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Análise do conforto quanto à vibração em automóveis

de passeio
Francisco Kaderli1
Herbert Martins Gomes2

Resumo

O uso de automóveis vem crescendo atualmente. Então, é de suma importância


que esses propiciem bem-estar aos motoristas e passageiros. Este artigo busca
determinar o grau de conforto do motorista em relação à vibração transmitida
por um veículo, por meio de medições realizadas em quatro automóveis de
mesma categoria, disponíveis no mercado brasileiro. A avaliação foi realizada em
diferentes condições de tipo de pavimento, velocidade do automóvel e local de
medição da vibração. Ainda, para a situação de motoristas profissionais, avalia-se
a exposição diária à vibração A (8), para diferentes situações de trabalho, que se
compara com os limites de exposição definidos pelas normas vigentes. Segundo
a análise de conforto, verifica-se, em uma média geral, que um dos veículos
apresentou-se mais confortável que os demais. Em termos da exposição humana
à vibração, percebe-se que, para determinadas condições, as vibrações podem
ultrapassar os limites de exposição permitidos por norma oficial.

Palavras-chave: Conforto veicular. Vibração do corpo inteiro. Vibração do


sistema mão-braço.

Abstract

The use of automobiles is currently growing. So, it is extremely important that these
vehicles propitiate well-being to the drivers and passengers. This article aims to
determine the degree of the driver’s comfort in relation to vibration transmitted by
a vehicle by measurements performed on four vehicles of same category available
in Brazil. The evaluation was performed under different pavement type conditions,
vehicle speed and vibration measurement location. Also, for the situation of
professional drivers, it is evaluated the daily exposure to vibration A(8) for different
work situations, which is compared to the exposure limits defined by current
standards. According to comfort analysis, it is verified, in a general average, that
one of the vehicles presented more comfortable than others. In terms of human
exposure to vibration, it is clear that for certain conditions, vibrations may exceed
the exposure limits defined by official standard.

Keywords: Vehicular comfort. Whole body vibration. Hand-arm system vibration.

1 Engenheiro Mecânico pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. Gerente da Kaderli Motor
Peças Ltda. E-mail: kikokaderli@gmail.com
2 Doutor em Engenharia Mecânica pela UFRGS e professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRGS, Porto Alegre, RS,
Brasil. E-mail: herbert@mecanica.ufrgs.br
Artigo recebido em 11/03/2011 e aceito em 27/06/2011.
KADERLI, F., GOMES, H. M.

1 Introdução diferentes montadoras disponíveis no merca-


do automotivo brasileiro foram testados. As
Hoje em dia, com o mercado auto- medições de vibração foram realizadas no
mobilístico em plena expansão, há cada vez volante, assento e encosto dos respectivos ve-
mais interesse por automóveis, sendo esse ículos. Foram considerados os sistemas mão-
um meio de transporte atrativo para o ho- braço e corpo inteiro para a avaliação da ex-
mem e de grande utilidade no dia a dia. posição humana à vibração, de acordo com
O número de automóveis em circulação vem as normas ISO 5349-1 (2001) e DIRECTIVE
aumentado proporcionalmente com o au- 2002/44/EC (2002). Tem-se como objetivo ge-
mento da população. Devido a esse fato, é ral, obter dados suficientes para avaliar qual
de suma importância que esses automóveis dos automóveis testados pode ser considerado
propiciem bem-estar ao motorista e a seus o mais confortável em termos da transmissão da
passageiros (OICA, 2011). vibração ao motorista.
Inúmeras revistas e matérias automoti- Além disso, este estudo apresenta os se-
vas buscam informar à população quais são os guintes objetivos:
automóveis produzidos que proporcionam ao - Avaliar entre as configurações medidas, se
usuário melhores condições de uso. Dentre a exposição diária à vibração ultrapassa os li-
as características avaliadas, pode-se eviden- mites indicados pelas normas vigentes, verifi-
ciar o consumo de combustível, aceleração de cando se essas podem ser fontes de possíveis
0-100 km/h, potência e conforto, sendo esse danos à saúde do motorista, no caso de uso
um dos critérios mais importantes para se me- intensivo como meio de trabalho;
dir a qualidade de um veículo exposto a dife- - Avaliar estatisticamente a influência da vibra-
rentes tipos de vibrações (MAIA, 2002). ção transmitida ao motorista, em função da
Porém, na maioria das avaliações de magnitude da velocidade dos automóveis e do
conforto, provenientes dessas publicações, tipo de pavimento.
não é estabelecido nenhum critério ou da-
dos palpáveis que comprovem qual dos au- 2 Referencial Teórico
tomóveis em questão propicia um melhor
nível de conforto ao motorista. Sendo, de 2.1 Vibrações mecânicas
suma importância, um estudo na área de
conforto automotivo decorrente de vibra- Uma vibração pode ser descrita por
ções, uma vez que as vibrações são manifes- um histórico da posição, da velocidade ou da
tações de comportamento dinâmico comum a aceleração de um corpo. O mais comum é
todos os automóveis. quantificá-la por meio da aceleração. De acor-
De acordo com Palmer et al. (2000), a do com Fernandes (2000 apud SAVIONEK,
vibração é apontada como um dos riscos ocu- 2010), um corpo é dito em vibração, quando
pacionais mais comuns na indústria e também ele descreve um movimento oscilatório em
está diretamente ligada à incidência de dores torno de um ponto de referência. O número
nas costas em motoristas profissionais. Além de vezes de um ciclo completo do movimen-
disso, a utilização de automóveis a motor pa- to, durante o período de um segundo, é cha-
rece representar um risco significativo, quan- mado de frequência, medido em ciclos por
do correlacionado ao surgimento de proble- segundo ou Hertz (Hz).
mas nas costas (WHITE; PANJABI, 1990). Becker (2006) afirma que a vibração
O presente estudo visa avaliar o grau está presente em qualquer sistema mecânico
de conforto de um motorista submetido a vi- que se mova, diferindo de um sistema para
brações transmitidas por veículos de passeio outro apenas em nível e conteúdo espectral.
em diferentes condições de pavimentação Dentro desses sistemas mecânicos, tem-se
(asfalto e paralelepípedos) e velocidade. Qua- como referência o corpo humano, no qual
tro automóveis de uma mesma categoria de sua vibração pode ser definida como toda ou

