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Dezembro, 2015
Primeiramente encontra-se uma introdução com algumas noções base da PEA, como os
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Abstract: The present article discusses the Autism Spectrum Disorder (ASD) and
some of the neuropsychological assessment approaches this disorder. At first there are
an introduction with some basic notions of ASD, as the symptoms, risk factors,
consequences, differential diagnosis, prevalence and prognosis. After that are present
Neuropsychological assessment of the ASD consists in the central element of this work,
assessment; Autism.
Introdução
palavra grega autos que significa “o si mesmo”, o termo foi criado para definir uma
condição psicótica do sujeito que vive no seu mundo interior e perde o contacto com a
Boutot, 2009). No que refere aos percursos do autismo enquanto perturbação mental,
existiu uma evolução num conjunto de catalogações diferentes, desde o seu diagnóstico
ser confundido com esquizofrenia (Zager et al, 2009) até aos dias de hoje, em que temos
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comunicação e interação social em múltiplos contextos (i.e. deficit na reciprocidade
pelo menos duas das seguintes situações - a) movimentos motores, uso de objetos ou
mesmo que não se tenham manifestado desde logo; 4) os sintomas causarem prejuízo
de gravidade desta perturbação que varia entre três níveis que incluem a comunicação
Importa ter em conta o diagnóstico diferencial desta perturbação, uma vez que alguns
dos seus sintomas podem ser semelhantes aos de outras patologias. Síndrome de Rett,
3
Como factores de risco poderemos apontar uma idade parental avançada, um
reduzido peso ao nascer (factores ambientais), história familiar de PEA (factor genético)
(APA, 2014). Relativamente aos sintomas desta perturbação, estes aparecem por norma
durante o segundo ano de vida da criança, ainda que possam ser verificados antes dos 12
meses (se o atraso no desenvolvimento for grave) ou depois dos 24 meses (se os
sintomas forem muito subtis). Os primeiros sintomas envolvem por norma atraso no
2010).
parece ser quatro vezes mais frequente no sexo masculino que no feminino (APA,
2014). Segundo Oliveira (2005), que estudou a prevalência da PEA em Portugal, uma
em cada mil crianças estão diagnosticadas como tendo esta perturbação. Sabe-se os
casos de PEA quer em Portugal, quer a nível internacional têm vindo a aumentar
(Oliveira, 2005; Wall, 2010), o que pode ser explicado pelo maior conhecimento desta
patologia por parte dos profissionais de saúde e das sociedades em geral (Ozonoff &
Rogers, 2003).
cabelo) (APA, 2014; Wall, 2010). Mais tarde na idade adulta, aparecem dificuldades
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inesperado e o novo. Quanto à velhice a literatura ainda não apresenta muitos
PEA não é uma perturbação degenerativa e como tal na maioria dos indivíduos os
entanto que a maioria dos indivíduos adultos não consegue viver e trabalhar de forma
Etiologia
Existem várias teorias que abordam a origem da PEA, sendo que se trata de uma
perturbação com uma etiologia heterogénea complexa constituída por múltiplos factores
e que acarreta a idiossincrasia de cada sujeito (Zager et al., 2009; González, Solovieva,
Lázaro, Quintanar & Machinskaya, 2014). Entre as teorias mais conhecidas ressaltam-se
este quadro surgiram as teorias biológicas, que apontam que as características clínicas
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do autismo advêm de problemas neurodesenvolvimentais (Carr, 2006 cit in Oliveira,
Oliveira, 2010).
comunicação; a teoria da coerência central (TCC), que procura explicar os pontos fracos
e as competências exímias apresentadas pelos indivíduos com autismo (Happé & Frith,
1996); e a teoria das funções executivas, que remete para os padrões de comportamento
Severidade da sintomatologia
passagem de um grau mais severo, para um grau menos severo (Brock, Jimerson &
Hansen, 2006).
os outros de forma empática, o que acaba por prejudicar todo o contato relacional do
individuo (Brock, Jimerson & Hansen, 2006). Neste sentido podemos definir os
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indivíduos, relativamente à interacção social como: interessados nas interacções sociais
paralelas); com interacção social limitada (Ozonoff & Rogers, 2003) (i.e. interacções
sistema de linguagem (i.e. quando o individuo tem uma tendência acentuada para não
comunicar) (Brock et al., 2006). As dificuldades na comunicação são por vezes de tal
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para o objecto (comportamento externo, leque restrito, comportamento marcado,
Avaliação Neuropsicológica
relevante a ter conta em todo o processo (Bosa & Callias, 2000; Zager et al, 2009).
adequados para si. Quanto mais precocemente o mesmo for realizado, mais cedo se
realizada com base na investigação mais recente (Perry et al., 2002), e requer a
quotidiano que conjugue também informação fornecida pelos pais, pelos agentes
educativos e/ou por outros profissionais de saúde que lidem com a criança. Entende-se
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também como importante a recolha de informação relativa a antecedentes biológicos e
ambientais (Bosa & Callias, 2000; Perry et al., 2002; Rotta, Ohlweiler & Riesgo, 2005).
lesões cerebrais, Lúria veio introduzir a noção de que o exercício desta área passa
também pela localização dinâmica de funções e pela investigação das funções corticais
Hannay & Fischer, 2004; Fonseca, 2001 cit in Maia et al., 2009). Para tal utiliza
2014).
