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Sumário

Introdução 1
1. Ódio como mecanismo de defesa 2
2. Formas de falso perdão 4
Bibliografia 5
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O PERDÃO

Introdução

Dia desses na Internet, eu lia um texto do Dr. Philip J. Mango que tratava do perdão.
Um texto muito interessante pois trata de uma atitude muito distante de nossos
hábitos. O autor trata com a devida seriedade um assunto. Isso, por si só já é
importante. Não há pieguice, nem conselhos que incitem as pessoas a perdoar
porque é isso que “se deve fazer”. Perdão é uma coisa difícil. A nossa resistência ao
perdão verdadeiro é um problema para nós mesmos e não para aqueles com quem
estamos ressentidos. Não saber perdoar é a perda da própria individualidade. O
autor nos mostra os motivos conscientes e inconscientes que levam as pessoas a
terem ódio e como seria importante poder substituí-lo pelo amor.

Muitos de nós pensamos que perdoar é um ato simples. Às vezes, me parece


que aqueles que “perdoam”, o fazem com alguma prepotência, com uma espécie de
poder estranho. Isso não é perdão, é arrogância ou pretensão. O perdão genuíno é
uma atitude que requer grande coragem, determinação e, principalmente, reflexão.
Essas, talvez, sejam as coisas mais difíceis de se fazer ainda que sejam também as
únicas que poderiam nos trazer paz e saúde psíquica.

Perdoar não é uma atitude fácil pois, não é fácil lidar com o poderoso poder de
uma ofensa psíquica. Geralmente as ofensas psíquicas mais doloridas estão
relacionadas ao nosso amor frustrado e por isso, geram tanto ódio. Ódio que é
negado, escondido, enterrado. Não é possível falar em perdão sem falar do ódio por
que ele está no nosso psiquismo desde o momento em somos feridos, traídos,
magoados ou negligenciados. Mas temos que ressaltar a importância do perdão
pois, a própria ciência, já demonstrou os efeitos positivos do perdão. mas não é
preciso que a ciência prove. Todos nós sabemos os efeitos benéficos do perdão.
Perdoar reduz significativamente a ansiedade, a depressão, a hostilidade e aumenta
a auto estima, a confiança e a esperança naquelas pessoas traumatizadas pelo
ódio. Algumas pessoas, durante o processo terapêutico, ao compreenderem os
comportamentos agressivos de seus pais, mudam sues comportamentos e ficam
mais tranqüilos. Tive pacientes que viviam afastados de seus familiares, por razões
que desconheciam e que, ao se darem conta de determinados ódios, puderam abrir
novas perspectivas. Alguns voltavam a aproximar-se da família e aproveitavam a
existência delas de uma maneira que nunca tinham imaginado antes.

Alguns psicólogos ao redor do mundo, têm feito trabalhos interessantes com


grupos de doentes crônicos. Os pacientes são estimulados a escrever e falar sobre
situações traumáticas de suas vidas. Discute-se exaustivamente cada uma das
situações. E logo observa-se que há uma melhora significativa no quadro do doente.
Isso ocorre porque o ódio envolve a mente e impede a esperança sendo que o
perdão faz o papel contrário. Tanto o ódio como o amor envolvem nossos
pensamentos, nossos sentimentos e nossas decisões. Dessa forma, é importante
observar que o amor e o ódio, estão no coração da pessoa e não fora dela. Sendo
assim, podemos decidir o que queremos escolher.
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O Dr. Philip J. Mango diz que, para que possamos perdoar alguém
genuinamente, devemos primeiramente compreender os motivos defensivos
envolvidos na raiva, na amargura e no ressentimento. Caso isso não seja feito,
vamos trocar o ódio por uma falsa forma de perdão

1. Ódio como mecanismo de defesa

Quando o autor fala em ódio, ele propõe usar essa emoção, no mesmo sentido
que usamos um mecanismo de defesa. Um mecanismo de defesa não é
necessariamente uma doença (ainda que existam mecanismos de defesa
patológicos), e sim um mecanismo adaptativo, uma medida apropriada que visa
ajudar o indivíduo a manter sua integridade.