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qualquer vibração produzida por um evento Sendo assim, a necessidade de padroni-


externo, atuando no corpo, como, por exem- zar e avaliar essas vibrações originaram diver-
plo, quando o corpo está sobre uma superfí- sas normas. As mais importantes normas inter-
cie que está vibrando (BALBINOT, 2001). Os nacionais são: ISO 2631 (1997) e ISO 5349
modelos científicos mais utilizados para a re- (2001) (International Organization for Stan-
presentação de vibrações são modelos gráficos dardization) e normas europeias (European
que expressam as relações: (i) amplitude de vi- Directive 2002/44/CE (2002), DIN EN 13059
bração x tempo, e (ii) amplitude de vibração x (2002), BSI 6841 (1987), OPSI 1093 (2005),
frequência, sendo esse denominado de espec- etc.).
tro de frequência. Diferentes tipos de movi-
mentos oscilatórios apresentam espectros de 2.1.1 Metodologia de avaliação
frequência com características diferentes. Po-
dendo ser espectros discretos, decorrentes de Tanto para avaliação do conforto devi-
sinais contínuos determinísticos (periódicos), do à vibração, quanto para a saúde, deve-se
ou espectros contínuos, decorrentes de sinais seguir uma metodologia baseada em normas.
contínuos randômicos ou de sinais transientes. Neste trabalho, são utilizadas duas normas
Podemos identificar outros parâmetros diferentes. A ISO 5349-1 (2001) foi utilizada
em um sinal vibratório, tais como, valor de para avaliação da exposição humana à vibra-
pico, valor pico-a-pico, fatores de forma e de ção, transmitida ao sistema mão-braço, neste
crista e valor rms (root mean square). Sendo caso, contemplando a análise do volante dos
o valor rms o de maior importância, pois de automóveis. E ainda, para análise de vibração
acordo com Fernandes (2000), possibilita ava- no assento e no encosto, é utilizada a norma
liar a média de energia contida no movimento ISO 2631-1 (1997), a qual é caracterizada pela
oscilatório, mostrando o potencial de dano da avaliação da exposição humana à vibração
vibração. Sendo assim, a medida mais impor- de corpo inteiro.
tante de um sinal ou de um movimento tem De acordo com Griffin (1990), a forma
relação direta com a energia contida na onda. mais comum de se quantificar a vibração é por
Para uma função variável contínua f(t) definida meio da aceleração. Sendo assim, ambas as
sobre o intervalo de tempo T1 ≤ t ≤ T2, o seu normas adotadas, utilizam a aceleração rms,
valor rms é dado pela expressão: para caracterizar as vibrações. Porém, Becker
____________ (2006) explica que as formas diretas de quan-
xrms = √ 1 T2
∫ [ƒ(t)]2 dt
T2-T1 T1
(1) tificar o movimento oscilatório, baseadas no
valor rms, não levam em conta os possíveis
efeitos de frequência. Sinais medidos de vibra-
A exposição humana à vibração é clas- ção com conteúdo espectral diferente podem
sificada, de acordo com as suas particularida- ter valores idênticos para diferentes parâme-
des, em (ISO 2631-1, 1997): tros (média, rms, etc.), no entanto, seu efeito
- Vibrações de corpo inteiro: são as vibra- no corpo humano pode ser completamente
ções que atingem o corpo todo, mais par- diferente (WALBER, 2009). Para corrigir esse
ticularmente em uma faixa de frequência problema, foram idealizadas curvas de pon-
de 1 a 80 Hz; deração ou compensação para medições de
- Vibrações das extremidades: são as vibrações movimentos oscilatórios do corpo. Essas cur-
transmitidas às mãos e aos braços, em uma fai- vas são função da frequência e são utilizadas
xa de frequência de 6,3 a 1250 Hz. como um fator que atribui pesos diferentes
Vale lembrar que, no presente trabalho, para movimentos com frequências diferentes
há uma exposição simultânea aos dois tipos de e têm como objetivo qualificar as vibrações
vibração. Ao corpo inteiro, referente ao mo- nas frequências em que o corpo humano apre-
vimento global do veículo e ao sistema mão- senta maior sensibilidade. O resultado dessa
braço, transmitido pelo volante do mesmo. ponderação é a obtenção de um valor defi-

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nido, denominado aceleração rms, ponderada A figura 1 apresenta as curvas de pon-


pela frequência aw, em m/s2. A aceleração aw é deração por frequência Wk e Wd, utilizadas em
dada pela equação (2): diferentes casos, na avaliação da exposição à
vibração transmitida ao corpo inteiro.
½ As demais curvas de ponderação, apli-
aw = [∑
i
(Wi.ai)2 ] (2) cadas neste trabalho, podem ser visualizadas
nas referidas normas ISO. Porém, em todas as
onde: curvas utilizadas, observa-se que as faixas de
- Wi é o fator de ponderação; frequência mais prejudiciais ao corpo humano
- ai é a aceleração rms, para as dadas frequências. são justamente aquelas que possuem um maior
Figura 1 - Curvas de ponderação por frequência Wk e Wd para vibração corpo inteiro

10

-10

-20

-30
Ponderação, dB

-40

-50

-60

-70

-80

-90
0,016 0,0315 0,063 0,125 0,25 0,5 1 2 4 8 16 31,5 63 125 250
Frequência Hz
WK
Wd
Fonte: ISO 2631-1 (1997).

fator de ponderação. Devido ao fato da me- em m/s2. Além disso, são utilizados fatores de
dição da vibração ser realizada, seguindo um multiplicação ki, os quais têm como objetivo
sistema de coordenadas tri-axial, deve ser ob- atribuir pesos para os diferentes eixos de co-
tido, para cada um dos eixos x, y e z, um valor ordenadas, de acordo com a medição realiza-
de aceleração rms, ponderada pela frequên- da. Fato que se justifica, pois segundo Griffin
cia, representados por awx, awy e awz, dados (1990), a vibração, em diferentes frequências

Quadro 1 – Curvas de ponderação e fatores de multiplicação utilizados nas medições

mão-braço (volante) corpo inteiro ( assento) corpo inteiro (encosto)


eixo x eixo y eixo z eixo x eixo y eixo z eixo x eixo y eixo z
curva de saúde Wh Wh Wh Wd Wd Wk Wd Wd Wk
poderação conforto Wh Wh Wh Wd Wd Wk Wc Wd Wd
fator multi- saúde 1,0 1,0 1,0 1,4 1,4 1,0 1,4 1,4 1,0
plicador (K) conforto 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 0,8 0,5 0,4

Fonte: ISO 2631-1 (1997) e ISO 5349-1 (2001).