dos mesmos na vida do individuo irá depender da sua extensão, localização e das
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prognósticos presentes ao longo da vida do indivíduo. É neste último grupo que se
PEA, sendo que quanto menor a idade da criança, mais difícil se torna a utilização de
instrumentos, enquanto que quanto maior for a idade, mais sofisticada pode ser a
Rappin, 2009). Apesar de comummente pouco utilizada, este tipo de avaliação revela-se
recurso à fisiologia e neurologia (González et al., 2014). Assim sendo, entende-se que o
EEG, apoiado por uma análise qualitativa, é um dos métodos de referência de avaliação
nesta perturbação (Soloviera, García, Machinskaya & Quintanar, 2012), uma vez que
As anomalias encontradas pelo EGG são na maioria dos casos de caratér focal (i.e.
localizadas), sendo que existem também algumas alterações estruturais difusas. Estudos
frontais, centrais ou temporais do córtex (Ünal et al., 2009). Esses padrões de atividade
elétrica são muitas vezes de tipo epiléptico, o que vem consequentemente justificar o
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nas estruturas límbicas, no hipotálamo, diencáfalo, atrofias subcorticais e
parietofrontais.
Outros estudos neurofisiológicos indicam que crianças com autismo tendem a ter um
2012).
indivíduos com PEA, foram encontrados vários défices cognitivos (Gadia, Tuchman &
al., 2006). Avaliações com o teste Wisconsin, revelam baixo desempenho com prejuízos
Várias são as avaliações que tendem a validar a envolvência de défices nas funções
executivas e na memória de trabalho dos indivíduos com PEA, e existem alguns estudos
que o comprovam (e.g. Goldberg et al., 2005; William et al., 2006; Borges et al., 2008).
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componentes não gerais, mas sim particulares dentro da perturbação (e.g. Renner,
uma correlação entre os prejuízos nessa função e o lobo temporal medial (Baron-Cohen,
2004).
tipo psicométrico, uma vez que as mesmas nos permitem fazer uma análise quantitativa,
Alguns dos instrumentos que podem ser utilizados na PEA são: o Autism Diagnostic
Os mais utilizados em Portugal são a Chidhood Autism Rating Scale (CARS) e a Checklist
for Autism in Toddlers (CHAT) (Marques, 1998; Pereira, 1999; Gillberg, Nordin & Ehlas,
1996).
desenvolvido como ferramenta de investigação para a utilização com os pais da criança que
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permite a obtenção de informações sobre a linguagem e comunicação, desenvolvimento social e
O Autism Behaviour Checklist (ABC) de Krug, Arick e Almond (1980, cit in Marques,
1998), visa diferenciar crianças com autismo de crianças com deficiência mental severa, cegas
e/ou surdas e com perturbações emocionais. Permite a recolha de informação referente a 5 áreas
sociabilidade.
in Marques, 1998) pretende avaliar a severidade dos comportamentos autistas, podendo ser
Evaluation (IBSE) de Adrien e colaboradores (1992, cit in Marques, 1998) é uma adaptação da
anterior.
O BOS de Freeman, Ritvo e Schroth (1984 cit in Marques, 1998), é uma escala que permite
com PEA. A sua aplicação consiste na exposição da criança a brinquedos adequados à sua
comportamentos registados.
aplicado em crianças dos 6 meses aos 12 anos de idade e procura informações acerca da
motricidade fina e grossa. O PEP-R não é especificador da PEA, mas pode ser muito
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útil na diferenciação de outras perturbações do desenvolvimento, indicando diferenças e
actividades especificas que compromete as interacções com o que contexto) (Lam &
Aman, 2006).
A CARS de Schopler, DeVillis e Kock (1980 cit in Gillberg, Nordin & Ehlas, 1996), foi
construída para a utilização clínica de tratamento e educação de crianças com autismo e défices
na comunicação e é uma das escalas mais utilizadas em Portugal. É formada por 15 itens
comportamentais, podendo ser aplicada a partir os 24 meses de idade. Relaciona aspectos como:
relação com pessoas, imitação, resposta emocional, uso do corpo, uso de objectos, adaptação à
consciência de resposta intelectual e impressões gerais. Cada item é pontuado numa escala de 1
Esta escala pode ser utilizada em diversos ambientes, como por exemplo salas de aula,
actividades de grupo e entrevistas com os pais (Marques, 1998; Gillberg et al., 1996;
Lampreia, 2003).
O CHAT de Baron-Cohen, Allen e Gillberg (1992 cit in Pereira, 1999), que juntamente com
o CARS é um dos testes mais utilizados em Portugal, é uma entrevista abrangente que pode ser
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utilizada para avaliações das rotinas da criança, podendo indicar sinais da presença de
sintomatologia autista. Pode ser aplicada a crianças a partir dos 18 meses, sendo composta por 9
perguntas dicotómicas (i.e. com respostas sim/não) aos pais ou cuidadores da criança e de um
Avaliar o quociente de inteligência (QI) não deve ser por si só, critério de
diagnóstico para a PEA, mas demonstra-se contudo a sua importante uma vez que esse
Intervenção neuropsicologica
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aprendizagens da criança para os vários contextos, no seguimento de uma abordagem
Os planos de intervenção para crianças com autismo tendem a ter mais perspectivas
de sucesso quando existe uma intervenção precoce, uma parceira eficaz com os pais e os
outros profissionais, uma estrutura e rotina para a criança, a utilização de pistas visuais
Não sendo este o foco principal deste trabalho, importa esclarecer que a intervenção
Conclusão
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A avaliação do sujeito com PEA deve contemplar as diversas áreas de vida do
difere dos diferentes processos de avaliação, pelo seu foco no estudo nas relações entre
diagnóstico mais complexo, que contempla toda a integridade do individuo e que vem
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