A seguir vamos transcrever do texto do Dr. Mango, alguns exemplos de


defesas que as pessoas utilizam com freqüência para evitar o perdão genuíno. O
uso de um ou mais desses mecanismos depende, em grande parte, do tamanho do
ódio que o indivíduo sente, de quão apelativo ele é ou quão poderoso pode ser e
como ele está incrustado na pessoa. O que está sendo defendido através do ódio é
o narcisismo patológico do psiquismo e o poder que se carrega no ódio. Segundo o
Dr. Philip J. Mango, as defesas são as seguintes:

Defesa contra memórias e sentimentos doloridos: Quanto mais tempo uma


pessoa odeia, mas apta ela está a repelir a própria compreensão de ferimentos e
tristezas causadas pelas pessoas que deram origem ao seu ódio. Em outras
palavras, o ódio defende a pessoa contra a fonte das memórias e assim, defende o
indivíduo da realidade de uma situação depressiva, de uma decepção humilhante ou
de uma vida pouco agradável. Essa é uma das raízes do medo da rejeição.

Defesa contra a vulnerabilidade do amor: A expressão do ódio tende a


manter os demais à distância e assim protege aquele que odeia, de construir
relacionamentos íntimos. A expressão do ódio pode se dar de muitas maneiras
como por exemplo na demonstração de superioridade. Muitas pessoas conseguem
"perdoar" só quando obtém alguma garantia de que eles não ficarão vulneráveis a
uma pessoa insensível.

Defesas contra admitir seu próprio caráter falho: O ódio de uma pessoa
para consigo mesma e para com os outros pode ser uma defesa contra a percepção
e aceitação de seus próprios defeitos e os atributos positivos dos outros. Dessa
maneira, o ódio pode reforçar a crença irracional na própria onipotência e num self
idealizado (narcisismo).

Manutenção da auto-piedade: o ódio de uma pessoa por si mesma ou por


alguém que ela odeia, permite-lhe obter benefícios no “papel de doente”. A
autopiedade e o status de vítima, são muito populares em nossa cultura. Eles
ajudam as pessoas a encobrirem a vergonha que sentem em relação a si mesmas, a
inadequação ou a percepção em relação às suas próprias falhas.
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Manutenção da auto-indulgência: nesse caso, o ódio  é uma forma de


preguiça que mantém a pessoa impossibilitada de obter tempo e energia para criar
objetivos realistas. Objetivos realistas aproximam o indivíduo da falha que ele tanto
teme: sua impotência. Se a pessoa está ameaçada pelo mundo, o ódio vai ajudá-la a
manter o mundo à distância. As pessoas odiadas são sempre culpadas pelas falhas
que o individuo rejeita em si mesmo.

Manutenção de uma relação desejada: Muitas pessoas usam o "falso


perdão"  para fazer a manutenção de seus relacionamentos. Não entre nessa que é
fria. Esse tipo de “perdão” pode ser potencialmente destrutivo porque mantém um
relacionamento, baseado apenas no ódio. Isso ocorre porque, sem a “relação de
ódio”, não há garantia de que a pessoa odiada possa ser “controlada”. Se o
indivíduo perdoar realmente, o relacionamento passara a se basear na realidade e
assim, o indivíduo que odeia, perde o controle sobre o odiado. Observa-se que
muitas relações que têm o ódio como laço, não sobrevivem ao perdão. O ódio é a
única forma possível de evitar o sentimento de vazio.

Defesa contra ansiedades sociais e a rejeição: O ódio contra o outro pode


ser uma defesa contra a ansiedade da perda de amor e da solidão. Observe um
indivíduo racista, por exemplo. Na verdade esse preconceito, mascara seus próprios
sentimentos de ser rejeitado, e está baseado na sua própria falta de auto-estima.
Isso resulta numa forma agressiva de ódio e comportamento patológico.

Defesa do narcisismo: O mais importante é que o ódio permite àquele que


odeia, proteger seu amor próprio e orgulho feridos. Um exemplo é aquela pessoa
que odeia a si mesma por falhar em atingir seus próprios objetivos e tem
expectativas infantis e irrealistas. Isso é, o ódio vai defendê-la contra um ataque de
seu próprio ego narcísico e da vergonha. Muito comumente, o indivíduo que odeia,
defende sua própria superioridade inconsciente demonstrando uma moral superior à
daquela pessoa horrível que a feriu. Tais sentimentos de superioridade morais são
observados com mais freqüência como forma de compensação daquele que odeia.

Ao lado dos aspectos defensivos daquele que odeia, há um prazer na


expressão do ódio. O fenômeno de prazer na expressão da violência, raiva etc, é a
muito conhecido. Ódio e revanche permitem um propósito na existência fazem com
que as pessoas sintam-se vivas e poderosas. O prazer da vingança na fantasia ou
na realidade é um tema comum em literatura e na mídia, não só porque o desejo de
vingar-se é uma forma de controlar o outro (e estar com ele) como também, é claro ,
traz gratificações. O fato de tais recompensas derivarem do ódio, faz com que o
perdão seja visto como uma forma fragilidade - uma fonte de abandono e perda de
poder.