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ou em diferentes eixos, pode produzir diferen- total av, em m/s2, conforme a equação (3).
______________________
tes sensações, em diferentes partes do corpo. av = √kx2 awx2 +ky2 awy2 + kz2 awz2 (3)
Ainda, vale citar que, pela grande quantidade
de dados experimentais na direção z, utiliza- onde kx, ky e kz são os fatores de multiplicação
se um fator de ponderação de 1,0 para os ca- aplicados a seus respectivos eixos.
sos de análise de saúde. Para outras direções, Ainda, para casos onde a exposição à vi-
por falta de dados experimentais e informa- bração consiste em dois ou mais períodos de
ções, utiliza-se o fator 1,4 por questões de exposição para diferentes durações e magni-
segurança (ISO 2631-1, 1997 e ISO 5349-1, tudes de vibração, calcula-se a vibração total
2001). No quadro 1, podem-se visualizar as equivalente av,e correspondente à duração total
diferentes curvas de ponderação e fatores de de exposição, de acordo com a equação (4):
multiplicação empregados nas medições e têm
∑ avi2.Ti ½
como referência as normas ISO 2631-1 (1997)
e ISO 5349-1 (2001).
[
av,e = _______
∑Ti ] (4)

Observa-se ainda que esses fatores de onde avi é a vibração total para a duração da
multiplicação em questão podem ser empre- exposição Ti.
gados para diferentes situações. Dependendo Como observado na equação (3), as
se a avaliação da exposição humana à vibração vibrações transmitidas ao corpo humano de-
está vinculada ao conforto ou à saúde, ou ain- vem ser medidas em três direções, tanto para
da, ao diferente local de medição, onde os fa- medições de vibrações referentes ao corpo
tores de multiplicação devem ser observados. inteiro, quanto para o sistema mão-braço, de
Com esses valores, por meio da soma acordo com um sistema de coordenadas orto-
dos quadrados da aceleração de cada compo- gonal. Na figura 2, pode-se visualizar o sistema
nente multiplicados pelo quadrado do fator de de coordenadas adotado de acordo com as
multiplicação específico, obtém-se a vibração duas normas utilizadas. Cabe frisar que ambas
Figura 2 - Sistema de coordenadas basicêntrico adotado para vibração (a) mão-braço e (b) corpo inteiro

Encosto

Assento

Sistema de coordenadas
basicêntrico Pés
(a) (b)

Fonte: ISO 5349-1(2001) e ISO 2631-1 (1997).

as normas utilizam o sistema de coordenadas um veículo são difíceis de determinar devido


basicêntrico, no qual a vibração é medida, se- à variação da sensibilidade de cada um para
guindo um sistema de coordenadas, originado com a vibração (WONG, 2001). Porém, a nor-
em um ponto, onde a vibração está entrando ma ISO 2631 (1997) estabelece alguns crité-
no corpo. rios para avaliação do conforto devido à vibra-
ção. O gráfico apresentado na figura 3 pode
2.1.2 Metodologia de avaliação do conforto ser utilizado para limitar o tempo de exposi-
quanto à vibração ção à vibração para determinadas frequências,
relacionando fadiga, conforto e saúde na di-
Em geral, os limites de conforto ou des- reção z. Gráficos para direções x e y também
conforto em um passageiro ou motorista de podem ser utilizados. Com as acelerações rms

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Figura 3 – Limites para fadiga, saúde e conforto versus frequência para o eixo z (m/s²)

20 m/s
2

16
12,5
10
8,0
6,3
5,0
4,0
3,15
2,5
Aceleração ax, aj (rms)

2,0
1,6
1,25
1,0
0,8
0,63
0,5
0,4
0,315
0,25
Para obter:
0,20 -limites de exposição: multiplicar os valores
0,16 de aceleração por 2 (2dB maior)
0,125 -nivel de conforto reduzido: dividir acelera-
ção por 3,15 (10dB menor)
0,1
0,016 0,4 0,5 0,63 0,88 1,0 1,25 1,6 2,0 2,5 3,15 4,0 5,0 6,3 8,0 10 12,6 16 20 25 31,5 40 50 63 80
Frequência ou banda de frequência de 1/3 de oitava, HZ

Fonte: Balbinot (2001).

obtidas, para verificar se os limites de conforto sistema mão-braço


são ultrapassados, devem-se colocar os valores Quadro 2 – Escala de desconforto
de aceleração para a faixa de frequência de
1 a 80 Hz e verificar, se esses ultrapassam os Índice de conforto Escala
limites estabelecidos pela norma. Menor do que 0,315 m/s 2
Confortável

Porém, opta-se em utilizar os valores 0,315 m/s2 a 0,63 m/s2 Levemente confortável
de aceleração rms ponderados pela frequên- 0,5 m/s2 a 1,0 m/s2 Levemente confortável
cia nos três eixos de coordenadas obtidos por 1,25 m/s2 a 2,5 m/s2 Desconfortável
meio das equações (2) e (3) com diferentes Maior do que 2,5 m/s 2
Extremamente desconfortavel
curvas de ponderação e fatores multiplicado-
Fonte: ISO-2631-1 (1997).
res visualizados no quadro 1, obtendo assim,
um valor único para fins de comparação, se- 2.1.3 Metodologia de avaliação da saúde
guindo a recomendação da mesma norma de quanto à vibração
1997. A norma ISO 2631-1 (1997) fornece os
seguintes valores de aceleração rms pondera- A única norma, atualmente vigente no
das pela frequência como uma indicação das Brasil, para fins de avaliação da saúde, quan-
reações com relação ao conforto. to à vibração, é a Norma Regulamentadora
A referida norma para o sistema mão- No 15 (NR 15). Em seu Anexo no 8, há a indi-
braço não quantifica, em qualquer momento, cação que todos seus limites de exposição à
valores para análise de conforto. Assim, o pre- vibração são definidos pelas normas ISO 2631
sente trabalho utiliza as mesmas metodologias e ISO 5349.
presentes na norma do corpo inteiro, para veri- Assim, além da análise e avaliação do
ficar o conforto dos automóveis, apenas como conforto, o presente artigo tem como objetivo
critério de comparação entre os mesmos e não avaliar a exposição humana à vibração, verifi-
para avaliar o nível de conforto transmitido ao cando se essas podem ser fontes de possíveis

