cine


Theatro Brasil Vallourec, assim como mostra a Figura 01:

Figura 01: Detalhes das maquetes produzidas por algumas das equipes de trabalho.
Fonte: Dos Autores (2016)

Para a realização desta etapa do projeto, foram realizadas oficinas coletivas com os
grupos de trabalho para que pudessem planejar e executar as maquetes. Todas as oficinas
foram realizadas no Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA), utilizado para a
prática de prototipagem no UniBH. As oficinas foram promovidas e monitoradas pelo
professor orientador do TIG, nas quais foram propostas situações reais de resolução de
problemas, prototipagem, experimentação e execução de modelos, como mostra a Figura 02:

Figura 02: Discentes durante as oficinas de prototipagem realizadas no LEGRA


Fonte: Dos Autores (2016)

O kit composto por materiais de divulgação da exposição tratava-se de um material


que estivesse em consonância com a proposta visual da exposição que pudesse ser
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apresentado a possíveis patrocinadores. O kit deveria conter peças de divulgação, além de um


brinde que simbolizasse a exposição, bem como um projeto detalhado envolvendo os custos
para a realização deste evento, como mostra a Figura 03:

Figura 03: Um dos kits com materiais de divulgação produzidos pelos discentes para o projeto
Exposições Itinerantes II.
Fonte: Zaira Fonseca (2016)

Por fim, as equipes de trabalho deveriam apresentar um detalhado projeto de captação


de recursos para a realização de sua exposição. A questão acerca deste projeto é a capacitação
do profissional em Design Gráfico para além dos aspectos funcionais de suas propostas. Ao se
pensar que esse profissional opera em termos inter e transdisciplinar em sua praxis, faz-se
necessária a reflexão e a conscientização por parte desses profissionais dos custos
relacionados à implementação de seus projetos. Para a realização desta etapa, foram
realizadas oficinas sobre Processos de captação de recursos via Lei Federal de Incentivo à
Cultura (Lei nº 8.313/91), a Lei Rouanet, e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, (Lei nº
17.615/08), bem como sobre o processo contemporâneo de financiamento por arrecadação
coletiva, o crowdfunding. Cada um dos itens propostos pelos discentes deveria estar
acompanhado de uma ficha de produção que envolvesse seus dados técnicos funcionais e
orçamentais. Dessa maneira, haveria como mensurar em termos financeiros os custos para a
realização das exposições.

3.3 Exposição Tribos & Espaços

A partir de uma parceria entre o UniBH e o Cine Theatro Brasil Vallourec, um dos
mais tradicionais espaços culturais da cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas
Gerais, foram propostas uma série de ações conjuntas para os TIGs dos cursos Tecnológicos
em Design Gráfico, Design de Moda, Fotografia e para os Bacharelados em Publicidade e
Propaganda e Design. As ações conjuntas dessas áreas do conhecimento convergiram-se na
exposição Tribos & Espaços (Figura 4), que apresentou estampas digitais, maquetes,
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fotografias e acessórios de moda. A exposição de todos os projetos executados pelos discentes


desses cursos do UniBH foi aberta à visitação pública e foi completamente planejada e
realizada por docentes e discentes da instituição.

Figura x: Exposição Tribos & Espaços realizada no Cine Theatro Brasil Vallourec na cidade de Belo
Horizonte.
Fonte: Dos Autores e Rodney Costa (2016)

3.4 Circuito Acadêmico

Semestralmente, é realizado um das maiores mostras de trabalhos acadêmicos do


estado de Minas Gerais: O Circuito Acadêmico. O evento reúne todos os TIGs e PIs
desenvolvidos pelos discentes do UniBH em absolutamente todas as áreas do conhecimento.
Aos moldes da proposta de Emar de Almeida & Sales de Almeida (2016), realizada durante a
edição do primeiro semestre de 2015, foi concedido um espaço de 27m² no qual os projetos
puderam ser exibido ao público do evento. As equipes apresentaram o material impresso
(maquete, kit com material de divulgação, projeto de captação de recursos), além de um
banner no qual estava resumido todo projeto, tal como vê-se na Figura 5. O formato de
apresentação simulando uma exposição corrobora e complementa a proposta do projeto do
TIG desta edição. Desta maneira, foi garantida maior visibilidade para todos os projetos e,
noutro contexto, os discentes puderam apresentar suas criações para outros colegas, docentes,
profissionais e empresários que circularam pelos corredores do evento acadêmico.
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Figura x: Projetos expostos durante a edição do Circuito Acadêmico no UniBH


no primeiro semestre de 2016
Fonte: Dos Autores (2016)

4 Considerações finais

O presente projeto demonstra que a vivência em uma situação de produção de projetos


reais, direcionados para um cliente real e exposta a públicos diversos, definem um perfil
empreendedor e inovador dos discentes. Ampliando as possibilidade de atuação profissional
do designer, o projeto aponta que tais metodologias ativas fornecem aportes teóricos e
práticos essenciais à prática profissional, francamente interdisciplinar. O apoio da equipe
docente foi essencial para que houvesse uma articulação eficaz, compartilhando informações
por redes sociais e reuniões regulares. Isso demonstra que a formação acadêmica e
profissional se encontra estreitamente associada à formação humana, incentivando os
discentes a compartilhamento sistêmico e holístico de experiências.
Tais projetos interdisciplinares apontam para caminhos novos para a aprendizagem,
garantindo a autonomia e o protagonismo, possibilitando o estabelecimento do espírito
empreendedor e caminhos para a inovação. O Projeto Exposições Itinerantes expandiram os
horizontes do que havia sido planejado, já que as propostas de crowndfounding permitiram
que muitos projetos recebessem propostas para a concretização. Isso demonstra que
metodologias ativas, associadas aos preceitos da interdisciplinaridade, lançam as bases para a
fundamentação do pensamento empreendedor e, como resultado, produtos inovadores. Uma
mudança a caminho, no que tange o desenvolvimento do país.
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