Para completar, raiva e tudo o que dela deriva (narcisismo, proteção contra a
vergonha, sentimentos de superioridade moral e o desejo de controlar um
relacionamento que pode ser perdido pelo perdão, preguiça, negação da realidade,
poder sobre os demais, autopiedade e inclinação para obter prazer do ódio) são
normalmente mais fáceis de serem utilizados do que o perdão que leva à verdadeira
saúde. Mas, ainda que queiramos fazer diferente, o perdão é a única resposta
adequada e positiva para aliviar o pânico e o sofrimento.
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2. Formas de falso perdão

Desafortunadamente o esforço para perdoar sem o devido tempo e trabalho


mental, para se conhecer as fontes do ódio, pode levar uma pessoa a adotar “falso
perdão”. Isso pode acontecer por causa de motivos conscientes e inconscientes e,
se assim for, o poder curativo do perdão pode não ser atingido.

Perdão é geralmente utilizado de forma perniciosa. Por exemplo: quando uma


esposa “perdoa” seu marido porque ela sente-se moralmente superior, ela o faz
somente porque essa é a coisa certa a fazer. Esse tipo de pseudoperdão é mais
comum nas mulheres do que nos homens, segundo a experiência do Dr. Mango,
com o que eu concordo.

Por outro lado, perdão pode ser conseguido sem que haja confrontação direta
com aquele que é odiado. Isso parece ser mais comum nos homens, que sempre
querem resolver os problemas de um ponto de vista prático, sem entretanto,
confrontarem-se com seus próprios sentimentos. Dessa maneira, essas pessoas
evitam os relacionamentos em qualquer forma especifica e honesta. perdão sem a
devida confrontação para a "limpeza" não é possível.

Uma pessoa que é capaz de forçar atitudes positivas ou forçar sentimentos de


afeição pode forçar uma falsa forma de perdão. Tais gestos superficiais, não mudam
nada. Elas só manterão a raiva violenta reprimida. Também é possível perseguir o
perdão obsessivamente (perdoar tudo a todo o tempo), como forma de evitar a
realidade. Com isso, fazemos com que a ofensa desapareça magicamente. Esse,
não é um perdão real porque é dado como um “presente” para o outro – mais do que
um beneficio a si próprio.

O perdão pode também ser oferecido de forma mentirosa, numa linguagem ou


comportamento que tenham como objetivo, manter uma dependência doente do
outro ou para manter um relacionamento masoquista. Tal dependência está
geralmente enraizada num péssimo auto-conceito. O falso-perdão pode ser uma
forma de evitar ser abandonado pela pessoa a quem se está intrinsecamente e
tragicamente unido, àquele que nos ferem e a quem se odeia. Isso é freqüentemente
observado nos casamentos abusivos e nas relações de pais abusivos com os filhos
abusados. Uma situação dessa natureza pode tornar mais profunda a dependência
porque a pessoa que odeia, não pode funcionar de forma independente. Ele fica
realmente fundido de forma simbiótica com aquele que abusa dele.

Na seção de DVD Filmes há um comentário de um filme que trata do abuso de


pais e do perdão de um filho.

Finalmente, o perdão não pode ser dado de forma abrupta a fim de forçar o
outro, a admitir sua culpa. Dessa maneira, aquele que perdoa, pode escapar de sua
parte na responsabilidade dos fatos. Deixe-nos lembrar que o falso perdão tem
como objetivo livrar-nos da dor, e também manter-nos afastados do real processo de
sanidade criado pelo verdadeiro perdão. 
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Perdoar alguém pelos profundos ferimentos recebidos, é uma tarefa


extremamente difícil. Perdoar implica em confronto, conflito, reflexão, aceitação de
nossas limitações e responsabilidades, bem como da aceitação dos limites e
defeitos do outro. Para que possamos aceitar o perdão divino de Deus pelos nossos
próprios pecados, ou seja, perdoar-nos, é necessário que tenhamos aprendido a
perdoar aqueles que nos ferem. Mas o perdão tem que ser real e legitimo. É ai,
nesse gesto, que está o segredo de nossa saúde, alegria e liberdade.

Bibliografia

O texto original do Dr. Philip J. Mango pode ser encontrado no site:


http://www.canticlemagazine.com/pastissues/issue02_mango.html

Artigo escrito por Mário Quilici (psicanalista)


http://www.psipoint.com.br/arquivo_psicologias_operd%E3o.htm 

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