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danos à saúde do motorista. Para avaliação, está ou não sendo prejudicial à saúde, há va-
deve-se levar em consideração a duração diária lores limites para exposição diária à vibração
de exposição T, em h, o tempo total em que o A(8). Um desses limites pode ser denominado
indivíduo fica exposto à determinada situação como VAE (valor de ação de exposição diária -
durante um dia. A exposição diária à vibração exposure action value) no qual, para valo-
A(8), em m/s2, é baseada na __ equação (5) res acima desse limite, há a necessidade de
A(8)= av.e
T
T0
(5) √ medidas que visem à diminuição ou à elimi-
nação dessa exposição, porém sem um grau
onde: de preocupação muito elevado. O outro li-
- av,e é a vibração total, equivalente em m/s2, mite é VLE (valor limite de exposição diária –
dada pela equação (4), sendo que, para casos exposure limit value), sendo que, para valores
onde haja apenas um período de exposição; acima desse limite, há a necessidade de me-
- av,e pode ser substituído por av, definido como didas imediatas para sua diminuição, pois há
a aceleração ponderada, combinada nos três potencial risco à saúde. Na figura 4, verificam-
eixos, dada pela equação (3); se os limites de aceleração ponderada em
- T0 é uma duração de referência de 8 horas. função do tempo de exposição adotados pela
Esse tempo de referência T0 é adotado a norma ISO 2631-1 (1997).
fim de facilitar comparações entre exposições A norma possui a opção de utilizar duas
diárias à vibração de diferentes durações. equações (indicadas pela Norma ISO como
A exposição diária à vibração A(8) pode equação B.1 e equação B.2 na figura 4), para
ser entendida como um valor total da acele- obter esses limites, verificados por dois tipos
ração (vibração) ponderado pela frequência, de marcações no gráfico. Porém, neste artigo,
equivalente a 8 horas de exposição diária. utiliza-se a equação, onde os limites de expo-
Para poder avaliar se o nível de vibração sição resultem em valores menores, em função
Figura 4 – Limites de tempo de exposição diária em função da aceleração ponderada pela frequência para o corpo inteiro

10

6,3

equação (B.1)
4

2,5
Aceleração ponderada, m/s2

1,6 equação (B.2)

0,63

0,4
0,315
0,25
10 dB

0,16

0,1
10 min 0,5 1 2 4 8 24
Duração da exposição , h
Fonte: ISO 2631-1 (1997).

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da segurança. Para obter os valores de VAE e o sistema mão-braço.


VLE, basta visualizar no eixo das abscissas a Os valores de ação de exposição diária
duração de exposição de 8 horas e projetá-los (VAE) e limite de exposição diária (VLE), uti-
através da equação B.1 ou B.2 (linhas traceja- lizados podem ser visualizados no quadro 3:
das ou pontilhadas, respectivamente) no eixo Quadro 3 – Valores de referência VAE e VLE utilizados
das ordenadas das acelerações ponderadas. nas avaliações
Com a projeção dessas linhas, obtêm-se os
valores utilizados VAE e VLE para aceleração. Valores de referência (m/s2)
Na norma vigente, para o sistema mão- VAE VLE
braço, não são estabelecidos limites de expo-
Mão-braço (Diretiva 2002/44/EC,2002) 2,5 5,0
sição à vibração. Assim, de modo a obter va-
lores comparativos, utilizam-se os valores pre- Corpo inteiro (ISO 2631-1, 1997) 0,43 0,88

sentes na norma da União Europeia (Diretiva


2002/44/EC), como referência de valores para Fonte: DIRECTIVE 2002/44/EC (2002) e ISO 2631-1 (1997).

Quadro 4 – Características dos automóveis medidos

Caracteristica Volkswagem Gol Renault Sandero Ford Fiesta Fiat Palio


Pressão dos pneus frontais 30 psi 29 psi 30 psi 27 psi
Pressão dos pneus traseiros 30 psi 29 psi 30 psi 27 psi
Diâmetro da roda 14" 14" 14" 14"
Especificação do pneu 175/70 185/70 185/70 185/65
Massa total 934 kg 1025 kg 1076 kg 940 kg
Potência do motor G/A 72/76 cv 76/77 cv 71/73 cv 65/66 cv
Ano de fabricação 2009 2009 2008 2007
Ano modelo 2010 2009 2008 2008

Fonte: Os autores (2010).

3 Avaliação do conforto vibracional Todos os automóveis testados encontra-


vam-se em plenas condições de uso e todas as
3.1 Modelos dos automóveis suas características, tais como pneus e rodas,
foram mantidas originais. Os pneus de cada
Realizaram-se as medições em quatro modelo foram calibrados pelo mesmo equi-
automóveis nacionais da mesma categoria de pamento, de acordo com as recomendações
cilindradas. Todos os automóveis medidos pos- de pressão de cada fabricante. Durante a re-
suem direção hidráulica e enquadram-se na alização das medições, todos os carros foram
mesma classe, com motores de 1,0 litro. São conduzidos pelo mesmo motorista de massa
eles: Volkswagen Gol, Renault Sandero, Ford igual a 77 kg, acompanhado de um passageiro
Fiesta e Fiat Palio. No quadro 4, observam-se de 70 kg, a fim de manter a padronização dos
as principais características de cada veículo. testes.
Figura 5 - Modelos dos automóveis utilizados nas medições

Fonte: Os autores (2010).

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Pode-se visualizar, conforme as carac- A vibração transmitida pelo veículo é


terísticas citadas no quadro 4, que apesar transformada em um sinal da ordem de mV,
dos automóveis se enquadrarem na mes- através de transdutores posicionados em lo-
ma categoria, possuem algumas diferenças, cais específicos. Para vibrações medidas no
tais como: a massa total, especificações do encosto e no assento, utilizou-se um disposi-
pneu e potência do motor. Na figura 5, visu- tivo do tipo seatpad, em formato de um disco
alizam-se os quatro modelos de automóveis flexível de material semirrígido padronizado,
utilizados nas medições. o qual tem o papel de não alterar as proprie-
dades dinâmicas da interface do corpo e do
3.2 Instrumentação dos automóveis banco, além de mover-se juntamente com
toda a estrutura.
As medições de vibração transmitidas Figura 6 – Medidor VI400-Pro e transdutores utilizados nas
pelos veículos foram realizadas por intermé- medições
dio do equipamento VI-400Pro, S/N 12430,
o qual consiste em um analisador de vibração
portátil, com acelerômetros. Além de medir
essas vibrações, o equipamento é capaz de
armazenar os dados em uma memória inter-
na com capacidade de 32 Mb. O aparelho é
capaz de medir quatro canais de entrada si-
multaneamente, sendo três os utilizados para
medir a vibração nos três eixos de coordena-
das. Na figura 6, é mostrado o conjunto com-
posto pelo Case - medidor de vibração portátil
modelo VI400-Pro e transdutores, utilizados
para as medições. Fonte: Os autores (2010).

Figura 7 – (a) Vista do seatpad e (b) Corte com dimensões (mm) de acordo com a SAE
Z
X
Y direções de aceleração
3 cavas para tiras

(a) (b)
Fonte: Griffin (1990).

Para medidas de vibração no volante, pós-processamento de dados, onde os dados


emprega-se um acelerômetro piezoelétrico tri- armazenados pelo equipamento são transferi-
axial Dytran, modelo 3023A2, S/N 4147 que dos a um computador, permitindo a posterior
possui uma sensibilidade nominal de 10mV/g análise dos valores obtidos. A instrumentação
para cada um dos seus eixos x, y e z. foi realizada por meio de dois tipos de acelerô-
O aparelho conta ainda com um soft- metros. Um acelerômetro fixado no volante é
ware de processamento, o QuestSuite Pro- de extrema importância que seja posicionado
fessional II. Com ele, é possível calibrar o ins- próximo da empunhadura da mão e bem fixa-
trumento, a fim de definir quais curvas de do à estrutura como recomenda a ISO 5349.
ponderação serão empregadas, eixos de coor- As medições no assento e no encosto foram
denadas utilizados, dentre outros parâmetros. realizadas por meio do seatpad, esse posicio-
Além disso, o software possui um recurso de nado na interface do motorista com a super-

Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011 193
KADERLI, F., GOMES, H. M.

fície vibrante, tanto para a região do encosto dições. Na superfície do assento, o seatpad foi
quanto para região do assento. Cada medição posicionado abaixo do cóccix. Para a vibração
foi realizada isoladamente, tendo um tempo nas costas transmitida pelo encosto, na área
de duração de aproximadamente 60 segundos de apoio principal das costas com o banco. Há
em cada condição de velocidade de tráfego e a necessidade de que ambos os transdutores
tipo da pista. Este tempo de 60s foi estabele- estejam em um alinhamento com relação aos
cido como valor suficiente para caracterizar as eixos determinados na norma, apesar da mes-
vibrações nas faixas de frequência medidas. ma permitir uma tolerância angular de até 15o.
A importância do correto posicionamen- A figura 8 apresenta os locais de acoplamento
to dos transdutores, em concordância com a dos transdutores, juntamente com o sistema
norma utilizada, foi observado durante as me- de coordenadas adotado.

Figura 8 – Acoplamento dos respectivos transdutores no volante, assento e encosto juntamente com o sistema de
coordenadas adotado

Fonte: Os autores (2010).

3.3 Tipos de pavimentos avaliados 3.4 Velocidades avaliadas

Dois tipos de pavimentação foram es- As medidas das vibrações nos quatro
colhidos para realização dos testes: pavimen- veículos foram realizadas durante 60s, nas
tação de asfalto e de paralelepípedos. A pavi- seguintes faixas de velocidade constante:
mentação de asfalto, onde os testes foram rea- 0 km/h, 30 km/h e 60 km/h, marcadas no ve-
lizados, localiza-se na avenida A. J. Renner em locímetro de cada veículo em ambos os pavi-
Porto Alegre, que tem como característica ser mentos. Essas faixas de velocidade foram es-
uma superfície de rolamento lisa, porém com colhidas, pois são comumente desenvolvidas
algumas irregularidades, decorrentes do des- em meios urbanos. A medida da vibração com
gaste excessivo e falta de manutenção, cenário o veículo parado (0 km/h) tem como objeti-
muito comum nas vias do Brasil. vo simular os frequentes congestionamentos e
A pavimentação de paralelepípedos, lo- paradas em sinais de trânsito, característico de
calizada na rua José Pedro Boéssio, na mes- cidades com elevada densidade populacional
ma cidade, apresenta uma superfície com e alto número de veículos. As vibrações cap-
constantes interrupções, devido as pequenas tadas são decorrentes do funcionamento do
dimensões de cada paralelepípedo e pelo motor em marcha lenta e dos demais compo-
fato da via possuir um alto número de juntas/ nentes do automóvel. O trabalho limita-se a
remendos, tornando a superfície rica em irre- utilizar três valores de velocidade, devido ao
gularidades. A figura 9 indica os dois tipos de grande número de medições realizadas em di-
pavimentos, onde os testes foram realizados. ferentes condições e locais.

194 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011
Análise do conforto quanto à vibração em automóveis de passeio...

Figura 9 – Pavimento de (a) asfalto e (b) paralelepípedos utilizados nas medições

(a) (b)
Fonte: Os autores (2010).

4 Resultados e análises E empregando as corretas curvas de ponde-


ração e fatores de multiplicação, apresenta-
4.1 Da avaliação da vibração quanto ao conforto dos no quadro 1, calcula-se a aceleração nos
três eixos av, dada em m/s². De acordo com
Nas figuras a seguir, podem ser visuali- os gráficos, pode-se visualizar a magnitude
zados os resultados da avaliação do conforto da aceleração em função de duas faixas de
obtidos, por meio de gráficos comparativos velocidade (30 e 60 km/h). Os gráficos, apre-
entre os modelos de automóveis. Por meio da sentados pelas figuras 10 e 11, representam a
equação (3), utilizam-se as acelerações medi- análise do conforto no pavimento de asfalto e
das em cada eixo do sistema de coordenadas. de paralelepípedos, respectivamente.
Figura 10 – Análise do conforto em asfalto em diferentes locais de medição e velocidades

Fonte: Os autores (2010).


Figura 11 – Análise do conforto em paralelepípedos em diferentes locais de medição e velocidades

Fonte: Os autores (2010).

Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011 195
KADERLI, F., GOMES, H. M.

Cada gráfico é separado por local de tendência de crescimento ou decrescimento


medição, possuindo no eixo das abscissas a da velocidade. Cada ponto representa uma
velocidade desenvolvida pelos automóveis e medição. Nas linhas que ligam os pontos, po-
no eixo das ordenadas, a vibração total, dada de-se visualizar, a grande maioria dos casos,
em m/s². No gráfico de medições no volan- o nível de desconforto, ou seja, a aceleração
te, em ambos os pavimentos, verifica-se uma rms aumenta com o acréscimo da velocida-
escala maior no eixo vertical, indicando pre- de, independente do pavimento ou local de
viamente uma magnitude de vibração mais medição. As barras, à direita de cada gráfico,
elevada nesse local, em comparação com os representam a média aritmética do local da
demais. Os bancos dos automóveis possuem medição para cada carro referente às duas ve-
molas e espuma que são componentes de locidades analisadas.
grande influência na diminuição da vibração Avaliando isoladamente cada caso,
transmitida ao ocupante. Percebe-se também verifica-se pelos gráficos a diferença de com-
que, independentemente do local de medi- portamento de cada veículo, referente às
ção, a vibração originada no pavimento de mudanças de pavimento e local de medição.
paralelepípedo é superior em comparação O Ford Fiesta, por exemplo, que em alguns
com o asfalto. casos apresentou níveis de conforto superio-
A cada veículo, atribuiu-se uma cor de res, comparado com os demais automóveis
barra específica, podendo ser visualizado na (volante e assento no asfalto), não manteve o
legenda ao lado direito das figuras. As linhas mesmo comportamento em outros locais de
que ligam os pontos servem para verificar a medição e pavimentos.
Figura 12 – Análise do conforto em automóveis parados

Fonte: Os autores (2010).

No gráfico apresentado na figura 12, vi- dios), onde cada cor de barra representa um
sualiza-se a aceleração verificada em cada lo- veículo específico (Gol, Sandero, Fiesta e Palio,
cal de medição e veículo, considerando que o respectivamente da esquerda para a direita).
mesmo esteja parado, sem qualquer desloca- Além disso, as barras da extremidade direita
mento, apenas com o funcionamento do seu fornecem a média das acelerações de todos os
motor em marcha lenta e demais componen- locais de medição para cada automóvel. Ob-
tes. Esta análise tem como principal objetivo servando os valores apresentados na figura 12
avaliar o conforto dos automóveis, simulando e comparando-os com a escala de desconfor-
as frequentes paradas em congestionamentos to do quadro 2, todos os automóveis podem
comuns em meios urbanos. ser considerados confortáveis nessa situação,
O gráfico da figura 12 é dividido por li- de acordo com a norma ISO 2631-1 (1997).
nhas verticais finas que separam o local de me- Percebe-se que em vibrações no volante
dição (volante, assento, encosto e valores mé- e no assento, o Volkswagen Gol apresenta va-

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Análise do conforto quanto à vibração em automóveis de passeio...

lores de aceleração menores, podendo-se atri- lhante à análise anterior. É de se esperar que
buir um nível de conforto mais elevado para o nível de vibração no pavimento de paralele-
a dada condição. Ainda, de um modo geral, pípedos deve ser maior que o de asfalto. Fato
apresentou níveis de vibração inferiores que que se comprova, ao visualizar a figura 13,
os demais automóveis e tem uma aceleração pois a média total de todos os locais de medi-
média decorrente dos três locais de medi- ção e de todos os automóveis foi superior no
ção no valor de 0,0667 m/s², uma diferença pavimento em questão. A diferença média em
de 92,6 % em comparação com o Fiat Palio, relação ao tipo de pavimento ficou em torno
o pior colocado. de 85,9 %, levando em consideração as medi-
A figura 13, a seguir, apresenta as mé- das realizadas em todos os automóveis.
dias de aceleração de todos os locais de medi-
ção e velocidade com relação aos pavimentos, 4.2 Da avaliação da vibração quanto à saú-
em função de cada veículo, numa tentativa de de
comparar, de forma global, o desempenho de
cada um deles. Como nas figuras anteriormen- Analisando os dados referentes ao con-
te citados, os automóveis são representados forto e comparando-os com os valores de ace-
pela legenda, respectivamente da esquerda leração da escala de desconforto da norma
para a direita, os carros: Gol, Sandero, Fiesta ISO-2631-1 (1997), observados no quadro 2,
e Palio. As barras, localizadas na extremida- várias situações apresentaram dados que, de
de esquerda, representam a média aritméti- acordo com a norma, podem ser interpretados
ca de todas as medições realizadas no pavi- como valores de aceleração extremamente
mento de asfalto, onde cada barra representa desconfortáveis. Verifica-se a necessidade de
a média de cada veículo. Na região central, uma análise de exposição humana à vibração
encontra-se a média realizada no paralelepí- com foco na saúde, especialmente de moto-
pedo e na extremidade direita, a média total ristas profissionais, a fim de avaliar se os pre-
de aceleração, englobando todas as medi- sentes valores de aceleração podem ser pre-
ções realizadas em cada automóvel. judiciais à saúde do homem com o uso dos
Figura 13 – Médias totais das acelerações rms em relação referidos automóveis.
aos pavimentos De posse do quadro 1, utilizam-se ago-
ra as curvas de ponderação e fatores mul-
tiplicadores referentes à saúde, de acordo
com a norma ISO. Por meio da equação (3),
calcula-se novamente a aceleração rms pon-
derada pela frequência ou vibração total e,
em seguida, calcula-se a vibração total equi-
valente, dado pela equação (4). Levando em
consideração que um motorista profissional
está exposto a diferentes magnitudes de vi-
bração e tempos de exposição durante sua
jornada de trabalho, simulou-se uma jorna-
Fonte: Os autores (2010).
da de trabalho de 8 horas, por meio de di-
Visualizando a média geral, nota-se que, ferentes rotinas, englobando as diferentes
apesar do Ford Fiesta apresentar resultados combinações de velocidades e pavimentos
favoráveis na superfície de rolamento lisa, o contidas no presente trabalho. No quadro 5,
Volkswagen Gol apresentou um melhor nível pode-se verificar as três rotinas de trabalho
de conforto, quando referido a todas as medi- propostas a um motorista profissional.
ções. Ainda, destaca-se o Fiat Palio, o qual ob- Nota-se no quadro 5 que cada rotina
teve valores de aceleração mais elevados em apresenta uma característica diferente. A roti-
ambos os pavimentos, comportamento seme- na A apresenta uma maior utilização dos auto-

Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011 197
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Quadro 5 – Rotinas (tempo em horas) propostas a um motorista profissional

Ve í c u l o 0 km/h 30 km/h 60 km/h 30 km/h 60 km/h Tempo de Horas diárias


desligado paralelepípedos paralelepípedos asfalto asfalto exposição de trabalho

Rotina A 1 1 0,25 0,25 2,0 3,5 7,0 8,0


Rotina B 0 1 0,5 0,5 2,5 3,5 8,0 8,0
Rotina C 1 1 2 3,5 0,25 0,25 7,0 8,0

Fonte: Os autores (2010).

móveis no pavimento de asfalto, permanecen- situação, há a necessidade de medidas que vi-


do ainda 1 hora com o veículo desligado, o sem a diminuição ou eliminação dessa exposi-
que representa momentos ociosos. A rotina B ção. Para as medições de vibração no assento,
apresenta características semelhantes à rotina todas as rotinas propostas apresentaram valo-
A, porém sem qualquer pausa durante a jor- res acima do valor de ação (VAE), em todos os
nada de trabalho, a fim de poder comparar a automóveis. Situação semelhante ocorreu para
influência de um descanso em relação à expo- medições no encosto, porém, em 3 automó-
sição diária à vibração. Na rotina C, apresenta- veis detectaram-se valores acima do limite de
se uma utilização muito maior no pavimento exposição diária (VLE), para a rotina C, sendo
de paralelepípedos, com o objetivo de veri- que, com esses valores, necessita-se de uma
ficar se os resultados obtidos nessa condição medida imediata para sua diminuição, pois
apresentam valores superiores, comparados certamente, acarretará consequências ao con-
ao pavimento de asfalto. Em todas as rotinas, dutor para a dada condição, em alguns anos,
estipulou-se uma hora por dia, com o veículo a tais como dores lombares ou problemas na co-
0 km/h, representando o motor ligado em mar- luna vertebral. Vale lembrar que, cada local de
cha lenta, simulando possíveis congestiona- medição foi analisado separadamente, um por
mentos e paradas em sinais de trânsito. vez, devido à limitação do instrumento.
Obtendo esse valor da vibração total Destaca-se a superioridade do valor de
equivalente por meio da equação (4), calcula- A(8) em todos os automóveis na rotina C, fato
se, conforme a equação (5), a exposição diá- já comprovado anteriormente, sendo que,
ria à vibração A(8), onde T é o tempo de ex- essa rotina possui maiores tendências a tran-
posição diária à vibração. No apêndice B, são sitar pelo pavimento de paralelepípedo. Os
apresentadas 3 figuras, um para cada local de resultados revelam o que pode ser observa-
medição (volante, assento e encosto), compa- do nas figuras é a importância de uma pau-
rando a exposição diária à vibração A(8), refe- sa durante a jornada de trabalho, podendo
rente a cada veículo e a cada rotina proposta. ser visualizado pela diferença dos valores de
As linhas horizontais representam o valor de exposição diária A(8), entre as rotinas A e B,
ação da exposição (VAE) e o valor limite de em todos os locais de medição e em todos os
exposição (VLE), em acordo com os valores automóveis analisados. Os demais resultados
apresentados no quadro 3. No eixo horizontal da avaliação da saúde e conforto do presente
das figuras, enquadram-se todos os automó- trabalho podem ser visualizados no quadro do
veis, onde cada barra representa uma rotina e, apêndice A por terem resultados semelhantes
no eixo vertical, os valores de exposição diária aos aqui discutidos.
à vibração A(8) correspondentes.
A partir das figuras, é possível visuali- 4.3 Análise de variância
zar que em todas as medições realizadas no
volante, para as rotinas A e B, as avaliações Com o objetivo de verificar se existe
se encontraram abaixo dos valores de ação. Já alguma diferença significativa no nível de vi-
para a rotina C, três automóveis apresentaram bração, medido dentro dos automóveis, em
valores acima do valor de ação, onde nessa relação à variação da velocidade, é realizada

198 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011
Análise do conforto quanto à vibração em automóveis de passeio...

uma análise de variância (ANOVA) nos dados ficativas na vibração interna do carro em fun-
coletados. Juntamente com a primeira verifi- ção do tipo da superfície de rolamento, dado
cação, uma análise do nível de vibração em um tanto quanto intuitivo, porém comprova-
relação ao tipo de pavimento foi feita, tendo do estatisticamente.
como objetivo verificar o que as figuras indi-
cavam a respeito das diferenças do nível de 5 Conclusões
vibração, em relação à variação da velocida-
de e tipo de pavimento. No presente artigo,
De acordo com a avaliação do confor-
utiliza-se a análise de variância de fator úni-
to quanto à vibração, analisando cada veícu-
co. Aqui, assumem-se duas hipóteses: H0,
lo em função de cada faixa de velocidade e
os tratamentos não afetam a variável de in-
de pavimento isoladamente, não houve uma
teresse; H1, os tratamentos de alguma forma
predominância dos valores de vibração atri-
afetam a variável de interesse, sendo possível
buídos a um veículo específico, em relação à
investigar de que forma é essa relação. Se o
mudança do tipo de pavimento e velocidade.
parâmetro da análise F for maior que F crí-
Ou seja, para dadas condições, automóveis
tico, a hipótese H1 é aceita, indicando uma
em determinadas situações, manifestaram
correlação entre os tratamentos e a variável.
comportamentos diferentes, sendo que, para
Caso contrário, a hipótese H1 é rejeitada e
alguns casos, apresentaram valores de acele-
adota-se H0. Essas análises, de uma forma
ração superiores, porém em outras situações,
padrão, são realizadas para um nível de sig-
o mesmo comportamento não foi seguido.
nificância de 0,05, ou seja, uma confiança de
Todavia, verifica-se que a diferença entre as
95 % ( CALLEGARI - JACQUES, 2003).
médias das acelerações rms totais de cada ve-
Para verificação de diferenças do nível
ículo, apresenta valores muito próximos. Ob-
de vibração com relação à velocidade, sepa-
servaram-se diferentes comportamentos para
rou-se a velocidade em 3 grupos (0, 30 e 60
cada veículo, medido de acordo com a veloci-
km/h), onde cada grupo engloba os valores de
dade e tipo de pavimento. Porém, de maneira
aceleração medidos em todos os automóveis
geral, o Volkswagen Gol apresentou uma mé-
e todos os locais de medição. Para análise da
dia de vibração inferior aos demais automó-
influência do pavimento, procedeu-se de ma-
veis, seguidos do Ford Fiesta, Renault Sandero
neira semelhante, porém dividindo a análise
e Fiat Palio. Podendo ser atribuído um nível
em apenas dois grupos: asfalto e paralelepípe-
de conforto superior ao Volkswagen Gol em
dos. Destaca-se que, em ambas as análises, o
relação aos demais.
fator a ser verificado é a aceleração ponderada
Ainda, em acordo com a escala de des-
rms. A análise foi realizada com o auxílio do
conforto da norma ISO-2631-1 (1997), vá-
software Microsoft Excel 2007. Os resultados
rias situações em determinados automóveis
para ambas as análises encontram-se no apên-
apresentaram níveis de vibração que podem
dice C. Em ambas as análises, o valor de F (va-
ser considerados desconfortáveis. Conclui-se
riância entre os grupos) foi bem superior ao
também que as magnitudes das vibrações de-
valor crítico Fcrit. Observa-se também nos qua-
correntes do funcionamento do veículo são
dros, que o valor-p (probabilidade) em ambas
as situações resultaram menores que o nível significativamente menores em compara-
de significância de 0,05. ção com aquelas originadas de seu des-
Com base nesses dados, pode-se asse- locamento. Elas têm pouca influência nas
gurar que os resultados em ambas as análises vibrações transmitidas ao ocupante, em
são significativos, ou seja, existem diferenças relação àquelas geradas pelo rolamento
e relações significativas da vibração dentro do veículo em superfícies irregulares.
do veículo em relação às faixas de velocidade Quanto à avaliação do efeito da vi-
para o nível de significância de 0,05. E, tam- bração na saúde, destaca-se que uma roti-
bém existem diferenças estatisticamente signi- na de trabalho de um motorista profissional

Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011 199
KADERLI, F., GOMES, H. M.

predominante, em superfícies irregulares, vibratória para estudos sobre vibração no


bem como as exposições diárias à vibração corpo humano, medições em um grupo de
A(8) atingem valores consideravelmente motoristas e ajuste de um modelo biodinâ-
maiores, podendo ultrapassar o valor limi- mico. 2006. Tese (Doutorado em Engenha-
te de exposição diária (VLE). Porém, vê-se ria) – Faculdade de Engenharia. UFRGS, Porto
que, dificilmente um motorista profissional Alegre, 2006.
em meio urbano passará um longo período BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego.
sobre uma superfície de rolamento irregu- NR 15. Norma Regulamentadora No. 15. Ati-
lar. Nota-se que as vibrações decorrentes vidades e operações insalubres. Disponível
do encosto e do assento são mais preocu- em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/nor-
pantes, sendo que, em todos os automóveis mas_regulamentadoras/nr_15.pdf>. Acesso
testados, essas ultrapassaram os valores de em: out. 2010.
ação de exposição diária (VAE), necessitan-
do de medidas que visem à diminuição ou BSI. Britsh Standard Institution. BS 6847. Me-
à eliminação desta exposição. Ainda con- asurement and Evaluation of Human Expo-
clui-se que uma pequena pausa no expe- sure to Whole-Body Mechanical Vibration
diente, em caso de motoristas profissionais, and Repeated Shock. 1987.
pode refletir em uma redução significativa
do valor de exposição diária à vibração, CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística:
sendo um fator que pode ser compensado princípios e aplicações. Porto Alegre: Ed.
em casos de ultrapassar os valores estipula- Artmed, 2003.
dos pela norma.
Em relação à variação da vibração DIN, 2002. Deutsches Institut für Normung,
dentro do veículo, em função da veloci- DIN EN 13059. Safety of industrial trucks -
dade e tipo de pavimento, pode-se provar Test methods for measuring vibration 2009-
estatisticamente que há uma diferença sig- 06.
nificativa do valor rms da aceleração em
função das diferentes condições de piso e DIRECTIVE 2002/44/EC. On the minimum
velocidade. Observando-se as figuras, veri- health and safety requirements regarding
fica-se que, quanto maior a velocidade do the exposure of workers to the risks arising
veículo em questão, maior será o nível de from physical agents (vibration). The Euro-
vibração interna, tanto para uma superfície pean Parliament and the Council of the Euro-
lisa, como o asfalto; quanto para uma su- pean Union. Official Journal of the European
perfície irregular, como o pavimento de pa- Communities, L177/13-19, 2002.
ralelepípedos. E que, no geral, pavimentos
FERNANDES, J. C. Segurança nas vibrações
mais irregulares induzem mais vibração in-
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KADERLI, F., GOMES, H. M.

APÊNDICES
APÊNDICE A – Tabela geral dos resultados

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Análise do conforto quanto à vibração em automóveis de passeio...

APÊNDICE B – Exposição diária à vibração A(8) em função dos automóveis avaliados e rotinas
propostas

Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011 203
KADERLI, F., GOMES, H. M.

APÊNDICE C – Resultados das análises de variância – Teste Estatístico ANOVA entre (a)tipos de
pavimentos e (b)velocidades.
(a)
Resumo
Grupo Contagem Soma Média Variância
Asfalto 24 20,48216 0,853423 0,380675
Paralelepí- 24 39,04638 1,626932 1,692388
pedos
ANOVA
Fonte da SQ gl MQ F valor-P F crítico
variação
Entre 7,179794936 1 7,179795 6,926752 0,011519 4,051749
grupos
Dentro dos 47,68043915 46 1,036531
grupos
Total 54,86023408 47

(b)
Resumo
Grupo Contagem Soma Média Variância
Velocidade 24 2,225141 0,092714 0,00969
0 km/h
Velodidade 24 26,5752 1,1073 1,063286
30 km/h
Velociade 24 32,95334 1,373056 1,285093
60 km/h
ANOVA
Fonte da SQ gl MQ F valor - P F crítico
variação
Entre 21,91428 2 10,95714 13,93998 8,23E-06 3,129644
grupos
Dentro dos 54,23558 69 0,786023
grupos
Total 76,14986 71

204 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, n. 18, p. 107-206, jul./dez. 2011

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